The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 16
Escolhi Nós.


Notas iniciais do capítulo

Pegue um desfibrilador porque vão precisar! CAPITULO TENSO A FRENTE!



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PONTO DE VISTA – HARRY

 

Eu não conseguia acreditar no que meus olhos estavam vendo.

Como?! Quando?! Porquê?! Mas...Mas...Mas...Não...

— Alguém tá lá fora! – Carley disse com os olhos arregalados e com a boca em um formato de “O”

Era verdade. Ele estava lá.

Eu mal acreditava no que estava vendo. Havia pelo menos algumas centenas de zumbis nas ruas(bem mais do que a última vez que olhei pela janela), se estivesse totalmente escuro lá fora, não teríamos conseguido ver o homem.

Ele andava lentamente em direção a extremidade da Denbrough e não olhava pra nenhuma direção que não fosse o chão. Ele segurava um machado de cabo inteiramente vermelho com ambas às mãos, sua roupa inteira estava coberta de sangue e pedaços de tripas e ele estava cercado pelos doentes.

Tipo, literalmente! Em todos os lados!

— Como ele-como-como – Mary gaguejava e apontava com a mão esticada para fora da janela em direção ao homem misterioso.

— Ninguém ataca ele! – Rey dizia perplexo

— Não é possível. Simplesmente não dá! – Carley esfregava os olhos e voltava a acompanhar o andar do homem. Pela primeira vez parei de analisar a situação em si e comecei a prestar atenção no homem em si.

Parece um cara de estatura média, 1,75...1,78 talvez? Não parece muito alto.

Ele tinha o cabelo preto e um pouco bagunçado, apesar do sangue no rosto, pude ver que se tratava de um rapaz asiático com um cavanhaque não tão espesso. Ninguém precisava ser um gênio da dedução para perceber que seu olhar era de pavor e de medo, andava cada passo com muita insegurança, mas o fazia mesmo assim.

— Ele passou um sufoco ou aquele sangue todo é dele? Tem certeza que não é um zumbi? Porque pode ser, não pode? – Rey dizia atropelando as palavras.

— Não dá pra ser zumbi não. Ele parece vivo! – Matt rebatia sem desviar o olhar da janela.

— Nenhum zumbi está segurando nada nas mãos, e ele está. Matt está certo, ele tá vivo. – eu digo por fim.

Eu não consigo entender o porque ele está passando no meio dos zumbis...quer dizer...entender eu consigo, mas como já é outra história. Um zumbi tentou arrancar o rosto da Carley há poucas horas atrás, e temos uma professora muito doente e infectada a poucos metros de onde estamos agora. O “normal” seria eles atacarem o chinês imediatamente! Não que eu esteja triste por não estar vendo o cara virar carne moída agora, mas....você entendeu.

— Como... – Carley começou a fazer uma pergunta, mas senti que não foi direcionada para nenhum de nós, ela simplesmente abaixou o tom de voz até ficar inaudível.

Todos nós acompanhávamos com nossos olhares que transmitiam uma mistura de medo com curiosidade o homem asiático que ia andando pelo meio da rua. Cada vez que um zumbi se aproximava muito dele, ele parava por alguns segundos, o infectado olhava para ele e depois simplesmente o ignorava, e assim ele continuava a caminhada.

Chegou em um ponto que ele estava começando a sumir de nossa visão, todos nós corremos desesperadamente para a janela dos fundos. A movimentação acabou acordando a professora que nesse ponto parecia mais péssima do que jamais estivera. Ela suava muito, estava completamente encharcada de suor, ela piscava lentamente e estava ofegante. Ao acordar começou a tossir muito.

— O que... – tentou dizer, mas foi interrompida novamente pela tosse. Nós a ignoramos por completo, estávamos com nossa atenção completamente no chinês....japonês...sei lá!

— O que...houve? – Tasha finalmente conseguiu dizer, mas ninguém se virou para ela.

— Ele tá indo pra Denbrough – Rob falou

— Mas lá é onde a merda começou, não é? Porque ele iria pra lá? – Matt jogou a pergunta no ar

— Não sei, talvez ele está indo pra casa. Está anoitecendo, ele deve morar perto daqui, caso contrário vai ter que andar por muito tempo já que é bem provável que não tenha nenhum ônibus pra ele pegar – Carley comentou conosco

— Ou ele está indo pra casa de alguém, indo pedir ajuda ou sei lá... – Mary disse. Senti um leve toque na minha mão e me assustei retirando-a rapidamente de o que quer que a tenha tocado, me virei e vi que era Tasha.

— Harry, o que...está acon..tecendo? – ela dizia ofegantemente e percebi que lutava para manter os olhos abertos.

— Tem alguém lá fora – respondi. Ela deu um sorriso fraco.

— A-alguém? Ah...deus... – ela disse e começou a rir um pouco, mas teve que parar por conta de outro acesso de tosse. Percebi que ela estava se iludindo achando que era alguma ajuda e resolvi complementar a minha informação.

— Sim, tem alguém, mas não é a policia nem nada do tipo. Tem alguém que está literalmente andando no meio dos doentes. – digo

O sorriso dela foi morrendo aos poucos.

— Co-como? – ela arqueia levemente as sombracelhas.

— Ele tá quase lá! - Rey diz e eu imediatamente viro minha atenção para o que está acontecendo lá fora. Percebo que o rapaz está na esquina da Denbrough, quase entrando de fato na rua e indo em direção aonde tudo começou para nós. Mas havia um problema.

Um gelo sobe em meu estômago e eu paraliso vendo a cena.

Havia um infectado que estava de frente com o rapaz, a centímetros do rosto dele. O doente o olhava com curiosidade, quase como se soubesse que era um penetra no meio da multidão, o homem estava completamente parado, mas pude ver que ele tinha tirado uma das mãos do machado, segurando o machado com apenas uma mão agora. Ele ia levantado a mão livre e sangrenta lentamente, até que ela finalmente ficou na altura de seu rosto. Todos nós não estávamos mais respirando naquele momento.

Eu sentia um medo tremendo. Por mais que eu não conhecesse esse homem, pode ser que eu esteja prestes a ver o momento de sua morte. Mesmo com esse pensamento, eu não conseguia desviar meus olhos daquela tortura.

O rapaz passou as costas da mão lentamente na própria bochecha, a sujando mais ainda. A cada momento que se passava, ia ficando cada vez mais escuro lá fora e a chuva ia se agravando cada vez mais, o homem parecia concentrado no que estava fazendo.

— E-ei! – Tasha disse, mas eu e todos nós não desviamos nossa atenção. Pude sentir sua mão se encostar novamente na minha.

O zumbi de frente ao jovem desviou sua atenção por um segundo, e isso foi o suficiente para o rapaz forçar um passo pra frente e sair de perto daquele zumbi em específico. O suspiro foi geral na sala.

— Meu deus... – Matt levou as mãos na testa, ainda sem tirar o olhar da jornada do asiático.

— Eu... – ouvi a professora dizer. Mas não consegui ouvir o resto graças a um trovão que soou por cima de sua voz.

— Espera, tem alguma coisa errada! – Carley disse.

Eu diria que faltava poucos metros para o Asiático finalmente dobrar a esquina e quem sabe encontrar mais daqueles zumbis(o que não aliviava a situação nem um pouco), mas de fato, algo parecia errado.

Eles estão...prestando atenção nele agora? O que mudou?

— O que foi? – Rob perguntou confuso, transitava seu olhar entre Carley e a rua.

— Eles estão olhando pra ele. – eu disse e pude ver de canto de olho Carley assentindo lentamente. Engulo seco com medo do que posso ver a qualquer instante.

Os grunhidos aumentavam lá em baixo, e o nosso “aventureiro desconhecido” ia atraindo mais e mais a atenção deles.

— Harry... – ouvi a professora dizer

— Um segundo... – foi tudo que consegui dizer, ainda sem tirar meus olhos da rua, a mão da professora segurava a minha de maneira frouxa.

— Corre daí, meu queridôoô – Mary dizia intercalando seu tom de voz enquanto pisava forte no mesmo lugar, ela levou ambas as mãos no cabelo e assistia como se fosse uma disputa de pênalti na copa do mundo.

Lá fora, o homem ia andando um passo de cada vez, mas todos nós podíamos ver que ele parecia ainda mais preocupado do que antes, se isso fosse possível. Ele olhava tremulamente para todos os lados enquanto continuava a caminhar, uma trilha de sangue ia escorrendo de suas roupas e se misturando no asfalto molhado.

— O sangue está saindo dele... – Rey falou.

— A agua está tirando dele...olha o rosto já tá limpo... – Carley disse e depois ela subitamente abriu um “o” com a boca e se virou para Rey, que fez o mesmo que ela quase que ao mesmo tempo. Ele também deu um tapa no ombro de Carley e ficou com a mão ali estendida no ar. Os dois se encaravam como se tivessem acabado de descobrir a fonte da juventude. Os grunhidos aumentavam rapidamente, pude sentir o desespero do jovem lá fora ao mesmo tempo que sentia a professora deixar de segurar minha mão.

Até que finalmente aconteceu.

Uma mulher passava próxima ao rapaz, e ela o olhou com grande curiosidade, assim como tinha feito o zumbi que ficara a centímetros do asiático anteriormente, mas dessa vez ela não desviou sua atenção. Em vez disso, ela soltou um som alto e foi com as mãos e a boca em direção ao homem, mas ele rapidamente segurou o machado com ambas às mãos e o desceu com toda força na cabeça da mulher, fazendo um corte de cima para baixo que ia até o meio do nariz. Senti meu estomago vir parar na boca rapidamente, todos nós fizemos um som de surpresa inspirando rapidamente.

QUE MERDA FOI ESSA?!

A reação de todos foi inevitável. Rob levou as mãos na boca e ficou com uma expressão que indicava ânsia, Carley olhava com os olhos arregalados e tinha uma das mãos trêmulas na boca, Rey estava com ambas as mãos viradas com a palma de frente pra outra próximas a boca, Matt estava com a boca aberta e seus dentes estavam todos a mostra e Mary estava completamente paralisada e com uma lágrima presa no canto do olho. E eu....achava que ia vomitar em todos em qualquer instante.

Enquanto sentia que tudo que estava no meu estomago queria vir para minha boca imediatamente, vi o rapaz correr pela primeira vez desde que percebemos que se tratava de um vivo lá fora. Ele corria e ia se desviando dos zumbis, chegando na esquina, ele se deparou com outro doente tentando agarra-lo. Ele foi tão ligeiro quanto da primeira vez, girou os braços com rapidez e atacou horizontalmente a cabeça do homem, o derrubando. Ele correu finalmente entrando na Av. Denbrough, sumindo de vista e nos deixando com a dúvida de sua sobrevivência.

Coloquei minha cabeça para fora subitamente.

— Aaaaaiii!! – Rey exclamou e virou o rosto se afastando completamente da janela.

Assim que terminei de vomitar tudo que tinha na minha barriga, senti alguém próximo a mim. Me virei e vi que Rob fazia o mesmo que eu, vomitando para fora da janela. Isso me enjoou mais e acabei vomitando um pouco mais.

— Ah, deus! – escutei Mary atrás de mim.

Cuspi para fora e voltei com a cabeça para dentro. Minha nuca e cabelo estavam levemente molhados graças a chuva , vi que Rob tinha tirado a cabeça de fora da janela, mas ainda a apoiava no parapeito. Matt dava leves tapinhas das suas costas enquanto estava de olhos fechados.

Mary me entregou uma garrafa d’agua, e eu bebi um gole sem encostar minha boca no plástico. Passei ela para Rob enquanto Mary dava tapinhas no meu ombro.

— Não bebe tudo. – Carley avisou. Rob bebeu apenas um gole.

— Ah não... – vi a expressão de Mary mudar de enojada para assustada enquanto ela proferia essas palavras. Me virei e percebi que a professora estava lentamente caindo da cadeira.

— SEGURA! – eu disse para Carley que estava próxima a ela, mas a reação não foi rápida o suficiente, logo um estrondo foi ouvido e a professora foi com o corpo em direção ao chão.

Todos nós corremos em sua direção enquanto a porta da sala sofria batidas de doentes que mal podiam ouvir um barulho que queriam se mostrar presentes o tempo todo.

 

PONTO DE VISTA – MARY

 

— Professora! Ei! Ei! – Carley dava leves tapinhas no rosto da professora. A respiração da professora fazia seu peito subir e descer em frequências bem menores do que antes.

— Tem que amarrar ela! – é a primeira coisa que penso e acabo dizendo.

— Espera, vê se ela acorda primeiro! – Matt diz enquanto se agacha próximo a cabeça da professora, apoiando-a em seu colo.

— Fica com a gente, por favor. Vamos...vamos! – Carley dizia e chacoalhava levemente a professora, aumentando aos poucos a força até dar uma chacoalhada que considerei bruta demais. Tasha não se movia.

— Espera aí! – disse e me sentei do lado de Carley, levando minha cabeça no peito de Tasha.

Curso Técnico de Enfermagem...seja útil uma vez na vida!

Eu sentia sua respiração diminuindo. Matt pegou a garrafa que eu havia apoiado no chão e jogou um pouco no rosto da professora, que não se mexeu.

— Não faz isso! – Harry puxou a garrafa da mão de Matt

— Tive que tentar! – Matt rebateu

— Se acabar a agua, quem vai descer pra pegar no bebedouro?! Você?! – Harry disse agressivamente, mas Matt não prestou atenção.

— Pega o jaleco dela! – Carley disse para Rob que foi cambaleante em direção ao jaleco dela que estava sem cima da mesa do professor. – Ela tá um forno! – Carley colocara a mão na testa da professora, faço o mesmo e vejo que é verdade. Parece que tem uma fogueira acesa em sua testa.

Rob volta com o jaleco e joga ele pra Carley que o pega com uma mão.

— Levanta ela! – Carley fala – Vou amarrar.

— Ela tá viva ainda! – Matt diz e percebo que o peito da professora não estava se mexendo mais.

Merda merda merda merda!

— Sai da frente! Sai você também! – digo e empurro Carley levemente para o lado a afastando da professora, sinalizo com as mãos para Matt sair dali, seguro a cabeça da professora e Carley puxa levemente Matt para trás, o segurando pelo ombro. Ele me olha confuso.

Deposito a cabeça da professora no chão e coloco minhas mãos uma em cima da outra no peito da professora e começo a minha contagem.

Um.Dois.Três.Quatro.Cinco.Seis.Sete.Oito.Nove.Dez.Onze.Doze.Treze.Quatorze.Quinze.

Tampo seu nariz com meu indicador e polegar, olho para Carley que arregala os olhos para mim, quase posso ler sua mente dizendo “você não vai fazer isso, né?”

Seja o que Deus quiser.

Faço duas insuflações na professora.

Vai ser ótimo o pessoal te ver doente também porque você tentou salvar alguém.

Cale a boca! Isso não se transmite por ar!

Sério mesmo? Tem certeza?

Er...tenho! É! Tenho sim!

Volto a minha contagem.

Um.Dois.Três.Quatro.Cinco.Seis.Sete.Oito.Nove.Dez.Onze.Doze.Treze.Quatorze.Quinze.

Faço novamente as insuflações.

Vai morrer doentee

Cala a boca Mary! É só se um deles encostar em mim!

E como você descreveria esse contato de agora?

Ela não se transformou ainda, tá legal?! Não conta!

Veremos.

Junto novamente minhas mãos no peito da professora.

Um.Dois.Três.Quatro.Cinco.Seis.Sete.Oito.Nove.Dez.On-

— Para, para, para! É inútil! – Harry diz e coloca o braço entre mim e a professora. Eu o olho surpresa e percebo que meus olhos estão marejados. Encontro o olhar de Carley que segura Matt pelo ombro e percebo que ela também acredita que isso seja inútil. Encaro a professora que está imóvel na minha frente e uma lágrima se escorre.

— Você tentou Mary...tá me ouvindo? Você tentou. – Rob diz e apoia suas mãos em meus ombros, eu me entrego as lágrimas e o abraço enquanto me levanto. Ele acaricia meus cabelos e me abraça forte tentando me acalmar.

Foi na minha frente! Ela se foi! Bem diante dos meus olhos! Eu não consegui! Falhei em reanima-la!

— Eu não consegui! – digo chorando para Rob. A sala fica em silencio, só dando pra escutar meus choramingos e os grunhidos e batidas na porta.

— Va-vamos...me ajuda aqui... – escuto Carley dizer para alguém atrás de mim e sinto que sua voz está um pouco embargada.

— Você tentou. Não tinha como Mary...não é sua culpa – escuto Rob dizer em meu ouvido e percebo que ele está chorando também, sua voz soa chorosa e trêmula.

— Meu deus... – vejo Rey do meu lado com os olhos vermelhos, ele os fecha lentamente como se quisesse acreditar que tudo aquilo era real.

— Ai meu deus, me ajuda por favor! Ah Deus. Ah Deus – escuto Matt falando, me solto do abraço de Rob e vejo que Matt está com o rosto todo vermelho. Ele segura a professora para que ela fique sentada e a apoia na parede, Carley ajeita as pernas da professora e se levanta. Ela passa perto de mim e vejo que ela está com os olhos marejados, mas não vejo marcas de lágrimas.

— Isso...isso é realmente necessário? – Rob diz e todos olham em nossa direção – quero dizer...ela não se transformou no final das contas... – ele diz e limpa uma lágrima.

— Ela vai virar, não sabemos quanto tempo demora, mas vai. – Harry diz e limpa uma parte do rosto onde lágrimas haviam passado.

— Você...você sabe que precisamos fazer isso Rob, ainda tem coisa pior pra vir – Carley diz enquanto vai girando o jaleco nas mãos fazendo virar algo que lembra o formato de uma baguete.

— O que vamos... – digo mas não consigo completar de imediato. Respiro profundamente e vou me aproximando da professora, Rob me acompanha. – o que vamos fazer com o...corpo? – finalmente digo

Carley morde o lábio e sua atitude seguinte me surpreende. Ela dá de ombros e olha pra Harry, depois para Rey e finalmente para Matt.

— Alguma ideia? – ela diz. Vejo todos se entreolharem e percebo os olhos de Matt se umedecendo novamente. Ele se afasta do corpo e vai na direção oposta da que nos encontramos, ele fica de costas para nós e leva ambas as mãos no rosto. Escuto ele soltar todo seu ar num gemido choroso.

— Vamos fazer uma coisa primeiro, por via das dúvidas... – Rob levanta a mão trêmula e tira o jaleco da mão de Carley, que fica observando Rob ir em direção a professora.

Preciso de ar. Não consigo respirar.

Começo a me abanar e vou em direção a janela novamente. Vejo todos aqueles corpos vagando lá fora e vejo que isso tudo custou uma vida conhecida. Aliás, várias vidas...por algum motivo não tinha me dado conta dessa parte grotesca até o momento que percebi que estava tentando inutilmente reanimar alguém que já estava morto. Sinto meus olhos marejarem novamente e afasto uma lágrima antes mesmo que ela possa cair.

— Eu preciso de uma lanterna aqui. Não estou enxergando bem – Rob diz e parece que percebo finalmente que estamos aos poucos ficando no completo escuro. Isso me dá arrepios.

A sala está quase um breu e só agora eu percebo isso. Lá fora, os postes não acenderam, ou seja, vamos ficar completamente no escuro.

Sinto o medo subir pelo meu estômago e sinto vontade de gritar. Tateio desesperadamente no meu bolso, pego o celular e ligo a lanterna, percebo que Harry, Rey e Carley fazem o mesmo. Apoiando seus celulares em algumas cadeiras ao redor.

— Acho melhor apontar as luzes pro chão, vai que...sei lá...eles enxergam a gente aqui em cima... – Rey diz e se senta no chão apoiando as costas na parede, próximo ao local onde desmontamos as cadeiras. Ele deixa seu celular apoiado na parede com o feixe de luz apontando para o chão, o que não impede de iluminar a sala do mesmo jeito.

— Acho que seria impossível dizer que eles não sabem que estamos aqui... – Harry diz e logo muda sua expressão para uma mais cuidadosa – Não querendo deixar ninguém ainda mais em pânico mas...eles sabem. – ele aponta pra porta. Aquilo me enche de fúria.

Eles.

Eles são os culpados.

Começo a andar furiosamente em direção a porta da sala de aula.

— Vai ficar meio frouxo porque não é grande o suficiente, mas acho que vai aguentar e...Mary? – ouço Rob me chamar, mas o ignoro.

— ELES! – eu grito ao chegar na porta onde consigo escutar as batidas frenéticas. Dou um tapa na porta, fazendo um barulho grande.

— MARY! – Carley começa a andar depressa em minha direção, Rob se levanta, mas fica parado me encarando. Harry dá um passo pra frente mas não prossegue.

ESSES FILHOS DA PUTA QUE TÃO DEIXANDO A GENTE PRESO AQUI!

— O QUE É ISSO?! - Rey levanta subitamente e leva as mãos nos ouvidos enquanto me olha perplexo.

— FORAM ELES! É CULPA DELES! – eu digo e dou outro tapa forte na porta – É ISSO MESMO! SOU EU QUE TO AQUI! VOCÊS ME QUEREM NÉ?! – eu digo e dou mais um tapa.

— Para com isso agora! – Carley chega e tenta colocar uma das mãos no meu ombro enquanto fala com os dentes cerrados. Eu me desvencilho de seu toque.

— NÃO! EU NÃO VOU PARAR, CARLEY! NÃO VOU! – eu grito em sua direção, ela segura em meus ombros e me olha furiosamente.

— Pare. De. Gritar. Agora. – ela fala e posso ouvir raiva em seu tom.

— FORAM ELES! ELES MATARAM A PROFESSORA! ELES TÃO DEIXANDO A GENTE PRESO AQUI! EU NÃO ME IMPORTO SE ESTÃO DOENTES, SE ESTÃO MORTOS OU SE ESTÃO VIVOS! OS CAUSADORES DESSA PORRA FORAM ELES E EU MAL POSSO ESPERAR PRO EXÉRCITO METER BALA EM TODOS ELES! – eu digo e dou mais um tapa na porta. Carley pega raivosamente nos meus ombros e me encosta fortemente na lousa próxima de nós. Vejo ao longe Matt levantar o rosto, mas ele não nos olha. Parece perdido em seus pensamentos e nem percebe que estamos brigando.

— Se você não calar a boca agora, a gente vai morrer também. Você tá me entendendo?! – ela chacoalha o indicador na minha cara – HEIN?! TÁ ENTENDENDO, CARALHO?! – ela sobe um pouco o tom de voz – Eu não vi a quantidade de merda que eu vi hoje, pra ver alguém dar um show nos 45 minutos do segundo tempo e matar todo mundo!

— Carley, por favor! – Rey diz ainda em pé no mesmo lugar que se encontrava antes.

— Me solta! – eu empurro Carley com força que acaba dando dois passos pra trás.

— Mary! Para! Parem vocês duas! – Harry se coloca entre Carley e eu.

Os barulhos na porta aumentam subitamente, parece que estão batendo com mais força. As mesas que estão na frente da porta chegam a tremer. Carley respira fundo e mostra as mãos em sinal de rendição.

— Ah, Meu Deus! Olha o que vocês fizeram! – Rey fala para nós.

— Você acha que eu não estou frustada?! Hein?! Você acha que eu culpo outra coisa além desses moribundos lá fora?! – Carley começa a falar e gesticula freneticamente em direção a janela, mas mantém seu olhar fixo em mim – É como você mesma acabou de gritar pra Deus e pro mundo: É culpa deles! Mas tem uma coisa que você está esquecendo, querida. – sinto grande ironia em sua voz. Mostro minhas mãos em rendição imitando sua pose.

— Oh, dona da verdade! Me encha com sua sabedoria! O que a madame pensa que EU esqueci?! – digo com raiva

— ELES SÃO PERIGOSOS! NÃO IMPORTA SE SÃO OS CULPADOS, SE ENTRAREM AQUI VÃO NOS MATAR, PORQUE ELES SÃO PE-RI-GO-SOS! – ela grita.

— PESSOAL! – Rob fala alto chamando nossa atenção e todos nós olhamos pra ele. Rob estava encarando a professora, estático. Ninguém se mexeu.

— ELA TÁ VOLTANDO! TÁ TENTANDO FALAR! – Rob dá um leve sorriso. Vejo que a professora está mexendo a cabeça levemente e seus dedos estão sofrendo pequenos espasmos. Ela dá alguns gemidos sufocantes. Eu e Carley nos encaramos e viramos imediatamente para Rob.

— NÃO, ROB! – gritamos em uníssono, mas é tarde demais.

A professora grita um grunhido estridente enquanto abre os olhos. Seus olhos possuíam um brilho estranho que agora todos nós sabíamos reconhecer. Rob cai para trás e ela desvencilha uma das mãos do jaleco que mantinha ambas as mãos em suas costas. Ela foi em direção a Rob que rapidamente a segurou pelos ombros e começou a gritar enquanto afastava o rosto de suas mãos que tentavam o arranhar a todo custo.

Todos nós começamos a correr em direção a Rob, Rey é o primeiro a chegar já que estava a poucos metros de Rob enquanto nós ainda corríamos. Ele segura a professora pelas costas e a tira de cima de Rob que começa a se levantar cambaleante até que finalmente cai, mas Harry o segura. A professora agora está em cima de Rey, que grita desesperadamente.

— SAI DAI, FILHA DA PUTA! – eu grito para o que antes costumava ser a professora Tasha. Estamos quase chegando nele! Só mais um pouco!

Eu não estou nem aí mais. Foram eles. Os culpados são eles! VOU MATAR ESSA FILHA DA PUTA! SE FOSSE A TASHA MESMO, ELA NÃO MATARIA O REY! ELA NÃO MATARIA NINGUÉM!

EU FIZ MINHA ESCOLHA CARLEY. NÓS.

Antes que pudéssemos tomar qualquer atitude ao chegar perto de Rey, escutamos um grito furioso passando próximo a nós que acabou se revelando como o motivo do porquê não tivemos que fazer nada para salvar Rey.

Matt apareceu como se surgisse do nada com um cano preto em mãos que consegui identificar como uma das pernas da cadeira que desmontei mais cedo. Ele gritou furiosamente e desceu o braço com toda a força no topo da cabeça do que antes costumava ser a professora, fazendo uma enorme mancha de sangue cair sobre Rey e fazendo a própria professora ser “morta” novamente.

Rey jogou a professora pro lado e se levantou chorando e tremendo mais do que nunca. Assim que ficou de pé suas pernas bambearam e antes que ele pudesse cair no chão, eu o segurei. Estávamos os dois sentados no chão agora.

Ele soluçava e tremia agarrado em meu pescoço. Estava com enormes respingos de sangue no rosto e na camiseta. Carley se agachou rapidamente e envolveu Rey e eu em um abraço, ela tremia tanto quanto ele.

Matt estava parado a alguns metros da professora, suas pernas estavam bambas e o cano preto em sua mão estava sujo de sangue. A professora não se mexia mais.

Matt olhava tudo ao redor, parecendo que tinha perdido algo no chão. Seu olhar finalmente encontrou o cano que estava em sua mão, ele tremeu tanto que acabou soltando o cano, que caiu no chão fazendo um pequeno barulho metálico. Seus olhos começaram a se encher de lágrimas, que ficaram presas em seus olhos.

Ele encarava curioso a própria mão, que antes segurava a perna da carteira e disse baixo:

— Escolhi nós.


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Notas finais do capítulo

Tão bem aí?



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