Alma Rubra escrita por Nittaventure


Capítulo 7
Capítulo 06


Notas iniciais do capítulo

A fé não diminui o tamanho dos problemas, mas dá coragem para conseguir enfrentá-los.

Autoria - Scheila F. Scisloski....



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A neve estava se acumulando nas calçadas, as ruas estavam cada vez mais lamacentas, mas a guerra se encaminhava para seu fim, com isso eu tinha cada vez menos almas para buscar nos campos de batalhas, já na mansão dos Wentworth tudo seguia calmo.

Depois do incidente com Jackeline, Kate se tornou mais próxima de todos, mas, em especial, de Olivia, que fazia questão de tratar Kate como se fosse uma boneca de porcelana. Kate, por sua vez, aceitava os presentes que a nova amiga lhe dava, mesmo não gostando daquele tratamento. Até Marybeth ficava desconfiada. Ela não gostava de falar, porém sempre alertava a jovem menina para tomar cuidado, porque as pessoas nunca dão nada de graça.

Mas Kate não reclamava, pois assim ela podia ficar mais próxima de Afonso. A cada dia sua paixão por aquele homem só aumentava, mesmo ela só tendo sido beijada uma vez por ele.

****

A relação de amor entre as pessoas eu nunca compreendi, e já carreguei almas que se recusavam a deixar esse mundo. Claro que essas almas eram as mais difíceis de buscar, pois sempre tinham algo a dizer a pessoa amada ou simplesmente tinham medo de nunca mais encontrar seu grande amor. E ver aquela jovem menina, de olhos de prata-derretida, suspirando a cada anoitecer, deixava-me encabulado, pois não gosto de bancar a intrometida, mas, às vezes, eu gostava de ver a interação dela com aquela criatura.

****

Kate ajeitava os lírios brancos no vaso quando sentiu mãos geladas tampar seus olhos e a voz doce e angelical de Olivia.

— Adivinha quem é.

— Olivia. — Kate virou para encarar Olivia, que fazia seu famoso beicinho de chateada.

— Nossa, que falta de empolgação, achei que estava sentindo minha falta.

— Como vou sentir sua falta se você não foi para lugar algum?

— Você é desanimadora, Kate. — Kate balançou a cabeça, não entendia como Olivia poderia ser daquela maneira, agir como se fosse uma criança, sempre disposta a brincar. — Ainda bem que eu existo para deixar sua vida mais alegre. Agora vou te arrumar, vai ser minha companhia hoje.

— Olivia, eu estou cansada e vou me deitar.

— Claro, vai dormir; eu digo para certa pessoa que você não quis ir. — Kate levantou a sobrancelha, ela tinha confidenciado a Olivia sobre seu sentimento por Afonso, e como Olivia adorava romance vivia tentando deixar Kate e Afonso juntos.

— Tá bom, eu saio com você. Para onde?

— Vamos ao teatro. É luxuoso e escuro, você vai amar.

Kate seguiu Olivia até o quarto dela, no andar superior. Quase ao fim da escada, ficou frente a frente com Jackeline, que jamais esqueceu o que Kate tinha feito com ela. Nos olhos de Jackeline, Kate conseguia ver a chama da raiva, tudo porque Jackeline não poderia fazer mal algum a Kate. Sem dar muita atenção a Jackeline, nossa jovem menina entrou o quarto de Olivia. Que já tinha várias roupas em seus braços. Olivia ficou analisando Kate por certo tempo, depois lhe entregou uma saia de corte reto e uma blusa de manga de seda com botões dourados. Com sua mão ágil, Olivia retirou a camiseta de flanela que Kate estava usando para fazê-la vestir um lindo vestido de chiffon rosa suave.

Como já informei, Olívia gostava de tratar Kate como uma boneca, que ela facilmente vestia. Suas mãos escorregavam pelos cabelos de Kate fazendo uma trança embutida. Depois procurou em sua penteadeira um batom, blush, lápis para contornar os olhos de Kate e começou a maquiá-la.

Olivia se afastou, ela tinha um sorriso radiante como se tivesse feito algo incrível e não demorou a levar Kate para frente do espelho.

****

Todo artista gosta de admirar sua obra de arte, sua maior felicidade é quando outras pessoas conseguem enxergá-lo e achar belo, e naquele momento Kate se sentia como uma pintura, pronta para ser admirada. Como algo tão simples tinha se tornado tão belo?  Jamais pensou que poderia ficar tão bela como Olivia.

Com todo cuidado, Kate afagava a roupa que marcava perfeitamente as curvas do seu corpo, seus lábios se abriram para um breve sorriso. Nem tinha terminado de apreciar seu reflexo, quando Oliva retornou e ergueu seu corpo, como se fosse uma pluma, para lhe calçar um sapato de fivela, igual a uma borboleta e com um pequeno salto. Quando voltou a se olhar no espelho novamente, pode ver seus lábios com uma coloração vermelha, não forte, e Olivia refletia de uma forma fraca, quase transparente, atrás de Kate.

Depois, Olivia saiu balindo pelo quarto, deixando Kate ali sozinha se admirando.

Algum tempo depois, Kate começa a descer as escadas. Os sapatos lhe apertavam os pés, Kate estava tão acostumada em usar aquela bota velha e grande, que andar com aquele sapato de salto fazia seu caminhar parecer meio desengonçado; sendo assim, ela descia a escada devagar e podia ouvir a voz fina de Olivia cantarolando algo. Quando chegou, viu que Jackeline estava sentada no colo do rapaz moreno, está frangiu o cenho e nem tentou disfarçar a inveja que sentiu quando Olivia segurou a mão de Kate.

— Damas e cavalheiros, apresento-lhes Lady Katherine.

Olivia girou Kate pela sala para que todos pudessem admirar a obra de arte que ela havia criado. Todos os olhares voltados para Kate, fez com que suas bochechas ficassem rosadas, no entanto, Kate procurava um par de olhos em particular, e, no canto da sala, ele estava parado.

Kate e Afonso se olharam: ela com seu olhar doce e ele com um olhar avassalador

Olivia se jogou nos braços de Barnabé, falando rápido sobre suas ideias, mas ele a fez calar com um longo beijo e logo a soltou para que todos pudessem sair e curtir a noite. Como um sorriso alegre, Olivia caminhou para perto de Kate e seguro a mão de Kate e saiu puxando-a para fora da casa, onde um carro de aluguel as aguardava para levar até o teatro.

Kate nunca tinha ido ao teatro, muitas vezes já ficou na porta pedindo esmola, mas nunca imaginou que por dentro era tão lindo. Um palco se elevava sobre os bancos, os camarotes pareciam suspensos no ar, todo local era pintado de dourado, pesadas cortinas cobriam as paredes. Kate não entendeu do que se tratava a peça, não tinha interesse nos atores, seu único interesse era Afonso sentado a três cadeiras longe dela. Às vezes parecia que Afonso estava mantendo distância de Kate, mesmo Olívia afirmando que ele estava gostando dela.

Ao fim da peça, Kate se despediu de todos e retornou para a casa, sozinha, afinal, ela era uma humana e necessitava dormir. Kate entrou na casa e seguiu para a cozinha, sentou próxima a mesa e tirou os sapatos, notando que algumas bolhas começavam a surgir. Estava massageando os pés quando percebeu que tinha mais alguém na cozinha. Afonso estava parado próximo ao armário observando Kate, logo ele se aproximou devagar, sentando de frente para Kate.

— Não quis prolongar a noite?

— Eu... estou com sono, e esse sapato... — Kate olhou em direção aos pés, que continuavam doloridos, e para as bolhas vermelhas. Ela já estava quase calçando os sapatos novamente para se levantar quando Afonso segurou um dos seus pés e começou a massagear. Kate tentava se lembrar de como era respirar, pois ela sentia correntes elétricas subindo pelas suas pernas.

— Olivia deveria escolher sapatos de sua numeração, não os que ela acha bonito.

Kate balançou a cabeça concordando com Afonso. O modo como ele apertava os seus pés era algo delicioso, e isso a distraiu por um momento. E, quando ele colocou seu pé no chão novamente, ela achou que tinha acabado, mas Afonso se aproximou, colocando-se de joelhos, e seus rostos ficaram a centímetros um do outro. Então suas mãos se tocaram.

Uma eletricidade percorreu seus corpos como um raio, o vento uivou nos seus ouvidos, um encontro predestinado. Ele, um ser noturno em busca de algo para saciar sua sede. Ela, uma mortal capaz de se entregar a ele de corpo e alma. As mãos de Afonso puxavam com força Kate para mais perto dele, no entanto, desta vez não era um beijo roubado, e Kate sabia exatamente o que fazer, sabia como retribuir o beijo avassalador que arrancou suspiros profundos de seus lábios. Kate se agarrava com força ao ombro de Afonso, ambos não queriam parar, uma fogueira foi crescendo dentro de Kate e começava a queimar Afonso, que a afastou com força, fazendo com que o corpo esguio de Kate batesse na mesa.

Afonso tinha o olhar rubro, dois pequenos caninos levemente saltavam de seus lábios, como um animal faminto ele a olhou e desapareceu. Kate ficou passando a mão pelo corpo para ter certeza que não estava em brasa. Saiu da cozinha e foi para o seu quarto, entrou no pequeno lavabo e começou a passar água pelos braços e nuca. Quando viu seu reflexo no espelho, estava toda despenteada, com a maquiagem borrada e completamente vermelha. Ainda arfando apoiou a cabeça no travesseiro. Não conseguia para de pensar no gosto doce dos lábios dele.


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