POV Bella

O ano novo chegou e passou, assim como várias semanas chegaram e passaram. Já iria fazer dois meses que voltei a Forks e um mês desde que sai da casa dos Cullen.

Marie foi um anjo na minha vida, me acolhendo em sua casa de braços abertos. Ela cuidava de Nessie quando eu ia trabalhar e a adorava, assim como Nessie amava ela. Com poucos dias Nessie já a chamava de vovó Marie e eu mesma já estava a considerando uma mãe pra mim. Na primeira noite, após colocar Renesmee para dormir eu desabei a chorar e ela ficou comigo por todo tempo me confortando. Ela cuidou de mim enquanto eu cuidava de Nessie.

Edward me ligou no outro dia como er disse para fazer e combinamos que ele pegaria Nessie sexta a noite, antes de eu ir trabalhar e a devolveria segunda de manhã, que era minha folga. Fiquei um pouco hesitante em deixa-la por quase 3 dias longe mas Edward estava de férias, assim como Nessie, e a verdade é que nos finais de semana o restaurante enchia e na maioria das vezes tinha que ficar até depois do horário, eu ficava tão cansada que dormia a maior parte do final de semana então concordei com isso. De qualquer forma, não duraria muito. Já estávamos chegando perto dos dias letivos da escola e eu já havia matriculado Nessie. Ainda não tinha certeza se ficaria na cidade, fiz isso mais como uma forma de precaução. Eu havia alugado a poucos dias uma casinha que estava vaga perto da casa de Marie, meu salário junto com a pensão que Edward e Carlisle insistiram em pagar eram suficiente para alugar uma casa gigante, um avião e talvez a cidade,  mas tentei mexer no mínimo possível do dinheiro que eles me enviavam. Separava uma quantia para alugar a casa, e usava do meu salário para comprar mantimentos, roupas, ou qualquer coisa que precisássemos . O resto do dinheiro guardava em uma conta para a faculdade de Nessie, só tirando dali quando era necessário. Pela primeira vez desde que tive Nessie senti que estava estável. Me permiti respirar fundo sem me preocupar com o dia de amanhã.

Não voltei a casa dos Cullen, não por falta de convite. Toda sexta quando Edward chegava ele me chamava para almoçar ou jantar por lá. Assim como Esme, Emmett, Jasper e Carlisle também me pediam, nas raras ocasiões que me telefonavam. Eu não queria estragar aquilo para Nessie mas estava começando a pensar na ideia de sair da cidade. Não por querer que ela fique longe deles, não mais. Mas porque queria que ela tivesse mais oportunidades, coisa que ela não teria aqui. Sem falar que quando eu saia na rua via como as pessoas me olhavam e olhavam para ela. A bastarda dos Cullen, eles nunca tiveram coragem de falar isso na minha cara mas sei que era isso que diziam pelas costas. As pessoas começaram a me reconhecer e todo aquele drama entre mim e Edward que antes estava enterrado voltou a tona. Ainda não tinha encontrado ninguém do meu antigo ciclo de amizades e fiquei feliz e alegre com isso, apesar de que esse encontro não me preocupava tanto. Minha cabeça rondava em meus pais. Sei que eles ainda moram na nossa antiga casa, sei que eles sabem que eu voltei com minha filha e sei que eles não se importam. Até hoje não os tinha visto e não sei o que faria se esse dia chegasse.

Estava divagando enquanto ia pro trabalho até que passo pela casa da Marie e lembro do cheque que estava na minha bolsa. Vou até lá, toco campainha e logo ela me atende.

— Oi querida, tudo bem?

— Oi Marie. Eu estou indo pro restaurante, passei só pra te entregar esse cheque por você estar ficando com Nessie enquanto eu trabalho - digo entregando o papel.

— Não, nem pense nisso. Eu já ganho dinheiro o suficiente pela aposentadoria. Guarde pra você.

— Não posso deixar Nessie com você de graça.

— Bella, eu sou uma velha que fica a maior parte do tempo sozinha vendo TV. Ficar com Nessie é  a melhor distração pra mim, eu adoro sua menina. Deixe de besteira e fique com o dinheiro.

— Marie, ou você aceita o dinheiro ou juro que vou contratar alguma adolescente maluca como babá

— Você joga pesado - ela responde mas pega o cheque, mesmo que hesitando.

— Se você visse o quanto os Cullen estão me mandando por mês, iria era exigir mais dinheiro.

— Até parece que você usa o dinheiro deles. Acho que você deveria é pegar esse dinheiro e ir gastar ele na Grécia ou no Caribe ou em qualquer lugar com uma praia quente e um monte de homens bonitos. Você está precisando transar.

— Tchau Marie - digo e me viro, pronta pra ir embora.

— Se você quiser eu te passo uns contatos meus!

— TCHAU MARIE.

Deus, a libido daquela mulher é maior que a minha, penso enquanto sigo em direção ao restaurante. Era domingo e provavelmente teria uma longa noite pela frente.




POV Edward

— Alice, eu já disse que não!

— Nossa, mas você virou mesmo um velho resmungão.

— Qual é o seu problema? Foi você mesmo que disse que eu não podia nunca, jamais perdoar Isabella!

— É mas.. já faz anos, as pessoas erram! E agora vocês tem uma filha juntos! E não é como se você também não tivesse errado quando a mandou embora.

— Sim, e vou me culpar eternamente por causa disso. Mas isso não apaga o fato de que Bella me traiu.

— Você já parou pra pensar que aquela história foi muito mal contada? Talvez a gente devesse ter pesquisado um pouco mais antes de simplesmente assumir que ela te traiu.

— Assumir? A gente não assumiu nada! Por mais que aquele e-mail pudesse ser falto haviam fotos Alice, você mesmo a viu!

Com isso Alice finalmente cai na minha cama com as mãos segurando a cabeça. Estávamos em meu quarto e não era a primeira vez que a gente estava tendo aquela discussão.

— Além do mais, até hoje você não trocou mais que duas frases com ela! Se você não conseguiu a perdoar o que te faz pensar que eu deveria?

— EU NÃO SEI! - ela estoura. - eu só, não tenho mais certeza eu só.. não sei.

Com isso ela sai da sala parecendo confusa antes que eu pudesse perguntar o que diabos ela quis dizer com aquilo.

Já fazia quase dois meses que estava longe da Califórnia e meu treinador estava a ponto de ter um ataque cardíaco a cada dia que eu ficava longe. Estava tentando evitar que Nessie viesse a tona, geralmente os abutres dos papparazzi não me incomodam quando fico em Forks mas sei que já estavam começando a suspeitar o motivo de eu estar aqui por tanto tempo. Não sei como ia fazer para contar a notícia de Nessie mas sei que precisava fazê-lo. Mas gostaria de conversar com Bella primeiro sobre o assunto, então que contei somente para o treinador o que estava acontecendo e o pedi para não contar a ninguém. Surpreendentemente, depois de um leve discurso sobre camisinhas e irresponsabilidade ele foi compreensível e me deixou ficar mais tempo na cidade, contando que eu prometesse seguir o treinamento sozinho.

Ter que voltar pra Califórnia era outra preocupação recorrente. Eu não queria deixar Nessie e só poder visita-la de tempos em tempos. Eu queria vê-la todas as semanas, todos os dias. Eu quero vê-la crescer, não queria perder mais nada dela. Com esse pensamento meus olhos já voam instintivamente para o pendrive que Bella tinha me dado. Eu já pluguei ele incontáveis vezes no meu notebook mas  ainda não tive coragem de abrir uma foto e muito menos um vídeo.

De repente me levanto, sem ao menos saber o que estava fazendo direito, pego meu notebook e o pendrive e vou para a sala. Era domingo à noite e Nessie já estava dormindo em sua cama, já que Carlisle havia transformado o quarto de hóspedes em um quartinho para ela. Quando cheguei na sala meus pais estavam sentados um do lado do outro observando Emmett, Rose e Jasper jogando algum jogo sentados no chão. Todos eles também tinham prolongado sua estadia na casa de meus pais por causa de Renesmee. Alice estava sentada pensativa sobre uma poltrona. Assim que minha mãe vê minha expressão seu rosto contorce em preocupação.

— Aconteceu alguma coisa filho?

Então a atenção de todos foram parar em mim.

— Éer.. No dia que a Bella foi embora ela me deixou isso - digo mostrando o pendrive. - ela me disse que tem fotos da Nessie. Eu ainda não tive coragem de ver e, acho que não vou conseguir ver isso.. não sozinho. Vocês podem ver comigo?

— Vou fazer pipoca!

Claro que esse foi Emmett.

Assim conecto a TV com meu notebook e nos acomodamos, alguns no sofá outros no chão. Emmett volta com um punhado de pipoca (reviro meus olhos mentalmente) e logo que ele se senta, respiro fundo e abro a pasta de arquivos.

As primeiras fotos são de Bella em vários  estágios da gravidez. Nas primeiras fotos ela parece um pouco magra de mais, o que causa um aperto no meu peito mas depois aparecem fotos dela mais gordinha, com uma barriga enorme de uns 7 meses. Ela foi uma grávida linda. Emmett solta uma gargalhada quando eu passo da ultima foto, de Bella em um vestido azul claro em uma praça, para a próxima e aparece uma foto de Bella com a barriga enorme de fora, e na barriga estava escrito "sai logo  que a mamãe não aguenta mais". Passo de novo e o que vem depois é um vídeo, enquanto ele carregava eu pude ler o título e meu coração pulou uma batida quando vi que estava escrito "nascimento". A sala toda entrou em silencio e senti Carlisle colocar a mão sobre meu ombro. Então começa.

— Como está a nossa mais nova mamãe!!

Era uma loira baixinha quem falava, uma mesma que já havia aparecido em outras fotos com Bella. Ela filmava seu próprio rosto e parecia claramente que estava em um hospital

— Jane, não é pra você filmar agora - escuto a voz fraca de Bella no fundo.

— Qual é, nossos telespectadores querem ver a ação toda.

E então ela passa a filmar Bella. Ela estava deitada em uma cama de hospital, toda soada e parecia estar com dor. Enquanto a mulher que se chamava Jane filmava, Bella agarra firme nos cobertores, se coloca em posição fetal e começa a gritar.

— E é por isso crianças, que a gente tem que usar camisinha.

— Jane, inferno, cale essa maldita boca! - grita Bella por cima da onda de dor.

— Gostei dessa garota - Emmett solta enquanto ria da situação.

— Você já foi mais educada Bella, isso é jeito de falar com sua melhor amiga que esta filmando o momento mais importante da sua vida? - Alice bufa quando escuta a mulher falando "melhor amiga" enquanto no vídeo Bella lançava um olhar cortante para Jane.

— Ai ta bom, cruzes, eu só vou filmar o round final então.

Então a imagem fica preta e logo volta de novo. Dessa vez a loira estava com uma mascara, toca e um avental cirúrgico e se escutava gritos por toda a parte.

— Dessa vez é pra valer galera!

E então ela vira a câmera para Bella. Ela estava toda suada e sua expressão contorcida em uma careta de dor enquanto o médio pedia pra ela fazer força. Dessa vez Bella solta mais um grito e Jane volta a câmera para a direção das pernas de Bella no exato segundo em que se escuta um chorinho. Quando eu escuto o choro vindo do vídeo sinto o chão desaparecer de meus pés e sei que estou chorando também.

O médico corta o cordão umbilical de Nessie, faz algum tipo de exame rápido, a enrola em um cobertor e a entrega a Bella. Aquela foi a imagem mais linda que eu já vi no mundo. Bella estava toda pálida e suada, Renesmee ainda coberta de sangue. Mas quando as duas se olharam.. eu nunca ia me esquecer daquela cena. Eu nunca ia me perdoar por não fazer parte dela. Então Jane pede pra Bella acenar para a câmera, ela pega a mãozinha de Nessie e faz ela dar um tchauzinho e o vídeo acaba. Todos na sala já estavam chorando naquela altura.

E foi assim que passamos as próximas duas horas. Riamos e chorávamos vendo as fotos e os vídeos que haviam ali. Eu repeti 5 vezes o vídeo que mostrava Nessie com uns 3 meses, deitada em um berço com as bochechas enormes e o cabelo, naquela época mais ruivo que castanho, começando a nascer. Ela não sabia se mordia o brinquedinho que Bella balançava na frente dela ou o seu próprio pé. Bella balançava o brinquedo para Nessie e ela soltava o pé pra pegá-lo e começava a morde-lo. Então Bella tocava o pezinho dela e ela soltava o brinquedo e voltava a morder o pé. Eram um minuto e 32 segundos de vídeo só disso e eu amei. Emmett ria que nem um louco dos olhos esbugalhados de Nessie sempre que ela trocava de brinquedo.

A ultima foto datava duas semanas antes de Bella voltar para nossas vidas. Era dela e de Nessie atrás de um bolo escrito "feliz aniversário". Nessie segurava sua e Bella, apesar de ter um sorriso enorme no rosto, aparentava estar cansada. As duas estavam magras.

Me levanto do sofá e saio falando que precisava pensar um pouco. Vou para meu quarto, pego as chaves do carro e saio pelas estradas.

O inverno já estava no fim mas as ruas ainda estavam cobertas de neve então tomei cuidado para não correr muito. Depois de alguns minutos dirigindo parei o carro no acostamento e entrei em direção a floresta. Provavelmente isso foi uma idiotice, já que estava de noite e algum animal poderia aparecer mas não pensava direito. Cheguei na campina em poucos minutos, não importa o quão escuro estava a noite, saberia chegar naquele lugar com os olhos fechados.

Assim que cheguei, me deitei na neve e fiquei olhando a noite, o céu estava claro e as bilhões de estrelas acima de mim iluminavam o espaço ao meu redor.

Há 7 dias atrás descobri que Bella e Renesmee estavam dormindo na rua antes de virem pra cá, quando Nessie soltou isso no café da manhã. Vendo as fotos do passado de Bella pude ver o quão feliz elas pareciam juntas, mas o quão difícil deve ter sido para elas. Vi de relance a casa que elas moravam, as roupas velhas que usavam, os lugares que frequentavam.. tudo isso me fez repensar o que Alice tinha dito.

Bella errou feio comigo, ela literalmente acabou com minha vida. Mas eu fiz a mesma coisa que ela. No lugar de Bella eu nem deixaria Renesmee olhar para mim e lá esta ela, me permitindo participar da vida de Nessie, me permitindo fazer parte da vida delas. Talvez Alice tenha razão, talvez eu devesse deixa-la explicar porque fez aquilo, talvez eu tenha feito algo errado naquela época, talvez.. talvez ela tenha se arrependido. Talvez... talvez... talvez essa era uma segunda chance que a vida estava nos dando. Talvez, talvez e talvez.

É, talvez você esteja finalmente ficando louco Edwad, penso com amargor. Você realmente acha que existe algum tipo de chance entre um homem que foi traído e uma mulher que foi abandonada grávida? Boa sorte garanhão.

Devo ter ficado mais de meia hora deitado ali até que o frio que conseguia penetrar meus casacos foi tanto que me obriguei a levantar. Estava voltando para o carro quando um barulho me chamou atenção.



POV Bella

Eram quase duas horas da madrugada quando cheguei em casa do trabalho. Céus, quem diria que em uma cidade tão pequena haveriam tantas pessoas dispostas a jantar em um restaurante que nem era um dos melhores da cidade. Fui jogando tudo pela casa enquanto me movia em direção ao banheiro. Eu precisava de um banho desesperadamente antes de ir pra cama.

Depois que saí do banho segui em direção ao meu quarto ignorando ao impulso de passar no quarto de Nessie para ver se estava dormindo, não sei se um dia me acostumaria a não a ter sempre por perto. Havia ligado a calefação assim que havia chegado então a casa já estava quentinha o suficiente para mim usar uma camisola. Coloquei uma peça de seda branca  que comprei a poucos dias, que batia na metade das minhas coxas e me deitei. Assim que coloquei minha cabeça sobre o travesseiro, fechei os olhos e..

Escuto a campainha tocar. Permaneço deitada por mais alguns segundos, pensando que era coisa da minha cabeça mas então escuto de novo. Corro para checar meu celular, se fosse algo com Nessie eles teriam me ligado antes, mas não havia nenhuma mensagem ou ligação. 

Vou ate a cozinha e olho ao redor. Acabo pegando um rolo de massa e sigo em direção a porta. Tomo o cuidado de não acender luz alguma e quando chego na porta da frente olho pelo olho mágico. Assim que identifico a pessoa do outro lado abro a porta.

— Edward!? - Por que não um serial Killer? penso.

— Oi Bella - ele diz com um sorriso no rosto.

— O que diabos você está fazendo aqui a essa hora?

— É muito bom ver você também.

— É Renesmee? - pergunto de repente preocupada. - Aconteceu alguma coisa com ela?

— O que? NÃO, não aconteceu nada com ela, ela está bem.

— Bem, então volto a primeira pergunta. O que diabos você está fazendo aqui?

— Será que poderíamos discutir isso dentro da sua casa? A gente ta congelando aqui fora.

É quando noto que ele estava com uma blusa de frio fina no meio de uma nevasca, enquanto segurava seu casaco enrolado como se fosse uma bola no colo. Uma bola que mexia.

— O que é isso? - pergunto enquanto abro caminho pra ele entrar e acendo a luz. Ele se vira pra mim e seu olhar se fixa na minha mão.

— Um rolo de cozinha? Sério?

— Cala a boca. - respondo meio envergonhada e volto a olhar para seu casaco quando ele começa a desembrulhar sua blusa e uma coisa peluda e branca surge dela.

— Eu achei ele enterrado na neve, é um cachorrinho. Ele parece estar mal, levaria ele para o veterinário da cidade mas nessa hora ele já deve estar fechado. Aí lembrei que você queria ser veterinária e que na época que namorávamos você fez um cursinho de ajudante e estagiou na clínica. Então pensei que talvez pudesse ajudar. De verdade Bella, não quis incomodar é só que.. não sabia mais pra onde ir.

— Não, tudo bem.. já faz muito tempo mas lembro de algumas coisas. Vem, vamos pra cozinha.

Pedi pra ele colocar a cachorro sobre a mesa para que pudéssemos ver melhor como ele estava e assim que Edward se afasta dou uma examinada nele. Era uma filhote, uma fêmea, provavelmente tinha pouco mais de dois meses e parecia que não comia a dias. Parecia ser todo branco mas não dava pra ter certeza porque estava muito sujo. Tinha alguns ferimentos espalhados pelo corpo e parte da sua orelha esquerda foi arrancada. Mas o que mais me chocou foi que havia espinhos espalhados por toda parte esquerda de seu corpo.

— Coitadinho...

Falo e tento tocar suas patinhas para ver se havia alguma coisa quebrada, mas o cachorro rosna pra mim.

— Ele ficou rosnando o tempo todo e tentou me morder muitas vezes. Foi difícil tirar ele do buraco, acho que devo ter até machucado ele porque não parava de se mexer. Você acha que ele vai ficar bem? - Edward me pergunta preocupado.

— Eu não sei.. ele parece ser tão novinho! A gente precisa ver se ele tem algum osso quebrado e tirar esses espinhos primeiro. Edward, vá até o banheiro, lá tem um kit de primeiros socorros no armário e na gaveta da esquerda tem uma pinça. Traga pra cá.

Enquanto Edward saía eu falava com o cachorro em um tom manso, tentando acalmá-lo. Logo que Edward voltou, pedi pra ele ir conversando com o cachorro enquanto procurava o esparadrapo e gaze. Improvisei uma focinheira com ele como tinha aprendido tantos anos atrás na clinica e pedi para que Edward segurasse o cachorro enquanto colocava nele, fazendo o possível para que nenhuma parte com cola pudesse encostar em seu pelo. Depois disso pedi a Edward que segurasse sua cabeça e suas patas traseiras enquanto o analisava melhor, tentando me lembrar de tudo que tinha aprendido. Logo depois que vi que ele não parecia ter nenhum osso quebrado ou ferimento sério comecei a arrancar os espinhos. Foi um processo lento e demorado mas consegui tirar todos. No final o cachorrinho já estava tão cansado que nem rosnava mais.

— Ta tudo bem amiginho, já acabou. - Edward murmura pro cachorro. - E agora?

— Vamos dar um banho de água morna nele e tentar fazê-lo comer alguma coisa. Eu queria dar ao menos meio analgésico pra dor mas não tenho certeza se ele pode tomar sendo tão novo. Melhor não arriscar.

Tirei a focinheira dele, na verdade, dela e a enrolei de novo no casaco de Edward, levando-a par ao banheiro. Demos banho na pia mesmo, usei um sabonete para limpar seu pelo e enquanto a sujeira e o sangue eram lavados notei que ela era mesmo toda branquinha, tirando uma manchinha preta, redonda que cobria a metade direita do seu focinho. Quando terminei o banho usei o secador para seca-la e a deixei enrolada na minha cama. Depois fui a cozinha pegar pouco de leite enquanto Edward, que tinha me ajudado durante todo o processo, continuou no quarto acariciando a cadela.

Peguei uma mamadeira velha de Nessie, coloquei um pouco e abri uma garrafa de leite que tinha guardada no armário e voltei para o quarto. Edward ainda passava a mão na cabecinha da cadela. Agachei ao lado dele e coloquei a mamadeira na boca do cachorro. Ficamos os dois, um do lado do outro por um tempo conversando com ela e tentando faze-la comer. No final conseguimos que ela comesse um pouco e a deixamos no quarto, enrolada no travesseiro e dormindo. Já eram mais de 4 horas.

— Caraca! - Edward diz enquanto se joga no sofá assim que chegamos na sala.

— Pois é. - digo me sentando ao seu lado. - Coitadinha, ela deve ter se perdido da mãe ou algo assim. Ela é tão bonitinha! Principalmente com aquela manchinha preta no focinho. Me recuso a acreditar que alguém a tenha simplesmente jogado fora!

— Eu cheguei a procurar ao redor pra ver se haviam mais filhotes mas não encontrei nada. Além do mais não queria deixar a coitada por mais tempo no frio - Então ele abre a boca em um bocejo. - Nossa, já são 4 da manhã e eu ainda estou tomando seu tempo. Você deve estar cansada, eu vou pra casa agora.

— Edward, ta nevando muito. Já é tarde, passe a noite aqui. - Deus, isso saiu mesmo da minha boca?

Edward parece que pensou a mesma coisa.

— Você tem certeza?

— Durma no quarto da Nessie, amanhã quando acordar você vai para casa. Além do mais, acho que vai querer saber como a nossa amiga vai ficar.

— Não vai incomodar?

Eu apenas reviro os olhos e o indico onde fica o quarto de Nessie. Edward me agradece e logo desaparece lá dentro. Vou para o meu quarto e deito do lado oposto da cama de casal onde estava o cachorro. Meu ultimo pensamento antes de encostar a cabeça no travesseiro foi que eu estava torcendo pro cachorro não mastigar meu rosto durante a noite.  


++

Acordo as 9:30 da manhã. Leva um tempo até as memórias do dia anterior voltarem e me viro. O travesseiro ao lado do meu estava vazio então me sento e olho ao redor. A cadelinha estava deitada nos pés da cama, notei com alívio que ela respirava tranquila aos meus pés. Então ela já conseguia andar, isso era bom.

Me levanto e vou ao banheiro, depois de fazer minha higiene saio em direção a cozinha, pego duas vasilhas, coloco leite em uma e água na outra e a levo para o quarto. Coloco as duas vasilhas perto dela e saio, deixando a porta aberta. Já no corredor paro perto do quarto de Nessie. Será que Edward ainda estava lá?

Bato na porta uma vez e espero. Silêncio. Quando bato de novo e ainda não tenho resposta decido abrir a porta. Coloco a cabeça para dentro e vejo Edward deitado, dormindo com a boca levemente aberta na cama de Nessie.

Então ele ainda estava aqui. Penso enquanto sigo em direção a cozinha e começo a preparar o café. Não sei o que sentir sobre isso. No ultimo mês não tivemos muito contato. Nas vezes que nos víamos ele parecia estar de bom humor e sempre foi educado mas nunca conheci uma pessoa mais imprevisível que Edward.

Estava servindo a mesa quando ele aparece pela porta.

— Bom dia - ele diz enquanto esfrega os olhos. Droga, ele ficava tão fofo assim! - Eu vou indo, ainda tenho que buscar Nessie. A cadela está bem?

— Sim, ela parece bem. Ainda está dormindo. Sente-se e tome café aqui, depois você vai.

Edward hesita por um segundo mas se senta.

Enquanto comíamos em silêncio ele parecia juntar coragem para falar alguma coisa, então o deixei tomar seu tempo.

— Eu.. eu gostaria de conversar com você.

— Tudo bem - falo enquanto coloco a xícara de café sobre a mesa, me escoro na cadeira e o observo.

— Bem, nós temos uma filha.

— Sim - achava que essa parte já estava esclarecida.

— Bella eu.. na verdade é que.. - parecia que ele ia vomitar - Droga, isso não está dando certo. Eu vou só falar tudo de uma vez. Eu queria pedir desculpas pelo dia do acidente, eu não faria aquilo por uma prostituta.

Quando arqueio uma sobrancelha ele cora.

— Quer dizer, não é que eu não ajudaria uma mulher só porque ela é uma prostituta, eu com certeza chamaria uma ambulância.. merda! o que eu quero dizer é que eu me preocupei com você, menti quando disse que não me importava. Desde que você voltou minha cabeça esta um turbilhão e as vezes não sei como lidar com tantas emoções e acabo descontando nos outros. Desculpe.

Suspiro.

— Tudo bem Edward, eu te desculpo por ter sido um babaca naquele dia. É só isso?

— Sim - ele para por um minuto e fecha os olhos - Não.

Então ele me olha nos olhos.

— Olha Bella, eu sei que errei com você e poderia levar toda minha vida e ainda não vou conseguir me redimir por esse erro. Eu sei que não importa o que tenha feito não há desculpas pelo que eu fiz. Nós dois erramos e vamos ter que lidar com isso. E existe Nessie e.. droga Bella, eu realmente amo aquela menina. Eu não mereço ela mas a amo e quero o melhor pra ela. Nesse mês todo nós nem nos olhamos direito nos olhos! Não é o tipo de relacionamento que eu gostaria de ter com a mãe da minha filha. Não estou falando pra gente voltar ou algo assim, eu sei que a gente tem cicatrizes de mais para que isso pudesse acontecer. Só estou falando que seria melhor para Nessie e para nós dois que pudéssemos ter uma relação saudável.

Estreito os olhos enquanto olhava para ele.

— O que você está me pedindo exatamente Edward?

— Eu só estou cansado de tentar te odiar, estou cansado de brigar e fingir que você é só uma estranha. Nós já fomos amigos uma vez Bella, por anos nossa amizade funcionou perfeitamente. A gente tentou transformar isso em algo mais e não deu certo. Mas quem sabe a gente ainda possa tirar algo bom disso tudo.

— Você está me pedindo para sermos amigos? - pergunto de boca aberta.

— Eu estou pedindo para tentarmos. Estou pedindo para que não pergunte sobre como foi meu dia só por educação, estou pedindo para que possamos levar Renesmee para passear juntos e não tenhamos que forçar uma conversa. Estou pedindo que vá jantar com sua filha na casa dos avós dela e se divirta junto com ela. Não estou pedindo seu perdão, eu só.. estou disposto a me esforçar. Por Nessie.

Apoio meus cotovelos na mesa e seguro minha cabeça com as mãos.

— Eu não sei Edward...

— Pense nisso, tome quanto tempo precisar. Mas só.. pense no assunto.

Olho pra ele por um bom tempo antes de soltar um longo suspiro.

— Tudo bem, vou pensar.

— Ótimo! - ele diz animado e se levantando. - Então eu vou indo agora, Nessie já deve ter acordado e você deve estar com saudade. Obrigado pelo café.

— De nada -  sigo enquanto o acompanho a porta. Nos despedimos e fico encostada no vão da porta até ver seu carro desaparecer.

O que fazer?



POV Alice

— Nada! - diz Emmett enquanto basicamente arromba a porta do meu quarto. - Não encontraram NADA na foto. Eu enviei as fotografias para o melhor editor de Seatlle analisar e ele me disse que ela era totalmente real. Não tem um mínimo indicio de edição. Nem sequer um filtro. Me diz que você teve mais sorte que eu?

Suspiro e me encosto na cama.

— Não, contei para Jasper e ele me ajudou a procurar.. E nem vem com esse olhar reprovador, Jasper é muito bom com computação e você sabe, ele foi muito útil. Mas de qualquer forma, não achei nada. Consegui encontrar o número e mas aparentemente veio de um celular descartável que não está em uso a anos! Pedi para Jasper pesquisar sobre o e-mail mas ele foi desabilitado. Estamos sem nada.

Emmet se joga na poltrona que ficava perto da janela.

— Mas que droga! Já tem mais de um mês que estamos pesquisando sobre isso. Eu não sei mais o que fazer!

Realmente aquela situação já estava desgastando a ambos. Estava tentado pensar no que mais poderia ser feito quando de repente uma luz cai sobre mim.

— Emmett!! Nós somos as duas criaturas mais burras que existem na face da terra!

Emmett se vira para mim empolgado.

— Você teve uma ideia?

— Esse tempo todo a gente procurando algum tipo de prova oculta que nos indicasse algum caminho enquanto tem uma prova viva e que fala de baixo do nosso nariz!

— Alice, do que diabos você ta falando?

— As fotos são reais Emmett! Logo Bella realmente esteve com Mike e Tyler.

— Sim, isso não foi nada inteligente de se dizer Alice. Todos nós já sabemos disso.

— Não seu idiota, quis dizer que se ela realmente esteve com eles então temos uma fonte de informação segura, que fala e que mora a alguns minutos da nossa casa.

Levou alguns segundos mais a compreensão finalmente caiu sobre Emmett.

— Parece que a gente vai ter uma conversa com Mike e Tyler - Ele diz sorrindo.

— Eu digiro - É o que respondo quando me levanto e pego as chaves do carro.