Alma Rubra escrita por Nittaventure


Capítulo 9
Capítulo 08


Notas iniciais do capítulo

Existe algumas frases que representa nossa heroína. "Um sorriso não tira o sofrimento, mas alivia a dor."



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Desde o dia que Kate foi à festa da filha de Marybeth já tinha se passado semanas. Ela e a mimada Olivia ainda não tinham voltado a se falar e com isso Kate não saía mais para óperas nem cinema. Nos primeiros dias Kate pensou que seria despedida, mas continuou com seu trabalho; nem mesmo Jackeline a estava irritando. De tudo que acontecia em sua vida, Kate queria mesmo era sair daquela situação. Marybeth percebendo que Kate andava meio chateada decidiu tomar uma atitude e começou a insistir com frequência para que aceitasse passear com seu primo. Kate vencida pela insistência de Marybeth aceitou sair com Augusto.

— Você gostou do filme? — Augusto tinha se encantado por Kate e estava muito feliz por ela ter aceitado o convite de acompanhá-lo para uma seção de cinema.

— Eu não gostei muito das cenas de guerra.

— Então você não gostou?

— Eu gostei do filme, mas não gosto de guerra.

— Eu deveria ter escolhido um musical. — Augusto sorriu como um pedido de desculpa, ele não queria que o passeio acabasse em um silêncio constrangedor. Mas ele não sabia como retomara conversa, o único assunto que sabia naquele momento era sobre a guerra, então decidiu falar que também iria para guerra. — Na próxima semana vou me alistar.

— Não faça isso, é muito perigoso.

Realmente Augusto amava o perigo, um amor que tiraria sua vida. Sim, ele morreria na guerra, uma bala perfuraria seus pulmões, mas antes disso ele salvaria muitas pessoas e morreria pensando naquela noite em que beijou os doces lábios da garota que cheirava a flor de limão.

Ambos olhavam a cidade iluminada e depois o céu com seus milhões de estrelas. Kate se distraiu por um segundo e quando percebeu já era tarde, Augusto estava segurando sua bochecha e se aproximando de seus lábios. O beijo dele não se parecia em nada com o de Afonso, sua boca era mais suave e macia e Kate não entrou em chamas, apenas sentiu calma em seu coração.

Quando Augusto se afastou, seus olhos estavam radiantes.

— Então boa noite, senhorita. Foi adorável o nosso passeio. —Eles se despediram apenas com sorriso e um breve aceno de cabeça de Kate.

Com sua alegria, Augusto sumia na rua assoviando. Se a vida de Kate fosse fácil, ela poderia ter ficado com Augusto, assim ele não iria para guerra e, quem sabe juntos, poderiam ter tido dois filhos e morariam em um sobrado amarelo e envelheceriam tendo uma vida boa e feliz.

Desculpa decepcioná-los, isso não vai acontecer. Como falei, Augusto vai morrer.

Kate abriu a porta da casa e se deparou com Olivia parada na sua frente mais parecendo um fantasma. Certamente seria mais uma noite longa de drama de Olivia, por isso Kate respirou fundo, pronta para receber uma ofensa ou sentir as presas de Olivia em seu pescoço, mas isso não aconteceu. Olivia começou a fazer beicinho de que iria chorar e passou os braços em volta do pescoço de Kate apertando em um abraço afetuoso.

— Também senti sua falta. — Mesmo Olivia não tendo dito nada, Kate sabia que sua amiga também tinha sentido sua falta.

Kate não era de guardar rancor nem mágoa, por isso não podia condenar Olivia por ser tão mimada e possessiva. Ambas sentaram no sofá e a única coisa que Olivia queria saber era sobre o rapaz e o beijo que, por sinal, todos na casa ficaram assistindo. Tentar explicar a Olivia que não tinha acontecido nada demais não foi fácil. Kate queria deixar este assunto de lado, pois se preocupava com os sentimentos de Afonso.

Naquela noite Kate não conseguia dormir, esperava por Afonso, no entanto, ele decidiu se afastar da nossa doce Kate.

Afonso, ao ver Kate com Augusto, percebeu o quanto ela não fazia parte do seu mundo.

***

Como o tempo é algo que não se para, não importa o acontecimento, a vida de Kate segui seu curso, talvez um pouco mais triste sem a presença de Afonso, que fazia de tudo para ignorar a presença de Kate. Mas outras muitas surpresas estavam para acontecer na vida de Kate, como, por exemplo, sua amiga Marybeth pedir demissão.

Naquele dia, tudo estava calmo na casa, Kate tentava não transparecer em seu olhar a tristeza em seu coração, a única coisa que conseguia fazer era passar horas esfregando os carpetes da casa ou lustrando o piso de madeira, às vezes ela cuidava até do jardim.

Kate estava parada perto da cerca viva admirando a alguns pequenos ramos de rosa crescendo quando Marybeth se aproximou com duas xícaras de café.

— Você não tem mão de jardineira. — Marybeth falou ao se encostar na cerca. — Já falei, se você não arrancar aquelas ervas daninhas, as suas rosas vão morrer sufocadas.

— Vou arrancar a rosas, gosto das ervas daninhas.

Ambas riram e depois ficaram em silêncio por algum tempo, até Marybeth suspirar alto.

— Achei que seria fácil, mas… — Ela encarou Kate, tinha aprendido a gostar daquela menina, do seu jeito estranho de ver a vida, e não poderia ter imaginado que ficaria com o coração partido em ter que lhe contar que aquela era a última vez que trabalhava naquela casa. — Menina, meu marido conseguiu um ótimo trabalho.

— Que maravilha! Mas você parece não estar feliz.

— Eu estou feliz, só um pouco triste, pois nós teremos que nos mudar. — Marybeth suspirou melancólica, tinha que dizer a verdade para Kate. — Olha, menina, nós iremos embora para Nova Orleans, meu marido tem um parente lá que arrumou esse emprego para ele, assim eu terei mais tempo para cuidar dos meus filhos.

— Então você não trabalhará mais aqui? — Kate nunca imaginou que algum dia Marybeth deixaria aquele trabalho.

— Não posso deixar meu marido ir sozinho para outra cidade, mas eu pensei que talvez você quisesse ir conosco.

— Eu? Mas não posso ir — Kate não conseguia explicar para Marybeth o motivo de não querer deixar aquela cidade desde que foi trabalhar naquela casa, ela sentia uma forte ligação com aqueles seres, não conseguia explicar essa sensação mesmo Afonso tendo se afastado dela, Kate não conseguia se afastar dos Kissinger.

— Não vou insistir, mas pelo menos aceites ficar com minha casa, assim não irá precisar ficar morando na casa dos patrões. O que você acha?

— Eu aceito. Vai ser ótimo.

Ambas ficaram encostadas na grama conversando sobre a nova cidade em que Marybeth iria morar. Kate sabia que sentiria muito falta daquela amiga. Como já tinha mencionado antes, Kate conheceria vários anjos em sua vida e Marybeth fazia parte daquela lista.

Somente quando os últimos raios de sol desapareciam foi que elas entraram no casarão. Marybeth não queria pedir demissão, tinha um certo receio de que Olivia não fosse aceitar muito bem seu pedido, mas convencida por Kate ela esperou seus patrões despertarem de seus habituais cochilos.     

Olivia não aceitou muito bem o fato de Marybeth estar deixando a casa e tentou convencê-la oferecendo um salário maior, porém, Marybeth recusou a oferta de receber mais, explicando que realmente não poderia mais trabalhar naquela casa enquanto pensava no quanto sentia um enorme alívio em não trabalhar mais para os Kissinger.

 Na manhã seguinte, Kate foi cedo se despedir de sua amiga e receber a chave da casa.

A casa onde Marybeth morava fazia parte de um cortiço, várias famílias pobres se amontoando em pequenos quartos, paredes úmidas e mofadas, porém, era um lugar que parecia cheio de alegria e para Kate era tudo aquilo que ela precisava. Mesmo ela gostando muito de Olivia e todos da casa dos Kissinger, sabia perfeitamente que não pertencia àquele lugar. No mundo existia uma regra, que seres diferentes não devem viver no mesmo ambiente.

A nova casa de Kate tinha poucos moveis, todos doados por Marybeth, no entanto, Kate não se importava, pois passava a maior parte do tempo no trabalho e só voltava para casa para dormir. Com a saída de Marybeth, ficou na responsabilidade de Kate arrumar outra empregada, já que ela tinha ganhado o cargo de governanta da casa.

Contratar uma empregada discreta não era um serviço fácil, principalmente quando Jackeline estava disposta a assustar todas as candidatas e com isso Kate tinha o dobro de serviço para fazer e ficava exausta, muitas vezes acabava dormindo no seu antigo quarto e nem voltava para sua nova casa que ficava do outro lado da cidade.

— Não entendo por que você insiste em não mais morar aqui. — Olivia encarava Kate, enquanto ela terminava de guardar os lençóis limpos.

— Eu já te expliquei, preciso do meu próprio espaço.

— Mas você tem seu espaço aqui.

— No quartinho dos fundos. Às vezes eu preciso me lembrar que você é a minha patroa.

— Desculpa se te magoei, mas o quartinho ainda é bem melhor que aquele lugar que você foi morar.

Kate encarou Olivia e respirou fundo, tinha aprendido que, às vezes, não valia à pena prolongar uma discussão.

— Por que hoje você não me leva naqueles lugares chiques que você gosta?

— Estou precisando espairecer um pouco mesmo. Ouvi falar que abriram um novo estabelecimento na cidade, dizem que tem até dançarinas seminuas. — Kate riu da animação de Olivia. — Então nós iremos sair, mas eu que irei te arrumar.

— Eu não aceitaria de outra forma.

Kate deixou que Olivia penteasse seus cabelos e lhe escolhesse a roupa para ambas poderem sair. Às vezes Kate gostava de sentir que fazia parte do mundo de Olivia, aquela necessidade maluca de querer se encaixar em algum lugar.

Naquela noite, não só Kate e Olivia, mas todos foram a um charmoso bar, onde mulheres usavam luxuosos casacos de pele, homens desfilavam em belos ternos, todos rindo e bebendo em um clima de fim de guerra. Kate tentava acompanhar as conversas enquanto seus olhos procuravam por Afonso. Mesmo passando muitos meses que Afonso se afastou, ela ainda tinha esperança que ele iria procurá-la. Quando o cansaço dominou o corpo de Kate, ela decidiu que já estava na hora de encerrar a sua noite, despediu-se de Olivia e seguiu para casa.

Pelas ruas desertas Kate caminhava devagar rumo a sua casa. Tão acostumada estava a vagar sozinha, que Kate nem percebia que alguém a seguia pelas sombras, só quando já estava próxima a porta de sua casa que ela sentiu um arrepio em sua espinha. Virando a cabeça pode ver olhos vermelhos brilhando no escuro.

Seu coração acelerou, Kate queria correr e se jogar nos braços de Afonso para sentir seus beijos. Mas quando ela moveu seu corpo para ir à direção de Afonso, ele simplesmente desapareceu.

O amor é algo simples e também complicado. Afonso sabia que Kate não pertencia ao seu mundo, e o que fazia Kate ser tão atraente aos seus olhos era sua fragilidade humana.


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Notas finais do capítulo

A cada capitulo uma surpresa.. deixe seu comentário para melhoria da historia.



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