Amor em trânsito escrita por


Capítulo 5
5. uma vida


Notas iniciais do capítulo

Ahhh, estamos aqui com o último capítulo ♥
Acabou, gente. Sei que muitos esperavam um capítulo grande para finalizar (eu mesma esperava isso), porém as vezes o simples é melhor e acho que esse jeitinho foi o melhor que eu poderia fazer pela história da Lív. Ela já teve tanta desgraça e maluquice na vida, não? Vou dar um pouco de paz pra ela hahaha.

Boa leitura ♥



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Eu adoro o acaso.

Sempre adorei.

Talvez ele fosse o motivo do meu azar. Talvez ele me salvasse do azar. Mas sempre adorei o modo como um dia começa normal e torna-se surreal em um passar de olhos. Uns dizem que isso pode ser obra de um Deus, eu prefiro acreditar em destino e, ainda, tem outros que não preferem acreditar em nada, apenas deixa o acaso levar a vida.

Pedro era uma dessas pessoas.

Quando encaro o homem a minha frente, de jeans e camisa preta do Arctic Monkeys, só consigo pensar que independente do que esteja acontecendo no meu dia hoje. Por favor, não pare. É daquelas coisas que tenho medo de fechar os olhos e sumir.

Logo quando percebi o que estava acontecendo no ponto - primeiro com choque, depois um pouco deslumbrada - só pude rir dos olhares curiosos e apaixonados que me encaravam. Dentre eles, o par de olhos castanhos do cara de cabelo verde que surgiu para pegar minha mão e apontar para o ônibus vermelho que vinha pela pista.

— Tom, foi você! - acuso rindo - Você disse a Mário que era pra me deixar aqui.

Ele sorri com diversão.

— Alguém tinha que ajudar o pirata a conseguir a pérola, não? Só mexi alguns palzinhos - responde - Além de que, Louisa sabia de tudo. Aquela ali sempre foi a grande fã de histórias de amor.

Ri ainda mais, sem acreditar na maluquice. Mas em questão de minutos eu já estava dentro do ônibus, sorrindo para o motorista e para a coleção de desenhos e letras de música espalhados pelo veículo. E tinha pessoas lá também, desconhecidos que sorriam e filmavam a cena, Lou com seu sorriso tímido junto com Tom que se sentou ao lado dela, vovó emocionada e Luísa gargalhando pra minha cara de surpresa. Todos. Absolutamente todos que eu conhecia e amava.

E tinha Pedro em pé perto da cobradora. O sorriso de menino escancarado no rosto e as ruginhas de expressão emoldurando seu olhar esverdeado e coreano. As tatuagens a mostra na camisa de manga curta e os dedos trêmulos que seguravam algo nas mãos.

— Eu queria ter lápis e papel pra te desenhar agora. Pra desenhar o sinal discreto que você tem na curva do seu pescoço, o brilho curioso no olhar e esse sorriso de canto que você sempre dá quando está encantada com alguma coisa. Eu queria desenhar agora essa sua expressão de felicidade, Lív. Só pra eu poder me lembrar dela e torná-la maior a cada dia. Eu queria te desenhar desse jeitinho só pra poder dizer o quanto você é bonita de qualquer jeito, com qualquer roupa, em qualquer situação... Independentemente se você estiver em um dia de baixa autoestima. Mas sabe de uma coisa?

Sorrio quando ele chega perto e pega a minha mão.

— O quê?

— Eu não precisaria te desenhar pois já te guardo na minha mente desde o dia que te conheci. - murmurou - E nem o melhor dos desenhos pode retratar você do jeito que eu estou vendo agora. Dizem que um artista nunca chega a perfeição, não é? E aqui eu não estou dizendo que você é perfeita e sim tão linda naturalmente que prender sua beleza em um mero papel não me parece natural.

Eu tento desviar do seu olhar para ver o que ele está fazendo com meus dedos, mas não consigo. É uma batalha perdida não amar Pedro nesse momento. Sempre foi.

— Uma vez encontrei uma garota em um ônibus. Ela estava enjoada como uma grávida no primeiro mês e eu via a hora de ela cair no chão frio. Naquele dia eu tive que ajudá-la. Eu era um moleque ainda, não tinha nada além de rabiscos para oferecer, porém quando olhei aquela menina e ela me deu um dos maiores foras que eu já levei na vida, realmente pensei que queria ser um homem feito e ajudá-la todos os dias no enjôo do ônibus sem parecer um idiota. Queria ter dinheiro para comprar um carro simples e levá-la em casa. Ou mesmo queria levá-la em um show legal ao invés de escrever as letras de música em uma folha de caderno.

— Eu sempre gostei mais das coisas simples. - respondo e ele ri.

— Eu sei, Lív. Naquele dia eu não pude oferecer muito mais do que uma ajuda singela, mas hoje, dentro do mesmo veículo que nos conhecemos e nos reencontramos, acho que posso ser um homem melhor o suficiente para merecer você em minha vida, caso você me queira. Pois saiba que é o que mais quero, Lív: você, desenhos, livros e letras de música. Nada mais importa.

— Ninguém pode ir embora - reafirmo o que já está implícito em nosso passado conturbado - Não sem falar tudo que tem pra falar e resolver tudo que tem para resolver.

Os braços me cercam a cintura.

— Fechado.

— Nossa playlist sempre incluirá Oasis.

— Certo.

— E sempre que eu fizer algo ruim, critique-me. Fale. Não cale ou te dou uns tapas.

— Já teremos agressão em nosso casamento?

— Pedro!

Ele ri, beijando minha bochecha.

— Continue.

— Não vai ser na igreja.

— Claro que não.

— E você não pode esperar uma noiva vestida de branco como uma virgem.

— Absolutamente.

— Nada de assistir separado série que começamos juntos.

— Combinado.

— Sim.

Ele se afasta quando termina de me abraçar.

— Sim o quê?

— Eu aceito mudar minha ideia por você. Eu aceito me casar contigo. - sussurro com um sorriso e vejo seus olhos se arregalarem em minha direção - Não há nada que eu mais quero, Pedro.

— Mas eu nem pedi ainda! - surpreende-se e ri. E eu olho pra baixo pra observar o anel de prata, que ele carregou a viagem inteira, agora em meus dedos.

— É que eu quero que você me beije logo.

O riso de todos se espalha pelo recinto. E os braços torneados cicurlam mais uma vez minha cintura. Sinto cheiro de giz, limão e café em sua camisa. Tudo misturado.

— Seu desejo é uma ordem, noiva - murmurou com a boca perto do meu ouvido - E Lív?

— Hm?

— Eu amo você - sussurrou - Melhor do que no WhatsApp, não?

Antes que eu responda sua boca toma a minha. Os lábios urgentes encontrando os meus de um jeito que apenas Pedro me beijaria. E aí, meus caros, eu já não sabia de mais nada, pois meu amor ultrapassou as barreiras desse ônibus vermelho e transbordou. Ele não estava mais em trânsito, conseguiu chegar no destino final: meu coração.

E dali nunca mais saiu.


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Notas finais do capítulo

Tenho que confessar uma coisa: no planejamento desse conto estava incluído um epílogo. Porém, por algumas circunstâncias, acabei finalizando a história aí mesmo porque o enredo (da viagem louca da Lív até SP) termina aí. Só que eu ainda tô com a ideia de epílogo, que no caso contaria um pouquinho da vida deles após toda essa viagem. Se tiver uma probabilidade de eu colocar essa espécie de bônus em prática, vocês queriam? Seria mais um presente hahaha e ainda vocês podem fazer qualquer pergunta sobre os personagens e suas vidas (Vai da cor favorita até os maiores medos) e esses questionamentos seriam respondidos nesse capítulo extra.
Bom, essa é só uma ideia que me veio a mente hahaha.

De qualquer forma, isso aqui é um fim e eu agradeço demais todo o apoio, comentários e favoritos que vocês deram. Amor em Trânsito ainda é um simples conto escondido entre tantas histórias do Nyah, mas foi uma história lida por pessoas muito queridas e que sabem que a Lív existe. Isso que importa.

Beijos e um abraço especial para as maravilhosas Elisa e Rafaella que comentaram em todos os capítulos. Vocês foram incríveis nessa pequena jornada!