Segunda Chance, Capítulo 13.

POV IZZIE

Surpresa. Como diz a definição, é um fato que surpreende, pode nos causar espanto ou admiração. Bom, eu acredito que vai bem mais longe do que isso. Uma surpresa, por menor que seja, quando é feita de coração, ela vai fundo na alma e desperta sentimentos que nunca imaginamos ainda sentir. 

Fico preocupada quando Alex me chama falando de uma paciente. Ando o mais rápido que consigo, estranho as luzes do local estarem apagadas. Quando entro todos gritam, soltam balões e assopram alguns apitos, sou pega de surpresa. Passo os olhos ao redor da sala, no fundo tem uma mesa com bolo e algumas crianças estão segurando os balões formando o nome GEORGE, vejo que é uma festa surpresa para ele. Olho para a felicidade estampada no rosto do meu filho e fico emocionada. Levanto o olhar e vejo que Alex fica satisfeito. Assim que entramos, George pula de felicidade e vai até o bolo, ajudo-o a subir numa cadeira e cantamos os parabéns.

Depois dos parabéns, observo cada detalhe no salão, o tema é pirata, preferido de George. A mesa do bolo tem vários cupcakes decorados, além de pirulitos de chocolate, algodão doce, pipoca e vários docinhos, pego alguns brigadeiros e continuo andando pelo salão. Paro ao lado da mesa com as lembrancinhas e fico encantada com a variedade e os detalhes de cada uma. A mesa de comida tem vários salgadinhos e mini sanduíches, as crianças fazem a festa, enchendo as mãos de salgadinhos e suco. Vejo George se divertir com os amigos que fez aqui no hospital e isso aquece meu coração. Aproximo-me da mesa para pegar mais alguns docinhos e me perco nos detalhes do bolo  mais cedo não tinha reparado que o pirata e o mapa do tesouro no bolo são iguais ao que George estava colorindo esses dias, Alex realmente pensou em tudo.

Não posso chorar aqui.

Afasto-me e saio do salão, George não pode me ver chorando. Estou muito emotiva esses dias, meus hormônios estão mais aflorados e isso me deixa confusa. Não imaginei que Alex, em tão pouco tempo fosse fazer isso para o filho, eu só comentei com ele uma vez sobre o aniversário e ele reparou cada detalhe do que George gosta e foi cuidadoso esperando-o melhorar e preparou essa surpresa para ele.

Isso bagunça tudo!

Alex vai atrás de mim, puxo-o para uma sala vazia para conversarmos. Para minha surpresa, ele me beijou e eu correspondi na mesma intensidade. Nada passa na minha mente, apenas me perco nesse momento até sermos interrompido pelo barulho do pager dele que me trás de volta a realidade.

Céus... Isso tá errado!

Não podemos fazer isso, eu sou noiva, ele é noivo... Somos comprometidos com outras pessoas. Afasto-me dele tentando controlar minhas emoções, sinto minha respiração acelerada, assim como os batimentos do meu coração. A insegurança que eu sentia sumiu, ele realmente é merecedor. Tomei a decisão que mudaria nossas vidas. Ele demonstrou de várias maneiras e hoje só confirmou o que eu já sabia, ele é o pai de George e merece tomar esse lugar em sua vida.

Hoje vamos falar com George!

Saio da sala, não posso ficar aqui senão faremos coisas que não deveríamos. Fomos levados pelo momento e fomos longe demais, não podemos misturar as coisas. Respiro fundo e volto para o salão, George está brincando com Derek Bailey, filho de Meredith, pelas minhas contas eles tem quase a mesma idade. Sento em uma cadeira, meus pés estão doendo, já completei 28 semanas de gestação e estou me cansando mais rápido que o normal.

Observo as pessoas ao redor, Amélia e April estão conversando no canto do salão. Jackson e Maggie estão comendo alguns salgadinhos, parecem próximos até demais. Bailey está brigando com Dr. Webber que está comendo muitos doces. Arizona está numa roda com crianças e faz algum tipo de brincadeira junto com Owen que segura Harriet. Meredith observa tudo enquanto come um sanduiche... Todos estão aqui, depois tenho que me lembrar de agradecê-los pela presença. Procuro George com o olhar e me assusto quando ele se levanta e sai correndo pelo salão.

— Papai. – Ele grita e todos olham para porta.

Eu fico paralisada ao ver Adam entrar no salão ao lado de Alex. Tudo parece acontecer em câmera lenta, Adam se abaixa e pega George no colo. Alex olha para os dois e fecha os punhos tentando se controlar. Todos na sala ficam em silêncio observando a cena. Arizona se engasga com uma pipoca e Meredith arregala os olhos, elas se olham apreensivas e Meredith se aproxima de Alex. Eu me levanto e todos olham para mim, minha garganta está seca e um aperto no meu peito me impede de falar. Olho para o rosto de Alex e vejo a expressão de dor e raiva que ele fica ao ver o filho correr para os braços de outro homem e o chamar de pai.

— Adam, o que você está fazendo aqui? – Pergunto com a voz tremula.

— Vim atrás do meu filho, já que você não me dá notícias. – Ele entra na sala com George no colo e todos olham para mim.

— Você não pode aparecer assim. – Falo com aflição, vejo que Alex saiu e Meredith foi atrás dele.

Droga!

— Vejo que você ganhou uma festa George e eu não fui convidado. – Adam olha para mim com raiva.

— Foi surpresa, papai! – George ri sem perceber a ironia.

— Adam... – Tento falar, mas as palavras não saem.

— Acho melhor vocês conversarem em outro lugar. – Dr. Webber toca meu ombro e percebo que ficou um clima estranho na sala.

Não precisamos fazer nenhuma cena aqui.

— George, papai e mamãe precisam conversar. – Adam fala, mas George não quer largar ele.

— Você vai embora papai? – George fala e meu coração aperta cada vez que ele fala chama Adam de pai.

Minha Culpa.

— Claro que não filho. – Adam coloca George no chão e dá um beijo na testa dele. – Só vou conversar com sua mãe a sós.

— Meu amor, por que você não abre seus presentes até a mamãe voltar? – Olho para George e ele sorri.

A melhor parte da festa para ele.

— Abre comigo mamãe. – Ele pega na minha mão e na de Adam e nos puxa para o rumo dos presentes, eu olho para Bailey pedindo ajuda.

— George, porque não abrimos os presentes sozinhos e depois pedimos para sua mãe e seu p.. Tentar adivinhar? – Bailey se engasga na hora de falar pai, mas George não percebe e se anima com a brincadeira.

Agradeço Bailey com o olhar e saio da sala acompanhada de Adam, não tenho coragem de olhar para ninguém. Eu causei essa situação toda, não foi culpa de Adam, ele não merece ser julgado por algo que eu fiz. Respiro fundo e sinto o olhar das pessoas nas minhas costas, ando rápido para longe dali. Adam me acompanha sem falar nada, sei que ele está irritado. Por isso escolho conversarmos no quarto de George, vamos até lá e eu fecho a porta.

— Vejo que ainda usa a aliança. – Adam fala olhando para minha mão. – Que história é essa de dar um tempo?

— Não queria que você se envolvesse nisso tudo. – Falo sentindo minha garganta seca.

— Como não? – Ele franze a testa. – Ele também é meu filho.

Não, não é... Não mais.

— Você não sabe o que eu senti quando cheguei em casa e não encontrei vocês. – Ele passa as mãos nos cabelos e solta o ar irritado. – Eu quase perdi a cabeça, Izzie.

— Desculpa, eu não sabia o que fazer. – Falo com a voz embargada. – Quando o doador do George morreu, eu entrei em pânico.

— Por que não me ligou? – Ele se vira para mim, mas eu ignoro sua pergunta, porque realmente não sei o que responder.

Como ele me achou?

— Como você soube que eu estava aqui? – Pergunto confusa.

— Addison. – Ele fala e eu fecho os olhos.

— Eu pedi...

— Para ela não me falar. – Ele ri amargo. – Ela só me falou porque viu o desespero que eu fiquei.

— Eu...

— Três semanas Izzie, você não me deu noticias por três semanas. – Ele fala chateado.

— Eu precisava de um tempo. – Desabafo sentindo meu peito apertar.

— Você foi embora com meus filhos. – Ele maneia a cabeça e me olha com pesar. – Achei que tivesse acontecido o pior.

Céus... Nem pensei nisso!

— George conseguiu o transplante de medula. – Falo baixo tentando mudar de assunto.

— Eu sei, fiquei tão preocupado com vocês! – Ele se aproxima de mim e me abraça.

— Adam... – Preciso contar para ele sobre Alex.

— Eu quase fiquei louco procurando vocês. – Ele toca meu rosto e para a mão na minha barriga.

— Desculpa, não era minha intenção. – Falo sem olhar nos olhos dele.

— Eu amo tanto vocês. – Ele me beija.

Quando eu vim para cá, fui egoísta em pensar só nos meus sentimentos. Sinto-me péssima por fazer isso com ele, por mais que Alex seja o pai biológico de George, Adam cuidou dele como se fosse de seu próprio sangue. Nós estamos juntos há mais de cinco anos, entre idas e vindas, construímos uma família. No começo da minha gravidez, nós nos separamos, mas depois ele aceitou ser pai do filho de outro homem e nunca tratou George diferente por isso, sempre foi filho dele, só isso que importava. Sinto as lágrimas escorrem de meus olhos e eu me deixo levar pelo seu toque.

— Eu... – Alguém entra no quarto e eu me afasto de Adam, vejo Alex parado nos encarando.

— Alex. – Eu falo e ele me olha friamente saindo do quarto.

Oh, não!

— Espera. – Vou atrás dele.

Assim que eu saio do quarto vejo que Meredith estava do lado de fora e impede Adam de nos seguir, agradeço mentalmente, preciso fazer isso sozinha. Sinto meu peito queimar a cada puxada de ar que entra nos meus pulmões. Procuro Alex pelos corredores e começo a ficar desesperada por não encontra-lo. Vou até o corredor da sala dos atendentes e vejo que ele estava parado lá. Aproximo-me e sinto cada batida do meu coração.

— Alex. – Chamo e ele olha para mim.

— Vai embora. – Ele está com raiva.

— Não é o que você está pensando. – Tento falar, mas ele ri irritado.

Parece praxe, mas é verdade!

— Ele tinha que aparecer justo hoje. – Ele fecha os olhos, pensando em algo.

— Alex... – Toco em seu ombro, mas ele se afasta.

— Quando você ia me falar que pediu para ele voltar? – Ele me olha chateado.

O que?

— Eu não pedi. – Eu evitei conversar com Adam durante todo esse tempo, não estou entendendo aonde Alex quer chegar com isso.

— É claro. – Fala com ironia.

— Você precisa acreditar em mim! – Falo olhando dentro dos olhos dele. – George está melhor...

— Ah, claro... Você só estava esperando George melhorar para ir embora, como sempre. – Suas palavras me atingem e eu me seguro para não chorar.

— Claro que não. – Balanço a cabeça negando, sinto meu coração bater acelerado, o pânico está invadindo meu peito.

— E outra vez você não ia me falar nada.

Ele entendeu tudo errado!

— É só isso que você sabe fazer... Ir embora.  – Ele fala amargurado.

— Não, eu... – Tento falar, mas me engasgo com as palavras. – Eu falei...

— Falou o que? – Ele levanta os braços esperando que eu continue.

Céus... Não estou conseguindo pensar.

— Vou te lembrar, você falou que ia me dar a chance de ser PAI. – Ele grita e eu recuo.

— Alex... – Tento falar que não é minha culpa Adam aparecer assim, mas não adianta.

— Eu levei dias preparando aquela festa para George. – O tom de sua voz é tão carregado de dor que eu sinto o que ele está sentindo.

— Me desculpa. – Meus olhos estão marejados, não queria que ele tivesse passando por isso.

— Sabe o que eu senti quando MEU FILHO correu para os braços daquele cara e o chamou de pai? – Seu olhar me destrói por dentro.

O mesmo que eu senti.

— Claro que você não sabe. – Ele fala com ironia. – Você nunca passou por isso.

— Alex... – Sinto minhas pernas fraquejarem. Novamente tento falar, mas não consigo.

— Você me humilhou na frente de todo mundo. – Ele me olha com mágoa. – Todos meus amigos estavam ali.

Não foi minha culpa.

— Meu filho estava ali e você deixou aquele cara tomar o meu lugar, outra vez. – Ele aponta o dedo para mim.

— Eu ia contar para o George hoje.  – Minha voz sai rouca. – NÓS íamos contar juntos.

— Aquilo só foi uma desculpa para você, não é? – Ele fecha os olhos e respira profundamente.

— Claro que não. – Ele não pode duvidar de uma coisa assim.

— Então me fala... – Ele segura meu braço. – O que foi aquilo mais cedo? O beijo e tudo mais?

— Você sentiu o mesmo que eu? – Sinto meu coração acelerar.

— Aquilo não significou nada para mim. – Suas palavras saíram ásperas.

— Nossa. – Fecho os olhos absorvendo o que aquilo realmente significava.

Céus... Isso não pode estar acontecendo.

— Sabe, você já tinha conseguido o que queria de mim, não precisava fazer aquilo. – Ele fala com rancor. – Descer tão baixo.

— Eu não fiz nada, eu ainda...  – Não consigo completar a frase

Te amo.

— Me enganou direitinho com seu teatro. – Ele simplesmente me ignora e ri com pena de si mesmo.

— Eu não fiz teatro nenhum. – Falo com firmeza, em outra época eu reagiria diferente, iria brigar e me defender dessas acusações, hoje com a gravidez só penso em chorar e fugir daqui.

— Vai me fala... O que eu serei agora? – Ele dirige o olhar para mim com raiva. – Já que eu não passo de um doador de esperma e medula para você.

— Não fala assim, Alex. – Uma lágrima escorre pelo meu rosto.

— Você não se importa com os sentimentos dos outros. – Sua voz também está embargada.

— É claro que eu me importo. – Falo sem conseguir segurar meu choro.

— Você sempre foi assim... Faz o que for preciso para conseguir o que quer. – Ele maneia a cabeça, irritado.

— O que você quer dizer com isso? – Sinto meu peito apertar e limpo as lágrimas que escorrem pelo meu rosto.

Não continua, por favor.

— Primeiro com Denny, você ganhou uma boa grana dele.  – Ele fala com ironia. – Depois foi O’Malley, fez o que fez até destruir seu casamento...

Denny? George? Como ele ousa falar isso?

— NUNCA, nunca mais fala de Denny ou George outra vez! – Falo alto apontando o dedo para ele, sentindo a raiva invadir meu peito tomando lugar da mágoa.

Não acredito que ele falou isso!

— Depois comigo, precisou achar um otário para pagar suas contas do hospital. – O sarcasmo dele predomina o ambiente, sei que está usando sua mascara de indiferença, mas suas palavras estão-me machucando. – Com esse cara foi o que? Status? Dinheiro? Sexo?

Agora foi longe demais.

— CHEGA. – Eu grito e dou um forte tapa em seu rosto. – Você não tem o direito de falar isso de mim!

— Vai embora daqui. – Ele fala tocando a lateral do rosto que estava vermelha.

— Você está agindo como um idiota. – Falo com raiva, meu coração bate tão depressa que parece querer sair pela boca.

Como o antigo Alex agiria.

— Você pode ir embora com essa cara, mas não vai levar meus filhos outra vez! – Ele fala em tom de aviso. – Estou falando sério.

— O que? – Suas palavras me sufocam.

— Eu não vou sossegar até conseguir tirar meus filhos de você. – Fala friamente e eu recuo passando os braços em volta da minha barriga tentando me proteger. – Seja na justiça ou no onde for preciso.

— Você não tem direito. – Sinto meu sangue ferver. - Eles são meus filhos, vou levar para onde EU quiser.

— Então testa para ver. – Ele fala em tom de desafio e se afasta.

— Alex. – Escuto uma voz de longe, olho para trás e vejo que a médica namorada dele tinha chegado e vinha correndo. Ele a recebe de braços abertos e a beija profundamente, sem se importar que eu esteja presente.

Não consigo ficar aqui.

Eu me afasto tentando controlar minhas emoções, as lágrimas insistem em sair, não posso fazer isso na frente deles. Ele me olha com frieza e os cantos de seus lábios formam um sorriso maldoso. Ele puxa a garota para dentro do quarto, eu sei o que vai acontecer ali. Meu coração aperta e eu sinto uma dor muito forte. O que significou tudo para mim mais cedo, para ele não fez diferença nenhuma. Outra vez saio machucada da situação. Prometo para mim mesmo que essa será a ultima vez.

Hoje eu vou embora daqui.