Vida, morte, e demais devaneios escrita por Lillac


Capítulo 9
Capítulo oito


Notas iniciais do capítulo

Nem demorei tanto dessa vez, né? haha. Espero que gostem, e, por favor, leiam as notas finais sz



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Quando Annabeth abriu os olhos e viu nada mais do que um intenso e doloroso clarão de luz, ela teve quase certeza de que havia morrido.

Mas, então, ela ouviu o bip-bip de uma máquina, e um murmúrio ao longe. Certo, ela não estava morta. Só estava em um hospital. O que era estranho, porque ela não recordava ter estado doente. Annabeth tentou mover o pescoço, mas notou que estava, de algum modo, exausta demais mesmo para um movimento tão simplório como aquele.

Seu corpo todo parecia estranho, meio dormente. Sua cabeça ainda estava zonza. Ela sentia como se houvesse acordado de um sonho muito, muito longo. A parte mais estranha era que o sonho havia sido extremamente realista. Ela lembrava-se com exatidão da estrutura da enorme casa sombria, da viagem até dita casa sombria, e da horrorosa sucessão de eventos que ocorrera lá dentro. Talvez fosse melhor classificar aquele sonho como um pesadelo, afinal.

Mas haviam alguns detalhes. No seu sonho, o cabelo loiro de Will brilhava como uma placa neon dourada, por exemplo, como se houvesse uma espécie de halo em torno da cabeça dele. A simples lembrança daquela imagem fez a cabeça de Annabeth doer, e ela fechou os olhos mais uma vez. Lapsos e mais lapsos de recordações do estranho sonho vieram como uma enxurrada. A irmã de Nico, Hazel, tinha prismas de rubis no lugar dos olhos. Di Ângelo era um garoto normal, exceto pelo fato de que seu rosto inteiro não era nada mais do que uma caveira decorada com tina preta. E a outra garota, Reyna, caminhava como se algo a machucasse profundamente. Quando ela tomou a frente da caminhada, Annabeth descobriu o que era: uma série de espadas, facas, punhais e adagas estavam cravadas em suas costas, e um estranho sangue púrpura pingava de seu corpo, manchando o chão.

E então, havia o garoto de voz rouca e olhos verdes. Annabeth lembrava-se de ele tê-la salvo de... alguma coisa, no sonho. Lembrava da sensação nauseante de quando atravessara aquela parede.

E das duas mãos fechando-se firmemente em sua garg... —

— Ei, eu acho que ela acordou!

Annabeth reconheceu a voz de Piper, mas parecia distante, como se ela própria estivesse submersa na água e a outra garota estivesse comunicando-se de pé a borda da piscina.

— Eu vou chamar o médico — veio a voz de Luke.

Passos ressoaram, também distantes, e uma mão delicadamente pousou em seu ombro.

— Annabeth, você está me ouvindo?

Foi preciso um esforço hercúleo por parte da garota para enfim abrir os olhos novamente. Sua visão estava turva e desnorteada, mas ela distinguiu os principais traços do bonito rosto de Piper em meio ao borrão. A garota abriu um sorriso, e a mão em seu ombro pulou para o topo de sua cabeça, afagando carinhosamente o cabelo loiro.

— Eu... desmaiei...?

— Isso. O médico disse que foi uma crise de hipoglicemia aliado à um acumulo anormal de estresse — Piper explicou. Então, franziu o rosto, as írises de seus olhos mudando de verde para um tom de azul-turquesa — ou algo assim. Eu não entendi muito bem. Mas ele disse que assim que você acordasse só precisaria passar com a nutricionista para te recomendar uma dieta mais saudável e então você teria alta.

— Quanto tempo?

— Não muito — garantiu —, mas, eu tenho uma dúvida...

— O que foi?

Piper hesitou, comprimindo os lábios. Seus olhos, agora castanhos, vasculharam o pequeno quarto do hospital por um momento, antes de perguntar, em um sussurro:

— O que você estava fazendo com aqueles dois?

— Aqueles... dois?

Annabeth sentiu como se alguém houvesse cutucado suas têmporas com agulhas. Fechou os olhos com força e grunhiu de dor, enquanto Piper se desculpava por ter feito algo que não havia compreendido exatamente.  

— Srta. Chase?

Um médico alto, com o cabelo loiro cuidadosamente penteado com gel e jaleco imaculadamente branco aproximou-se. Atrás dele, veio Luke. Annabeth sentiu-se mal por um momento. Luke e Piper estavam vestidos, literalmente, em pijamas, o que significava que provavelmente haviam corrido até ali assim que receberam a ligação do hospital.

Com Atena sempre ocupada demais e Frederick fora da cidade, Annabeth sempre dava um jeito de colocar o número de Luke nos seus “contatos de emergência”. A secretária provavelmente ligara para ele.

— Você deu um susto nos seus amigos — ele sorriu —, mas, se estiver sentindo-se bem o suficiente para ir até a nutricionista agora mesmo, eu posso fazer um último exame rapidamente a senhorita está liberada.

Annabeth não o respondeu de imediato. Todavia, como que automaticamente, seu olhar voou para o nome bordado no bolso do jaleco do médico.

— Dr. Solace? — Ela leu em voz alta. O médico ergueu as sobrancelhas para ela, obviamente surpreso — O Will está aqui também?

Ele precisou de um momento para se recompor. Com um sorriso — claramente desconcertado — disse:

— Will já foi para casa. Ele não chegou a desmaiar. No entanto, eu gostaria que nem ele nem nenhum de vocês exagerassem tanto assim nessas “sociais” entre amigos.

Ela abriu a boca para contrariá-lo, mas algo no olhar do médico a impediu. Os olhos estranhamente dourados de Apolo Solace pareciam nervosos, quase receosos, como se ele temesse o que ela diria em seguida.

— Certo — Annabeth estalou a língua — eu vou tomar cuidado da próxima vez.

***

Luke a deixou em casa, e Annabeth não foi capaz de recusar quando Piper se ofereceu para passar o que restava da madrugada com ela. A garota estava claramente preocupada, e Annabeth não queria ninguém passando noites em claro por causa dela. E então Luke acabou ficando também, uma vez que o apartamento que dividia com Thalia estava deprimentemente solitário, com a garota viajando para um congresso nacional de estudantes de física na Califórnia.

Talvez aquela não houvesse sido a melhor das suas ideias.

Piper e Luke passaram as duas semanas seguintes a seguindo como cães de guarda. Pareciam ter certeza que ela desmaiaria e cairia dura no chão a qualquer momento. O que, é claro, a deixava extremamente aborrecida. Mas não era apenas a perseguição e a preocupação exagerada que a estava irritando. Não.

Era a forma como Will parecia evita-la como um gato de rua evita um pitbull.

Toda vez que ela o encontrava por acaso no corredor, ele dava meia volta e andava mais rápido do que Luke conseguia correr mesmo que Annabeth soubesse que a próxima aula dele era naquele exato corredor e que ele não tinha motivo algum para... —

Deuses! Aquilo era tão frustrante. Por que Will não poderia criar um pouco de coragem e falar com ela? Annabeth tinha tantas dúvidas. O que acontecera realmente na casa de Nico? Quando ela havia desmaiado? Quem os levara para o hospital?

E, principalmente: aquelas estranhas visões que ela estava tendo pelas últimas duas semanas e que a faziam acordar com o corpo pingando suor frio no meio da madrugada... eram reais?

Mas, quando ela entrou na biblioteca naquela tarde e Will a viu, seus olhos castanhos arregalaram-se até suas sobrancelhas quase desaparecerem debaixo da franja e ele correu para a porta dos fundos, deixando os livros, cadernos, e até o tablete encima da mesa.

Com um suspiro, Annabeth derrubou sua mochila na cadeira.

***

Surpreendentemente, quem lhe deu uma resposta não foi Will Solace, ou algum dos integrantes do trio sombrio — como ela os havia apelidado em sua cabeça, e que, aliás, não colocavam os pés na universidade há semanas.

Foi Rachel E. Dare.

Annabeth não a conhecia. Ninguém conhecia Rachel. Todo mundo sabia quem ela era. A garota que de alguma forma conseguira permissão para pintar as paredes internas da faculdade com suas próprias ilustrações, embora fosse apenas uma caloura, e os veteranos estivessem tentando conseguir aquela maldita permissão há anos. A garota que já havia sido mandada para sete competições diferentes em nome da universidade, e retornado com o troféu de cada uma delas.

E a garota que literalmente derrubara uma bandeja cheia de comida no meio do refeitório e soltara um grito quando viu Annabeth levantando-se para jogar o resto de seu almoço no lixo.

Aparentemente sem se importar com os olhares estranhos que estava recebendo, Rachel andou até ela em passos firmes e a próxima coisa que Annabeth registrou foi que estava sendo puxada para o jardim abandonado da faculdade. Enquanto caminhavam, Annabeth notou um garoto que, ao contrário dos outros estudantes cujas atenções já haviam sido dissolvidas, não havia desgrudado os olhos delas. Ele tinha olhos puxados e um cabelo preto espetado, mas ela não sabia seu nome.

Quando alcançaram o jardim, Rachel soltou seu pulso e começou a respirar tão fundo que seus ombros tremiam.

Oh, uau. Segunda tentativa de assassinato em menos de um mês! Você é incrível, Annabeth!

— Então, você já pode falar agora?

Rachel enfim virou para ela. Instintivamente, Annabeth deu três passos para trás. O rosto de Rachel estava coberto de suor, e os olhos verdes dela brilhavam. Tipo, literalmente.

Isso só pode ser brincadeira.

De repente, todas aquelas visões sobre um Nico com rosto de caveira e uma Reyna com uma coleção de armas cravadas nas costas não pareciam mais tão... irreais.

— O que está acontecendo? — Annabeth exigiu, em um tom de voz bem mais duro.

Rachel caminhou até ela, com as mãos trêmulas erguidas no ar. Annabeth continuou andando até suas costas atingirem uma parede. Quando Rachel a alcançou, ela considerou realmente empurrar a outra garota com toda a sua força, mas o toque da artista não era violento.

Na verdade, Rachel somente pousou as pontas dos dedos sobre a pele do pescoço de Annabeth, nem ao todo tocando efetivamente. Suas mãos pareciam duas plumas roçando na pele dela.

Ela ergueu os olhos estranhos e assustadores, e, em uma voz que não parecia inteiramente dela, sussurrou:

— Você está morrendo.

Annabeth não soube o que responder. Mas, quando abaixou o olhar para onde as mãos de Rachel estavam, sentiu um nó formando em sua garganta, o que ela supôs ter sido a única coisa que a impedira de gritar naquele momento.

As pontas dos dedos de Rachel estavam cinzas, corroídas e pareciam descascar. Não era apenas isso: a cada segundo que passava, aquela visão estranha consumia uma parte maior e maior da pele de Rachel, como se estivesse, como se estivesse...

Como se estivesse saindo de algum lugar, e manchando-a.

Como se estivesse saindo diretamente do pescoço de Annabeth.

Neta de Zeus, ela lembrou. E, com um estalo, compreendeu que não havia sido aquilo que o rapaz falara.

Mas havia sido aquilo que ela entendera.

Não eram visões. Tudo o que acontecera na casa de Nico havia sido verdade. E, de algum modo, Rachel E. Dare sabia disso.


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Notas finais do capítulo

Uma coisa que eu queria esclarecer sobre essa história: alguns de vocês podem ter notado que o romance está de fato demorando para começar, mas eu prometo que ele vem! É só que eu preciso realmente explicar algumas coisas antes de partir para o romance.
Bem, eu espero que tenham gostado, comentários são sempre apreciados! Até a próxima.



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