Vida, morte, e demais devaneios escrita por Lillac


Capítulo 5
Capítulo quatro


Notas iniciais do capítulo

Esse demorou um pouco mais para ser finalizado, e eu peço desculpas pelo atraso.
Espero que gostem!



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Quando Will estacionara o carro dele na borda da calçada do que parecia ser uma mansão gótica, Annabeth teve duas reações.

Primeiramente, ela ficou extasiada pela arquitetura. Não podia evitar. Por mais que hão houvesse absolutamente nada conectando sua presença ali com seus estudos, Annabeth não pôde deixar de observar o que era o design exterior mais magnífico que ela havia visto (bem, talvez o segundo. O escritório de sua mãe era uma verdadeira obra de arte arquitetônica). A residência parecia uma mescla de detalhes multiculturais — certo, haviam os vitrais góticos e as redomas, mas a mansão também ostentava um teto de abóboda, típico europeu, e as colunas frontais que suspendiam a sacada do segundo andar eram claramente romanas. Além disso, havia algo moderno também. Um tanto de retoques talvez espanhóis ou centro-americanos por volta de década de 80, ela supôs.

De qualquer forma, era extasiante.

A segunda coisa que ela sentiu, foi raiva. Will só podia estar de brincadeira. Ela havia pedido que ele a levasse até a casa de Nico di Ângelo, não até algum tipo de museu grunge pouco conhecido.

O rapaz desligou o carro, e olhou para ela com expectativa. Piper não pudera acompanha-la, devido à algum compromisso de última hora, então ela estava sentindo-se estranhamente solitária. Annabeth o fuzilou com o olhar.

— Que lugar é esse?

— É a casa dele, eu juro — Will defendeu-se, erguendo as palmas das mãos para ela. — Ao menos, é onde ele me trouxe da última vez.

Annabeth ergueu uma sobrancelha ao ouvir o comentário, e Will desviou o olhar, mas ela manteve-se em silêncio. Eles ficaram em agonizante quietude por um longo e desconfortável momento, até ela decidir-se farta demais para argumentar. Com um suspiro exasperado, empurrou a porta do carro e saiu, deixando a mochila no banco do carona.

Era apenas fim de tarde, e o sol descia no horizonte, pintando o céu de vermelho alaranjado. No entanto, não parecia haver nenhuma luz acesa na casa, a residência toda mergulhada em uma estranha penumbra.

— Acho que ele não está em casa. — Will comentou.

Annabeth continuou andando. Ela ainda sentia o estranho peso da nota de papel em seu bolso traseiro, a mesma sensação esquisita que sentira desde que seu pai, com um olhar confuso, a dissera a tradução da frase. Engolindo em seco, ela avançou até o primeiro degrau que dava acesso à porta. Era no mínimo estranho que uma casa tão grande como aquela não dispusesse de nenhum portão eletrônico ou ao menos grades, e mais estranho ainda que a porta da frente estivesse aberta.

Mais excêntrico do que aqueles dois, ela pensou, deve ser mesmo o pai deles.

Will a alcançou em pouco tempo, mas estava visivelmente nervoso. Ela apertou o olhar, tentando enxergar através da escuridão, mas nada surgia. Nada, até...

O objeto veio rolando até os pés dela. Annabeth abaixou-se para juntá-lo do chão.

— É um dado — disse, franzindo o cenho.

Will balançou os ombros, incerto, e Annabeth, por alguma razão, guardou o objeto no bolso traseiro. Talvez Nico ou Hazel estivessem brincando e dados lá dentro. Ela fechou os olhos por um momento. Até mesmo em uma situação absurda como aquela, a hipótese parecia completamente idiota.

Ela ergueu os olhos novamente, e viu algo reluzindo na escuridão através de uma janela de vidro.

— Ao menos significa que tem alguém em casa — concluiu.

Ela começou a andar antes que Will tivesse tempo para protestar. Eles subiram os degraus com cautela, e Annabeth gastou alguns momentos observando a polida aldrava prateada que ornamentava a porta de aço. Com uma inspiração, profunda, deu o primeiro passo para dentro da porta.

No mesmo momento, um calafrio correu pela sua espinha. Com os pelos nos braços eriçados, Annabeth chamou:

— Nico? Sou eu, Annabeth. Eu vim devolver o papel que você me deu.

Ao seu lado, Will caminhava com um gato recém-banhando: temeroso e incerto.

O corredor de entrada estendia-se, mas ela não conseguia ver onde acabava. Cada passo que davam para frente parecia mais errado do que o outro, e Annabeth precisou juntar toda a sua força de vontade para dizer a si mesma que aquilo era ridículo, e não havia nada para temer sobre uma velha casa bonita.

Ela ouviu antes de sentir. Ouviu um pestanejar, algo cortando o vazio, mas foi rápido demais para que pudesse fazer qualquer coisa, e, no segundo seguinte, ela estava de pé, com o fio gélido de uma faca pressionado ante a sua garganta.

— Ah, uau — uma voz conhecida murmurou, bem próxima à sua orelha. — Invasão de propriedade é crime, sabia?

Apesar da situação claramente desvantajosa, Annabeth encontrou a si mesma respondendo:

— Assassinato também é.

— Não em legítima defesa — ela respondeu, pressionando um pouco mais contra a pele de seu pescoço. — Você invadiu a minha casa. Eu ganho essa causa, Chase.

Will gaguejou alguma coisa, e deu vários passos para trás de uma vez, trombando com a parede. Reyna Ramírez-Arellano manteve-se firme onde estava com a faca na garganta dela.

— Olha, eu não faço ideia — Annabeth pausou para tomar ar bem devagar, peito subindo e descendo com dificuldade — do que você quer... dizer... eu só vim... ver o Nico.

— E por exatamente eu deveria acreditar nisso? — Reyna questionou. — Ele não mora aqui.

Annabeth sentiu vontade de grunhir um palavrão para Will, mas qualquer movimento brusco seu naquele momento poderia custar sua vida, então ela contentou-se com:

— Eu me enganei então... — ela mordeu a própria boca quando a lâmina rompeu a pele e um filete de sangue começou a escapar. — Reyna, eu estou falando sério... —

— Eu não me lembro de algum dia ter de tido o meu nome — a outra garota observou.

Annabeth fechou os olhos e esforçou-se para não engolir em seco, evitando mover demais a garganta. É claro que Reyna e ela nunca haviam trocado palavras. Era apenas que ela, bem como Nico e Hazel não eram exatamente desconhecidos no campus.

Antes que ela tivesse tempo para responder, no entanto, passos leves e rápidos foram ouvidos no final do corredor. Quando Hazel surgiu do meio da escuridão, cachos cor de chocolate e olhos dourados gentis, Annabeth sentiu uma onda de alivio.

Claro, não durou muito:

— Você não devia estar aqui — foi o que ela disse, olhando-a fixamente nos olhos. — Nenhum de vocês.

O olhar dela era um misto de dureza e preocupação — como se ela ojerizasse a presença deles naquele recinto, mas, ao mesmo tempo, prezasse pelas suas seguranças (e vidas). Annabeth notou, como de súbito, que a mais nova estava coberta de respingos de tinta dos pés à cabeça. A mais notável era mancha colossal de tinta lilás em sua bochecha.

Okay, então Hazel Levesque praticava pinturas em seu porão, Reyna ameaçava intrusos com uma faca no pescoço. Annabeth supôs que fazia mais sentido na cabeça delas, provavelmente.

— O que nós vamos fazer agora? — Reyna perguntou.

— Eles precisam ir para casa — a garota respondeu. — Eu já arrumei tudo lá embaixo. Não vai demorar muito para começar.

Começar? Annabeth repetiu internamente. Começar o que?

— Não os machuquem. Ela está falando a verdade.

Annabeth podia jurar por tudo o que era bom que até dois segundos atrás Nico não estava ali. Mas agora ela o estava enxergando, tomando um impulso para frente, como se houvesse simplesmente estado ali o tempo todo, apoiado na parede.

Era quase como se Nico houvesse saído das...

Não. Não era possível. O rapaz não poderia ter realmente saído das sombras...

Reyna a libertou com um empurrão, e Annabeth cambaleou para frente, mas não perdeu o equilíbrio. Foi rápido demais para que ela conseguisse de fato enxergar a arma, mas Annabeth teve um vislumbre do brilho da lâmina antes de Reyna guardá-la dentro da bota de cano alto.

— Annabeth — ele cumprimentou, aproximando-se, e ela instintivamente ergueu uma mão para cobrir o corte em seu pescoço. — Então, você conseguiu traduzir aquilo?

Ela respirou fundo, finalmente longe do perigo da faca. A ameaça de Reyna a havia balançado de um modo que ela quase esquecera o motivo pelo qual estava ali para começo de conversa.

— Aqui — ela entregou o papel dobrado na mão estendida dele. — Parece um comando. Não é algo que eu esperaria encontrar na capa de um livro, principalmente antigo.

Annabeth se esforçava para soar confusa, mas não estava. Nico não a enganava. Seja lá onde ele havia conseguido aquilo, não havia sido na capa de livro nenhum. Mas ela precisava contorna-lo se quisesse alguma chance de arrancar a verdade dele.

Por sua vez, o rapaz a olhou com um singelo sorriso. Mas Annabeth viu através dele. Os olhos escuros de Nico a encaravam com um tipo de ódio tão profundo que a deixou meio desconcertada. Se tivesse que julgar, parecia até que ela o havia traído.

— Eu pretendia buscar amanhã — disse. — Precisava ter certeza de as coisas funcionariam hoje.

Ela estreitou o olhar, fixando-o na expressão de Nico. Ele leu e releu o papel algumas vezes, antes de suspirar e guarda-lo no bolso de sua jaqueta de aviação.

— De qualquer forma, eu agradeço.

O ambiente ficou então em um profundo silêncio. Ninguém disse nada por um longo momento, e tudo o que Annabeth conseguia ouvir era a própria respiração — e a de Will que, aliás, estava particularmente pesada.

— OK, então — disse, por fim. — Nós vamos indo.

Annabeth girou sobre os calcanhares e começou a caminhar em direção à porta. Ela estava intrigada até o último neurônio de seu corpo por aquele inusitado trio. O que Hazel estivera fazendo até então, por que Reyna ficara tão ofensiva com uma simples intrusão, e, acima de tudo, de onde Nico havia saído. Mas ela precisava primeiro ter certeza que nem o dela nem o pescoço de Will não estavam em perigo antes de pensar em soluções para aquelas perguntas.

Foi só quando ela e o rapaz já estavam há um passo da porta que ela sentiu. Uma sensação gélida e pegajosa que subia pelos seus tornozelos. Annabeth olhou para baixo, estática, e notou que seus pés, bem como o começo de suas canelas estavam encobertos por algo que parecia uma cama de tinta preta.

Ela precisou de um momento para concluir que não era tinta.

Eram sombras.

— Vocês ficam — veio a voz de Nico, de algum lugar atrás de si. — Sangue mortal é sempre o melhor tipo de isca.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, comentários são sempre apreciados!
Até semana que vem!



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