Amor em trânsito escrita por


Capítulo 4
4. um táxi


Notas iniciais do capítulo

Heyy! Capítulo novinho pra vocês ♥

Como esse é o penúltimo capítulo e o próximo é bem curtinho, vou ver se consigo postar o último antes da próxima terça, certo?
Só agradeço por vocês terem acompanhado a saga da Lív até aqui. Obrigada, gente! ♥

Nota sobre esse capítulo:
A diagramação das mensagens de textos foi feita assim: As mensagens estão centralizadas, sendo as respostas da Lív em negrito e as respostas do Pedro em itálico. Caso isso fique confuso, vocês me dizem e eu edito para colocar os nomes deles antes da frase, tá? Isso aqui é movido por vocês, então se está bom pra vocês, está bom pra mim.

Boa leitura ♥



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Eu me perdi cinco vezes em São Paulo.

Se a capital paulista fosse o labirinto de Maze Runner eu já estaria morta por uma aranha gigante assustadora que não teria pudor em devorar uma pobre escritora iniciante. E pra quem leu o livro: Eu sei que o monstro não é uma aranha, isso aqui é licença poética.

Encontrei o hotel depois de perguntar no caminho pelo menos umas três vezes. Tomei um banho e me joguei na cama como se eu nunca tivesse visto um travesseiro. Depois disso só sonhei com uma vida alá Gisele Bundchen em que eu viveria livre, leve e solta desfilando pelo mundo com meu livro servindo de corpo.

Mas a merda é que eu tinha que pensar nele. No maldito P. Poderia ser P de Prússia, Paolo, Pirulito... Tantos nomes com a letra P que poderiam estar rondando a minha mente. Porém, não. Minha mente tem seletividade, ela fez um apartheid com os outros substantivos de letra P e apenas Pedro domina meus pensamentos.

Eu estava confusa. Magoada. Um pouco eufórica por ele ter vindo me ver em São Paulo, mas revoltada com a sua falta de respostas. Mas que porra de ex você arrumou, Liv! Um que em vez de estar longe da mente, gruda no cérebro!

Acordo mais tarde, arrastando-me pelo colchão a fim de pegar as balas Fini que eu havia comprado na saída do metrô. Cutuquei a cama para achar meu celular e deitei-me novamente quando coloquei na Netflix e cliquei no episódio de As Telefonistas, uma série latina super feminista que eu estava adorando.

Quando o episódio acaba, meu celular pisca com uma mensagem e penso imediatamente em Pedro. Você devia ao menos ter beijado ele, não era Lív? Devia ter deixado ele enebriado com seus beijos para depois deixá-lo, não? Ele voltaria rapidinho...

Quase rio da minha falta de modéstia. Eu estava bêbada de balas Fini, caramba! Olha que o açúcar faz com a pessoa!

Suas bochechas estão coradas?

Arregalo os olhos para o texto. Como é que é?

Está dando uma de stalker?

Você já ficou com medo de esquecer o meu tipo, Lív? Que gruda na sua cabeça como algo em seus dentes?

Meus pensamentos nublam confusos. O cérebro fazendo força pra não entrar na pegadinha.

Eu já te esqueci uma vez, Pedro. Posso fazer de novo.

Todos sabemos que isso nunca aconteceu. Note as referências, você não tem ideia de que é minha obsessão?

E então sorrio quanto noto. Arctic Monkeys. Se Oasis ganhava como banda tema de nossa relação do passado, Arctic Monkeys ganhava como tema da minha vida. Caramba, que banda boa!

Do I wanna know?*

(Eu quero saber?*)

Eu é que pergunto, o que você quer saber, Lív? Se sou louco por você? Você já sabe, eu que demorei para lhe dizer isso.

Que chantagista. Usando minha banda pra me fazer falar contigo? Além de que, você sempre falava, Pedro.

Eu sei. Sinto muito se fui hipócrita mais cedo. Dona Melina me mataria se soubesse, ela sempre te adorou.

Por que está falando comigo?

Ai. Atira mais, garota má. Só estou me desculpando contigo. Eu tenho um plano agora. Ele já estava formulado, mas seu sermão me convidou a pensar mais sobre isso.

Minha mente cansada demorou a seguir sua linha do raciocínio. Eu estava mais lerda que Percy Jackson!

Isso...?

Sobre o quanto eu quero fazer você feliz, Lív. Sobre o quanto eu amo você mesmo após 5 anos.

Você se ligou que está se declarando pra mim pelo WhatsApp?

O que importa são as palavras, Lív. Não o modo de veiculação delas. Você quer que eu grite? Eu grito. Mas eu prefiro mil vezes sussurrar no seu ouvido.

Caramba. E eu pedi direcionamento? O homem veio mais focado do que estudante prestes a fazer vestibular!

Ok. E quando vai me falar esse plano?

Você verá.

Sério? Isso é direcionamento nas palavras? Por que você está falando comigo mesmo?

Sorrio para o telefone. Sabia que estava sendo rancorosa, mas não podia evitar a brincadeira. Era meu jeito afinal, Pedro sabia. Ele sempre sabe.

As noites foram feitas especialmente para dizer coisas que não podem ser ditas no dia seguinte, sabe?

Eu amo essa música, mas bem que você podia responder com suas palavras, sabe?

Só vim te desejar boa sorte, espertinha. Torne-se a escritora maravilhosa e meio louca que eu sei que você vai se tornar.

Meus olhos se fecham por um momento, eu sabia que tinha muitas coisas a serem ditas ainda. Coisas demais para deixar para trás em meras mensagens de texto. Mas é legal encontrar um cara que te compreende e  luta com você, sabe? Eu nunca sofri uma desilusão amorosa catastrófica como muitas mulheres ou até mesmo homens por aí, mas eu sabia que todos mereciam alguém assim. Independente de erros e acertos, alguém  que acompanhasse a batalha com você, como eu sei que Pedro faria comigo.

E se eu não conseguir?

Eu sabia a resposta.

Existem muitas editoras por aí te esperando, Lív. Você vai se tornar, pode crer.

Pedro?

Diga.

Obrigada. De verdade.

Eu sempre estarei aqui pra você. Mesmo nos últimos cinco anos... Se acontecesse algo, Lív.  Eu viria. De qualquer lugar que eu estivesse eu viria para te encontrar.

Fecho a aba de mensagens porque esgotei meu sentimentalismo, mas sorrio quando ajusto o despertador e arrumo minhas coisas antes de me deitar.

Já sofri muito na vida como qualquer um. Quando se vive em um país como o Brasil, a gente aprende a sobreviver brincando com os problemas e superando-os, principalmente se não temos uma renda tão alta. Sempre consegui sobreviver com o pouco que meus pais me deixaram após suas mortes, eu era pequena quando o carro capotou em uma das rodovias do Rio Grande do Norte. Minha irmã mal tinha completado um ano e ainda criança deixei meu lar para morar com minha avó em uma cidadezinha do interior. Mas eu cresci com amor e não guardava mágoa das estradas, mesmo que tenha sido em uma delas o acontecimento que tirou tudo de mim.

Eles eram de um grupo folclórico de música, viviam viajando. Talvez daí nasceu o amor pelas artes na família, o amor pela paixão de viajar.

Não de ônibus que fique claro. Ainda me apavoro.

Mas foi desse ninho de conforto que nasceu uma das célebres frases da minha mãe, uma que mesmo pequena eu nunca deixo de me lembrar:

"O amor está em trânsito, pequena Lív. Assim como nós quando estamos viajando. Ele também tem estradas para andar e corações como destinos finais. Às vezes ele desvia errado, faz alguma curva arriscada, mas ele sempre chega. A questão mesmo é os desavisados, sabe? Essas pessoas tendem a tratar o amor como um forasteiro, mesmo que ele seja um visitante permanente que pretende ficar."

Lembro-me de responder:

"Ele vai vim para o meu coração também, mamãe? E se ele quebrar? Não quero um carro quebrado no meu coração! Nessa estrada tem oficina?"

Ela riu com minha inocência de infância.

"Ele virá pra você, Lívia. E ele não quebrará, sabe? O amor é mais forte que um carro, minha linda. Ele é mais forte que qualquer coisa, sejam diferenças, sejam aparências"

Depois da declaração de Pedro, eu acreditava piamente que aquilo era verdade. E inconscientemente torcia para algo acontecer. Para o amor entrar na curva certa dessa vez.

***

Acordo com o despertador soando pela quinta vez. Meus olhos se arregalaram quando encarei a hora.

Eu estava atrasada. Maldito seja, o azar me assolava de novo!

Corro pelo quarto, agarrando um vestido azul-escuro, o menos extravagante que eu achei no guarda-roupa de Luísa. O tecido confortável e com leves babados na saia fazendo-me pendurar um casaco na bolsa preta. Você é azarada, vamos cuidar pra que não seja  uma azarada com frio, Lív.

Com pressa, passo o mínimo possível de maquiagem e encerro meu rosto com um batom discreto. Assim que calço o All-Star branco e meio surrado, alguém da recepção me liga dizendo que um táxi, à mando de uma editora, aguarda-me em frente ao hotel.

Só quando estou dentro do carro, com mãos trêmulas e um amontoado de folhas emplastificadas, lembro-me que nem penteei meu cabelo. Eu vou encontrar com o editor parecendo que coloquei as mãos em um gerador eletrostático. Meu cabelo está quase um para-raio!

Tento acalmar os fios com pressa, mesmo não tenho nenhum pente e sei que vou assustar a recepcionista assim que chegar no prédio. Quando estou prestes a surtar, obrigo-me a me acalmar.

Não seja tão louca, Lív. Não precisa seguir um padrão de beleza com cabelo penteado para se estar apresentável, certo?

Chego na editora meio desorientada e sou direcionada para uma das salas de espera requintadas do local. Lá, um homem de cabelo verde me cumprimenta com um sorriso.

— Lívia Ramos?

— Isso. Sou eu. - aperto sua mão macia e tento não tremer de nervoso - O chefe da editora disse que queria falar comigo para assinar contratos e bom, ver esse lance de publicação, sabe?

Ele ergue as sobrancelhas, interessado. Nunca vi uma pessoa combinar tanto com cabelo verde, ele parecia um elfo daqueles contos da floresta e ao mesmo tempo o cara mais moderno e estiloso que eu já tinha visto.

— O chefe? - questiona - Tem certeza?

Arregalo os olhos.

— Você quer que eu mostre o e-mail?

Ele balança a cabeça com uma risada.

— Não, garota. Acredito em você. - ele olha para as minhas mãos  trêmulas e anota alguma coisa em seu caderno - Está nervosa,  Lívia?

— Um pouco, mas pode me chamar de Lív. Quase todos me chamam assim.

— Eu li seu livro,  Lív. Uma obra fantástica, hein? Estou louco para publicá-lo.

Pisco e depois fico tremendamente surpresa, não só pela minha lesadice, mas também pelo preconceito.

— Você é o chefe? Ai caramba! Você já quer me demitir?

Ele gargalha, olhando a porta fechada atrás de mim.

— Quem me dera, Lív. E relaxa, mulher. Ninguém vai te demitir aqui, ok? Você quer saber quem é o chefe, bom...

— Sou eu - a voz feminina fala e eu viro-me instantaneamente para encarar o rosto sorridente e poderoso. - É um prazer conhecê-la, Lívia. Meu nome é Louisa e eu sou o tal chefe que vocês estão comentando.

Balanço a cabeça, desacreditada. Mas já  sabendo o que realmente aconteceu.

— O machismo arraigado entre nós - comento - Desculpa, Louisa. Foi a pior gafe que eu já cometi em relação a isso.

Ela ri. Tem cabelos loiros e curtos na altura do pescoço, os olhos cinzentos como uma tempestade e a postura firme como toda mulher deveria ter para lidar com o machismo. O sorriso que não sai do seu rosto me diz que eu não tô pisando em ovos com ela.

— Você não é a primeira, Lív. Vamos, entre na minha sala e vamos conversar sobre negócios.

Passamos a manhã com uma conversa divertida sobre nossas trajetórias de vida e do quanto ela gostou da minha obra, não só pelo romance, mas também pela crítica. Não é novidade escrever um romance LGBT, mas é  necessário, não para romantizar o preconceito e sim para escancará-lo em uma sociedade retrógrada que ainda se luta pela plena liberdade.

Lou passou muito por essa luta pra conseguir chefiar a editora porque antes de reconhecer sua competência, olhavam-a apenas como uma mulher. Mesmo assim, alguns e-mails precisam ser escritos no tom masculino por seus representantes.

Eu realmente nunca fiquei tão feliz por ter uma mulher forte como ela publicando meu livro.

Com contrato assinado e um sorriso no rosto saí do prédio como se tivesse saído de um encontro entre amigos. Lou, Tom  (o cara de cabelo verde) e eu parecíamos velhos conhecidos. E ri de ironia do meu nervosismo existencial de sempre. Deu tudo certo.

Eu sou escritora.

Porra.

Eu vou publicar um livro!

Paro de pular pelos ladrilhos da calçada quando uma mulher olha pra mim daquele modo "miga, isso tá estranho" e eu sorrio inocentemente.

O taxista amigo de Lou buzina para que eu entre no veículo e vamos andando pela rua movimentada até ele parar no ponto de ônibus que fica há praticamente 1Km da editora. Não andamos  nada. Resumidamente nada.

— Hã... Eu preciso voltar para o meu hotel, seu Mário - falo, até porquê eu não sabia de nada sobre como andar de ônibus aqui em São Paulo. Eu nem sabia o nome do bairro que eu estava, caramba!

O homenzinho sorri.

— Foi onde me mandaram deixá-la, dona Lívia. Não posso fazer nada.

Tento catar meu celular dentro da bolsa.

— Deve ser algum mal entendido, sabe? Deixa eu só falar com a Louisa...

— Senhorita Louisa pediu especificamente para eu deixá-la aqui, moça.

Estanco no meio do movimento. Olho para o ponto, não tão movimentado devido ao horário, mas com alguns olhares tortos para o táxi. Eu sabia que não podíamos ficar parados aqui por muito tempo.

— Tem certeza?

— Juro pela minha vida.

Meu coração aperta um pouco por Lou. O que eu fiz pra merecer ficar perdida nessa cidade?

Alguém buzina atrás de nós e me despeço de Mário com um aperto de mãos antes de sair do carro. Fico um pouco no canto catando as moedas para a passagem, tentando indenficar qual ônibus eu deveria entrar. Será que se eu pegar qualquer um, eu levo sorte e paro perto do hotel?

Você é azarada, Lív. Lembra?

Eu sei, consciência. Eu não sou burra.

Levanto a cabeça da bolsa quando vejo uma menininha de 6 anos apontar pra mim e depois para o banner de divulgação no ponto de ônibus. Na verdade, não só ela está me olhando. O pai da menina também sorri indicando o cartaz, juntamente com olhares curiosos e maliciosos. Meu Deus.

— Olha, papai!  É igualzinha a moça do desenho.

O desenho ocupava todo o ponto de ônibus. Em vez de divulgar sandálias e ofertas, o banner destacava o traço inconfundível de Pedro. Este que destacava meu rosto, com um sorriso discreto e os olhos misteriosos como um enigma. Meus cabelos castanhos soltos em cascata, o vestido belo e parecido com o da Bela e a Fera, meu conto de fadas favorito.

Não tinha cor. Era como um rascunho. As flores que deveriam  estar em minhas mãos foram substituídas por um livro com o mesmo título da minha obra. E o véu que acompanha meus cabelos é grifado com palavras escritas com letra cursiva.Versos de Do I Wanna Now. A música que ele estava mandando pra mim ontem. Do lado direito, as palavras simples e diretas:


Ainda quero te ver assim. Isso é direcionamento o suficiente pra você? Eu te amo, Lív. E você sempre vai saber disso.
Enconte-me no ônibus vermelho.
— Pedro

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Confesso que eu não sou muito romântica. Mesmo que as histórias que eu faço sejam romances, a maioria tem uma grande dose de drama, comédia e tragédias hahaha essa foi a história mais levinha que eu fiz, sério. Então preparem-se para o romance fofo desses dois!

Ah, em falar em tragédia misturada com romance... Tudo Que Ele Não Tem foi atualizada! Peço pra quem ainda não viu, dê uma olhadinha no capítulo, por favor? Talvez apenas para matar a ansiedade de uma autora que passou um tempão sem escrever na história e está louca esperando algum feedback hahaha juro que a Anna e o Matheus também são legais.

Beijão e até o próximo,



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