The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 44
Questão de Confiança


Notas iniciais do capítulo

Preparem-se para a nova leva de capitulos! Esses vão estar tensos!



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PONTO DE VISTA – CARLEY

 

(12 dias desde a infecção.)

 

O que essa garota está olhando?

Fico sentada de frente para o “quase-defunto” na minha frente, enquanto observo a garota olhar em volta da sala com certo interesse e curiosidade. Estalo meus dedos e os cruzo na minha frente. O homem parece perceber que estou incomodada.

— E-enid. Senta aqui. – ele diz com a voz fraca. A filha se vira pra ele.

— Estou bem, papai. Não se preocupe. – ela responde e continua a olhar em volta. Ele estica bruscamente a mão e pega a mão da filha que o olha surpresa.

— Sen-ta. – ele diz agora mais firme e pausadamente. A filha engole seco, olha rapidamente pra mim e por fim puxa a cadeira para se sentar.

— Me desculpe por isso. – ele diz fraco de novo, dessa vez olhando pra mim. Eu balanço negativamente a cabeça como se não tivesse me importado com a petulância da garota.

— Nada a se desculpar. Sua filha não gosta de mim, não sou idiota. – respondo a ele enquanto me ajeito na cadeira.

— Tenho motivos. – ela diz sorrindo de canto. Eu pisco com meu olho esquerdo pra ela, em pura provocação. O pai dela revira os olhos e começa a olhar em volta.

— É...realmente impressionante o que fizeram aqui...era uma casa? – ele me pergunta.

— Sim. Minha casa. – eu digo a ele, que concorda com a cabeça antes de fazer uma careta de dor.

— Não se preocupe, já mandei chamar quem tem mais conhecimento médico pra cá. – digo a ele que concorda novamente com a cabeça.

— Quantos de vocês são? – a menina pergunta.

— Dez. – respondo a eles.

Sim. Eu já considerava Maggie, Beth e Hershel como membros do grupo.

Gostei do que vi hoje...Maggie poderia ter simplesmente deixado o zumbi comer a cara de Matt que nem eu teria a confrontado depois. Ela poderia ter dito que foi um acidente e eu teria acreditado devido as atuais circunstâncias. Beth não fez nada perigoso para nós em seu tempo aqui, e agora está fazendo o mínimo em seu alcance, que no caso é um simples almoço. E Hershel...apesar de eu não conhece-lo, acredito que possa vir a ser muito útil para  nós.

Então sim. São dez.

— Onde está o pai da mulher que estava com você? – o homem a minha frente pergunta.

— Repousando. Não muito distante de você, agora. – respondo. Eu me inclino levemente pra frente, olhando ambos, pai e filha nos olhos.

Eles tem os mesmos olhos.

— Qual é o nome de vocês? O que faziam antes de tudo? – pergunto a eles. Quando estou finalizando minha pergunta, Matt e Harry entram na sala e se sentam nos bancos próximos a pequena churrasqueira onde comíamos as refeições, metros atrás de nossos convidados.

Eu os deixo ali. Sei que querem ouvir mais sobre esses estranhos...

A garota percebe a presença de novas pessoas na sala, assim como o pai. Eles olham pra trás meio inseguros, mas como Matt e Harry estão sem armas, acho que o homem se sente mais confortável.

— K-Killian. Meu nome é Killian Jones. – o homem estende a mão boa pra mim. Eu a olho confusa por alguns segundos antes de aperta-la.

— Carley Evans. – estendo a mão para a garota. A encarando.

Caham!— o pai limpa a garganta próximo a filha, que revira os olhos e aperta a minha mão rapidamente.

— Enid Jones. – ela diz depois do aperto enquanto cruzava os braços. Eu rio nasalmente antes de Killian prosseguir.

— Eu sou...era...advogado. – ele diz eu sinto um leve aperto no coração.

Ross também era advogado...meu irmão...

— Minha filha estava no ensino médio. 15 anos. – ele gesticula pra filha. E eu balanço a cabeça.

É mais nova que Beth. Devia estar no 1º ano do Ensino Médio ou algo do tipo.

— Eu era Assistente de Direção em um estúdio. Estava cursando a faculdade. – respondo a eles e vejo a boca de Enid se abrir em um “O” gigantesco.

— O que foi? – pergunto secamente a ela.

— Nada! É só... você é barra pesada sabe?! – ela começa a dizer, piscando freneticamente. Parece que minha informação a pegou de surpresa – Achei que você era do exército...

— E porquê você... – começo a dizer até me lembrar da minha bandana – Oh...

Escuto Harry e Matt rirem de leve atrás deles e eu balanço a cabeça negativamente.

— É só uma bandana mesmo. – digo a ela que assente rapidamente.

— E vocês cavalheiros? – Killian se vira com dificuldade pra trás. Para Matt e Harry. – O que faziam e qual é o nome de vocês?

Matt e Harry se entreolham e depois olham pra mim. Eu afirmo com a cabeça, lhes dando autorização pra falar.

— Matt...Matthew! Caham! Eu me chamo Matthew. Eu trabalhava com publicidade. – Matt responde depois, ele estava meio nervoso aparentemente.

— Harry. Eu estava estudando pra ser um engenheiro mecânico. – Harry diz acenando levemente para Killian que assentiu com a cabeça para ambos.

— Quantos zumbis já mataram? – começo a minha série de perguntas. Enid e Killian se viram pra mim e depois se entreolham.

— A gente não conta essas coisas! – Enid me responde e o pai a olha com reprovação.

— O que ela quis dizer é...não sabemos. Algumas dúzias, talvez. – ele responde e depois começa um acesso de tosse. – De-desculpe.

— Quantas pessoas já mataram? – eu pergunto e me inclino novamente para frente. A expressão dos dois fica séria.

— Que tipo de pergunta é essa? – ele me pergunta sério, quase como se cerrasse o próprio maxilar.

— Apenas uma pergunta. Precaução. – eu digo a verdade. O homem respira fundo e limpa o suor da testa.

— Uma. – ele cospe as palavras.

Ele não queria ter respondido.

— Porque? – pergunto novamente. Vejo Mary entrar na sala.

— Porque foi necessário. – ele responde quase de imediato, depois desvia o olhar. A filha abaixa a cabeça.

O que está havendo aqui?

Tento estudar as expressões deles, mas antes que eu possa abrir a boca, Mary se aproxima de Killian.

— Moço? – ela encosta no ombro de Killian que se vira pra ela – Oi!

Killian dá um sorriso amarelo e estica a mão boa pra ela, em gesto de cumprimento.

— Olá...você é quem vai dar uma olhada no meu estrago? – ele diz e solta um riso fraco. Mary aperta a mão dele com um meio sorriso.

— Me chamo Mary. Vou fazer o meu melhor...não sou médica mas eu já fiz um curso de enfermagem. – ela diz pra Killian. Que ri fraco.

— Não se preocupe. É bem melhor do que como eu estava antes! Sou Killian e essa é minha filha, Enid. – ele apresenta a filha pra Mary, que estende a mão pra garota também.

— Atrapalho? – Mary pergunta pra mim.

— Só falta uma coisa... – eu digo a Mary, mas Killian me interrompe.

— Eu já respondi a pergunta. Vai me perguntar algo que não seja voltado a isso novamente? – ele me diz e eu levanto uma sobrancelha.

— Pra alguém que está todo fudido você tem muita petulância. – digo séria pra ele que não desvia o olhar de mim.

— Eu já respondi. Foi preciso. A pessoa em questão tinha se transformado e eu a matei. – ele diz.

“A” matei? Era uma mulher então.

Onde está a mãe da garota?

Eu balanço a cabeça positivamente.

Isso não acabou.

— Mary. Por favor leve eles pro mesmo quarto que Hershel. Assim você já pode dar uma olhada nos dois, pode colocar Killian no colchão que está lá, sim? Vou arrumar outro lugar pras meninas dormirem esta noite. – digo me levantando.

As garotas já podem ganhar um quarto, talvez.

— Harry, pegue a bolsa de remédios que trouxemos e as leve pra Mary. Matt, chame Maggie e Beth, por favor. – digo para os meninos que confirmam com a cabeça antes de sair.

Todos saem da sala. Me deixando completamente só.

Eu sento pesadamente na cama, quase me jogando. Levo minhas mãos na cabeça e desamarro a bandana, a tirando da minha cabeça. Mechas de cabelo caem em meu rosto, eu os passo pra trás com um suspiro cançado.

— Onde você foi amarrar seu burro, Carley... – digo pra mim mesma.

Eu não queria isso. Nunca quis que ninguém me seguisse ou que me vissem como líder...

Nunca quis mesmo.

Fico no silêncio encarando as coisas ao meu redor aleatoriamente.

Você precisa dormir um pouco.

Sabe que eu não consigo dormir...

Depois do que houve com Hershel, eu não posso fechar meus olhos que me vêm o barulho de sua perna sendo cortada.

O som...o cheiro...a umidade quente batendo em minhas mãos e rosto...os gritos...

Dou um tapa em minha própria cabeça.

— Pare. Só pare. – apoio minha cabeça nas mãos. Sem ousar fechar os olhos.

Fez o que tinha que fazer, está me ouvindo?

Alto e em bom tom. Como se a voz surgisse de minha cabeça.

Ah pera...está na minha cabeça.

— Doente do caralho... – falo baixo ainda com a cabeça apoiada.

— Carley? – escuto a voz de Beth surgir, o que me faz levantar a cabeça no susto. Percebo que ela e a irmã, Maggie, estão ali.

O quanto ela ouviu?

— O que foi? – pergunto a elas, tentando retomar minha respiração.

Aja naturalmente.

— É que...eu percebi que sempre tem dois guardas vigiando tudo. Um no portão e outro naquela...naquela...coisa. Lá no telhado, sabe? – ela começa a gesticular pra fora da janela, eu acompanho seus gestos e percebo que ela está falando da guarita no Beco.

— Pensei que como vocês todos chegaram cansados, eu poderia fazer vigia se quisesse. – ela oferece e eu suspiro e me levanto, ainda segurando minha bandana.

Porque elas...? Oh! É mesmo! Eu pedi para que chamassem elas!

Doente...

— Isso é muito legal de sua parte...mas Harry vai voltar pro posto dele. A oferta ainda está de pé pra ficar no posto depois do turno dele? – pergunto de uma forma descontraída pra ela, encostando minha mão em seu ombro. Ela sorri.

— Claro. – ela responde e eu agradeço com a cabeça.

Eu realmente acredito que não estou errada sobre essas garotas. Elas estão apenas tentando ajudar, houveram chances nas quais elas podiam ter feito algo de errado...

Maggie podia ter deixado Matt morrer hoje, e dizer que foi um acidente.

Beth poderia ter inventando alguma desculpa para entrar na sala de armas ou até mesmo ela própria poderia ter arrombado a sala...poderia ter feito alguém de refém...

Mas elas confiaram em mim. Confiaram em nós.

Agora farei o mesmo...espero não estar errada...Rey com certeza vai se orgulhar de mim.

— Matt disse que você tinha nos chamado? – Maggie diz e eu balanço a cabeça.

— Ah! Sim...quero que me acompanhem por favor. – digo passando entre elas e abrindo a porta da sala, que nos levaria para o quintal. Elas cruzam um olhar e me acompanham.

Descemos as escadas e cruzamos o quintal. Estamos a alguns metros da Casa B, que é a casa que fica aqui em baixo, onde minha tia morava e agora somente Glenn vive aqui.

— Acredito que vocês não conheceram essa parte da casa ainda! – digo falando com elas por cima do ombro.

— Não, não conhecemos! – Maggie diz e Beth confirma com a cabeça.

— Aqui é o que chamamos de Casa B... – giro a maçaneta da porta e a abro, entrando dentro da casa. Elas entram e olham em volta da casa pequena.

— Nossa! É tipo uma casinha! – Beth diz olhando para dentro da cozinha.

— Quando aqui ainda era minha casa e não esse Forte que é hoje, aqui era onde minha tia e avó moravam. Pensei que estava na hora de dar um quarto apropriado pra vocês. – digo e sorrio fraco, as duas se olham de relance e depois pousam os olhos em mim.

— Você...vai dar um quarto pra gente? – Maggie pergunta, Beth parece atenta na irmã.

O que está havendo? Elas estão estranhas...

— Sim! Porquê não daria? – digo ficando levemente sem graça agora, coloco as mãos no bolso e minha bandana vai junto.

— Não é isso é que...só estamos surpresas. – Beth diz simplesmente.

Acho que elas não esperavam isso de mim. Mas porque? Eu as tratei bem! Não fiz nada errado ou algo do tipo!

— Não fique. Mereceram isso. Não está vindo de graça....aqui, olhe! – eu vou até o quarto a minha direita e empurro a porta para que possam ver lá dentro.

Era onde minha avó dormia...e onde ela recebia convidados.

O quarto era menor do que o outro quarto, a esquerda, onde Glenn dormia. Havia uma cama encostada na parede esquerda e outra cama encostada na parede de frente a nossa, a direita. Dando um formato de “L” para o cômodo. Havia um espaço no chão próximo a cama de frente a porta que imaginei que pudéssemos colocar um colchão ali, já que espero que sejam três pessoas a dormirem nesse quarto. Hershel e suas filhas.

— Nossa... – Maggie diz olhando entrando no quarto com a irmã.

— Sei que não é muito, mas é tudo que podemos oferecer no momento. Isso e ajudar seu pai, claro. – digo a elas.

— Obrigada. De verdade. – Maggie diz e dá um passo em minha direção, ela apoia uma mão em meu ombro – Não sabe o que isso significa.

— Sei sim. Significa que, caso vocês queiram, estão muito bem vindas a ficarem. – digo a Maggie e a Beth e sinto que estou fazendo a coisa certa. As duas sorriem pra mim.

— Mas não achem que a casa é toda de vocês. O Glenn dorme no quarto ao lado, então vão ter que dividir com ele. – digo dando um passo pra trás, pronta pra sair da casa.

— Não é problema! – Beth diz aos risos – Já contou a ele que estamos aqui também?

— Ele saiu com Rey. Quando eles chegarem vou avisar...eu vou até os Telhados pra ver se consigo ver algo lá de cima...acredito que essa parte vocês não conheçam também, mas vou deixar vocês se acomodarem melhor e cuidar dos novos “inquilinos”. Mostro tudo a vocês depois, pode ser? – pergunto a elas que balançam a cabeça positivamente.

Fecho a porta e me direciono ao Quintalzinho, próximo a lavanderia, para que eu pudesse subir as escadas e ir para o telhado.

Preciso saber onde Rey e Glenn se meteram. Lá é um dos pontos mais altos do Forte...vou tentar contata-los e depois vou até o Beco para dar uma olhada por lá...

 

PONTO DE VISTA – MARY

 

(12 dias desde a infecção.)

 

— Eu só...cortei. – Enid me explica enquanto eu cuidadosamente vou tirando o suporte da mão cortada de Killian.

— Não passou nada para desinfetar? – pergunto.

— Só agua oxigenada. – Killian responde com um cara de dor. Após essa informação, tenho quase certeza que deve ter infeccionado.

— Certo vamos tirar isso primeiro, e aí eu vejo com o que estou lidando. – digo a eles que concordam com a cabeça. Eu havia pedido pra Killian se sentar no colchão, Enid estava sentada ao lado dele e eu estava de frente para os dois, examinando sua mão. Hershel respirava profundamente atrás de mim.

Harry entra pela porta, carregando uma mochila preta.

— Aqui os remédios que eles trouxeram. – ele diz com seu tom de voz macio. Eu olho pra ele, pegando a mochila.

— Fica aí, vou precisar de você. – digo pra ele com um sorriso, ele sorri de volta.

— Pra o que precisar. – ele vai e se senta próximo aos pés de Hershel, na cama.

Começo a fuçar na mochila, e tiro cinco frascos de dentro. Respiro aliviada assim que os coloco um do lado do outro no chão.

— Esse frasco azul e esse com a etiqueta grande, coloca do lado da cabeceira do Hershel. Pode dar o azul pra ele agora, duas pílulas. É forte, vai abaixar a febre com certeza. – aponto os frascos e Harry os pega.

Tiro o suporte da mão de Killian, e agora só resta um pedaço de bandagem, com algumas manchas de sangue, amarradas em seu punho.

— Garota, pegue aquela maleta ali, sim? – aponto para a nossa maleta de primeiros socorros que eu deixava em cima da cabeceira do Hershel. Ela a pega e me entrega.

— Vamos trocar essa bandagem. – digo ao homem que balança a cabeça positivamente aos gemidos.

Tiro lentamente a bandagem suja amarrada em seu punho, ele geme mais e mais enquanto eu mexo na área. Quando eu a tiro completamente, meu estômago se revira.

Estava horrível. Definitivamente cortado as pressas. Percebo que não houve nenhuma costura feita no corte, então havia algumas peles penduradas, o que deve ter feito a infecção se originar em primeiro lugar.

— E aí? – ele pergunta enquanto eu encaro o ferimento com uma cara de nojo.

Ainda está sangrando...

— Você não vai gostar de saber do que vou ter que fazer. – digo a ele, que olha pra filha e depois pra mim.

— Pode falar. – ele diz firme.

— Vou ter que queimar a região. – eu digo friamente.

— O QUÊ?! – ouço em uníssono os dois a minha frente dizerem.

— Foi cortado as pressas, tem pele pendurada e infeccionada. Eu posso gastar vários remédios tentando fazer com que a pele não te machuque ou eu posso simplesmente queimar a região, impedindo a infecção de se espalhar pro seu braço, você toma algumas pílulas pra febre e vai estar novinho em folha. – eu digo.

— Funcionou com ele?! – Enid aponta para Hershel. Harry acabara de dar os remédios junto com um pouco de agua pro senhor, que não havia acordado desde sua amputação.

— Não é a mesma situação. Ele ali é um senhor de idade, que perdeu boa parte da perna! Seu pai é um adulto de o quê? 30 anos? – pergunto retoricamente.

— 33. – Killian responde.

— Que seja! Ele tem um sistema imunológico melhor do que o de um idoso! – eu digo e pai e filha se encaram.

— Ela sabe o que está dizendo, pessoal. Se ela diz que é melhor queimar, então é melhor queimar. – Harry diz pra eles e eu agradeço mentalmente por isso.

— Enid... – o pai olha pra ela que espera com expectativa pra ver o que ele iria lhe dizer – saia do quarto.

— O quê?! – ela fala alto desacreditada. Eu gesticulo para que Harry se abaixasse para que eu pudesse lhe dizer algo no ouvido.

— Traga o maçarico, querido. – digo baixo pra ele, que balança a cabeça e me dá um beijo na bochecha antes de se retirar.

— Você ouviu, não quero você aqui! – ele diz firmemente pra filha.

— Fui EU que cortei a sua mão e você tá com medo de eu ver ela queimar?! – ela diz.

— AGORA, ENID! – ele grita com a garota e eu não sei onde colocar minha cabeça. Não queria estar vendo isso. Ela o encara surpresa e vejo uma lagrima surgir em um dos seus olhos.

Ela se levanta furiosamente, batendo o pé e sai pela porta.

Eu fico em silêncio, mexendo nos remédios ali próximos que eram destinados a Killian, fingindo que não tinha acabado de ouvir uma briga. Me levanto devagar e vou até o closet ali ao lado do quarto, pego algumas toalhas e um cinto que estava pendurado ali.

Mais uma vez esse cinto vai ter que servir de torniquete...acho que Carley nem vai quere-lo de volta!

— Não quero que ela presencie mais merda do que já presenciou, entende? – ele me diz assim que me vê novamente.

— Eu não preciso entender. Você é o pai dela, sabe mais do que eu ou que qualquer um. Não se preocupe com impressões. – digo a ele, lhe dando um sorriso fraco. Ele sorri de volta.

Harry chega no quarto com o pequeno maçarico em mãos.

— Aqui está. – ele me dá o maçarico e um isqueiro. Killian respira profundamente enquanto me observa mexer no instrumento.

— Sua namorada é sangue frio, hein? – Killian diz para Harry e eu arregalo meus olhos.

Namorada?!

Harry parece querer sorrir, mas fica transitando o olhar entre mim e Killian, ele gagueja.

— Er..Nós...quero dizer...sim...não...er.. – ele me olha e eu entendo o que quer dizer.

Ele não quer falar nada inapropriado...meu deus, que fofo!

— Falei algo que não deveria? – Killian disse – Estão juntos certo? Porque parece que vocês... – Killian agora é o que está a gaguejar. Rio mentalmente com a situação, mas não posso deixar esses dois atrapalhados assim por muito tempo.

— Não falou não. É recente o que temos, só isso. – eu digo aos risos dando uma piscada pra Harry, que sorri dando um longo suspiro.

— É. Eu estava com medo de falar bosta, sabe como é. – Harry diz se sentando ao lado de Killian. Eu começo a prender o cinto em volta da mão de Killian.

— Sei...medo de ser precipitado. Entendo a sensação! – Killian solta uma risada e depois começa um acesso de tosse. Eu e Harry olhamos pra ele preocupados. Depois que ele para de tossir, termino de prender o cinto em sua mão.

— Deite. – gesticulo para que ele se encoste no colchão. Harry pega uma das toalhas e deixa próxima a mim.

— Deixa sua mão aqui, assim não vai sangue nem pro colchão e nem no chão. – digo dando dois tapinhas na toalha recém colocada ao meu lado.

— Minha filha, está aonde? – ele pergunta pra Harry.

— Ali na sala. Está sentada lá. – Harry responde.

— Tranque a porta ou ela vai entrar aqui...por favor? – Killian diz a Harry.

— Mas...não temos tranca nessa porta e- – Harry começa a dizer, mas eu o interrompo.

— Vigia lá fora então, Harry. Não deixa ela entrar. – eu digo a ele, que parece pensar no assunto.

— Tem certeza? Não quer que eu fique aqui? Pra te ajudar? – ele pergunta e eu balanço a cabeça negativamente.

— É mais importante que ela não entre. Eu consigo me virar. – respondo e ele confirma com a cabeça.

— Certo. – ele se inclina e me dá um selinho rápido, me pegando de surpresa – Boa sorte.

Eu sorrio fraco pra ele, que se levanta e sai pela porta, a fechando logo em seguida.

— Ele disse pra eu confiar em você...Estou confiando. Minha filha precisa de mim, entende? – Killian começa a dizer e eu começo a sentir um gelo na barriga.

— Não se preocupe. Você vai ficar bem. – digo e ele assente.

— Abra a boca. Vou colocar essa toalha pra você morder, é provável que você desmaie. – eu digo e ele murmura um “meu Deus” antes que eu tapasse sua boca.

Pego o maçarico e o ligo com ajuda do isqueiro.

— Me desculpa. – falo antes de apontar as chamas para seu braço. Ele grita estridentemente e morde a toalha com força. Vejo lágrimas surgirem em seus olhos e suas veias pulsarem da testa. Seu braço começa a tremer e eu preciso segura-lo com mais força enquanto foco em manter as chamas no ferimento.

O cheiro de carne queimada toma o ar, eu viro meu rosto de leve para o lado para tossir.

O cheiro! ARGH!

— ME DEIXE ENTRAR! – escuto a voz de Enid saindo do lado de fora da porta.

— Não posso! Se afaste! – a voz abafada de Harry toma o lugar.

De repente os gritos se cessam. Eu olho pra Killian, vejo seu peito subir e descer e respiro aliviada.

Desmaiou.

— VOCÊ NÃO TEM ESSE DIREITO! – a garota grita e escuto uma movimentação do lado de fora, algumas trombadas na porta e alguns barulhos esquisitos.

Estão brigando lá fora!

Eu movimento o maçarico em uma tentativa idiota de apressar o procedimento.

— EI! PARA! – Harry grita do outro lado e a porta se abre de repente. Enid surge e Harry surge logo atrás com a mão no queixo. A garota só fica parada encarando o pai desmaiado com lágrimas descendo pelo rosto.

— Ele-ele... – ela começa a gaguejar.

— Você precisa sair! – Harry entra na frente da menina, tapando a visão dela.

— Ele...? – ela tenta me olhar a todo custo enquanto fica repetindo essa palavra.

Finalmente entendo.

— Ele só desmaiou. Saia pra que eu possa fazer meu trabalho, respeite o que seu pai disse pra fazer, garota! – eu falo rispidamente com ela. Que parece ter tomado um tapa na cara.

— Venha! – Harry puxa a garota pelo braço e sai com ela, que se deixa ser levada, completamente em choque.

Jogo agua oxigenada no braço recém-queimado e começo a passar uma bandagem nova.

Você vai ficar bem. Esses remédios vão te ajudar.

Depois de tudo feito, eu tiro o pano da boca de Killian e o uso pra secar o suor que ali estava. Pego duas pílulas e coloco na boca dele, levanto sua cabeça e pego uma garrafa d’agua que deixávamos ali pra caso Hershel precisasse e faço as pílulas descerem. Ele tosse e depois fica imóvel novamente.

Me levanto e olho em volta, para as manchas de sangue no pano em minha mão e para Hershel deitado na cama. Sinto minhas pernas tremerem e um gelo subir pela minha barriga.

Isso é uma loucura! É muito pra uma pessoa só! Preciso de ar!

Abro a porta, dando de cara com Harry que se apoiava na parede. Ele percebe minha expressão e me segura pelos ombros, tirando uma mecha rebelde que caía na frente do meu rosto.

— Você está bem? – ele diz e eu só consigo assentir e enterrar minha cabeça em seu peito. Ele me abraça forte.

— Po-pode entrar. Ele está inconsciente, mas já fiz o que precisava fazer. – me desvencilho do abraço de Harry e gesticulo para que a filha dele entre no quarto. Ela entra em disparada e nós dois a seguimos.

Enid se apoia na parede e move a cabeça do pai, a pondo em seu próprio colo.

— Vai ficar tudo bem, papai. – ela dá um beijo em sua testa e tira os cabelos suados de sua testa.

Eu me viro pra Hershel.

— Vou levar isso, ok? – Harry aponta para o maçarico e eu assinto. Ele sai do quarto com o equipamento em mãos.

Começo a examinar Hershel, pondo a mão em sua testa quente. Vou até sua perna e troco a bandagem em alguns minutos, passando o restante da agua oxigenada em seu ferimento antes de fechar a bandagem por completo.

— Tem mais na bolsa. Dois vidros pelo que chequei. – Enid me fala.

— Vou precisar deles mais tarde. – Vou até a bolsa e retiro um vidro de dentro.

— Ele está algemado?! Porque? – ela me pergunta enquanto eu deposito o vidro na cabeceira.

— Precaução. Caso ele... – digo, mas acabo me interrompendo.

O pânico sobe pelo meu estômago. Lágrimas começam a se formar.

Ele não está respirando!

O peito de Hershel parara de subir e descer.

— MEU DEUS! – eu corro até Hershel e ponho minha cabeça em seu peito.

Nada!

— O QUE HOUVE?! – Enid se levanta depois de colocar a cabeça de seu pai no colchão rapidamente e fica próxima de mim.

— ELE NÃO ESTÁ RESPIRANDO! – eu coloco ambas minhas mãos no peito de Hershel e começo a fazer uma reanimação.

Um...dois...três....quatro...

Flashes invadem minha cabeça. Flashes de quando eu fazia o mesmo com Tasha.

Tasha...

Tampo o nariz de Hershel e faço uma respiração boca a boca, expirando três vezes.

Você não conseguiu com ela...

— Um...dois...três...quatro...cinco... – repito o processo tentando ignorar minha própria mente.

Não vai conseguir.

— Por favor...por favor...POR FAVOR! – respiro em sua boca três vezes novamente.

Lembra de Tasha, Mary?

— Cale a boca....cale a boca! – eu grito na sala e Enid se assusta. Se afastando alguns passos.

Agora você parece louca. Parabéns.

Começo a dar socos no peitoral de Hershel, lembrando de um tipo de reanimação mais drástica. Depois de cinco porradas, me inclino para fazer uma nova respiração boca a boca.

Quando estou próxima a ele, ouço Hershel respirar profundamente e sua mão se mover até minhas costas numa reação imediata. Eu grito pois tenho certeza que quem voltou não está mais vivo, até que sou puxada por alguém para longe. Meu cotovelo bate na garrafa de água oxigenada e o vidro se quebra no chão, derrabando agua pra todos os lados.

Enid me segurava com força. Ela havia me puxado para longe de Hershel assim que viu ele reagir, algo que agradeci mentalmente pois ele iria rasgar a minha cara.

Quando eu mal podia sentir minhas lágrimas se formarem pela derrota de reanima-lo, percebo que Hershel não tinha aquele certo brilho no olhar que os zumbis tinham. Seu peito subia e descia rapidamente e ele olhava para os lados sem mover a cabeça.

Eu...eu....

— Conseguiu! Conseguiu!! – Enid disse animadamente com um sorriso no rosto.

— E-eu... – me desvencilho dela e caminho até Hershel. Ele põe os olhos em mim e começa a piscar rapidamente.

Ele está vivo! Ele está acordado! Ele não estava virando um zumbi! Eu o trouxe de volta!

EU CONSEGUI!

— Consegui.... – eu digo baixo com ele ainda olhando em meus olhos. Eu não consigo segurar um riso. Levo minhas mãos até meu rádio e aperto o botão ali.

— Mary para Carley, na escuta? Carley preciso que venha até o Hershel, câmbio. – digo para o rádio e espero uma resposta, que não vêm ao longos dos segundos.

— Carley? Na escuta? – repito.

Nada.

— Ele acordou Carley, preciso de você aqui! Câmbio! – falo novamente. Nada.

O que está acontecendo?!

— Enid! – chamo a garota que ainda encarava a situação toda – Sabe quem é a Maggie?

— A filha dele? – ela aponta para Hershel que agora transitava seu olhar entre mim e Enid. Ele murmurava coisas incompreensíveis. – olhos verdes, morena?

— Isso! Quero que chame ela, e a irmã também! Beth! Provável que esteja com ela...diga que o pai delas acordou e que... – sou interrompida quando meu rádio faz um barulho, eu escuto a voz de Carley sair dele.

TODOS NO PORTÃO, ARMADOS, AGORA! REY E GLENN NÃO ESTÃO SOZINHOS! – Carley grita pelo rádio.

Enid me olha confusa, sem saber o que fazer.

— O que está acontecendo?! – ela pergunta, mal sabe ela que estou tão confusa quanto ela.

— Chame as filhas dele. Rápido! Ele precisa das filhas! – respondo a ela, tentando agir com naturalidade. Enid se afasta com uma expressão confusa da sala, parecendo que tinha algo a mais para dizer.

O que está acontecendo?!


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Notas finais do capítulo

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