Alma Rubra escrita por Nittaventure


Capítulo 11
Capítulo 11




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Sob a brisa fresca da noite, os casais de enamorados compartilhavam seus sentimentos. Sentado em um banco de praça, um casal aproveitava aquela melancólica noite para passarem um pouco mais de tempo junto.

Afonso sentou ao lado de Kate e lhe entregou um saquinho de pipoca. Um gesto tão simples fazia eles parecerem apenas mais um casal jovem apaixonado namorando em um banco de praça. Mas Kate sabia que não tinha nada de normal naquele relacionamento. Observando Afonso ao seu lado, era nítido que existia uma barreira, mesmo ele parecendo relaxado e descontraído comendo uma pipoca. Aquela barreira não permitiam que ela se aproximasse dele.

— Por que me olhas assim, my lady? — Kate sorriu para Afonso.

— Estava pensando que parecemos igual aqueles casais. — Kate apontou com a cabeça os outros casais andando de mão dadas e trocando olhares apaixonado.

— Nós não somos nada iguais a eles. — Afonso segurou a mão de Kate e beijou as pontas de seus dedos.

— Não, nós não somos, pois eles são um casal. E eu e você somos o que? — Kate virou o rosto, não queria sentir a intensidade daquele olhar. Talvez as palavras que Afonso dissesse naquele momento pudessem lhe causar muita dor.

— EI! — Afonso segurou o rosto de Kate e a fez encará-lo. — Eu e você somos algo que nem o universo consegue explicar, pois tudo que sinto por você é...

Era como se não se existe palavras para Afonso dizer a Kate tudo que se passava dentro dele. Mas como expressar um sentimento que há muito tempo ele deixou de sentir? Mesmo sem Afonso explicar em palavras, Kate consegui entende-lo. Por isso,segurou a mão de Afonso e inclinou o rosto para próximo do dele, querendo preencher aquele espaço onde não cabia palavras com um beijo.

—Adoro sermos algo inexplicável. — Kate sorriu para Afonso enquanto acariciava o rosto dele. — Mas sei que não foi para falar dos nossos sentimentos que você me trouxe aqui.

— Queria um momento somente para nós. E você gosta de vir à cidade. — Afonso segurou a mão de Kate.

— Gosto de ver as pessoas, mais, você não veio passear comigo somente por este motivo.? — Kate, apesar de estar gostando daquele momento, percebia que algo estava prestes a acontecer. — Acredito que tenha algo a ver com o fato de você, Olivia e Barnabé estarem sempre tão ausentes.

—Sim, my lady. Nós recebemos um telegrama um tanto atrasado sobre a visita de alguns membros distante de nossa família.

Se existe algo que gosto naquelas criaturas é o modo como eles se prendem a alguns laços. Como se fosse uma necessidade de ainda pertencer a algo. Muitos criam seus laços com clãs ou ninhos, outros ainda usam o termo família. No entanto, Afonso tinha certeza de que não importava qual palavra ele usasse para denominar a aglomeração de tais criatura, pois sabia que sua existência nada mais é do que uma afronta a leis naturais.

— Que notícia maravilhosa. — Já se fazia algum tempo que Kate acompanhava a vida de todos naquela casa e nunca tinha ouvido falar que alguns deles tinha parentes.

— Não é uma maravilha. — A expressão de Afonso se tornou mais séria. — Como Barnabé costuma dizer, muitos de nós não são mais tão civilizados ou humanizados.

— Se não estão felizes com a chegada deles, por que os recebem? — Kate, apesar te já ter compreendido muita coisa sobre aquele mundo sombrio, ainda não conhecia todas as regras.

— Não temos escolha, minha menina. — Afonso ajeitou uma mecha do cabelo de Kate atrás da orelha. — No mundo existe hierarquia, alguns mandam e outros obedecem. E faço parte da que deve obedecer sem questionar.

Kate observou Afonso e viu que aquela situação era algo que o estava deixando nervoso. Como sempre, Kate ficava tentado desvendar aquelas expressões para saber o que realmente estava acontecendo.

— Você não precisa obedecer a ninguém, é o mais forte e corajoso que conheço e... — Afonso encostou um dedo nos lábios de Kate para silencia-la.

— Nunca me importei em obedecer, o que está me preocupando são suas atitudes. — Kate abaixou a mão de Afonso e o encarou com seus olhos intensos  e cor de prata derretida.

— Minhas atitudes? Como assim? — Tão raro como uma estrela cadente era o sorriso de Afonso. E vendo a expressão no rosto de Kate, ele sorriu, por um breve momento ele pode ver toda a beleza que se escondia nas profundezas daquele olhar.

My lady, não se zangue, mas alguém que teve a audácia de jogar lama em Jaqueline, pode não aceitar certas coisas...

— Jaqueline mereceu a lama. E fique sabendo que sou uma dama e sei me comportar muito bem. — Kate endireitou as costas e ergueu o queixo, deixando a expressão do rosto séria.

— Não precisa ficar aborrecida. — Afonso passou os braços em volta de Kate, puxando-a para mais próximo dele, mesmo sabendo que isto renderia alguns murmurinhos. — Você é a pessoa mais corajosa e forte que conheço, a dama mais linda que existe. Contudo, o motivo que me deixa apreensivo é que talvez esses parentes não vejam tudo isso com bons olhos.

— Você vai se afastar de mim novamente? — Mesmo tentando manter a calma, Kate sentia aquela pontada no peito de algo se rasgando em seu interior.

— Como se eu meu egoísmo fosse me permitir algo assim. ­ — Afonso observou os lábios rosados de Kate e se afastou sutilmente, aquelas demonstrações de afetos já estavam ficando escandalosas. — Quero mantê-la perto de mim, mas de uma forma segura.

— Mas e a Alyssa e a Janete? — Era como se a mente de Kate tivesse tido um estalo, percebido o quão perigoso essa visita seria.

— Elas duas terão que se ausentar um tempo. Digamos que ficarão de férias, assim aquela jovem poderá ter o filho em tranquilidade. — Respirando fundo, Afonso encarou Kate. — Se preferir não ficar na mansão podemos hospedá-la em algum hotel, também será como férias para você.

— E perder a oportunidade de viver uma aventura? —Mesmo sabendo que seus atos seriam escandalosos, ela passou seus braços em volta do pescoço de Afonso e o beijou suavemente.

— Senhorita, é melhor irmos embora, antes que sejamos presos pelos nossos atos imorais.

Afonso se levantou do banco e ajeitou o chapéu na cabeça, estendendo a mão para Kate, que tinha o rosto corado e um sorriso jovial. Ambos atravessaram a praça de braços dados sob muitos olhares de outros casais, que talvez reprovassem aquele comportamento.

Caminhando devagar e contemplando a noite, Kate se sentia infinitamente feliz, pois estar ao lado de Afonso em um simples passeio trocando palavras amorosas a fazia perceber que aquele relacionamento não era apenas uma fantasia de sua cabeça jovem. Que por alguma razão aquele homem esplêndido a amava.

Quando chegaram em frente ao portão, pararam para comtemplar as luzes da cidade. Kate podia não ter uma audição tão apurada quanto Afonso, mas sabia que dentro da casa havia um murmurinho de conversas.

— Não entendo como Olivia consegue ser tão execrável. — Kate viu a silhueta de Olivia na janela.

— Deveríamos tê-la chamado? ­ — Kate sorriu

— E estragar nossa noite? Jamais... — Afonso tocou o rosto de Kate e a beijou com suavidade. — ­ Além do mais, eu já terei que passar muito tempo afastado de você.

Kate se afundou nos braços de Afonso para preencher aquele vazio que se instalou ao pensar nas visitas. Ela sabia que a convivência na casa poderia parecer fácil, mas era como estar amando sobre uma linha fina, que a qualquer momento poderia se romper e a consequência seria uma morte mais do que certa.

****

Uma semana depois do passeio de Kate e Afonso, chegou um telegrama informando o local onde Afonso teria que encontrar os parentes distantes. Kate observava a claridade da lua entrando pela janela, tudo estava absolutamente silencioso, ela não estava com medo, apenas ansiosa e temerosa por Afonso. Mesmo ninguém dizendo abertamente, Kate percebi que essas pessoas tinham uma influência muito grande em todos na casa e causavam até certo medo.

Cansada de ficar olhando a escuridão do quarto, Kate deitou na cama e tentou dormir. A princípio, o sono pareceu apenas um pensamento distante até que o cansaço foi a dominando e embalando para um mundo de sonhos abstratos e barulhentos. Kate se via em meio a uma multidão de rostos desconhecidos, ela chamava por Afonso e Olivia, mas ambos apareciam e desapareciam na multidão. Aos poucos um desespero crescia em seu peito, até que mão mornas a tiraram daquele pandemônio. Kate foi abrindo os olhos devagar e percebia que claridade do dia já estava começando. E deitado junto dela, Afonso a fitava com olhos de mar profundo.

 — Estava tendo pesadelos. — A voz de Kate saiu áspera por causa do sono. — Mas você me salvou e...

Antes que Kate terminasse a frase, Afonso a envolveu com seus braços e a beijou com urgência. Kate sentia as mãos de Afonso acariciando suas pernas e a fina camisola de linho, sentia que uma chama crescia dentro de seu peito, se espalhando pelo seu corpo. Kate sentiu Afonso sugando seus lábios, ouviu o som animalesco saindo pelos lábios dele enquanto suas mãos agarraram com força os  ombros de Afonso. Então algo aconteceu, e o homem se afastou de Kate, seu rosto estava transformado por certa agonia.

Kate encarou Afonso com seus olhos de prata derretidos, tentando assimilar tudo que tinha acontecido. Ao poucos, sentiu o gosto nos lábios, algo salgado. Ela tocou os beiços e viu os dedos manchados por pequenas gotas vermelhas.

Antes que Kate pudesse mover seu corpo, Afonso desapareceu do quarto no instante em que os primeiros raios de sol entraram pela janela.


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