Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 54
Invasão no Expresso Continental


Notas iniciais do capítulo

Hello!!! ;)

"A manchete do jornal tinha sido muito clara: Conversas a parte, o Doutor sabia que alguma coisa estava prestes a ocorrer com aquele trem... Contudo, mal sabia ele que uma enxurrada de coisas absurdas estavam a caminho".



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—Posso experimentar seu tênis?

—Oi? –o Doutor hesitou.

—Eu adoro All Stars... –Alicia sorriu.

—Está bem... –ele sorriu em retorno. -Mas eu acho que eles vão ficar um pouco grandes em você.

—Não tem problema! –ela animou-se, já tirando os sapatos laranjas. –E aí? Fico ou não fico bem de vermelho?

De repente, as pesadas lonas de ferro que cobriam as janelas começaram a se erguer automaticamente, surpreendendo os passageiros, até que a luz do sol invadisse todos os vagões do trem, e iluminasse-os com luz natural, por inteiro. Logo em seguida, a voz do maquinista ecoou por todos os vagões, a partir de megafones, instruindo-os:

“Vejam a magia do Expresso Continental em ação. Agora, deixando para trás o continente Europeu, partindo diretamente para o continente Americano. Vocês conferem neste instante, a passagem do trem sob o oceano. Desfrutem bem a paisagem e boa viagem!”.

—Uau! –exclamou Luisa encantada, espalmando a mão contra a janela que irradiava o sol do lado de fora. –Isso é incrível...

—Sinistro! –balbuciou Melissa, paralisada com a vista.

—Irado! –soltou Alicia, extasiada.

—Fantástico! –descreveu o Doutor, impressionado. –Olha só isso...

Ele apoiou a cabeça contra o vidro do trem, de modo que conseguiu vislumbrar o que desejava, mais embaixo do maquinário á todo vapor.

—Ai, meu Deus... Estamos nos movendo sob a água! –hesitou Luisa, prendendo o ar nos pulmões.

O fato era que o trem estava mesmo cruzando o oceano, mas sem tocar o mar de verdade. Estava literalmente flutuando acima das ondas que dividiam os continentes. Ao redor do trem, havia um tipo de túnel transparente que o envolvia como uma bolha gigante, impedindo que algum deslize deixasse o trem cair á deriva no oceano.

—Onde estão os trilhos? –indagou Melissa.

—Não há trilhos. –anunciou uma vós a suas costas: o bilheteiro. Sua chamada despertou a atenção de todos os outros passageiros para si no centro do vagão. Então, passou a tagarelar como um guia turístico: –Tudo que existe é o trem. O Expresso Continental é uma versão moderna de trem, especialmente modificada pela infra-estrutura futurista. Ele funciona á luz solar e flutua sob qualquer base, extinguindo qualquer risco de causar uma colisão com algum obstáculo infeliz. Trilhos físicos instalados sob o solo são desnecessários... Através de um comando automático, ele manda ondas sônicas para a primeira barreira da outra extremidade, nesse caso o mar, então o sinal volta contra a base do trem provocando um impulso no material, que permite que o transporte flutue acima de qualquer superfície, sem exatamente ter que tocá-la. É assim que ele se locomove.

—Ah... Obrigado pela explicação. Foi muito... Esclarecedor. –o Doutor agradeceu, batendo no ombro do homem de cabelos grisalhos. O bilheteiro fez uma breve reverencia, impassível.

—Foi uma honra lhes ser útil, senhores. Agora, se não se importam, eu vou checar os outros vagões... Há muitas pessoas perguntando pelo mesmo. –e o homem se afastou, atravessando o vagão e tornando a fechar a porta.

Melissa entreolhou-se com Alicia.

—Sabidinho esse bilheteiro! –constatou Méli. –Me lembre de perguntar se ele sabe o que acontece no capitulo final da novela das nove...

Luisa emparelhou-se com o Doutor, na janela, aproveitando a oportunidade para fitar a vista deslumbrante em sua companhia.

—Até que o nome “Expresso Continental” veio bem a calhar... –sorriu Luisa, para o amigo. –Ele literalmente atravessa os continentes...

—Funciona á base do sol e se locomove pela água... –ele abriu um sorriso largo. –Quem diria...Vocês humanos são inacreditáveis!  A Lua deixou de ser o limite á muito tempo pra vocês...

—É mesmo misterioso, não é? Tudo isso... –ela ponderou. -Meio “Agatha Christie”.

Ah! Agatha Christie!—o Doutor exalou. –Isso que foi mulher inspirada! Teve uma vida difícil apesar de tudo... Cheia de desafios! Mas mesmo assim ela tinha um dom inigualável: Ela conhecia as pessoas... Foi isso que a tornou tão fantástica no que fazia! –ele narrou, pensativo. Então, do nada, começou a se empolgar, ficando agitado como um fã super-dedicado, saltitando enquanto falava: -Li todos os seus livros, mas nem venha me perguntar qual foi o meu preferido... Nem pense nisso! Você estaria me torturando porque não sou capaz de escolher apenas um!

Luisa riu do jeito do amigo.

Com todos no vagão distraídos, um cipó começou a se erguer devagar de dentro dos vasos de plantas que enfeitavam cada mesa, e aumentar de tamanho, a principio, sem chamar atenção.

—Eu adoro viajar com você. –declarou Luisa, fitando o horizonte.

—Eu também. –o Doutor assentiu, fitando-a instantaneamente e sorrindo pelo canto dos lábios, bastante satisfeito. –Ainda bem que concordamos com isso. Adoro conclusões unânimes!

Luisa riu das palhaçadas dele, então tornou a fitá-lo.

—Para onde acha que estamos indo?

—Fazer história, eu acho. –ele abriu o sorriso mais lindo do universo para ela.

Espero que sim! —ela sorriu em resposta, esperançosa, fitando novamente o horizonte.

Snif! GRRRRR!—inesperadamente, alguma coisa guinchou e rugiu bem atrás deles e o Doutor olhou intrigado para Luisa.

Alguém mais sentiu cheiro de flor?

Devagar, os dois olharam para trás e deram de cara com uma planta gigante, com uma boca maior ainda. Imediatamente, cinco cipós esticaram-se de trás da cabeça triangular e atingiram pontos diferentes do vagão, destruindo tudo o que esbarravam. As pessoas todas pararam de chofre, olhando a besta com pavor, sem conseguir demonstrar qualquer reação que não medo. A planta emparelhou-se com eles, com apenas alguns centímetros de distancia e o Doutor se pôs à frente das meninas, protegendo-as.

Mais você é uma beleza!—sorriu para a planta, impressionado. –É sério! Você é linda...

Doutor, acho que você não devia...—aconselhou Melissa paralisada de medo, atrás dele.

Fazer isso.—proferiu Luisa, perdendo o fôlego.

De repente, a criatura avançou na direção deles, como uma cascavel e uma gritaria generalizada percorreu o vagão.

—ABAIXA! –o Doutor empurrou Luisa, que sucessivamente, desequilibrou as outras duas. Quase sucessivamente, os outros vasos rebelaram-se e as demais pessoas no vagão começaram a correr feito loucas sem direção, subindo nas poltronas e tentando abrir caminho para fora do vagão. Somente quando um homem corpulento de trajes finos, finalmente conseguiu forçar a escotilha da porta que emperrara, foi que eles conseguiram migrar para outro vagão, descobrindo em cima da hora, que infelizmente, a situação só se repetia no próximo compartimento. Em pouco tempo, todos os vagões do trem foram atacados pelas plantas, que curiosamente estavam espalhadas por todos os lugares, e as pessoas corriam desesperadas sob o trem em movimento, como formigas enlouquecidas em um formigueiro. Entre as pessoas que passavam empurrando, o Doutor segurou a mão de Luisa e assim sucessivamente, de modo que o quarteto criou uma corrente para que não viessem a se perder por entre a multidão enlouquecida.

Cadê a etiqueta nessas horas, minha gente?—ironizou Melissa. –Pra um trem com passageiros frescurentos, até que esse povo corre bastante em cima do salto alto!

Após muito se desvencilhar e correr, o quarteto derrapou no refeitório do trem, (da qual o Doutor parou primeiro, sem aviso, de modo que as três amigas esbarraram contra suas costas). O rapaz ficou embasbacado com a voracidade com que uma pequena arvorezinha mastigava o sapato de um garçom, enquanto seus galhos e cipós agarravam homens de carne e osso pelas canelas e tentavam puxá-los para o encontro de uma enorme boca, bem no centro da planta. Um deles foi mastigado até a morte.

—São plantas carnívoras! –arquejou Luisa.

—Isso é horrível... –hesitou Alicia, desviando os olhos.

—Eu não acredito que estamos presos nesse inferno! Tantos trens pra nós escolhermos, tínhamos logo que ficar com esse!—gritou Melissa. –Elas vão nos comer vivos se continuarmos aqui dando sopa!

—Eu não sei exatamente o que pensar sobre isso, mas imagino que vir ao vagão do refeitório não foi uma boa idéia... –o Doutor argumentou, torcendo o nariz. Um dos cipós da planta voltou-se para eles e o Doutor ergueu as sobrancelhas. –FIQUEM TODAS ATRÁS DE MIM!

GRRRRRRRRRRR!—a planta rugiu de um jeito tão aterrorizantes que eles se mandaram antes mesmo dela pensar em dar o bote.

 -CORRE!—incentivou-as o Doutor.

PRA ONDE?—Alicia interveio assustada, sem diminuir o ritmo nem por um segundo.

PRA QUALQUER LUGAR... VAI! —ele impulsionou-a para frente e fez isso com todas as outras, para que nenhuma delas ficasse para trás. –ANDEM! ANDEM! CONTINUEM! CONTINUEM!

Foi naquele mesmo instante que uma voz ecoou dos megafones:

O MAQUINISTA ESTÁ MORTO! O TREM ESTÁ SEM CONTROLE!

Nem mesmo ouvindo isso, as pessoas pararam de correr. O desespero tomou conta do Expresso Continental. Ninguém mais sabia o que fazer. Na real, estavam todos apenas correndo em círculos, em sentidos contrários, apenas tornando a caçada das plantas mais demorada e cansativa. Mas, como todo bom predador, elas sabiam que alguma hora aquelas pessoas inquietas iam perder as forças e, ao se verem encurraladas pelas paredes de metal e janelas lacradas, teriam de aceitar seu destino inevitável e deixar-se ser devoradas.

Em meio aquela confusão, o Doutor e as meninas decidiram que precisavam encontrar um esconderijo de qualquer maneira, nem que fosse só para recuperar brevemente o fôlego. Sem querer, encontraram um vagão que mais parecia uma sala de espetáculos, com palco e tudo, onde cantores especialmente convidados faziam suas apresentações diariamente em horário determinado, para que os passageiros desfrutassem de boa musica durante a viagem, apesar de a maioria preferir os bons e velhos fones de ouvido.

Eles não pararam nem para apreciar a decoração. Entraram no espaço e logo começaram a se desvencilhar das poltronas espalhadas desproporcionalmente. Cruzaram o pequeno palco e foram parar atrás da cortina.

ALI!—gritou Alicia, exasperada, apontando para uma portinha lateral, escondida pela cortina. –Vamos nos esconder ali dentro!

—É pra já! –assentiu Melissa, junto dos outros três.

Rapidamente, eles se enfiaram dentro de um pequeno compartimento que mais aprecia um camarim e fecharam a porta. O Doutor apanhou a chave sônica com desespero (suas vidas podiam depender disso) e tratou de trancar a porta.

Ao sentirem-se seguros, finalmente conseguiram voltar a respirar. Luisa levou a mão ao peito: seu coração estava dando pulos. Melissa deixou-se escorregar de costas contra a porta, até seu corpo tocar o chão. Alicia apoiou-se contra uma cadeira, para evitar vertigem e o Doutor encostou o corpo na parede, pendendo a cabeça para trás, dando um suspiro profundo. Depois do alivio inicial, outra coisa os deixou alerta:

Quem são vocês?—uma voz feminina ecoou pelo espaço, pegando-os totalmente de surpresa. O quarteto enrijeceu o corpo, receosos.

O Doutor semi-cerrou os olhos, com dificuldade de enxergar á meia luz. Eles demoraram um pouco para conseguir ver o rosto da mulher, mas quando o fizeram, as reações foram diversas:

Luisa e Melissa ficaram boquiabertas, Alicia franziu a testa e o Doutor ergueu as duas sobrancelhas, completamente pasmo:

Olívia Newton John!?

Houve uma pequena fração de segundos em que todos somente se entreolharam, então a calmaria cessou de vez quando o trem freou, dando uma guinada violenta para frente, diminuindo em fim, a velocidade. Todos foram pegos de surpresa, de modo que ninguém conseguiu evitar a queda brusca contra o chão.

Ficaram todos imóveis na posição do tombo. Quando tudo finalmente se acalmou, Alicia arriscou endireitar o corpo:

—Parou. O trem está parado!

—Está muito melhor assim... –o Doutor comentou, sentando-se normalmente.

—O que está acontecendo? –gemeu a cantora e atriz deslumbrante, surpreendentemente, com a mesma cara de menina.

—Doutor... –Luisa segurou-lhe pelo braço. –Aquela é mesmo...? Não... Não pode ser ela! Simplesmente não pode!

Caramba!—Melissa fitou também a mulher, de longe, intrigada. –Ela está com a mesma aparência de quando fez o Grease! Mesmo quase meio século depois... Preciso perguntar qual o hidratante que ela usa!

Hidratante?—Olívia pareceu confusa por um momento.

—Que diabos está havendo? –uma voz masculina irrompeu no local e, de repente, todos os olhares estavam no dono dela.

Ah! Eu não acredito... JOHN TRAVOLTA?!—guinchou Melissa, extasiada. –Eu sou Melissa! Oi! Como é que vai?—ela apertou a mão de John Travolta, com tremenda empolgação, até demais para sua personalidade. –Eu e Luisa somos suas maiores fãs! Á propósito, aquela é minha amiga Luisa, a outra é Alicia e aquele mané lá atrás é o Doutor. Não precisa se assustar com a cara de maluco dele... Com o tempo você se acostuma.

O Doutor fez uma careta.

—Espera aí! Espere só um instantinho... Que palhaçada é essa agora? Desde quando isso aqui virou “O Clube dos Artistas”?—ironizou o Doutor.

—Eu discordo, acho que a pergunta mais importante agora é: Desde quando você virou comediante?—ela ironizou, abraçada junto de John Travolta e Olívia Newton-John. –Agora, vamos ao segundo ponto mais importante: Alguém aí tem uma câmera?

—Acho que o verdadeiro ponto é: Como eles vieram parar aqui...? –Luisa acrescentou.

—Como assim? Nós somos a atração principal desta semana! Pensei que todos os passageiros tivessem em mãos o folheto de atrações e estivessem por dentro dos horários... –interveio John Travolta.

—Não. Nós não ganhamos nada. –respondeu Alicia.

—Que furada, hein, Lívia!—ele pôs as mãos na cintura, de modo que a regata preta esticou-se, deixando os bíceps á mostra.

—Meu Deus... Sou eu ou ta ficando mais quente á cada segundo?—disse Melissa, babando por John Travolta.

—Melissa, será que dá pra guardar um pouco de baba pra mais tarde? –repreendeu o Doutor. -A gente não sabe se vai acabar morrendo de cede encalhados nesse trem...

—Eu não me preocuparia com isso... –assegurou Olívia. -Se o trem descarrilar em pleno oceano, nós teremos que nos preocupar é com os botes salva-vidas...

Botes Salva-Vidas?

—Pelo menos eles tem Wi-Fi... –sorriu John Travolta, para descontrair. Melissa voltou a babar. Ele continuava com o mesmo semblante da época do filme...

Mas isso é impossível! COMO VOCÊS PODEM ESTAR AQUI DE VERDADE? –indignou-se o Doutor. –Com a idade que vocês teriam hoje em dia, se é que ainda estariam pisando sob solo terrestre... –o Doutor contorceu todo o rosto, de incredulidade. –Como vocês ainda podem estar tão jovens?

—Tem razão! –concordou Melissa, ansiosa. –Quero o número do cirurgião plástico deles!

—Vai ver eles também são Senhores do Tempo... –sugeriu Luisa.

—Impossível. Meu povo está morto. Eu sou a prova viva disso... Acabei parando a guerra e junto os destruí. Fui o único que restou! Eu já lhe contei isso antes...

—Então o que eles são? Clones?—arriscou Luisa, novamente.

O quê? Não somos clones!—indignou-se Olívia. –Pra que precisariam de clones se tem á nós...? Somos muito melhores do que essa tecnologia barata!

—Clones? Hã! Quem dera... –o Doutor revirou os olhos. –O que é um clone perto disso? Tecnicamente falando, é preciso ter uma amostra de tecido para poder se fazer um clone, do contrário, não seria possível criar uma cópia. E onde acham que encontrariam amostras de tecido para isso? Em museus que não seria! –ele ponderou. –Em todo caso... Olhe para eles! Os dois são perfeitos. Clones sempre tem uns “defeitinhos” que acabam os entregando...  Sobretudo no caráter, porque ser clone de alguém não necessariamente significa que você será igual a ele fisicamente e mentalmente. Também não seriam tão incríveis quanto os originais, e aparentemente, esses aqui conseguiram manter a mesma fama dos verdadeiros John Travolta e Olívia Newton John. Vão por mim... Meros clones eles não são!

—Deixe-nos adivinhar... Você descobriu isso apenas usando a chave sônica de novo para scanneá-los, não foi?—Melissa cruzou os braços, fazendo cara de entediada.

O Doutor fungou e guardou a chave no bolso.

—Odeio admitir, mas você está ficando boa nessa coisa de dar palpites...

—Acho que a questão aqui é: Quem são eles?—perguntou Alicia inesperadamente, fazendo todos voltarem-se para ela, incrédulos com sua falta de cultura.

—QUEM SÃO ELES? –Melissa quase comeu-a viva. –São simplesmente os maiores interpretes, cantores e atores excepcionais de alguns dos filmes musicais mais famosos da década de 70!

Como você pode não conhecê-los?—Luisa indagou pacientemente, mas também um tanto abismada.

—Minha mãe não viveu isso. Ela morou no Japão até quase conhecer meu pai e não chegou a curtir esse tipo de coisa. Já meu pai que é inglês, optou por ser “o cara moderno”. Só fala de coisas do ano 2000 pra frente...

—Bom, parece que o conhecimento mudou muito desde 2015! –Luisa comentou com Melissa em off. –Assim como as notícias são passageiras, muitas coisas foram ficando para trás... –então Luisa parou de chofre. –Que coisa... Virei Soudosista!

Apesar dessa inesperada revelação, eu e minha ilustre companheira acreditamos que nunca é tarde para se aprender e que também nunca é tarde para se converter mais um fã! –sorriu John Travolta, novamente jogando seu charme para cima das garotas, pegando a mão de Alicia e beijando-a, com delicadeza.

—Entretanto –o Doutor recomeçou. –Se vocês não são clones... Então são o quê? Porque certamente não são os originais!

—Nós realmente precisamos nos preocupar com isso agora? Quer dizer, são eles de qualquer jeito não é? –Luisa sorriu animada. –Mesmo que não passassem apenas de pôsteres eletrônicos ou hologramas, eu já me daria por feliz... Quem dera fossem os verdadeiros!

—Acho que você está se preocupando á toa, homem espacial—Melissa acrescentou ao Doutor, ainda hipnotizada por John. –Vê se pára de ser paranóico e curte o momento...

—Nós não deveríamos estar nos escondendo de Plantas Carnívoras Gigantes? -lembrou Alicia. –Por que de repente parece que estamos isolados de tudo...?

—São as paredes anti-som. Elas impedem que o som externo invada nosso ambiente de preparo antes do show. –explicou John.

O Doutor usou a chave sônica para testar a sonoridade. Realmente, só foi liberada alguma parte da gritaria externa quando o dispositivo sônico dele cancelou a freqüência de funcionamento das paredes anti-som.

O que está havendo lá fora?—assustou-se Olívia, frágil como uma flor, sendo protegida pelos braços musculosos de John. –Por que todos estão gritando?

—Está havendo uma invasão aqui, Olívia. –o Doutor disse, sem rodeios. –Plantas gigantescas estão atacando os passageiros. Gigantescas e carnívoras, eu devo acrescentar!

—E o que estamos esperando? Ficar aqui prado não vai ajudar em nada... Temos que fazer alguma coisa!–interveio John Travolta, vestindo seu casaco de couro. As garotas suspiraram com sua iniciativa, mas o Doutor, por outro lado, franziu o cenho. Não era ciúme. Ele adorava o Grease, Xanadu, os Embalos de sábado á noite e sua continuação como qualquer um. Mas sinceramente, esperava que John Travolta agisse com um pouco mais de responsabilidade, dadas as circunstancias e o perigo que os esperava do lado de fora daquelas portas.

—Vocês me ouviram quando eu disse a parte “Plantas Carnívoras Gigantes”, não é? –relembrou o Doutor, inquieto. John ficou á observá-lo. -Eu acho melhor acalmarmos os ânimos...

Foi naquele momento que alguma coisa arrebentou a maçaneta e, com um baque forte, logo em seguida, a porta veio abaixo. Em meio ao pó que esta levantara e aos destroços, grossos cipós esticaram-se camarim á dentro, quase acertando-os. Todos se abaixaram de imediato. Um dos cipós acertou as caixas de som da ala de entretenimento e, como em um efeito dominó, empurrou um dos microfones, que rolou e caiu em cima de um rádio, de modo a acertar o botão de ligar. Imediatamente, a musica “You’re The One That I Want”, que era o tema da finalização do filme Grease, feito por John Travolta e Olívia, começou a tocar, impondo-se ao clima tenso da perseguição. Surpreendentemente, as plantas carnívoras pareceram mudar de idéia quanto á atacá-los e entraram em um estado de apreciação, como se apenas estivessem curtindo a música. Por apenas um segundo o grupo pensou em aproveitar e dar no pé, mas o Doutor antecipou-se na direção das feras.

Olha só... –ele sorriu, dando um passo á frente com as mãos no bolso, ao invés de sair de fininho. –A música tem algum efeito positivo sobre elas... Interessante. Elas não atacam! Até já se esqueceram de que nós estamos aqui...

Entrementes, uma cabeçorra de uma das plantas aproximou-se do radio e o contemplou com curiosidade, quase como se estivesse hipnotizada por ele. Ergueu instintivamente um dos cipós na direção do objeto. Então, o que parecia uma simples menção de aumentar o volume, acabou resultando na destruição total do aparelho. Imediatamente, o Doutor abaixou-se, abraçando as próprias pernas.

—Doutor!—Luisa gritou em desespero, ao ver que ele estava muito perto da planta.

Elas não conhecem sua própria força... –ele murmurou, erguendo a cabeça, ainda em tempo de notá-las vindo em sua direção. –Esse parece ser um problema bem ruim...

 -Sai daí!—Luisa tornou a gritar. O Doutor girou os calcanhares e correu na direção do grupo, ainda em tempo de não ser atingido. O palco e o cenário já não tiveram a mesma sorte. A cada avanço de bocarras, cabeçorras e cipós desengonçados, as plantas derrubavam tudo que viam em seu caminho e, em meio á gritos, sustos e escorregões, antes mesmo da poeira baixar, eles escaparam pelos fundos, em uma saída de emergência, indo parar em outro vagão. Sem diminuir o ritmo, Luisa ponderou:

—Adorei conhecer vocês dois... Pena que não tivemos tempo nem de pedir um autógrafo!

—Será que não podemos pensar nisso depois? –retorquiu o Doutor, sem perder o fôlego. –Se sairmos vivos daqui, e ainda continuarmos com nossa sanidade em ordem... Na volta, você pede um autógrafo da Olívia e do John Travolta. O próprio nome dele é compatível com meu plano: “na volta”, “Travolta”. Captou a idéia?

—Vou te dar uma dica: Joga fora hoje mesmo esse seu livro de piadas, porque tá um horror!—aconselhou-o Melissa, crítica.  

O auto-falante foi ligado novamente, e uma nova mensagem foi passada aos passageiros:

Aqui é o maquinista substituto. Bem... Nós podemos ficar parados aqui por um tempo, então... Hã... Tentem não se abalarem! Apenas... Tentem permanecer vivos até eu conseguir ligar os motores novamente, Okay? Ah... Câmbio, desligo.”

Aquilo não tranqüilizou-os nem um pouco. Ainda por cima, agora que sabiam que teriam um rapaz inexperiente no comando do trem...

—Ótimo! Agora temos um idiota no comando! –bufou Melissa. –O que mais falta acontecer?

Como que em resposta á sua pergunta, o trem balançou de leve e recomeçou a avançar sob a estrada de água marinha, tomando velocidade aos poucos. Entretanto, isso não significava que o maquinista tinha as coisas sobre seu controle.

Na primeira cabine do trem, ele estava todo atrapalhado com as instruções. Nunca guiara um trem sozinho antes. Aquilo era mais do que pressão para ele... Estava tão injuriado tentando desvendar os controles, que nem percebeu quando um cipó verde musgo passou por baixo da porta de seu compartimento e enroscou-se no puxador do freio, impulsionando-o para baixo de uma vez só.

Um caótico tranco ecoou á longa distância, percorrendo o trem inteiro num efeito em cadeia, como uma onda de choque. Todos á bordo acabaram sentindo o baque da freada. Seguido da freada brusca, a planta arrombou a cabine do maquinista e o rapaz gritou, escondendo-se dentro de um micro banheiro. A planta ignorou-o. Apenas deslizou no chão até o painel de controles super tecnológico e apertou o único botão que continha o aviso “PERIGO. Só usar em caso extremo”.

Longe dali, as pessoas já se punham novamente em pé, completamente confusas.

—Não estávamos nos movendo? –perguntou John Travolta.

—E eu que pensei que finalmente voltaríamos ao curso estipulado... –suspirou Olívia.

—Estão escutando isso? –indagou Alicia, assustada. Apurando os ouvidos para um pequeno barulho que vinha de longe. –Parece um zumbido...

—Bem que poderia ser um Vespforme... –comentou o Doutor, lembrando-se da vez que conheceu Agatha Christie e do mistério que a envolvia. –Imagino que ele adoraria polinizar uma planta tão grande assim! E talvez dar-lhe uma ferroada, também...

—Doutor, olha só o chão! –Luisa apontou. -Ele está...

Tremendo!—brandiu Melissa.

De repente, o maquinário todo balançou violentamente e o trem recomeçou a se mover, só que dessa vez, guiado pelo último vagão. O movimento contrário repentino causou um impacto inesperado e as pessoas que já estavam em pé perderam novamente o equilíbrio, sendo todas arremessadas para frente, de encontro com o chão do vagão, de novo.

—Ai! –gemeu o Doutor, quase estatelando o nariz contra o piso. Luisa caiu bem ao seu lado e ele procurou seus olhos para se comunicar, antes de anunciar em voz alta: –“Cair de bruços no chão do trem”... Por que sinto que isso já está virando um hábito?

Em seqüência, o trem chacoalhou ainda mais, pegando velocidade com uma rapidez impressionante, então, antes mesmo que eles pudessem pensar em erguer os corpos, o transporte disparou á toda velocidade. Mas não era apenas á máxima velocidade. Estavam se deslocando muito rápido. Rápido demais... Já haviam atingido e ultrapassado a velocidade do metrô mais rápido do mundo á muito tempo... Onde o sucessor do maquinista esperava chegar? (ninguém fazia idéia de que uma planta estava no controle); Reger o trem de trás para frente já era uma tarefa um tanto desafiadora, ainda por cima, naquela velocidade! Luisa já conseguia vê-los descarrilando... Já conseguia sentir a água envolvendo-os... Já conseguia ouvi-la chamando-os, encantando seus ouvidos como canto de sereia. Não, espere! Aquilo não era a água... Era o tal zumbido pequeno que logo foi se tornando alto e agudo o bastante para se parecer como um apito de guarda, além de ser um tanto irritante... A sensação era de ter o corpo espremido contra o chão do trem e os miolos cozinhando dentro da cabeça. O som alto fazia os ouvidos doerem bem nos tímpanos... E ele vinha aumentando á casa segundo.

Em meio aquilo tudo, Luisa viu o amigo gritando algo para ela, mas que se tornou inaudível, com todo aquele barulho.

Parece que estamos voltando á Londres. Mas essa não é a velocidade normal... Acabamos de atravessar o hiper-espaço. Alcançamos a VELOCIDADE DA LUZ!”.

Quê? —Luisa não conseguiu ouvi-lo. Sabia ler lábios, mas o amigo falava tão rápido que a estava deixando confusa... –Eu só entendi  “velocidade!

O trem corria tanto que as paredes estavam até esquentando. Eles gritaram. Todos. O trem inteiro... Cada passageiro. Todos gritando desesperadamente. Não sabiam até onde iam chegar... E isso os assustava. Poderiam bater em alguma coisa. Com aquela velocidade, acabariam se dividindo em átomos, se isso acontecesse... Luisa tentou não pensar no pior. Nem mesmo quando o amigo começou a gritar com um sorriso no rosto, como se estivessem fazendo um passeio de montanha russa.

Parece besteira, mas tudo isso ocorreu em meros segundos. O fato é que a velocidade da luz pode ser ainda mais rápida que a velocidade do disparo de uma bala. Entretanto, para as pessoas dentro do trem de metal, os momentos de desespero duraram horas. Cada segundo parece uma eternidade, quando se está realmente apavorado...

Contudo, inesperadamente o trem parou. Freou bruscamente e parou, como se nunca tivesse saído do lugar.

—Doutor... –Luisa gemeu, ainda no chão. Sentiu a mão dele envolver seu ombro, então olhou para o lado. Avistou o amigo, também parado na mesma posição; A garota sentiu-se tão fraca naquele primeiro momento que nem conseguiu juntar forças para lhe lançar um sorriso. Ele, assim como ela, estava muito abatido e respirava em pequenas pausas.

—O que aconteceu? –Melissa experimentou perguntar. Felizmente, sua voz saiu com sucesso.

—Acho que acabamos de sofrer um deslocamento temporal. –o Doutor constatou, conseguindo sentar-se.

—Como? -John Travolta indagou, ajudando Olívia Newton John a se levantar.

—Olhem! –ela apontou para a direção contrária, onde havia uma das plantas carnívoras caídas no chão.

O Doutor correu até ela, mancando um pouco, então tocou-a e a revelação veio de imediato:

—Ela está morta.

—Todas elas estão! –disse uma senhora com roupas cheias de plumas e peles de animais no pescoço.

—E quem seria à senhora...? –sondou o Doutor, erguendo-se de pé.

—Molly Lancaster, á seu dispor. –a mulher fez uma reverencia. Suas vestimentas eram antigas, apesar de chiques. Ela era uma daquelas figuras com uma pinta próxima á boca, e cabelos de época, além de maquiagem exagerada e bochechas muito rosadas. Todos ficaram muito chocados com sua aparição.

—Desculpe, mas está havendo alguma festa temática de 1930? –perguntou John Travolta.

—Não querido. Aqui é 1930—a mulher sorriu, abanando-se com um leque todo decorado.

—Como eu suspeitava! –o Doutor de um tapa na própria testa, empolgado. –Nós nos deslocamos pelo tempo! Com um trem expresso! Rá! Isso não pode ficar mais esquisito...

—Se deslocaram pelo tempo? Oh! Que história mais engraçada... Eu gostaria de saber todos os detalhes disso! –gargalhou a mulher, achando ter testemunhado uma piada.

—Não, não, minha senhora... Acredito que esteja havendo um engano... –o Doutor tentou aproximar-se dela para se explicar, mas acabou sobressaltando-se ao ouvir um rosnado.

—Ah não... Shhhh! Fique quieta Poppy! Esse pobre homem não tem culpa de seus modos! –a mulher repreendeu um cãozinho Chihuahua, que segurava pela coleira e estivera escondido atrás do longo vestido preto. O cão lambeu a mão da dona, mas quando ela se afastou, ele voltou a grunhir e rosnas para o Doutor.

Ah... Isso foi um elogio? —o Doutor franziu a testa, confuso.

—Desculpe, mas quando a senhora chegou aqui, disse: “todas elas estão”. Imagino que se referisse ás plantas... –concluiu John.

—Exato. Ás plantas e ás pessoas. –todos ficaram boquiabertos com a revelação, especialmente porque a mulher não aparentara amargura até então, mas ao se lembrar do fato, ela apanhou um lencinho e enxugou algumas lágrimas que brotaram em seus olhos. –Pobres criaturinhas... Meu bom Deus! Fui uma das sobreviventes... Estava em meu dormitório quando ocorreu!

—O que aconteceu? –perguntou o Doutor.

—Nós paramos. O maquinista disse que o trem estava com problemas no carvoeiro e resolveu dar uma olhada. Nada que fosse de extrema importância, quero dizer, que mal faria uma pequena parada, não é? Mas eu estava enganada. Estava em meu dormitório quando ouvi o estouro e a gritaria... De repente, o trem estava tomado por plantas gigantes!

—Curioso –o Doutor analisou. –Dois trens. Um no passado e outro no futuro... Dois trens que foram atacados na mesma forma e no mesmo momento.

—Como poderia ser atacado no mesmo momento se estão em épocas diferentes? –indagou Alicia, confusa.

—Em épocas diferentes, mas na mesma linha do tempo. –explicou o Doutor, mas ao ver que todos estavam com a mesma cara de nada, ele resolveu simplificar: Resolveu fazer uma das suas famosas “explicações criativas”. Pediu para que Alicia lhe devolvesse seus All Stars vermelhos, que a garota ainda tinha calçado no pé, e pediu também que cedesse um dos pares do All Star laranja, dela própria. Só então, tendo um tênis colorido em cada mão, prosseguiu: –Dois trens. Imaginem que esses dois tênis são trens. Sendo que o laranja de Alicia é o do futuro e o meu vermelho é o do passado. Agora, se eu disponibilizar ambos dessa forma, deixando-os emparelhados um ao outro... Então, o que teremos?

—Dois trens emparelhados? –sugeriu Melissa, dando de ombros.

—Certo, mas o que mais? Julgando pelo fato de eles estarem em épocas diferentes... –ele atiçou, mas ninguém soube responder. –Ta legal... Atenção em mim, pessoal! Então vamos começar do começo: sabemos que eles são completamente diferentes, estão em épocas distintas e possuem mecanismos completamente opostos... Portanto estão em linhas do tempo diferente. Mas, as histórias dizem muito mais do que aparentam: No artigo do jornal estava explicito que o Expresso Continental utiliza a mesma estrada do antigo Expresso do Oriente... Claro, isso até a parte em que se põe a flutuar sob o mar, atravessando continentes e coisa e tal, mas isso não importa. O importante agora é lembrarmos que foi daí que surgiu sua fama: Por ser um “Expresso do Oriente melhorado” e completamente tecnológico. –ele fez uma pausa, andando de um lado para o outro. –Agora, me digam uma coisa: Esses dois trens, mesmo estando em pontos diferentes da história, poderiam cruzar a mesma linha temporal?

Todos se entreolharam.

—Está querendo insinuar o quê com isso? –indagou Melissa.

—Não é bem uma insinuação... É mais uma observação. –então ele embalou. -Quero dizer: e se os dois trens estiverem mais do que em linhas temporais próximas? E se estivessem paralelos um ao outro, mas, em algum ponto específico, suas linhas temporais tivessem se cruzado? Talvez a invasão das plantas, no passado e futuro, fosse o sinal para o momento da colisão entre realidades. Agora, imaginem se isso acontecesse de verdade e as realidades se cruzassem... –o Doutor colocou um tênis em cima do outro. –E se um desses trens entrasse na mesma linha temporal do outro, de modo a tornarem-se uma coisa só? Teríamos dois trens no mesmo lugar, em dimensões diferentes... Um paradoxo!

—Quer dizer que os dois trens se colidiram?

—Não foi bem uma colisão. O nosso trem viajou na velocidade da luz, atravessando o hiper-espaço. Automaticamente, isso significa que eles estão intercalados. Imaginem um trem dentro do outro—o Doutor intensificou. –Claro que isso não tem nada a ver com a verdadeira explicação, mas se ajudar, então é válido! –tagarelou. -Agora, pensem na junção dos dois trens! Se os dois trens se unissem, formando um paradoxo, então o nosso trem não colidiria com esse trem antigo... Ele se tornaria o trem antigo.

—Então isso explica a senhora Lancaster estar com roupas antigas no nosso trem. –afirmou John.

O Doutor espreitou os olhos.

—Pensando bem... Esse nem parece mais o nosso trem.–o Doutor acrescentou, fitando o vagão pelo canto do olho. –Estamos aqui falando já á bastante tempo... Algum de vocês por acaso reparou na decoração interna do nosso fabuloso Expresso Continental depois do deslocamento temporal?

Todos, menos a senhora Lancaster, fitaram o vagão em que estavam e acabaram com expressões pasmas. O trem já não tinha as paredes de metal como antes. Elas eram revestidas por um papel de parede florido, a iluminação era ruim, o chão era incrivelmente opaco, e os móveis básicos eram de madeira, mas mesmo assim, mantinha um ar luxuoso e clássico.

—Eu não acredito... Nós realmente nos deslocamos pelo tempo! –espantou-se Olívia.

—Fizemos mais do que isso –o Doutor ponderou. –Nós sobrevivemos á colisão de realidades.

—Ah, meu Deus! E as outras 100 pessoas? –Luisa perguntou aturdida, lembrando-se da manchete.

—Todos mortos. –o Doutor revelou. –Assim como aconteceu no trem da senhora Lancaster. Houve a colisão de realidades que eles chamam de “acidente”, o que gerou a morte de quase todos os passageiros. Apenas os que estavam em lugares protegidos se salvaram...

—Eu estava em meu quarto quando aconteceu –repetiu a mulher, dando seu testemunho.

—Exato. –o Doutor assentiu.

—Mas por que nós não morremos? –questionou Melissa, ainda insatisfeita.

Todos fitaram-na com estranheza.

—Acredito que você esteja se referindo ao verdadeiro motivo de apenas nós termos sobrevivido... –o Doutor relacionou. –Bem, no meu caso, sou um Senhor do Tempo. –ele deu de ombros. -Vaso ruim não quebra...

—Mas e quanto a nós? –perguntou Luisa, apontando para os outro cinco. –Somos pessoas comuns. Por que sobrevivemos?

—Não sei exatamente, mas creio que você e Melissa sobreviveram graças ás viagens no tempo. Toda a radiação residual da TARDIS que está em vocês acabou protegendo-as de serem massacradas pela pressão do impacto entre realidades. Os resíduos que vocês carregam consigo de outras dimensões onde estivemos, também contribuem bastante para ajudar a encarar o impacto. Acredite ou não, isso tudo conta, em um momento como esse... –ele explicou.

—E quanto á mim? –manifestou-se Alicia.

—Você é fácil de deduzir. –ele anunciou. –Tá vendo isso aqui? –ele mostrou o tênis vermelho, cuja um dos pés ainda estava com Alicia. –Você atravessou o hiper-espaço usando um par de tênis de um viajante do tempo profissional. A radiação residual da TARDIS também pega nas roupas... Ou seja, Alicia saiu ilesa por estar usando meus tênis na hora do impacto. 

—Abençoado seja minha paixão por All Stars! –ela celebrou. –Quem poderia imaginar que isso um dia salvaria minha vida?

—Mas e nós, Doutor? –John Travolta protestou, apontando para si próprio e também para Olívia Newton-John. –Como explica nós termos sobrevivido á essa catástrofe?

—Eu vou ser sincero com vocês... –o Doutor balançou a cabeça, tirando a chave de fenda do bolso e scanneando os dois ao mesmo tempo. –Eu não faço a menor... Epa! Calma aí! Espera um minutinho... –ele deu algumas batidinhas na chave sônica. –Não pode ser! As leituras estão esquisitas...

—Leituras? –a senhora Lancaster esticou o pescoço. –Não estou vendo nenhum livro aqui...

—Não é esse tipo de leituras! –então ele virou-se para as garotas, ainda sem tirar os olhos da chave. –Porcaria!

—O que a chave sônica diz? –Luisa deu um passo a frente.

—Eu não sei. Alguma coisa fora do normal... Aparentemente, que o trem é feito de pão e nós somos a geléia.

—O quê? –Melissa fez uma careta.

—Não me subestime. Eu também fiquei espantado. –o Doutor afirmou, ainda dando umas boas pancadas na chave com a mão, tentando fazê-la funcionar direito.

—Eu que não queria ser essa chave... –Melissa sussurrou para Alicia. –Ele vive estapeando esse cano de metal, isso quando não o atira pelos ares! Não me admiraria se um dia a chave sônica acabasse...

—Quebrada! –o Doutor grunhiu. –Minha chave sônica quebrou! Isso é terrível! Eu amo essa chave... Ela não pode me deixar logo agora!

—Ah... Que pena. E quando vai ser o enterro? –zombou Melissa, cínica, revirando os olhos.

—Ela era a única que talvez pudesse descobrir porque John e Olívia sobreviveram á esse acidente... –o Doutor continuou, magoado, ignorando Melissa. –Agora já era!

Luisa juntou-se a ele.

—Posso ver? –ela segurou a chave e apertou o botão que a ativava. O zumbido soou fraco e instável, como um eco passageiro. –É. Eu acho que pifou mesmo... Sinto muito.

—Está tudo bem. –o Doutor deu um pequeno sorriso para ela, apesar de estar evidente que ele estava mesmo chateado.

—Beleza! Somos um grupo indefeso e perdido em um trem desconhecido, sem a chave sônica!—reclamou Melissa, ironicamente. –Muito bom, Doutor! Você conseguiu: Agora estaremos devidamente lascados!

—O que é tudo isso? –guinchou a senhora Lancaster, boquiaberta. –Palavreado estranho, objetos esquisitos... E você, mocinha! –ela apontou para Luisa, que parou de chofre na mesma hora. –O que pensa que está fazendo? Está muito perto deste rapaz! E em público! Isso não é educado!

Luisa e o amigo se entreolharam. Ela estava com a cabeça apoiada no ombro dele, passando a mão em suas costas, consolando-o, quando fora pega de surpresa pelas declarações impetuosas da mulher.

—Eu só estava... –Luisa afastou-se alguns centímetros dele, corando de leve, sem reação naquele primeiro momento. O Doutor olhou a mulher intrometida, com o semblante aborrecido. Segurou a mão da amiga constrangida, e deu um passo á frente. Mas no mesmo momento em que o fez, voltou-se para Luisa com a expressão facial relaxada e lançou-lhe uma piscadela cúmplice. Então soltou a mão da garota e caminhou até a senhora Lancaster.

—Ah... Senhora Lancaster! –ele aproximou-se da mulher, com as mãos atrás do corpo. –O que é isso na sua testa? Tem alguma coisa que não devia estar aí...

—Na minha testa? Onde? Por Deus! Tire de mim seja lá o que isso for!

—Farei o possível... Fique parada, por favor. –e com isso ele entrou em sua mente limpando suas memórias recentes, eliminando todos os conhecimentos futuros por ela obtidos, pela falta de cuidado do grupo. Ao terminar seu trabalho, que levou apenas alguns segundos, ela piscou por um momento, parecendo confusa, então fitou-os novamente, com um sorriso acolhedor, como se fosse a primeira vez que os visse.

—Ora... Mais o que foi querido? –ela fitou-o como se não o conhecesse. E já não conhecia.

Ao mesmo tempo, um outro homem surgiu no vagão. Parecia apressado, tinha bigode, usava chapéu coco, bengala estilizada, luvas de couro, sapatos engraxados e um terno formal azul-desbotado.

—Senhora Lancaster, poderia, por favor, me acompanhar novamente ao vagão do refeitório? Eu sinto muito, mas ainda não terminamos os interrogatórios e gostaríamos que todos estivessem presentes...

—Sou inocente, senhor! Não há nada em minhas ações que comprovem o contrário... Só saí para tomar um ar, então encontrei esses cavaleiros e damas neste vagão isolado... Acabamos trocando algumas palavras, eu acho.

—Bom, senhores... Senhoritas. Se puderem me acompanhar até o vagão refeitório... –o homem escoltou-os. –O senhor Holmes já está á sua espera... E, cá entre nós, só Deus sabe como ele odeia ter que esperar!

—Certamente que sim! Me dêem licença... –sorriu a senhora Lancaster, prontificando-se a refazer o caminho para o vagão refeitório, á frente do grupo, com seu cãozinho estressado. Apesar de não ser uma tarefa fácil, já que ela tinha problema no joelho e demonstrava um pouco de instabilidade ao andar de salto alto. Mesmo assim, seguiu em frente, deixando os demais para trás.

Holmes? —o Doutor abordou o homem de chapéu coco, intrigado, depois que a madame saiu.

O homem fitou-o por um instante. Parecia impaciente. Respirou fundo, então ressaltou:

—Todos os sobreviventes estão sendo escoltados até o vagão refeitório para interrogatório. O trem todo está sobre custódia. Eu mesmo divulguei isso mais cedo...

—Ah! Claro. Claro. Tem toda razão... Que cabeça á nossa! -o Doutor sorriu amplamente, e as garotas o imitaram. –Obrigado por gastar seu tempo vindo nos procurar, senhor...?  Ah, desculpe, como posso chamá-lo?

Watson! Eu estou aguardando á mais de quinze minutos... Que diabos aconteceu com você?—mais um homem surgiu no local. Ele era alguns centímetros mais alto que o primeiro, usava uma boina na cabeça, que escondia um pouco os cabelos desalinhados; a barba estava rala, mesmo assim era possível notar pontos de sujeira em seu rosto; o casaco escuro com abertura atrás e bolsos laterais estava amassado, o colarinho estava levantado, o colete, do avesso, a calça risca de giz, suja de poeira, e os sapatos, enlameados. 

Watson? —o Doutor franziu a testa ao adquirir a informação, depois sorriu imensamente, empolgando-se. - Holmes e Watson?

O homem de boina levou o cachimbo á boca, examinando-os.

—É elementar, meu caro rapaz.


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Notas finais do capítulo

Prontinho! Continuidade postada. Eu dei uma pausa semana passada porque fui viajar, mas já estamos de volta!

Pois é, essa trama aí é repleta de referências... Espero que vocês aí do outro lado já estejam ficando empolgados a essa altura! kkkk Quero saber tudinho!!!

Semana que vem continua!

Beijos!!



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