Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 65
Sextos


Notas iniciais do capítulo

Olááá Vocês!! :)

"Com o Doutor e Luisa, não tem momento certo para serem fofos um com o outro, ou mesmo para se desentenderem; Entrementes, Méli está dando o que falar em Terra Nova".



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—Você me diz que não são inimigos hostis -o comandante Taylor descansou os braços, apoiando o peso do corpo contra o encosto de uma cadeira. –Mas, até onde eu sei, você e seus amigos fujões podem ser qualquer um tentando adquirir o domínio da minha Colônia. –ele se inclinou um pouco. –Então... Em meio á essas circunstancias, eu lhe faço esta pergunta: Como posso confiar em você?

—Não pode. –Melissa deu de ombros. Estava indiferente, sentada na cadeira da base de Terra Nova, que também funcionava como escritório do comandante e seus associados. A mesa do comandante Taylor, que ficava bem entre ele e sua prisioneira, era de vidro e tinha um enorme crânio de Tiranossauro Rex como apoio. De cada lado, um guarda fiscalizava os movimentos da garota bem de perto. Apesar do ar severo que o espaço exalava, Melissa parecia estar bem á vontade, perante á todo aquele interrogatório. –Vai ter que confiar nos seus instintos, comandante. –ela disse, com um ar rebelde e um sorrisinho atentado.

—O homem de cabelo ridículo e vestes peculiares disse que são pessoas do bem... –lembrou uma mulher de cabelos escuros, presos em um rabo de cavalo esticado; estatura média, ar severo, porte e uniforme militar, e arma a tiracolo. Em Terra Nova, ela era popularmente conhecida por todos como Tenente Washington.  E dirigiu sua palavra pela primeira vez á prisioneira. Melissa suspirou. 

Até que enfim alguém concorda comigo! Eu também vivo dizendo para o “senhor hospício-man” que o penteado dele é ultrapassado... Mas ele me escuta? Não! Nunquinha!

Taylor entreolhou-se com Jim, também próximo dali, de braços cruzados.

—Tudo bem... Mas e quanto aos outros dois? Como foi que conseguiram invadir a Colônia?

—Eu já disse que não invadimos nada! –ela se rebelou, irritadiça. –Quantas vezes mais eu vou ter que repetir isso?

—Quantas for necessário, menina, porque não sei quem são e não vou parar de perguntar enquanto você não me der uma resposta bem satisfatória...

Melissa bufou, cruzando os braços.

—Eu já disse! Nós estávamos viajando juntos... É isso que nós fazemos! Viajamos entre amigos... É engraçado. Divertido. Inesperado e empolgante. Estávamos passando por aqui quando ficamos meio que “encalhados” na atmosfera. Tivemos que fazer uma parada forçada; fugimos de alguns Pterodátilos reclamões e acabamos parando nesse lugar... Essa tal de Terra Nova. Mas eu juro... Nós não somos invasores! Nem inimigos. Não viemos conquistar nada, muito menos pedir favores... Apenas caímos aqui. Foi a droga de um acidente, raios!

—Mas isso não é possível. –Taylor contornou, com uma risadinha incrédula. –Só há dois tipos de colônias em Terra Nova: a legal e a ilegal. Nós e os Sextos. E vocês definitivamente não pertencem á minha colônia...

—Por que toda essa restrição, comandante? Eu sou um ser humano livre! Como pode predestinar que sou boa ou ruim apenas por localização de moradia? E se nós tivéssemos construídos nossa casa nas montanhas da alvorada? Nós seriamos considerados selvagens ilegais? Será que nunca lhe passou pela cabeça que outras pessoas dignas possam viver independentes da sua coloniazinha!?  

—Mas não podem. Ao menos, nas circunstancias atuais. –Taylor ponderou. –Eu só queria que você pudesse ser sincera comigo e me dizer para quem você trabalha...

Pro Papaleguas!—ela retrucou, desaforada. –Ora bolas!

Taylor esfregou a testa, começando a perder a paciência, então bateu com o punho na mesa de vidro, ficando de pé.

—Pela última vez, garota, eu não estou brincando... Conte-me: quem são vocês três? Como conseguiram se infiltrar em Terra Nova com uma caixa azul, pesada, que nem cinco de meus melhores homens conseguiram carregar? O que ela é? Uma arma disfarçada? Uma emboscada, talvez...? Diga! Quem planejou tudo isso? Nathaniel Taylor não pode ser enganado dessa forma!

Melissa fitou-o fixamente por um instante.

Já viu um Bambiráptor?—desconversou, deixando Taylor passado. –Eu sei que temos dinossauro nesse lugar e então meu cérebro automaticamente pensou: Bambiráptors, hum... Por que não?—Melissa pôs os pés, deliberadamente, encima da mesa e tirou uma lixa de unha do bolso, passando a fazer o que mais sabia fazer de melhor nessas horas: enrolar. –Eu sempre gostei do nome “Bambiráptor”. Quando eu era criança, achava que era igual ao Banbi do desenho do Walt Disney, só que da era jurássica... Tem realmente alguma semelhança ou é apenas uma agradável coincidência?—ela sorriu amplamente ao lançar a pergunta.

Taylor entreolhou-se com Jim e estapeou a própria testa, desgostoso.

—Do jeito que as coisas andam hoje em dia, Terra Nova vai acabar sucumbindo! –ele sentou-se na sua cadeira, exausto.

—Clama, Taylor... –Jim aproximou-se amigavelmente, dando-lhe um toque no ombro. –Deixe eu tentar falar com ela. Quem sabe não tenho mais sorte...?

—Mas que droga Shannon! –Taylor praguejou. –Duvido que tenha sucesso em sua tentativa, mas se quiser tentar... Fique á vontade.

Jim e Melissa se entreolharam por um momento. Aos olhos dele, ela não tinha o mesmo ar de irredutível que os demais julgavam. Isso porque ele estava acostumado com esse tipo de rebeldia e não se incomodou nem um pouco com a performance durona dela. Apenas aproximou-se de Melissa e sorriu simpaticamente.

—Bem, acho que podemos começar por outra forma –Jim sentou-se também, de frente para Melissa e estendeu-lhe a mão amigavelmente. Simultaneamente, a garota tirou os dois pés da mesa. –Oi. Eu sou Jim. Jim Shannon. Também tenho um filho da sua idade. E... Devo admitir que consegui ler seu temperamento desde o primeiro momento em que a vi: aquela rebeldia e tédio tão característicos da puberdade—ele fez uma pausa, sorrindo. –Deus! Vocês dois sabem ser teimosos! Mas não me leve á mal... Eu os entendo. Sei como a vida poder ser complicada e injusta nesta fase e não pretendo tirar muito do seu tempo. Só queria que pudéssemos trocar algumas idéias sobre a ocorrência de mais cedo. Nenhuma informação muito extensa ou que possa comprometer você e seus amigos... Apenas o básico. O que você me diz? –Jim propôs. Melissa assentiu positivamente. –Ótimo! Eu sabia que poderíamos entrar num acordo... Me desculpe por discordar, Taylor, mas esta garota não me parece nem um pouco com uma ameaça... –ele avaliou, tentando convencer o comandante e reanimá-lo. A alguns passos dali, a tenente Washington virou o rosto, escondendo um sorrisinho.

Melissa sorriu com aquela famosa expressão de “esse aí é dos meus” e apertou sua mão estendida em retorno.

—Eu me chamo Melissa Rivera. A “pavio curto”, para os mais chegados...

—Muito prazer Melissa. –Shannon sorriu. –Bom, eu devo ser sincero com você, agora que já nos apresentamos legalmente e percebemos que temos algo em comum. O fato é que devemos ser autênticos para podermos sustentar uma conversa civilizada: Porque hoje, Melissa, Terra Nova pode precisar de você. —ele deixou bem claro, fazendo-a arregalar os olhos.

—O que posso fazer para ajudar?

—Eu sei que quer ajudar. E é obvio que tem medo de colocar seus amigos em uma enrascada ainda maior, por conta disso. Mas fique tranqüila. Enquanto estiver sob nossa proteção, estará segura. –ele argumentou. –Mas, para podermos ajudá-los, precisamos que você também nos ajude cedendo algumas informações básicas... –ele articulou e Melissa continuou a observá-lo. -Notei que o que vimos mais cedo não se tratou de uma invasão ou uma emboscada; Você e seus amigos entraram aqui por engano... Isso nós até podemos considerar. O que queremos saber é de onde vocês são e por onde exatamente conseguiram entrar. –Jim questionou.

Melissa pensou por um instante.

—Nós estávamos fugindo dos Pterodátilos... –afirmou. –Não sei direito onde estamos nem de que ponto da floresta viemos... Só sei que estamos muito longe de casa, e que não invadimos de propósito... Isso eu posso lhes garantir!

—Entendi. –Jim voltou-se para Taylor e a Tenente Washington. –Parece que eles estavam perdidos. Ela não sabe nos dizer de onde veio. Uma coisa é certa, eles não têm as marcas dos Sextos. –Jim observou. –Nenhum deles tinha. –então voltou-se novamente para Melissa. –Certo. Isso foi mesmo de grande ajuda. Fique calma, Melissa. Está fazendo a coisa certa nos ajudando...

—Estará segura em Terra Nova. –reforçou a Tenente Washington.

—A colônia não é perigosa. O perigo aqui tem muitos outros nomes e um deles é a própria floresta. –anunciou Taylor, sombriamente. -Se seus amigos não tiverem cuidado, poderão ficar á mercê dos dinossauros...

—Não sei para onde eles foram. –Melissa admitiu. –Não me entendam mal... Nossa fuga não foi exatamente combinada. Nós apenas ficamos com medo e nossos corpos fizeram o resto... E vocês sabem como planos improvisados costumam dar errado!—ela revirou os olhos, lembrando do Doutor. -Sei que parece estranho, mas acredito que eles ainda possam estar por perto. Nossa caixa estava com alguns probleminhas técnicos e não poderia se afastar muito. Eles não devem estar longe...

—Então a caixa é algum tipo de veículo? –comparou Taylor.

—Mais ou menos. –disse Melissa. –Mas ela não é muito do tipo que voa. Ela meio que se desloca por aí...

—Entendi. –Jim assentiu. –Bom, Melissa. Se quisermos encontrar seus amigos antes do anoitecer, é bom nós começarmos a nos mexer, certo Taylor?

—Positivo. –o comandante se inclinou sob a mesa, com os punhos entrelaçados. –Essas terras se tornam verdadeiros matadouros de noite... Cheios das emboscadas daqueles demônios desgraçados...

Então precisamos agir agora mesmo!—Melissa se manifestou, erguendo-se de supetão da cadeira. –Não podemos deixar que os dinossauros peguem meus amigos!

—Quem dera fossem só os dinossauros... –a Tenente Washington ponderou. –Estamos falando dos Sextos.

Melissa ergueu as sobrancelhas.

Dos quem?

 

*    *    *

—Muito bem, então... Checagem rápida: cabeça, braços, pernas, mãos e pés... Tudo no lugar! –o Doutor conferiu, depois de um longo intervalo de tempo em que estivera abraçando á amiga para tranqüilizar á ela e a si mesmo. Quando o perigo passou, ele ajudou-a a descer da árvore e começou a checar as coisas: –Certo... E você está bem?

—Ótima, obrigada. –ela arfou, exausta.

—Certo. Certo. Algum comentário sobre o último ocorrido?

—Sim, eu tenho um: Podemos ir pra casa agora?—ela fez beicinho, de brincadeira, com o braço enganchado no dele. Já haviam deixado a árvore para trás e caminhavam tranqüilamente de volta para a TARDIS. –Acho que preciso falar com meu terapeuta...

Não. Infelizmente, isso eu não posso conceder no momento... –ele riu. –A TARDIS ainda está se consertando, e não se esqueça que sua melhor amiga ainda está com os soldados, em Terra Nova. Seja lá o que isso signifique... –enquanto ele falava, foi tirando um objeto do bolso interno do casaco: tratava-se de uma placa de vidro fino, perfeitamente plana, cuja ele segurou com uma das mãos e deslizou um dedo deliberadamente pela superfície, com a outra. Imediatamente, uma luz azul-clara se acendeu e iluminou o rosto de ambos os dois, na escuridão das folhagens. –Bem, talvez isso nos ajude a descobrir.

Caramba! Onde foi que você arranjou isso? –Luisa disse, estupefata.

—É uma Tecnopédia. –ele esclareceu. –Eu roubei de um dos soldados enquanto tentavam nos segurar... Muito legal, né? A raça humana realmente se superou! Esse é de última geração... Tecnologia de ponta do ano 2149!

De quando?

—Está marcado no visor... Veja o ano de fabricação. –ele indicou-lhe e ela se inclinou para conferir. O ano era mesmo 2149.

Mas isso não pode estar cento!—Luisa se manifestou. –Estamos na era jurássica...

—Há 85 milhões de anos atrás... –o Doutor completou. –Pode crer. Eu chequei. –enfatizou. -Mas, muito curiosamente, o pessoal de Terra Nova também tem acesso á tecnologias futuristas... O que sugere, que são uma civilização do futuro. O seu futuro. O futuro da raça humana...

Luisa balançou a cabeça negativamente.

—Mas eu não entendo... Estamos em um tipo de realidade misturada? Passado e futuro, acontecendo ao mesmo tempo... Que diabos é esse lugar?

Iaba-daba-du.—o Doutor proferiu, fitando a amiga significativamente. –Bem, não tem nada a ver com a situação atual, eu garanto, mas, se quiser considerar a hipótese, então fique á vontade.

—Está me dizendo que estamos no desenho dos Flintstones?

Só se você deixar um macho competente dar uma cacetada na sua cabeça... –ele brincou. Luisa fingiu não achar graça.

Engraçadinho. –ela franziu o cenho e voltou a fitar o aparelho futurista na palma do companheiro. -Mas o que isso faz, exatamente? –ela indagou.

—Aparentemente é uma enciclopédia eletrônica... Literalmente!—ele disse, animado. –Olha que bacana! Não se encontram coisas assim naquelas lojinhas de presentes na saída dos museus...

—E como você acha que essa coisa funciona?

—Bem... –ele levou a garota para trás de algumas folhagens, para saírem da trilha na floresta, por onde algum outro dinossauro poderia surgir de repente. -Eu acho que, na melhor das hipóteses, nós devemos clicar em alguma coisa... –e deslizou o dedo sob a tela, tal que, imediatamente, um navegador de pesquisa apareceu. A dupla se entreolhou, animada. –Tudo bem, amiguinho... Vamos ver o que você é capaz de fazer...

—Pesquise um mapa completo de Terra Nova... –sugeriu Luisa. O Doutor o fez e ambos acabaram levando um susto quando, sem mais nem menos, a imagem saltou da tela: logo, tinham um mapa completo do planeta em que estavam, em pequena escala, bem na sua frente. 

—Mas isso é incrível! –ele esfregou as mãos. –Não basta ser sensível ao toque, também é em 3D! Rá! Amei o designer!

—“Olá! Meu nome é Alison. Estou feliz por poder ser útil. Ajudá-los a encontrar o que procuram é minha especialidade... O que deseja saber?”—perguntou a gravação da voz de uma mulher, saída do aparelho. 

—Oh! Instalaram um Navegador-Inteligente... –a voz do Doutor saiu aguda. –Meu Deus! Essa me deixou emocionado... Eu poderia chorar, mas não vou, porque não é do meu feitio e também porque não vem ao caso.

Então ele e Luisa se contemplaram por um longo instante, antes de fazer a primeira pergunta. 

—O que devemos perguntar...?

—Pergunte á ele o que é Terra Nova. –sugeriu Luisa. –Já que até agora não tivemos uma explicação viável para essa terra de humanos e dinossauros...

O Doutor o fez, mas a resposta os deixou sem ar.

Terra Nova é um novo recomeço. Uma segunda chance para a raça humana. Foi a solução que os humanos de 2149 arrumaram para se verem livres do aquecimento global, o ar seco sem umidade e as fumaças tóxicas do futuro. Inventaram um portal capaz de fazer viajarem no tempo, apenas algumas famílias selecionadas em peregrinações, para o passado no inicio da Terra, á 85 milhões de anos trás. Ao todo, houveram dez peregrinações. Felizmente, ou não, eles vieram se instalar em uma colônia com muros e segurança reforçada para que os dinossauros não possam adentrar em seus limites... Mas as vezes, um ou outro acabam penetrando nos limites de Terra Nova, o que gera sempre muito desespero e confusão. Muitos acharam que teria sido loucura recomeçar com a vida dos frágeis seres humanos em uma época rústica, onde eles virariam presas fáceis para os temíveis dinossauros. Porém, em defesa aos críticos, o Comandante Nathaniel Taylor e sua equipe advertem que é seguro continuar com o projeto. Diariamente, eles fazem experimentos para cura de doenças novas e estudam a biologia dos animais que viveram no passado, catalogando novas espécies.

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*A vida em Terra Nova

*Os dinossauros

*O comandante Taylor e o projeto Terra Nova

*1ª á 10ª peregrinação -histórico

*Insetos gigantes: estudos e vacinas.

*Frutas típicas –saiba quais frutas são venenosas e quais são boas para se ingerir;

*A medicina avançada de Terra Nova

*O que esperar de um futuro para a colônia de Terra Nova

 

Títulos Associados –Galeria de informações restritas:

*Sextos.

O Doutor franziu a testa por um momento. Luisa acompanhou seu raciocínio.

—Já sei: A área restrita é sempre uma tentação...

—É mais do que isso! –ele fitou-a. –São simplesmente informações que nos permitem ter uma compreensão melhor do que está acontecendo por baixo dos planos e, conseqüentemente, o que ainda virá por vir... Contém tudo que as pessoas possam querer esconder umas das outras, e oculta, principalmente, do conhecimento da própria sociedade. Pode ser qualquer coisa: Intrigas. Vexames. Planos infalíveis... Elas costumam guardar essas informações á sete chaves, mas com essa tecnologia, duvido que alguma informação restrita não conste no sistema. Se fosse para ser assim, nada explicaria o link no fim da página.

—Então clica logo nisso aí! -Luisa sorriu para ele. –O que será esse “sextos”?

—Vamos descobrir! –o Doutor clicou, mas a página não carregou. Depois carregou, mas um cadeado virtual apareceu, impedindo o acesso às informações restritas, e acabou com a alegria dos dois. –Bem, acho que não vamos descobrir... Hã! Era obvio que isso aconteceria! Eu já devia ter previsto que não haveria uma falha na segurança... Que coisa! Deixe-me tentar de novo...

Ele ficou absorto, com os olhos vidrados na tela, tentando liberar o acesso da página, mas nada aconteceu. Luisa encostou-se contra uma grande pedra e ficou observando o lugar em que estavam. Muitas coisas lhe chamaram a atenção: a pigmentação mais forte das árvores, o cheiro maravilhoso da grama fresquinha, algumas borboletas muito maiores que a palma de sua mão, que surgiam voando á alguns metros dali, e um papel dobrado, caído no chão. Epa! Eu disse Papel dobrado?

Luisa se abaixou para apanhá-lo. Estava próximo do casaco teed do Doutor, que ele colocara automaticamente em cima da pedra, ao seu lado. O papel deveria ter caído de seu bolso e ela não pensou duas vezes em guardá-lo de volta. Mas, quando já o tinha em mãos, uma coisa em destaque lhe chamou a atenção e a curiosidade falou mais alto: Pelo verso da folha dobrada, ela conseguiu distinguir uma palavra em especial, escrita á caneta como título das anotações: nada menos do que seu próprio nomeLuisa? Qual seria o conteúdo da folha? O que teria sido tão importante sobre ela á ponto do Doutor fazer anotações?  Curiosa, como só ela mesma, Luisa mordeu o lábio; disfarçou; deu uma olhadinha por cima do ombro enquanto o amigo se mantinha concentrado na missão impossível de conseguir desbloquear o cadeado virtual; certificou-se de que ele não perceberia o que ela estaria prestes a fazer; alisou a folha em suas mãos, inquieta, até que finamente, sem mais pestanejar, desdobrou-a e leu o conteúdo em silêncio:

Luisa

Observações:

*Fala constantemente sobre os olhos. (Nada menos que as janelas da alma). Sempre há um momento do nosso dia a dia em que nos sentimos incompreendidos e sozinhos, mas enquanto se está na companhia desta garota, algo muito maior parece estar te contemplando através dela. Como uma força. Uma energia. Uma certeza. Um grito de esperança vindo do além. E algo ainda mais poderoso... Ela tem algo intimamente inigualável dentro de si. Algo que nem eu mesmo consigo decifrar. O fato é que ela me olha como se me estudasse, tentando se por no meu lugar... Então, de repente, a próxima reação que ela tem é sorrir como se tivesse entendido algo, ou simplesmente desviar os olhos, fingindo não ter visto algo embaraçoso ou comprometedor, o que é impossível, pois na verdade tudo não passou de uma troca de olhares.

Entretanto, ela sempre consegue me deixa no ar. Gostaria de saber as coisas que ela pensa...

*Fascinação pela água? Já estivemos nos mais diferentes lugares, fazendo as mais variadas coisas, mas nesse ínterim de tempo, houve uma coisa que sempre me intrigou. Uma coisa que esteve conosco, em comum em vários desses lugares, como uma coincidência incessante: Água. Todas as vezes em que estamos precisando de água, recipientes mágicos surgem ao nosso redor, como que em resposta à nossas preces. Qual seria a explicação viável para isso? Nenhuma variável é comum se não houver algo que a torne comum. E, é obvio que eu viria a perceber, uma hora ou outra, que Luisa tinha também um envolvimento especial com essas cenas, porque ela somente não deseja tanto a água quanto nós... Como também é sempre ela que encontra os recipientes, fontes, baldes e etc. OBS: (Não faço a mínima idéia se isso foi uma coisa que sempre esteve designada a caminhar junto dela desde que nasceu, mas tenho razões suficientes para chegar á um conceito positivamente favorável quanto a isso). Veja as próximas notas: Houveram várias repetições do mesmo ato durante nossa caminhada juntos e algumas dessas eu consegui enumerar: O primeiro relato oficial foi no Egito, quando fomos resgatar Luke Smith, o filho de Sarah Jane, das garras dos Bane; Outro ocorrera no palácio São Cristóvão, o lar da princesa Isabel de 14 anos, da qual havia um imenso chafariz bem no centro do jardim do Anjo Lamentador, muito parecido com o chafariz que Luisa tinha em seu próprio quintal (sim, eu reparei nisso). Talvez o seguinte relato tenha sido da nossa viagem errante, que ocasionou em uma quase catastrófica visita no planeta Índia, da qual Luisa encontrou facilmente os banheiros quando precisou deles; Lembro-me também de Luisa ter me contado brevemente sobre um sonho em uma outra realidade, onde haviam Daleks e uma guerra sanguinária entre o bem e o mau. Em um determinado momento, ela precisou apagar o fogo do chalé do deus Marte, General M, para salvar minha vida, mas ela não tinha nada em mãos (o que foi bastante curioso, já que ela me descreveu a situação exatamente desta forma: “fora apenas eu entrar em desespero que uma saída simplesmente apareceu”). Essa saída evidentemente fora a inexplicável aparição de uma mangueira bem resistente para combater o fogo; Também ouve a vez na prisão do Tormento, quando Luisa, Drica e Ofélia precisaram me reanimar com um balde de água fria. (Adivinhe de quem era o balde?) Contudo, não podemos nos esquecer da passagem no Expresso Continental / Expresso do Oriente, da qual, no passado, Olívia precisou de água para engolir alguns comprimidos e Luisa mais uma vez surpreendeu-nos com um copo d’água, dentro do bagageiro. (Em resumo, não creio que sejam informações suficientes para que eu fique tirando conclusões precipitadas. É obvio que são muitas coincidências... Mas, é um material delicado para se trabalhar... Sobretudo, se isso for mexer de alguma forma com a estabilidade emocional de Luisa).                           

*Tem sonhos que influenciam sua vida. A última ocasião no expresso, não seria a primeira que presenciei Luisa se queixado de ter tido sonhos extremamente reais e perturbadores (ao menos essa é a descrição que se encaixa perfeitamente com seu semblante, após acordar). Ela parece incrivelmente distante e absorta de começo, mas então seu semblante adquire uma coloração pálida, ela apresenta vertigens e enjôos e começa a mudar de humor da água pro vinho, por diversas vezes seguidas. Isso não pode ser um sintoma comum! Me recuso a admitir que não seja nada, porque, de outra forma, qualquer pessoa que sonha poderia se queixar de ter efeitos colaterais após dormir, e não é o que acontece. Nunca vi nada parecido, mas continuarei buscando um diagnóstico que se encaixe nesse quadro (patológico?) ainda desconhecido.

Quando terminou, ficou completamente chocada. Durante o texto, seu semblante sofrera uma constante metamorfose, oscilando severamente de cheio de expectativas, para um desapontamento antagônico desconfortável. Não conseguia acreditar naquilo. Era simplesmente inaceitável! Quem dera permissão ao Doutor para diagnosticar suas manias pessoais como fascinações malucas e patologias desconhecidas? Aquelas coisas, por mais estranhas e sem sentido que fossem, eram parte dela! Tornavam Luisa quem ela era de verdade: completamente única no universo. Como ele pôde ser tão superficial?

Ao observar o amigo de costas, á poucos passos de si, ainda absorto em suas pesquisas, deixou escapar um suspiro irônico, movendo o ombro em um reflexo casual. Ela ia tirar aquilo a limpo... Ah se ia! Era hora de por as cartas na mesa. Então, como quem não queria nada, ela aproximou-se novamente do Doutor, com o papel em mãos, apoiou o corpo contra a mesma pedra lisa de antes, de modo que ficou em uma pose contrária á dele, e ficou a observá-lo de braços cruzados. Como ele não percebeu a investida dela, Luisa procurou ser mais clara; respirou fundo, limpou a garganta e desatou a falar:

—Você já viu o presentinho que um passarinho verde deixou para nós? –e mostrou-lhe o papel. Logo que o Doutor tomou consciência do que estava acontecendo, ele enrubesceu de leve, depois empalideceu, adotando uma postura muito ereta, e fitou-a com as pupilas dilatadas, sem tirar os olhos do rascunho.

—Hum... Onde você achou isso?

—No chão. Acho que caiu do seu casaco... –ela insinuou. O Doutor semi-cerrou os olhos.

—Se estava no meu casaco então é departamento meu. –ele trovejou, surpreendendo-a.

—Que mau humor! –rebateu a garota, cruzando os braços: o papel amassou levemente ao ser apertado contra seu cotovelo. –Não é a toa que você nunca consegue uma viagem de férias... A TARDIS até que se esforça, mas seu ego sempre acaba estragando tudo!

—Do que você está falando? –ele retorquiu, irritado. Gesticulando e falando alto como sempre.

—Eu encontrei esse papel lá atrás. No chão. Um papel com meu nome... Explicação? Ah, sim... Você está bancando o “detetive especialista” de novo e eu não gosto disso! Quem você pensa que é para fuçar minha vida?

—Eu sou o Doutor. –ele esticou as duas mãos na frente do corpo, demonstrando trégua. -Estou tentando ajudar...

—Eu li o que você escreveu sobre mim! –ela anunciou e ele parou de chofre. –Durante todo o tempo em que estivemos juntos, eu nunca imaginei que estivesse me estudando... –ela se aproximou e lhe deu um tapa no braço. -Não sou um rato de laboratório! Você está bisbilhotando minha vida! Está invadindo minha privacidade!

—E qual o problema nisso? Sou seu amigo, não sou? Esse é o meu dever! –ele defendeu-se.

Sua investida foi um completo fracasso. Luisa fitou-o com ainda mais raiva.

É a minha vida!

—Mas você entrou na minha TARDIS primeiro! E eu sou responsável por você enquanto estiver viajando comigo!  

Nada disso!

Sou sim senhora. E não discuta comigo!—ele ralhou. Luisa se calou de imediato, evidentemente magoada. Depois de uma chamada grotesca (até o próprio Doutor se sobressaltou com o resultado), o amigo respirou fundo e prosseguiu, tentando manter seu tom de voz normal: –Você sabe muito bem que eu te considero muito mais do que uma amiga... Você é minha companheira, Luisa! Temos uma ligação especial... –ele disse, convicto. O Doutor enxugou a testa e suspirou, ao contemplá-la demoradamente. –Eu não vou mentir pra você. Eu realmente venho criando essas espécies de anotações já há algum tempo... Venho tentando encontrar algum sentido nas profecias e no que nossa amizade significa para o universo... Qualquer coisa pode ter algum significado importante para nosso futuro e das nossas viagens juntos e eu quero ter certeza de que nada de ruim poderá nos acontecer... –ele fez uma pausa curta. -Foi então que vi em você algumas deixas que poderiam querer simbolizar alguma coisa... E pensei: “Talvez as evidencias estejam mais próximas que nunca, afinal?” Depois de fazer algumas observações e teorias, foi só somar um mais um. Isso foi tudo o que eu fiz. Eu observei você. Todos os dias. Todas às vezes. Com apenas um propósito: protegê-la do que ainda pode estar por vir, antes mesmo que aconteça... –ele fez outra pausa, olhando-a com aqueles grande olhos tristes. -Quero que fique segura.  

Luisa deu de ombros.

—Jeito estranho de demonstrar isso –ela declarou. –A maioria das pessoas se contenta em criar listas mentais umas sobre as outras. Ninguém fica organizando as manias e rituais dos outros em tópicos

—Eu não sou como as outras pessoas. –ele sorriu afetado. Luisa fitou-o com completa incompreensão:

Você e esse persistente medo do futuro!—ela replicou, sem compreendê-lo. –De que adianta ser a droga de um Senhor do Tempo, se você nem poder fazer o que quer? Nem pode ter total controle sobre as coisas... Como pode ser tão grandioso e, ao mesmo tempo, tão impotente?

Ora, não diga besteiras! Você nem sabe o que é ser um Senhor do Tempo de verdade!—ele se doeu.

Nem preciso saber!—ela soluçou, dando-lhe as costas e jogando o papelzinho amassado no chão. –Me deixe em paz! Não sou indefesa! Não preciso da sua proteção! —ela gritou, recuando para longe dele cada vez mais á cada palavra pronunciada. O Doutor deu um passo à frente, na direção dela, mas acabou se detendo, pois uma forma humana encapuzada saltou da copa da árvore atrás da menina e rendeu-a, com uma faca na garganta. Imediatamente, o mesmo aconteceu com ele e outras várias formas encapuzadas surgiram ao redor, fazendo crescer o número de mal-elementos, armados com objetos cortantes.

—Luisa!

—Doutor!

Calem a boca!—gritou uma terceira voz.

—Socorro! Alguém nos ajude!

Façam essa garota calar a boca! Depressa!—era claramente uma voz de mulher. Uma voz rígida e impiedosa...

NÃO TOQUEM NELA! Ai! Ui!—o Doutor tentou chutar um dos encapuzados, mas teve o braço torcido, como castigo.—FIQUEM LONGE DELA!

Apliquem duas doses neles! AGORA!—uma voz feminina, enérgica, e que evidentemente estava contra eles.

DOUTOR! —gemeu Luisa apavorada.

 Os dois se debateram, mas foram imobilizados por três á cinco homens bem fortes. Foram aplicadas, em cada um, uma injeção com sonífero, do modo mais rude e bruto possível. Imediatamente, os dois sentiram os olhos pesarem e os músculos fraquejarem. Logo, estavam desmaiados na vegetação.

 

*     *     *

Melissa não era de reclamar da hospitalidade das pessoas. Apesar de seu ego apreciar um bocado essas raras oportunidades. Desta vez, porém, foi a gota d’água. Taylor dissera com muita garra que eles partiriam imediatamente para a selva (o que fez Melissa vibrar por dentro), em compensação, a esposa de Jim -uma médica muito consagrada, de acordo com a tenente Washington -deu as caras no recinto e fez questão de que Melissa passasse por uma checagem médica antes de prosseguirem com os procedimentos padrões de ação. Melissa odiava consultas de rotina. A última vez que foi a uma, acabou mordendo a enfermeira, e isso foi há um ano atrás. Não odiava especificamente as consultas. Odiava os hospitais em si. Detestava o cheiro de desinfetante que colidia com seu nariz no momento em que as portas automáticas se abriam. Considerava insuportável o fato de tudo ao seu redor ter de ser irritantemente branco e limpo. Achava degradante o modo com que as pobres faces doentes, sentadas na sala de espera, contemplavam umas as outras com pesar e deixavam o saguão de entrada com aspecto doentio. E, só pra terminar, desprezava a falta de consideração das enfermeiras que sempre diziam com muita presença de espírito: “Não vai doer queridinha... Minha comadre também é sensível. Ela sempre fica super preocupada quando faz esse exame, mas quer saber, ninguém nunca bateu as botas nessa maca...”. Como você é racional, é nessas horas que o seu instinto quer assumir o controle e retrucar: “É mesmo? E que tal se eu fosse o primeiro felizardo?”. Isso porque, na real, os hospitais são mesmo exemplos terríveis de lugares bons para se passar um fim de semana. Já pensou por que ninguém em sã consciência acorda em um domingo de manhã e diz espontaneamente: “Puxa vida! Que bela manhã para se fazer um exame de sangue! Operar um rim ou tomar vacina”. E, o motivo disso nunca acontecer é incrivelmente obvio, porque simplesmente: Não. Tem. Nexo.  

Pensando desta forma, Melissa até parece uma radical ou até mesmo uma covarde. Afinal, quem na face da Terra imaginaria que “a menina irritante”, “a pavio curto”, “á espontânea número um do pedaço” e também, a mais critica e provocativa, poderia ter uma fraqueza tão boba?

—Não é uma fraqueza! Eu já disse: Não tenho medo de médicos...

—Que ótimo, querida... –a doutora Shannon riu sem jeito. –Então acho que já pode parar de apertar meu braço, não?

Melissa olhou para baixo. Viu com espanto o que estava fazendo, recolheu as mãos e desviou os olhos, envergonhada.

—Ah, tá... –recriminou-se em silêncio por não ter percebido o ato involuntário e aquietou-se no seu canto, tímida. -Foi mal.

—Está tudo bem. –Elisabeth Shannon sorriu, guardando o estetoscópio e apanhando de cima da mesa, um aparelho fino, leve e transparente, parecido com um tablet, mas muito mais futurista, que tinha no visor a silhueta de um ser humano (que no caso, era Melissa) e scanneava-a por inteiro em silêncio, procurando por qualquer infecção ou malefício em seu organismo, de modo rápido e indolor. –Não se preocupe, Melissa. Em breve encontraremos seus amigos e você poderá relaxar.

—Tenho que esperá-los voltar para poder relaxar?

Elisabeth riu.

—Não, não foi bem o que eu quis dizer... Mas acho que lá no fundo você entendeu o sentido da coisa.

—Espero que sim. –Melissa coçou a cabeça.

Naquele dado momento, uma garota de exatos dezesseis anos atravessou a sala, focada em alguma coisa. Ela era morena, tinha um rosto meigo, o cabelo era escuro e estava preso em um rabo de cavalo. Ela usava roupas comuns e carregava consigo, embaixo do braço, uma pilha de livros. Passou rápida como um raio e entrou em um dos quartos, sem falar nem olhar para ninguém. Disse “quarto”, porque, contra todas as expectativas, a consulta estava sendo na própria casa dos Shannon. Isso porque no laboratório estava tudo muito conturbado: pessoas sendo enfaixadas, costuradas e remendadas (no sentido da palavra), cirurgias estavam sendo executadas também, e ninguém precisava de uma paciente saudável por lá, justo hoje, pedindo uma consulta de rotina.

A confusão era eminente. A saída que a doutora Elisabeth arrumou foi trazer Melissa para sua casa, já que ela teria um tempo livre entre as cirurgias, e provavelmente poderia examiná-la. Sem poder conter a curiosidade, Melissa perguntou:

—O que houve com as pessoas? Por que tanta gente está no hospital hoje?

—Um Slasher entrou aqui e pegou todo mundo de surpresa. Tivemos muitos feridos. –ela disse, enquanto dava uma olhada na garganta de Melissa. –Abra bem, por favor...

Mash o ze é zum Slhahaer?

—O que foi, querida? –ela deixou Melissa fechar a boca.

—Eu perguntei o que é um Slasher. –Melissa informou, simplesmente.

—São uns dinossauros... não muito amigáveis. –a outra explicou, apanhando algo dentro do bolso do jaleco. –Aqui... Pegue.

Os olhos de Melissa se arregalaram quando ela viu um pirulito de cereja.

—Existem desses por aqui? –ela apanhou o doce como se fosse o último da face da Terra, ou o primeiro.

—Sim, existem. –a doutora riu. –Algumas pessoas trouxeram a receita e cá está. Pirulitos de cereja para todo mundo! –ela disse com entusiasmo juvenil.

—Demais! –Melissa exclamou, já com o pirulito prensado contra a bochecha interna. –Vai ver, ter vindo pra cá não foi tão errôneo assim...

Arrr!—gemeu uma voz chateada e Melissa e Elisabeth voltaram-se para a garota que passara com os livros anteriormente.

—Maddy... O que foi minha filha?

—É a Zoe, mãe! Ela sumiu e já vão começar as aulas... –Maddy atirou-se em um puff. -Como eu posso levar a Zoe pra escola se ela não aparece?

—Ah, Maddy. –Elisabeth foi reconfortá-la. –Aqui... Vamos procurá-la juntas, está bem?

—Querem ajuda? –Melissa se ofereceu, descendo de cima da mesa de madeira. –Sou boa em encontrar coisas perdidas...

—Mãe, quem é ela?

—Essa é Melissa, Maddy. Ela partirá daqui a pouco com o comandante Taylor e o Jim para fazer uma busca pela floresta.

Pela floresta?—Maddy pareceu horrorizada. –Mas... Não pode ser perigoso?

—Meus amigos sumiram. -Melissa explicou. –Eu preciso encontrá-los ou então tudo estará perdido...

—Perdido? O que foi que vocês perderam desta vez? –um garoto de dezessete anos, alto, cabelos castanhos, olhos azuis, camiseta azul e calça preta larga entrou na mesma sala, junto de uma garota magra, loira crespa, com os cabelos em um rabo de cavalo, uma regata rosa e um shorts jeans.

—A Zoe. De novo. –Maddy pôs as mãos na cintura. –Falando nisso, Josh, você pegou meu notebook pra ficar vendo as fotos da Carla, de novo?

Josh olhou sem jeito para a amiga, ao lado. Pareceu ter ficado meio constrangido.

—Eu não! Eu amo a Carla, Maddy, mas você sabe que eu não tenho nenhuma foto dela no computador.

Maddy revirou os olhos, provocativamente.

—Ah, claro que não... Só aquela que vocês dois estão com os rostos coladinhos!

—Rostos coladinhos? –a garota loira de regata riu. –Puxa! Eu tenho que ver essa foto...

—Não, não tem não! –Josh retrucou. Então percebeu já tarde demais que usara um tom pouco amigável com sua amiga, e ela provavelmente notaria seu nervosismo e tiraria barato disso mais tarde. –Ah... Foi mal Skye. Eu não quis...

—Tudo bem Josh. Não precisa se desculpar. –disse Skye. -A Carla era sua namorada. Não vejo qual o problema em existirem fotos de vocês dois juntos. Não há nada de anormal nisso... Afinal, vocês se gostavam, não é?

Josh pareceu ficar cada vez mais enroscado, por algum motivo inexplicável, e saiu da casa feito um búfalo carrancudo, deixando todas para trás.

—Josh! –Skye saiu correndo atrás dele, deixando Maddy, Elisabeth e Melissa “chupando o dedo”.

Naquele mesmo instante, Jim passou pela porta, intrigado.

—Ei! –ele indicou o polegar na direção da porta. -Mas o que foi que aconteceu com aqueles dois?

—Crise existencial, imagino. –Maddy sentou á mesa, apoiando a cabeça no punho fechado. –O de sempre. “A Carla e Terra Nova”.

—Qual o problema com essa tal de Carla? Onde ela está? –Melissa perguntou. –Por que ele não pode simplesmente ir vê-la?

—Porque ela não veio na nossa peregrinação. –explicou Maddy. –Nem em nenhuma.

—As pessoas são selecionadas para viajar no tempo através de um portal e vir para Terra Nova. –completou Jim. –Nossa família foi escolhida por conta de Elisabeth. Ela era uma médica consagrada em 2149. E, bem, tivemos uma ajudinha do nosso esperto dr. Malcon para que isso acontecesse. –Jim disse com sarcasmo. Ele detestava Malcon porque sabia que ele e sua esposa já namoraram uma vez, na época de faculdade e, a pesar dela não sentir mais nada por ele, sabia que a recíproca não era verdadeira, e que o cientista só indicara a família Shannon para a peregrinação por imaginar poder firmar uma segunda chance ao lado de Elisabeth. O que, é claro, não deu certo com Jim por perto bancando a águia assassina.

Elisabeth lhe deu um cutucão nas costelas. Não gostava de lembrar daqueles desentendimentos, porque sabia que, apesar de meio desajustado, Malcon ainda era uma peça importante para a sobrevivência da colônia e que, se não fosse por ele, eles ainda estariam respirando gases sufocantes e comendo comida desidratada.

—A questão é... –ela enfatizou. –Que Josh não se acostumou muito com a idéia de deixar a namorada para trás e, deste que chagamos aqui, anda meio emburrado com tudo.

—Eu não falei? Vocês dois são exatamente iguais! –Jim disse com bom humor para Melissa, que não pôde deixar de sorrir, como se aquilo fosse um elogio.

—Gosto do senhor, senhor Shannon.

—É Jim, pra você. Eu prefiro assim... Senhor é um pseudônimo que ainda não me pertence.

Todo mundo olhou para ele com cara de sarcasmo.

—Que foi? Eu ainda estou na linha dos quarenta!

Todas riram e, quando acabaram, Melissa disse:

—Aquele meu amigo é exatamente como você, Jim. Ele odeia que o chamem de senhor...

—E faz muito bem! Quantos anos ele tem? Vinte? Vinte oito? Trinta? –rebateu Jim. –Chamar um garoto de senhor é ainda mais inadmissível!

Melissa riu de nervoso. Se ele soubesse...

—Escuta, porque não vamos indo? A consulta já parece ter acabado e, afora o último imprevisto, parece estar tudo em ordem... –Jim anunciou.

—Não, não está. Ainda falta uma coisa... –disse Elisabeth.

—É mesmo? Falta mais o quê?

—A Zoe, pai! –Maddy deu uma chamada de atenção no pai. –Ela sumiu!

—A Zoe? Aquela garotinha que mora aqui? –ele brincou, cínico. –Não mesmo. Não pode ter sumido... Tem certeza que ela não está brincado de esconde-esconde?

—Ah! É mesmo... Eu disse à ela que brincaríamos antes que eu fosse levá-la para a escola! –lembrou Maddy. –Meu Deus! Ela pode estar em qualquer lugar...

—Tá legal! –Jim bateu palmas e pediu que todas elas se aproximassem. Com as mãos apoiadas nos joelhos, ele prosseguiu: -Vamos fazer o seguinte. Eu vou procurar nos quartos, Melissa, você procura na cozinha/ sala de estar. Maddy e Elisabeth, vocês duas procuram em volta da casa...

—Mas isso pode levar horas! –protestou Maddy. –E o Comandante Taylor não vai esperar o dia todo...

—Tem razão. Eu vi o brilho de excitação nos olhos dele esta manhã... –admitiu Jim. –Ele está obcecado com essa busca. Está contando que consigamos mais informações hoje, do que jamais conseguimos em tanto tempo... Ele não vai esperar. Precisamos de um plano mais prático.

Cutucando o ombro de Jim, Melissa chamou a atenção de todos.

—Ah... Se eu puder dar minha opinião, eu acho que tenho um ótimo plano para atrair a garotinha. –ela proferiu, com aquele olhar danado que é tão a cara dela. –Doutora Elisabeth, será que tem mais pirulitos de cereja no seu bolso?

 

*    *    *

Luisa demorou a voltar á si. Durante muito tempo, ela permaneceu desacordada e quando finalmente recobrou a consciência, não conseguia lembrar o que acontecera...

Onde estou?—ela ergue a cabeça devagar. Uma forte dor no pescoço lhe comunicou que ela estivera dormindo de mal-jeito. Tentou erguer o braço para massageá-lo, mas os membros não se moveram. Logo veio a entender o motivo: ela estava amarrada. –Ótimo! Agora está perfeito... —debochou da situação com amargor.

—Fale por você.

Luisa se sobressaltou.

—Doutor? –instigou. –É você que está aí?

—Estou aqui. Fique tranqüila... –ela sussurrou. –Eles não sabem que acordamos.Vai dar tudo certo.

Eles? Tudo o quê? Que lugar é esse?

—Não sei. Mas meus instintos me dizem que ainda estamos na floresta...

Luisa olhou ao redor, confusa. Só enxergava o tecido escuro de uma tenda armada, por todos os lados. Não havia nem sinal de árvores e mato.

—Por que você acha isso?

O Doutor fez um barulhinho estranho com a boca.

—Porque aqui tem uma porção de mosquitos. –ele praguejou, fazendo um movimento brusco que repuxou as cordas dela.

—Ai!

—Desculpe. Os danados estão me picando!—ele reclamou. –Já reparou no tamanho dessas coisas? São quase tão grandes quanto pombos!

—A-hã! Me diga algo que eu ainda não tenha me dado conta...—ela enfatizou, em tom irônico.

—Então escuta essa... –ele fez um pequeno suspense, enquanto se desvencilhava dos mosquitos. O Doutor se chacoalhou para o lado e o corpo de Luisa imitou o movimento de modo automático. –Nós dois estamos amarrados juntos.

Luisa arregalou os olhos, sobressaltando-se.

O quê?—se exaltou. –Não podemos estar!—ela se esticou para frente e sentiu as costas do amigo aderirem ao movimento, esbarrando na dela. –Ah, não!  

—Viu?

—Como vamos nos soltar agora?

Ele ficou quieto e Luisa imaginou que já estivesse com um plano meticulosos em mente e, supostamente, estruturando um daqueles seus famosos sorrisos tortos, que vinham sempre como bônus.

—Vamos ter que trabalhar em equipe!

Luisa já esperava por isso.

—Tudo bem pra mim.

—Pensei que estivesse brava...

—E estou. –ela confirmou. –Só escolhi não deixar motivos pessoais nos colocarem em perigo. Foi apenas uma questão de lógica... —ela disse, orgulhosa de sua atitude.

É... Talvez uma lógica um pouco pretensiosa. -ele considerou, fazendo uma careta, ás costas dela. Luisa lhe deu um cutucão por trás. –Ei! Cuidado com esse dedo!

—Você mereceu. –ela acabou rindo.

Naquele instante, um pedaço da tenda foi erguido e uma forma humana entrou, banhada pelo breu da noite. Eles ficaram muito quietos, enquanto a forma se aproximava decididamente em sua direção. Depois, somente quando chegou perto o bastante, abaixou-se para poder encará-los face á face.

—E então? Apreciando a estadia?—disse uma voz feminina, ríspida. Luisa semi-cerrou os olhos por um instante. A voz era, sem dúvida, conhecida... Sim! Era a mesma voz de mulher que eles haviam escutado na floresta, quando foram rendidos, mais cedo.  Ao se lembrar disso, Luisa engoliu em seco. A mulher era negra, tinha o semblante forte e carregado, os olhos eram penetrantes, os cabelos compridos estavam presos em um penteado afro, marcas de tinta se dispensavam pelo seu rosto e corpo, envolto por roupas mal-cuidadas. Lembrava muito a integrante de uma tribo. Ela ficou á observá-los, séria, por um instante. –Vocês não falam não, é? O dinossauro comeu a sua língua?—ela ergueu-se do chão, cheia de si. Lançou-lhe um sorriso atentado e tirou uma faca do bolso. –Que tal a minha lâmina? Não é grande coisa agora... Nunca mais foi a mesma depois de ter ficado presa na bacia de um raptor.—ela mencionou, obscuramente. De mau-jeito, O Doutor e Luisa se entreolharam, inquietamente. Aquele pareceu ser o sinal que a mulher esperava para agir. Sem dizer uma palavra, avançou na direção deles com os dentes cerrados e a faca em punho.

Luisa gritou e desviou os olhos. O Doutor se encolheu, atrás de si. A surpresa veio logo em seguida: o laço de suas cordas começaram a afrouxar e eles abriram os olhos, ao perceberem que agora podiam mover os membros novamente. Ambos se entreolharam intrigados, enquanto ela os soltava e os escoltava para fora da tenda.

Vamos! Andando! Sem conversa, vocês dois!—falou energicamente, liderando o caminho. –E nem pensem em fugir –ela disse, pelo canto do lábio. –Os últimos que tentaram isso foram devorados por Alossauros assim que deram no pé. Esse lado da floresta pode ser muito perigoso.

—Quem é você? –perguntou Luisa, um pouco receosa. –O que querem com a gente?

—Meu nome é Mira. –a mulher se inclinou para a menina, com um olhar perigoso. –Nós somos os Sextos. E vocês são nossa moeda de troca.


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Notas finais do capítulo

E é isso por hoje!

Semana que vem continua ;)

Beijos!!



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