The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 30
Você é a General.




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PONTO DE VISTA – ROB

 

— Acabou? Como assim acabou?! – eu digo piscando dolorosamente. Meus olhos doíam devido as lágrimas despejadas hoje, eles estavam levemente inchados.

Carley dobrou o papel ao meio e o entregou para mim para que eu começasse a ler. Ela nem me olhou ao fazer isso, seus olhos estavam arregalados e fixos no chão.

Abro o papel.

Matt...

      Não há muito tempo para escrever, mas quero que você encontre algo para trás caso tudo dê errado. Eu, seu pai e seus irmãos estamos indo para o Centro de Sobrevivência, um local que fica na fronteira do estado que foi criado na intenção de acolher a todos e a deixa-los em segurança.

     Ouvimos no rádio que deveríamos todos partir imediatamente para o Centro, e que a policia e o serviço militar ia se prontificar para nos fazer chegar lá em segurança. A policia veio até aqui em casa, eles me disseram tudo. Eu me recusei a sair alegando que você estava fora e que não ia deixa-lo para trás, mas eles me asseguraram que iam te transportar e que vamos nos encontrar lá. Deram a palavra deles.

   Eles me disseram que todas as unidades do Centro da Cidade foram dominadas...e por isso agora estavam nesse estado de emergência, querendo levar todos pra fora o mais rápido possível. Eles todos tentaram me acalmar quanto a situação, mas ouvi em uma conversa deles com seu pai que a situação esta desesperadora. Mortos voltando a vida, atacando os vivos...é loucura! Mas é o que está acontecendo. Ouvi até mesmo que havia um tanque de guerra na Cidade! Como eles conseguiram sobrepor um tanque de guerra?!

De qualquer forma, o centro foi dominado. Eles disseram que as unidades nas avenidas principais do país estariam servindo de reforço, e seriam elas as responsáveis por levarem todos que ficaram pra trás no toque imediato.

   Rezo para que você não precise encontrar esse bilhete, pois se você encontrar, significa que as unidades não estavam lá para leva-lo para o Centro...significando que algo deu errado... e que...

 

 

Eu te amo. Fique seguro.

         - Mamãe.

 

 

Uma lágrima se forma novamente no meu rosto enquanto começo a dobrar o papel lentamente, mas Rey o pega da minha mão para lê-lo também.

Eu mal podia acreditar. Estávamos sozinhos! Completamente sozinhos agora! Não vai vir ninguém!

Coloco minhas mãos no rosto, me negando em digerir tudo aquilo.

Na Denbrough...aqueles eram os responsáveis por nos proteger...eles todos morreram! Ninguém vai nos levar para fora! NINGUÉM!

— Todos se foram. Estamos só nós! – escuto Matt dizer, ainda estou com as mãos no rosto. Tudo passa como se fosse um filme na minha cabeça.

— Eles nem te deixaram aqui, Carley! – Rey fala do meu lado, eu ergo a cabeça, vejo que o papel está na mão de Harry, que se encontra lendo a carta.

— Não sei dizer isso. – Carley responde e se vira de costas para nós, olhando para a janela da cozinha.

— Na carta diz que todos tiveram que sair de imediato! – Rey diz.

— E ROSS? – ela se vira claramente irritada – Hein?! E o Ross?! O que aconteceu com ele?! Porque ele foi deixado morto aqui pra trás! Eu não quero saber o que acham que aconteceu com a minha família, porque pra mim é muito claro. Estavam aqui, e agora não estão mais. Fim de história.

— Você não sabe o que aconteceu, Carley! Não fique tão irritada a ponto de descontar em mim! – Rey rebate e Carley bufa – Só acho que você não deve julgar tão rapidamente sendo que tem um milhão de possibilidades!

— Isso é medo não é?! – ela dá dois passos na direção dele e gesticula com as mãos em direção a seu corpo - Pode falar!

— Medo de que?! – Rey se levanta do balcão, ficando agora de pé, sua expressão mostra confusão e incredulidade – Você tá ficando doida, é isso?! Todo mundo passou um dia de merda, não precisamos brigar e piorar tudo!

— Medo de que te deixaram pra trás também! A sua situação foi igual a minha! Família sumida, mas não antes de deixar um morto pra trás! – ela diz e se aproxima mais de Rey. Os dois se olham furiosamente.

— Ei, Ei, Ei! Calma aí pessoal! – Mary coloca a mão no peito de Rey e de Carley

— Cuidado. – Rey diz sem tirar os olhos de Carley.

— O que vai fazer? – Carley rebate da mesma forma.

— PARA! – Mary se coloca no meio deles – CHEGA!

Carley e Rey se olhavam desafiadoramente. Via que tentavam se comunicar com os olhos, eu estava chocado, perplexo olhando pra situação.

Porque isso agora?!

— OLHEM PRA VOCÊS! QUE PORRA TÁ ACONTECENDO! – Mary diz passando o olhar furiosamente de Carley para Rey.

— É mentira? – Carley continua e eu reviro os olhos. Estava ficando de saco cheio.

— Carley! – Mary chama a atenção.

— O quê?! –Rey pergunta franzindo a testa, extremamente confuso.

— O que eu acabei de dizer. Que sua situação é igual a minha. Isso é mentira Rey? – Carley diz e vejo que sua expressão está em sarcamo. Rey bufa e ri fraco, balançando a cabeça.

— Você tá ficando louca! Agora é certo! – Rey dá dois toques com o indicador na própria testa enquanto faz uma cara de deboche.

— Louca ou realista?! –Carley ri nasalmente ao responder.

QUE SACO!

— VOCÊS QUEREM SAIR NA PORRADA?! É ISSO?! – eu me levanto furiosamente do balcão e vou até eles, afasto Mary do meio e não deixo nada os atrapalhando. Carley e Rey me olham de testa franzida.

— VÃO LÁ! CADÊ OS SOCOS?! – eu bato palma três vezes e estendo minhas mãos pra frente, uma na direção de cada um deles. Os dois se olham, mas por alguns segundos antes de começarem a fitar o chão.

— Porquê isso vai adiantar muito não é?! Vamos abrir um ringue de luta! VAMOS COMEÇAR A APOSTAR QUEM TÁ SOFRENDO MAIS! O último a ficar de pé é o vencedor! Campeão do sofrimento! – eu digo no meu limite máximo de sarcasmo e deboche, erguendo um punho pra cima. Debochando em pose de vitória. Escuto Matt rindo nasalmente.

Carley se afasta para a janela novamente e Rey volta a subir no balcão segurando a cabeça que fitava o chão.

— Ué?! Acabou a luta?! Já estava quase abrindo a gaveta pra pegar pipoca! – eu continuo o meu sarcasmo, Carley se vira e vejo que agora sua irritação está sobre mim.

— Porque não cala a boca? Ou prefere você estrear o maldito ringue? Tá quase implorando por um soco!  – ela fala.

— Ei! – Harry chama a atenção, mas agora era a minha vez de falar.

— E você tá implorando pra poder socar alguém! – eu digo e ela morde o lábio reclinando levemente a cabeça para o lado. Dou passos decididos em sua direção ficando de frente com ela.

— Eu sei que você tá com raiva. Você quer descontar em alguém, mas não tem ninguém aqui que mereça tomar uns socos. Olha pra todo mundo! – eu digo alto e me viro ficando entre ela e o grupo, apontando na direção de cada um dos membros atrás de mim.

— Tá todo mundo acabado! Todo mundo aqui perdeu a família hoje! A gente acabou de receber a pior noticia do mundo! – eu abro os braços – “Ei vocês que foram se divertir ontem, então, o mundo acabou e agora só existe morte lá fora, se virem pra sobreviver porque não vai ter ninguém pra salvar vocês, tchau!” – começo a forçar uma voz diferente. Estava no meu limite!

— Virou psicólogo agora?! De repente, você ACHA que sabe exatamente como me sinto! – Ela diz se aproximando de mim novamente.

— Pois eu te digo uma coisa: NÃO. Você não sabe como me sinto. Nenhum de vocês sabe! – ela grita e gesticula para todos em volta - Ficam aí falando de mim pelas costas, achando que eu estou ficando louca por não ficar chorando pelos cantos!

— Você mesmo acabou de falar, temos que SO-BRE-VI-VER, agora. E ninguém sobrevive se ficar alimentando fantasias! – ela diz.

— Certo! Mas quer saber?! Isso não importa! – Rey levanta a cabeça para olhar pra ela.

— O quê?! – ela responde

— Isso mesmo! Não importa, tá legal?! Foda-se se me deixaram pra trás também, foda-se se te deixaram pra trás. FO-DA-SE! Não importa! Estamos TODOS no mesmo barco agora, e temos que trabalhar JUNTOS para sobreviver! – ele diz. Carley fica com seus olhos presos nele.

— Exatamente! Não importa mais, Carley! CHEGA! Você mesma disse mais cedo que agora éramos a sua família. Isso se aplica a todos! – Harry diz se virando para o grupo – Somos uma família e nós somos os que importa agora. Então acho melhor pensarmos nos que estão presentes nas nossas vidas do que ficar pensando no que deve ter acontecido!

Harry termina de falar e a cozinha fica num silêncio. Ele estava certo. Era esse o ponto que queria chegar antes do meu show de sarcasmo ser interrompido.

Eu ainda não conseguia acreditar que minha família sumiu, eu não fazia ideia onde Larry estava porque não o vi em parte alguma no nosso percurso e não encontrei nenhuma pista...agora o mundo oficialmente tinha acabado.

Estou perdido. Mas no momento, sei que quero viver.

Estou faminto.

Todos voltaram a se sentar, Carley ficou imóvel olhando para o chão por alguns segundos. Até que ela foi até um armário próximo a mim e tirou um pacote de macarrão dali de dentro.

— Jantar. – ele explicou e foi até o fogão. Mary foi com uma vela pra área externa da casa , que ficava ali do lado da cozinha. Ele ficou na parte coberta da sacada vendo a chuva cair pesadamente lá fora. Harry se levantou e foi até o armário novamente, pegou molho. Rey ficou imóvel onde estava, encarando o chão.

— Eu preciso tomar um banho...enquanto ainda dá pra tomar banho eu suponho. – Matt disse para todos que estavam ali na cozinha.

— Não demora muito. – respondo a ele, que assente.

— Vou pegar umas roupas que trouxe comigo. – ele começa a andar em direção a uma mochila próxima e tira algumas coisas, depois ele vai até o banheiro com a lanterna, nos deixando apenas a luz de velas na cozinha. Ouço a porta do banheiro se trancar.

Carley coloca uma panela com agua da torneira no fogão. Ela tira o botão do gás e pega um caixa de fósforos próxima. Com um palito, ela acende um dos bocais.

— Caramba, vai até rolar um macarrãozinho com manjericão é? – Mary diz e solta um riso leve, eu sorrio um pouco, mas encosto minha cabeça na parede logo em seguida desmanchando meu sorriso e fechando meus olhos.

Será que algum dia eu vou voltar a ser feliz?

— Vocês foram loucos de deixar eu e a Carley aqui, a gente vai queimar tudo! – Harry responde rindo fraco também.

Será que algum dia vamos voltar a rir genuinamente? Ou vai ser tudo assim a partir de agora? Piadas tentando quebrar um clima terrível que nunca vai deixar de pairar sobre nós...

Estou perdido...

— Vou por a mesa pra me arriscar menos! – Mary diz e escuto um tapinha nas costas de Harry, possivelmente – Naquele armário né? – ela pergunta.

— Isso... – Carley responde – Ah! E você pode pegar o escorre-

— Aqui. – escuto a voz de Rey falar e abro os olhos. Ele saiu da bancada e agora tem um escorredor de macarrão nas mãos, ele o oferece a Carley enquanto a olha nos olhos. Ela olha para o escorredor e depois encontra seu olhar. Eles se olham por alguns segundos até Carley esticar a mão para pegar o que lhe é oferecido.

— Obrigada. – ela pega e volta sua atenção para a panela fervente. Rey abaixa a cabeça lentamente, encostando-se na bancada próxima onde Harry cortava cebola.

— Precisam de ajuda pra alguma coisa? – Rey pergunta.

— Acho que...não. Tá de boa, macarrão é fácil. – Harry diz enquanto Carley continua com sua atenção em alguns pedaços de macarrão na agua quente.

— Certo...se queimar vou lembrar que você falou que é fácil. – Rey diz e Harry ri fraco novamente.

Matt sai do banho enxugando a cabeça com uma toalha e com roupas diferentes.

— Acho que vou queimar essas roupas tudo! – ele diz em tom de brincadeira.

— Tá louco? Tem um rio aqui perto, dá pra lavar. – eu digo

— E poluir o rio de vez? – Matt diz e eu me pego sem resposta.

— Podemos pegar agua do rio e você pode lavar na pia lá do quintalzinho...na lavanderia. – Mary diz.

— Posso ir tomar banho? Ou alguém já tá na minha frente na fila? – Rey pergunta.

— Acho que pode ir. – respondo, e como ninguém fala nada, Rey vai até sua mochila, pega algumas roupas e se tranca no banheiro.

— Como sair pra pegar agua no rio vai ser um problema, não dá pra colocar tripas o tempo todo, isso deve até fazer mal! – Matt diz

— Depois de jantarmos podemos conversar sobre o que fazer. Tenho algumas ideias. – Carley fala e todos nós assentimos.

.....

Todos estávamos na mesa agora, o jantar estava servido e todos estavam comendo e de banho tomado. O jantar foi silencioso e todos nós comemos aquele macarrão queimado como se não houvesse o amanhã.

— Sabia que você ia zoar o molho, Harry. – Mary disse depois de comer – pra aprendermos que quando a fome é grande, somos capazes de comer até a comida do Harry.

Ouve algumas risadas fracas na mesa.

— Engraçado que você não gostou, mas comeu duas vezes! Idiota! – Harry disse e Mary riu novamente.

Ficamos todos em silencio novamente até todos terminarmos de comer.

— Amanhã vocês vão me mostrar o que trouxeram nas mochilas. Tirando roupas e essas coisas de casa, vocês trouxeram mais alguma coisa útil pro grupo? – Carley perguntou enquanto limpava a boca.

— A gente achou munição no caminho, algumas armas...garrafa de agua, comida... – Mary começou a dizer pausadamente.

— Nós também achamos algumas dessas coisas que eles citaram... – Harry disse.

— Ótimo. Vamos escrever tudo que temos pra termos uma noção maior. Harry vou precisar de sua ajuda com uma ideia que tive sobre os telhados... – Carley começou a dizer – Pensei que podíamos procurar alguns materiais de construção ou algo do tipo para conseguirmos ligar o telhado daqui com os telhados vizinhos. Podíamos até colocar tábuas em cima das telhas que ficam abaixo das janelas e criar uma passarela pra gente andar.

— Podia conectar tudo. Vai virar uma fortaleza se calcular direito – Harry responde

— Esse é o espirito. Uma passarela do lado de fora das janelas, podemos ficar de guarda até mesmo EM CIMA do portão, se couber uma base ali podemos... – Carley explica, mas Harry a interrompe depois de parecer ter uma epifania.

— Cabe uma base ali! Caramba...o portão pode virar praticamente uma guarita se arrumarmos as coisas certas! – ele diz.

— Pensei em fazer isso perto do rio também, se ligarmos todos os telhados, teremos acesso a um sobrado grande que fica no fim da rua, podemos fazer algum tipo de guarita ali também, assim conseguimos vigiar todos os lados da casa. – Carley diz e eu me impressiono com tudo.

— Uma fortaleza. – eu digo impressionado.

— Uma resistência. – ela diz pra mim. Ficamos todos em um silencio por um momento.

— Será que funciona? – Harry diz

— Você é o que cursava Engenharia aqui, me diga você. – Ela diz pra ele. Harry olha para todos e depois olha para as próprias mãos por alguns segundos.

— Pode funcionar. – ele diz e Carley sorri de leve.

Eu me voluntario pra lavar a louça depois de comermos. Todos se retiram da cozinha, mas sou capaz de escutar Rey falando com alguém no corredor.

— Hey...posso falar com você?

Não sei com quem ele falou, mas ouvi os passos indo em direção a sala. Eu abro a mochila e tiro uma das coisas que escolhi salvar da minha casa.

Meu caderno de desenhos.

Eu nunca vou me formar em Moda...lembro de como foi duro pra minha família quando eu disse que me interessava em moda. Eu sempre gostei de desenhar, e uma coisa que eu sempre gostei de fazer foi de retratar as pessoas.

— Você vai ficar aí? – escuto alguém falar e me viro tentando esconder meu caderno. Vejo que é Matt.

— Não vai esconder de mim, né? – Matt diz e aponta para o caderno.

— Não é bem esconder...eu só...não sei direito porque trouxe isso. – respondo sinceramente.

— Talvez ajude. – Matt fala.

— Ajudar com o que? – continuo a conversa.

— A lidar com isso tudo...pode desenhar coisas...você costumava se expressar através dos desenhos. – Matt diz e coloca a mão no meu ombro – Como você está?

— Pior impossível...quero viver mas quero desistir. – respondo a ele.

— Desistir? – ele pergunta e sinto um pouco de medo em sua voz – desistir no sentido...?

— Talvez. – respondo envergonhado. Eu não sabia se queria viver. Eu, sozinho, família morta em um mundo dominado por zumbis.

— Ei! – ele segura os meus ombros com força – você não vai desistir! Vai sobreviver! Não tá sozinho nessa, estamos todos no mesmo barco! – ele diz e repete o que Harry disse.

— Eu sei, por isso estou confuso. Sei que não estou sozinho, mas isso tudo acontecendo...é só...demais pra mim. – começo a sentir lágrimas se formarem nos meus olhos e me xingo mentalmente

— Você acha que sua mãe...digo... – ele parece querer começar uma conversa, mas ao mesmo tempo não sabe se deve de fato começa-la. Eu fico olhando com atenção, e sem querer uma lágrima sai dos meus olhos quando ele menciona minha mãe.

— Acha que sua mãe iria querer que você morresse? – ele diz – ou seu pai?

Eu começo a chorar e Matt me abraça.

Ficamos assim por um tempo até que finalmente consigo dizer alguma coisa:

— Vou conseguir por eles.

 

PONTO DE VISTA – REY

 

— Posso falar com você? – pergunto pra ela, que já está quase dobrando o final do corredor para ir para a sala. Ela para e se vira para me olhar, tem uma vela na mão.

Ela parece hesitar um pouco, mas acaba assentindo. A porta ao meu lado se abre e Matt sai do quarto, vejo que lá dentro há uma vela iluminando tudo. Mary já está deitada na cama e Harry está no colchão no qual ele dormiu anteriormente. Eles haviam tirado todas as toalhas que cobriram os colchões mais cedo. Me direciono a sala e ao chegar lá, sinto um cheiro diferente, ela se senta nos sofás ali próximos.

— Amanhã vou precisar de ajuda. Tanto pra tirar os sofás ,TV e etc como pra...você sabe. – Carley diz e aponta para o corpo que estava em um canto do chão, virado de lado.

Agora eu entendi o cheiro.

— Claro...eu ajudo. – começo a me sentar ao seu lado, ela apoia o pires onde havia uma vela em cima sobre o chão – Mas...onde exatamente você vai...

— No terreno baldio próximo ao rio. Não quero enterra-lo aqui. – ela diz, mas não me olha nos olhos, ela fica encarando as chamas da vela.

— Já tem uma ideia de como vamos sair? – pergunto.

— Você não tá aqui porque quer discutir técnicas de sobrevivência comigo, Rey. – ela fala e eu respiro fundo.

Maldita. Me conhece bem.

— Não. Não estou. – digo. Ela não diz nada.

— O que foi aquilo? – falo. Apesar dela não estar olhando pra mim, sei que está atenta.

— Aquilo? – ela pergunta.

— Na cozinha. O que foi aquilo? O que fizemos? – digo superando meu orgulho. Eu sabia que estávamos todos no limite, mas eu não sairia dessa sala sem uma justificativa ou alguma coisa que pudesse me fazer entender.

Tudo que ganhei foi silêncio. Eu respiro fundo.

— Eu só estou tentand-

— Eu tenho raiva. – ela me interrompe. Minha testa se franze.

— Raiva? – pergunto.

— Eu nunca me senti tão irritada na vida. – ela diz simplesmente.

— Mas...na cozinha, pro Rob, você disse que-

— Eu sei o que eu disse! – ela finalmente vira sua atenção pra mim depois de me interromper novamente.

— Mas... – ela respira fundo e molha os lábios – Rob está certo.

— Você queria descontar em mim? – pergunto a ela, tentando entender.

— Queria que você tivesse descontado em mim, pra ser sincera. – ela diz e isso me surpreende.

Ela queria...que eu fosse pra cima dela?

— Porquê? – tento saber.

— Eu não sei o que acontece comigo Rey – ela põe as mãos no rosto e seu tom é cansado – uma hora quero encher todos de porrada e outra hora quero tomar uma surra por ter deixado isso acontecer.

— Deixar acontecer? Não foi sua culpa o que aconteceu com sua família! – eu digo.

— Não estou falando deles! Estou falando da família de vocês! – ela diz trincando os dentes, como se não quisesse falar aquilo.

— Eu não entendo... – digo sincero, ela me deixa confuso.

— Fiquei pensando...quem sabe se eu não tivesse sido egoísta em tentar trazer vocês todos aqui pra casa primeiro, vocês teriam achado a família de vocês. – ela diz voltando sua atenção pra vela.

— Nem vem! Não foi egoísmo! Você mesmo falou que era o local mais seguro, e concordamos com isso, você não fez nada sozinha! – respondo ela.

— Podia ter sido minha cabeça tentando me convencer que era uma boa ideia...queria voltar pra casa. – ela diz.

— E você tá aqui agora. Estamos todos. E isso aqui vai virar uma fortaleza graças a você...salvou todo mundo Carley. – digo

— Nem todos... – ela diz e eu simplesmente não sei mais o que posso dizer a ela.

— Não foi sua culpa. Tira isso da cabeça.  – eu digo e ela não responde nada.

Se ela se abrisse mais comigo eu poderia até tentar falar mais sobre, mas ela é osso duro de roer, sempre foi uma batalha pra convencer ela a falar as coisas que acontecia na cabeça dela...

Vou com a mão no bolso e tiro algo dali.

— Vi isso na rua...e decidi trazer pra você. Pra que tenha uma ideia de como te enxergo – entrego pra ela uma bandana verde escuro, que tirei do pulso de um militar. Ela pega lentamente a bandana.

— Acho que foi destino eu ter pego essa bandana sem saber que Matt traria aquela carta...Você protegeu a gente e transportou pra um lugar seguro. Fez a função deles... – digo e aponto para a bandana - É a General..heh. - sorrio fraco.

Ficamos em silencio um pouco por segundos.

— Obrigada. – ela diz e olha pra mim, sorrindo fraco – Vamos todos ser os militares, vai ver... – ela diz e começa a passar os dedos na bandana. Eu assinto.

Ficamos em silencio por mais algum tempo até que me lembro de outra coisa:

— E você não está louca, tá? Esquece o que eu disse. – falo pra ela, que prefere ficar em silencio – Estamos todos no limite e eu...me desculpa. Acho que você está certa em relação a-

— Me desculpa também. – ela me interrompe e me olha nos olhos. Ficamos nos encarando por alguns segundos.

— Eu não deveria dizer o que eu acho que aconteceu sendo que não vi a foto por inteira. Façamos o seguinte, eu não opino sobre o que eu acho que aconteceu com a sua família e você faz o mesmo em relação a mim. Cada um com sua própria teoria, que tal? – ela diz, eu sorrio fraco e balanço a cabeça positivamente.

— Combinado. – eu estico a mão, ela olha e depois a aperta.

— Pensar no futuro é mais importante... – ela se vira para encarar as chamas novamente.

— Pensar nos presentes... – cito Harry e ela concorda com a cabeça. Ficamos em silencio mais um pouco antes de eu me levantar.

— Qualquer coisa sabe onde me encontrar. – eu digo.

— Certo... – ela abaixa a cabeça.

— Boa Noite, Carlie.

— Boa Noite...

Eu saio da sala e entro no quarto, vejo que todos estão dormindo, mas Rob está com a vela próxima a ele. Vejo uma imagem que não via a muito tempo...

Ele está desenhando.

É...vamos ficar bem.

 

UMA SEMANA DEPOIS...


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