Silent Night escrita por Jude Melody


Capítulo 4
Noite silenciosa




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/750243/chapter/4

Kurode surgiu na sala quando ouviu o som das chaves. Enfiou o focinho no sobretudo de Kurapika, sentindo os cheiros da rua. Leorio afagou seu dorso e se dirigiu ao quarto para guardar o presente de sua irmã.

— Falta bem pouco para meia-noite agora. Quer tomar o quarto chocolate quente do dia?

Kurapika fez algo que Leorio nunca imaginara: mostrou-lhe a língua.

— Era só brincadeira...

— Quero, sim.

— Verdade?

O Kuruta riu.

— Não. Chega de chocolate por hoje. Mas eu aceito amêndoas, se tiver.

— Ok. Amêndoas saindo!

Kurapika jogou o gorro, o cachecol, o sobretudo e os abafadores de ouvido no sofá e se sentou perto da árvore. Ligou o pisca-pisca para apreciar os enfeites. Não eram tão luxuosos quanto os do pinheiro da praça, mas tinham um charme especial.

— Prontinho. — Leorio pousou a tigela com a amêndoas, a garrafa de vinho e as taças sobre a mesa de centro. — Kurode, fique aí.

O labrador emitiu um ganido e se deitou ao lado do Kuruta. Leorio também despiu parte das roupas, ficando mais confortável. Pelo canto dos olhos, Kurapika observou o casaco preto. O Paradinight realmente ficava muito bonito com aquela cor.

— Vamos começar nosso amigo oculto, então?

— Leorio. — Kurapika revirou os olhos.

— Quer ouvir uma música?

— Pode ser. — Kurapika estendeu o braço para fazer carinho em Kurode. — Vai ser bom para criar um clima.

— Um clima, hein?

O Kuruta corou.

— Um clima de Natal!

Leorio conferiu as mensagens do celular antes de escolher uma música. Samantha enviara várias fotos do amigo oculto que organizara. Em uma delas, Pietro fazia uma careta para um gorro cor de rosa.

— Vai esperar meia-noite, Leorio?

— Está bem! Está bem! Quanta impaciência.

Escolheu uma música instrumental qualquer, porque Jingle Bell Rock seria cafona demais. Foi só se sentar diante de Kurapika, que este estreitou os olhos.

— Essa música é de Hiato x Hiato?

— O quê? — Leorio se fez de inocente. — Não, não. Que é isso?

— Leorio... Você por acaso tem a trilha sonora desse desenho no seu celular?

— Não! Só umas quinze músicas...

Kurapika esfregou as pálpebras.

— Eu namoro uma criança...

— Pare com isso. Bem, eu vou começar.

Leorio pegou uma pequena caixa embrulhada com papel presente azul, empertigou o corpo e soltou um pigarro.

— Meu amigo oculto...

— Leorio!

— É a coisa mais fofa...

— Pare com isso.

— Que este mundo já viu! Já sabe quem é?

O Kuruta jogou a cabeça de lado.

— Eu!

— Errado. É o Kurode. Aqui, Kurode.

Ele pousou a caixa diante do cachorro, mas este apenas cheirou o embrulho. Kurapika perdeu a paciência e abriu o presente para ele.

— Parabéns, Kurode. É um ossinho — disse, jogando o brinquedo do outro lado da sala. O labrador saiu correndo atrás. — E agora?

— Agora é a vez dele.

— Você vai mesmo levar isso em frente?

Leorio assobiou.

— Kurode, vem cá.

O labrador veio segurando o osso.

— Dá seu presente para o Kurapika.

Obediente, ele largou o osso e lambeu o rosto do Kuruta várias vezes.

— Kurode! — Kurapika riu. — Kurode, pare! Leorio! Você treinou ele?

— Não sei do que está falando. Sua vez, Kura.

Ele afagou as orelhas de Kurode — que voltou a brincar com o osso — antes de pegar seu embrulho. Era uma caixinha bem pequena.

— Já que você insiste... Meu amigo oculto é um idiota.

— Não fala assim do Kurode.

— O Kurode já foi, babaca. É você.

— Eu? — Leorio levou a mão ao peito. — Muito obrigado!

Ele não conseguiu conter o entusiasmo enquanto rasgava o papel. Abriu a caixa e tirou de dentro uma caneca de cerâmica com os dizeres "Tudo o que eu preciso é amor, café e um cachorro". Para completar, havia um chaveiro de pelúcia.

— Nossa, que legal!

— Não precisa fingir, Leorio.

— Mas é sério, eu gostei mesmo. Sempre quis uma caneca de cachorro!

Kurapika sentiu o rosto enrubescer.

— Você sabe que esse não é seu presente de verdade, não é?

— Quê? — Leorio arregalou os olhos.

— Era para ser uma piada. Por causa da gravata que você me deu no Natal passado. Minha pequena vingancinha.

— Ah... — O Paradinight murchou. — Mas eu posso ficar com a caneca, né?

— Você pode ficar com a caneca! — Kurapika revirou os olhos e pegou outro embrulho na pilha. — Este é seu presente de verdade.

Leorio examinou a caixa. Era pequena e quadrada.

— Não é uma gravata, não, é?

— Só abra, está bem?

As mãos de Leorio tremiam enquanto ele rasgava o papel. Descobriu um pequeno estojo preto. Mau sinal. Abriu com cuidado e não deu outra.

— Um relógio! Isso deve ter sido muito caro!

— Achei que gostaria de um. — Kurapika deu de ombros. — De todo modo, você pode guardar para quando se tornar um médico. Vai ficar bem em você.

Leorio virou o rosto, visivelmente envergonhado.

— Que droga... Você sempre compra presentes tão legais. Faz eu me sentir idiota!

— Não seja assim. Também trouxe uma coisa para o Kurode. Espero que ele goste.

O Kuruta pegou mais uma caixa e rasgou o papel, revelando um bebedouro portátil.

— Na verdade, acho que será você quem vai usar.

— Nossa! — Os olhos do Paradinight brilharam. — Eu já tinha visto um desses, mas nunca tinha comprado, porque as garrafinhas de água comuns sempre serviram.

— Este é adaptado para cães. Você gosta de correr, não é? Agora pode correr com o Kurode sem se preocupar com a hidratação dele.

— Que legal, Kura. Você é tipo o melhor namorado do mundo!

Kurapika deu de ombros.

— Eu só pensei que era o mínimo que poderia fazer... Estou sempre tão distante de vocês dois...

— Mas agora você está aqui. — Leorio segurou sua mão. — Espero que goste do seu presente.

O Kuruta recebeu o embrulho em silêncio. Fitou os sininhos dourados por quase um minuto enquanto uma música de fundo lenta tocava. Alisou o papel presente antes de rasgá-lo. Deparou-se com uma caixa branca. Tocou as bordas de leve, hesitando em puxar. Quando ergueu a tampa, seus olhos pulsaram de reconhecimento. Seus lábios tremeram. A tampa caiu no chão. Ele estava estático diante do livro.

Durante todo o processo, Leorio não disse uma palavra. Apenas observou a cor esvair-se das faces de Kurapika. Lágrimas desceram de seus olhos. Ele cobriu os lábios.

— Eu não acredito... — murmurou, quase sem voz.

— Você gostou?

— É... É o livro que a Shiira deu para mim e para o Pairo quando éramos crianças. — Kurapika ergueu o rosto, encarando Leorio. — Como você soube?

O Paradinight esfregou a nuca.

— Foi bem difícil descobrir. Na verdade, eu tive uma grande ajuda do Benjamin. Você me contou parte da história, mas nunca relevou o título. O Benja pesquisou durante um tempão. Até descobriu algumas lojas em que eu poderia encontrar um exemplar. Foram produzidas poucas tiragens, sabia? Não é exatamente um livro muito procurado. Mas era especial para você. Então, eu fui em diversas livrarias e sebos até encontrar.

— Leorio...

Ele desviou os olhos. Não gostava de ver Kurapika chorando.

— Obrigado...

Sentiu o coração parar por um segundo. Voltou-se para o Kuruta, que sorria, removendo as lentes. Os olhos escarlates brilharam com imenso fulgor, e as lágrimas ainda caíam. Kurapika estava chorando de emoção.

— Eu deixei o exemplar que a Shiira me deu com o Pairo. Provavelmente foi destruído quando o vilarejo foi dizimado. Nunca me passou pela cabeça procurar por outro. Eu até... havia me esquecido dele...

Kurode choramingou baixinho e lambeu as mãos de Kurapika para tentar fazê-lo rir. Leorio sentiu os próprios olhos esquentarem. Surpreendeu-se ao sentir o rastro das lágrimas. Mas ele estava estático. Porque Kurapika sorria o sorriso mais luminoso do mundo.

— Obrigado.

 

As amêndoas e o vinho tinham um gosto inebriante, mas não se comparavam aos beijos de Kurapika. Era Natal, e eles não desejavam dormir. Compartilharam histórias, com as músicas de Hiato x Hiato tocando ao fundo. Leorio cantou a abertura, puxando Kurapika pela mão para convidá-lo. Lá fora, a neve caía. Mas, nos braços um do outro, eles não poderiam estar mais aquecidos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Silent Night" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.