The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 29
O Bilhete Encharcado


Notas iniciais do capítulo

Eu amo muito os comentários de vocês, vocês n tem noção!! São vocês que me incentivam cada vez mais, então tá aqui! Mais um capitulo!

Me segue lá no twitter!: @xmisswalker



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PONTO DE VISTA – HARRY

 

Meu dedo batia freneticamente na lateral da caneca em minhas mãos, mas eu não sabia dizer se era porque eu estava com frio ou se era porque eu estava com alguma crise de ansiedade no momento.

Talvez os dois.

— NÃAO!! – Rob gritava como se tivesse tomado um tiro.

Estávamos encharcados graças a tempestade. Todos sentados na cozinha, com grossas toalhas nos envolvendo. Meus olhos doíam graças as lágrimas de momentos atrás, olho em volta e vejo todos em silencio, meus amigos parecem ter tomado uma pancada na cabeça, estão todos estáticos e incrédulos.

Demoramos alguns minutos até nos recompor e sair da chuva, Carley não nos perguntou mais nada depois que eu disse que havíamos chegado tarde. Ela só deu alguns passos pra trás e ficou nos observando, um a um. Depois, disse para sairmos da chuva, nos acompanhando escadaria acima. Jogamos as bolsas no balcão da cozinha, nem havíamos dito as coisas que encontramos...

Mas quem consegue pensar nisso agora?

Carley acendeu o fogão e colocou uma chaleira com agua num dos bocais. Abriu um pacote de chás que havia em um dos armários e colocou dentro de algumas canecas, ninguém se mexia naquela cozinha além dela. Mary se moveu em um momento, indo lá fora com a ajuda da lanterna, nos deixando no escuro total por alguns segundos para pegar um pacote de velas. Carley acendeu as velas e pingou um pouco de cera dentro de alguns pires para gruda-las.

Agora estávamos todos aqui, alguns sentados nas cadeiras, outros no balcão da cozinha, com xícaras com chá quente nas mãos, iluminados por velas, já que a lanterna havia sido substituída.

Depois de alguns minutos, Carley quebrou o silêncio:

— Me contem o que aconteceu.

~Flashback~

— É aqui que a gente se divide. – Rey nos disse. Estávamos dentro de um estabelecimento, agora vazio. Havia três zumbis aqui dentro, eu matei um, Mary e Rob mataram os outros dois. Matt estava olhando em volta, vendo se tinha algo que valia a pena pegar. Ele voltou com alguns antibióticos que achou em uma bolsa feminina jogada no canto, e um canivete que achou atrás do balcão. Disse que não havia mais nada que valesse a pena pegar.

— Aqui – Rey começou a andar até o balcão, e tirou o mapa do bolso, abriu-o e o esticou na mesa – Eu, Harry e Rob vamos pela Rua Marsh até chegarmos na casa do Rob, depois podemos descer por aqui e ir até a minha que é a segunda mais próxima da onde estaremos, e por fim passamos na sua, Harry.

Ele diz e eu assinto com a cabeça. Vamos resolver tudo hoje.

— Eu e o Matt podemos ir pela Yalle, a rua vai cruzar com a Maple e com isso podemos ir pra sua casa e depois contornar e ir pra minha. – Mary continua.

— A gente se encontra aqui? – pergunto.

— Pode ser. – Rey responde e todos assentimos. Antes de sair pela porta, olhamos uns para os outros, sinto que todos estavam preocupados.

— Tomem cuidado. – eu digo.

— Sim... – Rob diz e ficamos um pouco em silencio olhando uns para os outros. Depois, finalmente abrimos a porta e nos separamos.

Depois de talvez meia hora ou mais, visualizo uma placa na esquina no qual se lê “Rua Marsh”, havia zumbis na rua, mas não tantos quanto a Denbrough, agora tudo serviria de comparação a Denbrough eu imagino...

Depois de mais alguns minutos de caminhada pela Marsh, com direito a até mesmo uma nova pistola encontrada no corpo de um rapaz que tinha uma marca de bala na cabeça, chegamos a uma subida enorme. Depois dela, conseguiríamos ver a casa de Rob.

A casa de Rob...heh. Lembro de todas as festas que eu e meus amigos demos aqui....aniversários, Halloween, ou simplesmente festas por motivo algum. Na época da escola, lembro que sempre mandavam eu e Matt arrumarmos as bebidas, por sermos mais altos e aparentar ter mais idade do que realmente tínhamos. Não podíamos beber, mas sempre havia um ou outro barman que nos vendia as bebidas sem ao menos pedir documentação, juntávamos dinheiro e comprávamos alguma vodka e energéticos.

Muitas histórias aconteceram naquela casa...

Agora ela está diante de mim, mas me encontro paralisado, assim como meus amigos, incapaz de dar um passo pra frente por temer do que posso encontrar lá dentro. Me viro para Rob e vejo que ele está boquiaberto e com lágrimas presas nos olhos, uma réplica da reação de Carley ao chegar em casa e se deparar com o portão aberto...a situação também é a mesma.

O portão está completamente aberto. Mas diferente da casa de Carley, os dois carros estão visíveis na garagem, e com as portas abertas. Nenhum de nós se mexia, mas virei para Rey e gesticulei com ambas as mãos, fazendo-as se chocarem uma com a outra. Eu queria entrar e fechar o portão para podermos averiguar a casa, igual fizemos na casa de Carley.

Rey piscou algumas vezes e assentiu. Ele deu dois toques no cotovelo de Rob, quando eles se olharam, Rey gesticulou com a cabeça em direção a casa, avisando que iríamos entrar agora. Rob olhou pra casa por alguns segundos e assentiu lentamente com a cabeça, completamente trêmulo. Mas antes de entrar, olhei para Rey novamente e levei meu dedo indicador e meu dedo do meio em direção aos meus olhos e depois apontei levemente para Rob, indicando que era bom ficarmos de olho nele. Rey assentiu.

Entramos...

~Presente~

— Morreram... – Rob disse, com lágrimas nos olhos. Ao olha-lo podia julgar que estava completamente sem forças, como se o chão faltasse pra ele.

— Não havia ninguém? – Carley perguntou.

— Mor-re-ram. – Rob separou as silabas e encarou Carley raivosamente, que o encarou de volta e depois passou a fitar o chão.

— Sinto muito. – ela disse.

~Flashback~

— NÃAO!! – Rob gritou assim que fechamos o portão atrás de nós, me virei rapidamente com um gelo tomando conta de mim, e percebi que havia um corpo dentro o carro, jogado no banco com as pernas pra fora do carro. Uma mulher, de cabelo afro, era mais baixa que Rob e tinha a sua mesma pele morena.

Era a mãe dele.

Ela começou a se levantar, grunhindo, com os olhos brilhando e batendo os dentes. Rob deu dois passos para trás e caiu no chão desesperado e em prantos. Nem percebi o que estava fazendo, só sei que quando me dei conta, estava com o canivete que tinha achado na escola em mãos e estava furando o meio da testa do zumbi. Eu nem ao menos pensei.

Nem pensei...

Me dei conta do que havia feito quando os grunhidos foram cessando, minha mão ainda na faca, que ainda estava presa na testa o que antes costumava ser a mãe de Rob. Minhas mãos começaram a tremer, e quando puxei a lamina para fora meu estomago revirou e eu tive que despejar a pouca comida que me restava no estômago em algumas plantas ali próximas.

Rob chorava e soluçava freneticamente, parecia inconsolável, Rey se agachou até ele o abraçou forte, Rob o abraçou de volta. Eu estava ali perto do carro, processando tudo que eu acabara de fazer e ver.

— MINHA MÃE, REY! ERA A MINHA MÃE! – Rob berrava e soluçava enquanto abraçava Rey. Eu estava tremendo igual um pedaço de bambu, o carro estava ensanguentado por dentro. Olhei com mais atenção e vi que a mãe de Rob tinha um arranhão bem na lateral da barriga. Me pergunto como ela conseguiu isso...

— Ei! Ei! Você precisa ser forte agora, tá bom?! Você precisa sobreviver! Precisa! – Rey segurava o rosto de Rob nas mãos enquanto falava firmemente com ele, ambos com lagrimas nos olhos.

— EU NÃO SEI SE QUERO, REY! – Rob balançava a cabeça negativamente.

Escuto mais grunhidos dentro da casa, olho pela janela próxima que há algumas sombras se movimentando lá dentro.

— QUER SIM! Você precisa! Sua mãe não ia querer você daquele jeito! Aquela coisa ali não é ela, tá bom? Costumava ser, mas não é mais, tá me ouvindo?! – Rey dizia enquanto Rob balançava a cabeça

— MA-MA-MAS E MEU PAI? MEUS IRMÃOS? THEO E LARRY, REY! PRECISO VER SE ELES E-E-ESTAO... – Rob começou a dizer e tentar se levantar, mas Rey o segurou no chão.

— Não agora! Não agora! – Rey segurava Rob no chão, enquanto ele soluçava.

Eu não podia ficar parado. Temos que resolver tudo hoje...e vamos.

— Eu vou entrar. Fique aqui com ele. – eu digo e já começo a me virar para entrar.

— Espera, Harry! – escuto Rey fala, mas eu só ergo uma mão pra ele.

— Fique! Eu já volto! – digo e já abro a porta que daria pra sala. Colocando imediatamente a mão na boca pela visão que tive.

~Presente~

— Tudo estava revirado...havia...sangue. Muito sangue. – eu digo e Rob abaixa a cabeça, mas eu continuo – Achei Theo no sofá...

~Flashback~

Uma criança.

Theo era o irmão mais novo de Rob, tinha uns 13 anos de idade eu acho...eu não o conhecia tão bem assim mas...era ele. Eu tinha certeza.

Ao me aproximar quase que vomito novamente, ele estava com um pedaço da batata da perna faltando. Ao me ver ele tentou vir até a mim, mas caiu do sofá com um baque no chão, ele esticava as pequenas mãos em minha direção, tentando me pegar. Eu o olhei e mais uma vez me fiz a bendita pergunta que tinha me feito hoje mais cedo ao sair da escola...

Porque Deus?

Pensei em Rob...e o que ele veria quando entrasse aqui. E ele não poderia ver o irmão assim, como se fosse um animal. Respiro fundo e passo toda a situação em minha cabeça.

Precisa ser feito.

~Presente~

— Não podia deixa-lo daquele jeito...fiz igual a você, eu suponho. – digo e aponto para Carley, me lembrando da situação confusa que passamos na escola quando havia uma criança jogada nos degraus e Carley parou para mata-la.

— Igual a mim? – ela me pergunta.

— A criança na escola... – a lembro.

— Oh...sim. – ela diz e abaixa a cabeça para fitar os pés, claramente desconfortável.

— Bom...depois, vi movimentação na cozinha e fui para lá. Mas não era ninguém que conhecíamos então não houve muito drama nisso. Mas quando eu subi as escadas, para ir pros quartos...

~Flashback~

No primeiro quarto não havia nada demais , tudo revirado, assim como o resto da casa. Segui pelo corredor, mas fui surpreendido quando a porta, que estava levemente encostada, começou a se mover, como se tivesse alguém a empurrando. Um homem de meia idade, mais baixo que eu, com um cavanhaque grisalho se aproximava.

O pai de Rob.

Tinha que ser rápido, antes que ele pensasse em me atacar.

~Presente~

— Não encontrei Larry na casa. – digo por fim – Só os pais e...Theo.

Rob coloca as mãos no rosto, Carley vai até ele e coloca o braço em volta do ombro dele. Ela não diz nada.

— Eu entrei depois...vi tudo. – Rob diz baixo, quase como um sussurro. Mal pude escutar graças a chuva pesada que caia lá fora. Ele tira as mãos do rosto vermelho e olha pra mim.

— Esqueci de agradecer. Obrigado...de verdade – ele diz olhando em meus olhos – Eu não conseguiria. Eu assinto.

— Escolhi nós. Não há o que agradecer. – falo pra ele, depois encontro os olhos de Carley e ela me dá um sorriso fraco antes de começar a fitar o chão novamente.

O silencio reina novamente na cozinha por alguns minutos.

— Pegamos algumas coisas na casa dele antes de sairmos. Comida, roupas, ferramentas, agua... – começo a dizer, e Rob parece se lembrar de algo, ele pula do balcão e abre a mochila próxima a ele, revirando algumas coisas ali. Todos nós olhamos curiosos. Ele parece finalmente encontrar o que procurava, suspirando aliviado.

Ele apoia no balcão, segurando uma foto nas mãos.

— A-achei que a chuva tinha estragado... – ele diz olhando pra foto e depois fecha os olhos e reclina a cabeça, respirando profundamente. Na foto podia se ver cinco pessoas: Rob com os irmãos e os pais na praia.

— Depois, fomos pra casa de Rey...

~Flashback~

Demorou um tempo até sairmos da casa de Rob, mas assim que pegamos tudo, nos direcionamos para a casa de Rey. Tivemos que acalmar Rob por um tempo até que ele concordou em andar conosco novamente. Pude ver Rey tenso o caminho inteiro, e eu estava também, mas eu estava mais preocupado com meus dois amigos que caminhavam camuflados entre os mortos comigo. Medo de falharem em momentos que não podem falhar...

Medo de escolherem “Eles” por um segundo sequer...

Chegamos a fachada do apartamento de Rey, e encaramos nosso primeiro desafio: Subir pelas grades do portão e pular para o outro lado. Quis que meus amigos fossem primeiro, mas eles insistiram que deveríamos os três escalarmos juntos, sem deixar ninguém pra trás, e assim fomos.

Ao pisar do lado de dentro, começamos a subir os degraus. Rey morava no primeiro andar, apartamento 16.

Passamos por alguns zumbis, mas o ignoramos. Vi que algumas vezes, Rey olhava para os zumbis e engolia seco, algumas lagrimas surgiam, mas ele as enxugava antes mesmo de cair...vizinhos e pessoas conhecidas passavam por ele e eu não conseguia imaginar como ele deveria estar se sentindo agora.

Quando chegamos ao apartamento, ao girar a maçaneta e ver que a porta se abrira, meu coração pesou novamente. Portas abertas nunca é um bom sinal pelo jeito.

Ao entrarmos no apartamento, tudo estava revirado, mas não havia nenhum corpo a vista...até escutarmos um grunhido. Entramos no apartamento e eu me coloquei na frente deles, já pensando que se fosse o que eu estava pensando, teria que agir rapidamente de novo.

A sala, cozinha, varanda e banheiro estavam vazios, nos deixando apenas com os dois quartos restantes...o quarto onde sua tia dormia, e o quarto que Rey dividia com a mãe. A porta do quarto de Rey estava entreaberta, não havia nada lá dentro além das duas camas de solteiros, cada uma encostada em uma parede.

Mais uma vez escutei um grunhido, que fez eu e meus amigos nos olharmos. Vinha do quarto da tia dele...

~Presente~

— Ela estava lá...caída no chão. – Rey dizia lentamente, com as lágrimas escorrendo pelo rosto. Carley andava de lá pra cá na cozinha, com as mãos atrás da cabeça. Não se escutava nada além da chuva, do barulho das velas queimando, dos passos de Carley pela cozinha, e da nossa narrativa fraca naquela cozinha...

— Ela...tinha um arranhão enorme no rosto... – Rey parecia hipnotizado, olhando algum ponto fixo. Ele passava a mão no rosto, bem no local onde havíamos visto o arranhão no rosto de sua tia.

Fizemos mais alguns momentos de silencio.

— Eu a matei. – Rey disse por fim.

~Flashback~

Assim que identificamos aquele zumbi como a tia de Rey, não houve nem tempo de reação. Antes que eu pudesse tomar a frente, Rey já estava me empurrando para o lado, e com um urro, ele acertou o suporte que carregava nas mãos na cabeça do morto-vivo, quando a mesma tinha apenas levantado a cabeça grunhindo, ela não teve nem tempo de se mexer direito.

Assim que a acertou e tirou o suporte de sua cabeça, as pernas de Rey ficaram bambas e ele caiu de joelhos no chão, chorando. Eu e Rob fomos até ele e o abraçamos.

— Sinto muito. – disse a ele, que apenas continuou chorando.

~Presente~

— Tive que ser rápido...se não eu não ia conseguir. – ele diz, ainda fixado em um ponto aleatório da cozinha.

— Você não precisava fazer... – começo a dizer, e ele me encara.

— Precisava sim – ele diz sério – Era minha tia...eu senti que...eu devia isso a ela sabe? Ela sempre cuidou de mim com minha mãe e...eu não sei... – Rey abaixa a cabeça.

— Pareceu o fim de um ciclo pra mim, sabe? – ele diz baixo – Tem momentos que você está preparado e tem momentos que não...e eu me forcei a estar. – ele fala por fim, sem encarar ninguém. Todos ficamos em silêncio.

— Queria ter conseguido...mas é que...eu não entendo ainda como essas coisas estão acontecendo tão rápido e eu...só queria ser mais forte. – Rob diz, com a voz fraca.

— Você é. Cada um lida da sua forma...mas você foi muito forte em ter entrado na casa depois...e mais ainda por ter seguido viagem com a gente. – digo para ele, que sorri fraco. Ficamos em silencio por alguns segundos.

— Minha mãe não estava lá. – Rey fala

— Tinha coisas faltando na casa? – Carley pergunta

— Tipo álbuns de família? Não...a carteira dela não estava lá, e era só isso. Havia alguns remédios em cima da mesa, pegamos os que sobraram junto com mais comida e agua. Peguei também uma faca grande que minha mãe usava pra cortar carne de cordeiro...tá tudo ali. – Rey diz apontando para a mochila que estava no balcão atrás de Carley.

— Depois vemos isso... – ela diz e se vira agora pra mim - E você?

Eu levanto a cabeça, respirando fundo.

— Não estavam lá...mas achamos eles...depois. – eu digo, lutando contra as lágrimas ao me lembrar do que vi.

— Como assim, depois? – Carley pergunta e cruza os braços lentamente.

~Flashback~

— Sumiu! Todas elas! – falo irritado jogando tudo que estava no armário no chão.

— Sua família tem algum álbum de fotos? Alguma coisa que com certeza levariam? – Rey pergunta enquanto olha em ao redor do quarto.

— Sim. As malditas malas! – eu falo e aponto pro armário – Me ajudem a achar um bilhete! Qualquer coisa!

Começo a me desesperar e a revirar o quarto, Rob e Rey ambos estão com o rosto vermelho dadas as lagrimas. Eles estão em um ritmo mais lento, mas ainda me ajudam. Rey vai para minha sala de casa e Rob me ajuda a revirar o quarto.

— PORRA! – chuto minha cama quando não acho algumas roupas minhas.

— Ei, calma! – Rey diz e eu coloco uma das mãos na testa.

— Levaram algumas roupas minhas também, eles saíram daqui! Saíram correndo! A porta estava trancada, se eu não tenho a chave de casa ficaríamos presos pra fora! Eles saíram mesmo! – digo confuso e irritado.

— Se levaram suas coisas, devem estar de procurando Harry! – Rey disse e segura nos meus ombros, sinto dor em sua voz, e me lembro que o dia de hoje não está sendo fácil pra ninguém.

Respiro fundo ainda irritado e tentando pensar no que fazer.

— É melhor a gente dar uma geral na casa, devem ter deixado algo útil para trás. – falo e saio do quarto.

~Presente~

— Comida, agua, remédios...haviam poucos, mas pegamos o que deu. Comida enlatada, ferramentas que poderiam servir de arma...tudo que deu. Fui procurar o revolver do meu pai, mas não estava na casa. Eles levaram tudo com eles, mas... – paro de falar por alguns momentos. Respiro profundamente ao me lembrar do dia de hoje. Os outros esperam pacientemente.

— Mas...no final das contas.... – vou com minha mão até o meu quadril, e tiro de dentro da calça um revolver branco .38 . Vejo Carley e os outros me olharem confusos, com exceção de Rey e Rob.

~Flashback~

Rey havia sugerido de voltarmos por uma outra rua que tinha mais acessos a carros. De acordo com ele, poderíamos achar alguma pista sobre minha família já que nenhum bilhete foi deixado para trás.

Dito e feito. Realmente...

Achamos não só uma pista...mas como achamos eles.

Congelo no meio da Rua Aratorn ao ver o carro do meu pai depois de vinte minutos de caminhada da minha casa. O veiculo estava com duas rodas em cima da calçada e havia marcas de pneu no asfalto, indicando uma freada brusca. Algo em mim me fez me aproximar do carro, não sei foi curiosidade ou o começo de algum tipo de crise...mas sei que me aproximei.

Lá estavam...

Minha boca começou a se abrir ao ver o vidro do motorista estraçalhado, meu pai estava ao volante, preso ao sinto de segurança. Eu não consegui ver nenhuma mordida visível, mas lá estava ele...mais uma daquelas criaturas horríveis.

Eu não sabia exatamente o que fazer ou o que sentir. Aquilo se parecia tanto com ele, mas ao mesmo tempo não se parecia...acho que eu estava em algum pesadelo no qual eu não conseguia acordar.

Logo vi um outro zumbi deitado no banco de trás do carro, um zumbi de cabelos longos e pretos iguais aos meus, uma garota que eu chamava de irritante e chata todos os dias, mas ela sabia que eu nunca quis dizer isso mesmo...

Minha irmãzinha.

Sua cabeça estava virada para o outro lado do carro, então eu fui lentamente passando pela frente do carro. Vi que no banco de passageiro, estava minha mãe.

Três criaturas.

Encostei no vidro perto da onde o que costumava ser minha irmã estava. Era ela. Realmente era ela.

Senti as lágrimas chegarem até meus olhos, Rey e Rob também as tinham. Nós três perdemos hoje...perdemos a batalha hoje.

Comecei a soluçar com a cabeça abaixada enquanto escutava os grunhidos vindos de dentro do carro e mais uma vez me perguntei do porque Deus estaria fazendo isso...

Eu não ia deixar eles ficarem assim.

Vejo minha família agitada no carro, mexendo a cabeça, desnorteados e perdidos...sem paz. Começo a tirar minha faca, mas sinto uma mão encostar na minha. Era Rob, eu o olho pronto para brigar, mas ele gesticula com os olhos a volta dele.

É mesmo. Estávamos no meio da rua, com zumbis perto de nós. Se eu começar a ficar agitado aqui no meio, posso chamar a atenção. E aí, não serão mais três criaturas, e sim seis. E com ninguém para nos tirar do sofrimento depois.

Olho para minha mãe...ela também está com o sinto de segurança, mas vejo que ela está com a mão enroscada no porta-luvas. Eu me viro com as lagrimas nos olhos e assinto para Rob, guardo a faca e ele solta minha mão. Depois, abro a porta do carro, o que faz Rey e Rob arregalarem os olhos. Passo com meu braço perto da minha mãe, e ela não reage, afinal de contas ainda estou com as tripas no meu corpo. Eu escuto um trovão...uma chuva se aproxima.

Pego na parte livre do porta luvas e o puxo levemente, fazendo-o se abrir. Minha mãe se movimenta e por um momento achei que fosse me atacar, mas ela só estava reagindo ao barulho, mesmo. Dentro do porta-malas, havia um revolver .38 branco.

~Presente~

— Tive que deixa-los lá. Ainda estão lá – conto aos prantos e com ambas as mãos nos olhos. Sinto alguém me abraçar e vejo que é Mary, que estava próxima de mim.

— Eu queria livra-los disso! Não queria deixa-los lá daquele jeito! Eu deveria...talvez não fossem notar... – começo a dizer, mas sou interrompido por Rob.

— Eles iam notar, Harry. Talvez não estaríamos aqui se você não tivesse escolhido “nós” naquela hora também... – ele diz e isso me faz olha-lo. Eu acabo sorrindo fraco.

— Talvez... – eu digo por fim enquanto Mary dá tapinhas no meu ombro.

Ficamos em silêncio por um tempo.

— Acho que devemos fazer algo pra comer. Estou mo- digo- com muita fome. – Rob diz e eu até acho engraçado, mas não consigo expressar nada.

— Sim. Assim que eu terminar de ouvir tudo – Carley diz e se vira pra Matt – Matt?

Matt estava em silencio durante toda a conversa. Mary tira as mãos do meu ombro e começa a fitar o chão.

— Mary? – Carley vira para Mary agora, nenhum dos dois, nem Matt nem Mary responderam a ela.

— Não havia ninguém. Tanto na minha casa como na de Mary. – Matt disse

— Mas vocês viram alguma coisa? Algum sinal que foram pra algum lugar ou alguma pista do que pode ter acontecido? – Carley pergunta. Mary e Matt se olham, aparentando cansaço.

Matt se levanta e começa a tatear algo no bolso.

— Na minha casa não havia ninguém. Levaram algumas roupas, comida, álbuns...igual aqui, Carley. Não achei ninguém da minha família, nenhuma pista deles. Mas...

Matt suspirou fundo e tirou cuidadosamente um bilhete encharcado do bolso da calça.

— Mas...? o quê? – Carley pergunta.

— Deixaram isso na minha casa. – Matt diz e mostra um pedaço de papel dobrado para Carley, que o pega com cuidado para não rasgar.

Ela abre e vejo seus olhos passando pelo papel. Vejo seus olhos se arregalarem aos poucos e sua boca se abrir levemente.

— A cidade foi dominada. Acabou tudo. – Matt diz para nós de braços abertos, com lágrimas presas nos olhos e um rosto debochado.


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Notas finais do capítulo

No proximo capitulo, veremos o bilhete inteiro!



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