Sakura acordara cedo no dia seguinte. Tinha um mau pressentimento, mas mesmo assim vestiu-se com suas roupas manchadas de sangue, fez o café da manhã para All Might e ela, e esperou Izuku no lado de fora do prédio. O que poderia correr mal, certo?

Eram doze horas quando Midoriya chegou, sorrindo como sempre, na companhia de outras pessoas, provavelmente da mesma idade que ele. Seriam colegas de turma?

—Bom dia Sakura! Espero que não se importe, mas meus colegas de turma também vêm. –yep, eles eram- E já lhes contei a sua situação. Vamos comprar roupas para você hoje, e não se preocupe com o dinheiro! All Might disse mesmo para te comprarmos o que é necessário.

“Sério Midoriya? Já devia saber que não sou boa em socializar!” pensou. Lembrou-se de repente do seu sonho, e da cara que Yagi tinha feito em relação a isso. Ficara com receio dela ser uma vilã, mas claro que não admitiria isso em frente a ela. Além disso, já estava começando a gostar da sua companhia.

—OI, como você sabe que ela não está nos enganando a todos?! Podemos confiar nela assim tão facilmente?

Olhou na cara de um loiro que estava ali. Todos os outros pareciam chateados com o que ele dissera, mas também pareciam concordar um pouco.

—K-Kacchan, eu vi em que condições ela estava! Era impossível ela ter feito aquilo com ela mesma!

—Você confia demasiado nas pessoas, Deku!

—Ei, quem você pensa que é para falar assim com o Izuku! É uma virtude confiar nas pessoas! Talvez se você fizesse isso não teria tanta falta de confiança, ou inveja das capacidades dos outros! Isso se eu estiver lendo bem o que você sente.

Surpreendidos com o que ela dissera ao garoto temperamental, tiveram que o impedir de chegar até á menina, que apenas continuava calma e de braços cruzados na frente de Izuku. Depois de se acalmar o loiro, e de se apresentarem todos, os jovens começaram sua caminhada para o grande centro comercial.

Mal notaram que um certo loiro corava atrás da de cabelos pretos. Ele e Mineta.

***

—Isto é… grande.

Mesmo não admitindo estar surpresa e sem mostrar qualquer emoção no rosto, Sakura estava deveras admirada com o tamanho que o shopping tinha. O monte de gente que estava lá e o choro de crianças era algo que não a agradava muito, mas ela preferia ignorar isso.

—É NÃO É?! E que tal se formos dar uma volta juntos, ein? –falou Denki, começando por pegar na mão da menina, tirando-a de seguida ao notar o olhar chateado que ela lhe lançara.

—Ela deveria ir com as meninas para escolher a roupa! Certo Saky? –Mina falou.

—Saky?

—Sim! N-Não posso chamá-la assim?

Um flashback passou na cabeça dela. A voz de uma garota chamando-a dessa forma ressuou na sua mente até parar por completo. Izuku olhou a de olhos vermelhos preocupado, notando a mudança de humor. Mas logo ela disfarçou isso.

—Sim… você pode.

—YEY! SAKY ME DEIXA TRATAR ELA ASSIM!

—Não faça escândalos. E não se entusiasme. Eu só deixei porque alguém já me chamou assim antes.

—Foi alguém próximo a você?

—Eu acho que sim…

—ENTÃO MAIS UM MOTIVO PARA FICAR FELIZ!

Dando um abraço na mais alta, e tendo que ser puxada por Jirou ouvindo as risadas da maioria, seguiram o seu caminho para uma loja de roupas, sendo sempre seguidas por um olhar com más intenções.

***

—E este?

—Muito rosa.

—É só um pijama! Além disso, seu nome foi inspirado em flores rosas.

—E isso faz com que eu tenha que gostar da cor? Eu odeio rosa.

—Mas eu sou rosa!

—É um caso completamente diferente.

As meninas que estavam ao lado da estranha dupla riram, continuando a procurar roupas para elas e para a bela jovem pálida.

—Acho que cores escuras ficariam bem nela. –Jirou falou, mostrando uns jeans apertados pretos com zipers prateados espalhados.

—Nada mal. Melhor que este pijama rosa.

—É tão difícil assim admitir que adorou os jeans? –Mina falou com um sorriso safado.

—Interprete como quiser.

Sakura pegou nos jeans dados pela de cabelo roxo, e pegando numa camisa preta aleatória. Entrou no provador, observando a sua aparência. Cabelos pretos que tocavam na bunda, olhos vermelhos como sangue, cicatrizes pequenas que cobriam o rosto e o corpo, e pele pálida como a neve. Ela era… estranha. Uma breve dor de cabeça fez-se presente, mas continuou a se vestir, saindo depois do provador e vendo Mina assobiar. Talvez não demorassem assim tanto tempo aquelas compras.

***

Arrependera-se de pensar aquilo. As compras duraram uma hora e meia, e agora estavam a almoçar, uns dez sacos com elas. Com cada uma delas. Elas eram ricas, por acaso?

—Saky? Gosta do seu hambúrguer? –você também, Izuku?

—Acho que sim… o sabor é estranho, não me lembro de ter comido algum destes na minha vida. Mas novamente, eu não me lembro de muita coisa.

Soaram risadas nervosas pelas quatro mesas que os adolescentes ocuparam. Com Sakura estavam Mina, Izuku, Uraraka e Denki. Mas ela não se importava muito com quem ela ficava. Desde que não fosse o loiro explosivo ao lado dela, e se Midoriya estivesse com ela (até porque era o único com quem conseguia manter conversa), estava tudo ótimo. O mau pressentimento ainda não desaparecera, no entanto.

Quando acabou de comer, levou o tabuleiro para a senhora que tratava das limpezas, e foi esperar ao pé da fonte que lá tinha, dizendo que queria dar uma volta. Claro que Izuku não deixou que ela fosse muito longe, então pediu-lhe que ficasse por lá. Má decisão. Sakura estava em pé quando sentiu um braço rodear o seu pescoço, trazendo-a para perto.

—É??? Você não é aquela super-heroína, Dark Child?

—Talvez seja. Mas neste momento tenho amnésia e não me recordo nem sequer de quem eu sou. Pode me largar? Tenho que ver se meus… amigos, eu acho… estão bem.

Aquela resposta não fez com que o homem a largasse. Para dizer a verdade, só fez com que ele apertasse sua mão no pescoço dela, com apenas quatro dedos.

—Você não se lembra de nada, é? E se viesse comigo, talvez eu a ajude a se lembrar de algo. E é melhor ter cuidado com seus movimentos. Se meus cinco dedos te tocarem, você vai começar a se desintegrar. Não iria querer isso, queria?

Uma onda de pavor preencheu a garota inexpressiva ao ver o rosto e sorriso estranhos do homem encapuzado, que começava a puxá-la.

—Não faça muito escândalo. Eu posso simplesmente matar qualquer um que tente te ajudar. Não iria querer isso, queria?

Não. Ela não queria. Algo nela gritava para não arriscar a vida de inocentes, que nada tinham a haver com esta situação. Devia ter ouvido ao que seu mau pressentimento lhe dissera.

—Saky… quem é esse homem?

Ambos olharam a jovem com pele rosa, que aparentava estar muito preocupada, carregando suas sacolas e os da nova amiga. O homem de cabelos cinzas aproximou os lábios do ouvido da mais baixa, sussurrando enquanto a outra se aproximava.

—Teve sorte agora. Mas veremos como será da próxima vez que nos encontrarmos.

E saiu de perto, misturando-se no meio da multidão. Mina chegou ao pé dela, com dificuldade por conta da grande quantidade de roupas que carregava, falando depois, preocupada.

—Saky, você está bem? Quem era aquele homem?

—Eu não sei, mas… obrigada… tenho a sensação que você salvou minha vida.

Pondo um braço protetor envolta dos ombros de Sakura (com uma certa dificuldade), puxou-a até ao grupo de amigos que estava mais longe, e que não tinham visto o que acontecera. Teriam que explicar tudo. A vida dela estava em risco.

E não se conseguia esquecer daqueles olhos vermelhos, tão intensos quanto os seus, e com um brilho aterrador. Um brilho que ela mesma já tivera nos olhos, antes de ser salva.

“O sangue da menina que escorria pelas suas feridas não era capaz de ocultar os gritos de dor que saiam pela sua garganta. Os dois adultos batiam nela, enquanto uma menina mais velha e loira observava da porta tudo o que se passava. Queria gritar por ajuda, salvar a mais nova. Mas não podia. E foi nesse dia, nesse fatídico dia que ela vira pela primeira vez a morena ser torturada que sua personalidade começou a se distorcer. Sádica, amante de sangue, e principalmente, vingativa.”