Silent Night escrita por Jude Melody


Capítulo 3
Véspera de Natal – parte 2




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O bar de vinhos era um local aconchegante. Ao contrário da cafeteria cheia de luz, estava imerso em penumbra. Tudo ali parecia ser feito de madeira e pedra. Havia poucos enfeites de Natal. Um pinheiro em miniatura no canto, um boneco de neve de pelúcia no balcão e um conjunto de pisca-piscas brancos correndo junto à sanca. Pequenas velas tremulavam nas mesas. E um cheiro agradável dava as boas-vindas.

— Por enquanto, só tem a música de fundo — disse Charlie, referindo-se ao jazz que tocava suavemente. — A banda só começa daqui a uma hora, mas foi bom chegarmos cedo para pegar logo um bom lugar.

— Você não almoçou ainda. — Benjamin tocou seu ombro. Era mais alto que Charlie. — Quer pedir um macarrão?

— Benja, se você está louco para comer o macarrão daqui, pode falar. Eu não me importo, não.

— Charlie!

— Ih, olha. Tem uma mesa vaga do lado daquele quadro esquisito. Vamos sentar lá!

Kurapika fitou Leorio, que sorria sem o menor pudor.

— Ele é sempre assim? — perguntou em voz baixa.

— Se não estiver metralhando besteiras, não é o Charlie.

Os quatro sentaram-se à mesa. Kurapika olhou a seu redor enquanto Benjamin apontava alguns detalhes do quadro mencionado por Charlie e explicava o contexto histórico.

— O autor morreu de sífilis quando ainda era novo.

— Caramba, Benja, isso é assunto que se diga antes de as pessoas comerem?

O pobrezinho corou.

— Desculpa.

— Você parece ser bastante culto, Benjamin — disse Kurapika.

— Se é! — Charlie se intrometeu. — Ele é a maior nerdão. Não entendo metade do que ele fala.

— Charlie!

— Se bem que eu sou burro, né? Então, talvez a culpa seja minha.

Benjamin abriu a boca para protestar outra vez, mas Leorio foi mais rápido:

— Eu sinto a mesma coisa quando escuto o Kurapika falando.

— Leorio!

Todos riram. Um garçom aproximou-se e ofereceu o cardápio. Tanto Leorio quanto Kurapika pegaram uma cartela para si, ao passo que Charlie e Benjamin pegaram uma só e se juntaram para ler juntos.

— Você vai querer qual macarrão, Benja?

— Este aqui.

— Você sempre pede esse!

— Eu gosto. Tem pedacinhos de frango.

— Vou querer um desse também.

— Ei, Kura — chamou Leorio. — Quer jantar aqui?

— Não estou com fome agora. Poderíamos apenas beber com eles. O que acha?

— Para mim, está ótimo!

Enquanto esperavam as garrafas de vinho chegarem, contaram um pouco sobre o que estavam fazendo.

— Estou no sexto período da faculdade de História e já pensando no trabalho de final de curso — explicou Benjamin.

— Algum tema em mente? — perguntou Kurapika, interessado.

— Bem... na verdade, eu gostaria de escrever algo sobre povos antigos, sabe? Sempre fui fascinado por isso. Ou então sobre... — Ele abaixou o rosto.

— Sobre o quê?

— Bem, eu... Não se ofenda. Queria escrever algo sobre o clã Kuruta.

O garçom trouxe as garrafas de vinho e as taças. Enquanto as arrumava na mesa, Kurapika recostou-se na cadeira, o olhar perdido. Leorio fitou-o com preocupação.

— Nossa... É a primeira vez que alguém fala comigo sobre meu clã.

Benjamin fechou os olhos com força.

— Desculpa!

— Não... — Kurapika balançou a cabeça. — Tudo bem. Conte-me mais.

Os olhos verdes de Benja faiscaram.

— De verdade? Você não está bravo?

— Não. Quero saber o motivo do seu interesse.

Charlie serviu-se de vinho. Seu gesto era claro: aquela seria uma longa conversa.

— Quando eu estava no primeiro período, encontrei um livro na biblioteca que falava de povos e clãs que vivem isolados. Havia um capítulo inteiro sobre o clã Kuruta. Eu fiquei apaixonado!

Kurapika arqueou as sobrancelhas.

— Qual era o nome do autor?

— Não tinha. Estou até hoje tentando descobrir quem era.

— Se descobrir, por favor, me conte.

— Claro! Você, mais do que ninguém, deve ter muito interesse, não é? Quero dizer... Ai, meu Deus... — Benja prensou os lábios. — Estou sendo intrometido?

Kurapika balançou a cabeça outra vez.

— De forma alguma. Eu só... estou surpreso...

Leorio serviu-se de vinho também. Não conseguia tirar os olhos do Kuruta. Perguntou-se se, por baixo das lentes, os olhos que tanto amava não estariam vermelhos.

— Eu gostaria de ler esse livro.

— Posso pegar para você quando as aulas voltarem!

Um clima estranho, mas leve, recaiu sobre a mesa. Kurapika e Benjamin conversavam enquanto Leorio e Charlie sentiam-se intrusos. O Paradinight ouvia tudo com muita atenção. Era o passado de Kurapika que estava sendo revelado. Memórias que ele não conhecia, pensamentos que nunca havia considerado. Era como se visse uma pessoa completamente nova.

— Com licença — pediu o garçom, servindo os pratos. — Gostariam de mais alguma coisa, senhores?

— Por enquanto, não. Obrigado — respondeu Charlie.

— Vocês não vão comer mesmo? — perguntou Benjamin.

Leorio e Kurapika trocaram olhares.

— Se você quiser...

— Eu estou bem, Kura. Podemos esperar até mais tarde.

Charlie foi o próximo a contar sobre sua vida. Estava cursando Direito, mas se sentia completamente perdido. Na maior parte do tempo, entrava de penetra nos outros cursos para conversar com seus colegas.

— Você conhece a faculdade inteira — brincou Benjamin.

— Quase. Ainda não entendi qual é a do pessoal de Física.

— Engraçado é que, com o pessoal de Direito mesmo, você pouco conversa — disse Leorio.

Charlie pensou por um segundo.

— Eu converso com a Rika.

Leorio e Benjamin riram. Kurapika não soube como reagir.

— E eu, como todos já sabem, estou estudando Medicina. E tomo cada esporro da Doutora Michelle, que não dá para acreditar! Ela me mandou um cartão de Natal, por falar nisso. Nunca fiquei tão assustado na vida.

Charlie e Benjamin riram. Kurapika conseguiu acompanhá-los. Por um breve instante, recostou a cabeça no ombro de Leorio, mas logo se afastou.

— E você, Kura? — Charlie fitou-o com interesse. — Você é um Hunter igual o Leorio, não é?

— Sim. Sou um Hunter de Lista Negra. Eu caço criminosos.

Benja arregalou os olhos.

— Que demais! Então, você estava caçando os...

Calou-se, mordendo o lábio. Charlie fitou-o. O olhar de Kurapika pareceu perdido por um breve instante. Leorio derrubou sua taça de vinho.

— Merda! — resmungou, pegando o guardanapo de pano para limpar a sujeira. — Desculpe, Kura. Quase pega no seu casaco.

— Tudo bem. — Kurapika também pegou seu guardanapo para ajudar. — É desastrado igual o Kurode...

— Eu ouvi isso, hein?

O garçom surgiu no segundo seguinte, limpou a mesa e recolheu os pratos de Benjamin e Charlie. Perguntou se o grupo desejava mais alguma coisa.

— Sobremesa, Benja?

— Sim, pode ser. Vocês também querem?

Leorio e Kurapika trocaram olhares.

— Você sempre reclama que eu te encho de doces.

— Seu bobo! Não saia por aí dizendo essas coisas. — Suspirou. — Tudo bem, eu aceito. O que você recomenda, Benjamin?

— O petit gateau.

— Traz quatro, por favor! — pediu Charlie.

A banda já estava se preparando no palco quando os doces chegaram. Os garotos reacomodaram-se na mesa de forma que todos pudessem assistir à apresentação. Kurapika estava praticamente colado no braço de Leorio. Apoiou o queixo em seu ombro e disse:

— Obrigado... Naquela hora por... Você sabe.

— Eu só não queria que ficasse desconfortável. — Ele lhe deu um selinho. — Ei. Espero que goste da banda.

O Kuruta sorriu.

— Eu também.

Um garoto de cabelos roxos e camiseta xadrez aproximou-se do microfone, segurando uma guitarra elétrica.

— Boa-noite, senhoras e senhores. Meu nome é Gregory. Sou o líder da banda Dream Hunters. Nós iremos diverti-los esta noite. Espero que apreciem nossas músicas.

Uma salva de palmas cumprimentou-os. Tocaram as primeiras notas, rapidamente envolvendo todos os presentes. Gregory começou a cantar. Tinha uma voz grave e bela. Antes que percebesse, Kurapika já estava confortavelmente acomodado nos braços de Leorio.

 

It's a little bit funny this feeling inside.

I'm not one of those who can easily hide.

I don't have much money, but, boy, if I did

I'd buy a big house where we both could live.

 

Benjamin movia os lábios, acompanhando os versos. Charlie roubou um ou dois beijos. Até Benja esquecer-se por completo da música.

 

If I was a sculptor, but then again, no.

Or a man who makes potions in a travelling show.

 

Gregory moveu a cabeça para afastar os cabelos do rosto e sorriu para a tecladista, uma jovem de cabelos curtos e azuis com um olhar triste que fez Kurapika lembrar-se de Arrietty.

 

I know it's not much, but it's the best I can do.

My gift is my song and this one's for you.

 

Quando conheceu Leorio, Kurapika considerou-o um imbecil. Não ajudou muito o fato de ter insultado seu clã. Agora estava ali, abraçado a ele. E não desejava estar em nenhum outro lugar do mundo.

 

And you can tell everybody this is your song.

It may be quite simple, but now that it's done...

 

— Leorio?

Ele virou o rosto.

 

I hope you don't mind,

I hope you don't mind that I put down in words...

 

Viu os lábios de Kurapika moverem-se de leve, mal ouvindo o que dizia. Mas ele entendeu. Entendeu perfeitamente. E seu coração sorriu.

 

How wonderful life is while you're in the world!

 

 

— Cacetada, olha a hora, estamos atrasados! — exclamou Charlie, fitando o relógio de pulso. — A Sammy vai brigar com a gente.

— Se corrermos, ainda dá tempo. Podemos pegar um táxi — respondeu Benjamin, otimista.

— Eu gastei todo o meu dinheiro naquele prato de macarrão e no presente que comprei para a Cass.

Benja arqueou as sobrancelhas.

— Merda. Faz de conta que eu não revelei minha amiga oculta. A propósito, você acha que ela gosta de gloss? A vendedora insistiu em me vender um que estava "na moda".

— Eu sei lá, Charlie. Não uso gloss.

— Devia ter comprado um sapato de salto para você poder opinar.

— Charlie!

Kurapika não conteve o riso. Fazia tempo que não se sentia tão confortável.

— Já sei! Ei, Kura, você usa gloss?

— Não, Charlie, infelizmente, não.

— Ah, merda! — Charlie olhou em volta em desespero. — Ei, moça! — disse para uma jovem aleatória. — Você usa gloss?

— Não faz isso, seu louco! — Benjamin segurou-o pelo braço, rindo. — Vem, eu pago o táxi.

— Obrigadinho.

— Meu Deus, Charlie! — Benja revirou os olhos.

— Bom, acho que é uma despedida, então — interveio Leorio.

— Sim. Foi um prazer encontrar vocês.

— O prazer foi todo nosso, Benjamin. — Kurapika estendeu o braço para cumprimentá-lo, e o pobrezinho quase se derreteu. — Nos vemos na festa de Ano Novo.

— Si-sim!

— Tchau, Leo. — Charlie abraçou-o. — Cuida do seu boy.

— E você cuida do seu, viu? Se magoar o Benjamin, eu bato em você.

— Que moço violento — disse Charlie afastando-se. — Tchau, Kura!

— Tchau, Charlie.

Kurapika teve uma surpresa quando Charlie o abraçou. Ainda estava estático enquanto o casal se afastava para pegar um táxi. Benjamin acenou e sorriu antes de entrar no carro. Partiram.

— Bom, somos só nós dois de novo. Vai dar nove horas agora. Quer passear até umas onze e depois voltamos para casa?

— Pode ser. Mas nada de guerra de bolas de neve, ouviu?

— Claro que não. Venha. Quero lhe mostrar alguns lugares.

Caminharam de mãos dadas pelas ruas ainda apinhadas de gente. Sempre que passavam por uma cafeteria ou um bar, sentiam cheiros gostosos. Leorio não resistiu e comprou um capuchino para si. Kurapika acompanhou-o com o terceiro chocolate quente do dia. Lançou um olhar de aviso antes que Leorio fizesse alguma piadinha.

— Podemos entrar naquela loja?

— Uma loja de brinquedos?

— É. Quero ver se encontro o presente que a minha irmã pediu. Não consegui antes e acabei enviando uma pelúcia para ela. Acho que gostou, mas, mesmo assim...

Kurapika exibiu um sorriso leve.

— Você é carinhoso, Leorio.

— É... — respondeu o outro, sem graça.

— Por que nunca me falou dela antes?

— Eu não sei. Nunca tive muita vontade de falar sobre minha família. Eu meio que estava brigado com elas esse tempo todo. Mas aconteceram algumas coisas recentemente que me fizeram mudar de ideia.

Kurapika não fez perguntas. Quando Leorio quisesse contar, ouviria a história inteira. Entraram na loja. Havia várias crianças puxando as roupas dos pais para convencê-los a comprar algum brinquedo. Uma menininha aproximou-se do Kuruta e fitou seu rosto.

— Você é uma moça ou um moço?

— Sou um moço.

— Mas você tem cabelo grande!

— Sou um moço de cabelo comprido. E você é uma menina de cabelo curto.

Ela passou a mão nos próprios cabelos.

— Mamãe cortou porque eu colei chiclete nele.

— É mesmo? — Kurapika agachou-se para ficar na altura dela.

— É. Eu chorei muito!

— Kimmy! — exclamou uma mulher. — Já disse para não perturbar as outras pessoas.

— Desculpa.

— Tudo bem. — Kurapika levantou-se. — Não é incômodo nenhum.

A mulher sorriu e levou a filha até o caixa para pagar a boneca que segurava. O Kuruta olhou em volta, dando-se conta de que se perdera de Leorio. Atravessou alguns corredores e se deparou com grandes ursos de pelúcia brancos.

— Ei, Kura — chamou Leorio, aproximando-se com uma caixa de tamanho médio. — Encontrei o que queria. Vai comprar alguma coisa?

O outro meneou a cabeça.

— Eu já entreguei todos os meus presentes.

— Sério? Para quem?

— Gon, Killua, Alluka... — Ele sorriu. — E Arrietty.

— Arrietty, é? E ela gostou?

— Disse que odiou.

Os dois riram.

— Essa garota é uma peste. Também comprei presente para os meninos e para a Alluka. Acredita que o Killua ficou com ciúmes por eu presentear a irmãzinha dele?

— Ele morre de ciúmes da irmã. Ei.

— Sim?

Kurapika virou o rosto em direção aos ursos.

— Parecem familiares?

— Nossa! Eles ainda estão vendendo?

— Faz sentido, até. Algumas pessoas gostam de usar objetos brancos para decorar a casa no Natal.

— Verdade. Você não jogou o urso que te dei fora, não, jogou?

— Durmo com ele todos os dias.

Leorio deu uma gargalhada.

— Adoro seu senso de humor. — Percebeu que o olhar de Kurapika estava sério. — Espere aí. Dorme mesmo? Na moral?

— Vamos ao caixa, Leorio. — O Kuruta virou as costas e desceu o corredor.

— Espere aí! Na moral?

Enquanto esperavam sua vez na fila, Kurapika olhou o presente. Era um unicórnio de crina colorida com uma carruagem brilhante.

— Foi isso o que ela pediu?

— Sim, ela sempre quis alguma coisa de unicórnio. Minha mãe chegou a fazer um vestido de princesa para ela uma vez.

— Que legal. Minha mãe também fazia coisas para mim.

— Tipo o quê?

— Roupas e... — Ele abriu um sorriso nostálgico. — Bolo de cenoura. Eu adorava!

— Adorava, é?

Quando saíram da loja, Kurapika ergueu a cabeça para fitar o céu.

— Acha que vai nevar hoje?

— Talvez. São dez horas. Quer ver a árvore na Praça Central? É aqui pertinho.

— Pode ser.

Caminharam juntos. Leorio ajeitava o gorro cor de rosa. Kurapika tentava aquecer as mãos nos bolsos do sobretudo. A praça não estava muito cheia; a maioria das pessoas estava sentada dentro das cafeterias ou se preparando para voltar para casa.

— Aí está. Bonita, não?

Kurapika ergueu os olhos. Um pinheiro magnífico erguia-se no centro da praça. Era decorado pelos ornamentos mais lindos que já havia visto, inclusive ursinhos de pelúcia em miniatura e bolas vermelhas. No topo, uma estrela piscava em sete cores diferentes.

— Há dois anos, eu vim aqui com a Aya, o Charlie, a Vivi e o Pietro. Foi engraçado. Eles ficaram falando um monte de besteiras e contando histórias de Natais passados. Foi quando a Aya me deu este gorro, e o Charlie tentou me dar um beijo.

— O quê?!

— Nunca te contei isso? O Charlie chegou a dar em cima de mim no começo da faculdade. Até que a Vivi deu uma coça nele e mandou parar de ser chato. — Ele meneou a cabeça, rindo. — Naquela época, eu não imaginava...

Kurapika esperou. Não fazia ideia do que Leorio estava tentando dizer.

— Em toda a minha vida, eu sempre gostei de mulheres. Me apaixonar por um homem foi uma surpresa e tanto.

O Kuruta abaixou o rosto, meditando sobre aquelas palavras. De súbito, empertigou-se.

— Você se apaixonou pelo Charlie?!

— Não, seu idiota, por você.

Ser chamado de idiota não era exatamente agradável. Mas, naquele momento, pareceu certo. Bom até.

— Por mim...

— A Vivi ficou é rindo da minha cara. Foi com ela que eu conversei quando comecei a achar que gostava de você.

Kurapika sorriu.

— E foi com a Arrietty que eu conversei quando... Na verdade, nunca conversamos sobre isso. Ela simplesmente apareceu no meu apartamento e disse que faríamos chocolates para o Valentine's Day. Eu achei que seria apenas para o Gon e o Killua... Então ela separou alguns biscoitos e disse: "Estes são do Leorio".

— Gosto um pouco mais dessa garota agora.

— Ela é uma boa garota, de verdade. — Kurapika abriu um sorriso malicioso. — Por quê? Sente ciúmes?

— Eu senti hoje.

— O quê?

Ficaram em silêncio por alguns segundos. Kurapika tirou as mãos dos bolsos.

— Quando você e o Benja estavam conversando. Pareciam tão lindos juntos, sabe? Tão... inteligentes e conectados... E eu sempre fui meio burro.

Kurapika balançou a cabeça com vigor.

— Não diga uma coisa dessas. Eu gosto de você do jeito que é, Leorio. E você não é burro. É uma das pessoas mais empáticas que conheço. Isso também é uma forma de inteligência.

O Paradinight sorriu. Um sorriso triste.

— É... Acho que tem razão...

O Kuruta prensou os lábios. Moveu-se de leve, entrelaçando seus dedos nos de Leorio. Deixaram-se ficar assim, observando a enorme árvore com seus pisca-piscas e enfeites coloridos. Em um ponto um tanto distante da praça, um pequeno coral começou a cantar.

 

Silent Night. Holy Night.

All is calm. All is bright.

 

— Obrigado por me trazer aqui.

— Não há de quê. Espero que tenha se divertido.

Kurapika assentiu.

— Bastante. É bom estar com você e esquecer um pouco o passado.

— É bom tê-lo no presente. Você deveria visitá-lo mais. É um bom tempo verbal.

— Vai falar do futuro também, Leorio?

— Talvez. Eu gosto de pensar no futuro.

Leorio apertou sua mão. Um floco de neve solitário rodopiou diante de seus olhos.

— O que é aquela aglomeração de pessoas ali? — perguntou Kurapika, buscando uma distração.

— Ah, é uma espécie de evento de Natal. Aquela confeitaria vende vários bolinhos nas cores verde e vermelho, sendo que alguns deles contêm uma estrelinha no recheio. Dizem que, se você encontrar uma estrelinha em seu bolo, terá sorte no amor.

— Ah... Ninguém nunca engoliu a estrela?

Leorio riu.

— Não sei. Eu e meus amigos comemos naquele ano. O Pietro fez o maior escândalo porque o dele veio sem estrelinha. A Aya fez escândalo também, mas foi porque o dela teve estrelinha. Vivi não teve sorte. Charlie não precisa de sorte, porque sempre pegou todo mundo.

— E você?

Ele não respondeu. Apenas encarou o Kuruta com um sorriso leve.

— Quer participar?

Kurapika observou as pessoas em frente à loja. Uma jovem não muito mais velha que ele deu gritinhos ao encontrar uma estrela em seu bolo. Voltou sua atenção para a árvore, sentindo-se pequeno diante dela. Os pisca-piscas brilhavam, hipnóticos. A seu redor, a neve começava a cair.

— Não.

Leorio também observava o pinheiro.

— Não preciso.

Eles ficaram em silêncio. No topo da árvore, a estrela piscava em sete cores.


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