The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 15
Zumbis não carregam coisas. Carregam?


Notas iniciais do capítulo

Quero dizer que estamos bem perto de resolver essa questão do grupo ficar na escola! Quero ver a teoria de vocês pra saber como eles vão sair daí!



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PONTO DE VISTA – REY

 

Enquanto eu direcionava a minha mão para pegar mais daquele horrível amendoim sabor cebola, eu ficava perdido em pensamentos que poderiam me enlouquecer a qualquer instante agora...parece que tem pelo menos QUINZE Reys na minha cabeça.

Ok. Vamos sair daqui, isso é fato. Alguma hora, vamos ter que sair.

São quase 18h, será que vamos sair hoje? Espero que sim...

Besteira! Não vamos sair hoje nem ferrando! Eu arriscaria que teremos que passar a noite aqui...ah cara...isso não vai ser bom!

Certeza que minha tia e minha mãe devem estar infartando agora por estar tão tarde e isso estar acontecendo tão perto de casa...porquê eu tinha que morar próximo a escola?! Como será que elas estão lidando com tudo isso?

Eu tenho quase certeza que elas estão melhor do que você agora, estão em casa, as duas! No segundo andar de um edifício, no apartamento, olhando para a janela agora pensando em como Deus irá nos ajudar.

— Não é, Rey? – Harry disse e ele e Mary estavam olhando diretamente pra mim agora.

— Hã? – respondi, e pela minha cara de confuso, eu diria que eles entenderam que eu estava completamente perdido em meus pensamentos e na verdade não estava escutando nada que eles estavam falando.

— Sobre os mortos. Eu estava falando pra Mary que tem alguns lá fora que não tem a mínima chance de estar vivo. – ele disse

— E eu estava sugerindo que talvez as pessoas não estejam mortas de fato, algumas delas podem ter simplesmente enlouquecido como sintoma da doença, assim como há pessoas que parecem não estar vivas lá fora, tem outras que parecem não estar nem feridas. Pelo menos da onde estamos vendo, né?! – ela disse gesticulando para Harry que acenava a cabeça

— E eu falei que talvez isso fosse uma possibilidade, mas que só saberíamos quando... – ele começou a dizer mas depois parou, olhou levemente para os lados e se aproximou de mim um pouco – quando realmente virmos o processo. – ele falava com a boca quase fechada, fazendo o som ser bem baixo para não ser ouvido por ninguém além de mim e Mary.

— Oh...sim. Acho que veremos de perto então né? – foi o que consegui dizer. Eu estava completamente assustando sobre o fato de termos um dos zumbis aqui na mesma sala com a gente. Fiquei cabisbaixo e eles ficaram lá me olhando intercalando com olhadelas entre eles, como se estivessem se perguntando sobre o que falariam para mim naquele momento.

E se precisarmos fazer algo contra ela? Algo...ruim?

Decidi abrir minhas inseguranças com eles.

— Pessoal... – comecei dizendo. Eles me olhavam com interesse, olhei em volta e vi que Rob e Matt estavam ambos encarando a janela, Matt tremia levemente as mãos e Rob piscava freneticamente. Tasha estava próxima a eles, mas estava de olhos fechados. Isso me fez ficar um pouco alerta, mas pude ver que seu peito se movimentava, indicando uma respiração presente ali. Meus olhos continuaram rondando a sala até encontrarem Carley sentada na cadeira atrás da mesa do professor, com as mãos apoiadas na cabeça e com os cotovelos na mesa, ela olhava da porta para a janela e batia o pé no chão repetidamente.

Preciso dividir isso com todos. Não só com Mary e Harry.

— Quero perguntar uma coisa, mas acho que seria melhor debatermos sobre a minha pergunta com todos. Para que nós pudéssemos comentar direito sem deixar ninguém de fora. – eu disse olhando para ambos, que fizeram uma cara curiosa porém assentiram. Mary olhou em volta, da mesma maneira que eu havia feito a poucos momentos atrás, mas depois, seus olhos se voltaram para Carley que permanecia na mesma posição que antes.

— Tenho certeza que muitos de nós vamos sair traumatizados dessa – ela dizia enquanto fitava Carley, nós seguimos seu olhar e ficamos a olhando de longe também – eu sei que eu vou ficar com certeza – Mary balançava a cabeça lentamente.

— Dois – Harry disse levantando o indicador pra cima.

— Três – falei fazendo o mesmo.

Nós três suspiramos enquanto olhávamos a situação de nossos amigos em volta, Matt ainda encarava a janela enquanto Rob chegava perto da professora, eu pude ouvir ele chamando seu nome. Ela parece ter se assustado com isso, pois abriu os olhos de repente como se tivesse escutado uma rojão e tivesse tido um espasmo pelo barulho, isso fez Rob recuar um pouco mas logo em seguida ele se aproximou e o ouvi se desculpar por ter acordado ela.

Acho que ele estava se assegurando que ela estava no mundo dos conscientes ainda...ou no mundo dos vivos. Vamos ter que esperar pra descobrir.

Voltei meu olhar para Carley, que agora se levantava e ia até a primeira janela, que ficava bem ao lado da mesa do professor. Ela apoiou ali e ficou fitando a chuva em silencio.

— Se você pelo menos se expressasse mais... – balbuciei

— É... – Mary respondeu, e quando a olhei, percebi que tinha falado alto de mais, e agora ela estava também olhando pra Carley, provavelmente pensando o mesmo que eu.

— Ela tá guardando tudo pra si. Mas sei como ela deve estar se sentindo agora. – Mary disse e pude sentir um tom de reflexão em sua voz.

— Ela sempre foi assim, desde que conheci ela pelo menos... – Harry olhou para Carley e depois abaixou sua cabeça rapidamente para o saco de batatas que ele enfiava a mão agora.

— Acho que ela está tentando manter a calma, só isso. Mas uma hora...tudo vai sair. – Mary disse.

— Duvido. Não com nós aqui. Acreditem, ela não vai chorar na nossa frente, posso contar nos dedos as únicas vezes que ela chorou publicamente, e a contagem se encerraria enquanto eu estivesse usando apenas uma mão. – eu disse e me entreguei novamente para os amendoins horríveis que por sinal estavam quase acabando.

Essa droga de amendoim...fico imaginando quantas coisas temos pra comer até termos que sair daqui. Temos que maneirar nisso caso fiquemos aqui a noite...argh não quero nem imaginar essa possibilidade.

— Se ela segurar pra ela, vai ser pior. Vai fazer as coisas de cabeça quente, sabem como é... – Harry falou – até eu chorei... – ele pareceu decepcionado com isso.

— Já disse, duvido. – limpei meus dedos na calça jeans que estava usando e me levantei – Bom, vamos lá? Reunir todo mundo pra falarmos sobre a minha pergunta? – eu disse por fim.

— Tá. Vamos. Eu vou avisar os meninos ali. – Harry nos disse, eu e Mary fomos em direção a Carley que estava encostada na janela encarando a vista enquanto mordia seu lábio inferior.

A medida que nos aproximávamos Carley ia ajustando mais sua postura, como se incorporasse um papel completamente diferente quando nós estávamos por perto, eu e Mary chegamos próximos a ela e demos algumas olhadelas pra janela enquanto eu podia ouvir os outros garotos chegando para se juntar a nós também.

— Eu nem me impressiono mais, sabiam? – Mary disse enquanto passava os olhos pela janela, percebi que sua voz estava um pouco trêmula, mas pude perceber que ela agora olhava a janela com certa confiança. – pra quem viu o ataque de fato, né? – ela deu de ombros.

Eu sentia o mesmo que Mary, eu acho...olhei por aquela janela e só fiquei com as mesmas emoções desde o começo do ataque. Vimos um deles de perto, vimos eles lá fora, sangue, tripas, morte por todo lado...não é como se fossemos olhar pra janela e tudo aquilo fosse desaparecer. Então aquilo que vi novamente na janela não me surpreendeu.

Posso muito bem vomitar a qualquer momento. Mesmo vendo isso um milhão de vezes e adaptando minha vista e minha mente para ver isso de uma forma não surpreendente, eu não acho que eu vá tirar essa visão de minha cabeça por um bom tempo.

— Quero fazer uma pergunta para o grupo sobre uma determinada situação. Tudo bem? – finalmente me direcionei para Carley que me olhou e franziu o cenho em curiosidade.

— Ahn...ok. Cadê os...ah estão ali – ela disse apontando para Matt, Rob e Harry que acabam de chegar.

— Então? – Harry chegou perguntando.

— Vamos fazer um círculo? Se Rey quiser perguntar o mesmo que eu, isso pode levar um tempo – Rob disse e eu e ele trocamos olhares.

Acho que realmente ele quer falar sobre o que faremos com a professora também. Acredito que todos queremos, mas ninguém quer de fato tocar no assunto sem parecer indelicado.

— Certo. – Carley disse assentindo lentamente e todos nós sentamos em círculo no chão na seguinte ordem: Carley, Eu, Harry, Rob, Matt e Mary fechando o círculo. Harry na minha direita e Carley na minha esquerda. Matt olhava pra trás algumas vezes, ele estava a alguns metros da porta e estava de costas pra ela, Rob também acompanhava os olhares de Matt e provavelmente dividia a mesma preocupação.

— Ok – comecei dizendo – Antes de mais nada, quero falar pra todos dizerem suas opiniões de forma honesta, sem nenhum tipo de hesitação. Estamos nessa merda juntos então temos que ser sinceros uns com os outros – todos eles assentiram lentamente, a atenção estava toda em mim.

— Ninguém aqui é cego. Todos nós sabemos que o estado atual da professora é temporário, certo? – eu disse, todos se entreolharam e disseram “sim”.

— Minha pergunta é simples: O que faremos quando ela se transformar? – tirei aquela pergunta dos meus pensamentos e finalmente a fiz para o grupo. Todos ficaram em silêncio e alguns fitaram os próprios pés, a única que manteve exatamente a mesma posição desde que comecei a abrir a boca foi Carley. Ela sentava com as pernas em borboleta e ficava encarando um ponto aleatório no chão.

— Eu só sei que...temos que ter opções, isso não vai ser fácil de lidar e é uma coisa que precisa ser pensada com muita calma e todos tem que concordar com qualquer decisão que tomemos aqui. Por isso quis perguntar com todo mundo presente. – finalizei

Ficamos praticamente dois minutos inteiros em silêncio, até que, sem se desfocar de seu ponto aleatório, Carley disse:

— Vocês sabem exatamente o que precisamos fazer caso a situação chegue em um ponto extremo. – ela disse friamente e engoliu seco. A olhei meio que sem acreditar no que ela tinha dito.

Não é possível que ela esteja realmente falando em...

— Sim. – Mary respondeu de volta e eu fiquei mais surpreso ainda.

— Espera. Vocês estão falando em... – Harry começou a dizer, mas seus olhos mostravam incredulidade. Matt e Rob trocavam olhares cumplices.

— Wow, wow. Espera aí. Estamos falando de uma pessoa...não podemos simplesmente tomar uma decisão como essa! - eu disse olhando de Mary para Carley.

Eu sabia do que elas estavam falando. Estavam falando em MATAR a professora, caso necessário. Mas quem conseguiria fazer uma coisa dessas? E se for uma doença que dê para reverter? Vamos ter sangue nas mãos?!

Parte de mim concordava com a ideia de que, se chegasse a um ponto desesperador, realmente não haveria opção. Mas a outra parte de mim dizia que não conseguiríamos fazer tal coisa, era algo completamente desumano.

— Eu..eu não sei... – Matt começou a esfregar a testa com uma das mãos de forma pensativa – e se não der pra fazer outra coisa?

— O quê? – eu perguntei sem entender.

— E se ela vier pra cima de nós? – Matt disse um pouco mais baixo e olhou para onde a professora se encontrava. Ela estava com a cabeça encostada próxima a parede, ela respirava lentamente.

— Olha, não estou falando que isso não seja uma possibilidade. Eu...eu quero dizer que...que... – tentava achar palavras para descrever todas minhas inseguranças, mas eu falhava miseravelmente enquanto todos me olhavam, esperando eu finalizar meu pensamento – como...como a gente-

— Não tem como saber quem vai fazer isso, Rey. – Carley pousou seus olhos em mim e pude enxergar algo que não tinha visto no olhar de ninguém do nosso grupo até agora. Isso até me pegou de surpresa, por não estar esperando aquilo de ninguém agora.

Ela parece...confiante?

Abri a boca pra falar algo mas nenhuma palavra saiu. Ela continuou.

— Fiquei pensando um tempo e cheguei a conclusão que um de nós vai ter que fazer isso, mas não temos como decidir quem ou como vai ser feito. Simplesmente vai acontecer, é bom todos aceitarem isso. Assim que a professora perder a consciência e se transformar em uma daquelas coisas, não vai ter diálogo com ela, não vai ter acordos ou condições. E ela sabe disso, por isso disse para nós falarmos da filha dela pra policia e pro seu marido, ela sabe também que isso não tem volta e estou começando a acreditar nisso. – ela explicou. Fiquei em silêncio e fitando o chão pensando no que ela acabara de dizer, e percebi que os outros estavam em silêncio também.

Ela se ajeitou no chão, molhou os lábios e depois olhou cada um de nós nos olhos e disse:

— Me digam: com tudo que vocês viram na televisão e na internet...vocês ficaram sabendo o que aconteceu com as pessoas doentes? Se elas se curaram ou algo assim?

Todos nós nos olhamos. Eu tentava lembrar da última vez que eu havia visto uma noticia sobre a epidemia na internet.

Ah! Claro! Eu vi uma coisa! Três dias atrás minha tia mandou um vídeo no grupo de conversas da família que mostrava alguns casos por aí que não eram noticiados, casos que as pessoas presentes gravavam com o celular para postar nas redes sociais depois ou então, como o meu caso, dividir no grupo da família como forma de se dizer “ei gente cuidado aí na rua”.

Eu lembro que fiquei bem mal nesse dia. As imagens eram fortíssimas. O primeiro vídeo do pequeno compilado era de uma moça que estava sendo amarrada em uma maca, os enfermeiros tentavam segurar sua cabeça para trás e seguravam suas mãos, braços e pernas com toda força. Nunca tinha visto uma pessoa que precisasse de três ou quatro enfermeiros para ser amarrada. Quando finalmente conseguiram amarra-la, um policial a acompanhou dentro da ambulância com um revolver em mãos. Havia gritos de protesto que podiam ser ouvidos no fundo do vídeo, gritos de “parem com isso”, “pra que essa agressividade” , “ o homem está doente!” , “violência policial!” etc. Não sei o que houve com a vítima.

Depois o vídeo cortava pra um adolescente que estava (agora eu posso dizer com certeza) infectado, ele estava deitado no chão mas se movia lentamente, como se estivesse despertando em uma manhã ou algo do tipo, ele sangrava nas mãos e na boca. Policiais apontavam armas pra ele e falavam pra ele não se mexer, perguntavam seu nome e se ele podia os ouvir. O rapaz levantou devagar e olhava para todos eles. Ele dava passos lentos em direção e eles enquanto grunhia.

“Pare agora mesmo!” os policias gritavam, mas o jovem simplesmente ignorava...”vamos atirar!” um outro policial gritou, e foi aí que as coisas ficaram estranhas.

O policial deu um tiro pra cima, todos em volta gritaram e o adolescente pareceu instigado pelo barulho e acabou avançando contra os policiais, um deles atirou na perna do jovem tentando para-lo, mas ele parecia nem ter sentido dor e continuou seguindo em frente avançando contra os policiais. Assim que ele agarrou um dos policiais, o mesmo começou a disparar. Dois, três tiros com certeza devem ter pego no estômago do rapaz mas ele pareceu não ligar para isso também, a filmagem parava aí, com todos correndo e mais disparos sendo ouvidos. Não sei o que houve com esse adolescente também.

— E então? – Carley falou cortando meus pensamentos. E pelo jeito cortou o pensamento de todos, porque eles, que antes não estavam olhando para ela, agora a fitavam com curiosidade e interesse.

— Não sabem não é? Bom, eu também não. Mas eu não vi nenhum tipo de revolta na internet de nenhum familiar. Só via os números de mortos aumentarem a cada dia por conta da doença, e ao mesmo tempo, o número de infectados também aumentava. – ela disse olhando para cada um de nós novamente. Primeiro o governo aparece com uma comunidade para sobreviventes que parece ter surgido do nada... – ela olhou para Mary que assentiu balançava a cabeça afirmativamente – Depois, eu escuto um policial falar pra mim enquanto vinha pra cá que várias unidades de segurança estavam indo para o hospital para “observar” os pacientes! – ela fala e faz aspas com os dedos quando fala “observar”

— Desde quando policiais vão em hospitais para verem pacientes?! Pois o que eu acho é o seguinte: a policia, o exército, todos...estavam matando os infectados. Tentando evitar que isso acontecesse, mas por algum motivo, não deu certo. – depois de ouvi-la falando isso, parece que ouvi um *click* na minha cabeça, como se várias peças estivessem se encaixando.

 

PONTO DE VISTA – CARLEY

 

Estamos controlando, não se preocupe. Hoje mesmo, falaram pra mim que estavam indo em direção aos hospitais do centro da cidade pra dar uma verificada. A intenção é verificar todas as unidades de saúde pra garantir que os infectados sejam... observados.”

Eu olhava para as expressões surpresas de meus amigos enquanto contava a eles sobre minha “teoria da conspiração”, Rey parecia que tinha tomado um tabefe forte o bastante para desnorteia-lo. Matt me encarava boquiaberto, e Rob ficava repetindo “cara” repetidamente para si próprio enquanto apertava as laterais da cabeça. Mary balançava o indicador em minha direção enquanto balançava a cabeça positivamente, Harry repetia “mano” diversas vezes enquanto fitava os pés.

Tudo se encaixou agora. Pelo menos acho que concordam comigo nessa “teoria” que quase tenho certeza que não é teoria.

— Alguém acha que estou ficando louca aqui? – pergunto a eles.

— Cara... – Rob repete e olha pra mim na intenção de falar mais coisas, mas ele não consegue achar palavras e corta seu pensamento no meio.

— Mano... eu não sei o que pensar. – Harry encarava seus próprios pés.

— Eu sabia! Sabia que tinha caroço nesse angu! – Mary gesticulava loucamente em minha direção – Eu disse! Não disse?! – ela virava e olhava para todos, como se ela tivesse acabado de provar que estava certa em algo – Eu falei que essa merda de centro de sobrevivência era alguma tramoia, mas eu não tinha percebido o resto! – ela falou e pude ver um leve sorriso no canto de seus lábios.

Me sinto o Sherlock Holmes nessa porra, heh.

Passo um: atualiza-los da minha teoria, check!

— Sim, Mary você esta completamente certa sobre aquilo que disse sobre o governo tentar apaziguar as coisas e ter esse centro na manga. – eu disse concordando com ela.

— Talvez seja por isso que estão demorando tanto! Talvez eles estejam resolvendo essa situação no hospital! – Rey fala

— Mas não é possível que TODAS as forças policiais e militares estejam nos hospitais agora! Temos tão poucos soldados assim é? – Matt diz para Rey. Dou de ombros

— Não esqueçam que tem a cidade também... – eu digo para eles e eles afirmam com a cabeça, provavelmente lembrando do pensamento.

— Você falou “sabemos o que temos que fazer caso fosse necessário”... o que quer dizer exatamente? Que necessidade? Eu já entendi sobre o QUE você acha que devemos fazer, mas não entendi a parte da necessidade. – Rob me pergunta

Me ajusto um pouco em minha posição para poder responde-lo

— Vamos amarra-la, isso é fato. Mas digamos que ela consiga se soltar ou que ela consiga avançar pra cima de um nós. O que você faria? – pergunto a Rob.

— Afastaria ela. – ele responde de imediato.

— Como? – pergunto de novo.

— Ora como! Eu tiraria ela de cima de vocês! Empurraria ou algo do tipo! – ele diz como se fosse algo óbvio – Não quero apelar pra o que você está sugerindo Carley. Não me sinto confortável com isso, eu não conseguiria ma... – ele se interrompe e olha para a professora, ao ver que ela continua dormindo ele fala um pouco mais baixo – eu não conseguiria matar ela.

— Eu também não. – Matt diz – Qual é! É sobre a professora Tasha que estamos falando aqui!

— Você acha que eu conseguiria matar alguém, Matt?! – pergunto assustada. Isso tá muito estranho.

— Sinceramente? Acho que você é a única que tem cabeça no momento pra isso. – ele fala mas não sinto grosseria em sua voz.

Eu fico o olhando perplexa, os olhares deles caem sobre mim.

O QUE? PORQUE ELE DIRIA ALGO ASSIM?! EU NÃO SOU FEITA DE PEDRA, TÁ LEGAL? EU ESTOU DESESPERADA! EU QUERO VOLTAR PRA CASA! QUERO SAIR DAQUI E ABRAÇAR MINHA FAMILIA E DIZER PRA ELES O QUANTO EU FIQUEI COM MEDO E O QUANTO ACHEI QUE IA MORRER AQUI!

QUERO DIZER A ELES QUE SÓ NÃO ESTOU PIRANDO E CHORANDO PELOS CANTOS PORQUE ESTOU CONCENTRADA 100% EM SAIR DAQUI VIVA E LEVAR MEUS AMIGOS COMIGO!

Eu...eu...não sou capaz de fazer algo assim...só porque não demonstro meus sentimentos não significa que não sinto nada!

Olho procurando auxilio em alguém, mas todos me olham com timidez.

— Vô....vocês todos pensam assim? – pergunto olhando pra eles, que se entreolham.

— Olha...Carlie... você sabe que é a única que está lidando com isso da melhor forma. Não acho que Matt te criticou ao dizer que você poderia...você sabe. – Rob diz.

— Claro que não! Não quis ofender nem nada, só falei o que penso. Você é a que tá com a mente no lugar aqui. – Matt se defende.

Não estou não. Estou um caos Matt.

— Você quase foi atacada por um deles, foi a que mais ficou perto de um deles e você está aí toda calma. – Harry diz lentamente.

Não estou não.

— Você lida com as coisas de maneira diferente que nós, Carlie. Isso está ajudando bastante...bom, pelo menos me ajuda a não ficar tão em pânico assim, principalmente depois do que você disse pra mim mais cedo. – Rey diz

— Lembra do que você disse pra mim? Sobre as armas que podemos usar? Acho que você é a que pode usar elas com mais confiança... – Mary começa a dizer

— Não! – eu nego e aumento o meu tom de voz e eles me olham surpresos

Só não gosto que me vejam chorando. Nunca gostei e vocês todos sabem disso. Eu não sou boa com sentimentos.

 Se eu focar no problema que temos...se eu parar pra PENSAR por um segundo sequer sobre o quanto estamos na merda e sobre as chances que temos de morrer...vou paralisar.

Vou paralisar e não vai ter ninguém pra me salvar.

E eu preciso viver pra chegar na minha família. Preciso encontra-los novamente.

Preciso viver por eles.

— Não. – eu abaixo meu tom de voz novamente, me acalmando um pouco – Eu não conseguiria matar alguém conscientemente. - Eles me olham com uma mistura de sentimentos, identifico certa pena no olhar, o que me deixa bem irritada.

— Eu não me sinto bem com a ideia de matar alguém! - digo me levantando – Mas digamos que ela voe no pescoço de um de vocês, um empurrão não vai bastar! Sei que estão pensando com a razão agora, mas eu estou pensando com a lógica! – eu digo e dou dois tapinhas na minha testa – Quando chegar a hora, não vão poder escolher...eu também não vou poder escolher. Vocês só vão fazer o que der na telha!

Alguns deles baixam o olhar, outros continuam a me olhar de forma pensativa, pouso meus olhos em Mary.

— Vai ser nós — digo - ou eles. — aponto para a janela.

— E eu espero que se a decisão cair na mão de algum de vocês...que vocês escolham NÓS. – me viro pra janela ficando de costas pra eles.

— Tenham certeza de uma coisa... – falo devagar e fecho meus olhos. – Eu fico extremamente confortável com a ideia de escolher “nós” e salvar a vida de um de vocês. – me viro pra eles. Estendo os braços e mordo o lábio inferior enquanto tento estudar a expressão deles.

— E vocês? – digo e me viro para encarar a vista novamente. Um silêncio domina a sala.

Fico encarando a paisagem que já não me assusta tanto quanto antes, mas mesmo assim devo me concentrar pra não focar demais no sangue e nos corpos no chão que parecem lutar para se levantar. O céu está ficando escuro, pois a noite se aproxima. Olho meu relógio e vejo que são quase 19h. Percebo que os postes não se acenderam.

Quer ver que a maldita rua vai ficar sem luz também? Droga.

Sete horas e nada. Acho que eu estava certa no final, realmente vamos passar um pesadelo aqui dentro.

Chacoalho a cabeça tentando afastar o pensamento.

Não pense. Não pense. Viva.

Olho para os que vagam na rua vendo cada um deles andar lentamente em todas as direções enquanto faziam aquele grunhido esquisito que mais parecia um pedido de socorro abafado.

Eis que percebo algo estranho.

O que é aquilo? Não consigo ver bem...

Forço um pouco os olhos para tentar enxergar. Um dos corpos que vagam na rua parece estar...segurando algo nas mãos?

Porcaria de vista! Porque esqueci meus óculos, porra?!

— Gente?! – digo virando levemente a cabeça – Venham aqui. – decido chama-los para ver se eles veem o mesmo que eu. Ouço o barulho deles se levantando.

O que caralhas é aquilo? É um...um machado?! Parece um machado.

— O que houve? – escuto Harry dizer. Levanto meu indicador em direção a rua.

— Um deles tá carregando alguma coisa, não está? Aquele ali, coberto de sangue. - digo ofegante.

— Carregando?! – Mary diz confusa

— Como assim, carregando?! – Rey fala

— Cadê? Todos eles têm sangue. – Rob começa a procurar e engole seco depois de mencionar o sangue. Eles se apertam nas laterais da janela e começam a tentar procurar o zumbi que eu indiquei.

— Mas eles conseguem carregar coisas? – Matt pergunta enquanto procura no meio da multidão o tal zumbi.

OH!

— Puta merda! – Rey diz e leva as mãos na boca.

Puta merda puta merda puta merda

— Meu Deus! – Rob fala boquiaberto.

ZUMBIS NÃO CARREGAM COISAS!

— Não. É. Possível. – Mary fala pausadamente.

SE AQUILO NÃO É UM ZUMBI...

— Como ele está lá?! – Harry diz sem se mexer

ENTÃO QUER DIZER QUE AQUILO É...

— Porque ninguém ataca ele?! – Matt pergunta completamente chocado

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