Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 58
A vaidade do mais improvável


Notas iniciais do capítulo

Hello!
Postando adiantado desta vez porque vou viajar ;D

RIP RIP HANTER! kkkkkkk (referências Legends O.T. / LOVE LEONARD SEU LINDO)

Enfim (rsrs) vamos à aquele momento maravilhoso de todo início de capítulo das histórias da Lu: A Sinopse.

"E descobriram coisas, e desvendaram coisas, e se abriram para novas coisas, e assim, concluíram que não importava o esforço que fizessem, assimilar a situação se tornava cada segundo mais desafiador"



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Pararam de correr porque não tinham mais fôlego. Os que não deixaram-se cair no chão, encostaram-se depressa em alguma superfície, antes que os joelhos cedessem ao peso de seus corpos.

Eles eram criaturas gosmentas, vermelhas, cheias de cavidades... –tagarelava Holmes, somente agora, demonstrando o verdadeiro pavor que sentira ao ficar cara á cara com aqueles monstros.

—Gosmentas, é? –o Doutor se interessou. –Você por acaso não coletou nenhuma amostra do tecido...?

Holmes sorriu, ardiloso.

—Pra que você acha que serviu a taça vazia de champanhe? –ele sacudiu a taça, que ainda tinha segura na mão, com uma gosma vermelha bem no fundo.

—Você é brilhante, Sherlock! –o Doutor colocou os óculos de armação quadrada e apanhou a taça, para examinar a amostra. –Impossível... Mas isso é saliva de Zygon!

—Zygon? É uma palavra estrangeira? –perguntou Holmes.

Estrangeira de além das estrelas... –murmurou o Doutor, com seus botões. Holmes, porém, enrugou a testa.

—O que quer dizer com “além das estrelas...?”

—Quer dizer que era um Extraterrestre?—indagou Alicia, pasma. –Um extraterrestre de verdade, como o do filme do Spilberg?

O Doutor parou para fazer uma análise.

—É... Mais ou menos o ET. Mas coloque muito mais altura, muito mais largura, uma pele vermelha, a capacidade de copiar o corpo de outras formas de vida, uma baba excessivamente nojenta e venenosa, e um gênio um tanto indomável... –o Doutor ponderou. –É uma versão completamente oposta á do ET. Talvez essa não tenha sido mesmo uma boa analogia. O pobrezinho nem sabia como ligar pra casa... Essas criaturas são inteiramente ardilosas! Capazes de se habituar aos costumes de outras espécies muito mais facilmente do que imaginamos...

—Mas esse Zygon que você mencionou... –recomeçou Holmes. –Ele está por trás de tudo isso? Você sabe para quem ele trabalha?

—Eles servem á própria raça. Os Zygons. E sim. Imagino que sejam os principais culpados de todo esse importuno...

—Mas aqueles dois... John e Melissa. O que aconteceu com eles? –indagou o dr. Watson.

—Eles foram copiados. Os Zygons assimilaram seu DNA e roubaram sua forma humana. –ele suspirou. -O lado bom em tudo isso é que eu sei que aqueles dois estão vivos em algum lugar desse expresso... Melissa e John Travolta não se entregariam tão fácil ao inimigo. Não aqueles dois! Agora mesmo, devem estar dando pontapés em algum vigia Zygon. Se é que eles se deram ao luxo de contratar vigias... O que você acha Luisa? —ele animou-se, procurando Luisa com os olhar. A garota sempre sustentava suas idéias malucas, porém, naquele dia, foi encontrar a melhor amiga com um ar pensativo e o semblante um pouco distante, sentada próxima á janela do centro do vagão em que estavam. Ele aquietou-se de imediato. Empolgara-se tanto nos últimos minutos com a correria e a agitação que até se esquecera do ultimo ocorrido. Luisa ainda tinha o olhar um tanto melancólico, mas se esforçou ao máximo para lançar um pequeno sorriso ao amigo. Eles haviam conversado muito na ultima meia hora, e ela já se sentia um pouco melhor quanto á possível idéia da gravidez. Porém, mesmo assim falou:

—Você está errado... –e desviou os olhos por um momento. –Melissa não deve estar dando pontapés num guarda... -o Doutor fitou-a com pesar. Mas, em meio á sua tentativa de agradá-la, respeitando sua opinião, eis que a amiga abriu um imenso sorriso: -Á essa altura do campeonato, Melissa deve estar gritando no ouvido do Zygon e usando a pele dele como trampolim... —Luisa sorriu largo, com a brincadeira.

O Doutor se encantou com a atitude dela.

É assim que se fala... Minha garota fantástica!—e deu-lhe um abraço imenso, que a fez tirar os pés do chão. Porém, imediatamente, ela sentiu algo no estômago se torcer e antecipou o termino do abraço.

—Ai... –ela apalpou a barriga, fazendo uma mera cara de dor.

—Ah, não... –o Doutor pareceu ficar até com os ossos congelados, de medo que pudesse ter machucado sua amiga. –Me desculpa! Me perdoa! Por tudo que é sagrado nesse universo! Foi sem querer... –ele não sabia onde por as mãos. Luisa acabou sorrindo com sua ação atrapalhada.

Ah... Não precisa se desculpar... –ela assegurou, acalmando-o. -Está tudo bem... Foi só uma cólica á toa... –então se deteve, meramente surpresa. –Meu Deus! Eu disse cólica?—a menina indagou, sorrindo radiante para ele.

—Eu... Acho que sim... –ele devolveu-lhe um sorriso, ainda um pouco confuso. –Desculpe... Isso é bom?

Se é bom?—Luisa comemorou, envolvendo-o em um abraço caloroso. –Isso é fabuloso! Para uma garota que acreditou estar ficando doente, ou maluca por ter engravidado “do nada”... É, com certeza, o melhor sinal que eu poderia ter recebido, comprovando que tudo não passou de uma enorme confusão!

—Mas...–o Doutor sorriu, retribuindo o abraço, meramente confuso. –Um sinal? Como é que é?

Luisa se separou dele por um momento, respirando fundo, tentando se conter para conseguir explicar-lhe tudo:

—O que eu acabei de sentir, foi uma cólica... –ela explicou. –O que é gerado por um ciclo bem feminino e que, em geral, é suspenso quando a mulher fica grávida. O que automaticamente significa que, reforçando todas as minhas antigas suspeitas e afirmações: Eu não estou grávida!

—Ah! SÉRIO? –o Doutor festejou junto com ela. –Que maravilha! Quero dizer, é uma maravilha, não é? Você está feliz por isso, não está? –ele se assegurou, antes de fazer mais festa.

—CLARO QUE EU ESTOU! –ela segurou seus braços, e ambos saltitaram, comemorando juntos. –Acha que eu ia ficar super feliz por ter um “filho do vento?” Qual é!? Como eu poderia ter ficado grávida, do nada, sem uma explicação científica plausível? –o Doutor a colou de volta no chão e ela interrompeu a fala por um instante. –Isso é maluquice... Sempre foi! Impossível! Fora de questão... Totalmente inumano!

Claro que sim... –ele disse, pensativo. Então, percebendo que ela o observava, emendou: –É muito bom ter você de volta na equipe...

—Obrigada! –ela apertou sua mão, alegremente.

—Que bom que esse pequeno contratempo foi esclarecido... –alegrou-se o dr. Watson. –Como eu disse anteriormente, poderia ser gravidez ou não. A verdade é que muitas mulheres tem sintomas incômodos, próximos há época das regras, e esses sintomas podem variar de organismo feminino para organismo feminino. Isso é fato. Agora, está claro como o dia, que no seu caso os enjôos e vertigens foram proporcionados por outra coisa. Uma rápida alteração de hormônios, eu diria... De qualquer jeito, fico muito feliz em saber que tudo acabou bem para a senhorita. –o médico ajeitou o chapéu coco na cabeça. -Aparentemente, a pequena porcentagem de uma não gravidez, estava correta... Eu disse que o diagnostico final se comprovaria muito em breve, não disse?

—Obrigada, dr. Watson. –ela agradeceu ao médico, apertando-lhe a mão com sua mão livre, ao que a outra palma mantinha-se ocupada, presa ás costas do melhor amigo. –Isso foi realmente um alivio... Eu disse para o senhor que não estava grávida!

—Sim, minha cara. A senhorita me falou... Mas, devido ao seu desespero repentino, tirei meias conclusões precipitadas, que no final se comprovaram erradas. –ele ajeitou o colarinho. -Imaginei que pudesse ter ficado grávida por acidente. Muitas mulheres se desesperam em situação parecida... E, para minha percepção, seus sintomas relatados e reações espontâneas estavam se adequando bem ao papel...

Eu disse á vocês que a garota não tinha nada!—replicou Holmes. –Eu avisei á você, Watson! Não negue! Eu disse que a garota não tinha os verdadeiros indícios de estar realmente grávida... O brilho no olhar, a pele mais esbelta, coisas inchando pra lá e pra cá... É obvio que para começar a sentir enjôos e vertigens em uma gravidez, ela já deveria estar grávida de algumas semanas, e não de um dia e meio! —ele destacou. -Mas ao invés de me ouvir, você preferiu alarmar a moça com um diagnóstico falso e notícias errôneas, cheias de pormenores e porcentagens eloqüentes... –disse ele, convencido de sua tese.

Watson sorriu, consultando o relógio de bolso.

—Já acabou com o sermão?

—Ainda não... –Holmes ponderou, lançando-lhe um olhar penetrante de “eu te disse”. –Agora sim. Já acabei.

O Doutor sorriu para Luisa e a garota levou a mão á testa, automaticamente.

Toda essa confusão por causa de um sonho bobo... –a garota murmurou, distante.

—O quê que foi? –o Doutor enrugou a testa. –Sonho, você disse?

—É. Eu cochilei um pouco, mais cedo, na ala dos dormitórios e acordei passando mal... –ela narrou, pensativa. –O estranho, é que não consigo me lembrar de nada... O sonho literalmente se apagou!

O Doutor fitou-a intrigado.  

Quer dizer que seu sonho deixou-a assim?—ele indagou, baixinho, só para ela ouvir. –“Então, você não lembra com o que sonhou, mas sabe que isso a fez passar mal”. Ótimo! Quero que me conte mais sobre isso depois... Por hora só me responda uma coisa: Você acha possível que tivesse sonhado estar grávida?

Luisa voltou-se para ele de imediato, parecendo um tanto espantada. Sua expressão já dissera tudo.

—Como eu imaginei. –o Doutor afirmou. –Esse seu sonho deve ter mexido com alguma coisa no seu subconsciente, como quando você é criança e sonha que está molhado, para acordar depois e descobrir que fez xixi na cama...

Luisa franziu o cenho.

Então todos os sintomas se seguiram como um reflexo do meu sonho?

—Provavelmente. A idéia deve ter se materializado no seu subconsciente enquanto você cochilava, criando uma sensação incômoda e real, resultando nos sintomas que você sentiu ao abrir os olhos e recobrar a consciência... –ele colocou a língua no céu da boca. –Como no caso de uma gravidez psicológica.

Luisa ergueu as duas sobrancelhas.

Então eu tive um tipo de gravidez psicológica?—ela estranhou, fazendo uma careta. –Caramba! Sempre achei essa idéia tão superficial...

Gravidez psicológica? O que não vemos hoje em dia... –riu Holmes, intrometendo-se na conversa, longe dali, apoiado ao batente da porta. Ou eles estavam disfarçando mal sua conversa, ou o detetive tinha um ouvido e tanto... E, conhecendo Holmes como eles conheciam, diriam que as duas coisas.

—Que bom que agora você está bem! –Alicia correu para abraçar Luisa.

—Sim! Com certeza foi a melhor notícia do dia... –Olívia alisou o braço de Luisa, feliz por ela estar melhor. -Mas e quanto aos tais Zygons?—perguntou Olívia ao Doutor. -Aquelas coisas lá fora vão voltar para nos perseguir?

—Não sei ao certo... –ele ponderou. –Ainda não entendi o porque estão aqui...

—Mas eu os vi Doutor, e mesmo assim não consigo assimilar tudo com tanta facilidade quanto você faz... –exclamou Holmes.

—É porque esse costuma ser meu departamento. –o Doutor assinalou. –Por isso propus uma parceria. O que eu não sei, você sabe e o que você não sabe, eu sei... Não seria difícil trabalhar em equipe dessa forma, sabendo que um completaria os conhecimentos do outro, ao invés de tentar competir pelo primeiro lugar no podium da genialidade.

—Mas vejo que você fala de tudo isso naturalmente Doutor... Já viu isso antes, não foi? Muitas vezes...

—Assim como você conferiu assassinatos aos montes. E não ficou surpreso com os danos que encontrou nos cadáveres.

Holmes encarou-o por um momento.

—Se você sabe tanto sobre esses Zygons, deve ser porque já lutou contra eles anteriormente...

—Com certeza. –o Doutor assentiu. –Apesar de eu pensar nesse reencontro como sorte...

Mas eles são o quê, exatamente?—Holmes esfregou os olhos. –Deus! O que estou fazendo? Tentando me habituar á idéias amalucadas que não cabem á mente realista de um cientista compenetrado... O que me fez aceitar tão facilmente esse monte de coisas impossíveis?

O Doutor emparelhou-se com ele, fitando o horizonte, junto de Holmes.

—O canto do olho?

—Como é?

—Muito do que você desconhece pode ser visto ou relatado pelo canto do olho, mas como, em grande parte das vezes, o vislumbre é datado como “impossível” ou “desconhecido” para o seu cérebro, a evidencia é imediatamente apagada, como se nada passasse de um vulto imaginário...

—Então... Isso é real? –ele perguntou, incrédulo. -Quero dizer... O culpado é mesmo de outro mundo?  

O Doutor fitou-o por um segundo.

Ah... Holmes, Holmes... Eu detesto ter que decepcionar você e suas habilidades de dedução, mas acredito que realmente possa ser alguma coisa do gênero. –o Senhor do Tempo fez uma pequena pausa. -Em hipótese, seria o primeiro caso que você renunciaria, isso se não tivéssemos nos encontrado e proposto uma sábia parceria... –o Doutor fitou-o cara a cara. -Acredite Holmes, eu sou o único que acreditará nos relatos seus sobre coisas que apenas consegue ver pelo canto do olho... Sou o único que pode ajudá-lo agora.

—Então muito bem –Sherlock fitou-o fixamente. –Vamos ao trabalho! Posso até não acreditar em coisas que não são facilmente esclarecidas, mas sou inteligente o bastante para não ignorar uma evidencia quando ela bate de encontro com meu nariz...

—Muito bom, Holmes... –o Doutor sorriu, apertando sua mão. –Expandindo a mente com conhecimentos novos... Gostei!

—E o que faremos agora? –indagou Luisa. –Melissa e John Travolta ainda podem estar perdidos pelo trem... Como faremos para encontrá-los?  

—Tudo há seu tempo –o Doutor articulou. –Primeiro, precisamos de um plano. Um plano para que possamos absorver todos os detalhes do plano dos Zygons, antes que eles executem seja lá o que pretendam fazer... –ele semi-cerrou os dentes. –Eu preciso ter uma conversinha com eles...

—Porque não damos uma outra olhada no vagão onde o Chefe foi morto...? Pode haver alguma pista importante por lá... –anunciou Alicia. –E, se estivermos certos, e os tais Zygons estiverem tão presos ao trem quanto nós, então talvez tenhamos uma chance de encontrá-los pelo caminho...

—Tem razão. –Holmes aprovou. –Começamos então pelo começo... Agora, sem mais delongas, lidere o caminho, Lenner!

Apenas com um aceno de cabeça e uma trocada rápida de olhares com Olívia, Alicia tornou a sair correndo pela porta oposta á que chegaram, seguindo para o norte do trem, onde as duas haviam investigado juntas. Os demais as seguiram, certos de que no mínimo estariam na pista certa.

A todo momento percorriam vagões estreitos e amplos, com papeis de parede sempre iguais, e iluminação cada vez pior. Estavam se aproximando da cabine do maquinista, e isso significava automaticamente, que também estariam perto da fonte de alimentação do carvoeiro do trem: o vagão-caçamba cheio até em cima, com carvão. Não havia nenhum problema em estarem se dirigindo para lá, já que os passageiros poderiam ficar onde bem quisessem em toda a extensão da Maria-fumaça. O único importuno era ter que agüentar o calor da clareira, (que aumentava cada minuto), de tempo em tempo precisando engolir mais carvão para fornecer combustível para a máquina de ferro. Não passou muito tempo, eles chegaram á um vagão em condições deploráveis comparado aos antecessores: a luz da luminária estava inconstante, e foi difícil de se deslocar por ele. Parecia ter muito mais mesas, cadeiras, poltronas e objetos espalhados pelo chão, de modo a tornar sua ultrapassagem um tanto complicada. Alicia e Olívia não lembravam de terem encontrado o lugar naquelas condições da primeira vez que passaram por lá.

—Isso é ridículo! –resmungou Luisa, massageando a testa que batera sem querer em um obstáculo que relatou ter “surgido de repente”, juntamente com o auxilio das inconvenientes piscadas de luz. – Não consigo enxergar nada! Vamos acabar nos arrebentando todos antes de termos terminado de atravessar esse corredor!

—Exato –o Doutor afirmou, parando junto dela. –Mas só se eu deixar de fazer isso... –e apontou a chave sônica para o teto, aparentemente alimentando um pouco mais o fogo da lamparina.

De repente, tudo se acendeu, e a visão que tiveram lhes fez gritar de susto: Havia dois corpos humanos de braços abertos, cobertos por gosmas vermelhas e algum tipo de tentáculo, com a consistência de alga marinha, por toda a extensão do corpo, e em especial na cabeça. Desta forma, era quase impossível distinguir de quem se tratava. Havia duas extremidades do mesmo material, grosso, vermelho e nojento, esticadas e presas ao teto feito chiclete, sustentando os dois corpos acima do chão. A “decoração” também estava dispersa pelo solado do trem, também dificultando a caminhada.

Após o susto, Luisa deu um passo á frente, apertando os olhos: conhecia aqueles tênis de algum lugar...

—Por Deus! É MELISSA! –ela gritou, deixando o amigo embasbacado.

—E aquele deve ser o John! –exasperou-se Olívia. –Oh! Meu Deus... Será que ainda estão vivos?

O Doutor correu de encontro com os dois corpos pendurados, ainda com a chave de fenda sônica em punho, acionando-a agitadamente.

   -Ué, Doutor... A chave sônica não tinha quebrado? –perguntou Luisa. Ela vinha notando o amigo usando a chave vez ou outra, mesmo depois do diagnóstico ruim.

   -Bem, parece estar estabilizando aos poucos... Talvez não tenha sido tão grave quanto eu pensei. É possível que apenas a função de scanner tenha se tornado inoperante. De qualquer forma, descobriremos em breve. –falou, na velocidade da luz, enquanto estudava a situação de Melissa e John. –Rá! Eles estão vivos!—brandiu contente. Então escalou o ninho de resíduo vermelho e tirou a grande quantidade que havia sobre as cabeças dos dois. Seus rostos revelaram-se intactos, apesar de Melissa e John continuarem desacordados. O Doutor pôs-se a desamarrá-los, com seus dedos ágeis, ao mesmo tempo que dava explicações: -Essa coisa... Essa gosma... É dos Zygons. São eles que fabricam essa meleca após terem caçado uma vítima. –ele fez sinal para os outros virem ajudá-lo a soltar os dois. –Olívia, Alicia e Watson... Soltem o John! Luisa e eu nos ocuparemos com Melissa! –ele fez uma pausa em que olhou para o detetive –Enquanto a você, Holmes... Ah... Tente não perder a razão, okay?

O detetive empertigou-se por um momento, visivelmente chocado e abalado com aquela visão.

Não dá... Ele está muito preso! —gritou Olívia, puxando com todas as forças. Alicia e o dr. Watson estavam logo atrás, ajudando-a a puxar em direções diferentes. Holmes continuou parado no mesmo lugar, só contemplando tudo, de uma forma boquiaberta e estupefata. Fazia tempo que um caso não o deixava sem palavras. Talvez nunca houvera, de fato, um caso que o deixasse tão pasmo quanto aquele.

—Espera aí! –o Doutor e Watson deram um puxão para lacear a cintura de John. –Tentem agora!

—Não dá! –retorquiu Alicia. –Ele está muito preso... E com a altura que ele tem, não será fácil tirá-lo daí!

—Então eles vão ter que nos ajudar! –o Doutor gritou, saltando de volta para o chão e correndo na direção de Holmes. O detetive abriu espaço para ele passar e o Senhor do Tempo agarrou dois copos de água, lançando-lhe um olhar lunático, novamente batendo perna de volta á pequena platéia de olhares curiosos que o acompanhavam ir e voltar, ao lado dos corpos amarrados. –Desculpem por isso... –e atirou um copo de água na cara de John e outro em Melissa.

—Ah! –gemeu John.

—Que droga! –gritou Melissa, irritada. Então viu o Doutor e Luisa perto de si, desamarrando freneticamente um monte de coisas que estavam envoltas de seu corpo e ficou atônita com essa visão. –O que é isso? O que está acontecendo?

—Vocês dois foram pegos pelos Zygons –o Doutor respondeu na velocidade da luz. Ela procurou o apoio de Luisa para esclarecer tudo de modo inteligível.

—Os Zygons são aliens. –Luisa esclareceu. –Eles pegaram você e John para copiar sua imagem e poderem se infiltrar no nosso grupo e descobrir nossos próximos passos...

—Na maioria das vezes, os deixam expostos por aí, envoltos por essa consistência vermelha e gelatinosa, feito um troféu ou uma “obra de arte Zygon”. –o Doutor tagarelou. -Isso quando não resolvem matá-los logo no principio. Mas eles nem sempre fazem isso. Em alguns casos, se acharem as formas de vida insignificantes o bastante para não atrapalharem seus planos, eles as deixam viver... –o Doutor soltou um braço de Melissa e olhou para John, pressentindo que falara besteira. –Com toda certeza, isso não lhe diz respeito...

EI! Alien Maldito!—Melissa gritou, estapeando-lhe o rosto com a mão recém liberta. Doendo-se por conta da ofensa. –Estava tentando bancar o engraçadinho? Porque não funcionou...

Ai!—ele exclamou massageando o rosto. –E ainda dizem que ter uma equipe vale á pena...

—Precisamos da ajuda de vocês para soltá-los! –informou-lhes Luisa. –Comessem a tentar mover os músculos, que nós faremos o resto...

—HOLMES! –o Doutor gritou, fazendo o detetive se sobressaltar. –Já teve tempo o bastante para assimilar... Mãos á obra, homem!

Em meio á toda aquela confusão de mão esticando e puxando, Melissa e John cooperaram bem. Holmes finalmente se recompôs e correu para ajudá-los também. Em pouco tempo, a dupla já estava liberta e o grupo todo, comemorando o trabalho em equipe.

—Os Zygons. Primeiro utilizam o corpo da vítima para copiar sua forma, então terminam mantendo a pessoa em suspensão, para uma possível futura coleta de dados; Isso ou então as descartam. Uma coisa é certa: de todos os assassinos sanguinários que já encontramos pela frente, ao menos com os Zygons você pode ter uma esperança um pouco maior de que seus amigos estejam vivos, mesmo depois de terem sido capturados. Se fossem Daleks, a coisa mudaria muito de figura...

—Pode contar com isso! –Luisa afirmou, arregalando os olhos por um segundo.

—Entretanto devemos continuar... –o Doutor prosseguiu. –Ainda precisamos descobrir o plano dos Zygons, encontrar Marty McFly e os outros passageiros, isso sem esquecer de procurar pelo paradeiro do dr. Brown...

—Isso tudo em um dia? –Luisa franziu o cenho. –O tempo é estranho visto dessa forma... Hoje de manhã estávamos no Expresso Continental, agora estamos no Expresso Oriente, em 1930, procurando por um cientista desaparecido, e sendo perseguidos por alienígenas gosmentos...

—Meramente gosmentos –o Doutor acrescentou. –Só expelem a gosma depois de capturarem uma vítima.

—Certo, mas a pergunta é: Devemos procurar encrenca?—argumentou Melissa. –Por que eu e John ficamos cara á cara com aquelas coisas e não foi nada agradável...

—Pois é. Como se não bastasse nos envolver em gosma e assumir nossas formas, eles também nos trouxeram para a ala norte do trem, sei lá como, e nos largaram aqui para morrer longe de onde vocês poderiam nos procurar, ou seja: ala Sul, onde nós estávamos investigando. –completou John Travolta.

—É isso aí... Não sei vocês, mas minha vontade de ir atrás desses caras é ZERO –concluiu Melissa, cruzando os braços. –Ainda por cima depois de tudo o que passamos nas mãos deles...

—Você não é a única que esteve tendo um dia difícil... –Luisa desabafou.

—É. Não é todo dia que alguém tem sintomas de gravidez, sem estar grávida... –comentou o Doutor, inconseqüentemente, passando os braços ao redor das duas amigas, envolvendo-as junto á si, uma de cada lado.

Melissa fitou a melhor amiga, perplexa.

—Espero que “GRÁVIDA” seja algum código binário de uma bomba, ou uma mensagem de Código Morce captada pela chave sônica... –ela disse à Luisa, prendendo o ar nos pulmões. –Porque isso não tem graça nenhuma!

—Esqueça isso Melissa. Não é nada do que parece! Eu explico tudo depois... –assegurou Luisa, acalmando-a.

—Bem, então o que estamos esperando? –Alicia sorriu, tomando a frente do grupo novamente. –Vamos continuar nossa busca!

Em pouco tempo, chegaram enfim ao vagão onde ocorrera o assassinato, e levaram um novo susto: O morto desaparecera.

—Quem faria uma coisa dessas? –questionou-se Olívia, incrédula. –Ele estava bem aqui! Eu me lembro!

—Deve haver algum tipo de explicação... –o Doutor murmurou, pensativo, observando todos os detalhes da sala, tamborilando nos dedos o frasquinho com a pequena amostra das plantas gigantes que coletara mais cedo. -Isso aqui não é Zygon. Não é do perfil deles darem tiros com armas, usarem venenos terrestres para assassinar alguém ou recriarem a biologia das plantas... Eles só absorvem formas de vivas de outros seres vivos!

—Exato. E isso significaria que eles tiveram ajuda de alguém desse planeta. O que automaticamente nos revela, que tem mais uma peça nesse quebra cabeça. Além disso, ele tem um metro e setenta; um pequeno problema no joelho esquerdo, por isso deixou marcas arrastadas no carpete do vagão, já que mancava de uma perna; e estava usando sapatos altos. Dá pra ver que as marcas deixadas pelo calcanhar eram muito finas e fundas, demonstrando o quanto seu dono tinha dificuldade para se estabilizar ao andar. –Holmes adivinhou. –Como eu disse Doutor: Espécies á parte, sempre há o maldito cão de um ser humano metido nos crimes...

—Tem toda razão –o Doutor se abaixou, com os óculos de armação quadrada á postos, para observar as marcas. –E tem mais umas marquinhas por todo o carpete. Quatro. São sempre quatro...

—Patas de cachorro. –deduziu Holmes sem dificuldade. –Oh! Mais isso explica muito... A única pessoa que trouxe um cachorro á bordo foi...

—A senhora Lancaster. –Melissa completou.

—Bom, aqui está o nosso culpado... -o Doutor apoiou-se nos joelhos e erguendo-se do chão de um só salto, tirando os óculos.

—Mas a senhora Lancaster esteve o tempo todo no dormitório enquanto eu e o Doutor fazíamos uma vistoria... Eu me lembro disso! –afirmou Luisa.

—E também foi a primeira pessoa que encontramos nesse trem... –interveio John Travolta. –Por que ela estava longe do vagão interrogatório? Por que não esperou Sherlock Holmes terminar de questionar todos os sobreviventes antes de se distanciar?

Alicia pareceu atinar sobre o assunto.

—Porque ela sabia que o próximo passo seria revirar os dormitórios, então tomou cuidado para se desfazer das provas antes mesmo de alguém propor uma vistoria...

—Magnífico! –Holmes sorriu para ela, muito satisfeito. –Isso certamente tem algum fundo de verdade...

—Mas e quanto ás plantas-carnívoras gigantescas que proporcionaram o ataque mais cedo? –propôs Olívia. Eles ainda não haviam suposto nada sobre essa parte do mistério.

—Olívia tem razão. –sustentou Melissa. -Quem as criou? Por que nos atacaram? O que vocês acham que elas eram? Alienígenas também, do mesmo planeta dos Zygons?

—Isso seria impossível. -o Doutor se prontificou. –Os Zygons não tem mais um planeta há muitos séculos... Na verdade, vivem querendo fazer do planeta Terra seu lar, expurgando toda a raça humana da superfície. 

Holmes coçou os olhos, caminhando por alguns instantes, distanciando-se um pouco dos demais companheiros, mergulhado em seu caldeirão de deduções.

—Acredito que o ataque repentino dessas anomalias possa ter sido algum tipo de distração. Um ato de abertura para o show principal... Assim como um moribundo que lhe aborda na rua para lhe fazer uma pergunta, enquanto lhe toma a carteira do bolso... –ele fez uma pausa. –Quanto ao que elas eram, precisamente... Hoje cedo recolhi algumas amostras, assim como o Doutor fizera. Examinei-as antes de enviar Watson em uma ultima vistoria pelo expresso, á procura de mais sobreviventes...

—E o que descobriu? –indagou Alicia, curiosa.

—Descobri que as plantas haviam sido geneticamente alteradas. Mas não creio que isso seja obra daquelas criaturas, muito menos esse assassinato. Como a senhorita mesmo disse, o homem foi baleado e depois, deixado para morrer como em uma câmara de gás, com cianeto. Aquelas criaturas, por outro lado, não mataram seus dois colegas, Rivera e Travolta. Apenas se utilizaram deles para conseguirem uma vantagem sobre nós. Nada mais. –ele tamborilava nervosamente os dedos da mão direita sob o braço esquerdo, quando inclinou-se para frente para lhe confessar suas ultimas deduções: -Quer saber? Eu não acredito que esses tais Zygons possam estar por trás de tudo isso. Quer dizer, eu aceito sua existência, por mais que ainda guarde certas dúvidas, mas não consigo assimilar a idéia de que essas criaturas possas ter surgido do nada e feito tudo isso... Não sei se concordaria comigo, senhorita Lenner, mas todo esse mistério me parece ter um quê característico do próprio ser humano. Para mim, não há como tudo ter sido feito sem a ajuda de um homem desvirtuado. E eu duvido que a senhora Lancaster, apesar de ter participação no caso, tenha sido capaz de recriar a biologia do material genético daquelas plantas, sozinha, sem a ajuda de um terceiro.

Alicia ergueu as sobrancelhas.

—Está supondo que os extraterrestres tenham tido ainda mais ajuda humana?

—Precisamente.

—Você tem razão, meu velho –Watson intrometeu-se, sem aviso prévio, fazendo todos voltaram-se para si. –Há também um homem metido nesse crime. –e apanhou um objeto no chão. -Veja só o que eu encontrei: Um pedaço de papel chamuscado e fios de cabelo branco.

Todos se aglomeraram em uma rodinha, para contemplar as pistas.

—Como sabe que o cabelo branco é humano? –indagou Melissa. –Não poderia pertencer á um Zygon caquético?

—Nem em sonho! –o Doutor sorriu. –Os Zygons não adquirem uma coloração branca ao envelhecerem... Na verdade, ficam ainda mais vermelhos.

—Então essas mechas só pode pertencer á um idoso... –Luisa assinalou. –Só há dois aristocratas grisalhos á bordo, que se encaixariam perfeitamente na fixa...

—Mas os cabelos estavam juntos á esse panfleto. –interveio Watson, passando os olhos pelo pedaço de papel. –O que é “Expresso Continental”?

—É de onde viemos! –Alicia se animou, aproximando-se para conferir o anuncio.

—O folheto é uma propaganda do Expresso Continental. –afirmou Olívia. –Mas o que está fazendo aqui, em 1930?

—Talvez o nosso novo suspeito seja originário do futuro, e não de 1930! –comentou o Doutor. –Talvez tenha sido ele quem alterara o DNA das plantas-carnívoras assassinas... Talvez nem esteja mais entre nós. Pode ter feito tudo por encomenda e ter sido pago com alguma coisa em troca... Conhecendo os Zygons como eu conheço, “A possibilidade de continuar vivo”, seria um tipo razoável de pagamento; –ele fez uma pausa, analisando sua própria fala. –Ou... Ele pode ter sido mantido prisioneiro. Sim! Ele ainda está por aqui... E posso imaginar porque: Os Zygons jamais poderia libertar uma pessoa que possuísse informações suficientes para conspirar contra eles.  Sim, sim... Ele ainda deve estar á bordo!

—Se ele veio do futuro, como você diz, então não pode ser nenhum daqueles senhores... –Luisa averiguou. –Eles eram cordiais demais para serem do futuro...

—Por que vocês falam sempre tanto do futuro como se “ele” estivesse logo aí, atrás dessa porta, para o nosso livre alcance? –interveio Holmes, intrigado. –Eu venho os observando desde que chegaram, e devo admitir que isso vem me intrigando desde que nos conhecemos. Seus jeitos peculiares de se vestirem, se expressarem, e agirem... Para mim não restam dúvidas de que, assim como esses tais Zygons, vocês também não são desse mundo! –Holmes constatou, por surpresa deles.

—Somos sim. Todos nós temos a Terra como nosso lar. –o Doutor acrescentou. –Esse planeta acolhe muitos desiludidos... É o lar de muitas espécies. Algumas visíveis e conhecidas, outras, nem tanto...

Está me dizendo que vieram dessa mesma Londres que eu e Watson?—Holmes zombou, incrédulo. –Com essas roupas e todo o resto?—ele levou o cachimbo aos lábios e deu uma tragada, rindo á toa. –Santo Deus! Se andassem livremente nas ruas de Londres, como fazem á bordo desse expresso, já teriam sido presos há muito tempo, por infringirem os bons modos e a etiqueta... 

—É. Nós não somos exatamente dessa cidade... Quero dizer, alguns de nós são... Mas não especificamente deste século... –o Doutor resolveu abrir o jogo. Holmes e Watson deixaram os queixos caírem. –Eu lamento quebrar novamente sua linha de raciocínio, Holmes, mas nós não apenas lidamos com criaturas de outros planetas... Nós viemos do futuro. Do seu futuro. Do futuro do planeta Terra, especificamente, do ano de 2050...

—Pelas terríveis deduções de Gregson e Lestrade! –Sherlock exclamou. –Os cavalheiros e as damas vieram do futuro!? —disse pasmo, para o companheiro.

—Mas isso é impossível... –ponderou Watson. –Não deve passar de uma brincadeira... Estão nos pregando uma peça?

—Esqueça o impossível! O folheto vem com dia, mês e ano marcados... Vejam com seus próprios olhos! –Alicia entregou-lhe o papel novamente. –Viram? Aqui diz: 15 de março de 2050!

—É verdade Holmes... –Watson afirmou, com assombro. –Foi impresso com essa data.

Ih! Olha só que engraçado! Tem umas letrinhas escritas com caneta azul no verso do panfleto... –Melissa achou graça. Dito isso, todos se aproximaram para tentar conferir.

—Será uma pista deixada pelo assassino ou pelo prisioneiro?—indagou Alicia, entretida.

—Não sei, mas vamos descobrir agora... –Melissa forçou a vista para tentar entender a caligrafia. -Está meio borrado, mas eu acho que consigo decifrar... Acho que está escrito: “NÃO DEIXE ELES PEGAREM SUA M.T; Ass: Dr. Brown ”. É do doutor Brown! Ele deixou uma pista para nós...

—O que é “M.T”? –perguntou Luisa, intrigada. –O que ele quis dizer com isso?

—“M.T.”—o Doutor repetiu, fitando o horizonte, com uma expressão imparcial no rosto. -Maquina do Tempo.

Luisa e Melissa fitaram-no no mesmo instante, receosas.

Eles querem minha máquina do tempo! Os Zygons devem precisar dela para alguma coisa... Devem ter ficado presos em 1930 por engano... Foi por causa deles que os dois trens tiveram as linhas de tempo conectadas! Agora tudo faz sentido! As plantas foram realmente um sinal! O sinal para conseguirem intercalar um evento ao outro, como se tivessem reinventado o cronômetro! Eles estipularam essa ligação. O tempo está em constante mudança... O que, claro, colaborou para que um evento desse porte pudesse ser executado sem problemas. Eles criaram um paradoxo! Um paradoxo entre épocas, quase causando um buraco no tecido da realidade, só para poderem viajar no tempo! Mas isso é muito egoísmo... Poderiam ter extinto a raça humana inteira por um mero capricho! —o Doutor disparou, tagarelando. Um tom raivoso reinava em sua voz normalmente pacífica. -Eles devem ter ficado sem energia... Entraram em desespero e, ao invés de pedir socorro, preferiram dar um verdadeiro nó no tecido da realidade!

—Isso parece muito ruim... –Luisa comentou, sentindo a ira do amigo.

—É ainda pior! –o Doutor ponderou. –Eles querem minha TARDIS para terminar o serviço...

—Mas não irão tê-la! –Luisa bateu o pé. –Você á deixou escondida e em segurança, em 2050... Eles nunca irão encontrá-la!

—Eles não precisam mais procurar –o Doutor interveio, deixando a amiga confusa. –Agora que tem a mim, á bordo do Expresso Oriente, eles sabem que eu também estou preso aqui... Amenos, é claro, que eu ative o dispositivo da minha chave de fenda sônica que lança um sinal, imperceptível para nós, à minha nave e a atrai para onde eu estiver... É claro que isso só funciona com um certo limite de alcance... Mas agora que as realidades estão em fluxos misturados, a minha TARDIS no futuro pode estar muito mais próxima do que imaginamos...

—Então não há saída? –Melissa disse, desgostosa. –Estamos mesmo presos aqui? Não há como circundar a situação? Não podemos inventar um plano B, já que o plano A foi pro chinelo?

—Só há um jeito de reverter tudo isso... –ele anunciou, mantendo-se positivo. –Precisamos encontrar o doutor Brown! Foi ele que nos deixou essa pista... As respostas finais devem estar todas com ele! De acordo com Marty McFly, ele também é um viajante do tempo... –o Doutor fez uma pausa criativa. –Ará! Deve ser ele quem os Zygons estão mantendo prisioneiro...

—Mas... “O dr. Brown mudando a essência biológica das plantas carnívoras”? –Melissa indagou com sarcasmo. Pelo que meu primo conta, ele não faria mal á uma mosca sequer...

Mas você também não pensaria duas vezes em fazer algo que vá contra as leis da natureza se sua vida estivesse em jogo... –o Doutor assinalou, certeiro, e Melissa se calou. Até que aquele argumento tinha mesmo um fundo de verdade... -Ele deve ser o único capacitado a fazer tal coisa... Oh! Espere um momento... –o Doutor parecia pensativo, então sorriu com um olhar alucinado, e gritou do nada: -Multo Bane! Durante todo o nosso trajeto, Alicia e Olívia foram pro norte do trem; Melissa e John foram pro sul; Holmes e Watson recolheram pistas no centro e eu e Luisa revistamos os quartos... Agora uma charada para eu ver se vocês estavam realmente prestando atenção em tudo que eu disse... Aí vai: Qual foi o único lugar em que ainda não procuramos?

Todos pareceram atinar incrivelmente com a pergunta.

—Ah... –Alicia pensou um pouco e resolveu tentar um palpite: -A cabine do maquinista?—ela deu de ombros.

—A CABINE DO MAQUINISTA! –o Doutor saltitou, sorridente. –Aposto meus All Stars que o dr. Brown está lá, mantendo o trem em curso enquanto a bruxa corre solta, por aqui...

 -Então perderá seus tênis...—uma voz áspera rebateu. Quando deram por si, havia monstros vermelhos com cavidades montando guarda dos dois lados do vagão. Não havia como escapar. –Esperávamos que demorassem mais algumas horas para descobrirem todo o mistério... Que decepção!

—São Zygons! Ninguém faça movimentos bruscos! —o Doutor alertou. –Estamos cercados! Não há como escapar...

Mas que mocinho inteligente... —disse uma voz doce e conhecida. Surgindo por entre os Zygons horripilantes, abriu caminho, ninguém menos que a senhora Lancaster, com seu cãozinho insuportável. Ela sorria com desprezo, um pouco indiferente com tudo aquilo. –Eu suspeitei que fosse o segundo viajante do tempo escolhido desde o momento em que o vi pela primeira vez...

—Senhora Lancaster... –o Doutor tinha o semblante sombrio, assim como o de Sherlock. Ambos sentiam a traição daquele ser humano, como se cheirasse á vingança, e não gostavam nem um pouco dessa sensação. –Eu compreendo que tenha escolhido seu lado do tabuleiro, madame. O que não consigo entender, é porquê escolheu aos Zygons ao invés de seus semelhantes!?  

Hã! Quer motivos justificávelmente complacentes? Podemos ficar o dia todo aqui discutindo... –rebateu ela, com grosseria. –Só porque gosto de roupas caras e adornos com peles de animais não quer dizer que eu tenha que ser uma humana inteiramente superficial quanto ás coisas que ocorrem ao meu redor...

—Então a senhora os ajudou?

—Nem ajudei, nem tão pouco deixei de ajudar. –ela sorriu, sarcástica. –Digamos que eu apenas tenha cooperado com meu líder e senhor!

—E quem seria ele? –o Doutor perguntou com displicência, dando um risinho debochado. –Qual desses seus amiguinhos Zygons é o “cabeça da máfia”? “O Poderoso Chefão do pedaço”, hum?

—Nenhum deles –a mulher sorriu torto, de um jeito que os incomodou. –Ele está um degrau abaixo de nós... Quero dizer, em sua forma habitual, é obvio!

Exatamente!—uma voz fininha e esganiçada re-soou pelo espaço e todos voltaram-se para baixo, fitando abobados, o cachorro minúsculo da mulher, ainda na coleira, dirigir-lhes a palavra. –Eu sou o líder dos Zygons! E vocês, humanos intrometidos, não são nada além de osso pra eu estraçalhar!

O Doutor fez uma careta, incrédula.

Não pode ser... –ele agachou-se devagar. Um meio sorriso ousado revelou-se em seus lábios. –Você é o líder dos Zygons? Caramba! Nem em todos os mil anos da minha existência eu teria desconfiado disso... E quanto á você Holmes?

O detetive parecia petrificado.

—Acho que vou passar um bom tempo afastado de solucionar crimes, se sobrevivermos a isso... –ele pareceu atinar por um instante. -É. Está decidido! Vou tirar umas ferias permanentes...

O Doutor sorriu ainda mais largo, ao voltar-se de Holmes, para o cão.

—Mas então... Coisa canina—o Doutor ponderou. –O que trouxe você e seus amigos Zygons á perturbarem a paz no planeta Terra? –o Doutor fitou-os por um instante, á espera de uma boa explicação, mas como não houve resposta imediata, ele continuou: -Imagino que saibam o tamanho da gravidade que seu evento inconseqüente cause á esse planeta, e á todo o resto universo...

—Nós fizemos o que foi necessário. –insinuou a senhora Lancaster, abertamente. –O que é um pouco de dano, para o universo? Nosso prejuízo será muito maior do que algumas poucas rachaduras e fendas rompidas no tecido da realidade...

—Pode até ser que seja mesmo, mas isso não lhes dá o direito de chegar causando um enorme caos nas linhas do tempo do planeta Terra! Esse planeta nem é de vocês! Então vê se vão com calma quando lidarem com a propriedade dos outros...

Os Zygons lançaram-lhe olhares desejosos, como se estivessem com sede de briga. Muito em breve, eles viriam a atacar e, se o Doutor não fizesse nada para impedir aquilo, ainda quando houvesse tempo, seu grupo estaria em maus lençóis.

—Conte-me o porque resolveram fazer tudo isso –ele propôs, não deixando de fitar cada ponto estratégico da sala onde havia um Zygon á espera do comando para o ataque, enquanto articulava. –Se me contarem seus planos, talvez eu possa ajudar... Se for possível, é claro! E impedir de uma vez por todas que vocês causem mais desastres espaço-temporais.

A senhora Lancaster se empertigou por um momento, mas quem deu a palavra foi seu cão:

Nós queremos voltar á Unnamed ...  Precisamos retornar para o nosso planeta de origem enquanto ainda há tempo!

Mas isso é impossível!—o Doutor interveio. –Ele se acabou há muito tempo... A Guerra do Tempo devastou planetas e civilizações inteiras... Seu planeta ficou inabitável! Não há mais Zygons morando lá. Todos já se espalharam pelo universo, o que não é demasiado difícil para um ser que consegue mudar de forma –o Doutor constatou. –Olha, eu até entendo que vocês queiram um lar, mas não posso admitir que vocês fiquem migrando para planetas já populados, como a Terra, e tentem construir seu próprio império! Isso vai acabar causando uma revolta em massa da população inteira e vocês ainda vão acabar provocando uma guerra...

E o que isso importa para nós?—rosnou o cão. –Que se danem esses humanos nojentos! Nós adoraríamos provocar uma guerra civil, entre humanos e Zygons, para ver quem mereceria o planeta! Isso se esse fosse o propósito atual... —ele interveio, deixando o Doutor sem reação. -Ao contrário do que você pensa, Doutor, não estamos aqui para brigar por território. Estamos á procura de nosso lar originário! Descobrimos um meio de voltar até quando nosso mundo ainda existia, vivo e populado somente por Zygons. Mas não podemos fazer isso sem o auxilio de uma máquina do tempo...

—E combustível de Plutônio. –completou a senhora Lancaster. –Não há como voltarmos sem Plutônio. Uma maquina do tempo qualquer poderia nos transportar, mas ao chegarmos á nossa atmosfera, perderíamos energia e queimaríamos todo o motor do equipamento, provocando uma queda brusca e arriscada contra o solo. O plutônio, ao menos permitiria que pousássemos em segurança...

Vocês não vêem? Isso é um ponto fixo no tempo!—o Doutor repreendeu. –No momento em que voltarem para seu planeta natal, a realidade em que vivemos hoje será cancelada e a história do universo, reescrita! –ele trincou o maxilar, exasperado. -Se vocês voltarem exatamente agora, carregando consigo todas as experiências, histórias e estratégias que absolveram durante todos esses anos, poderiam facilmente impedir o curso de sua própria destruição!—o Doutor gritou, alarmado. -Com isso, toda a realidade será reescrita! Não só os Zygons; Não só esse planeta; Mas o universo inteiro!—o rapaz fixou o olhar no cão, repleto de ansiedade. –Não percebem? O universo todo sentirá o peso de uma espécie inteira que voltou á ativa para governar e explorar. Toda existência estará em jogo... É tolice continuar com isso!

É um jeito de ver as coisas—interveio o cão. –Também é a única forma de voltarmos para casa...

Mas por que querer fazer isso, assim de repente? Por que agora?—o Doutor insistiu, indignado.

—Por causa do nosso líder –a senhora Lancaster prosseguiu. –O nosso querido líder transformou-se em cão, há mais ou menos sete meses, para passar despercebido no mercado dos Aniquianos idiotas e arrumar um pouco de comida...

Isso se os Aniquianos estivessem fora do cardápio...–o Doutor tagarelou.

—O ponto está exatamente no que se pode constatar. É certo que nosso líder Zygon ficou preso no formato de animal desde então.

O Doutor contemplou o cão com outros olhos.

—Como foi que isso aconteceu?

—Um Aniquiano descobriu seu disfarce e transformou-o permanentemente em animal. Desde então, ele não consegue voltar á forma natural de seu ser. Por isso precisamos voltar para nosso planeta. Lá teremos recursos suficientes para desfazer a mutação...

Então é isso?—o Doutor ergueu as sobrancelhas, frustrado. -Vocês organizaram toda uma colisão de realidades, causando um desastre circunstancial para intercalar linhas do tempo distintas, deixando esse planeta todo em situação crítica, abrindo possíveis buracos no tecido da realidade, e ameaçando o equilíbrio total de todo o universo, só para manter a vaidade de seu líder Zygon!? Isso é muito egoísta! Isso é egocentrismo puro!

—Pouco nos importa o que você acha, Doutor! –retrucou a senhora Lancaster. –Os Zygons tem grandes planos para seu regresso. Não se trata apenas de uma recuperação de imagem...

Será um novo recomeço para a raça Zygon!—replicou o cão. -Dessa vez, iremos nos fortalecer e nos expandir além das estrelas. E depois, só para terminar, juraremos vingança à todas as raças que um dia cruzaram nosso caminho... Incluindo aqueles malditos Aniquianos!

—Ah! Então não é apenas uma “reuniãozinha familiar...” Também se trata de vingança. –o Doutor ponderou. –E vocês acham que esse novo motivo irá me fazer encarar toda essa maluquice de uma forma melhor? É ruim, hein!? É agora que vocês me deixaram irado!

Não precisamos de sua permissão, muito menos de sua benção! –interveio a senhora Lancaster. –Os Zygons precisam apenas de sua maquina do tempo...

Luisa fitou o melhor amigo, aturdida. Porém, o Doutor parecia calmo.

Eu não sei do que você está falando... –mentiu. –Se algum dia eu encontrar uma máquina do tempo, eu juro que venho aqui pessoalmente e conto pra vocês, fechado?—enrolou o Senhor do Tempo, bancando o “espertinho”.

A mulher estudou-o com olhos de águia.

—Nós levamos muito tempo para encontrar dois homens que possuíssem o que precisamos. Enfim, hoje os temos na palma da mão, exatamente onde queríamos...

—E o outro homem, conseqüentemente, seria o dr. Brown, eu presumo? –o Doutor sondou.  

—Ele também tem uma máquina do tempo, sabia? –ela ressaltou. -Foi o primeiro humano a obter sucesso criando um dispositivo que viajasse pelo tempo... O único problema é que sua máquina é pequena demais para todos nós. Em compensação, ela funciona a partir de Plutônio puro.

Por outro lado, nós precisávamos de uma maquina do tempo maior. –prosseguiu o cão. –Raqueamos a base secreta da UNIT e TORTHWOOD, á procura de algum dispositivo que poderíamos vir a usar... E veja o que encontramos: Sua bendita caixinha azul, maior por dentro do que por fora! O dispositivo perfeito para nos transportar pelas estrelas, através do tempo e do espaço!  

O Doutor ergueu a cabeça, sério. Não podia mais negar. Não contava que eles já obtivessem provas sobre a existência de sua TARDIS. Sobre essas novas circunstancias, não adiantaria mais bancar o “desentendido” sobre o assunto.

Tá legal... Vocês me pegaram!—ele admitiu. -Então pensaram que poderiam ligar a minha nave á do dr. Brown; Dessa forma, usando a força de duas máquinas do tempo, vocês conseguiriam muito mais que o impulso necessário para a viagem: Deixariam um rastro de destruição em massa, por onde passassem...

A ultima frase fez todos os companheiros do Doutor estremecerem.

É um sacrifício que vale a pena. –o cão ressaltou, acabando de deixar o Doutor completamente irado.

É! Mas nem em sonho eu vou permitir que isso aconteça!—ele gritou, dando um passo á frente e os Zygons sentiram que a hora de atacar estava próxima.

Então, que seja na marra...—anunciou o cão, com um sorriso sinistro, para um cachorro. –Ataquem! Destruam todos! Não permitam que eles atrapalhem nosso plano!

Todos já iam começar a recuar, mas não havia para onde fazê-lo já que tinha Zygons por toda a parte. Foi em meio aquela confusão, que Holmes, Watson e Alicia trocaram olhares estratégicos, e de repente, sem aviso prévio, atiraram cara um, um objeto qualquer que tinham no bolso, na direção de lugares estratégicos do teto, onde haviam borrifadores de gás Cianeto escondidos. No mesmo instante, os borrifadores ativaram-se e borrifaram o gás através do vagão, ao que os Zygons se atrapalharam e o grupo desvencilhou-se dos Aliens, escapando por pouco, e correndo com ainda mais afinco para a direção da cabine do maquinista, no começo do trem, esperando encontrar Marty McFly e o dr. Brown, á salvo.


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Notas finais do capítulo

WOU. É... eu acredito que a mente de vocês -se não estiver dando um nó a essa hora kkkkk -com certeza está naquele nível "CACETAAAAAAAAAAA" kkkkkk

Eu escolhi os Zygons pra essa aventura, porque achei que fossem os Aliens que se encaixariam melhor ao universo misterioso que a história propunha, até porque eles mudam de forma e isso dificulta a busca pelo culpado -e sim, é o cachorro. kkkk

Já tinham se esquecido do dr. Brown não é? Nunca esqueçam dos detalhes... -é um conselho do próprio Sherlock Holmes, diretamente pra vocês! Mas acreditem, muita água vai rolar ainda...

Espero que tenham gostado ;D Tudo aqui foi feito com muito amor e dedicação!

E semana que vem tem mais viu!? kkkkkk só aguardar a próxima segunda feira!

Beijos!!



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