coisas não ditas escrita por Lyn Black


Capítulo 2
CAPÍTulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oiii gente, tudo bem com vocês?
Espero que gostem do primeiro capítulo, não se esqueçam de comentarem!
Boa leitura :D



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CAPÍTULO 1

“Você não sabe, mas a única coisa que eu queria perguntar para a sua mãe naquela noite, no meio daquela rua com o meu encontro dependurado no meu braço, era se você estava feliz.”

 

 

Dez minutos são mais do que suficientes para a respiração entrecortada de Albus se transformar num aperto incontrolável e sufocador em seu peito. O barulho de exaltação da noiva de Scorpius ressoa como um eco abafado ao empurrar sua cadeira abruptamente, e praticamente correr para fora do bar. As expressões preocupadas que tomam conta dos rostos de Siana e Scorpius não passam de vultos velozes pelos seus olhos.

O ar frio da rua bate no seu corpo em um choque eletrizante, e ele pode sentir a fumaça de ar frio se formando junto da sua respiração acelerada. Albus olha por sobre seu ombro, prevendo que talvez alguém venha atrás dele, afinal ficara nítido que ele tomara a direção contrária do banheiro. Potter empurra seus óculos pelo seu nariz, em sua mania característica, e enfia as mãos no casaco de lã que usara só por insistência de Siana; a menina era praticamente sua mãe, no momento. Bate um dos pés no chão, tentando focar no ritmo constante que está produzindo, ao invés de deixar seus sentidos se levarem pela agonia que se apoderara dele no momento que distinguira a figura de Lydia Shackelbolt se aproximando meros segundos após Malfoy sussurrara no pé de seu ouvido.

Depois, em sequência, os dois haviam arrastado duas cadeiras e, Albus tentou disfarçar o evidente incômodo que agora se apossava de seu corpo. Alívio e ansiedade se misturam ao ver que quem se sentava ao seu lado era a infâmia Lydia, e não Scorpius: ele estava pouco disposto a falsificar sorrisos tendo as pernas de Malfoy prensadas nas suas, mas a presença da garota não se provou melhor do que a do noivo dela. Ela parecia especialmente entretida em observá-lo pelo canto dos olhos (sem muita habilidade, ele ressaltava), e gradativamente a situação se tornou insuportável.

Albus observa as altas lamparinas amarelas, e aguça os ouvidos notando como a música alta parece só uma batida abafada do lado de fora das portas. Ele enxerga a luz de um carro passando pela esquina da ruela em que se encontra. Há umas poucas pessoas andando nas ruas, mesmo não sendo muito tarde, pois bares bruxos dispersos em Londres são geralmente em localizações onde não se esperaria encontrar esse tipo de movimentação. Isso sem contar que esse, em especial, é um ilegal frequentado majoritariamente por feiticeiros marginalizados. O lugar onde ele absolutamente não deveria ter chances de encontrar um Malfoy.

— Sai da frente, cara! – ele escuta a voz grossa e sente o empurrão rude, sem nem mesmo encontrar os olhos de quem se dirige a ele com tamanha educação.

Um arrepio percorre todo seu corpo, e Albus começa a andar a passos vagos para longe do pub, considerando chamar o Nôitibus Andante ou mesmo caminhar até o apartamento de seu primo, Hugo Weasley, e dormir no sofá do garoto pela noite, como costumava fazer quando eram mais novos e Potter era um morador não oficial da casa de Rony e Hermione.

Porém, ele não se distancia rápido o suficiente de lá. Talvez, Albus tenha postergado sua saída estrondosa propositalmente, naquela vontade egoísta de causar uma cena própria de um romance de sucesso das bilheterias. Quando ele escuta os passos aproximando-se, prefere fingir-se ignorante do barulho crescente, afinal ele é um dramático. Mesmo estranhando a cadência de quem vem se aproximando.

A mão que pousa no seu ombro lhe é estranha, anéis demais e relativamente pequena. É quase uma premonição dos olhos que encontra quando gira em seus próprios pés. Albus conhecia Lydia dos corredores de Hogwarts e da vez que Siana (e praticamente todos os alunos do 5º ano) caíra de amores pela nova aluna mais velha de intercâmbio.  Mesmo depois de Scorpius comentar numa carta que a encontra, (justamente ela!), na sua viagem com o pai para a Bulgária, Albus não dedicara mais do que alguns pensamentos a moça. Ele ignorara como a cada mês que passava, mais comentários sobre ela apareceriam nas diárias cartas de Scorpius: como eles haviam visitado um castelo em Siena, o casaco de peles que ela comprara numa venda de rua no Egito e, como Draco Malfoy parecia extasiado com a teimosa Lydia.

Até o dia em que seu próprio pai, o Harry dos livros de história contemporânea bruxa, olhara-o por cima de seus olhos verdes repletos de preocupação, e comentara cuidadosamente sobre os boatos do namoro entre Malfoy e a Shackelbolt. O homem da famosa cicatriz se apoiara na batente do quarto que Albus ocupava de vez em quando nas vezes em que se dignava a voltar para casa, e chamara pelo filho por sobre seus fones de ouvidos. Ele se angustiava pela ignorância optada do filho (Harry às vezes se culpava por ter passado essa herança para o filho do meio), afinal, se o Harry Potter escutou esse tipo de rumor, as chances de ser verdade são maiores que 100%.

E cá Albus estava agora, diante não da namorada, mas noiva do seu melhor amigo.

— Acho que nunca fomos apresentados propriamente. – ele escutou a voz tão objetiva dela, e sua voz pareceu sumir por alguns instantes. Albus olhou de esguelha para a mão que se estendia num cumprimento, e arqueou uma sobrancelha como perguntando “Você realmente acha que vamos fazer isso aqui e agora?”. Ele manteve suas palmas aquecidas dentro dos bolsos do casaco, pendendo seu peso para um dos pés.

— Escutei tanto de você por Scorpius, apresentações são dispensáveis. – ele sabia que estava sendo levemente pedante, e bem provavelmente, arrogante, portanto, o sorriso que ela lhe dirigiu veio com surpresa.

— Não mais do que eu escutei sobre você, com certeza. – o sorriso afetado dela só piorou o estado do garoto.

Albus deu de ombros, selando seus lábios, e bem indisposto a continuar a conversa, mas ela não parecia se importar muito, analisando a forma encurvada do famoso Albus Potter, quem ela tinha certeza que a odiava até o fundo da alma. Lydia não o culpava por isso, mas desprezava a covardia que o julgava possuidor, ele fazia-a se lembrar demais de si mesma, o que era enervante. O garoto desviou os olhos, antes de balançar a cabeça, como se chegando a alguma conclusão.

— Eu realmente tenho que ir, se você puder pedir desculpas ao Scor por mim. – ele tentou manter a voz clara, branda e equilibrada, e se deu satisfeito pelo resultado. 

— Para onde? Você pulou da sua cadeira como se uma cobra tivesse te picado. – Lydia cruzou os braços.

Albus bufou um pouco. A garota deveria ser de um tipo falso, esnobe e arrogante, ele pintara-a na sua mente nas mais desprezíveis cores, só para encontrar genuinidade em sua frente. É claro, Scorpius não se apaixonaria por alguém esnobe como ele.  O mundo realmente o detestava, pensou, antes de se recriminar pelo egocentrismo pelo qual sempre fora severamente criticado pela sua mãe.

— Por que você veio atrás de mim, Shackelbolt?

Ela riu, descrente dos modos do outro, esquivo como a serpente sonserina que nunca aparentara realmente ser, se os relatos de Malfoy fossem verídicos o suficiente.

— Por que eu não viria? – era como se estivesse falando com uma criança.

— Nós não somos amigos. Conhecidos? Talvez. – ele sempre gostou de afirmar os fatos sem rodeios. Diziam-no babaca, e no íntimo, Potter concordava. – Você não tem motivações além de bancar a noiva prestativa, então pela graça de Merlin, faça um favor a nós dois, e fale que eu já havia desaparecido quando você chegou aqui.

— Presunçoso da sua parte achar que conhece as minhas motivações. E eu tenho nome, melhor aprender logo a usá-lo, Albus.

— Certo, Lydia. – ele suspirou enquanto finalmente retirava as mãos dos bolsos, cruzando os braços em um gesto defensivo. – Eu realmente tenho que acordar cedo amanhã para uma reunião de trabalho, não é nada pessoal, okay? – seu tom condolente e arrastado era definitivo, entretanto, ela não pareceu satisfeita do mesmo jeito.

— Quantas mentiras a mais até nem mesmo o santo do Scorpius aguentar?

Ele puxou a casaco para mais perto do corpo, e ela notou o tremor em suas mãos.

— Acho que descobriremos juntos, então, Shackelbolt. Fiquem bem.

E preciso como uma faca na jugular, Albus virou-se de costas e andou o mais aceleradamente que podia sem realmente correr. A garota acompanhou-o aparatar com os olhos, traçando a curva de suas costas e as linhas da tatuagem na sua nuca, complementar a de seu noivo. Ela ficou lá, olhando o céu escuro, por mais alguns minutos, antes de perceber a portinhola abrir novamente, e por ela passar Scorpius, desespero marcando rugas nos seus olhos.

O loiro se aproximou numa passada rápida.

— Ele já se foi, não é?

A expressão dura da mulher se voltou para ele, como um irmão mais novo que quebrou o vaso mais caro da casa e se nega a admitir a culpa.

— Se vocês dois não começarem a soletrar o que realmente sentem, essa vai ser a relação de vocês, Scorpius.

Ele encolheu os ombros.

— Você fala como se eu e Albus fossemos o casal, não nós dois.

Lydia dessa vez gargalhou alto.

— E por que será, Scorpius? – ela piscou, se divertindo com a expressão estarrecida dele. – Eu deixei meu casaco lá dentro, vou me despedir dos Finnigan. Se quiser vai indo para sua casa, eu não aguento mais o quarto de hóspedes da Mansão Malfoy, de qualquer jeito.

Ele assentiu com as mãos enfiadas nos bolsos traseiros da calça.

— A gente se vê amanhã? – a voz de Malfoy alcançou os ouvidos de Lydia quando ela já alcançava a maçaneta.

A garota de longas madeixas cacheadas pareceu sobressaltada.

— Acho que não, mas se precisar falar comigo urgentemente me manda seu patrono. – e sumiu dentro do bar novamente. Scorpius revirou os olhos diante da inaptidão dela de assimilar tecnologia trouxa como celulares, por exemplo. 

Malfoy andou para a direção contrária que Albus seguira, chutando as latinhas que encontrava jogadas no chão, no caminho. Olhou a rua vazia, antes de tirar a varinha de dentro do seu longo casaco, e murmurar Expecto Patronus.  Ele estava esperando o momento em que o seu patrono assumiria uma forma associada aos jeitos de Lydia, afinal é isso que acontece com pessoas apaixonadas, ele lera algumas vezes quando tinha seus dezesseis anos.

 Ela não pareceu muito incomodada quando ele revelara que as tardes com Albus deitados na beira do Lago Negro eram sua fonte de lembranças para o feitiço. Não era uma grande coisa, não é mesmo? Não é como se ele sempre retornasse a um entardecer especial, regado à cidra roubada do escritório de Draco, onde eles haviam passado umas boas horas entrelaçados em beijos, línguas e abraços.

Porque, no final das contas, o Potter não se lembrava de nada quando o dia seguinte chegara. Não que ele houvesse contado esses detalhes para a namorada, embora tivesse a bizarra impressão de que ela apenas sorriria caso ele contasse esse pedaço da história deles. Ele aparatou antes de permitir que as hipóteses e dúvidas encontrassem maior espaço dentro de sua mente.

 

 

*****

 

 

Scorpius caminha pelos corredores ostentosos da sua casa em passos lentos, temendo que seus pais estejam em casa e acabem despertos por sua entrada. Morar com Draco e Astória não era seu plano quanto estava em Hogwarts, na verdade, sua imaginação flutuava por algum apartamento com mobiliário excêntrico que dividiria com Albus. O que acontecera até as coisas mudarem de enquadramento, fazendo-o voltar para a mansão onde crescera. Agora, ele só se enxerga num longo espelho com seus vinte seis anos, ainda tomando o mesmo chá antes de dormir que tomava quando tinha treze anos e medo de bichos papões.

Ele não gosta muito de se observar no espelho, pois sabe que verá como atualmente não carrega a mesma aura brilhosa que um dia tinha quando tudo que importava realmente era entregar as redações de Sprout dentro do prazo e assistir as partidas de quadribol do seu melhor amigo. Porém, Lydia insiste que escovar os dentes às cegas não é a melhor ideia, então Malfoy apenas faz o maior esforço para não se prender muito nos seus próprios olhos quando, já sem as roupas do bar, e metido em pijamas que se surpreende ao encontrar no seu armário e não na lata de lixo, se distrai com a escova ainda entre seus dentes.

Agilmente, o bruxo cospe na pia e deixa um pouco de água correr, logo se distanciando do banheiro. Ele se assusta um pouco ao ver que sua mãe está apoiada na escrivaninha de mogno que fica perto da grande janela de seu quarto, passando levemente os dedos pelas fotos bruxas que ele deixa dispostas numa prateleira acima da mesa de trabalho. Ela não se vira antes de falar em sua voz macia:

— Você costumava demorar muito mais no banheiro quando era adolescente.

O robe amarelo de Astória está aberto, e ele pergunta se ela não está com frio, apenas para ser lembrado da existência de feitiços de aquecimento. Scorpius atravessa seu quarto, seus pés descalços afundando no tapete arroxeado, e se coloca ao lado dela. Ele observa como o olhar calmo da sua mãe parece pesar numa foto imóvel tirada na formatura dele com a máquina fotográfica de Rose Weasley.  Como todos parecem tão fascinados por esse tema nos últimos meses, não lhe passa despercebido como ela tem um sorriso vago ao olhar para a figura de Albus agarrada ao seu lado, em um terno de veludo roxo que lhe caíra incrivelmente bem.

— Como foi sua noite? Voltou cedo demais. – ele escuta a morena perguntar com interesse. Ela tem seu olhar cuidadoso na barba rala no queixo dele, a qual o filho parece ignorante do quanto o envelhece. Scorpius baixa os olhos para os livros empilhados desorganizadamente na escrivaninha.

— Tenho que acordar cedo amanhã, mãe. – ela percebe o desconcerto dele. – Encontramos Albus com os Finnigan.

Astória tem o dom de notar os tons casuais forçados para passar a ideia de naturalidade, especialmente de seu filho, afinal ela vira-o crescer fazendo uso daquela voz toda vez que desejava manter algo enterrado. Pois bem, ela bem respeitaria os seus desejos, por ora.

— Ah, que bom, Scor, ele recebeu as suas cartas? – ela sonda o território, logo preocupação obscurecendo seu coração, o garoto (sempre será um menino para seus olhos) meio avoado.

— Não sei, achei melhor não perguntar. – ele finalmente se permite levantar o rosto para a mãe, quem o envolve num aconchegante abraço de lado.

— Seu tolo, - ela ri e Scorpius se deixa levar pela risada confortável dela. – assim você nunca saberá. Simas Finnigan e seu pai nunca se gostaram na época de escola, mas semana passada almoçamos com ele e foi muito produtivo. E como estão os gêmeos?

— Parecem bem, na verdade Al está morando com eles faz um tempo.

Ele percebe a pausa que Astória faz.

— Você nunca tinha me falado isso, achava que ele ainda estava no apartamento de vocês, o perto daquele teatro abandonado. – um vinco se apresenta entre as sobrancelhas da mulher mais velha.

— Tem uns seis meses. – ele consegue murmurar a contragosto, e sua voz quebra no meio das palavras.

Quando ele voltara da viagem de três meses com seu pai, encontrou tudo como deixara, porém, só conseguiu falar com Albus depois de uma semana de muitos desencontros. O garoto parecia um tanto estressado com o trabalho que tinha na área de ciências técnicas do Ministério de Magia, mas ele não reparou em muito mais do que isso. Havia mais xícaras de chá sem lavar empilhadas na pia, o que ele solucionou com um feitiço, mas as olheiras de Potter pareceram gritantes quando conseguiu finalmente sentar com ele e dividir uma pizza congelada.

— E por que eu só fiquei sabendo disso agora, Scorpius Malfoy? Não é nem um pouco parecido com a história que você vendeu pro seu pai e que ele engoliu facilmente. – a cada palavra que escutava de Astória, Malfoy proferia um xingamento mentalmente. Ela parecia contrariada e brava, se sua posição corporal fosse indicativa. Se seu avô um dia fora considerado amedrontador era porque ninguém conhecia ainda a então Astória Greengrass.

— Olha, não foi nada demais, tá? – ele gesticulava bastante quando o nervosismo abatia. – A Lydia chegou duas semana depois de mim, e não fazia muito sentido ela ficar em algum hotel caro.

Os olhos de Astória pareciam querer saltar de seu rosto.

— O que você fez, Scorpius?

— Nada demais, minha Morgana! – ele foi para a janela, fechando um pouco as vidraças ao ser tomado pela rajada de vento frio que mais cedo também percorrera o corpo de Albus. – Ela ia ficar um pouco no flat até encontrar um apartamento próprio, o Albus falou que estava super ok com isso. Uns dias antes de a Ly chegar, ele veio com um papo de querer já há um tempo falar comigo sobre encontrar um lugar pra ele e que agora parecia uma boa ocasião.

— E você simplesmente deixou o Potter sair assim? – a voz dela subira em algumas oitavas na agudez.

— O que você queria que eu fizesse, mãe? Amarasse ele na cama? – um tom avermelhado tingiu suas bochechas ao deixar as palavras escaparem de sua boca.

Astória Malfoy tinha uma vontade de dar uns bons tapas no filho, tanta exasperação que estava sentindo.

— Santa Deusa, você é pior do que o seu pai, Scorpius. – ela falou.

Malfoy filho pareceu revoltado.

— O que você quer dizer com isso? – sua voz soou estridente em seus ouvidos. – Eu sempre fui parecido com você.

— Que você precisa uma longa noite de sono, querido. – ela abraçou-o, seus pés aquecidos pela magia tocando os dele que já congelavam. – Não me surpreende que Albus não tenha tocado no assunto quando o encontrei um tempo atrás no Beco Diagonal.

Scorpius já ia em direção a sua cama, e amassava os travesseiros, enrolando o término da conversa com a mãe, mas virou para ela, ambas as sobrancelhas acinzentadas alcançando a linha do seu cabelo.

— Por que você nunca me conta as coisas, mãe?

Ela deu de ombros, já com um pé fora de seu quarto.

— Achava que você sabia dessas coisas pela boca dele antes de pela minha. Por acaso você também não saberia me dizer se o rapaz especialmente bonito que o acompanhava é um namorado a longo-prazo, não é mesmo? – ela misturava ironia com divertimento, mas franziu a testa ao notar como Scorpius realmente deveria não estar em bons termos com o Potter mais novo.

O moço se deixou afundar nos lençóis.

— Se você não percebeu, mamãe, ele não se importa o suficiente nem para aparecer no meu jantar de noivado.

Antes de bater a porta, Astória olhou-o com tamanha incompreensão que nem reconheceu a prole que achava conseguir prever os movimentos. De fato se surpreendera com o noivado repentino, menos de um ano após começarem a namorar, mas nada tinha contra Lydia, e eles pareceriam realizados um com o outro, mesmo que não houvesse brilho nos olhos nem de um, nem de outro. Quem estava nas nuvens com o casamento era Draco, isso sim.

— Não fale coisas que irá se arrepender depois, Scor. Boa-noite, querido.

Scorpius suspirou longamente, e pegou a varinha para finalmente sussurrar para o vazio Nox. No fundo, o que ele mais temia não eram as coisas que falava e depois se arrependia. Os pensamentos nunca expurgados da sua alma eram quais tiravam seu sono, com tanta frequência que Lydia acabara alegando ser melhor ir dormir no quarto de hóspedes dos Malfoys. Sem Albus no apartamento e com um vazio dependurado no coração, Malfoy de fato trancara o apartamento deles e retornara com a namorada para a casa dos seus pais.

Do outro lado da cidade, um sonolento Hugo Weasley dividia um vinho com um amargurado Albus Potter, já cogitando em usar do primo de cabelos pretos como inspiração para seu personagem. Descrição do mesmo já estava pronta: alguém que se afogava em o que se recusava a dizer. 

Os dois adormeceram em um sono turbulento e bêbado por razões mais similares do que imaginariam.

 


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