The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 31
O Estranho Familiar




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PONTO DE VISTA – ????

 

— MERDA! MERDA! MERDA! – eu berrava como se qualquer uma daquelas coisas fossem me entender. Eu devia ter previsto que isso ia acontecer, fui muito burro!

Desde que eu entrei nessa merda de mercado, devia ter sacado que isso não seria uma coisa permanente, mas acho que o “conforto” me trouxe isso...aqui eu tinha comida e agua a preço de apenas alguns zumbis que tive que matar aqui dentro.

Mas podia ter durado mais do que apenas uma semana né?! Vai ser zicado assim na puta que pariu!

— Pensa...pensa! – eu colocava mais um pedaço de madeira na frente da porta pichada. Eu não queria ser surpreendido por ninguém que pudesse ser ruim comigo, então minha maneira de espantar as pessoas foi pegando tinta preta e pichando que havia mortos aqui dentro, sendo que só havia eu mesmo.

Quer dizer, até havia mortos, mas eu tirei todos.

Me afastei da porta depois de mais um baque forte, encarando todas aquelas mãos podres que tentavam a todo custo empurrar os obstáculos que estavam na frente da porta.

Vou ter que sair daqui, não dá mais.

Fui em direção as prateleiras o mais rápido possível e comecei a estocar rapidamente minha mochila, eu havia feito a limpa naquele mercado, peguei tudo que considerei interessante daqueles fregueses que agora jaziam mortos. Inclusive, até mesmo uma pistola, minha única arma de fogo.

Escuto mais um baque forte e me assusto, virando minha cabeça para checar a porta. Ainda estava fechada, mas não iria aguentar muito tempo. Depois de estocar o possível enquanto corria contra o tempo, vou até o escritório do CEO, onde eu dormia e comecei a fuçar nas gavetas. Peguei dali apenas um mapa da cidade, o estendi na mesa e comecei a tentar achar rotas de fuga.

Merda merda merda

Mais um baque é ouvido e eu começo a ficar em pânico.

Vão entrar!

Olho pra uma pequena guarita que ficava na sala, era o banheiro. Faço uma careta.

Acho que vou ter que me ensanguentar de novo...ah não...

Eu tinha colocado o corpo do CEO ali quando cheguei na primeira noite.

Escuto mais uma vez o baque na porta, mas dessa vez, escuto também o barulho de algo caindo no chão, coloco a cabeça pra fora da porta e vejo que uma das madeiras que eu havia colocado na frente da entrada havia sido derrubada. Não faltaria muito agora, tenho apenas alguns minutos!

Volto para a sala e pego o mapa na mesa, o colocando no bolso. Depois, pego o meu machado de incêndio que eu havia conseguido na rua uma semana antes. Abro o banheiro e imediatamente levo uma das mãos no nariz, o fedor é insuportável.

— Porra. Eu odeio isso. – coloco minha mochila no chão e movo o corpo para o meio da sala do CEO, o removendo do banheiro. Começo a me posicionar para mutila-lo.

— Merda. Merda. Merda – vou lançando meus braços para trás, levantando o machado por cima da cabeça. Tenho que fazer isso rápido.

Mas aí, como se Deus tivesse me mandado um sinal, vejo algo na parede. Uma entrada...ou melhor, saída.

Vejo a entrada de um duto de ar na parte mais alta da parede do escritório, bem na hora que ouço o resto das outras madeiras que bloqueavam a entrada irem ao chão.

Graças a Deus. Sem tripas.

 

PONTO DE VISTA – MARY

 

— Ah! Eu me lembro dele! – digo olhando maliciosa para Rey que levantava mais uma estaca de madeira enquanto eu chutava a base da mesma, a fazendo ficar presa no chão.

— Lembra né? Pois é...esse dia foi tenso! – Rey falava com as sobrancelhas erguidas aos risos – Ele estava muito bêbado, sempre ciumento e insuportável nessas horas! Era só dar uma vodka pra ele e PRONTO! Baixava o santo!

Dei risada ao me lembrar da história. Eu me lembrava de Derek...claro. Um rapaz moreno, alto e que tinha uma cara de carrancudo, nunca me dei bem com ele mas fazíamos de tudo pra não ficar uma torta de climão entre os amigos certo?

— Eu odiava ele. Muito chato! – eu disse e Rey riu.

— Ninguém gostava! Não sei onde eu estava com a cabeça em namorar um cara daqueles! – Rey tirou a sujeira das mãos, batendo uma na outra e depois as passou na lateral da calça para tirar o excesso. Depois começou a tirar as luvas que usava.

— Quer mesmo que eu responda?! – Eu disse enquanto tirava as minhas, com um sorriso sacana no rosto.

— Ridícula! – Ele arregalou os olhos e jogou uma das luvas em minha direção, que segurei e voltei a rir com ele.

— Acabou?! – Harry gritou de cima do portão.

Eu mal acreditava no progresso que havíamos feito com a casa de Carley....melhor dizendo, com a nossa Fortaleza. Semana passada, quando tudo isso havia começado, tínhamos ido até o terreno baldio no fim da rua, próximo ao rio, para enterrar Ross. Ao chegarmos lá, eu vi esses pedaços de madeira grossos, e tive a ideia de fazermos estacas com eles e colocarmos em volta do portão, tendo apenas uma brecha no meio para passarmos. Dito e feito. Fizemos as estacas, e a colocamos de maneira circular em volta do grande portão.

Carley e Harry seguiram com o planejamento de fazer as passarelas, então as telhas estavam sendo aos poucos adaptadas para podermos andar em cima delas, eu vi Harry fazer muitas contas nesses últimos dias, calculando peso e tudo que fosse necessário para que as telhas não despencassem enquanto passávamos em cima delas. Agora podíamos literalmente caminhar ao lado das janelas abertas graças a alguns materiais que conseguimos na loja de materiais de construção rua acima.

Ontem, Harry e Carley estavam trabalhando colocando alguns suportes em cima das telhas que cobriam o grande portão de entrada, agora dava pra ficar EM CIMA do portão, facilitando uma vigilância. Era lá que Harry estava agora.

Eu conseguia ver Carley no telhado da casa que ficava na esquina da rua, logo ao lado do terreno baldio. Ela estava menor dada a distancia e falava com Rob e Matt que moviam tábuas para lá. Planejávamos fazer uma pequena guarita ali, então dessa forma, tudo estaria dentro do nosso perímetro, e conseguiríamos vigiar tudo.

Está tudo virando literalmente uma fortaleza...temos acesso a todos os telhados laterais vizinhos...dava pra simplesmente sair pela janela da sala, atravessar a passarela para o próximo telhado e seguir reto, passando por cima de todas as casas, até chegar a esquina.

Isso tudo de maneira segura e eficaz.

Estamos fazendo tudo juntos...

— Acabou as estacas! Mas acho que vai servir! – gritei de volta para Harry e ele ergueu um dedo positivo.

E pensar que na semana passada eu duvidava que conseguiríamos ao menos conseguir sair de dentro da casa...mas pegamos nossos suportes e passamos horas atravessando eles pelas grades do portão matando os zumbis do outro lado. Foi isso juntamente com o fato de eu ter visto as estacas mais tarde naquele dia que me fizeram ter a ideia dessa pequena “barricada”.

Agora a rua estava um pouco mais calma. Aparecia alguns zumbis de vez em quando, claro, mas nada que não pudéssemos lidar. Fizemos mais algumas caminhadas por áreas que circulamos e rotulamos no mapa como “Lidáveis”(que são áreas que tinham a presença de zumbis, mas como o próprio rotulo diz, podíamos “lidar” com eles) e conseguimos algumas armas...incluindo uma...uma....como era mesmo o nome? Barreto? Barret? Enfim!

Uma sniper.

Quem achou foi Rob, em uma delegacia local...quase todas as armas tinham sumido mas ele foi capaz de pegar algumas armas diversas, junto com caixas de munição. Ele achou a Sniper em baixo dos armários de uniformes da policia.

— Mary? Na escuta? – a voz de Carley saia do pequeno aparelho preso ao meu ombro.

Falando em policia, agora tínhamos o hábito de usarmos os rádios que pegamos quando saímos da escola. Umas fuçadas aqui e ali e havíamos aprendido o suficiente para por toda a comunicação em prática.

— Oi. Tô na escuta. – respondi logo após apertar um botão lateral e reclinar um pouco minha cabeça para o aparelho, para que ela pudesse me escutar melhor.

— Quero que você e Rob venham comigo até a loja de construção novamente, pra pegarmos as placas. – a voz metálica dela saiu do rádio ao me dar a resposta.

— Ok. Eu vou entrar pra me equipar, te encontro aqui fora. – respondo a ela.

— Certo. Câmbio desligo. – ela diz e a nossa comunicação se encerra.

— Tomara que tenha as placas lá...se não vamos ter que ir mais longe pra procurar ou simplesmente desistir da ideia. – Rey disse enquanto me acompanhava de volta pro portão, vi Harry sair de cima do portão e começar a andar pela passarela até uma escada, que havíamos posto no meio do quintal. Aquela escada vertical fora ideia de Matt, pra facilitar o acesso do quintal pras passarelas acima.

Carley, Eu e Rob iríamos até a loja de construção que ficava rua acima a procura de placas metálicas de qualquer tipo...entramos em um consenso de que seria uma ótima ideia prender as placas entre uma grade e outra no portão, tapando a visão do interior para quem passasse do lado de fora. Assim, a luz que viria de dentro não atrairia os zumbis de fora e de certa forma, reforçaria a segurança, já que escalar as grades não seria mais uma opção. O portão só seria aberto por dentro.

Uma fortaleza.

— Espero que tenha placas o suficiente lá – começo a dizer enquanto Harry destrancava o cadeado – e espero que o cabeção aí consiga prender elas – aponto para Harry.

— Você deve me amar muito pra ficar me aloprando desse jeito, né? Dá um tempo cabeça de abóbora! – ele respondeu rindo e abrindo o portão, dando passagem para eu e Rey passarmos.

— Nossa! Que original! – começo a bater palmas lentas enquanto passava pra dentro do Forte – Cabeça de abóbora! Ótimo!

Ele ri enquanto tranca o portão novamente.

— Prefere “Cabelo Agua de Salsicha?”, sério esse cabelo aí tá foda de ver! – ele se vira olhando pra mim com um meio sorriso enquanto Rey ria e eu me fingia de incrédula.

Realmente meu cabelo tava uma bosta.

— Melhor do que ficar com esses restos de Nescau aí na cara! – falo e cutuco seu buço, que agora revelava o começo de uma barba por fazer.

Ele riu alto e começou a me empurrar em direção a escada no centro do quintal.

— Vai fazer seu trabalho, garota! – ele me empurrou em direção a escada e eu comecei a subi-la. Rey sentava no chão do quintal, apoiando-se na parede.

— Ganhei a discussão! – eu grito erguendo os braços pra cima enquanto caminho pela passarela, passando ao lado da janela da sala. Estou indo em direção a janela do quarto de Carley, ou melhor dizendo, do armazém.

— Fala do meu buço, mas daqui a pouco você tá com um bigode maior que o meu, queridona! – Harry falou alto do quintal e eu só lhe mostro meu dedo do meio, que o faz rir.

Idiota!

Pulo pra dentro do armazém através da janela. A cama de Carley havia sido movida para a sala, e agora só restava estantes e coisas apoiadas nas paredes.

Armas, munição, rádio, ferramentas, lanternas, facões que encontramos, canos...tudo que havíamos que tinha alguma utilidade lá fora ficava agora nesse recinto. Fui até a estante, onde antes ficavam os livros de Carley e fui no ultimo espaço. Carley havia me ensinado qual era a munição correta pro meu revolver, e eu fui lá pegar algumas balas. As coloquei nos bolsos da frente e peguei um facão que tinha dentro de um barril lá dentro. Esse barril ficava na lavanderia, tiramos ele de lá e agora ele servia como “porta-armas”, as armas brancas ficavam aqui.

Depois de me equipar me lembrei de uma coisa importante: prender o cabelo.

Depois que vimos aquela mulher ser puxada pelos cabelos na Denbrough, eu e Carley como as únicas pessoas de cabelos longos do local concordamos que só poderíamos sair se prendêssemos o cabelo, como uma medida de segurança.

Me lembrei que a fita que eu usava eu havia deixado na sala.

Passo pela porta e vou em direção a sala, ao entrar lá eu ainda levo um tempo pra me acostumar a mudança.

Agora a sala lembrava tudo, menos uma sala de estar. Não havia mais sofá ou um rack, agora estava completamente diferente. Em frente a janela da sala, agora havia uma mesa de madeira e uma cadeira, lembrando muito um escritório ou algo do tipo. Em cima da mesa havia dezenas de papéis. Do lado esquerdo a mesa, havia uma cama encostada na parede, separada do ambiente através de uma cortina que a rodeava. Carley havia tirado a cortina das janelas, deixando somente estas...as prendendo em volta da cama.

Do lado direito do recinto, a estante que um dia fora para guardar DVDs guardava agora todos os livros que estiveram em seu quarto. E pra finalizar as mudanças, no centro da sala, alguns metros afastado da mesa de madeira, havia uma bacia metálica, que era parte de uma churrasqueira portátil que costumava ficar na área externa da casa. Ela era baixa, então toda noite nos reuníamos sentados em volta dessa “semi-churrasqueira”, como se estivéssemos em volta de uma fogueira, e jantávamos enquanto nos esquentávamos com o fogo que saia dela.

A sala tinha agora virado uma sala de reunião/quarto onde Carley dormia. Eu não entendia do porque ela fez essa adaptação, sendo que o mais fácil era ela simplesmente voltar ao quarto dela. Mas ela nunca deixou claro do porque não queria voltar a dormir em seu quarto, e eu não insisti mais no assunto.

Fui até a mesa de Carley e comecei a procurar a fita, não demorei muito para acha-la. A peguei e amarrei meu cabelo ruivo escuro num rabo de cavalo, deixando algumas mechas da minha franja escaparem. Saí pela janela da sala, pisando na plataforma abaixo de mim e caminhando alguns passos até a escada que daria pro quintal. Vi que Harry, Carley, Rob e Rey já estavam ali.

— Falando no diabo... – Harry ergueu os braços ao me ver descendo os últimos degraus.

— Cala a boca! – disse fazendo uma careta pra ele que me encarava sorrindo torto.

Idiota.

Carley e Rob estavam preparados. Rob checava o cartucho de sua pistola, provavelmente vendo se tinha balas o suficiente caso necessário, na sua cintura havia um cano preso. Carley usava uma bandana militar verde escura amarrada em volta da cabeça, prendendo parte do cabelo o deixando mais curto do que realmente era. Geralmente o cabelo dela ia até o meio das costas, mas quando ela o prendia na bandana, ficava na altura dos ombros. Ela tinha a sua arma branca na cintura, e na mão havia um suporte pontudo, vindo das cortinas de uma certa que escola que havíamos escapado na semana anterior.

— Matt está no Beco, ainda arrumando algumas tábuas pra começarmos a trabalhar melhor na guarita amanhã – Carley explicava pra nós. Beco era o nome que havíamos dado para o telhado da esquina, ele ficava do lado de um terreno baldio, que parecia um beco sem saída, ta aí o nome. – Ele vai terminar de organizar algumas coisas e pedi pra ele ficar de guarda ali também assim que terminasse.

— Quem vai estar na guarda do portão hoje? Não sou eu não né? – eu pergunto enquanto aponto para o topo do portão, toda noite duas pessoas revezavam a guarda ali.

— Sou eu e o Rey hoje. – Rob responde enquanto tira um par de luvas táticas, que deixavam os dedos descobertos.

— Melhor irmos rápido para voltarmos mais rápido ainda. Já são três horas. – Carley diz e começa a se direcionar pro portão, todos nós a seguimos.

— Cuidado vocês, hein. – Rey dá um tapinha no ombro de cada um de nós enquanto saíamos portão afora. Carley na frente, Rob no meio e eu por último.

— Vamos voltar logo, fiquem atentos vocês aí dentro...peguei uma lista que deixaram na cozinha, de coisas que estão faltando, se acharmos alguma coisa, traremos. – Carley diz enquanto olha para os lados, já na rua.

— É mais fácil eu morrer comendo a comida do Harry do que aqui fora a essa altura do campeonato. – Digo e Harry e Rey balançam a cabeça, reprovando minha piada.

Fazer o que né, só lamento galera. Se eu não brincar com a situação vou acabar ficando louca e vou acabar surtando no meio da rua. Sarcasmo é minha defesa.

— Brincadeira! Eu hein! – viro pra finalmente sair portão afora, mas antes que eu pudesse sair, sinto uma mão segurar a ponta dos meus dedos.

— Toma cuidado, tá? – Harry diz e eu me surpreendo ao ver uma preocupação grande em seu olhar. Nem consigo brincar com isso.

— Pode deixar. – eu digo e sorrio fraco. Me desvencilho de seu toque e saio portão afora.

 

PONTO DE VISTA – ????

 

Beleza. Beleza.

Muita calma nessa hora.

Abro o mapa o mais silenciosamente possível

Vou ter que dar a volta, sair pela Denbrough não é opção. Quem sabe se eu contornar o quarteirão? Acredito que quanto mais afastado daqui, melhor... tem um rio desse lado, posso pegar agua aqui... Parece uma vizinhança comum, espero que esteja tudo limpo por lá...

E se o rio tiver poluído?

Aí você ferve a agua antes, porque tudo que a gente NÃO precisa agora é você cagando pelos cantos por conta de alguma bactéria.

Fecho o mapa e começo a me preparar para sair para a rua novamente. Eu consegui correr do mercado até algumas ruas paralelas, caso eu seguisse pela Denbrough eu com certeza não sairia com vida, então tive que optar por outro caminho.

Ergo o pulso para ver que horas são: 16h28.

Merda, logo logo pode escurecer. Melhor me apressar.

 

PONTO DE VISTA – MATTHEW

 

— Tem certeza que isso vai dar certo? – digo inseguro

— Confia em mim, ninguém aqui pesa mais de 200kg pra isso aqui não aguentar. Vamos! – Harry diz e vejo sua expressão se franzir graças a força que ele está aplicando naqueles suportes, ao tentar levanta-los.

Eu o ajudo a levantar, parecia o começo de uma caixa d’agua ou algo do tipo. Harry queria erguer esse suporte ainda hoje, aí no dia seguinte ele trabalharia para começar a construir a parte superior. Rob, Carley e Mary estavam na loja de construção, e eles poderiam dar um parecer do que ainda restava lá para essa futura construção.

— Não tá baixo demais? Quero dizer...essas coisas não deveriam ser maiores? – eu digo depois de analisar o tamanho da base recém feita.

— Tá doido? Estamos num telhado! Deve ter uns quatro metros de altura! Ainda vai ter a cabinezinha ali em cima e o telhado de tudo. Vai ficar daora! – ele diz encostando o dedo indicador e o polegar um no outro, gesticulando um “ok”.

Olho para os lados, e vejo as tábuas que fiquei ajeitando a tarde toda hoje...eu tinha separado elas ali, subindo elas do quintal até o telhado junto com Carley.

— Acha que dá problema se deixar as tábuas aqui? – pergunto e Harry olha pra cima, em direção ao céu. Ele dá de ombros.

— Acho que não. Não parece que vai chover. A chuva estragaria as tábuas, já que tá tudo bem lá em cima, então fechou. – ele bate uma palma na outra e começa a se direcionar para o Forte.

Isso soa ridículo, mas ao mesmo tempo tão certo...chamar a casa de Carley de Forte...

Realmente. Estamos virando uma resistência.

Começamos a caminhar pelos telhados em direção ao forte. Eu podia ver Rey acima do portão com aquela arma grande que tinha uma mira...acho que ouvi chamarem de Sniper, mas como eu sou uma anta quando se trata de armas, eu nunca tinha certeza de nada.

— Então...há quanto tempo já foram? – resolvo quebrar o silencio enquanto andávamos.

— Hã? Oh... – ele olha pro próprio pulso, no relógio que está ali e arregala levemente os olhos – Quase duas horas agora.

— São cinco horas agora?! Nossa...os dias tão passando mais rápido do que nunca – respondo chocado.

— É... – ele diz pensativo, parece preocupado. Atravessamos algumas tábuas que unem os telhados e finalmente estamos em cima da passarela do Forte novamente.

— Tá tudo bem? – pergunto depois de notar que ele parecia desconfortável com algo. Ele coçava a cabeça e mordia o lábio inferior...algo estava errado.

— Hã? Nada, nada... é só.... – ele parece hesitar em falar, ele entra pela janela do armazém e eu entro logo atrás. Começo a tirar minhas luvas.

— Sei lá...já faz duas horas, e eles só subiram a rua. Já deviam ter voltado. – ele diz enquanto tirava as suas luvas também, as colocando em cima da mesa onde a uma semana atrás havia um computador. Carley havia tirado tudo da mesa e jogado no terreno baldio no fim da rua. Junto com as televisões da casa e o sofá, afim de abrir mais espaço. Coloco minhas luvas próximas da onde ele colocou as dele e tiro o facão em minha cintura e deposito no barril que ficava dentro da sala.

— Se tivesse acontecido alguma coisa séria, eles já teriam se comunicado – dou dois tapinhas no rádio preso ao meu ombro – agora temos como saber, lembra?

Harry assente, mas não muda sua expressão. Ele começa a sair do armazém e vai em direção ao quarto onde dormíamos. Ele tira as botas que calçava enquanto eu andava em direção ao meu próprio colchão, que ficava abaixo da mesa, que por sua vez ficava de baixo da janela.

Olho pra ele enquanto tiro meus sapatos, tentando achar alguma forma de quebrar o clima tenso. Ele deita no colchão e coloca um dos braços na frente dos olhos, ele solta um suspiro pesado e cansado.

— Acho...que vou pegar aqueles bifes que achamos e fritar. Que acha? – digo ao me lembrar de que pegamos todas as carnes que tinham na casa e levamos para o freezer que ficava na área externa. Apesar de não funcionar, o freezer era um objeto fechado, e isso dificultava que a carne apodrecesse por pelo menos um tempo. Melhor do que deixar no meio dos alimentos que não apodrecem...

— Seria uma boa... – ele diz imóvel.

Decido não dizer mais nada. Acho que ele quer ficar sozinho um pouco. Eu penso por alguns segundos em deitar para descansar um pouco, mas sei que se eu deitar agora, será difícil me fazer levantar.

Levanto e vou em direção a cozinha, deixando Harry onde estava. Ao chegar na cozinha começo a raciocinar como irei fazer o jantar. Olho para a janela, encarando o céu que começa a querer se escurecer e olho para o pires no centro da mesa.

Daqui a pouco é bom já prender uma vela ali, pra ficar mais fácil de acende-la depois.

Deixávamos suportes para as velas em alguns lugares específicos da casa agora. Um ficava na mesa da cozinha, outro ficava dentro do quarto e outro em cima da mesa de Carley. Quem ficava de vigia lá fora usava lanterna. Seriam Rob e Rey que trocariam turnos hoje a noite.

Começo a por a mão na massa e vou até o freezer do lado de fora, o abro e pego um recipiente onde consigo ver alguns pedaços de carne. Volto para a cozinha, deixando o recipiente em cima da pia e vou até o armário em busca de arroz, mas algo me faz pular de susto e derrubar o saco, felizmente fechado, no chão.

*POW! POW!*

Meu coração se acelera ao reconhecer o barulho:

Tiros.

Rapidamente e com as mãos trêmulas, vou com meus dedos em direção ao controlador de rádio na minha cintura, depois de mudar três vezes, finalmente acho a frequência correta.

*POW! POW! POW!*

— REY?! O QUE ESTÁ ACONTECENDO?! – digo afobado depois de apertar o botão do rádio em meu ombro.

— O QUE ESTÁ HAVENDO?! – escuto a voz de Harry passar perto de mim, estranho por um momento até perceber que ele na verdade já estava correndo pela passarela do lado de fora.

*POW! POW!*

Rey não me responde e eu simplesmente saio correndo da cozinha, indo pra área externa.

Nós tínhamos feito todo o esquema de passarelas não somente no quintal e nas janelas. Fizemos também aqui do lado externo. Na pequena área, havia uma mesa comprida onde planejávamos coisas e havia muitas gavetas, mas também, havia uma janela mediana, menor do que as outras da casa, que ficava logo acima da pia externa. Essa janela não teve como colocarmos suporte ali, então ela fazia função só de janela mesmo.

Espiei por ela, vi que Harry e Rey olhavam pelo lado oposto do qual Mary, Rob e Carley saíram. Eles olhavam pro lado do Beco...próximo ao rio. Gesticulavam sem parar e apontavam ao longe.

Eu não conseguia ver nada.

*POW! POW!*

Como se uma luz tivesse caído sobre mim, corro até a sacada da área. Tínhamos colocado uma escada comprida no pequeno quintal próximo a lavanderia, essa escada subia até o telhado do Forte.Coloquei meus pés na sacada da área e estiquei minhas mãos com medo até a escada.

Cuidado porra! A escada está no quintalzinho! Se você puxar ela, vai cair! Vá até o quintalzinho e suba a porra das escadas! É mais seguro do que tentar subir pelo meio!

Mas não havia tempo.

Respirei fundo e estiquei minhas mãos até a escada, assim que eu a senti, dei um pequeno impulso e fui com meus pés em seus degraus. A estrutura tremeu um pouco, o que me fez ter falta de ar por um momento, mas continuei a subir.

— MATT CADÊ VOCÊ?! MATTHEW! – escutei a voz de Harry sair pelo meu rádio, a apressei meu passo até subir completamente no telhado. Enquanto corria até a extremidade do mesmo, apertei o botão de resposta:

— NO TELHADO! ESTOU NO TELHADO! – digo com falta de ar enquanto corria logo após alterar a frequência novamente.

*POW! POW! POW!*

Tiro minha arma da cintura e corro segurando-a com ambas as mãos até finalmente chegar na extremidade do telhado, tendo uma visão clara da rua, de Harry , e de Rey.

Os dois estavam bem visíveis pra mim, eu diria que se eu pulasse da onde estou agora, se não fosse tão alto, eu cairia bem na passarela que havíamos construído abaixo das janelas, ficando próximo ao portão.

Mas eu não arriscaria quebrar as pernas.

— ESTOU AQUI! OLHA PRA DIREITA E PRA CIMA! – digo para Harry

Vejo Rey olhando através da mira da Sniper em direção ao rio. Há muitos zumbis andando rapidamente atrás de um homem que corre atirando para trás com um revolver.

— O que está acontecendo?! Abram!! – escuto Carley falar através do meu rádio, e consigo ver que ela falava com todos, e não só comigo, pois Harry havia posto seu ouvido em seu próprio rádio e Rey também.

Olho para outra direção, aquela que meus amigos tinham ido, e vejo Carley, Rob e Mary distantes cheios de coisas nas mãos.

Meu deus, eles três vão se esbarrar com o doido que tá atirando na rua!

— LARGUEM TUDO AGORA! CORRAM PRA CÁ! – eu grito contra o rádio, tentando me comunicar com Carley.

*POW! POW!*

Me viro em direção a Rey e Harry e grito:

— Abram o portão! Eles estão vindo!

Harry sai disparado pela passarela, querendo descer até o quintal para abrir o portão. Vejo o estranho que corria pela rua se aproximar em disparada pela rua, mais zumbis apareciam.

*PKOW!*

— AH! – Coloco ambas as mãos no ouvido ao escutar um estrondo forte saindo da arma de Rey. Ele havia disparado com a Sniper e sofreu um tranco tremendo com isso, já que ele deu praticamente um passo pra trás depois de disparar. Ele tateia com as mãos até encontrar uma determinada peça na arma, ele a puxa pra trás e vejo uma cápsula de bala cair. Ele se ajeita e parece mais firme para disparar novamente.

— O QUE ESTÁ FAZENDO?! – eu grito pra ele.

— SALVANDO ALGUÉM! – ele diz e dispara mais uma vez, o que me faz fazer uma careta novamente. Eu olho em direção a Rob e meus amigos e vejo que eles estão deixando tudo que pegaram ali na rua, vejo Carley vindo na frente gesticulando com as mãos apressando Rob e Mary que vinham atrás dela.

— POR FAVOR! ME AJUDA! – o estranho grita na direção de Harry que está tentando abrir o portão.

Escuto o portão se abrir e vejo Harry tirar a arma da cintura e começar a disparar em direção aos zumbis.

Vejo Mary Rob e Carley chegando pelo lado oposto da rua.

*PKOW!*

— CORRE PRA DENTRO! CORRE! – grito de cima do telhado. Não quero disparar minha arma, porque posso acertar alguém daqui de cima, não é como se eu tivesse uma mira óptica igual a arma que Rey manejava.

Rob, Mary e Carley entram disparados pelo portão, praticamente aos tropeços, e logo em seguida vejo o estranho passar para o lado de dentro também. Harry começa a fechar o portão rapidamente e Rey começa a correr para a passarela também, provavelmente querendo descer as escadas e ir para o quintal.

Saio da extremidade do telhado e vou até uma outra parte do mesmo, tentando ver o que acontecia lá em baixo.

— QUE PORRA FOI ESSA?! – escuto a voz de Carley, e percebo que uma confusão se instalou lá em baixo, já que eu começo a escutar as vozes dos meus amigos dizerem repetidamente “Ei!” “Calma!” “WOW WOW!”

Escuto o barulho de algo batendo contra a parede, mas não vejo nada com clareza, já que meus amigos estão afastados do portão. Corro o mais rápido que posso até a escada comprida que me trouxe até aqui em cima. Escutando os manifestos de meus amigos diminuírem na medida que eu corria mais e mais.

Alcanço as escadas e desço rapidamente, chego no quintalzinho e corro pelo corredor, já vendo meus amigos rodeando alguma coisa.

— EU NÃO VOU PERGUNTAR DE NOVO! – Carley berra, mas eu não a enxergo. Finalmente chego até a roda de amigos e vou abrindo espaço.

— Calma! Deixa ele respirar! – escuto Rey dizer e finalmente consigo ver a cena por inteiro.

Havia um rapaz asiático contra a parede, o antebraço de Carley estava apoiado agressivamente no pescoço dele, o mantendo preso na parede. Ela segurava uma pistola a apenas alguns centímetros de distancia do rosto do homem.

— E-E-Eu tava fugindo! Só i-isso! – o rapaz parecia assustado, estava suado e tinha uma mochila nas costas. Ele tinha cabelo preto de tamanho mediano, e uma barba rala no queixo e no buço, devia ter 1.74 talvez... era mais baixo que Carley, já que ela tinha 1.80.

Estranho...acho que já o vi em algum lugar...

— Você quase matou a gente! TEM NOÇÃO DISSO?! – Carley gritava furiosamente contra o rapaz.

— Não foi a intenção! – ele disse de volta – Eu só queria fugir dos mortos!

— Para! Para já! – Rey começou a afastar Carley que saiu de cima do asiático relutante e tirando furiosamente as mãos de Rey dela.

O Asiático deu algumas tossidas e levou as mãos na garganta, começou a respirar profundamente.

— Calma... – escuto Harry dizer pra Carley que não tira os olhos do rapaz estranho na parede.

— Qual seu nome? – Rey perguntou com um tom totalmente diferente de Carley.

— Glenn – o rapaz respondeu e depois tossiu mais uma vez – Glenn Rhee.


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