The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 38
Temos Que Esperar


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal! Quero informar que logo logo teremos um hiatus! Quero dividir a história em duas temporadas e vocês serão avisados quando isso estiver prestes a acontecer! Não se preocupem, por enquanto ainda há muitos capitulos pela frente!

Aproveitem esse loooooooooooooongo capitulo! Vejo vocês nas notas finais!



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PONTO DE VISTA – MATT

 

(11 dias desde a infecção.)

 

— Façam com que ele não se mexa. – as palavras saem da boca de Carley, mas eu não consigo acreditar na ideia que ela teve.

Ela quer cortar a perna do cara fora

— O quê...? – Glenn começa a dizer, todos olham para Carley.

— AGORA! – Ela grita e parece que todos tomaram um choque. Glenn sobre na cama, passando por cima do senhor, ele põe seus braços sobre o peito do homem e vejo que faz força para baixo.

— Matt! Me ajuda! – Glenn grita pra mim que estou mais próximo, eu não tinha conseguido me mexer ainda. Uma força toma minhas pernas e eu consigo andar em direção ao idoso, decido segurar a cintura e sua outra perna boa, que é a direita.

Carley dá dois passos para o lado, ficando a centímetros de mim e de frente para a perna infectada que agora mais parece uma poça de sangue. Assim que vejo que ela está muito próxima de mim me arrependo de não ter ido segurar os ombros do senhor de idade.

Eu vou ver de camarote! Não! Não! Não!

Chacoalho meu rosto, tentando voltar para a realidade.

— Tira elas daqui, Rey! – Carley grita. Acredito que esteja falando sobre as outras duas mulheres estranhas, a loira e a morena.

— Venham! Por favor! – viro minha cabeça para Rey e o vejo puxar a loira para fora do quarto, mas a morena se desvencilha de seu toque e começa a ir em direção ao senhor na cama.

— Eu vou ficar! – ela passa as pernas por cima da cama, ficando bem atrás da cabeça do homem. Com uma das mãos ela segura o rosto do idoso, e a outra ela apoia o ombro. Glenn e Carley a olham impressionados.

— Segurem firme! – Carley grita e começa a levantar os braços, erguendo a espada acima da cabeça. Eu fico em uma mistura de querer ver o que vai acontecer com querer virar meu rosto imediatamente. O idoso agoniza na cama, recheado de dor.

Ela vai realmente fazer isso?! Ela...

Olho para Carley e vejo que ela pisca com muita frequência. Suas mãos suadas e ensanguentadas apertam o cabo da espada fortemente...nem parei pra pensar da onde ela tirou aquela espada. Imagina sua amiga sai pra um ronda e volta com uma ESPADA DE VERDADE!

Ela murmura coisas para si mesma e vejo seu peito subir e descer rapidamente...claramente nervosa.

Ela vai cortar mesmo. Ela vai cortar mesmo!

— Um...– ela conta em voz alta, ao começar a contagem ela abaixa a espada, até encostar a lâmina abaixo da patela do senhor. Depois, começa a subir a lâmina novamente.

— Dois... – Carley aperta o cabo da espada. A morena desconhecida vira o rosto para a parede e vejo Glenn engolindo seco e mordendo lábio inferior.

— Três! – como se tivesse saído diretamente de um filme de terror, Carley encerra a contagem descendo o braço com velocidade até a perna do idoso. Eu tenho um espasmo ao ver a espada presa abaixo da patela do senhor, que grita sufocado pela fronha em sua boca. O barulho da carne sendo cortada me arrepia, e ao lembrar que é carne de alguém que está vivo me faz querer vomitar.

Carley geme e faz força para tirar a espada dali, fazendo um barulho nojento. Eu não consigo aguentar mais a visão daquilo e viro o meu rosto para o teto, suspirando profundamente.

— Se-Se-Segura...segura! – ouço ela dizer. Escuto novamente o barulho da carne sendo atingida, mas os gritos sufocantes cessam, o que me faz olhar para o senhor de idade. Ele está agora com os olhos fechados, e não faz nenhum tipo de resistência. Meu coração acelera.

ELE...? ELE...?!

Carley puxa mais uma vez a espada. A perna não havia sido cortada por inteiro, pouso meu olhos momentaneamente sobre o ferimento e quase vomito novamente. Agora só havia no mínimo dois dedos de carne com apenas alguns nervos segurando tudo junto.

Sem hesitar, Carley desce a espada uma última vez e a parte inferior da perna do idoso se solta do resto. Logo após isso, Carley dá alguns passos pra trás, completamente trêmula. Eu olho para a perna cortada e ensanguentada do homem e aguardo as próximas ordens de Carley.

Mas isso não acontece. Todos a olham com expectativa e transitam os olhares entre ela e o senhor.

O QUE ESTÁ HAVENDO?!

Carley está tremendo mais do que nunca, ela parece um fantasma. Ela fica fitando a espada ensanguentada em suas mãos igualmente encharcadas, mexendo o lábio inferior como se quisesse dizer alguma coisa, mas nenhum som sai. Sua respiração está acelerada. Fico olhando para todo aquele sangue na cama e o desespero sobe.

MEU DEUS! O QUE ESTÁ ACONTECENDO?! O QUE FAÇO?!

Eu não ia esperar! Aquele homem estava morrendo! Não esperaria por Carley!

Me levanto bruscamente soltando a perna boa do homem, olho em volta parecendo um cego em tiroteio a procura de algo que eu possa usar para a ferida.

— VAMOS! VAMOS! NÃO FIQUEM PARADOS! – grito pra todos ali, que só conseguem ficar mais perdidos.

Não há nada nesse quarto! Eu tenho que ir a cozinha!

Quando ameaço correr pra cozinha, Harry estende na minha frente um frasco em que se pode ler “Agua Oxigenada”.

— AQUI! PEGA ISSO! – ele praticamente joga o frasco na minha cara. Eu o pego rapidamente e vou em direção ao idoso enquanto Carley continua no mesmo estado de antes, mas agora ela transita seu olhar entre o senhor e sua própria espada.

— O MAÇARICO, HARRY! PRECISAMOS DE FOGO! – Mary grita pra Harry enquanto eu abro o frasco.

— O QUE?! – ele grita de volta.

— VAI! VAI! - Vejo com o canto do olho Harry sair em disparada pela sala. Enquanto eu despejo a agua oxigenada no ferimento ali.

Não faço ideia do que estou fazendo! Só sei que tenho que jogar isso, e depois...EU NÃO SEI!

— Ma-ma-Mary! – Chamo Mary após ela mesma me lembrar que é a única que tem noção básica de cuidados aqui...me lembro subitamente que ela fez um curso de técnico de enfermagem.

Me viro para encara-la  e percebo Carley dando passos para trás, ela vai se aproximando da porta, suas mãos tremem tanto que a espada desliza e cai no chão, o manchando de sangue. Ela só encara a espada, não a recolhe.

Ela está tendo uma crise!

— Segura isso assim! – Ela pega os lençóis do chão e os aperta contra a ferida. Ela gesticula com a cabeça dizendo que era pra eu tomar seu lugar. Eu coloco o frasco na cabeceira e tomo o lugar de Mary, usando toda minha força para apertar o ferimento.

— E-ele...ele? – não consigo finalizar minha pergunta enquanto olho para o idoso agora silencioso. A morena desconhecida encosta dois dedos na jugular do homem, depois os afasta rapidamente.

— N-Não. Ele tá vivo! TÁ VIVO! – a mulher grita e parece uma mistura de empolgação com preocupação. Ela passa as costas da mão nas lágrimas que caíam.

Harry entra subitamente na sala com um pequeno maçarico culinário em mãos, ele esbarra em Carley que parece sair do transe. Eu a observo enquanto Mary pede o instrumento aos gritos para Harry.

E é assim que vejo Carley simplesmente se retirar da sala a passos rápidos.

COMO ASSIM ELA SAIU?! ELA FOI EMBORA?! SIMPLESMENTE FOI EMBORA!

Eu encarava a porta atônito até Mary me empurrar para o lado e eu voltar para a realidade. Ela agora sentava na cama, de frente com o ferimento.

— Segura a perna dele pra cima! – ela gritou e Harry fez o que ela havia pedido, tirando o lençol todo ensanguentado do restante da perna do homem e jogando o tecido no chão. Mary pegou o isqueiro que Harry também tinha trazido e o usou para dar uma faísca para o pequeno maçarico. Assim que aceso, ela virou o instrumento para onde havia sido amputado.

O barulho era perturbador. O som era parecido com o de uma gordura sendo frita...como se você pegasse um bife e jogasse somente a parte gordurosa em uma panela de óleo quente. Fiz uma careta enquanto ouvia esse som.

— Depois disso, joga mais daquele frasco. Glenn vá pegar a bolsinha de primeiros socorros! – Mary falou rapidamente enquanto continuava com o trabalho. Assim que ela terminou de falar, Glenn saiu ofegante pela porta.

— Maggie! Vá pra sala, ok? Fica com sua irmã! – Mary se virou para a mulher estranha que agora eu sabia que se chamava “Maggie” – Eu só vou terminar aqui, jogar mais agua oxigenada e enfaixar. Depois teremos que esperar e dar antibióticos, não é necessário mais gente aqui.

— T-tá... – a tal da Maggie saiu cambaleante da cama, se apoiando nas paredes. Parecia tonta e estava pálida. Mas antes de sair, ela se virou para nós novamente:

— Ma-Mary...você acha que... – ela começou a dizer, mas Mary a interrompeu.

— Não pense nisso. Só saia. – Mary disse rudemente, Maggie apenas balançou a cabeça e saiu do quarto. Acho que ela estava prestes a desmaiar ou algo do tipo, estava parecendo um fantasma. Estava tão branca quanto...

— Tira aquela coisa dali e vai procurar a Carley, Matt! Rob, você sai também. – Mary disse para mim enquanto gesticulava para a espada no chão.

— C-Certo. – eu digo passando as costas da mão na testa, tentando limpar o suor. Rob nem diz nada e sai em disparada pelo quarto com lágrimas nos olhos. Glenn passa pela porta com uma bolsinha branca nas mãos que eu reconheço como o nosso kit médico.

— Aqui! – ele segura trêmulo a bolsa e a mostra pra Mary.

— Deixa ali, só vamos usar quando terminar aqui. – Mary diz a Glenn e depois se vira para a perna a sua frente – Fecha a porta quando sair Matt, ninguém entra aqui além da Carley. Você pode ir também, Glenn.

Eu sinceramente não entendo como ela pode estar pensando tão rápido assim...

Nota mental: Curso de Enfermagem é importante.

Balanço a cabeça, pego a espada no chão e saio da sala fechando a porta, como ela havia me pedido. Glenn vem logo atrás de mim.

Droga! Isso é mais pesado do que eu pensava!

Rey anda de um lado para o outro enquanto rói uma de suas unhas, as duas irmãs estão sentadas em um dos banquinhos que ficavam postos em volta da churrasqueira pequena no meio da sala. A loira apoiada com a cabeça no ombro da morena...Maggie. Ambas com os olhos vermelhos cheios de lágrimas. Rob encara a parede com lágrimas presas nos olhos, completamente petrificado.

Vou até Rey enquanto Glenn se senta em um dos bancos.

— O que aconteceu? Você viu a Carley? – pergunto baixo. Rey respira fundo e limpa uma lágrima que estava prestes a cair do rosto.

— Eu...eu não sei. Foi tudo tão rápido que eu nem mesmo pude... – ele tenta dizer, mas não consegue finalizar suas próprias falas. Rey abaixa a cabeça, morde o lábio inferior e suspira.

— Mary e eu encontramos eles. Hershel e as filhas, Maggie e Beth. – ele diz baixo e aponta com a cabeça para as irmãs que choravam, elas nem sequer perceberam.

— Os tiros de mais cedo vieram delas, o cara foi tentar salvar a família. Mary e eu fomos ajudar, mas acabamos ficando presos junto com eles num bar. Carley foi salvar a gente depois que Maggie foi busca-la na ponte. Os zumbis chegaram e o resto... – ele suspira mais uma vez – você viu.

Eu balanço a cabeça, pensativo.

— E Carley? Viu pra onde ela foi? – pergunto novamente a ele.

— O que aconteceu lá dentro? Ela passou por mim toda ensanguentada e pálida...seguiu pro corredor. Eu não a segui com medo de que ela estava indo buscar alguma coisa...não queria atrapalhar. – ele me responde – O que houve?

— Ela... – respiro fundo antes de dizer. Eu não acreditava ainda no que tinha acontecido, simplesmente era muito pra processar de uma vez.

—...cortou a perna do cara fora. Tipo, tirou a parte infectada fora! Com uma porra de espada que eu não faço ideia de onde tirou! – eu digo com os dentes cerrados para que as garotas ali próximas não me ouvissem, erguendo um pouco a espada na qual eu segurava pelo cabo, com a lâmina virada pra baixo. Rey vai com a mão até a boca.

— Ela amputou o Hershel?! – Ele diz e eu balanço a cabeça. Ambos ficamos fitando o chão ainda em choque.

— Talvez achou que funcionasse...nunca tentamos isso antes. – Rey diz ainda sem me olhar. Eu só dou dois tapinhas em seu ombro antes de começar a me movimentar novamente.

— Preciso achar ela. Fica de olho. – falo pra Rey que confirma com a cabeça.

Entro no corredor, mas não preciso procurar muito já que eu vejo a porta do banheiro quase fechada. Escuto a torneira aberta e respirações ofegantes.

— Carley? – ponho a mão na porta, a empurrando suavemente. Ela estava lá, mas o que vejo é surpreendente para mim.

Carley parecia desesperada. Ela esfregava as mãos e os braços desenfreadamente, querendo se livrar de todo o sangue que havia. Eu estava ficando desesperado em vê-la daquele jeito, ela esfregava tão forte que parecia que sua pele iria sair em alguma hora. Ela parecia não perceber a minha presença, fui até ela e toquei seu braço, o que a fez pular de susto.

— Carley! – a chamei novamente, e ela olhou pra mim.

Vi em seus olhos avermelhados algo que não via nela fazia dias...

Medo. Ela está com...medo?!

Ela engoliu seco e voltou sua atenção a água que caia, voltou a esfregar uma mão na outra desesperadamente. Suas mãos quase limpas agora.

— Mary está com ele, ela quer que você vá lá. - digo pra ela, que balança a cabeça negativamente.

— Não! Não posso ir pra lá agora! – ela volta a esfregar os braços, que já estavam limpos mas ela insistia em ficar ali. Eu fico boquiaberto.

— Pode sim! Você vai voltar pra lá! – eu falo pra ela, que volta a balançar a cabeça.

— Não entende...não entende... – ela começa a murmurar pra si mesma e eu reconheço o seu estado como o mesmo que ela estava quando viu Ross ser morto.

Ela pirou de vez!

Preciso tirar ela dessa agora! Precisamos dela!

— Me escuta! – seguro seu braço e a faço virar pra mim. Ela rapidamente tira minhas mãos dela, me empurrando.

— Tira a mão de mim! – agora eu vejo raiva nos seus olhos úmidos. Ela me encara enquanto respira pesadamente, suas mãos ainda trêmulas e percebo que sua sobrancelha também treme.

É um surto nervoso! Ela está simplesmente surtando!

— Tirei! Tirei! – ergo as mãos pra cima em rendição – Mas você precisa me escutar! – aponto pra ela, finalmente tenho sua atenção.

— Você não pode simplesmente sair assim! É a vida de uma pessoa que está em risco!

— EU CORTEI A PERNA DE UMA PESSOA – ela fala bem próxima ao meu rosto antes de esbarrar em mim saindo do banheiro. Ela vai pra cozinha, mas eu a sigo.

— VOLTA AQUI! – eu grito na direção dela, que para, quase na porta da área externa. Ela se vira pra me olhar. Eu vou até ela novamente.

— Você teve uma IDEIA ali dentro! Pensou rápido! Era a única coisa que podia fazer! Ou ele morria ou ele podia ganhar a chance de ser salvo! Temos que esperar agora pra ver o que acontece, mas até lá você vai ficar AQUI!— digo furioso pra ela, dando ênfase no “aqui”. Já estava cansado! Ninguém podia surtar agora!

Não era ela que dizia que “ninguém podia surtar”? “Eles ou Nós”? Que porra!

— Eu estava lá dentro também! Eu não consigo imaginar como foi pra você ter que fazer isso... mas você mesma já disse que as coisas ficam nas suas costas! Não é por querer que fazemos isso, é só que as coisas funcionam assim! Você mantém esse lugar em pé, se você não estiver com a gente agora, isso aqui vai virar um caos! – ela continua a me olhar fixamente nos olhos enquanto treme os lábios.

— Então, PARA COM ESSA PORRA E VOLTA LÁ PRA DENTRO! – eu não percebo quando faço, mas acabo de gritar na cara dela. Ouço passos atrás de mim, me viro e vejo Rey e Rob parados na porta, os dois chocados.

Me viro novamente para encara-la, completamente sério e meio chateado comigo mesmo por ter sido insensível e ter perdido a linha. Ela estuda minha expressão, parece chocada e ao mesmo tempo pensativa, não vejo raiva em seu olhar. A cozinha fica no silêncio.

Ela passa a mão no rosto, o umedecendo um pouco. Respira fundo e finalmente parece notar que eu seguro a sua espada ensanguentada, seu olhar parece enfraquecer ao olhar pra a lâmina. Por fim, ela olha pra mim uma última vez antes de andar em direção ao corredor. Rob e Rey abrem o caminho quando ela passa por eles.

Nós três ficamos olhando uns para os outros, sem entender muito bem o que poderia acontecer, ou o que ela faria.

Só sei que eu precisava dar esse chacoalhão nela. Assim como ela fez inúmeras vezes conosco.

PONTO DE VISTA – HARRY

 

(11 dias desde a infecção.)

 

— Me passa a água...Pode abaixar a perna dele. – Mary diz pra mim. Estamos sozinhos no quarto. Eu abaixo a perna do idoso cuidadosamente e pego o frasco, entregando pra ela logo em seguida. Ela me devolve o maçarico.

O sangramento havia diminuído consideravelmente agora, ela realmente sabia o que estava fazendo, eu presumo. Suas mãos sangrentas começam a abrir o frasco, eu sento na beirada da cama e fito meus pés enquanto abaixo a cabeça.

Eu não acredito em nada que esteja acontecendo...quer dizer...eu não devia me surpreender com nada a essa altura do campeonato mas...

Porra! Uma amputação?! Ao vivo?! COM UMA ESPADA?! Nem nos meus piores pesadelos.

Agora posso dizer que já vi de tudo eu acho...não. Nunca vou dizer isso.

— Você tá bem? – escuto ela dizer e levanto minha cabeça. Percebo que havia algumas lágrimas presas nos meus olhos, as limpo rapidamente antes de encarar Mary.

— Tô. – digo simplesmente, balançando a cabeça – Estou sim.

Ela me olha rapidamente e depois volta sua atenção ao idoso, despejando água no ferimento. Eu pego o kit no balcão e começo a tirar as bandagens dali de dentro. As seguro na mão esperando que ela as peça pra mim no momento certo.

Depois que de passar a água oxigenada, ela só estende a mão em minha direção e eu entendo que é pra eu dar as bandagens para ela. As entrego e ela começa a fazer o curativo.

— E você? – pergunto a ela, que levanta a cabeça pra me olhar.

— Hã? – ela pergunta.

— Você está bem? – refaço minha pergunta.

— Ah... – ela abaixa a cabeça para o ferimento novamente – Sim...estou bem.

Ficamos em um silêncio desconfortável por alguns minutos.

— Precisamos de remédio não é? – pergunto a ela, que balança a cabeça positivamente enquanto dá um nó na bandagem, finalizando seu trabalho.

— Sim. Precisamos de antibióticos. Qualquer coisa que evite uma infecção... – ela se levanta e vai até o kit – precisamos ficar de olho na febre dele também. Caso...você sabe. – ela tira o termômetro e deixa fora da bolsa, depois ela vai e se senta no chão, próximo a porta. Eu levanto da cama também e sento ao seu lado.

Fito minhas mãos cheias de sangue e ela estica suas pernas no chão e encosta a cabeça na parede. Ambos em silencio por um breve período de tempo.

— Isso é loucura.- ela diz quase como um sussurro.

— É...surreal. – respondo ainda fitando minhas mãos.

— Por um momento achei...que tudo ia dar certo. – continuo meu pensamento fechando meus olhos.

— Mas vai dar. Tem que dar... – ela fala e eu abro meus olhos para olha-la. Nossos olhos se encontram.

— Você não acha que vai dar certo? – ela pergunta ainda me encarando.

— O cara perdeu a perna...por mais que você seja incrível ninguém aqui é médico... – digo e ela sorri fraco. Eu não entendo inicialmente o porquê, mas assim que fecho meus olhos ao encostar na parede noto que a chamei de “incrível” do nada.

Burro.

— Ele é. O cara. – ela diz e eu mais uma vez volto a abrir meus olhos. Mas não a encaro.

— É? – indago.

— Bom...mais ou menos. Ele é veterinário...tem noção de algumas coisas. O nome dele é Hershel. – ela explica.

De repente, sinto a cabeça de Mary encostar no meu ombro. Eu encosto minha cabeça na dela e ficamos nessa posição por mais algum tempo. Eu relaxo um pouco.

Merda Harry...o que está fazendo?

Fecho meus olhos um pouco. Ela se ajeita no meu ombro e sinto os pelos do meu braço se arrepiarem.

Que porra?

— Quer dizer que eu sou incrível? – escuto ela dizer, e eu rio nasalmente, tirando minha cabeça de cima da dela.

— Não se acostuma. Não foi sério! – digo. Ela ri nasalmente.

— Não é? – ela diz e eu viro para olha-la.

É claro que foi.

— Não... – respondo, mas não sei o que aconteceu que eu não consigo desfazer nosso contato visual. Ficamos nos encarando e ela parece...diferente. Me perco em seus olhos e percebo que estamos nos aproximando aos poucos, sinto que sou uma imã e ela uma placa metálica.

Eu não paro. E nem ela. Consigo sentir sua respiração próxima a minha...

Quando de repente a porta abre e nós dois nos assustamos, tomando distancia novamente. Carley entra pela porta e vai direto até Hershel, eu e Mary parecemos ter acabado de levar um choque. Nos olhamos rapidamente e eu sinto meu rosto corar enquanto ela se levanta do chão. Me levanto logo em seguida.

— O que pode me dizer? – Carley pergunta para nós sem ao menos nos olhar. Ela parece estudar o homem a nossa frente.

— Eu passei o maçarico na ferida dele pra cauterizar. Depois joguei a agua oxigenada e enfaixei. A gente precisa de antibióticos pra dar pra ele, e precisamos controlar a febre porque com certeza ele vai ter. Agora tem que esperar, mas ele não pode ficar sozinho. Temos que chegar de hora em hora. – Mary explica e Carley olha pro relógio em seu pulso.

— Logo fica de noite. Acendam as velas, quero alguém aqui a cada uma hora. – ela diz e logo ouvimos passos atrás de nós. Rob, Rey, Matt aparecem a porta.

— Um de vocês, vá pegar uma algema. – ela fala pra eles e é Rey que sai em busca da algema.

— Eu fico na primeira hora, só preciso que alguém fique aqui por enquanto só pra eu ir me lavar no banheiro. – Mary diz.

— Eu fico. – respondo a ela, que balança a cabeça confirmando pra mim. Me sinto desconfortável e sem graça perto dela depois do que aconteceu.

— Na saída, chama as meninas na sala e pede pra elas virem aqui, Mary. – Carley diz e Mary sai do quarto. Escuto ela falar com as garotas na sala e logo em seguida ouvimos o barulho de bancos se arrastando. Não demora muito até as duas meninas que estavam na sala surgirem entre Rob e Matt, entrando na sala. Glenn logo atrás delas.

Ambas estão com os olhos muito vermelhos, a morena tem o braço em volta da loira. Elas olham com expectativa para Carley e parecem se controlar para não cair em prantos assim que veem o idoso na cama.

— Vamos ter que esperar agora. Mary cuidou dele da forma que podia. De uma em uma hora vocês verão alguém do meu grupo aqui para vigia-lo... – Carley diz e Rey aparece na porta com as algemas em mãos, ele as entrega para Carley.

— Isso é uma precaução...nada mais. – Ela prende a algema na mão esquerda de Hershel, e prende a outra parte na cabeceira da cama.

— Vocês podem ficar na casa de baixo se quiserem... – Carley começa a dizer lentamente.

— Não. Se não se importa, queremos ficar aqui com ele. – a loira diz e a morena balança a cabeça em concordância.

— Não tem outra cama aqui. – Carley diz.

— Ficamos no chão, não ligamos. – a morena desconhecida responde.

— Posso pegar um colchão na casa de baixo...certo? – Glenn diz para a morena e depois se vira para Carley, buscando confirmação.

— Faça isso, Glenn. – Carley diz e Glenn confirma com a cabeça, saindo do recinto logo em seguida.

— Bom...vamos deixar vocês agora. Mary ficará com vocês, podem perguntar pra ela sobre o procedimento que ela fez. Com licença. – Carley diz e começa a andar, mas antes que atingisse a porta, a morena desconhecida segura sua mão a impedindo de sair.

— Obrigada. – ela diz, e depois transita seu olhar para todos na sala – A todos.

Carley olha para a mão que a segurava, respira fundo e depois encara os olhos verdes da morena.

— Me agradeça quando ele sair dessa cama. – Carley diz se desvencilhando do toque da morena e seguindo pela porta. Todos os demais fazem cumprimentos com a cabeça antes de sair. Só ficamos eu e as garotas no quarto.

Elas ficam analisando o homem na cama enquanto eu me sento no chão.

—Não é bom trocar esses lençóis? Quero dizer...não pode...faze-lo piorar? – a adolescente loira fala pra mim, eu mordo o lábio inferior e dou de ombros.

— Não sei dizer se é bom mexer nele agora.  Talvez se... – começo a dizer até que sou interrompido por Mary que acabara de chegar.

— Podemos trocar os lençóis sim. É bom, na verdade. Só temos que ter cuidado, sim? – Mary diz transitando seu olhar entre as meninas e eu. Confirmo com a cabeça o que ela acabara de dizer.

— Pode pegar lençóis limpos? – ela se vira pra mim e eu me levanto pela 500ª vez nos últimos minutos, indo em direção aos armários próximos. Acho alguns lençóis e levo de volta pra Mary.

Juntos, nós quatro ali conseguimos cuidadosamente trocar os lençóis, levantando algumas vezes Hershel para que pudéssemos passar o tecido abaixo dele.

Feito isso, me preparo pra me retirar.

Eu tenho um jantar pra fazer.

— Bom...eu diria que foi um prazer mas...não foi. Quero dizer, não nessas circunstancias. – falo erguendo a mão pra morena desconhecida, ela e a irmã riem nasalmente e Mary sorri fraco.

— Maggie. – ela aperta minha mão.

— Beth. Obrigada mais uma vez. – a loira aperta minha mão também e eu balanço a cabeça.

— Me chamo Harry. – digo a elas – Venho avisar quando o jantar estiver pronto.

Mary faz uma careta.

— Cuidado meninas. Ele não é bom na cozinha! – ela diz e as meninas sorriem fraco enquanto passam as mãos nos próprios olhos.

— A dela é pior! Ainda bem que não vou ter sua ajuda! – eu digo e me viro pra porta.

— Não fale tão cedo! – escuto ela dizer atrás de mim, eu olho por cima do ombro e sorrio para ela antes de fechar a porta.

Não há ninguém na sala. Ouço a porta da sala abrir e vejo Glenn trazendo um colchão. Passo por ele e vou em direção ao banheiro, preciso me lavar também.

Chegando lá, espero Matt terminar de se levar para começar então a minha vez. Levo alguns minutos até que o sangue saia totalmente.

Chegando na cozinha, vejo Carley e Rey organizar as coisas que tinham encontrado, Rob acende as velas da cozinha, a noite já estava prestes a chegar.

— Não deu tempo de pegar nada...sinto muito Carley. – Rey diz pra ela, que vai retirando aos poucos algumas coisas de sua mochila.

— Amanhã sairemos de novo. Aí você pode compensar em outro lugar...não voltaremos lá tão cedo, mas uma hora temos que buscar aquele carro deles... – ela diz e Rey começa a ajudar a tirar as coisas da mochila.

— Vou buscar as mochilas, ficaram lá no portão... – Rob diz e começa a sair pela área e eu vou em direção aos armários, pra ver o que farei para o jantar.

— O que teremos de bom hoje? – Rey pergunta.

— Huum...talvez macarrão. Não temos tanta variedade assim. – digo depois de avaliar os armários. Conseguiremos sobreviver por mais algumas semanas, mas agora tinha três bocas a mais para alimentar e eu não sabia dizer se isso seria permanente.

— Temos que buscar mais comida. Amanhã temos que listar os alimentos que temos de novo, riscar o que comemos e adicionar o que trouxemos. – Carley diz enquanto coloca alguns enlatados no balcão.

— Eu faço isso, pode deixar. – Rey diz e Carley assente. Eu pego os pacotes de macarrão e alguns de molho e vou me direcionando ao balcão próximo ao fogão. Despejo agua que pegamos do rio dentro da panela e ponho pra ferver. Não haveria problema, já que sempre fervíamos a água antes de usa-la, e necessitaríamos de agua fervida para fazer o macarrão.

Alguns minutos se passam e Rob volta com as mochilas. Os três ficam ali na cozinha comigo, retirando tudo que há nas mochilas. Eu espero a agua ferver enquanto os observo trabalhar.

— O que é isso? – Carley pergunta retirando um colar dourado com a letra “M” de dentro de uma das mochilas.

Minha mochila.

Oh! Oh!

— Não é nada! – vou rapidamente até Carley e tiro o colar de suas mãos. Todos me olham curiosos.

— Ahn...nada? – Carley diz e vejo sua expressão mudar de curiosa para maliciosa.

— Não é naaada, né? – Rey provoca.

— Vão se fuder todos vocês. Não é nada mesmo! – eu digo e coloco o colar no bolso da calça. Escuto risinhos atrás de mim enquanto volto pra panela.

Começo a jogar o macarrão dentro da panela quando ouço alguns cochichos...que porra!

— Parem. – falo e eles riem mais um pouco antes de ficar totalmente em silencio. Olho por cima do ombro e eles todos estão se olhando maliciosamente.

Filhos da puta!

Reviro meus olhos e volto minha atenção para o macarrão.

— A desgraça acontece mas o amor sobrevive, hein! – Matt diz e todos na cozinha explodem em risadas, com exceção de Carley que sorri com os lábios fechados depois de segurar a própria risada, colocando a mão no rosto.

— Porra, meu! Logo é aniversário dela gente! Só isso! – digo a eles na defensiva. Quem eles pensam que são pra julgar tão rápido? – Se as contas estiverem certas, é daqui a dois dias!

— Ah, deve ser por isso mesmo. –Carley diz e os outros seguram a risada.

— Vocês são uns bostas... – falo balançando a cabeça negativamente.

Mas porque você tá tão incomodado mesmo?

Fico pensativo e foco em tentar terminar aquele macarrão sem queimar.


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Notas finais do capítulo

Eaí? O que acharam? Debatam comigo nos comentários! O que acham que vai acontecer? Hershel vai ficar bem? E sobre o Harry?

Vejo vocês terça!



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