Alma Rubra escrita por Nittaventure


Capítulo 10
Capítulo 10




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Antes era apenas escuridão, Kate sentia seu corpo flutuar no ar. Devagar ela abriu os olhos e pode ver que estava deitada em um quarto familiar. O lugar era pintado em um tom de rosa pálido, com algumas flores rabiscada nas paredes, tinha três camas e um pequeno armário. Kate não compreendia como podia estar naquele lugar, será que tinha morrido.

Ela se sentou na cama coberta com uma cocha de retalhos, Kate deslizou a mão a colcha, devagar ela pisou descalça no piso de madeira manchada e se lembro que quando criança ficar brincando no quarto de pular sobre as partes que rangia. A medida que ela andava sobre o assoalho de madeira pisando somente nas partes que rangia, era como pular amarelinha.

Quando Kate saiu daquele quanto e avistou o restante daquele lugar teve plena certeza que era a casa de sua infância.  Parada próximo a mesa estava uma mulher de longos cabelos loiros e olhos negros. Kate se sentiu congelar, tanto tempo não via aquele rosto que percebeu que o tinha esquecido, então a mulher estendeu os braços para acolher Kate.

Kate respirou fundo aquela fragrância de lavanda que emanava daquele cabelo loiro tão parecido com os dela, sentiu sua costa ser afagadas e não consegui controlar as lagrimas.

— Está tudo bem-querida, eu estou aqui.

—  Mãe é você mesmo. – Kate afastou um pouco seu corpo para poder contemplar aquele rosto.

— Claro que sou eu minha pequena *gwiazda. — Kate tentou enxugar as lagrimas que deixavam sua visão turva.

— Mama, como senti sua falta.

— Também senti sua falta, pequena estrela, mas agora estamos aqui. – Kate se afastou da mãe e comtemplou o lugar novamente, e sim aquela era sua antiga casa, agora ela se lembrava de cada detalhe, das cortinas floridas dos quatros de margaridas meio tortos na parede uma época antes da guerra onde eles podiam sentar na mesa do quintal comer aos domingos.

 — Como isso é possível? – Kate pensou por um instante — Eu estou morta? – Sua mãe esboçou um largo sorriso.

— Queria calma, este lugar é apenas uma ponte para outro mundo, onde pessoas podem se reencontrar.

Kate foi conduzida para sentar à mesa.

Sua mãe lhe serviu uma caneca de chá e uma fatia de bolo.

— Você se lembra *gwiazda, sempre foi seu favorito. – Kate comeu um pedaço do bolo e sorriu.

— Bolo de mel, a senhora sempre colocava mel a mais na massa e o papa reclamava que estava doce e mais. – Kate parou de sorrir. — O papa está aqui?

—Não! – Sua mãe aperto sua mão. —Seu papa esteve aqui um certa vez, e me contou como foi doloroso se afastar de você.

— Sinto tanta falta de vocês eu... – Kate não queria relembrara aqueles momentos triste de sua vida. — Não importa, agora estou aqui ao seu lado.

— Mas, você não pode ficar *gawiazda.

—Mas, eu não queria ir embora, não quero me afastar de você novamente. – Kate sentiu sua mão ficar ao seu lado e envolvê-la em seus braços para acalenta-las, acalmando seu coração.

— Eu sempre estarei com você filha, assim como suas irmãs. – De repente duas garotinhas idênticas com cabelos negros apareceram correndo pela casa, e foram abraça Kate que se sentiu aquecer compreendo que jamais esteve sozinha, lembranças de Afonso começaram a preencher sua mente e soube que se ficasse naquele lugar metade de seu coração não ficaria feliz.

Como uma leve pluma, Kate sentiu seu corpo se elevar no ar; então não estava mais abraçando sua mãe e irmãs, e sim em um corredor de paredes muitos brancas. Muito longe conseguia escutar a voz de Afonso chamando por ela. Então ela começou a correr em direção da única porta que existia.

Kate abriu os olhos e contemplou o dorsel da cama, escutava alguém cantarolando algo no quarto. Tentou mover seu corpo na direção do som e sentiu uma forte dor no braço. Então viu um tubo transparente, conectado a um frasco, que levava um líquido para dentro de seu braço. Com a ponta do dedo, ela avaliou o objeto, considerando a possibilidade de arrancá-lo de dentro de seu corpo, mas quando ela já estava começando a puxar o tubo, uma mão fina segurou seu pulso.

— Mas o que a senhorita pensa que está fazendo? — Disse uma mulher de meia idade com espessos cabelos ruivos.

— Quem é você? — Aquela estranha mulher tratou logo de recolocar o tubo transparente no braço de Kate.

— Me chamo Gertrude e sou enfermeira. — Ela ajeitou os lençóis em volta de Kate. — O doutor vai gostar muito de vê-la acordada.

Kate franziu a testa, sua cabeça estava muito confusa. Como tinha ido parar naquele quarto? A última coisa que se lembrava era de Alyssa indo a sua casa e, depois, de deitar na cama e ter aqueles milhões de sonhos loucos.

— Eu não compreendo. O que são esses... —Kate ficou encarando as injeções sobre uma bandeja de prata e a bolsa cheia de líquido pendurada.

— A senhorita ficou muito doente, mais teve muita sorte. — Percebendo que Gertrude não gostava muito de falar, Kate encostou novamente a cabeça no travesseiro e ficou observando o quarto, que lhe pareci muito familiar.

Foi quando compreendeu onde estava. Então boa parte do que se lembrava não tinha sido um sonho. Afonso tinha voltado. Mas o encontro com a mãe parecia tão real em sua mente. Ela respirou fundo sentindo um pouco de cansaço. não queria dormir novamente, no entanto se sentia ainda muito fraca e repousou na cama outra vez.

****

Os últimos raios de sol entravam pela janela e o coração de Kate começava a acelerar, exibindo o quanto ela estava ansiosa para rever Afonso. Kate viu Gertrude fechando as janelas para que a friagem da noite não entrasse e, aos poucos, o quarto foi sendo dominando pela penumbra do anoitecer; e, antes que Kate pudesse perceber, Afonso já estava ao seu lado, envolvendo-a em um abraço acolhedor.

—Lady, como é bom poder ver novamente o brilho deste seu olhar. — Kate tocou o rosto de Afonso e o beijou. Queria ela ter certeza que aquilo era real.

— Afonso, vai com calma, assim ela vai acabar morrendo. — Kate afastou-se um pouco de Afonso e viu Olivia parada próxima a cama com um sorriso malicioso nos lábios.

— Senhorita Katherine, que maravilha vê-la acordada e, de certo modo, disposta. — Barnabé se aproximou de Olivia. — Querida, acho que nossa presença é um pouco demais neste quarto. E, enfermeira, você já pode ir. Acredito que o casal precisa de privacidade.

Olivia, muito desgostosa com a situação, fez cara de choro, Barnabé praticamente precisou carregá-la nos braços para ela sair do quarto; e, depois que a enfermeira saiu e fechou a porta, Kate segurou o rosto de Afonso e o beijou novamente.

— Se isto for um devaneio, não me deixe acordar. — Kate sentiu Afonso acariciando seu cabelo.

— Se eu pudesse ainda sonhar, eu amaria viver nesta ilusão, my lady, mas, não, isso é real; você está acordada e viva.

A palavra viva pesou como uma pedra no peito de Afonso. Ele sempre soube da fragilidade humana e, mesmo assim, deixou que aquela garota, de olhos cor de prata-derretida, se aproximasse dele.  Mesmo sofrido com a possibilidade de perdê-la para a morte, ele não tinha coragem de arrastá-la para as profundezas sombrias do seu mundo e também lhe faltava força para se afastar.

***

Kate deslizava a mão sobre a manta azul, o sol esquentava a pele do seu rosto, por algumas horas, ela ficava sentada na sacada do quarto se revigorando com a luz do sol, era assim todas as manhãs. Kate já não precisava mais receber medicamentos através de agulhas injetadas em seu corpo, sua saúde estava restaurada e, mesmo ela dizendo isso, o médico ainda insistia que a enfermeira se continua cuidado dela. 

Alyssa se aproximou de Kate para lhe entregar um copo de suco, sua barriga já estava bem nítida.

— Como a senhora está se sentindo hoje? —  Alyssa se abaixou para ajeitar a manta, enquanto Kate bebia um pouco de suco.

— Por favor, não me chame de senhora, detesto que me trate assim. Por mim já tinha saído deste quarto e voltado aos meus serviços.

— Desculpe. Eu não queria ... —  Kate tocou a mão de Alyssa e sorriu.

— Eu que peço desculpa. Não estou acostumada com tanto cuidado.

Realmente aquela situação era algo novo na vida de Kate. Nem nos seus melhores sonhos, ela poderia imaginar que depois de dormir na rua e comer lixo teria uma vida de luxo, com enfermeira para cuidar de sua saúde e empregadas para lhe trazer suco.

— Eu só acho que, quando o universo nos dá alguma coisa boa no meio ao caos, a gente tem que aproveitar.  —  Alyssa acariciou a barriga, que já estavam ficando grande.

— Eu estou aproveitando. —  Kate respirou fundo relembrando alguns momentos de sua vida. — Mas tenho medo de que, quando o universo resolver trazer caos a minha vida, eu não esteja forte para enfrentar. Tudo isso é muito fácil de se acostumar. —  Alyssa apertou a mão de Kate em uma conversa muda onde ela disse-se: “O Universo sabe que você é forte, não ousaria te enfrentar novamente.”

Quando a noite chegou, Kate se preparava para dormir, e, sempre antes de deitar, tomava um copo de leite morno. Já era visível seu ganho de peso. Antes os braços eram pálidos e magros.  Kate colocou o copo sobre o criado mudo e se ajeitou na cama a espera de Afonso.

Mas naquela noite ele não havia aparecido ainda, foram Lorenzo e Jackeline que entraram no quarto. Desde que Kate melhorou, Jackeline não havia ido visitá-la e vê-la naquele quarto poderia não ser algo bom.

— A porquinha ainda está acordada. —  Kate encarou Jackeline e teve a plena certeza que sua noite seria terrível e, por isso, resolveu ignorar a presença de Jackeline.

— Lorenzo, cadê o Afonso? —  Kate tentava ao máximo fingir que Jackeline não existia.

— Afonso não virá hoje. Ele se cansou de bancar a babá e foi se divertir com alguma mulher mais interessante que você. — Jackeline esboçou um sorriso debochado.

— Jackeline, por favor, chega. —  Lorenzo sentou na cama e segurou a mão de Kate. — Fique tranquila. Afonso precisou resolver alguns assuntos junto com Oliva e Barnabé e esta noite seremos nós a cuidar do seu sono.

Lorenzo era sempre tão agradável e dócil que Kate não compreendia como ele poderia gostar de Jackeline, que parecia viver infeliz.

— Aconteceu algum problema? —Kate encarou os olhos de Lorenzo.

— Nada que essa cabecinha precise se preocupar. —  Lorenzo tocou o nariz de Kate. — Agora você precisa dormir, pois se o Afonso voltar, e você não tiver embalada no mundo dos sonhos, eu terei sérios problemas.

Kate se ajeitou embaixo das cobertas e fechou os olhos. E, mesmo o quarto estando em pleno silêncio, ela podia sentir a presença de Jackeline e Lorenzo. Depois de um tempo deitada imóvel, Kate abriu os olhos e viu aquele jovem casal abraçado, e o rosto de Jackeline parecia tão calmo, até mesmo feliz.

Até o coração dos monstros se apaixona e se amansa. O amor, muitas vezes, é a porta que traz luz para vida daquele que só conhece a escuridão.


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