A Revolução da Tecnomagia escrita por JMFlamel


Capítulo 4
Beco Diagonal


Notas iniciais do capítulo

Depois de tudo pronto, um delicioso sorvete. Mas sempre surge algo para atrapalhar.



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CAPÍTULO 3

 

BECO DIAGONAL

 

 

 

 

 

 

 

 

Trajes japoneses do dia-a-dia realmente não chamavam a atenção no Beco Diagonal, mesmo com óculos de sol. Consultei a lista de estabelecimentos aos quais deveria ir e vi que estava bem próximo do Atelier de Madame Malkin. Entrei e uma sineta tocou.

—Pois não? – ouvi uma voz e logo surgiu sua dona – Ora, mas que belo conjunto de Kimono e Hakama! Você veio do Japão?

—Na verdade não, eu utilizei um Feitiço de Mudança de Roupas. Como eu conheço bem os trajes, foi fácil. Madame Malkin, preciso dos seus serviços.

—E de que se trata? – perguntou ela.

—Uniformes de Hogwarts.

—Hmm, o ano letivo já começou. Você está vindo por transferência? De qual escola?

—Exato. – disse eu – Estou vindo da Sepé Tiaraju.

—Brasil? Quase não se percebe o sotaque.

—Obrigado. A senhora me foi recomendada pelo próprio Ministro Shacklebolt.

—Espere, então você é o jovem que veio com o pai, que vai prestar consultoria para o Ministério na área de Tecnomagia?

—Sou eu mesmo. – respondi, enquanto a fita métrica mágica tirava as minhas medidas e uma Pena de Repetição Rápida anotava os resultados – Vim cursar o sétimo ano e concluir meus estudos em Hogwarts.

—Você vai gostar. – disse ela – Pena que não temos mais Alvo Dumbledore.

—Embora estivéssemos longe, tínhamos informações e notícias da guerra. E Dumbledore já esteve na minha escola, anos atrás. Eu o vi e cheguei a conversar com ele, rapidamente, no meu segundo ano, se não me falha a memória. Sabíamos que se Voldemort... oh, desculpe. – Madame Malkin tremeu ao ouvir o nome do bruxo – Se ele vencesse aqui na Inglaterra, certamente procuraria estender as garras da Ordem das Trevas por todo o mundo.

—Com certeza. – disse Madame Malkin, enquanto as tesouras começavam a recortar os moldes e os tecidos se desenrolavam – O Brasil não seria exceção, é uma terra de grande energia mágica, embora as Trevas jamais tenham tido muita força por lá.

—É verdade. O Ministro me contou alguma coisa, foi bom conversar com alguém que viveu aqueles dias difíceis. E também vi, meio de relance, Harry Potter e sua namorada, além dos Malfoy.

—Você os viu, lá no Ministério?

—Sim. Coincidentemente, era o dia do julgamento de Lucius Malfoy.

—Conheci Harry Potter no ano em que ele foi para Hogwarts. Hagrid o trouxe aqui, para confeccionar os uniformes e também foi quando ele e Draco Malfoy se conheceram.

—E como foi? – perguntei.

—Antipatia instantânea, Sr. Kapplebaum. – disse ela – Calma, vi seu nome no cartão do Gringotes, não usei nenhum tipo de feitiço. Pode aguardar até os uniformes ficarem prontos, não vai demorar quase nada. Como o ano letivo de Hogwarts já começou, o grosso das encomendas para esta época já foi entregue e não tenho muitas encomendas, por enquanto.

—Pode me chamar de “Kadu”. É como todos me chamam, um diminutivo para “Carlos Eduardo”. Com licença... “Illex. Thermo.” – conjurei um chimarrão e comecei a tomar.

—Ora, há tempos eu não via isso. – admirou-se Madame Malkin – Uma cuia de chimarrão? Vocês apreciam muito isso por lá, hein?

—Sem dúvida. Faz muito bem à saúde.

—E você aprendeu a conjurá-lo? Mas não é nada fácil.

—Era um dos testes da disciplina de Feitiços. Conjurar um chimarrão que ficasse tão bom quanto um preparado à maneira tradicional. A senhora disse que Harry e Draco antipatizaram um com o outro, de cara?

—Foi. Draco sempre se comportou de maneira esnobe, não sei se por ele mesmo ou para fazer tipo.

—Como assim, Madame Malkin? – perguntei.

—Tradição dos Malfoy, obsessão por sangue puro, etc. Mas Parece que, no ano passado, eles agiam assim por medo de V... Voldemort.

—Entendo. – disse, fazendo a cuia roncar, cevando mais um mate e oferecendo-o a Madame Malkin – Aceita?

—Claro. – disse ela, pegando a cuia e tomando – O sabor é meio exótico para nós, ingleses, ainda que seja uma espécie de chá. E como foi o seu breve encontro com Harry Potter?

—Realmente, foi breve. Apenas nos cumprimentamos com acenos de cabeça, mas deu para perceber algo. Nossos olhares se cruzaram e eu percebi o caráter dele, além de outras coisas.

—Como assim? – perguntou Madame Malkin, enquanto o primeiro uniforme ficava pronto e se dobrava sozinho, pousando sobre o balcão.

—Angústia. E uma grande tristeza. Acho que a namorada faz muito bem a ele, mantém seu equilíbrio emocional.

—Sabe, você está bastante certo, Kadu. – disse ela, terminando mais uma cuia e me devolvendo – Harry Potter já passou por muita coisa.

—Sei apenas o que li, afinal de contas a história de Harry Potter é conhecida pela Bruxidade de todo o mundo e o Brasil não é exceção. Mas vocês o conheceram, conviveram com ele e sabem de detalhes importantes, tais como sua personalidade, seu jeito de ser no dia-a-dia, entre outras coisas.

—Bem, eu sei de algumas coisas, outros sabem de outras, mas eu acho que quem mais sabe sobre ele são Ronald Weasley e Hermione Granger, seus melhores amigos e colegas desde o primeiro ano. Eles passaram juntos por todas as aventuras que você possa imaginar.

—Muita coisa foi publicada, a Pedra Filosofal, a tentativa de Voldemort absorver a energia vital de Gina Weasley com o diário, etc. Mas só quem passou por tudo aquilo é quem deve saber. O bastante para enlouquecer qualquer um.

—Sem dúvida, Kadu. – ela aceitou a cuia que lhe entreguei, depois de tomar. Em seguida, terminou e me devolveu – As pressões às quais ele já foi submetido poderiam deixá-lo insano, se ele não tivesse uma personalidade forte e o apoio dos amigos. Com um ano de idade, perdeu a família. Passou dez anos sem saber nada sobre seu passado, morando com seus tios maternos, que odiavam a magia e o tiranizavam. Aos onze anos, tomou conhecimento da verdade e foi para Hogwarts. Enfrentou perigos, vários de seus amigos perderam a vida, inclusive seu padrinho e outras pessoas que foram importantes para ele.

—Até que tudo culminou no combate final entre Harry e Voldemort. E agora é o tempo de reconstruir a vida, tentar recuperar o máximo possível daquilo que realmente importa.

—Sim. E você está certíssimo, a presença de Gina ao seu lado é o seu ponto de apoio. Oh, seus uniformes já estão prontos.

—Bom. Preciso ir a outros lugares, mas voltarei aqui. – disse eu, pagando, fazendo o chimarrão desaparecer e sobraçando o pacote – Gostei muito de conhecê-la e de conversar com a senhora.

—Há mais gente que poderá lhe dizer mais sobre Harry, não o mito, mas o homem. – disse Madame Malkin.

Saí para a rua e conferi qual seria minha próxima parada. “Floreios & Borrões”, a livraria onde eu encontraria o material didático necessário. Na enorme variedade de estantes, encontrei todos os livros dos quais precisaria para o sétimo ano. Paguei e levei a saca de materiais de volta ao Caldeirão Furado e conferi meu roteiro. Ainda teria de passar na botica, para adquirir ingredientes e materiais de poções e também na loja “Artigos de Qualidade para Quadribol”. Não havia trazido a vassoura do Brasil, pois seria difícil explicá-la na Alfândega. Então, tratei de escolher um modelo que se adequasse às minhas necessidades. Como eu não pretendia fazer testes para qualquer equipe de Quadribol, embora jogasse até bem, não haveria necessidade de uma vassoura de alta performance, tipo Série Firebolt. Mas também não iria querer uma tartaruga com cerdas, como uma Shooting Star. Ao olhar pela vitrine, não acreditei no que vi. Meio esquecida entre várias vassouras europeias, estava uma legítima “Espírito Charrua”, modelo fabricado por Adroaldo Costanegra, um renomado Designer de vassouras dos Anos 80. Por mais que tentassem, jamais haviam conseguido reproduzir as características daquele primeiro modelo, o único produzido em série, já que Costanegra era conhecido por fabricar apenas vassouras exclusivas e personalizadas.

—Bom dia. – cumprimentei o vendedor – Vi uma vassoura na vitrine que me interessou. Poderia me dizer qual é o valor?

—Qual delas?

—Aquela, entre a Cleansweep 10 e a Comet 275.

—A com cabo de jatobá? Ninguém quis saber dela, acharam-na meio grosseira.

—É que é uma vassoura mais rústica. Não é uma vassoura de corrida, como as Nimbus ou as Firebolt, mas é bem veloz. Muito resistente, pode voar por grandes distâncias. Só que é preciso ter braço para manobrar.

—Por isso os jovens não gostaram muito, acharam de pouca maneabilidade. – disse o vendedor – Tanto que, em mais de quinze anos, ninguém quis levá-la. Mas parece que o senhor se interessou.

—É, posso até levá-la. Quanto?

—Cem galeões, é o preço da etiqueta.

—Feito. Estou levando.

Paguei e saí com a vassoura. O vendedor pareceu ter ficado contente por vendê-la por cem galeões. Se ele soubesse que uma vassoura como aquela valia cerca de dez vezes aquilo. Bem, acho que nem mesmo o dono da loja sabia e, se ele descobrisse, o vendedor levaria uma bronca.

Ainda mais porque eu havia reparado em qual era o número de série daquela vassoura, que estava totalmente zerada. Era “001”. A primeira de uma série de quinhentas, interrompida devido à morte de Costanegra. Aquilo as tornava tão valiosas quanto as personalizadas.

A parada seguinte foi no Empório das Corujas, a fim de adquirir uma para ser meu animal de estimação e correio, em Hogwarts. Depois de olhar várias, procurei selecionar as que mais me agradavam e foi quando um detalhe de uma delas me chamou a atenção. Era de plumagem cinza-prata e tinha um detalhe na extremidade da asa direita. Algumas das penas eram verdes e outras amarelas, separadas por um agrupamento de penas avermelhadas.

—Bom dia. Quanto por esta coruja? – perguntei, mostrando a que me interessava.

—Dez galeões e ela é sua, doze com a gaiola. – respondeu a sorridente vendedora.

—Feito. – paguei e saí, com a coruja dentro da gaiola. Dei a ela o nome de “Farroupilha”, devido ao singular grupo de penas que lembrava as cores da Bandeira do Rio Grande do Sul.

Compras feitas, devidamente acondicionadas, havia chegado a hora de almoçar. O prato do dia estava bastante saboroso e, depois de uma caminhada pelo Beco Diagonal, me vi em frente à Sorveteria Fortescue, onde o dono e seus funcionários serviam aos fregueses os seus deliciosos sorvetes. Entrei e me sentei a uma das mesas do deck. Dali a pouco, o próprio Florean Fortescue veio ver o que eu queria.

—Boa tarde. O que deseja? – perguntou ele.

—Me elogiaram bastante o Sundae de Choco-Nozes. Acho que vou querer um.

—Boa pedida. – disse Fortescue. Em seguida, chegou uma generosa taça com o sorvete – Sabe, eu me lembro que esse era o preferido de Harry.

—Harry Potter?

—O próprio. Ele estava indo para o terceiro ano e ficou alguns dias no Caldeirão Furado, antes de ir para Hogwarts. Foi um ano bastante especial, quando todos pensavam que Sirius Black queria matá-lo. Na verdade, o traidor era outro. Peter Pettigrew, amigo deles em Hogwarts.

—Foi ele quem traiu os Potter para Voldemort? Eu soube das notícias no ano retrasado, depois que o retorno de Voldemort foi tornado público. Lá no Brasil tivemos algumas tentativas de levantes de trevosos, mas tudo muito isolado, nada organizado.

—Brasil? Ora, você é o jovem Kapplebaum, de quem Shacklebolt me falou?

—Sou eu mesmo. Estou indo para Hogwarts, este ano. Sei que as coisas devem estar diferentes, depois da morte do Diretor Dumbledore e de vários outros, mas a escola continua sendo referência.

—Tem razão. Você vai gostar de lá, já foi tudo reconstruído, apesar do terror daqueles dias. Aquilo me lembrou dos Dias Negros, a Primeira Ascenção de Voldemort.

—Eu soube que o senhor foi sequestrado pelos Death Eaters, não foi?

—Sim, fui. Mas eles acabaram me jogando em um lago, quando pensaram que morri. Depois que eles se afastaram, fugi e me juntei a alguns remanescentes da Ordem da Fênix. Já o Olivaras, ficou prisioneiro na Mansão Malfoy, até que Harry o libertou... Ora, aí está ele. O que faz aqui, Olivaras?

—Vim conhecer o jovem bruxo brasileiro que possui a última varinha criada por Elisamara Fonseca.

—O senhor a conheceu?

—Claro, quase todos os artífices de varinhas se conhecem. A morte dela foi bastante sentida. Deixe-me ver essa obra de arte... pau-brasil e fibra cardíaca de Serpente-Emplumada, trinta centímetros, inflexível. Excelente para Feitiços de Combate.

—O senhor possui uma grande sensibilidade, Sr. Olivaras. Eu soube que com Harry Potter a coisa foi meio demorada.

—Foi mesmo. – disse o Sr. Olivaras – Depois de experimentar dezenas de varinhas, ele foi escolhido por uma de azevinho com cerne de pena de cauda de Fênix, vinte e oito centímetros.

—E depois foi tornado público que ela era irmã da varinha de Voldemort, não era? – perguntei.

—Era. – confirmou o Sr. Olivaras – Muitos pensavam que era um sinal de que Harry poderia ter poderes das Trevas, mas não passou de boato.

—Como assim?

—Harry passou por coisas que seriam capazes de enlouquecer um rapaz da idade dele, principalmente sua infância com os tios. Ele poderia se tornar um homem amargo ou, o que é pior, voltar-se para as Trevas. Mas, em vez disso, soube manter o foco e sempre ser uma pessoa de bem.

—Claro que bons amigos sempre são muito importantes. E um amor verdadeiro, então, nem se fala. – disse Fortescue.

A conversa continuou, bem descontraída. Dali a pouco, um grupo avançou pela rua, portando faixas e cartazes contrários à Tecnomagia.

—Essas manifestações têm sido cada vez mais frequentes – disse o Sr. Olivaras, Naquele momento uma figura sinistra, que eu notei ter aparatado no meio do grupo, avançou em nossa direção. Era um sujeito alto e calvo, com uma tatuagem de serpente na cabeça. Sua atitude era para lá de suspeita e me provocou uma desagradável alteração vibracional do Ki. No instante seguinte eu descobri o porquê.

— “AVADA KEDAVRA!” – bradou o sujeito, apontando a varinha para nós, especificamente para mim.


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