Rebuilding life. escrita por Tetekah18


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Vim dar uma colher de chá para vocês. Estou adiantando esse capítulo, mas as postagens serão feitas nos dias de quinta. Outro ponto importante é que, como havia dita, a estória é curta. Serão um total de sete capítulos (Prólogo e epílogo já incluídos). Bem, no mais é isso, vamos para a estória!



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Mais um dia tremendamente frio naquela casa. Essa minúscula cidade parecia fazer mais fria que Wichita. Preguiçosamente levantei da cama, coloquei uma blusa de manga comprida e uma legging por baixo do conjunto de moletom. Calcei o tênis e escovei os dentes antes de descer. Vikka estava ajudando a mãe na cozinha com as panquecas.

—Bom dia.- as cumprimentei. Elas responderam uníssono. Olena era um poço de compaixão, já Vikka era a alegria em pessoa.

Já estava com elas há algumas semanas e as aulas já começariam amanhã. Eu e Vikka pegaremos o ônibus na entrada da fazenda. Teria que fazer uma bela caminhada nesse gelo. Eu sempre odiei o inverno. A neve congelante fazia meus pés queimarem mesmo dentro da bota e vestindo duas meias.

Que bela maneira de entrar em uma escola nova!

Já estava no meio do semestre, Vikka tentou me situar do conteúdo. Para minha sorte não havia muita diferença dos que tive na outra escola. Era estranho pensar essas coisas. Minha mãe ficava no meu pé para estudar e eu não ligava muito. Mas agora eu sentia aquele ressentimento. De que adiantaria agora tirar as melhores notas se ela não está aqui?

Todas as mulheres da casa se sentaram a mesa. Dimitri, que por sorte, apenas vinha para o jantar. Vikka me contou que ele havia construído o loft em cima do celeiro assim que começou a trabalhar, já que Olena insistia em tê-lo por perto e ele não queria deixar as mulheres da vida dele. Entretanto, havia a necessidade de ter seu canto. Eu entendia. Se eu estivesse em seu lugar, talvez eu nem mesmo deixasse a casa da minha mãe.

Entro no celeiro depois de tomar o café da manhã. Os únicos ruídos aqui vinham dos cavalos.

E lá vou eu recolher fezes de cavalo.

Essa seria a variação mais educada e menos nojenta de dizer o meu trabalho aqui. Das seis baias existentes, quatro estavam ocupadas. Cada cavalo tinha um nome estranho. Começaria pela Datcha. Tiro ela da baia e amarro em um aro preso numa coluna. Com a forquilha tiro o que não presta do chão cheio de feno. Reponho a ração e a água. Quando vou colocar a égua de volta na baia, vejo a minha "gratificação". Ela relincha quando começo a puxá-la de volta para o seu canto.

Isso com certeza não chega perto da primeira vez que tentei fazer isso. Além do Kolkhóz... É, esse nome esquisito aí é de um cavalo, ter empinado enquanto o puxava. Além de ficar me batendo para usar a forquilha. Ainda me lembro de Dimitri balançando a cabeça em negação enquanto passava para o escritório entre as baias com caixas de medicamentos. Foi constrangedor.

Eu poderia dizer: além da queda, o coice.

Terminei minha tarefa um tanto estabanada, mas feita e sem muito problema com os animais. Já devia estar na hora do almoço. A tarefa de escovar os cavalos ficaria para a tarde. Fecho a última baia com o Kolkhóz. Eu realmente criei cisma depois do que ele aprontou. Quando saio do seleiro, vejo Dimitri terminando de descer as escadas. O cheiro de loção pós-barba chegou a minhas narinas, mesmo meu olfato estivesse se perdendo por causa da neve. Inspirei mais profundamente, meu nariz fez um barulho esquisito. Estava começando a entupir, mas foi o suficiente para chamar a atenção dele.

Me senti totalmente envergonhada. Mesmo nesse frio, eu estava suada por baixo do casaco. Realmente precisava de um banho. Me sentia suja perto dele, ainda mais tão perfumado.

—Não devia ficar tanto tempo exposta ao frio. Vai pegar uma gripe de vez.- comentou seguindo para casa no mesmo ritmo.

Fiquei parada no mesmo lugar. Minhas bochechas estavam ficando quentes, e certamente não era por causa da neve. Me sentia envergonhada, mas o que iria fazer?

—Vai ficar aí?- ele se virou a alguns metros de mim. As mãos nos bolsos do sobretudo de couro. -Já está quase na hora do almoço.

Apenas afirmei com a cabeça um tanto confusa e segui na mesma direção que ele. O surpreendente é que ele me esperou alcançá-lo para continuar seus passos. Andamos em silêncio, eu ficava pensando em algo para preencher, mas logo desistia. O silêncio também era confortável, pelo menos com ele. Chegando a casa, apenas tirei os sapatos com gelo preso. Eu realmente odiava neve. Não olho para os lados evitando Dimitri. Subo a escada ignorando tudo ao meu redor. Pego uma roupa no quarto e sigo para o banheiro. Um banho quente devia resolver.

[...]

No topo da escada, observo a mesa animada lá em baixo. Karol veio com o marido e os filhos. Também havia um cara estranho sentado ao lado de Yeva. Bela dupla... Defino que minha meta agora é descer antes de perder a coragem.

—Não deu pra esperara.- comentou Vikka enquanto me sentava na única cadeira vazia ao seu lado.

—Tudo bem.- respondo e acabo olhando as pessoas sentadas na mesa.

O cara esquisito ficou me olhando de uma forma que chegava a ser engraçada. O que deu nele? E quem usaria tantos anéis de uma vez? Totalmente espalhafatoso e fora de moda. Além de aqui estar uma temperatura boa para ficar usando um cachecol. Mas era inverno, quem sou eu pra criticar?

—Rose, esse é o nosso convidado, Imbrahim Mazur.- Olena tratou de nos apresentar. -Abe, esta é a Rose.

Apenas acenei com a cabeça tentando parecer educada. Comecei a me servir enquanto todos comiam e conversavam animados. Algumas vezes, eu olhava para Dimitri, seu cabelo solto, a blusa mostrando seus músculos ao movimentar os talheres, a borracha que ele usava estava em seu pulso...

—De onde você é?- o tal do Abe questionou.

—Wichita.- disse coloco na boca um pedaço generoso de frango.

—Hm...- murmurou. -Você não disse seu nome completo.

—E o que importa saber?- retruquei começando a me irritar. Que raio de interesse é esse dele?

—Você sabe o meu.- comentou simplesmente. -Acho justo saber o seu...

—E se eu não quiser falar?- me virei em sua direção e o silêncio se instaurou. Por mais amigo que fosse da família, eu não arriscaria um dedo por ele. Além do fato de não querer compartilhar minhas lembranças. Até onde eu poderia falar sem começar a chorar?

Ele apenas deu de ombros suspirando. Ignorei todo o resto. Tratei de terminar minha refeição e logo saí para o celeiro. Quem diria que trabalhar seria uma fuga? Separei as escovas e amarrei um dos animais. Prendi umas das escovas na mão. Era como um pata-pata grande, só que para cavalos.

Lembrei da nossa última briga. Eu reclamava a falta dela, que nem mesmo na virada de ano ela estaria presente. E então ela trocou o turno... Passei a ponta do casaco para limpar meu nariz. Por mais que eu tentasse conter as lágrimas, meu nariz formando coriza. A culpa ainda estava em mim. Me perfurando cada vez mais.

Passos ecoam pelo ambiente me deixando tensa. Desejo que não seja aquele cara louco. Continuo escovando os pelos do cavalo. Se eu fingir que não percebi nada essa criatura vá embora.

—Rose.- ouvi aquela voz grave com sotaque. Fiquei paralisada. Por que ele? Algo no mundo está errado. Lentamente, virei apenas meu rosto para a direção dele como se estivesse em um filme de terror. E eu realmente estava aterrorizada com toda essa situação.

—O que foi?- questionei com um fiapo de voz.

—Eu só queria dizer que eu compreendo o que você fez.- olhei confusa para ele, que olhou para o lado antes de continuar. -Minha mãe me confidenciou o que a assistente social disse sobre seus registros.

Entrei em pânico virando meu corpo completamente em sua direção. Quantas pessoas a mais poderiam saber? Droga! Mil vezes droga!

—Quem mais sabe?- disse em um impulso quase embolando as palavras.

—Ninguém, minha mãe contou apenas para mim.- era incrível sua compostura. -Só queria dizer que entendo. Quando meu pai morreu, eu também ficava na defensiva sempre que algo era relacionado a ele...- fico perplexa olhando para ele. Suas palavras eram calculadas, mas ele se perdeu no próprio discurso. -Bem, era só isso.- finalizou saindo do celeiro.

[...]

Frio, frio e mais frio. Uma droga de frio. Esfrego minhas mãos por baixo das luvas de lã. Vikka estava quase saltitando ao meu lado de tanta empolgação às 7:36 da manhã. Reviro os olhos, mas penso melhor. Se eu estivesse no lugar dela, certamente estaria tão animada quanto. Entretanto não estou e continuo emburrada.

Entramos no ônibus. Me senti um animal esquisito em exposição. Essas pessoas do interior não tinham mais o que fazer? Me sentei ao lado de Vikka. Ela ria enquanto lia e digitava algo no celular. Ela já fazia isso há alguns dias, mas ontem ficou até tarde da noite desse mesmo jeito.

—O que você está fazendo tanto nesse telefone?- questionei. Ela broqueou rapidamente a tela sorrindo.

—Nada Rose.- empolgada demais. Aí tem coisa. -Animada com seu primeiro dia de aula?- mudou bruscamente de assunto.

—Não.- respondi seca olhando acima de seu ombro para a estrada. É cansativo se concentrar em arvores sem vida cobertas de neve.

Não demorou muito para chegar à escola simples e interiorana. Saímos do ônibus escolar de cor amarela berrante. Era quase um farol em meio a tanto branco. Andamos em direção à porta de entrada. Entretanto, quando já estávamos subindo a escadaria, Vikka sai correndo do nada. Estática, olhando para lado, um garoto de cabelos cor de bronze e uma menina de cabelos castanhos.

—Rose!- Vikka me chama acenando freneticamente com uma das mãos. Tanta felicidade antes das dez e meia da manha devia ser crime. Andei até eles sem pressa alguma. Ela acabou me puxando pelo braço quando estava perto o suficiente. -Esses são os meus melhores amigos, Nikolai e Marina.

—Oi.- murmurei levantando uma das mãos. O sorriso que tentei fazer devia estar parecendo uma careta.

—A Vikka falou bastante de você.- Nikolai disse amigável depois dos cumprimentos. Ele dava uns olhares diferentes para a Vikka. Ele devia gostar dela.

—Espero que coisas boas.- digo olhando para Vikka que esbanjava sorrisos.

—Vocês podem dizer onde é a secretaria?- perguntei torcendo para que se oferecessem para me levar, eu sou péssima em seguir instruções.

—Fica...- Nikolai foi interrompido por um cara parecendo mais velho com aspecto físico semelhante a ele.

—Não se preocupe, eu levo você.- sorriu cafajeste. Haviam mais dois caras e uma menina abraçada a um deles. -A proposito, me chamo Denis.

—Denis, ninguém te chamou aqui.- Nikolai retrucou.

—Kolai, desde quando preciso de convite?- questionou com seu jeito malando passando o braço pelo pescoço dele e bagunçando seu cabelo.

—É melhor sairmos daqui.- murmurei puxando Vikka pela mochila. Ela não ofereceu resistência e seguimos para o interior do colégio.

—Aquele idiota era o Denis, irmão do Nikolai.- explica ela.-Ele e aquela turminha dele são repetentes. Infelizmente a Tamara entrou no jogo do Artur.

Parei um pouco e analise. Devia ser o casal abraçado atrás do Denis. Ao que tudo indicava, um grupo de grandes idiotas. Os corredores ficavam cada vez mais lotados, já devia estar perto do horário de aula e eu tinha que passar na secretaria.

—Para onde você está me levando?- perguntei com uma pontada de pânico.

—Ué?! Você não disse que tinha que passar na secretaria?- questiona confusa parando no lugar.

—E tenho, só não sabia que você ainda lembrava.- Vikka era bastante esquecida em casa. Ou era só pra fugir das tarefas diárias?

—Tudo pra sair de perto do Denis, tenho pena do Nikolai...- disse em um suspiro.

—Era com ele que você tanto conversava?- seus olhos se abriram um pouco mais até finalmente responder:

—Talvez...

[...]

Assim que peguei meus horários, segui para a sala de aula do professor de história. Eu realmente odeio essa matéria. Sentei em um lugar ao fundo enquanto o professor se organizava. Seu nome é Stan alguma coisa. Nem mesmo me dei ao trabalho de decorar seu nome. Enquanto ele estava escrevendo algo no quadro, revirei os olhos enquanto bufava em frustração e deitei a cabeça na minha mesa.

—Se você não gosta de história vai passar a odiar a matéria com Stan ensinando.- um cara disse sarcástico do meu lado direito.

—É mesmo?- ironizei de volta me levantando. -Não tinha percebido...

—Só piora.- completa rindo. -De onde você veio pra parar nesse fim de mundo?- pergunta mais sério. Agora alguém estava falando a minha língua.

—Wichita. Longa história. E você?- retruquei.

—New York, pais riquinhos que decidiram brincar de fazendeiros.- revirou os olhos de um azul límpido quase como um ice bearg.

—Sem opção também?

—Sim.- respondeu colocando a mão no rosto dramaticamente bagunçando seus cabelos negros com corte estilo emo e não pude prender a risada.

—Finalmente alguém nessa escola entende meu senso de humor.- continuou mais sério. -Mechamo Cristian. Qual o seu nome?

—ROSEMARIE HATHAWAY!- Stan gritou a plenos pulmões. Apontei na direção do professor e completei:

—Mas pode me chamar de Rose.- e então me levantei.

E da maneira mais curta e grossa, minha primeira vergonhosa apresentação como a nova do pedaço. Primeira de muitas. Quantos outros professores eu teria aula nessa joça?


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de deixar o favorito e dizer o que achou!
Beijos da raposa!
Teka. :3



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