The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 28
Tarde Demais


Notas iniciais do capítulo

Capitulo longo a frente! Boa leitura!



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PONTO DE VISTA – CARLEY

 

— Pode pegar essas? – Harry me pergunta, mas vejo cuidado em suas palavras.

— Pode pegar qualquer uma. – gesticulo para as toalhas que estão postas dentro do armário do quarto dos meus irmãos – Coloca em cima dos colchões só pra vocês não sujarem ele todo, se alguma mancha passar da toalha, acredito que vai ser pouca e um pano molhado vai resolver.

Ele assente e tira as toalhas de dentro do armário de madeira que ficavam ali.

Ross e Adam sempre dividiram o quarto, quando eu nasci, eu ganhei um quarto só pra mim. Pode soar injusto, mas eles também nunca reclamaram quanto a isso. O quarto era grande, assim que você passava da porta, veria duas camas a sua direita, uma em cada canto da parede. No meio, havia uma cômoda de madeira com três gavetas embutidas nela, e acima da mesma, estava posta uma bandeira do nosso país. Em cima de cada uma das camas, havia três prateleiras pretas repletas de artesanatos que definiam muito bem o gosto de cada irmão que eu tinha.

Nas prateleiras de Ross você podia ver livros jurídicos, uma foto dele com minha mãe, Adam eu e meu pai no dia de sua formatura, duas fotos polaroid dele com a namorada(que me lembrava de me perguntar o que havia acontecido com ela),um relógio e na última prateleira, uma estátua de trinta centímetros dourada da “Deusa da Lei”, Têmis. Acima da prateleira, havia um diploma de Direito emoldurado.

Já nas prateleiras de Adam, na parte inferior haviam alguns livros sobre a origem do mundo e do ser humano e uma foto dele com alguns amigos. Na segunda prateleira, que ficava acima dessa, havia uma dúzia de cinzeiros. Adam colecionava cinzeiros, sempre que ia viajar ele comprava um cinzeiro do lugar pra ele e um chaveiro para minha coleção de chaveiros. E na última prateleira, a que ficava no topo, havia vários itens artesanais. Cavaleiros de gesso, uma pequena estatueta do Castelo dos Mouros comprada na nossa viagem a Portugal, uma caravela portuguesa, uma ampulheta verde musgo e várias outras tranqueiras que ele gostava de acumular. Acima das prateleiras, preso a parede, também havia um diploma, só que esse era de Administração.

Nas paredes do quarto, estavam postos um quadro de cada lado do cômodo, um era do “O Pensador” e outro era uma pintura infantil, feita por Adam quando ele tinha 15 anos de idade. Ele a colocava na parede na qual sua cama se encostava, e aquilo servia de piada para todos que entravam no quarto, pois o cavalo negro que ali estava desenhado possuía 5 patas, e a quinta pata tinha um formato...meio estranho.

O quarto tinha um formato em “L”, quando você entrava no quarto, e seguia reto, você iria dar de frente com uma mesa de madeira que era grudada na parede e acabava no armário de roupas deles, juntando a mesa e o armário.  Na mesa havia um computador e uma impressora, e embutido na mesa, havia uma grande gaveta que continha folhas de sulfite e equipamentos de informática. Ross era técnico de informática antes de se formar, então todos os CDs de instalação de softwares e as ferramentas necessárias para abrir uma CPU se encontravam nessa gaveta. Havia uma cadeira com rodinhas no espaço vazio da mesa em frente a janela, e na frente dessa cadeira haviam vários papéis que identifiquei como sendo tipos de processos jurídicos.

Ross sempre desorganizado...

Ross...

Meus amigos tiraram a cadeira dali e colocaram um colchão, parte do colchão ficava de baixo da mesa e a outra parte fora. Assim que esse colchão acabava, havia outro, mais próximo a porta, e por fim, entre as camas havia outro colchão, posto ali também pelos meus amigos.

Eu passava entre os pequenos espaços entre os colchões, para não suja-los. Eles nem precisariam do meu colchão de casal afinal de contas...o quarto caberia os cinco.

Quando levantei da sala, eles estavam todos no corredor, segurando as alças do colchão com panos de prato discutindo sobre quem ficaria em qual quarto.

Não acha melhor irmos perguntar pra ela? A casa é dela afinal.” Matt havia perguntado na roda.

“Acho melhor não incomodar ela agora, sabemos como Carlie é, ela precisa ficar sozinha...” Rey respondeu

“Tá, então a gente se divide entre o quarto dos irmãos dela e o quarto dela própria? Melhor fazer assim?” Harry perguntava também.

“Porque não ficamos todo mundo no mesmo quarto? Já que vamos transformar isso em um local seguro, não seria melhor reservarmos um lugar específico pra por as armas e equipamentos e coisas do tipo? Organização é sempre bom.” Mary sugeriu

“Mas se for pra fazer isso tem que perguntar pra ela e...” Rob começava a falar quando surgi no corredor.

Eu disse que era uma ótima ideia coloca-los no mesmo quarto e usar um dos cômodos para organizar as coisas que tínhamos. Eles me perguntaram onde eu dormiria, e se por acaso caberia seis pessoas no quarto de Ross e Adam, eu disse que onde eu dormiria era o de menos. Ainda estava irritada com a situação toda deles querendo me deixar pra trás, mas havia aceitado que não tinha como eu discutir ali, então eu os ajudei a colocar os colchões no quarto e mostrei a Harry onde estavam as toalhas.

Agora eu estava na soleira da porta, vendo eles montando a área na qual iriam descansar. Vejo as prateleiras e os itens, estudando tudo, ainda incrédula com o que havia acontecido.

Me deixaram pra trás na cara dura..

— Pode pegar aquela foto? – digo para Rey, que estava estendendo a toalha em cima da cama de Ross. Ele dormiria lá, e suponho que Mary iria dormir na cama de Adam já que ela fazia o mesmo com a dele. Harry estava sentado no colchão que estava ao chão, entre as camas. Tirava o tênis enquanto fazia uma careta.

Estão todos cansados. Andamos muito e tenho certeza              que eu não fui a única que não dormiu bem naquela escuridão na escola.

Em falar em escuridão...temos que pegar algumas velas pra noite.

— Essa? – Rey perguntava inseguro enquanto apontava pra foto de formatura e vi que ele tentava estudar minha expressão. Estava preocupado.

— Isso. – disse.

Ele ia pegar a foto, mas parou no caminho e se virou para Rob que estava forrando a toalha no colchão próximo aos pés da cama de Ross.

— Me passa o pano? – Ele pediu e Rob passou um dos panos de prato que ele havia usado para segurar a alça do colchão. Rey o pegou e limpou a ponta dos dedos, depois, finalmente pegou a foto e antes de me entrega-la, jogou o pano de prato em minha direção. Eu o peguei no ar.

— Você não quer sujar a foto, quer? – ele disse. Eu não respondi, apenas limpei minhas mãos também e peguei a foto sem olha-la.

— Estarei na sala. – digo e me viro pra sair, mas Mary me chama de volta.

— Carlie! Sabe se esse relógio tem alarme? – Mary me pergunta e aponta para o relógio de pulso em cima da prateleira de Ross – Pra gente não dormir muito...

Olho para o relógio analógico preto que ali estava. Engulo seco e respondo.

— Tem sim.

O relógio que comprei para ele.

— Pega ele aí Rey! – Mary gesticula e Rey pega o relógio. Eu jogo o pano de prato em minhas mãos para Mary antes dela pegar, Rey ri fraco enquanto Mary limpa as mãos antes de pegar o relógio.

— Caramba! São 11 horas?! – Rey diz boquiaberto enquanto o relógio é tomado de suas mãos por Mary.

— QUE?! – Rob, Matt e Harry falam em uníssono.

— Como faz pra programar? – Ela diz e começa a virar o relógio nas mãos, eu me inclino um pouco e o pego, ela se ajoelha na cama e fica fitando minhas mãos enquanto eu manuseio o objeto.

— Você aperta aqui, nesse botão, duas vezes. Aí quando mudar...está vendo? Mudou. Agora tá aparecendo “00h00”, você vai apertando o mesmo botão até ficar na hora que você quer acordar, quando ficar na hora certa, você segura o mesmo botão até ele apitar. – instruo Mary e ela confirma com a cabeça conforme vou falando.

— Tá, saquei. Obrigada. – ela pega o relógio nas mãos e começa a fazer a programa-lo.

— Como eu disse...sala. – eu digo a eles e aponto em direção a sala. – Me chamem quando forem sair.

Eles assentem e eu começo a andar no corredor em direção a sala, mas estranhamente, eu paro no meu quarto, que está com a porta fechada.

Será que tiraram alguma coisa daqui?

Minha mente se clareia. É lógico que tiraram uma coisa, e eu sei o que tiraram. Abro a porta e entro no quarto.

Minha caverna.

Eu sempre amei meu quarto. Se eu tivesse que escolher um lugar da casa inteira, seria aqui. Esse é o lugar no qual eu mais me lembro de ter passado momentos felizes. Quando você passa da porta, bem encostado a soleira, há uma pequena mesa de madeira condensada cinza. Em cima dela há um monitor, uma CPU, teclado e mouse compondo o meu computador. Há também um porta-lápis com varias canetinhas coloridas dentro, e pendurado em algumas delas, há um chaveiro da Herley Quinn e um chaveiro de um pequeno espelho, do filme A Bela e a Fera.

Acima da minha CPU, haviam três prateleiras brancas. Na mais inferior, haviam vários Action Figures de séries de TV e de filmes que eu costumava assistir, há também uma caneca do filme “O Senhor dos Anéis” com um Funko Pop do personagem Gandalf dentro.

Na prateleira acima desta, haviam alguns artesanatos, bonecos de gesso de viagens que eu havia feito na vida, eu tinha uma caravela portuguesa comprada na mesma loja que Adam comprou a sua caravela em Portugal. Ali também estava um barco viking de madeira, de uns vinte centímetros. E por fim, havia um pequeno suporte preto com três mini-katanas sobre ele, servindo somente para fins decorativos já que as “katanas” não eram de verdade e mediam apenas alguns poucos centímetros.

E na última prateleira, havia alguns outros bonecos de ação, um pote grande no qual eu guardava todos os meus chaveiros, e vários baldes de pipoca customizados, um dentro do outro, comprados em pré-estreias de diversos filmes que fui assistir.

Mas o que eu mais gosto...quer dizer, pelo menos quando o mundo não tinha morto por aí, eu gostava mesmo era de colecionar pôsteres. A parede direita do quarto inteira era coberta de pôsteres. Acima do meu monitor, havia um pôster da série Friends, que eu gostava muito. E há alguns centímetros de distancia deste, havia um outro cartaz, desta vez da Mulher Maravilha.

Próxima a minha mesa, encostado na parede, havia um grande armário branco com espelho duplo preso nas portas, e de frente com ele, havia um teclado musical, acima de um suporte preto. Logo após o armário e certo espaço, ficava minha cama, que era de casal, mas não era grande. Em frente a minha cama, havia uma estante comprida com nove espaços, sete deles com livros, e dois com DVDs das minhas tão adoradas e já mencionadas séries de TV.

Minha mãe reclamava de meu quarto, mas ele era o primeiro quarto que ela procurava mostrar para as visitas, alegando que a filha dela era uma “cinéfila”.

“Acumula um pó que é uma beleza, mas é lindo!” ela dizia.

Atravesso meu quarto e vou para o lado esquerdo da minha cama e olho para a parede.

— HÁ! Lógico que levaram né?! – eu digo furiosa com meu deboche em dia, estava pronta pra me sentar na cama, mas interrompo meu movimento e quase me desequilíbrio ao fazer isso.

— Porra! – me apoio na parede ao lado, minha mão suja a parede de sangue. Tenho que pegar uma toalha pra por nessa cama!

— Carley?! – ouço a voz de Mary soar pelo corredor e ecoar até meus ouvidos – Tá tudo bem?!

Olho para o canto do quarto a minha frente balançando a cabeça. Lógico que iam levar ele! Não são burros!

— Tá! – eu grito de volta, alguns momentos de silencio se fazem presentes até eu ouvir a porta do quarto ao lado se fechar.

Eu sempre gostei de colecionar coisas, tudo que era diferente eu gostava. Meu sonho era ter réplicas de armas de fogo, ter espadas, machado, faca, qualquer coisa! Eu acho esses objetos muito bonitos afinal de contas. Mas é obvio que minha mãe achava uma loucura a princípio, então tive que começar o sonho aos poucos. A primeira coisa que comprei, foi um bastão de baseball de madeira de carvalho escuro.

Quando cheguei com ele, minha mãe o achou impressionantemente perigoso, e meus irmãos brincaram dizendo que a policia nunca poderia entrar em casa, se não alegariam que eu teria uma arma branca perigosa e me levariam pra cadeia. Mas no final de tudo, minha mãe deixou eu continuar com o bastão recém comprado, por mais que reclamasse sempre dele.

Eu fui toda orgulhosa com ele pro meu quarto, após o mesmo ter chegado pelo correio mais cedo naquele dia...o coloquei BEM AQUI. Neste canto, com a base apoiada na parede, próximo a cama.

— Reclamou, mas levou né?! – digo sozinha no quarto.

Merda, uma arma boa a menos.

Esse quarto bem dá muitas memórias boas. Em cima da estante posso ver muitas delas inclusive, isso me faz lembrar do meu álbum pessoal de momentos com meus amigos e família. Vou até uma das duas gavetas que ficam na mesa do computador e puxo a primeira. Para minha surpresa, ele está lá. O pego nas mãos.

Ao abrir, meu coração se aperta. Vou passando as fotos e vejo várias fotos de festas que tive com meus amigos...todos eles, os que não foram pra escola ontem também estão no álbum, e é claro que Rey, Matt, Rob, Harry e Mary estão também. Vejo praticamente uma retrospectiva se formar em minha frente, desde a época da escola, quando tínhamos onze anos de idade até a nossa formatura e além. A última foto da minha sessão com os amigos foi batida há duas semanas, numa festa, na casa de Rob. Olho para os nossos rostos, tão alegres e felizes, com copos na mão e sorrisos no rosto, completamente despreocupados e gratos por aquele momento.

Mal sabíamos que essa merda ia acontecer, hein?

Respiro fundo e passo a página, meu coração se aperta mais ainda e quase posso sentir lágrimas em meus olhos. No topo do álbum, podia-se ler “Familia”.

Fotos minhas com meus primos e primas, tios e tias, irmãos, pais, amigos da família que eram praticamente agregados a nós estavam diante de mim. Fotos minhas quando era criança, me divertindo com eles...e também fotos minhas mais recentes de momentos diversos: Aniversários, casamentos, formaturas, festas, baladas, momentos de lazer em casa, momentos nos quais estávamos jantando fora...

E tinha também aqueles momentos que mais doíam: momentos felizes na chácara de minha família.

Sim, minha família era dona de uma chácara, que ficava mais ou menos a 2h de distância de onde minha casa ficava, caso não pegássemos trânsito. Eu era a mais nova da família, e quando eu tinha apenas um mês de idade, começaram a construir a enorme casa que lá fica. Eu amava aquele lugar, ia lá pelo menos umas seis vezes por ano desde que nasci. Sempre ficávamos o final de semana inteiro lá, a ultima vez que me lembro que fui, foi no mês passado para o aniversário do meu padrinho.

Passo as páginas evitando olhar as fotos por muito tempo, e nas ultimas páginas, há muitas fotos que foram batidas bem aqui, no meu quarto. Fotos dos meus primos e irmãos jogando cartas na cama, vendo seriados, jogando no computador...momentos e mais momentos.

Há alguns espaços vazios nas duas últimas páginas, coloco a foto da formatura de meu irmão em um dos espaços e fecho o álbum aos suspiros.

Olho em volta e parece que estou em outro planeta.

Não quero ficar neste quarto. Me sinto uma impostora aqui. Esse lugar tem memórias que estão tão distantes que parecem que nem ao menos me pertencem...não é possível que eu tenha vivido essas coisas com tudo isso que está lá fora agora...é surreal.

Largo o álbum em cima da mesa do computador e vou até meu armário. O abro e vou na parte superior, pego uma toalha e depois fecho o armário novamente. Apoio a toalha em cima do teclado musical ali ao lado e vou em direção a cama. Começo a tirar as armas dali, vejo que algum dos meus amigos achou uma caixa de munição, que está posicionada em um dos espaços da estante. Apoio as armas na estante deixando a cama livre, pego a toalha, mas por algum motivo, não consigo seguir em frente e colocar a toalha no colchão.

Olho em volta, e parece que vejo todos os momentos felizes que vivi nesse quarto se reproduzirem na minha frente, escuto as risadas tão claramente que chego a me assustar.

— Não posso ficar aqui. – digo sozinha.

Vou em direção a cama e tiro os travesseiros com cuidado para não esbarrar eles em minha roupa, jogo eles no chão e puxo o lençol dali. Pego o colchão pelas alças com certo esforço e o tiro do estrado, levo o colchão para a sala, mas vejo que vou ter que abrir espaço pra ele já que há um enorme rack ali.

Acredito que eu tenha perdido um tempo com isso, mas eu não conseguia ficar no quarto. E eu sabia que isso era uma tolice, mas eu simplesmente não conseguia pensar na ideia de me deitar no quarto de uma pessoa que se parece tanto comigo, que tem memórias que se parecem com as minhas...mas que ao mesmo tempo, não reconheço como eu mesma.

No final de longos minutos, eu havia movido o rack, o levando mais perto da entrada da sala. Eu pensaria no que fazer com ele depois, a televisão que ficava presa neste mesmo rack, foi solta por mim e agora estava jogada no sofá, que também havia sido afastado alguns metros para trás, ficando bem próximo a entrada que dava pro quarto dos meus pais. A estante de DVDs também foi movida e ficou próxima do sofá. Tudo estava uma bagunça, mas o fundo da sala agora estava com muito espaço.

E Ross...eu o havia movido. O coloquei encostado na parede, abaixo do relógio da sala. Não tinha forças pra descer escadas com ele nas costas, o cara tinha 1.90m! Sabe-se lá quanto pesava!

Estranhei o fato de nenhum dos meus amigos se levantarem, mas como eu suspeitava, eles estão cansadíssimos.

Voltei para o quarto e tentei levar o estrado e tudo aquilo que suportava meu colchão para a sala, mas era muito pesado para eu levar sozinha, então simplesmente joguei o colchão no canto esquerdo da sala, coloquei o lençol e a toalha em cima do mesmo, peguei mais uma toalha no armário e a coloquei em volta do travesseiro no qual eu ia apoiar minha cabeça, o suporte que eu havia usado naquele dias estava apoiado na parede agora. Assim que deitei, senti algo incomodar minha lombar, me levantei um pouco e puxei aquilo que me incomodava.

Havia esquecido.

Segurava a pistola branca com ambas as mãos, agora, a olhando mais detalhadamente. Como eu sempre quis réplicas de armas, eu conseguia identificar algumas delas. Esta parecia uma Desert Eagle 50A, ela possuía detalhes em preto. Sentei na cama e passei meus dedos sobre a arma, puxei o ferrolho para trás e vi uma bala na câmara. Destravei a arma e puxei de novo, a munição pulou para fora pelo espaço acima do cano. Travei a arma e peguei a bala do chão, era pontuda e levemente pesada.

Deve dar um tranco da porra...eu só atirei com .38 do meu tio, no sítio. Isso não chega nem perto!

Tirei o cartucho da arma e com muito esforço coloquei a munição em minhas mãos junto com as outras, tremi tanto meus dedos com a força que estava aplicando para puxar as balas para baixo que por um momento achei que não ia conseguir. Feito isso, coloquei o cartucho de volta e coloquei a arma travada no chão, bem ao meu lado, enquanto eu encarava o teto.

E como sempre, ao perceber que estava sozinha, meus olhos se encheram de água e começaram a escorrer lágrimas como se fossem cachoeiras. Me viro de lado e me permito chorar, me segurando para não começar a soluçar. Adormeço.

Estou numa floresta, meus irmãos estão ali e minha mãe estão ali...mas durante meu sonho todo, eu corro atrás deles, deixando pegadas de sangue...eu nunca os alcanço...eles me chamam...

Carley...

Carley...

— Carley...HEY HEY CALMA! – sinto uma mão no meu ombro e acordo assustada já levando minha mão na pistola ao meu lado, meus olhos focam e consigo ver Harry com as mãos para cima. Vejo meus amigos com uma expressão de...pena?

Ao piscar sinto meus olhos doerem e percebo que chorei até mesmo enquanto dormia, passo minhas mãos rapidamente nos meus olhos e desvio o olhar deles.

— Estamos indo... – Rey diz atrás de Harry. Eu balanço a cabeça rapidamente, ainda em choque pelo susto.

— Certo, certo....hã... – olho em volta ainda ofegante – que horas são?

— 13h30. – Mary mostra o pulso e vejo o relógio em seu pulso.

Eu devo ter feito algum tipo de expressão porque logo em seguida ela gagueja e me fala:

— Te-te-tem algum problema de e-eu levar o relógio? Pra termos noção das ho-horas? – ela fala e vejo que ela tem cuidado com as palavras, o que me é estranho.

— Não, de forma alguma. – digo tentando arrumar minha postura sentando-me na cama. Eles estão com as mochilas novamente da mesma forma que estávamos quando chegamos na casa, na frente e atrás do corpo, cada um com duas mochilas.

— Achamos que era uma boa ideia levar as mochilas caso achássemos algo no caminho. – Matt disse depois de me ver analisando as mochilas. Eu apenas afirmo com a cabeça.

— Ah, e pegamos isso lá fora, vai precisar caso fique um pouco escuro né? – Harry colocou uma lanterna ao lado do meu colchão, logo em seguida ele parece um pouco ansioso – Não que iremos voltar tarde, mas é sempre bom se precaver ce-certo? Foi ideia do Rey e...

— Sim, realmente é bom se precaver. – eu o interrompo e o encaro, acho que ele tinha ficado nervoso, eles estão estranhos em relação a mim.

— Relaxem. – eu sento no colchão – E pelo amor de Deus, tenham cuidado.

— Teremos. – Rob diz e todos assentem.

— Estão levando as armas? – pergunto

— Só os revolveres e pistolas. – Rey responde por eles.

— Sabem usar se precisarem? – pergunto novamente.

Silêncio.

— E-eu sei mais ou menos... – Mary diz e tira um revólver .38 preto de trás da calça – Acho que revólveres são mais fáceis, certo? Puxar aqui em cima, mirar e atirar? – ela gesticula sobre o “cão” da arma e eu apenas assinto, realmente revólveres eram mais fáceis.

— E vocês? Sabem destravar uma pistola? – Rob e Matt tiram duas armas de trás das costas que se parecem muito com uma Glock 17. Harry também tira uma arma, mas essa se parece uma Taurus...92? 9mm? Não sei dizer ao certo agora.

— Na arma de vocês, antes de atirar tem que destravar apertando deslizando um botão como esse. – digo e indico o botão que há na minha arma. Eles encontram o mesmo botão na deles.

— Assim que vocês deslizarem para frente, já pode atirar. Mas evitem de usar por cau- começo a dizer, mas Rob me interrompe.

— Por conta do barulho. Sim, claro. – ele diz e sorri fraco. Eu afirmo com a cabeça.

— Certo – falo por fim.

Rey vai até mim e coloca a mão no meu ombro.

— Até logo. – ele diz.

— Tragam a família de vocês. – respondo olhando nos olhos deles.

— Traremos. – ele diz e dá dois tapinhas no bolso da frente, um barulho de papel é ouvido – Peguei seu mapa.

— Tá bom... – digo e ele se afasta, eles acenam pra mim e saem da sala.

Após alguns minutos ouço o portão, vou até a janela e vejo que eles estão abrindo lentamente o portão, os zumbis passam por eles, o cheiram, e depois agem como se não tivesse nada errado. Rey passa por último e fecha o portão, mas não o tranca. Ele me vê olhando pela janela e balança a cabeça. Depois, vejo eles seguirem em direção ao rio no final da rua até eles sumirem da minha vista.

Um gelo sobe pela minha barriga, estou completamente sozinha agora. Minha cabeça começa a doer e vou em direção a cozinha, procuro um remédio e para minha surpresa, alguns foram de fato deixados para trás, coloco uma pílula na boca e tomo um pouco de água.

Me deito novamente na cama, agora com a pistola em minhas mãos e com a barriga pra cima.

— Eles vão voltar. – digo a mim mesma antes de sentir meus os olhos se fecharem novamente e adormecer, com um gelo imenso em meu estômago.

.........................

— CORRE! CORRE! – escuto gritos e abro meus olhos completamente assustada, sento na cama no susto e com a arma em mãos, percebo assustada que estou no escuro. Lá fora a noite chega, minha barriga dói de fome.

Que porra de remédio foi esse que eu tomei?!

— RÁPIDO! MARY! MARY VENHA! – os gritos continuam e eu pego a lanterna que estava no chão, ligo e vou até a janela apontando o feixe de luz para o portão. Minha boca se abre num gigantesco “O”.

DEZENAS!

— SEGURA! SEGURA! – Harry grita segurando o portão junto com Rob, eles se afastam algumas vezes quando uma mão de algum zumbi passa pela grade. A chuva cai pesada lá fora, eles estão encharcados na escuridão, segurando o portão enquanto Rey tenta se aproximar do portão para fecha-lo com o cadeado. Haviam mais de vinte zumbis tentando entrar na casa e meus amigos estavam tentando fechar o portão.

Tiro minha cabeça da janela e saio correndo até a cozinha, pego uma das chaves no porta-chaves e vou até a porta que fica no final do corredor, a vista da sala. Aquela porta daria pra uma pequena escadaria, que daria no portão menor de casa, ou seja, eu estaria rapidamente no quintal para ajuda-los.

Destranco a porta da sala e corro disparada escadaria abaixo.

— ATIRA! ATIRA! – escuto a voz de Rob gritar desesperada.

POW! POW! POW! POW!

Congelo por meio segundo na escadaria e continuo a descer. Meu coração está disparado. Ao chegar no final da escada, vejo Mary e Matt disparando contra alguns zumbis que tentam entrar pelo grande portão. Rey tentava encontrar uma brecha pra se aproximar e envolve o portão com o cadeado, mas as mãos e braços dos zumbis estavam passando pelos espaços, dificultando o trabalho. Se ele se aproximasse muito, poderia ser arranhado. Harry e Rob corriam perigo segurando aquele portão por muito tempo.

— EMPURREM ELES! USEM OS SUPORTES! – apoio minha lanterna em um canto, iluminando o portão, e finalmente saio para a chuva. Pego um suporte que foi deixado no chão provavelmente por Harry e uso o lado não pontiagudo contra o peito dos zumbis que tentam passar pela grade.

— RÁPIDO, EMPURREM ELES! PAREM DE ATIRAR! – grito pra Mary e Matt, eles guardam as armas e usam os suportes para empurrar os zumbis, e finalmente, a brecha aparece e Rey rapidamente tranca o portão. Todos nos afastamos e eu me sinto como um pedaço de carne de açougue com todos aqueles zumbis nos olhando, há sangue aparecendo no pedaço de chão abaixo de mim, o sangue escorrendo de minha roupa.

— O que houve?! – digo em meio aos trovões e a chuva pesada. Todos se olham, os rostos deles estão inchados e parecem abatidos. Rey parece ter dificuldades para respirar, Mary se ajoelha no chão, Rob se vira de costas pra mim e Matt põe as mãos no rosto e começa a chorar. Harry fita o chão e parece tremer os lábios.

DEUS! O QUE HOUVE?! VOLTARAM SOZINHOS PORQUE?!

— O QUE HOUVE?! – grito para eles, desesperada por ver eles assim.

— CHEGAMOS TARDE DEMAIS!  – Harry grita de volta e logo em seguida começa a soluçar.


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