O Sistema é Um Porre escrita por Captain


Capítulo 2
Cena Aleatória #2


Notas iniciais do capítulo

E... Ação!



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— E aí eu pensei, me decepcionei por 5 anos. Todos os dias. Tantas tentativas frustradas, mas eu aprendi a ignorar minhas decepções toda vez e sempre ter motivação para tentar de novo. Não aprendi de propósito, nem conscientemente. Na verdade, tava mais para o jeito que eu agia, e depois analisava. Sabe? E aí um dia, eu pensei, é hoje. E não foi. Aí num outro dia eu pensei, é hoje. Errei de novo. Eu cansei e rezei, Deus, faça o que o Senhor quiser porque eu não sei mais como agir aqui.

Depois disso fiquei esperando que Ele me desse o que eu queria, por eu ter aberto mão de tentar conseguir sozinho. Mas não funcionou. Aí eu senti meio que, aquela parada de ia dar certo, mas não deu só porque você falou, sabe? Beleza. Tentei de novo, com outra estratégia.  Decidi abrir mão de querer que a coisa fosse do meu jeito na hora que eu quisesse e disse, Deus, se essa for a coisa certa para mim, mas não ainda, me ajude a esperar.

Depois de 5 anos e muitas decepções cicatrizadas, deu. Aconteceu. Aí eu pensei, me decepcionei todos os outros dias, mas hoje não. Hoje não!

Eu não sei quais são os planos de Deus, cara. E nem sempre eles me agradaram. Aliás, acho até que poderia dizer nunca. Mas o ser humano é um bicho burro, a gente vai atrás do que quer, não do que precisa, pensando que estamos indo atrás de coisas indispensáveis. É uma merda. E o foda é que, não adianta saber disso para poder engatar a marcha certa. É difícil demais. Saber disso só faz com que você consiga ver de onde o sofrimento vem, mas vai sentir ele mesmo assim.

 Dado observou a paisagem, em silêncio.

— Que saco de música, muda isso. – Debruçou-se até o som e clicou.

— Eu não sabia que você tinha momentos assim na sua vida. – Nic sorriu. – O que é idiotice. Todos temos momentos assim na vida. É o que torna ela tão difícil. Mas olhamos para fora de nós e vemos pessoas na rua que parecem meros npcs, com vidas normais e perfeitas a um nível utópico.

— Foi isso que você pensou de mim quando me viu na clínica?

— Não. Pensei que você era um babaca que tentava compensar a falta de personalidade tentando imitar personalidades de personagens hollywoodianos. Mas aí percebi que esse era só eu cedendo a uma rivalidade de macho tentando marcar território. Aí decidi mudar minha opinião. Estou numa pira de tentar ser mais sincero comigo mesmo.

— Sei.

— Na maior parte das vezes eu me pego pensando que não estou pensando ou agindo de tal maneira por causa de tal coisa. Mas aí eu paro pra pensar e, taí, é exatamente por isso. É interessante, pensei que era uma ara honesto. Mas descobri que sou um mentiroso de carteirinha.

— É, mas você é escritor. Ser mentiroso é meio que pré-requisito, não?

Ambos observavam a estrada, alguns segundos do silêncio de neurônios queimando.

— Não, peraí. É justamente o contrário. Se você mente demais, quando vai escrever, te falta a lucidez da realidade. Não evolui como pessoa. Como escrever um livro interessante se você não passar de um imbecil preso na linha atemporal da mentira? – Dado conclui.

— Mas um livro é uma grande mentira, né?

— Sim, um paradoxo. Talvez, cada vez que um livro escrito por alguém inteligente é publicado, um buraco negro se abre no espaço.

— Ou nas nossas mentes. – Nic comentou posicionando a mão ao lado da cabeça e gesticulando uma explosão.

— Não entendi.

— Só uma frase de efeito.

— Mas ela faz algum sentido, ou...?

— Hm, não sei, vamos ver. Se a publicação de um livro é algo paradoxal... Peraí, porque a publicação? Não faria mais sentido se o buraco negro fosse criado quando ele fosse escrito? Ou então, lido?

— Escrito talvez, lido não. O paradoxo vem da mente do autor, não do leitor. Mas, não sei, quando um livro passa a existir oficialmente?

— Boa pergunta.

— Bom, quando ela for respondida, a resposta será o momento que o buraco negro se forma.

— Ei, Nic.

— Que?

— Lá na frente, uma pessoa tá parada no lado do asfalto.

— É, parece... – Nic espremeu os olhos. – que tá pedindo carona.

— É. E parece uma mulher.

Ambos se entreolharam.

De repente o clima de catarse infinita que parecia haver dentro daquele carro, como se uma fenda no tempo tivesse sido aberta, se dissipou. Eles estavam apenas andando de carro, de uma cidade a outra. Os dois voltaram ao mundo enquanto Nic parava ao lado da moça.

— Quer carona?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, vejo vocês no próximo!