The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 18
Lágrimas na Escuridão.


Notas iniciais do capítulo

Galeraaa tenho uma pergunta pra vocês nas notas finais! Gostaria que comentassem as suas respostas!



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PONTO DE VISTA – MATTHEW

 

— Matt? – Carley falava comigo. Mas eu não conseguia prestar atenção nela. Todos estavam em silêncio depois do que aconteceu há algumas horas...cada um jogado em algum canto da sala.

Bom...mais ou menos. Carley foi a primeira a falar alguma coisa, e isso não foi surpresa pra mim.

Você precisava. Não tinha outra alternativa.

Eu matei alguém...

Eu bati em alguém com um cano...

Tasha.

Aconteceu tão rápido...

Quando tudo aconteceu, ficamos todos imóveis por uns três minutos. Carley se desfez do abraço com Rey e foi lentamente em minha direção, bem trêmula. Eu não a olhei nos olhos naquele momento, mas pelo jeito que ela estava com as mãos erguidas para cima e do jeito que ela me encarava, eu acreditava que ela estava com medo de mim.

“Matt? Tá tudo bem, vou pegar isso aqui, sim?” ela tinha dito pra mim e foi em direção a barra de metal ensanguentada que estava próxima a mim. Ela não tirou os olhos de mim em nenhum instante. Depois ela respirou fundo e virou-se pra todos, dizendo que estava tudo bem. Todos tinham lágrimas nos olhos mas ela não.

Isso não me surpreende. Eu não consigo desvendar o que Carley diz para si mesma para não chorar e se desesperar. Dentre todos nós, ela foi a única que não desabou. Não chorou compulsivamente ou perdeu o foco.

Ela deve ser feita de pedra.

Harry estava sentado no chão próximo as carteiras que seguravam a porta, lá fora estava mais agitado agora e Carley disse que seria melhor alguém ficar de olho. Harry se ofereceu. Mary estava sentada no chão, abaixo da janela da parte da frente da sala, com a cabeça de Rey apoiada em seu colo. Ele estava com o rosto virado para ela e estava encolhido feito um animal indefeso.

Rob estava deitado no chão, de frente para a parede e de costas para todos, tão encolhido quanto Rey. Ele tinha leves espasmos quando respirava...Estava soluçando, pois tinha parado de chorar a poucos momentos atrás.

Já Carley era a única que estava em constante movimento dentro da sala de aula, ela não parava quieta. Depois do ocorrido, todos nós nos movemos aqui pra frente do recinto, o mais longe possível do corpo da professora. Depois de Carley ter instruído alguém a ficar de vigia na porta, ela esperou todos nós nos acomodarmos e ficou andando de lá para cá por um tempo...até que ela pegou o jaleco da professora e o jogou em cima do rosto de Tasha, cobrindo seu rosto e parte de seu abdômen.

Agora ela estava com a sua bolsa em mãos, ela tinha dado um pacote de amendoim para cada 2 pessoas dividirem. Nossa comida tinha acabado agora, e só nos restava uma garrafa d’agua que estava somente um pouco acima da metade.

— Precisa comer, já são 21h30. Divide esse comigo? – ela ainda estava na minha frente, mas eu estava tão perdido em pensamentos que eu sentia meus ouvidos zunindo. Carley segurava um pacote nas mãos e estava ajoelha na minha frente. Depois do ocorrido eu só fui em direção a mesa dos professores e me sentei ali com as pernas esticadas, minhas mãos não paravam de tremer e ainda não pararam até agora.

Eu matei alguém.

Carley se sentou do meu lado, ela piscava muito enquanto me encarava e parecia de certa forma ofegante. O pacote em suas mãos foi rasgado e ela jogou alguns amendoins em uma das mãos no formato de concha e a estendeu pra mim:

— Não vou falar de novo. Não vai passar fome na minha frente. – ela disse e seu tom era sério. Eu não a olhei, só engoli seco e pisquei lentamente. Estou completamente em choque para fazer qualquer coisa agora. Ela mordeu o lábio inferior e virou os amendoins na própria boca. Depois ficou me encarando.

Era preciso. Era preciso.

— Pare. – ela disse. Eu não me mexi – Pare agora mesmo de fazer o que está fazendo. – ela falou, mas eu ainda não conseguia encarar ninguém então, mantive meu olhar fixo no nada.

— Sei o que está fazendo. Está se culpando e agora quer ficar quieto e morrer de fome ou algo do tipo, cansado demais ou com medo de mais para fazer qualquer coisa agora. – ela disse firme. Ela se ajeitou para que pudesse me olhar mais confortavelmente e continuou – Você fez o que tinha que fazer Matt.

— Eu matei a professora Tasha. – finalmente consegui dizer aquilo em voz alta, tinha que dizer. Carley estava dizendo tudo aquilo na minha cara e eu não podia simplesmente ficar de braços cruzados e não dizer nada. Preciso contar o que se passa na minha cabeça pra alguém ou eu vou surtar.

Isso se eu já não surtei

Preferiria que fosse Rob. Ele me entende mais do que ninguém, mas ele não está pronto para falar nada agora...nem sei se EU estou pronto para dizer alguma coisa, mas do jeito que conheço Carley, ela não vai desistir.

— Você salvou o Rey. – ela disse dando ênfase no “salvou” – Olhe pra ele. – ela disse abaixando o tom de voz e apontando sutilmente para Rey, eu o olhei e vi que ele permanecia imóvel com Mary acariciando seus braços lentamente. Percebi também que ela encarava o teto com os olhos vermelhos.

— Ele está vivo por SUA causa. Ele só está aqui com nós agora por SUA causa. – ela dizia e encostava com o dedo no meio peito todas as vezes que falava “sua” – E não é exagero pensar que só estamos todos vivos aqui por SUA causa também. Eu bufei em reprovação.

Ela não entende o que é assassinar alguém. E eu espero que ela nunca passe por isso...espero que os militares cheguem logo.

— Acha que não? – ela disse reprendendo minha atitude – Se a professora tivesse atacado Rey, ele estaria infectado agora, e teríamos que lidar não com um, mas dois zumbis. – ela ergue dois dedos na frente do meu rosto – Não há porque se arrepender...

— Não disse que me arrependo – eu digo seco.

É isso que me perturba. Eu não sinto arrependimento. Eu me preocupo comigo mesmo! Isso não é uma coisa normal de se pensar! Eu acabei de meter um cano na cabeça de alguém e não sinto nenhum remorso!

PORQUE EU NÃO SINTO REMORSO?!

Carley ficou me encarando, ela abaixou a mão lentamente. Eu a encarei finalmente, e agora que eu via seus olhos podia ver que ela não sentia medo como eu achava que ela sentia...

Seu olhar era de pena.

— Então você sabe que precisou fa.. – ela começou a dizer mas eu a interrompi.

— Eu escolhi nós, Carley. Não tenho problema algum com isso. – eu disse friamente a ela e fechei meus olhos, aquilo estava me dilacerando por dentro.

— Se você não está arrependido do que fez e entende que isso foi necessário...qual é o problema então? – ela disse e eu a olhei incrédulo. Ela deu de ombros confirmando que não sabia sobre o que meu drama era. Eu continuei encarando ela.

— Eu acabei de acertar um cano na cabeça de alguém que costumava conhecer! – eu disse agora levemente irritado, mas não falei alto para não atrapalhar os outros que estavam ainda imóveis. Mary e Harry me olhavam mas Rob e Rey não se moveram.

— Imagina você pegando aquilo – apontei para a mesa onde as tábuas, suportes e os canos estavam – e acertando na cabeça de alguém! Eu nunca machuquei ninguém, e por mais que isso tenha sido necessário, não me sai da cabeça que eu não sinto UM PINGO de arrependimento! – acabei me exaltando no final das contas - Eu não sei o que está havendo comigo! – falei

— Nada está acontecendo com você. Não está se sentindo mal porque o que fez foi certo! – ela disse, eu abri a boca para responder, mas nada saiu.

Ela me olhou e depois olhou para trás, encontrando os olhares de Mary e Harry. Ela voltou seu olhar pra mim, respirou fundo e depositou o pacote de amendoins em uma mesa próxima a ela.

— Aquela coisa ali – ela disse se levantando e apontando em direção ao corpo da professora – NÃO é a Tasha. – ela disse agora em um tom que indicava que suas palavras eram direcionadas a todos.

Rob e Rey viraram o rosto em direção a Carley. Agora ela tinha a atenção de todos.

— Quero que fique bem claro, que SIM...Realmente, todos nós fomos testemunhas da morte da professora – ela caminhava lentamente em direção ao corpo.

— Mas não foi Matt que matou ela. – ela falou e senti o olhar de todos sobre mim.

Eu...não sei o que sentir agora.

— Quem matou ela foi um ZUM-BI. Um doente. Um infectado. Chamem do que quiser! – ela disse e finalmente se virou para todos nós enquanto dava de ombros.

— Não importa se antes conhecíamos esse doente como uma pessoa. Eles NÃO são pessoas! São monstros! A única coisa que temos que saber é que eles MATAM. Isso é tudo. É suficiente. – ela continuou e voltou seu olhar pra Mary.

— Eles são os culpados. Eles transformam seres humanos em criaturas sem identidade. Eles querem nos matar e querem nos impedir de voltar pra NOSSAS famílias! E o que vocês vão fazer sobre isso, hein?! – ela aumentou o tom de voz

— Carley! – eu a reprendi e coloquei meu dedo indicador na frente dos meus lábios, pedindo silêncio.

Ela assentiu e abaixou a cabeça fechando os olhos com força. Respirou profundamente e falou mais calma agora:

— Vão fazer o que? Não foi uma pergunta retórica. – ela disse e cruzou os braços. Ninguém respondeu.

— Ninguém? Matt? Rob? – ela começou a apontar para todos que a encaravam com curiosidade – Mary? Rey? Harry? Ninguém mesmo? – ela bateu uma palma e soltou um riso frouxo.

— As coisas lá fora são os responsáveis pelo vírus. Se eles tocarem na gente, nós viramos zumbis. Mas antes de se transformar, nós morremos. – ela disse transitando seu olhar entre nós. – É literalmente como funciona um zumbi. Ou seja...aquelas coisas lá fora?! – ela disse agora apontando pra janela.

Sua sombra transitava na sala, havia dois celulares iluminando a sala de aula, o de Mary e o de Rey. Harry e Carley haviam desligado a lanterna do deles.

— Todos lá fora...fazendo esses barulhos...batendo na nossa porta... – ela andava em direção a professora, eu estava me sentindo ansioso.

— Estão mortos.– ela disse assim que chegou próxima ao corpo da professora - Alguém quer morrer aqui? Porque fiquem sabendo que não vou deixar ninguém desistir. – ela se virou para nós.

— Nós vamos sair daqui. Todos juntos. E se algum deles vier pra cima de nós, que se DANE, eles já estão mortos mesmo, não podemos mudar o passado. – ela disse fria, e me surpreendi em me encontrar concordando 100% com ela mentalmente.

Todos nós nos olhamos. Rob ficou sentado e esfregou os olhos, Rey se levantou do colo de Mary e ficou de pé. Os olhares estavam todos nele agora, que nos olhava de volta confuso.

— Te-tem razão. – Rey disse, ele tentava soar confiante, mas não me convenceu.

— Vamos sair daqui, amanhã. – ele disse olhando pra Carley. Eu percebia que eles se comunicavam pelos olhos, Carley sorriu sem mostrar os dentes para Rey que assentiu pra ela lentamente.

— Amanhã?! Como? – Harry se pronunciou. Os olhares de Carley e Rey se encontraram novamente.

— Porquê não diz pra eles, Rey? – Carley cruzou os braços. Ainda sorria triunfante. Meu olhar finalmente encontrou o de Rob, vi pena em seu olhar também, semelhante ao de Carley anteriormente.

Rey respirou fundo e começou a dizer:

— Lembram do cara lá fora? Alguém tem alguma ideia de como ele estava lá fora andando no meio dos mortos? – ele perguntou para nós, e percebi que ele usou a palavra “mortos”, para descrever as coisas lá fora.

— Estou pensando nisso até agora – eu digo, sendo sincero.

— Acho que eu e Carley sabemos a resposta. – Rey disse por fim e todos nós olhávamos de Rey para Carley curiosos.

— Sério? – Rob disse.

— Sim. – Carley confirmou.

— Como ele saiu? – perguntei por fim. Rey olhou pra Carley, e ela assentiu pra ele, que molhou os lábios e começou a responder nossa pergunta:

— Se repararam bem...o cara estava coberto de sangue. Ele estava encharcado dos pés a cabeça de sangue e tripas, assim como os próprios mortos. – ele começou a andar em direção a Carley enquanto encarava o chão – Os zumbis não perceberam nada. Só foram perceber depois de um tempo.

— Depois que a agua começou a tirar o sangue dele. – Carley disse por fim. Eu não estava entendendo nada.

— Exatamente. Acredito que eu e Carley acreditamos que o sangue foi um disfarce para poder passar pelos mortos, fazendo eles acreditarem que o cara na verdade era um deles, sendo que não era como bem vimos. – Rey disse e eu pude sentir coerência no que ambos estavam dizendo.

— Estão dizendo que os zumbis acharam que o homem lá fora estava morto igual eles? – eu perguntei, querendo uma confirmação.

— Estamos dizendo que provavelmente o cara estava uma catinga. Já sentiu o cheiro dessas coisas? – Carley disse e apontou para a professora. O fato que Tasha ainda estava ali jogada me afetava profundamente, mas agora, graças ao que Carley tinha dito, eu não conseguia me sentir mal.

Afinal de contas, não fui eu que a matei. Foi Scott...ou melhor, o que costumava ser ele antes. Scott a matou enquanto ele mesmo já estava morto.

— Então eles são tipo animais que sentem vão pelo cheiro e esse tipo de coisa? – Harry perguntou.

— É só uma teoria. Mas que pode fazer muito sentido. – Rey disse. Agora estava ao lado de Carley e olhava de lado algumas vezes para a professora no chão.

— Vou direto ao ponto. Se tivéssemos sangue em nós, poderíamos sair daqui igual o cara desconhecido fez. – Carley disse quase atropelando suas palavras – Bom...se tivéssemos mais sangue, quero dizer. – ela disse e olhou para Carley e pra mim.

Sangue em nós?! Como assim?! Eu já estou com minha cota aqui, obrigado!

Olhei minhas mãos, com respingos de sangue e me senti enjoado. Minha roupa também tinha algumas manchas, assim como a de Rey.

— Mais sangue? – Rob perguntou com a voz fraca – Oh Deus, vocês estão mesmo propondo que devemos nos sujar de sangue pra passar por eles? E se não funcionar? Afinal de contas o cara acabou se ferrando no final. – Rob disse, mas não dei tempo de Carley e Rey responderem a pergunta, eu já sabia a resposta e a direcionei para meu amigo.

— Não deu certo porque talvez a agua tenha tirado o sangue dele. O cheiro pode ter ido junto, como se fosse um banho, entende? – eu disse a Rob que ergueu as sobrancelhas em surpresa. Me virei para Rey e Carley e disse – Certo?

— Certo. – Rey respondeu.

— Mas onde a gente ia arranjar sangue? Não acho que é uma boa ideia abrir a porta. Não sabemos quanto deles tem e...sem ofensa, mas não sei se estou preparada pra enfrentar um deles mesmo concordando com tudo que você disse antes, Carley. – Rob perguntou

— Primeiramente, quero deixar claro que, vamos ter que enfrentar eles de uma maneira ou outra. Não teve nem sinal da policia ou dos militares hoje, então não podemos depender deles e esperar que eles nos salvem. Se faz você se sentir melhor, eu diria que estaríamos fazendo...um favor ao matar os mortos – ela diz e depois faz uma careta – de novo. – e solta mais um riso frouxo.

— Favor? – Harry pergunta.

— Essas pessoas são seres humanos que ficaram tossindo sangue, com febre e com indisposição, e que depois de tudo que passaram, elas infelizmente acabaram falecendo. E agora elas não podem descansar em paz?! Quero dizer, elas vão ter que ficar andando sem rumo por aí parecendo que nunca foram pessoas mesmo?! – Carley abriu os braços.

Meu Deus...

Ela esta certa.

Absolutamente certa.

Mas...e se tivesse cura..?

— E se tivesse alguma cura, Carley? Não quero desmotivar ninguém enquanto você tenta nos jogar a real, mas se matarmos eles, não tem mais chance de cura. – eu disse e esperava com todo meu coração que Carley tivesse uma resposta apropriada pra mim.

— Estamos nisso a meses. O vírus foi anunciado a meses, e agora as coisas fugiram do controle. A cidade foi atacada, tudo parou. A luz acabou e suspeito que seja um blackout e não apenas uma falha de circuito. Sem falar que estamos ainda sem sinal – ela disse tirando o celular do bolso e erguendo ele a nós. – São 22h e não tivemos nenhuma noticia de nada. Se tivesse alguma cura, nós teríamos conhecimento disso pois teria sido desenvolvido antes dessa merda acontecer.

Ufa. Graças a Deus ela tinha resposta.

— Talvez você esteja certa sobre os zumbis mas...vocês ainda não nos disseram da onde arrumaríamos o sangue.

Carley e Rey se olharam, pareciam se comunicar novamente. Até que ambos assentiram um pro outro, os dois com olhares preocupados. Eles se viraram pra trás e começaram a encarar o corpo da professora no chão.

Ah não...

— Tá de zoeira... – Harry falou e levou ambas as mãos no rosto.

 

PONTO DE VISTA – CARLEY

 

— Isso é doentio, cara! Credo! – Mary se levantou fazendo caretas.

Eu sei que é doentio. Eu sei que é loucura.

— Alguém tá a fim de sair lá fora pra pegar o corpo de alguém que não conhecemos, então? – eu perguntei ironicamente enquanto cruzava meus braços.

Todos ficaram em silêncio. Me senti no dever de dar mais algumas explicações, Rey deu dois tapinhas na minhas costas e acabou se sentando em uma mesa ao meu lado.

Vou aproveitar enquanto todos estão de fato me escutando e levando em consideração minhas palavras.

— Escutem. Eu também não me sinto confortável em fazer isso, mas infelizmente vamos ter que fazer. Não conseguimos aguentar um dia inteiro aqui de novo. Estamos sem comida, e quase sem agua. Poderíamos sair daqui e ir pra casa.

— Espera. Então vamos nos separar? Cada um pra sua casa no final das contas? Acha isso uma boa ideia agora? – Rey disse e eu olhei curiosa – Não me entenda mal, eu quero muito ver minha família, mas se a gente já tá meio instável enquanto todos estamos juntos, imagina separados... – ele disse

Faz sentido. Não podemos nos separar.

— Como assim, NÃO vamos nos separar? Devemos! Não dá pra gente andar de casa em casa! – Harry falou. Eu fico perdida em pensamentos.

Não vi essa chegando.

Me afasto do corpo da professora e viro de costas pra eles enquanto escuto a discussão.

— Não dá mesmo! Quero saber o que está acontecendo lá em casa. Minha mãe deve tá super preocupada! E eu também estou com ela! E meu pai e irmã também! - Mary diz.

— Não vou nem falar da minha mãe. Vocês conhecem a Dona Rosaline, deve estar subindo pelas paredes e rodando a baiana agora. – Rob diz enquanto se levanta e começa a se espreguiçar.

— Eu quero ver minha mãe e minha tia também mas...fico pensando...e se eles não estiverem em casa? Pra onde devo ir depois? – Rey lança a pergunta no ar e sinto seu olhar em minhas costas.

Pensa Carley, pensa.

Espera, eles podem não estar lá...

— A gente pode marcar um ponto de encontro caso isso aconteça – Matt diz – Também tenho essa preocupação. Depois que falaram daquele centro de sobrevivência...

É ISSO! É ISSO!

— Já sei! – eu digo mais alto do que gostaria. Tive uma epifania.

Vai ser foda convencer eles.

Tenho que tentar.

Não vai ter que tentar, você vai ter que traze-los com você querida.

Não posso forçar eles.

Está pensando demais Carley.

Não preciso pensar mais sobre os zumbis, meu único medo agora é-

— Eeeei! Carley! – escutei Rey dizer e me virei brutamente, todos me olhavam com expressões esquisitas, acho que me chamavam a algum tempo.

— Pra onde você foi com sua cabeça agora? Que ideia você teve? – Mary disse.

— Ah... – eu disse tentando por meus pensamentos em ordem – Claro claro, a ideia...er...

Vamos lá garota você consegue.

— Talvez devíamos achar um local seguro primeiro. – eles me olharam com curiosidade depois de eu ter dito isso. Podia imaginar pontos de interrogação subindo por cima da cabeça deles.

— Quê? – Harry perguntou com uma cara azeda.

— Matt, você acabou de falar do centro de sobrevivência certo? – eu disse.

— Você quer ir pra lá?! Não dá pra gente simplesmente sair daqui e.. – Matt começou a dizer mas eu logo o cortei.

— Não, não! Não é isso! – eu o interrompo – Centro de Sobrevivência. É isso que eu estou pensando. Um lugar no qual as pessoas estão seguras. Mas como podem ter notado, não estamos numa situação boa aqui, então não podemos pegar um carro e ir todos em direção ao centro, já que nossas únicas saídas são as duas avenidas que contornam a escola – eles se olharam, mas continuaram prestando atenção.

— Eu digo que precisamos ficar seguros primeiro, já que não sabemos nada sobre a policia ou os militares. E aí poderíamos trazer todas as famílias pra ficarem juntas num mesmo local. Já que nessa altura ninguém vai conseguir ir pro Centro de Sobrevivência, certo? – eu disse abrindo meus braços

— Mas eles estão nos esperando Carlie...minha mãe e minha tia por exemplo moram bem aqui ao lado! Numa das travessas da Denbrough! – ele disse gesticulando em direção a janela.

— Exatamente. Eles estão em casa, em um apartamento no segundo andar, Rey. – eu disse e ele franze o cenho – Estão seguras. Ninguém da família de vocês vai sair de casa. Não vão nos deixar pra trás. A família de todo mundo aqui está em casa, com comida e agua na geladeira enquanto nós estamos aqui comendo amendoins e com metade de uma garrafa d’agua pra dividir entre seis pessoas! – eu digo e cada um deles fica pensativo.

Ok, ok estou conseguindo.

— Não tinha como eles saberem que aqui seria atacado e que ficaríamos presos, e eles não vão sair porque estão tão assustados quanto nós. Mas a diferença é que nós temos mais conhecimento que os membros da nossa família, porque vimos muita merda hoje e fizemos muita merda também. Podemos arranjar um lugar... - falo

— Quer que deixemos nossa família pra trás? É isso? – Harry pergunta indignado.

— Eu não disse isso. – direciono minhas palavras e ele, séria.

— Pois então? Pra onde vamos? – ele pergunta.

É agora.

— Pra minha casa. – respondo

— Aaah! Que conveniente! – Mary diz em tom de deboche.

— Agora não tem como eu te defender, Carlie – Rey coloca a mão na testa e eu reviro os olhos.

— Vão me deixar terminar? – eu pergunto. Eles olham pra mim com desdém.

Capriche. Se não conseguir agora...

— O que temos nessa sala que podemos usar para abrigar a TODOS? Hein? – eu digo e eles me olham confusos não entendendo minha pergunta, paro na frente de Rey – Temos um apartamento com capacidade limitada. – aponto para Rey e me viro em direção a Matt, levanto meu indicador em sua direção:

— Uma casa com o portão de madeira no qual moram, o quê? Cinco pessoas? – eu digo, mas ele não confirma nada. Aponto agora para Rob – Uma casa grande o suficiente para todos, mas é a mais distante daqui...

Sigo meus passos passando meu indicador pelos meus amigos, paro meu dedo em Mary:

— Um sobrado em reforma... – agora aponto para Harry – um apartamento tão longe quanto a casa de Rob...

E por fim, aponto o indicador para mim mesma e finalizo:

— Uma casa de dois andares com um portão duplo de ferro, sendo que no térreo tem uma outra casa, pertencente a minha tia.

Eles me olham ainda com expressões de desdém.

Espero que não pensem que acho minha casa melhor que a de ninguém. É somente mais segura...

— Qual dessas casas é a mais segura e com maior espaço para TODAS as nossas famílias juntas incluindo nós? – eu cruzo os braços. Matt e Rob se olham, Harry continua me olhando como se estudasse minha expressão e Rey começa a fitar o chão.

— Esqueci de falar que talvez nós possamos até mesmo fazer algumas melhorias. Se a gente colocar uma escada de pé no quintal, podemos subir até o telhado da minha casa, e passarmos andando pelos telhados de todas as casas em volta, tendo uma boa visão de perímetro. Mas isso não é nada pra um “centro de sobrevivência” não é mesmo? – eu digo e não consigo conter meu sorriso sarcástico.

— Estaríamos seguros...e aí então buscaríamos nossas famílias? É esse o plano? – Harry pergunta, seu rosto entrega sua confusão.

— Isso. – eu digo.

— Faz sentido, na verdade... – Rob diz pensador.

— É claro que faz – digo me sentindo vitoriosa

Sim Rob. Todos vocês na minha casa. Ninguém vai sair sozinho, eu vou voltar pra minha família e aí podemos buscar a família de vocês. Todos saem felizes.

— Vejo seu ponto. Melhor fazer as coisas com paciência do que com pressa e estragar tudo... – Rey diz e eu pisco meu olho esquerdo pra ele.

— Estragar tudo? – Matt pergunta confuso.

— Sei lá...Se a gente tiver um pouco de paciência, podemos chegar ainda amanhã na casa da Carley, e aí podemos ir de casa em casa sabendo que vamos ter um lugar pra levar todos já que o Centro não é acessível no momento. Mas se a gente tiver pressa... – ele parou de falar, mas eu completei.

— Poderíamos fazer alguma burrada e todo mundo acabar morrendo sozinho a caminho de casa, sem a certeza de que os outros estariam bem.

Eles todos assentem.

— Tá legal. Vamos nessa. – Harry disse.

— Esperar a policia num lugar seguro não me soa ruim...eu topo. Minha família vai ficar doida quando eu explicar pra eles... – Mary diz

— Parece o certo a se fazer. Tô dentro. – Matt diz.

— Eu também. – Rob fala.

— E eu. – Rey finaliza olhando pra mim.

Eu dou um meio sorriso e olho meu relógio.

— Ok. São 22h27. Acho bom descansarmos. – todos assentem.

— Acho bom fazermos turnos pra vigiar a porta, quero dormir também – Harry disse.

— Deixa eu vigiar agora, e aí pode ser o Rey, Mary, Rob, Matt e você de novo pra encerrar. Um de cada vez que tal? Uma hora e meia de vigia mais ou menos... – eu digo a ele que confirma.

Vou indo em direção a porta, mas antes, eu pego vários amendoins de dentro do pacote que eu havia deixado na mesa e ofereço o resto do pacote para Matt. Ele olha pra mim, sorri de lado e pega por fim o pacote. Não sorrio de volta, porém me sinto feliz por ele ter aceitado. Todos se ajeitam e começam a deitar no chão, eu tento ir em direção a porta mas algo me segura.

— Ei... – sinto um toque em minha mão, vejo que é Matt. Ninguém está prestando atenção em nós.

— Obrigado. Você salvou a gente...Não eu. – ele diz e dá um sorriso fraco pra mim. Eu sorrio de volta pra ele.

— Vou apagar o meu celular, ok? – Não vou conseguir dormir, mas isso não significa que não deva tentar – ela diz e todos dão risos cansados. Me sento na mesa que antes Harry estava sentado de vigia.

No final das contas, somente o meu celular que ficou aceso. Ao decorrer das horas, todos apagaram seus celulares, e eu fiquei no escuro com meu celular com o brilho no mínimo, apenas uma luz fraca.

Meia noite...afinal de contas todo mundo conseguiu dormir...

No silêncio da noite, posso finalmente fazer algo que estava desesperada pra fazer...

Encosto minha cabeça na parede, e sem ninguém me vendo naquela escuridão, choro compulsivamente, deixando todas as minhas lágrimas saírem de uma vez enquanto aperto meus lábios para que ninguém me escute.


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Notas finais do capítulo

Qual é o personagem que vocês mais se identificam? Tipo um que vocês gostam bastante e um que vocês não gostam tanto assim? Adoraria saber!



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