The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 17
O Aventureiro Desconhecido


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Hoje vamos fazer um pouco de mistério ok? Vocês não vão saber o nome do personagem, mas enquanto estiverem lendo o capitulo, tudo vai ser encaixar!



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PONTO DE VISTA – ???

 

Não sei quanto tempo consigo aguentar aqui dentro.

Já se passaram horas desde que meu chefe pediu pra eu ficar dentro do banheiro, cogitei em sair, mas ele disse que eu não deveria fazer isso até ele voltar e bater na porta...estou começando a cogitar sair novamente.

Tudo aconteceu tão rápido que eu nem sei por onde começar. Eu estava batendo meu ponto, querendo ir pra casa depois de um dia de trabalho quando ouvi os disparos pela manhã, próximo a hora do almoço. Hoje trabalhei só por meio expediente porque tenho consulta no dentista mais tarde...

Acho que não vai rolar esse dentista...

Quando eu acho que nada podia acontecer de errado, de repente começou a aparecer um monte de doentes na rua atacando as pessoas. Não satisfeitos em ficar somente na rua, eles acabaram entrando na pizzaria e começaram a atacar a todos, desde os clientes que comiam calmamente nas mesas, até os funcionários daqui. Vi até outros motoboys saírem correndo com suas motos.

As pessoas corriam na rua, gritando “É na Denbrough! A polícia está lá!”, e logo uma multidão se formou na rua, correndo em todas as direções. Vi até pessoas de uniforme escolar, provavelmente da escola que fica em uma das vertentes da Denbrough.

Lembro de pensar como esses alunos tinham vindo parar aqui tão longe da escola.

Assim que começou a virar um desastre, meu chefe, que estava próximo de mim, me puxou pelo braço e foi chamando alguns outros que estavam parados tão em choque quanto eu.

Naquela hora não me dei conta do quanto a situação estava horrível.

O Chefe gritava “banheiro!” “banheiro!” sem parar. No meio da confusão, acabei ficando um pouco para trás, fui tão desastrado que tropecei em um dos doentes que estava agachado no chaõ e estava se...

.....

Sim cara. Era isso mesmo que ele estava fazendo. Você não é louco e nem precisa de óculos.

Pelos menos até onde eu sei, nunca precisou.

Vi um dos doentes se alimentando de uma mulher no chão. Não consegui encarar aquilo e por impulso acabei pegando uma das cadeiras próximas a mim e a bati com força no infectado na tentativa de livrar aquela mulher daquela coisa em cima dela. Ele caiu para o lado e eu fui em direção a mulher, mas infelizmente ela já estava morta.

Sim. Morta.

Ela morreu porque alguém estava DEVORANDO ela.

Ponho a mão na boca ao lembrar da cena...as tripas dela todas estavam pra fora...foi coisa de filme.

Onde eu estava mesmo? Ah sim...

Depois que percebi que ela estava morta, sai correndo sem olhar para trás, entrei de supetão no banheiro, o que fez meu chefe quase me dar um soco na cara. Era um banheiro único, ele trancou a porta e ficamos os dois lá dentro.

— Você está bem, rapaz? – ele disse.

— Err..eu..eles.. – foi tudo que consegui responder.

— Algum deles pegou você? Algum daqueles animais? – ele falava quase gritando graças aos gritos que aconteciam do lado de fora daquele banheiro que tentavam abafar nossa conversa.

— Não, ninguém tocou em mim. – decidi omitir que eu tinha batido em um deles lá fora.

Por fim ficamos os dois lá dentro do banheiro, sentados no chão com as mãos no rosto sendo obrigados a ouvir toda a gritaria desesperada que acontecia na pizzaria. Nunca pensei que choraria junto com meu chefe enquanto estava preso com ele no banheiro.

Houve um momento que escutamos uma explosão, e pensamos que tudo se acalmaria logo em seguida.

Achei que os militares estavam chegando...

Depois de algumas horas, um silêncio se fez na pizzaria. Só podíamos escutar passos e grunhidos através do outro lado da porta. Em certo momento, um dos doentes encostou na porta que estávamos, eu e meu chefe prendemos a respiração enquanto ouvíamos ele...grunhir? suspirar? Não sei definir ainda.

Acabamos soltando o ar lentamente, e depois de alguns minutos o doente saiu dali.

— Como isso foi acontecer? – comentei quase como um sussurro.

— Não sei como, mas sei o que fazer para sobreviver e não virar uma coisa dessas. – meu chefe respondeu no mesmo tom.

— Coisa dessas? Como assim? Eles estão doentes, não? – indaguei

— Isso parece coisa de gente de bem pra você? Gente humana? – ele perguntou pra mim me fitando serio enquanto fios de suor escorriam de sua testa.

— Não, mas tem muitas coisas que gente do bem não faz, senhor. Estupradores, pedófilos, assassinos... essa galera toda tem um problema mas mesmo assim são seres humanos. Mas apenas talvez com algum desvio mental ou sei lá o que... – disse pra ele, acabei lembrando de um documentário que vi e repeti o que tinha aprendido nele.

— Pouco me importa. Esses aí fora são animais. Eles estão fazendo canibalismo! – ele arregalou os olhos um pouco.

— Eu vi. – respondi. Tenho certeza que não vou comer por um bom tempo. Falando nisso, estou morto de fome.

— Não deixe eles tocarem em você, ok? – ele disse preocupado.

— Hãn? – perguntei confuso

— Minha cunhada ontem estava ótima, um desses loucos atacou ela no metrô e ela acabou sendo arranhada. Hoje de manhã, quando abriram a porta do quarto dela, ela tinha virado um desses. – ele apontou em direção a porta.

— Não sei se estão doentes ou algo do tipo, a única coisa que sei é que ainda não acharam cura pra isso. Aquela coisa que acordou hoje na casa do meu irmão não era a minha cunhada, entendeu? Ela sempre foi uma mulher muito educada, nunca machucaria ninguém. E de repente, recebo uma mensagem falando que ela atacou a própria filha! – ele disse chacoalhando o celular que estava em uma de suas mãos. Percebi que seus olhos estavam úmidos.

— Nossa... – foi tudo que consegui dizer na hora.

— Pois é! – ele limpou os olhos rapidamente, afastando as lágrimas dali – Agora quero que olhe pra mim e diga que essas pessoas são humanas depois de ouvir que minha cunhada atacou a própria filha. – ele disse e me encarou.

— Senhor, eu... – abaixei meu olhar enquanto processava tudo aquilo. Era loucura demais.

— Mencionei que minha sobrinha tem apenas 4 anos? – ele disse e eu levantei minha cabeça novamente. Eu estava me negando a imaginar uma cena de uma mãe atacando a filha de 4 anos.

— Pelo que fiquei sabendo, a menina saiu um pouco machucada. Ela estava no hospital pelo que eu soube da última vez que consegui receber uma mensagem hoje – ele apertou o celular com força – porcaria de celular! Pagamos para ficar sem sinal, não é mesmo? – ele disse enquanto limpava mais lágrimas que insistiam em cair.

— E ela? A sua cunhada? O que aconteceu? – perguntei inseguro. Sei que não é muito decente fazer essa pergunta agora com o homem desabando na minha frente.

Ele se virou pra mim e mordeu o lábio inferior, mais lágrimas saíram e ele deu de ombros.

— Não faço ideia. Agora são quase três horas da tarde e eu não faço ideia do que aconteceu com a minha família. – ele disse e colocou uma das mãos na frente dos olhos. Eu coloquei uma de minhas mãos em suas costas.

— Vamos sair logo senhor. Não se preocupe, eles vão chegar logo. – agora penso que disse aquelas palavras somente para tentar acalma-lo. Não acreditei nelas.

— E a sua família? – ele me perguntou.

Eu não gosto muito de falar sobre minha família. E acho que ele percebeu aquilo...

— Eu não tenho contato com eles faz um tempo, senhor. Meus pais moram em outro bairro, não sou casado nem nada, moro sozinho... – digo meio incomodado – mas espero que no bairro deles esteja melhor do que aqui. – pensar na minha família sempre me deixava pra baixo, e nas atuais circunstancias, se eu ficasse mais pra baixo do que eu já estou eu acabaria descendo em um poço.

Ficamos em silêncio por mais alguns minutos até ele simplesmente se levantar, bater a poeira de sua roupa e respirar fundo. Fiquei o observando curioso, até que ele se virou pra mim e disse:

— Não saia daqui em hipótese alguma, está entendendo? Já que não podemos chamar a policia, eu vou até ela. Não vou ficar parado aqui.

Ele começou a ir em direção a porta, eu me levantei e o segurei pelo ombro.

— Não posso deixar que faça isso senhor. Eles estão lá fora! – eu disse preocupado.

— Eu não vou ficar parado aqui.  – ele repete

— Eu sei, mas se pudermos esperar mais... – eu comecei dizendo, mas ele me interrompeu.

— Não vou esperar nem um maldito segundo aqui dentro. Você fica aqui, eu vou ver se a policia está por perto e volto. Não irei demorar, também não quero morrer. – ele diz e antes de abrir a porta ele se vira novamente pra mim.

— Não saia daqui. – antes que eu pudesse responder ele abre a porta e sai.

Estou nesse banheiro desde então.

Checo meu relógio e vejo que são 17h48. Quase três horas desde que ele saiu.

Estou morto de fome. Preciso sair daqui. Se eu ficar aqui dentro, vou acabar morrendo de qualquer forma....sem falar da sede.

Me levanto e vou com minha mão em direção a porta.

Mas e se um deles me pegar?

Recuo da porta.

Preciso de alguma arma. Não que eu vou matar alguém mas, preciso ter com o que me defender. Olho em volta do banheiro e procuro algo para me armar.

Caramba, não é possível que não tenha nada aqui!

Reviro o banheiro todo a procura de alguma coisa, mas não acho nada.

Ok. Ok, vamos ter que sair agora tá bom? Eles se dispersaram, foi isso. Lá na pizzaria tem facas e coisas afiadas que você pode pegar, mas você precisa ser rápido.

Vou em direção a porta e coloco meu ouvido na madeira. Não ouço nada, além de talvez alguns passos distantes.

Qualquer coisa, eu empurro ele e saio correndo.

Coloco a mão na maçaneta.

Sai correndo pra onde? Estão em todos os lugares.

Respiro fundo e logo em seguida solto o ar lentamente.

— Não tenho nada a perder. – penso alto e giro a maçaneta.

Assim que olho pro lado de fora do banheiro, tenho que me controlar para não ter um ataque de pânico. Tudo está uma bagunça, há sangue pelo chão e alguns respingos na parede, percebo que há marcas de corpos no chão, mas os corpos não estão lá.

Quem tirou os corpos daqui? Não é possível que tenha sido enfermeiros, médicos, policiais ou alguém do exército. Eu não ouvi nada!

Não fico pensando muito e começo a andar em direção a cozinha, fico olhando para os lados a procura de algum infectado mas não encontro nenhum.

Parece que eles todos foram em outra direção, aqui estava lotado! Onde eles foram?

Nem quero saber. Contanto que não estejam aqui, pra mim já basta.

Entro na cozinha e abro as gavetas a procura de facas, pego a maior que tem ali. Logo em seguida reparo em vários ingredientes que estavam em cima de uma grande mesa, vejo uma massa de pizza aberta próxima ao fogão e constato que provavelmente eles iriam ser usados para as pizzas daquela tarde.

Desculpe Mark, sei que não gosta de ninguém mexendo nos seus ingredientes além dos cozinheiros, mas a fome é maior.

Vou em direção a algumas rodelas de calabresa dispostas em um pote e começo a devora-las. Faço o mesmo com a mussarela, tomates e ovos cozidos que estavam a vista. Vejo uma garrafa grande d’agua e resolvo toma-la também.

Vão ter que tirar do meu salário inteiro pelo estrago que meu leão interior fez.

Enquanto continuava a comer, ouvi um barulho próximo a despesa. Sem pensar direito, largo o tomate que eu estava comendo e ergo a faca em direção ao barulho. Minha mão treme. Vejo uma figura surgir. Era Mark, meu chefe.

Mas ele estava diferente.

Seus olhos tinham um brilho estranho, sua pele parecia mais pálida e ele tinha sangue nas mãos e ao redor da boca, olhava pra mim com um olhar vago.

Ele grunhia como os outros que eu havia escutado.

— Chefe? – disse com a voz embargada. Ele não respondeu, continuou a andar em minha direção, aumentando cada vez mais o som de seus grunhidos.

— Não se aproxime! – eu digo ao perceber que aquele na minha frente não era mais meu chefe, e sim uma outra coisa que eu não conseguia identificar ainda.

Ele avançou pra cima de mim, mas eu não consegui ataca-lo de imediato. No fundo, eu estava com medo de machuca-lo. Ele trombou fortemente em minhas mãos, me fazendo derrubar minha faca recém obtida no chão, seguro suas mãos enquanto ele grita em minha direção, contorcendo seu pescoço e mordendo o ar, tentando alcançar meu rosto. Eu o seguro o mais forte que posso e acabo empurrando ele para longe.

Esse não é o Mark. Não é meu chefe que estava falando comigo agora a pouco, ele enlouqueceu, não me reconhece e não fala mais. Parece perdido.

Não é ele.

Meus pensamentos são interrompidos quando percebo que meu chefe estava dando mais uma investida contra mim, me lanço em direção ao chão pra onde minha faca tinha caído e a pego. Eu estava de costas para Mark agora, ele iria me rasgar em pedaços se eu não tivesse sido rápido naquele momento.

Eu pego a faca e me viro sem me levantar em direção a ele, um barulho de roupa sendo cortada é ouvido. Um corte surge bem no meio da barriga de Mark, e sou atingido por tudo que antes ficava DENTRO do meu chefe. Tripas e sangue caem através do corte, encharcando minhas roupas e parte do meu rosto e pescoço.

Mark continua sua investida sem eu nem ao menos processar o que estava acontecendo ou ele sentir o que acabara de acontecer com ele, levanto minha faca mais pra cima enquanto ele vinha em direção ao meu rosto, e ele acaba fazendo o trabalho de meter a própria cabeça na ponta de minha faca por mim.

Fico alguns segundos com ele a centímetros do meu rosto, ele agora completamente imóvel. Mas isso não dura muito tempo. Eu imediatamente me locomovo para longe de seu rosto, deixando a faca em sua cabeça e vomito quase tudo que tinha acabado de comer.

MEU DEUS! DEUS!

— AAARRRGHH – não consigo deixar de gritar. Tudo estava se revirando em meu estômago e eu vomitava sem parar. Escutei mais barulhos, mas naquele momento eu não tinha cabeça nenhuma para lidar com o que estava acontecendo.

Tem sangue no meu rosto! Sangue do meu chefe! AS TRIPAS DELE CAIRAM EM MIM! TRIPAS DE VERDADE!

AAARRGHH! E ESSE CHEIRO? ISSO NUNCA MAIS VAI SAIR! EU TÔ FEDENDO A CARNIÇA!

Fiquei em pé, olhando incrédulo para tudo na cozinha. Mark no chão com uma faca na cabeça, tripas e sangue me cobrindo por inteiro, sangue escorrendo pelo chão da cozinha. Sinto meu estômago revirar novamente, me contorço aguardando mais vômito mas nada sai de minha boca.

Percebo que os barulhos ficaram mais altos e percebo que há dois deles na entrada da cozinha. Fico imóvel e lágrimas começam a surgir nos meus olhos.

Eu não consigo agora. Agora não.

Percebo que os dois homens parados a porta estavam com o olhar idêntico ao de Mark anteriormente. Eles também tem sangue em seu corpo.

Os dois homens caminham em minha direção lentamente. Eu fico parado, incapaz de fazer qualquer atitude depois do que acabara de ver. Petrificado.

Eles se aproximam e lágrimas começam a se formar nos meus olhos, eles estavam perto agora. Há alguns metros de mim, mas nada de investidas. Fecho meus olhos me entregando a morte.

Não consigo. Não agora.

Sinto eles a centímetros do meu rosto, fico aguardando meu rosto ser dilacerado enquanto sinto um cheiro horrível de cadáver que eu não sabia se vinha de mim ou deles.

Nada acontece.

Abro os olhos lentamente e vejo que os dois doentes estão quase no meu rosto, mas não me veem interesse em mim. Ficam apenas naquele recinto, olhando para os lados como se procurassem alguma coisa.

Eles não me querem?

Dou um passo lento pra frente, eles olham para mim mas desviam sua atenção logo em seguida.

Continuo andando alguns passos até atingir a saída. Eles continuaram na cozinha.

Eu não entendo, porquê aqueles fedidos não me queriam? Porque eles...

Paro meu pensamento bruscamente e olho para meu atual estado.

Eles...

Continuo a caminhar pela pizzaria, vejo um relance da rua que aos poucos vai ficando escura, afinal já são 18h13. Não olho para trás nem por um minuto, mas não sinto ninguém me seguindo.

Eles acham que eu sou um deles. O meu cheiro....estou com o cheiro deles.

Antes de sair para a rua, percebo que está chovendo.

Droga, e se eu sair na rua e a agua tirar meu cheiro? Iria ser um favor pra mim mas...eles iriam saber.

Olho em volta e percebo que há um guarda chuva no chão a alguns metros em minha frente, provavelmente alguém saiu correndo e perdeu o guarda chuva. Abaixo lentamente e o pego, tento fazer o mínimo de movimentos possíveis.

Já que estão achando que sou um deles, vou imita-los da melhor maneira possível.

Percebo que a poucos metros da onde peguei o guarda-chuva, a mulher que eu tentara salvar mais cedo. Mas ela está... viva? Não sei dizer. Ela se meche, tem um buraco no lugar do estômago, bem aonde o homem a estava atacando. Ela olha pra mim com aqueles olhos brilhantes que somente os doentes tinham e eu fico confuso.

Ela estava morta. Eu a vi morta com meus próprios olhos.

Será que...não. Não é possível que todos estejam mortos...

Começo a andar em direção a saída e preciso me concentrar para não vomitar novamente.

Havia CENTENAS deles. Da onde surgiu tudo isso? Havia sangue por todo lado e corpos semi dilacerados no chão. Alguns deles não tinham pernas e eles ficavam só mexendo os braços e fazendo aquele grunhido assustador, agora, com a quantidade deles, parecia mais uma sinfonia assustadora.

Eles tem partes faltando e continuam a se mexer...ninguém estaria vivo com um baço faltando ou com essa quantidade de sangue perdido...sem falar do cheiro de cadáver...

Oh deus...

Respiro fundo e coloco o pé pra fora abrindo o guarda chuva o mais discretamente possível, ainda bem que não era automático nem nada. Não quero arriscar um movimento súbito.

— Não tenho nada a perder mesmo – repito o que disse a mim mesmo mais cedo.

Preciso caminhar para casa, ou para o centro da cidade. Qualquer lugar que não seja aqui. Duvido que os ônibus e o metrô esteja funcionando, então vou ter que achar ajuda.

Havia policiais na Denbrough. Talvez eles estejam fazendo alguma resistência em lá antes de atacar. É pra lá que devo ir.

Respiro profundamente enquanto vou movendo meu corpo em direção a uma das ramificações da Denbrough. Caminho por alguns minutos bem lentamente, nenhum deles me nota, mas alguns me olham com curiosidade.

Olho no relógio, são 18h43. Avisto finalmente uma das esquinas que daria entrada a ramificação.

Acho que aquela é a rua do colégio...

Me impressiono com um caminhão de bombeiros acidentado há alguns metros antes da ramificação. Isso parece o fim do mundo...chuva, mortos, sangue, acidentes...dá pra piorar?

Antes de entrar na rua, percebo que muitos deles agora não somente me olham com curiosidade, e sim me encaram.

Dá sim. Droga, será que esse guarda-chuva está me entregando.

Olho em volta e percebo que isso é uma constatação óbvia. Eu era o único dos “mortos” que estava segurando um guarda chuva azul no meio da multidão.

E se eu deixar o guarda chuva e meu cheiro sair? Como farei?

Fico ali parado por alguns segundos enquanto decido o que fazer. Não posso demorar muito.

Ou eles me notam por conta do guarda chuva gerando minha morte, ou eu deixo esse guarda chuva fazendo eles me notar o que também gera a minha morte.

Morte ou Morte?

...

Merda.

Decido deixar o guarda chuva. Vou tirando ele da cabeça aos poucos enquanto vou andando em direção a ramificação. Ao passar perto do caminhão de bombeiros, vejo um dos bombeiros no chão, ao seu lado, um machado de madeira. O pego lentamente com ambas as mãos.

Melhor pegar isso.

Finalmente me viro na rua do colégio. Aquela rua estava tão lotada quanto a que eu acabei de sair, enquanto caminho vou atraindo a atenção de alguns Mortos, e resolvo apressar o passo. Decido tentar ir para um dos cantos da rua, a fim de evitar estar literalmente no MEIO dos doentes, mas não consigo graças a superlotação daquela rua.

Eu estava passando agora na frente da porta do colégio, com a cabeça direcionada a minha frente, ia andando o mais rápido que podia naquele momento mas, a cada passo que eu dava, eu sentia que a atenção era mais voltada a mim. Eu estava ofegante. Percebi que um dos doentes estava olhando muito para mim, parei por alguns segundos esperando ele passar por mim, assim que passou continuei.

Pode parecer loucura, não sei dizer ao certo até agora...mas acho que vi de relance algumas silhuetas na janela do antepenúltimo andar da escola. Pareciam quatro formas...

não! Cinco!

Seis? Não sei dizer. Pareciam me observar.

Não olhei em direção a janela com medo de meu disfarce ter mais chances de ser arruinado. Continuei andando, estava quase na Denbrough, finalmente.

Espero que a polícia esteja lá. Por favor. Por favor!

Enquanto pensava sobre as silhuetas e sobre os policiais dou de cara com um dos Mortos a centímetros do meu rosto, ele me olhava com curiosidade, quase como se...como se soubesse da farsa que estava a sua frente. Soltei lentamente uma de minhas mãos do machado, ficando mais fácil caso eu precisasse me defender.

Enquanto ele me olhava, vi que minha mão ainda possuía certa quantia de sangue e a levantei na frente do meu rosto, para que o cheiro ficasse mais forte. O homem não se moveu então encarei minha mão por alguns segundos...

Ah. Jesus...

Passei as costas de minha mão no rosto, o manchando um pouco. Meu rosto já estava sujo de sangue antes mesmo de eu passar minha mão nele, mas pensei que talvez isso reforçaria o cheiro ou algo do tipo....como se fosse uma nova camada. Acho que funcionou, ele desviou a atenção por um segundo e eu já logo dei um passo a frente, o deixando para trás confuso.

Droga, essa merda vai sair! Vai sair a qualquer momento, preciso ser rápido!

Apressei um pouco o passo. Faltava alguns metros agora para eu finalmente chegar na Denbrough, mas eles estavam me olhando MUITO agora, olhavam e grunhiam enquanto acompanhavam meu andar. Fui olhando para os lados preocupadamente, e percebi que o sangue ia se lavando de minhas roupas e formando uma trilha no chão.

Fui caminhando...meu rosto agora estava limpo.

Merda Merda Merda

Fui caminhando até que vi uma mulher infectada me encarar novamente, fingi que não era comigo mas ela me olhava interessada. Dessa vez, ela não desvencilhou o olhar e investiu em minha direção. Em reflexo, segurei meu machado com ambas às mãos e o desci com toda minha força na cabeça da mulher, fazendo um corte de cima para baixo que ia até o meio do nariz.

DEUS DEUS DEUS DEEEEEUS!

Corri pela minha vida.

Eles tentavam me agarrar, mas eu ia desviando o melhor que podia e afastando-os com as mãos, estou no fim da rua, então havia menos deles, mas não o suficiente para minhas preocupações sumirem. Outro deles tentou me agarrar, e ele quase conseguiu. Se eu não tivesse girado meu machado contra ele o fazendo cair, provavelmente não sairia vivo.

Finalmente cheguei na Denbrough mas não parei de correr.

PRECISO ME ESCONDER!

A Av. Denbrough estava completamente LOTADA. Meus olhos olharam por aquele mar de doentes enquanto eu corria pelas beiradas. Fui capaz de perceber que lá haviam carros de policia e jipes militares, mas tinha vários doentes com fardas e...

OS DOENTES! OS POLICIAS E MILITARES MORRERAM! ELES PERDERAM! NÃO! NÃO!!

EU...EU...PRECISO ENTRAR EM ALGUM LUGAR! SAIR DAQUI! QUALQUER LUGAR!

A alguns centímetros de mim vi um mercado mediano com uma entrada e uma saída a direita destinada apenas para veículos, em volta havia uma grade de ferro que cobria a área de estacionar e dava a volta ao redor do mercado. Provavelmente era o local onde os caminhões chegavam com os alimentos sendo assim o acesso ali restrito.

Havia alguns deles na entrada de vidro destinada a pedestres, fui correndo e joguei meu machado por cima do cercado e pulei tentando escalar o cercado. Ao subir senti um deles agarrando meu sapato, me puxei para cima e acabei perdendo meu tênis.

Desci pelo outro lado e peguei o machado que estava no chão. Fiquei encarando a grade cheio de infectados. Eles batiam raivosamente na grade querendo entrar. Eu estava completamente assustado, mas ao mesmo tempo me senti um sobrevivente, o que me deu certa...felicidade?

Olhei para trás e vi que um caminhoneiro se aproximava, vi que ele não era humano e já ergui meu machado pronto para ataca-lo. Estava cansado daquilo tudo.

— Eu não passei por tudo isso pra morrer na praia, colega. Ou melhor...no mercado – eu disse.


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Notas finais do capítulo

E aí? Teorias de quem é o nosso aventureiro?



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