Sombras do Passado escrita por Barbi F S Maia


Capítulo 8
Capítulo 8 - DNA


Notas iniciais do capítulo

https://www.youtube.com/watch?v=lWh1TKGmGJk



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POV Edward


Depois que Bella saiu do quarto fiquei mais alguns minutos dentro do banheiro. Aos poucos meu corpo foi recobrando suas funções e voltei a me mexer. Limpei o banheiro, joguei fora as embalagens que tinha usado e guardei o Kit. Após isso me dirigi para a cama e me deitei nela.

Eu quase beijei Isabella Swan. Eu quase beijei a mulher que grito para todo o mundo que odeio. Fecho os olhos com força e dou uns tapas na minha cabeça. Qual era o meu problema? Por que está cada vez mais difícil lembrar do que ela fez comigo?

Pouco tempo depois de começar um dialogo comigo mesmo Carlisle bate na porta pra me avisar que Bella estava bem e me passar um sermão sobre não dar ouvidos a um doente que diz não querer ir ao hospital. Assim que ele sai do quarto volto a me jogar como uma pedra na cama. Saber que Bella vai ficar bem me trás um alívio tão forte que uma lágrima quase sai de meus olhos. Escuto um apito vindo do meu telefone que indicava uma nova mensagem.

Era o treinador, gostaria de saber quando voltaria a Califórnia. Merda, como eu pude me esquecer disso? Mandei uma mensagem falando que surgiu alguns problemas familiares e teria que ficar por mais tempo.

A temporada tinha acabado e teríamos um total de três meses sem jogos. Mas isso não queria dizer três meses sem trabalho. O técnico sempre nos liberava por algumas semanas mas logo nos queria de volta a sede, treinando. Me lembrar que vou ter que ir embora me deixa triste.

Eu raramente vinha ver meus pais porque não tenho muito tempo e não gosto de ficar na cidade. E nas ocasiões em que venho depois de uma semana já tenho vontade de dar o fora. Geralmente era minha família que me visitava. Mas dessa vez, já iria completar duas semanas aqui e eu tinha até me esquecido da Califórnia. Acho que sei o que causava isso.

Sorri ao me lembrar da Nessie. Aquela menininha já havia se infiltrado por dentro de minha pele. Era ela que me dava forças todo dia pra ignorar a presença  de Bella naquela casa. Sempre que eu podia, tentava passar um tempo com ela. O que era difícil, já que todos os outros tentavam o mesmo. Pareciam um bando de abutres atrás de carne enquanto circulavam ao redor da minha boneca atrás de um pouco de atenção.

Confesso que sinto um pouco de ciúmes, talvez muito, quando não é para mim que ela pede ajuda com alguma coisa, ou quando ela pede colo a outra pessoa, mas me reconfortava saber que tirando Bella, eu era a pessoa que ela mais recorria. Quando me lembrei dela me lembrei também da promessa de consertar a casinha para ela brincar.

Saí do quarto e fui até o carro pegar o que precisava, depois segui em direção a casinha e comecei a trabalhar. Passei horas ali, a tarde chegou e se foi, não fui ao jantar, só saí dali quando já tinha terminado. A casinha que antes estava velha agora parecia nova em folha. Troquei as madeiras podres, apertei as que estavam bambas e pintei as paredes de rosa, e as janelas de azul claro. As duas cores favoritas de Nessie. Ainda limpei e lixei os moveis antigos que tinham ali dentro. Havia uma mesinha de tomar café com 4 cadeirinhas, na qual eu estendi uma toalha azul bebê bordada com borboletas e coloquei um conjunto de chá de brinquedo que tinha comprado só pra isso. Também havia um armarinho de madeira onde guardei os pratinhos do conjunto de cozinha de brinquedo que ela tinha ganhado no natal. Trouxe o mini fogão e a mini geladeira pra dentro, junto com o resto de seus brinquedos. Só saí de lá  quando me dei por satisfeito.

Já se passava da meia noite quando voltei. Nessie já devia estar dormindo então teria que esperar o dia seguinte pra mostrar a casinha. Estava tão ansioso pra ver a reação dela que parecia uma criança na manhã de natal. Passei pela cozinha para comer alguma coisa e depois fui para o quarto com um sorriso bobo no rosto. Porém assim que deitei a memória de Bella voltou a minha mente. Droga.

Antigamente quando pensava nela  a principal coisa que vinha em minha mente foram nossos últimos dois dias juntos. Todo vez que alguma memória boa de nós dois vinha em minha mente eu era ela nublada por esses dois fodidos dias. Com a volta de Bella pensei que isso pioraria mas aconteceu o oposto. Cada dia venho pensando menos nos dias do nosso rompimento e mais em todos os outros. Ah cara, isso não era bom. Eu precisava me lembrar que ela não era a flor doce e meiga que aparentava ser. Foi isso que me fez procurar as fotos que tinha dela. Não as queimei ou joguei fora na época porque se um dia me esquecesse do que ela me fez, aquelas fotos me fariam lembrar.

Levantei o colchão pronto para encontrar os envelopes que mudaram minha vida mas não havia nada ali. Retirei o colchão da cama e nada. Procurei pelo chão e nada. Revirei as gavetas, os móveis, fui até o banheiro e nada, nada, nada. As fotos haviam sumido.

Sinto o pânico crescendo dentro de mim. Não, não, não, não. Eu não podia perder aquilo. Eu precisava lembrar! Eu precisava lembrar do que ela tinha me feito porque se não, Deus me perdoe, eu ia cair em seus encantos de novo e ter meu coração arrancado do peito mais uma vez, e eu não iria aguentar. Comecei a hiperventilar e me sentei no chão. Droga, eu não conseguia ficar naquele quarto, não perto do lugar onde a algumas horas eu atrás a tinha nos braços.

Saí do quarto correndo. Lá fora o chão ainda estava congelado da nevada de mais cedo, logo eu não iria poder jogar como eu queria. Então segui em direção a sala de música. Me sentei sobre o piano e comecei a tocar a música que tinha feito quando ela foi embora. Tocar aquela música trouxe de volta toda a dor que senti na época, junto com a raiva. Depois de algum tempo a raiva por ela foi aumentando, aumentando até que comecei a socar os malditos teclados. Por que aquela maldita tinha voltado? POR QUE???

— Você já tocou melhor.

A voz de Bella me assustou tanto que pulei para longe do piano. Aquela era uma música particular, nunca ninguém a tinha escutado e era pra continuar assim. Meu sangue ferveu.

— O que você está fazendo aqui?

Quase rosnei para ela.

— Não consegui dormir e decidi andar um pouco então escutei um barulho e.. quer saber, não é nada. Eu vou voltar para cama eu só.. Ée... obrigada por hoje.

— É melhor você não ter deixado isso subir a sua cabeça. Aquilo não muda nada entre nós, eu teria dado o mesmo tratamento a uma prostituta. Agora saia da minha frente e não volte a por os pés nessa sala.

Assim que Bella some da porta sinto culpa por ter gritado com ela assim quando prometi que não o faria. Sento de novo sobre a cadeira do piano e apoio a cabeça em minhas mãos. Fiquei repassando tudo que senti hoje em ordem cronológica. Animado, irritado, assustado, preocupado, excitado, apaixonado, confuso, triste, concentrado, feliz, confiante, magoado, puto e culpado. Essa porcaria emocional estava acabando comigo. Acho que o próximo item da lista vai ser "com dor", penso enquanto sinto uma fincada começar a nascer na minha cabeça.


++++


No dia seguinte acordei animado. O drama com Bella ia ficar pra depois porque aquele dia era de Nessie. Desci as escadas quase cantarolando e entrei na cozinha. Nessie estava sentada perto de Esme comendo uns biscoitos e assim que me viu abriu um sorriso radiante.

— Edwad!!

— Oi minha boneca, onde está sua mãe?

Esme me lança um olhar estranho. Não importa, só não queria que Bella estivesse por perto, era um momento meu e de Nessie e Bella por perto só serviria pra bagunçar meus sentimentos.

— Ela ainda ta dolmindo, por quê?

— Nada não, termina seu café que eu tenho uma surpresinha pra você.

— Sério?

— Sério - respondo sorrindo.

Depois que ela termina seu leite eu pego ela no colo e peço pra ela fechar os olhinhos.

— Só é permitido abrir quando eu falar, se não vai estragar a surpresa.

— Ta bom - ela diz em um tom sério.

Eu a levo no colo para fora e quando chegamos a coloco lá em cima, peço pra ela ficar sentada quietinha enquanto subo sozinho a escada.

— A gente ta na casa da árvore? -  Nessie pergunta animada ainda de olhinhos fechados.

— Sim, agora vem aqui e fica quietinha.

A posiciono de costa contra a entrada, onde ela poderia ver a casa toda e a solto.

— Pode abrir os olhos.

Quando Nessie abre os olhos eles logo em seguida se arregalam e sua boquinha se abre. Um segundo depois escuto seu grito.

— Edwad! Edwad! olha!! Tem uma mesinha pra toca café, ai que lindo, olha essa cotina - ela diz enquanto aponta para cortina que coloquei no dia anterior. - Não. Cledito - ela diz pausadamente quando abriu o armário e viu a coleção de vasilhas que ela tinha com outras que eu comprei para adicionar todas organizadas.

Depois disso ela ficou pulando de um lado para o outro fazendo comentários sobre a casa enquanto eu ficava parado só a observando, sentindo um novo tipo de amor crescendo em meu peito. Enquanto observava, Nessie para de repente no meio da casa de costas para mim e fica quieta.

— Nessie, ta tudo bem? - pergunto quando vejo que ela continua parada.

— Nessie?

Caminho até ela e quando a alcanço vejo que está com lágrimas nos olhos.

— Ei meu amor, o que foi?

Então ela me abraça forte e começa a chorar.

— Obligada Edwad. Obligada.

— Ei anjinho, não foi nada. Eu faria coisa muito maior por você. Agora para de chorar que eu não gosto de te ver assim.

— Mas to cholando de felicidade. - Ela diz enquanto continua soluçando.

Eu sorrio e a abraço mais forte e então começo a fazer cosquinhas nela. Em pouco tempo ela para de chorar e começa a rir. Nós dois ficamos brincando lá até a hora do almoço, quando Esme nos chamou para entrar. Depois disso Bella roubou Nessie e eu me senti como um cachorrinho que perdeu seu brinquedo favorito. De tarde Bella anunciou que ia sair e chegar tarde e pediu para Esme que olhasse Nessie e a colocasse pra dormir. Eu fechei a cara quando ouvi aqui, me perguntando o que diabos Bella ia fazer na rua até tarde da noite mas logo Nessie me pegou pela mão e fomos até a casinha de novo.

Brincamos até o anoitecer, Nessie não quis mais sair nem para comer então levei comida e comemos na mesinha dela. Eu sentado no chão e ela na cadeirinha. A lua já estava alta no céu quando sinto a cabeça de Nessie tombar em meu ombro. Ela estava sentada no meu colo já havia um tempo me contanto uma história sobre sua boneca Sue mas aos poucos foi caindo no sono. Enquanto ela dormia tomei a liberdade de analisar seu rostinho. Logo em seguida tomei sua pequena mão e contei seus dedos, observando cada detalhe de cada um deles e entrelacei sua mão na minha.

Eu não podia pensar no exame de DNA mas não pude evitar. Eu não podia começar a pensar que era verdade, que era ela minha filha. A ideia de ter deixado Bella com um filho nosso sozinha no mundo, de ter perdido seu nascimento, seus primeiros passos, sua primeira palavrinha me dava ânsia de vômito. Eu não podia pensar nisso. Eu não aguentaria se fosse verdade mas ao mesmo tempo, olhando Nessie sob a luz da lua.. Deus, como eu queria que fosse!



POV Bella.


Chegou o dia.

Eu já havia começado a trabalhar no restaurante e até então estava adorando. No dia seguinte ao do acidente liguei para Marie e perguntei se poderíamos nos encontrar pra conversar e então fui até sua casa. No mesmo dia saí mais cedo pra passar na casa de Marie e de lá fui direto pro trabalho.

A casa de Merie gritava "avó". Ela morava sozinha desde que seu marido morreu, há dois anos, e de vez em quanto seu neto a visitava, já que morava em Port Angels. Não havia nada em Marie ou em sua casa suspeito. Por pior que seja viver com os Cullen não podia  simplesmente colocar Nessie na casa de um estranho. Marie ficou surpresa e feliz com a minha visita e depois que expliquei por cima a situação ela me recebeu de braços abertos. Me disse que eu e minha filha poderíamos ficar ali por quanto tempo quiséssemos.

Quando vi a casa que Edward construiu para Nessie comecei a repensar sobre a casa de Marie. Fiquei chocada com o esforço que Edward tinha colocado na reforma da casa e confesso que meu coração ficou balançado. Apesar da dúvida rondar a minha mente, confirmei que iria pra sua casa quando nos encontramos no dia anterior ao resultado do exame.

E o aguardado dia havia chegado.

Recebemos uma ligação do laboratório no dia anterior falando que o resultado ficaria pronto no dia seguinte. Carlisle tinha plantão no dia então na volta passaria lá e pegaria o exame. Agora já eram 18h e estavamos todos na sala, o esperando. Todos menos Renesmee, a tinha deixado na sala de estar com seus desenhos a alguns minutos atrás.

Todos pareciam nervosos. Alice andava de um lado para o outro, Esme já havia limpado o mesmo vaso umas 4 vezes, Emmett batucava com o pé no chão sem parar, Jasper parecia preferir estar em uma forca, Rosalie estava encarando fixamente a porta e Edward estava quase arrancando o cabelo de tanto passar sua mão nele. Eu era a única que permanecia calma. Não tinha motivo para ficar nervosa, sabia o resultado.

A porta se abriu e Carlisle entrou com um olhar cansado.

— E então? - Foi Alice quem perguntou.

— Bem, eu obviamente não abri. Tem duas cópias. - ele disse e então entregou uma para mim e outra para Edward. Ninguém parecia respirar.

Se passou vários minutos e ninguém se mexeu. Meu envelope ainda estava em cima da mesa na minha frente e Edward segurava o dele como se aquilo fosse virar um monstro e arrancar a sua pele. Quando mais alguns minutos se passaram e Edward continuou estático revirei os olhos e decidi me mexer.

Levantei e todos os olhos da sala se viraram para mim. Peguei o envelope e o abri. A folha com o resultado estava dobrada. Caminhei lentamente até Edward. Enquanto eu caminhava em sua direção me veio em mente tudo o que aconteceu. A forma que eles me expulsaram, me humilharam naquele dia, tudo que eu tive que aguentar pra criar minha filha sozinha. Os apartamentos imundos que eu tive que alugar, os dias de frio, de fome, de medo. A cada maldito passo que eu dava a raiva ia crescendo, mais e mais. Quando cheguei em sua frente já estava chorando.

Eu desdobrei o papel mas não o li, o coloquei virado para Edward sem ao menos olhar o resultado.

— Leia - minha voz não era mais que um sussurro quando falei.

Ao ver que seus olhos ainda estavam em mim eu perdi o controle e gritei.

— LEIA!!

Os olhos de Edward finalmente se abaixaram e ele começou a chorar.

— Em voz alta.

Eu peço. E ele me obedece.

— Positivo.

Então eu amasso o exame, jogo nele e dou um tapa na cara de Edward. Ele não revida, ele não grita, ele não faz nada. Ele só fica parado lá, chorando em silêncio e isso só me da mais raiva ainda. Eu não sei o que diabos dá em mim só sei que no segundo seguinte estou em cima de Edward, o socando, o batendo, o chutando e gritando. E ele recebe cada golpe sem nem ao menos tentar se defender. Emmett me tira de cima de seu irmão e Esme corre para o lado de Edward, o ajudando a se levantar. Eu tento me soltar de Emmett.

— Nem tente Belinha, só vou te soltar quando você parar de tentar matar meu irmão e for conversar que nem gente grande.

Sendo assim tento me controlar e vou me acalmando aos poucos. Ao notar que já estava calma Emmet me solta. Assim que sinto seus braços afrouxarem saio dali e corro para fora da sala. Não aguentaria ficar nem mais um minuto naquele lugar. Subo correndo em direção ao quarto que dormíamos e pego as malas que já tinha empacotado em segredo. Podia escutar as vozes ainda na sala enquanto seguia em direção aonde Nessie estava. Quando Nessie me vê se levanta imediatamente.

— Ai glaças a Deus.

Minha filha parecia preocupada e isso me desconcerta um pouco

— Mãe, aconteceu um desastle - ela diz isso e começa a andar de um lado para o outro, com uma mão na cintura e a outra na cabeça. Ela realmente parecia desesperada.

— Nessie, o que foi? - faço ela parar de andar e me olhar. Então ela vai em direção a mesa, pega um dos seus desenhos e me entrega.

— Olha isso.

Ela fala em um tom tão sério que eu realmente presto atenção no desenho. Era um desenho infantil com duas pessoas, um homem e uma criança com as mãos dadas, com um jardim e uma casa desenhada em cima de uma árvore no fundo. Parecia um desenho normal de uma criança.

— O que há de errado Nessie? É lindo!

— Olha pras nuvens mamãe! - ela diz apontando. - Eu pintei elas de azul! E as nuvens são blancas!! Eu levei um tempão pra faze esse desenho. É de plesente pro Edwad e eu estlaguei tudo! Eu desenhei as nuvens e ia pinta o céu de azul depois, mas aí eu pintei foi as nuvens! Mãe e agora? E se ele nota? Eu tentei faze outro mas não ficou bom. Será que ele vai acha ruim? O que eu faço?

Toda a situação e o real pânico de Nessie conseguiu me tirar uma risada apesar de tudo.

— Filha, você poderia ter pintado o céu de vermelho e as nuvens de roxo que Edward ainda assim ia amar o seu desenho.

— Você acha?

— Eu tenho certeza.

Nessie solta um suspiro e coloca a mão no coração.

— Ai que bom - e é então que nota as malas que eu carregava. - A gente ta indo pra algum lugar?

Me senti caminhando sobre cacos de vidros agora. O que dizer pra minha filha? Todos os meus instintos gritavam para mentir e inventar alguma desculpa, como tinha feito por toda essa semana, como tinha feito por todos esses anos quando o assunto era seu pai. Eu tinha certeza que esse não era o melhor momento para contar a verdade para ela, não tinha ideia de como ela iria reagir mas ao mesmo tempo... eu só estava tão cansada de toda aquele drama, toda aquela mentira...

— Nessie, a mamãe tem que falar uma coisa séria pra você, então preciso que me escute muito bem. Okay?

— Okay.

Ela responde com um olhar sério e eu a sento no sofá, me agachando em sua frente para ficar na altura de seus olhos.

— Você lembra quando me perguntou sobre seu pai?

— Você disse que ele tava longe. .

— Pois é, e ai você me perguntou quem ele era e se podia ver ele e eu disse que no momento certo vocês iam se conhecer e eu ia te contar a verdade. Você se lembra? - ela assente, ainda me olhando séria.

— Bom, você já conhece seu pai. Eu não queria te contar antes, eu estava esperando dar um tempo para você e pra ele se conhecerem e se adaptarem um ao outro antes de contar a verdade.

Renesmee estava estática, ela nem piscava enquanto eu falava. Eu respirei fundo, pedi coragem a mil deuses diferentes e abri a boca.

— O Edward é seu pai.

Silêncio. Dei um tempo pra ela absorver a informação. Eu esperava que ela ficasse feliz, ou talvez triste. Definitivamente esperei raiva mas tudo que recebi foi silêncio.

— Nessie? - Perguntei depois de um tempo e finalmente ela se mexeu. Ela abaixou os olhinhos, olhou para suas mãos e começou a mexer com os dedinhos.

— Eu já sabia.

Se minha filha tivesse tirado um ornitorrinco do bolso e tacado na minha cara eu não teria ficado mais surpresa.

— O que? Como você..

— Mamãe, eu não sou surda. Eu escutei vocês falando algo sobre meu pai no primeiro dia, só não entendi dileito. Aí depois escutei o tio Calisle me chama de neta uma vez. E o tio Calisle é papai do Edwad e como a gente tem o mesmo cabelo eu pensei que.. que talvez ele fosse meu papai.

— Por que você não me contou isso Nessie? - perguntei um pouco desconcertada.

— Porque eu tava com medo de você fala que ele não era meu pai.

Meu Deus! Minha pequena garotinha parecia mais velha do que eu.

— Você quer que ele seja seu pai? - pergunto com a voz embaçada pelas lágrimas e ela assente com a cabeça, sem me olhar nos olhos.

— Ah, Nessie..

A puxo para meus braços e a abraço com toda minha força. A minutos atrás estava disposta a ir embora, sem falar com ninguém. Só queria subir e deixar minha filha longe deles. Eles não mereciam ela. ELE não merecia ela. Ele não merecia conviver com Nessie, não merecia receber o amor da minha filha. Ele deveria sofrer, deveria ficar sozinho pelo que havia feito. Merecia isso. Mas Nessie não. Nessie não merecia crescer sem um pai, ela não merecia crescer sem avós, sem tios, sem uma família. Eu não estava pensando em Nessie ao pegar aquelas malas e querer fugir pelo mundo. Eu estava pensando em mim.

— Não tem ploblema mamãe. 

Eu afasto Nessie de mim e enxugo minhas lágrimas e as dela.

— O que minha querida?

— Não tem ploblema a gente ir embora - ela diz olhando para as mãozinhas. - Eu sei que a senhola não ta feliz. E se você for embola quelo ir com você, não quelo fica aqui. Eu amo o Edwad um montão mas eu amo mais você.

E mais uma vez Nessie faz aquilo. Aquilo que ela fez um mês atrás, quando disse que ela poderia ter a festinha de aniversário. Ela parecia uma adulta, enquanto devia ser só uma criança. Ela deveria estar esperneando, chorando, com raiva mas eu olhei pra ela e só vi compreensão em seu lindo rostinho. Eu não podia fazer aquilo com ela, não podia.

— Filha, a gente vai sair, mas a gente não vai embora. - Quando Nessie me olhou confusa logo explico.

— Essa não é a casa da mamãe, é a casa do seu avô e do seu pai, por isso a gente tem que sair. Eu já arrumei um lugar pra gente ficar e não é muito longe daqui. Você vai poder vir ver seu avô e seu pai sempre que quiser. A gente vai conversar com eles e você pode passar o final de semana aqui.

— Então eu vou pode vê o meu pai, o vovô e todo mundo? A gente não vai embola pra semple?

— Não minha filha, a gente não vai.

Então ela me abraça tão forte que eu quase caio para trás.

— Obligada, obligada, obligada mamãe! Eu te amo um montão, um montão, um montão!!

— Tudo bem, tudo bem - respondo rindo, tiro seus bracinhos do meu pescoço e a sento novamente. - A mamãe precisa conversar com seu pai, então você vai se despedir e a gente vai pra nossa nova casa.

— Mas depois vou poder ver ele de novo?

— Vai.

— Ta bom! Eu te espero.

Deixei Nessie sentada no sofá e saí pela porta. Eu definitivamente não queria conversar com Edward agora. Mas tomei um longo fôlego, e segui em direção a sala.



POV Edward

Positivo

Positivo

Positivo

No fundo do meu coração, por mais que eu tentasse negar, eu sabia que era verdade.

Positivo.

Bella voou para cima de mim e eu deixei, merecia cada golpe.

Positivo

Alguém estava falando comigo. Bella sai da sala. Eu não escuto ninguém. Aquelas palavras ainda rodando pela minha mente.

Positivo.

Deixei Bella sozinha no mundo grávida de uma criança minha, eu não acreditei nela, ela criou nossa filha sozinha.

Um coração despedaçado como o meu poderia se partir de novo?

Positivo.

Nessie era minha filha, aquela garotinha que eu já amava tanto era minha.

Um coração despedaçado como o meu poderia bater de novo?

Parecia que o meu podia.

Só voltei ao planeta quando Bella entra na sala novamente. O que me desperta não é seu rosto, mas as malas que carregava. Um desespero que eu nunca senti antes rasga meu peito e eu tento encontrar minha voz.

— Bella.. não..

— Bella, por favor. Vamos conversar e pensar no que fazer em seguida. - Carlisle fala como um policial convencendo um bandido a largar sua arma.

— Eu quero falar com Edward. Em particular.

— Nos deixe. - finalmente eu me faço ouvir. Após alguns segundo de hesitação, minha família sai da sala e logo estamos sozinhos.

— Eu vou embora - Suas palavras são como uma faca.

— Bella.. por favor..

— Ela é minha Edward. Você pode ser o pai, mas ela é minha. E não vamos ficar mais aqui.

Eu me levando e caminho em direção a ela.

— Não adianta tentar me impedir e nem tentar tirar ela de mim

Paro em sua frente.

— Não importa quanto dinheiro você tenha, eu nunca vou deixar um juiz de araque decidir como..

Me ajoelho em sua frente e ela se cala.

— Edward... o que..?

— Me perdoa.

— Edward...

— Por favor. Me perdoa. Me odeie, me bata, grite comigo mas por favor... não vá embora. Não a leve. Não tire ela de mim.

A essa altura eu já estava soluçando. Eu nunca havia sentido uma dor tão forte assim, nem do dia em que Bella foi embora. Ela rasgava meu peito de dentro pra fora.

Bella solta um suspiro e se ajoelha, ficando na minha altura.

— Edward olha pra mim.

Eu tento, mas seu rosto fica embaçado no meio das lágrimas.

— Você me abandonou quando eu mais precisei de você. Eu era jovem, estava sozinha e grávida e você me abandonou. Você não fez nem caso, não me deu nem o benefício da dúvida. Você simplesmente me abandonou. NOS abandonou - fechei os olhos novamente, não conseguindo olhar pra ela - Olha pra mim! Foi difícil, você nem imagina como foi difícil. Mas por mais que tenha sido difícil, eu fui feliz nesses últimos anos. Você perdeu mais que eu. Você perdeu seu primeiro choro, seus primeiros passos, suas primeiras palavrinhas e você merece perder muito mais. Mas Renesmee não. Por isso, não vou tira-la de você.

— O.. o-o que? - pergunto meio confuso.

Ela se levanta e caminha para perto de suas malas, pegando um envelope.

— Eu vou embora, mas não vou sair da cidade. Arrumei um emprego e um lugar provisório para ficar. O endereço está aqui dentro, junto com o número do celular que eu consegui comprar. Pode me ligar a qualquer hora do dia amanhã para marcarmos direito como vai ser. Você pode pega-la nos finais de semana e traze-la para cá.

Ela diz estendendo o envelope. Eu o pego ainda confuso.

— Quer dizer que.. você vai me deixar vê-la?

— Estou fazendo isso por ela Edward, não por você. Ela está na sala de estar, eu contei pra ela antes de vir aqui e ela quer vê-lo antes de irmos embora.

— Ela está com raiva de mim?

— Não.. ela.. falou que já sabia.

— O que!?

— Ela disse que seus cabelos eram iguais.

Apesar da situação eu ri.

— Meu Deus aquela menina é incrível, ela é mesmo nossa filha? - Pergunto com um sorriso no rosto.

— Sim - Bella responde pensativa, parecendo falar consigo mesma e não comigo. - Ela é mesmo nossa filha.

Então ela sai e eu a sigo em direção a sala de estar em silêncio, absorvendo o fato de que poderia ver Nessie. Minha Nessie. Quando Bella abre a porta vejo minha menina sentada no sofá, ela vira seu olhar para mim e abre o maior sorriso do mundo.

— Olha Edwad! Eu fiz um plesente pra você!

— Sério minha princesa? - pergunto enquanto me aproximo dela devagar, com medo de que ela pudesse desaparecer.

— Olha! Você gosto?

Passo a mão por sua bochecha e coloco seu cabelo atrás da orelha.

— É lindo - digo olhando para ela.

— Mas você nem olhou! Olha!

Virei meu olhar para o desenho e meu corpo inteiro estremeceu. Era nós dois. Ela tinha feito um desenho de nós dois na casa da árvore.

— Ah Nessie..

E começo a chorar de novo. Aparentemente isso estava se tornando um hábito mas eu não me importava. Filha, era ela minha filha! Minha doce bonequinha.

— Ai você não gostou? Por que ta cholando? Desculpa! Eu sei que colori as nuvens diferente mas...

— Eu amo você - corto o que ela ia dizer e ela olha pra mim com os olhinhos arregalados. Era a primeira vez que falava isso pra ela em voz alta. - Eu amo você boneca e esse foi o melhor presente que eu já recebi em toda minha vida.

Renesmee também tinha lágrimas nos olhos.

— Você vai me ir me vê não é? Na nova casa.

— Todas as vezes que eu puder meu anjo.

— Então você não vai embola? Não vai me deixa de novo, né? - ela pergunta com a voz chorosa.

— Renesmee, eu morro antes de deixar que isso aconteça.

Ela me abraça apertado.

— Eu também te amo.

Eu ia explodir ao ouvir essas palavrinhas saindo de sua boca. Então ela se separa de mim e vai em direção a Bella. Bella diz alguma coisa pra ela e ela vai pra fora. Bella se vira em minha direção enquanto eu juntava forças pra ficar de pé.

— Chamei um taxi e acredito que ele já chegou. Sabe.. eu sempre carreguei um pen-drive com todas as fotos e vídeos de Nessie. A poucos dias eu pensei que tinha o perdido então fiz uma cópia e comecei a carregar os dois, caso eu perdesse um. Coloquei um deles dentro do envelope. Se.. você quiser assistir.
 

Olho o envelope como se ele fosse feito de ouro.

— Obrigado.

— Tudo bem. Adeus Edward.

— Adeus Bella.

E pela segunda vez na vida deixo aquela mulher partir. Será que alguma vez na vida conseguiria vê-la indo embora sem me sentir como se tivesse sido apunhalado no peito?


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