Segunda Chace escrita por Juliana Lestranger


Capítulo 7
Capítulo 06




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Segunda Chance, Capítulo 6.

POV ALEX

Raiva. Medo. Frustação.

Todos esses sentimentos estão em cada célula do meu corpo. Nunca pensei que pudesse passar por isso outra vez. O medo é o sentimento mais cruel que pode existir, agora eu entendo a dor de um pai, eu tenho um filho e ele está doente. Fecho os olhos e repasso tudo mentalmente. Por um momento eu me deixei levar pelos braços dela, sentir seu corpo no meu despertou um sentimento adormecido. Sentir sua barriga encostar-se em mim e pensar que minha filha está ali dentro... É surreal demais. Por um momento eu esqueci tudo e imaginei que depois de tanto tempo... Eu teria uma família.

Céus... Eu não posso falhar como meu pai falhou comigo.

Do mesmo jeito que veio o sentimento, ele foi embora. Foi como um balde de água fria que o destino jogou em mim. Eu não acredito que Izzie pôde esconder isso de mim, não só o fato da gravidez, do romance ou sei lá o que ela tem, mas o fato dela omitir esses anos todos que eu tenho um filho e que ele está doente. Só Deus sabe quanto tempo eu vou ter com ele. Sei que eu deveria filtrar mais minhas palavras, afinal ela está grávida, mas quero que ela sinta o que eu estou sentindo. Nunca vou perdoar ela por isso. Eu sou o pai, ela querendo ou não.

Preciso sair daqui.

Tento não me importar com ela e saio deixando-a sozinha. Não vou perder mais nenhum minuto, eu tenho o direito de conhecê-lo. Atravesso o corredor e saio correndo em direção à ala da pediatria. Minha ansiedade é tão grande que nem espero pelo elevador, subo rapidamente os vários degraus da escada. Ignoro tudo e todos no meu caminho, só paro quando vejo que a porta do quarto está fechada. Respiro profundamente tentando me recompor. Ajeito minha roupa e meus cabelos, tento ficar o mais apresentável possível para conhecer meu filho.

Chegou o momento.

Quando vou abrir a porta, ela é aberta e uma Bailey sai de lá com os braços cruzados. Como ela sabia que eu estava aqui? Conforme ela sai, vou recuando alguns passos. Ela me olha de cima em baixo e balança a cabeça em negativa. Sei o que ela está pensando, mas George não vai ligar para isso, ou vai?

— Dr. Karev, posso saber o que você está fazendo aqui, dessa maneira? – Ela levanta as sobrancelhas e permanece com os braços cruzados.

— Eu vim ver o meu fil... George. – Acabo engasgando com as palavras.

É a primeira vez que falo isso para alguém.

— Cadê a mãe dele? – Ela me olha com semblante questionador.

Droga!

— Não sei. – Resmungo, não sou obrigado a dar explicações para ninguém.

— Você só vai entrar no quarto dele, se a mãe dele autorizar. – Ela fica parada na frente da porta e sei que vai ser difícil passar por ela.

— Bailey...

— E pela sua cara de cachorro briguento, ela não autorizou.

— Eu tenho o direito de conhecer ele e você sabe disso. – Eu tento passar, mas novamente ela se põe na frente como uma guarda costa.

— Aqui dentro tem um garotinho muito, muito lindo, que está muito doente e assustado em um hospital novo, sem a mãe dele faz um bom tempo. Ele não precisa que você entre no quarto feito um doido e fala para ele que é o pai dele.

— Mas...

— Você quer que a primeira impressão que seu filho tenha de você seja essa? – Ela me encara profundamente, no fundo, podia ver compaixão nos olhos dela.

Droga... Ela tem razão.

— Não. – Falo contrariado.

— Então agora você vai para casa lavar esse rosto, tomar um banho, porque você está fedendo. – Ela fez uma careta e me olhou novamente dos pés a cabeça. – E amanhã, com a presença da mãe dele, você o conhece...

Ignorei essa ultima parte, se depender de Izzie não vou conhecê-lo tão cedo, ainda mais depois do que eu falei para ela... Mas isso não importa. Aproximo-me do vidro que dá para ver o paciente e pela primeira vez eu o vejo. Ele está mudando os canais da televisão e parece inquieto balançando os pés, acabo sorrindo, eu também tenho essa mania. Ele acaba parando em um canal e sorri animado, escolheu um filme de pirata, os meus preferidos. Não consigo explicar o sentimento que preenche meu peito, tudo que eu estava sentindo mais cedo diminui e dá lugar a algo mais forte, um sentimento novo.

— Estou sendo clara, Dr. Karev? – Pigarreia Dra. Bailey batendo o pé no chão. Volto a olha-la.

Como um papel.

— Sim. – Sorrio sarcástico, sei que ela está certa, mas queria fazer as coisas da minha maneira.

— Então sai daqui. – Ela fala e abre a porta do quarto. Vejo que George olha para ela sorrindo, mas seu sorriso diminui quando vê que não é Izzie.

— Onde está minha mãe? – Ele pergunta impaciente.

— Ela já está vindo, meu querido. – Ela responde e ele volta a assistir a TV.

Eu, involuntariamente, me aproximo mais da porta para olha-lo. Mas Dra. Bailey me olha com os olhos semicerrados. Sei o que aquilo significa. Não vou conseguir nada hoje, o jeito é ir embora e voltar amanhã.

— Já estou indo. – Bailey não para de me encarar até eu me afastar.

— E para de correr pelos corredores desse hospital. – Falou um pouco mais alto, o suficiente para eu ouvir, resmungo baixo e vou para sala de exames.

Retiro a amostra de sangue e fico olhando para ela, eu não consigo continuar... Tudo pode mudar. Um simples frasco de sangue pode determinar o destino de uma pessoa. Fecho os olhos e começo a chorar, era a primeira vez, depois de muitos anos, que eu chorava assim. Sinto-me impotente, o que aconteceria daqui em diante não dependia de mim... E isso é frustrante.

E se eu não puder salvar meu filho?

— Alex? – Sinto uma mão tocar meu ombro.

Eu não respondo nada, não consigo levantar o rosto e ver quem falava comigo. Sinto os braços dela me abraçando, é Arizona. Ela pega o tubo da minha mão e entrega para o enfermeiro, agora o sangue passaria por testes de compatibilidade HLA (Antígenos Leucocitários Humanos).  Não sei quanto tempo estamos aqui, mas ela está ao meu lado segurando minha mão, esperando o resultado.

— Então, você já sabe de tudo? – Pergunto baixo.

— Alex, eu sinto muito. – Ela aperta forte minha mão.

— Eu tenho um filho, na verdade dois filhos... Isso é novo para mim.

— Eu sei. Ele vai adorar conhecer você. – Ela sorri. – Vocês são muito parecidos.

— Você já o conheceu? – Pergunto com curiosidade, a ansiedade para conhecê-lo está tomando conta de mim.

— George é um garoto encantador e teimoso igual você. – Acabo sorrindo com suas palavras.

— E bonito, posso garantir. – Falo orgulhoso.

— Muito bonito, mas tem alguns traços da mãe... Então você não vai levar todo o crédito. – Ela brinca, começamos a rir e depois ficamos em silêncio.

— Eu estou com medo. – Confesso baixo soltando o ar que eu nem notei que prendia. – E se eu não for compatível?

— Não vamos pensar nisso agora. – Ela sorri meigamente me tranquilizando. – Nós vamos dar as melhores chances que temos para ele.

— E se eu não for o suficiente? – O medo e a aflição começam a invadir meu peito outra vez.

— Você será um pai maravilho Alex. – Ela segura minha mão olhando nos meus olhos.

Quero muito acreditar nisso.

— Depois do que falamos um para o outro hoje... – Desvio o olhar com vergonha.  – Ela não vai me deixar chegar perto deles.

— Ela só está assustada, você precisa manter a calma.

— Eu tenho direito, eu sou o pai deles, ela não pode me impedir. – Falo com convicção. 

— Eu sei e Izzie também sabe disso.

— Vou procurar um advog...

— Não vai ser assim que você vai conquistar o amor dele. – Ela segura minha mão. – Eu procurei uma advogada e quase perdi Sophia.

— No fim você ganhou a guarda dela. – Relembro.

— Mas a que preço Alex? – Ela suspira.

— Desculpa. – Sei o quanto o julgamento foi cansativo e doloroso para ela e Callie.

Não quero isso, mas se for preciso irei ao tribunal.

— Ela já está com outro e deixou bem claro que George já tem um pai. – Falo amargurado, sentindo um incomodo crescer no meu peito.

— Deixa de bobeira. – Levanto o olhar para encara-la. – Ela não voltou só por causa da doação de medula, Alex.

Como assim?

— Hoje ela...

— Ela voltou porque confia em você. – Me interrompeu. – Ela precisa de você.

— Não sei se ela vai me desculpar pelo modo como reagi.

— Ela está com medo do que pode acontecer, você sabe que esse tratamento não é fácil, ainda mais em uma criança. – Arizona suspira, sei que ela quer falar mais alguma coisa, mas fica calada.

— O que está acontecendo? – Começo a ficar preocupado.

O que ela está escondendo de mim?

— Ela está lutando bravamente pelo filho, está fazendo o possível e impossível para mantê-lo bem, principalmente, nas condições em que ela está... – Ela para de falar, avaliando se deve ou não continuar.

— Como assim? – Sinto meu peito apertar.

— Não sei se eu posso falar isso com você. – Ela está dividida.

— Eu tenho o direito de saber. – A encaro suplicando por respostas. – Por favor, Arizona.

— Eu li a ficha médica dela, a gravidez de George foi extremamente difícil, ela teve complicações no parto e hemorragias que quase a fez perder o útero. Ela estar grávida outra vez foi um milagre.

Milagre... Lembro-me das palavras dela mais cedo, ela tentou me falar e eu simplesmente ignorei. Estou me odiando por isso. Como sempre eu agi sem pensar, alias, pensei só em mim, na minha dor e esqueci tudo que ela já passou e está passando. Sou um estúpido, não mereço ter eles em minha vida.

Eu estraguei tudo outra vez.

— A gravidez dela é de risco. – Saio dos meus pensamentos e volto a prestar atenção em suas palavras. – Hoje ela quase teve o bebê.

— O que? – Por essa eu não esperava.

— Ela teve um sangramento, a pressão dela aumentou muito e por pouco não entra em trabalho de parto.  E você sabe que índice de sobrevivência de bebês de 25 semanas é baixo.

Hoje eu quase perdi minha filha...

— Foi minha culpa. – Sinto-me sufocado.

— Não foi culpa de ninguém... Hoje vocês dois estavam exaltados, depois de muito tempo se reencontraram. Não é fácil para ninguém, ela só não pode passar por isso outra vez. O risco dela e do bebe são grandes.

— Eu prometo que não...

— Não é para mim que você deve falar isso, Alex. – Ela tocou minha mão com as suas me dando apoio.

— E se eu a decepcionar outra vez?

— Você se lembra da primeira vez em que conversamos? Conversamos de verdade? – Fico confuso.

Aonde ela quer chegar com isso?

— Foi no dia em que fomos buscar o órgão de uma criança e você achou que eu não me importava o suficiente. Aquele dia eu vi o cara que você se tornaria hoje, você valia a pena.

— Eu...

— Tivemos momentos difíceis, você me decepcionou algumas vezes, mas isso não muda o fato que hoje eu me sinto muito orgulhosa de você. Você será um pai maravilhoso, assim como você é um médico maravilhoso.

Eu precisava ouvir isso.

— A Izzie também sabe disso. Se não, ela não teria passado por cima do orgulho dela e vim te procurado.

— Ela só voltou pelo transplante de medula.

Ela não precisa de mim.

— Ela poderia ter feito de diversas maneiras, mas ela preferiu vim pessoalmente pedir sua ajuda e dar a oportunidade para você conhecer seus filhos. – Suas palavras criaram uma esperança em mim.

Isso é verdade.

— Eu...

— Ela precisa de você, só não consegue dizer com todas as palavras.

— E se eu não conseguir ser um bom pai?

— O George precisa de você e você vai conseguir. Você será um pai maravilhoso. Você vai errar, várias e várias vezes, mas isso faz parte.

Já comecei de forma errada.

—Você só precisa tentar, se você não fizer isso, toda vez que olhar no espelho vai questionar o pai que você poderia ter sido.

— Obrigado. – A abraço forte. Ficamos dessa maneira por alguns minutos, até sermos interrompidos pelo pager dela.

— Preciso ir, estão me bipando da emergência. – Arizona me olha se desculpando.

— Eu vou ficar bem, pode ir. – Sorrio tentando tranquiliza-la.

— Boa sorte, vai dar tudo certo. – Arizona me abraça outra vez e sai para a emergência.

— Dr. Alex Karev? – Depois de mais um tempo, o rapaz do laboratório aparece e me entrega o envelope. – O resultado está pronto.

Eu fico olhando para o envelope com o resultado e não consigo abrir. Não posso fazer isso sozinho, não posso magoar a Izzie outra vez, não posso interromper Arizona, não sei onde Meredith está. Não sei o que fazer. Nunca pensei que me tornaria um fraco diante de uma situação assim. Sinto-me um lixo.

Preciso ir para casa.

Nem sei como chego até aqui. Estou sozinho na casa de Meredith, sentado no chão do meu antigo quarto, tomando uma garrafa de tequila. Estou a há horas olhando o envelope na minha mão e não tenho coragem de abrir.

Sou um covarde.

Pego a garrafa com raiva e atiro contra a parede, praguejo quando pedaços de vidro voam sobre mim. Escuto um barulho no lado de fora do quarto e a porta é aberta.

— Alex? – Meredith abre a porta e olha o estado do quarto. – O que aconteceu?

— Eu vou limpar tudo. – Tento me levantar, mas o efeito do álcool é mais forte que eu.

Droga Meredith, não quero que você me veja assim.

— Alex... – Ela me chama e eu não consigo olhar para ela. – Me conta o que aconteceu.

— Pode ir embora, eu estou bem. – Falo o mais firme que consigo. Embora no fundo, o que eu mais quero é que ela fique aqui comigo.

— Alex, Você não está bem. – Ela se abaixa na minha frente, me forçando a olhar para ela. – Me fala o que aconteceu... Você é meu melhor amigo.

You are my person.

— Deixa-me te ajudar.

— A Izzie voltou. – É tudo que eu consigo dizer, resumi tudo em uma única frase.

— O que? Quando foi isso? – Ela me olha confusa e eu fico uns minutos em silêncio. – Alex?

— Eu tenho um filho, Mer. – Falo com a voz embargada, levanto o olhar e encaro o rosto dela. – Dois filhos, na verdade.

— O que? – Sua reação é de choque.

— George tem leucemia e eu não sei o que fazer. – Minha fala sai enrolada por conta do choro e da bebida.

— Quem é George? – Ela segura meus braços e me balança. – Alex...

— É meu filho com a Izzie. – Nesse momento eu fraquejo e volto a chorar em seus braços. – Ele tem leucemia, Mer.

— Ok. – Ela absorve minhas palavras e me abraça. – Ok, nós vamos dar um jeito nisso.

— Eu não sei o que fazer, ele pode morrer...

— Alex, se acalma. – Ela se afasta e olha no meu rosto e ficamos assim por um bom tempo até eu me acalmar. – Me explica direito essa história.

Ela me ajuda a sentar na cama e eu conto tudo que aconteceu, desde chegada da Izzie até agora. Omito algumas partes da briga, porque não consigo repetir em voz alta. Eu e Meredith temos uma ligação muito forte, ela me apoiou durante anos, mesmo quando todo mundo caiu fora. Eu estive nos seus piores momentos e agora ela está aqui comigo.

— Eu fiz o exame para saber se sou compatível, mas não consigo abrir. – Entrego para ela o envelope.

— Eu faço isso. – Ela rasga o envelope e começa a ler o resultado.

— E então, Mer? – Ela me olha em silêncio, não consigo decifrar sua reação. Um calafrio percorre todo meu corpo fazendo meu coração bater acelerado. Não podia mais esperar.  – Qual o resultado?

Sou ou não compatível?


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Notas finais do capítulo

Oii gente, espero que gostem do capítulo. Eu gosto muito da relação do Alex com a Meredith e a Arizona, acho que eles tem uma ligação muito forte, quero trabalhar um pouco isso na fic.

Obrigada pelos comentários!! Comentem mais ♥

Até o próximo capítulo! Feliz Pascoa ♥



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