Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 36
Erro Fatal


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!

:D

"O Doutor disse uma coisa que não devia à Luisa... Mas esclarecer as coias pode ser mais difícil do que ele imaginava"

*OBS: Essa é uma espécie de introdução para a próxima aventura. Tudo que acontecer no capítulo seguinte, partirá desses princípios.

Boa leitura ;)



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Luisa estava indiferente á tudo que acontecia ao seu redor, encontrava-se tomando capuccino, sentada de lado na beirada da TARDIS (que estava parada em pleno espaço), vislumbrando logo a baixo, e também por todas as direções, o magnífico universo. Com as portas da cabine totalmente abertas e, a extensão de ar que esta lhe proporcionara (para que pudesse respirar fora dos limites da nave, no vácuo do espaço sideral, sem oxigênio), Luisa passou algum tempo sozinha, pensando em sua vida, e em tudo que deixaria de fazer parte dela daqui para frente. Foi em meio de sua posição distante que passos ruidosos ecoaram ás suas costas, irrompendo por ultimo ao seu lado.

—Bonito, não acha? –o Doutor indicou o universo com a cabeça e Luisa contemplou-o ainda mais atentamente, enquanto o rapaz sentava-se ao seu lado.

—Lindo –disse ela admirada. –Eu não fazia idéia de como essa vista era esplendorosa...

—Pois é, eu também sempre gostei do universo. –disse ele sonhador. –Sabe que quando eu era criança, gostava de ficar na janela olhando para o céu e imaginando todas as maravilhas que existiriam lá fora... Isso até eu crescer e decidir vê-las por minha própria conta e risco...

—E se saiu muito bem nisso –incentivou ela.

—Nem tanto, se quer saber –admitiu. –Ainda consigo dar muita mancada...

—E o quê seria de nós sem as suas mancadas? –riu ela. –É aí que está toda a graça...

—Gostaria que todos pensassem como você –ele sorriu largo. –Imagine só quantos tapas eu deixaria de levar se todas as pessoas que conheço me entendessem dessa forma... –ele olhou-a intrigado por um instante. –Você é mesmo real? Porque se não for, eu juro que vou dar uns bons cascudos na pessoa que me iludiu com a sua existência...

—Eu sou real! –ela riu. –Não consegue sentir? –Luisa estendeu o braço e acariciou com a mão o contorno do rosto do rapaz, causando-lhe um arrepio bom.

—É claro que eu sinto. –terminou. –Falei aquilo no sentido figurado. É que às vezes parece “bom de mais para ser verdade”, entende?

—Sei como é. –ela puxou a mão dele e passou seu braço envolta de si, encostando-se no rapaz. –Ainda não entendi como nós conseguimos respirar aqui, de cara com o vácuo do espaço sideral...

—Isso é com a TARDIS. Ela consegue estender seu campo de oxigênio por alguns metros para fora de si, especialmente para que consigamos respirar em terreno desconhecido, sem a presença de ar. –Luisa encostou a cabeça em seu ombro e ele apoiou-se nesta. -Isso se chama bolsão de oxigênio...

—Incrível...

—Quê que á? Parece pensativa... –insinuou ele, afastando-se um pouco para poder fitá-la melhor.

—Não sei. Só estou nessa de “contemplar e pensar”. Sabe? Não consigo parar de fazer isso... É automático. Uma droga!

—Entendo. Eu faço muito isso –contou. –Quer saber, porque não me conta no que está pensando? Sou ótimo em dar conselhos...

Luisa olhou bem para ele.

—Não é não. –riu ela.

—Está bem, está bem... Mas o quê um cara como eu não seria capaz de fazer por uma garota como você?

Luisa ergueu-se de imediato, desertando o braço dele de suas costas.  

—O quê está querendo insinuar com isso?

—Quero dizer que você é especial, e que eu sou seu amigo... Melhor amigo. Faria qualquer coisa por você.

—Sei –ela disse distante.

—Duvida de mim?

—Não. É claro que não... –ela colocou uma mecha atrás da orelha, baixando o olhar. –É só que...

—Está triste –desconfiou ele.

—Eu... –ela voltou a fitá-lo, mas se perdeu na ação ao contemplar o contraste das estrelas, brilhando feito lamparinas de natal acesas, refletidas num espelho castanho-esverdeado que eram os olhos do Doutor. O efeito que eles lhe causaram foi tão profundo e inesperado que ela até perdeu o fôlego.

—Sim...? –incentivou ele. –Você dizia...?

—Eu só... Bem, eu só estava pensando... –ela respirou profundamente, recobrando o fôlego e a noção. –Estava pensando em tudo o que fizemos... E em Joana D’ark.

Ele manteve-se inerte, mas não parou de fitá-la por um só instante.

—O que tem Joana D’ark?

—Bem, você sabe. Nós apenas paramos alguns séculos adiante e a deixamos por lá, sozinha no mundo, para seguir com sua vida em um meio diferente, com pessoas diferentes e idéias diferentes...

—Clama lá! Não foi tão ruim assim... Na verdade nós fizemos um favor à ela! Deixamo-la em um século onde o único lugar onde o fogo é utilizado diariamente seria no fogão, para se cozinhar... Um século onde as pessoas são livres para pensar e agir e não tem como penitência ser queimado vivo. Não podemos reclamar! Até que foi uma baita de uma evolução se comparado à Idade Média...

—Sei disso –concordou ela de imediato. –Só fiquei pensando como ela se instalaria em um lugar como esse? Com padrões tão distintos dos dela...

—Bem, Joana D”ark sempre foi diferente de todos... Não me surpreenderia se ela se habituasse bem até demais. Mudasse de identidade... Ficasse famosa e muito popular! Se sua nova identidade rodasse o mundo e ela se tornasse uma lenda, mas com outros padrões e sempre mudando de figurino...

—Está dizendo que a Joana D’ark se tornou tipo... Uma Lady Gaga da vida?

—Eu nunca disse que isso fosse verdade –contradisse ele. –Mas também nunca disse que fosse impossível...

—Doutor! –riu Luisa. –Você está brincando, não está? Ela não poderia ser a Lady Gaga, poderia? –disse a menina espantada.

—Náá! Eu acho que não. –disse ele pensativo. –A Lana Del Rey Talvez... Faz mais o tipo dela.

—Ai meu Deus! Eu não acredito nisso... –riu Luisa. –Quer dizer que ela se tornou a Del Rey?

—Talvez. Ninguém sabe ao certo... Mas não somos as primeiras pessoas a desconfiar disso e nem seremos as ultimas. O Presidente dos Estados Unidos quê o diga...

E você nem pra me lembrar de pedir um autógrafo!—reclamou Luisa de um jeito cômico, fazendo o amigo rir também. Ele passou o braço novamente envolta dela e puxou-a para perto de si.

—E essa é você Luisa. Sempre mudando de assunto... –desconversou ele, depois de um tempo.

—Como assim?

—Me engana que eu gosto! Eu irei até a lua e transformarei a matéria pela qual ela é constituída, em queijo suíço, com a minha chave sônica, se você me disser que não tinha os pensamentos em outra coisa qualquer, que á principio não tinha nada a ver com Joana D’ark...

—Pare de implicar com bobagem! –rebateu ela.

—Não é bobagem... –insistiu ele. –É sua vida.

Ela fitou-o com muita intensidade por alguns instantes, então suspirou e disse finalmente:

—Estava pensando em casa. Nos meus amigos. Em minha mãe e em todos que nunca mais poderei ver novamente por causa do perigo constante que estará para sempre comigo de agora em diante “porque um dia eu optei em viajar com você”... –ela fez uma pausa, meio cabisbaixa. –E em Ned. Doutor, ele não pode... Digo, ele não está mesmo...

—Bem, não posso prometer nada –ele começou. -Mas talvez... Somente talvez... Se o universo estiver alinhado e nós tivermos tido muita, mais muita sorte mesmo... –ele pressupôs e ela o encarou, espantada. –Tá bem, tá bem! Vou começar do começo: Digamos que eu tenha bons contatos! Fiz umas ligações aqui e ali... E resolvi o seu pequeno problema, senhorita Parkinson.

Os olhos de Luisa se arregalaram um pouco, esperançosos.

—Está me dizendo que... –ela tomou mais fôlego, mas perdeu a coragem antes de prosseguir.

—Estou dizendo o que você pensa que ouviu. Ou não, já que eu não faço a menor idéia do que você possa ter escutado... Vamos tentar de novo. Apenas encare dessa forma: Eu estava de bom humor e a unidade da Teselecta controlada pelos meus antigos amigos me correspondeu bem. O fato é que depois que a Teselecta alfa perdeu seu poder de “controle de massa”, todas as demais unidades se viram livres e puderam ter controle total sobre si. Eu apenas conversei e fiz uma troca. Uma ajuda por uma ajuda. Eu os ajudaria a se libertar do Alfa e eles me ajudariam a tele-transportar o seu amigo para dentro de sua unidade, atualmente restaurada e segura. Antes do alfa se destruir, obviamente...

Você fez o quê?—ela sorriu, não conseguindo acreditar em seus ouvidos. –Repita isso!

—Bem... Não estou insinuando nada, se é o que está pensando –disse ele cruzando os braços, pensativo. – Nem foi um ato tão heróico assim. Não do tipo “Ei! Ele merece uma festa por ter bolado um plano tão incrível quanto esse!”, mas de qualquer jeito, pareceu ter dado pro gasto. –ele enfatizou. –Agora, se pudermos levar em conta todas as variáveis, como a restauração dos comandos principais, reconquistados pela Teselecta ainda há tempo, além das minhas incríveis habilidades de trabalho em equipe...

—Pode parar de enrolar e ir direto para a parte que você diz que o salvou? –apressou ela.

—Está bem então –ele suspirou. –Em resumo: Eu fiz umas parafernálias, e o salvei.

—AI! VOCÊ É MESMO INCRIVEL! –ela pulou em seu pescoço, abraçando-o fortemente. –EU TE ADORO, SABIA?

—Eu já desconfiava disso... –disse ele brincalhão. Ela lhe deu um beijo na bochecha quando se afastou, mas sua face ainda era uma mistura de empolgação com tristeza.

Por que não está totalmente feliz? Eu não entendo essas manias estranhas dos seres humanos... Como vocês conseguem sorrir com a boca e deixar os olhos lacrimejarem ao mesmo tempo? Assim você me deixa confuso! Eu nunca saberei se você estiver verdadeiramente feliz ou triste, se continuar fazendo isso...

—Ah, Doutor... –Luisa riu da pequena confusão que o amigo fizera. –Como você consegue ser ainda mais fofo do que já é?

Acho que é um dom natural—respondeu ele, ao que ela sorriu, negando o fato de ter acabado de ouvir aquilo, mas logo distanciou-se novamente, perdida em pensamentos. Ele, porém, não a deixou se distanciar por muito tempo.

—Por que não vem comigo lá pra dentro comer alguma coisa? Faz tempo que você não come...

—Não consigo. –desanimou-se ela. –É muito bom saber que Ned está vivo. De verdade! É tão bom saber que nesse exato momento, em algum lugar lá na Terra, ele estará vivo e bem...

—Provavelmente estará dormindo á uma hora dessas. –disse o Doutor. –O choque de ser miniaturizado por um maníaco suicida deve ter sido demais para ele... O garoto deve demorar a acordar.

—Que seja. Dormindo ou não, ele ainda estará lá! Estará sempre lá, entende? Enquanto eu estarei aqui... –disse ela, e o rapaz baixou os olhos. –Não que isso seja uma coisa ruim! –ela se apressou em dizer. –Não quero magoá-lo nem nada, mas não vejo como realmente a TARDIS possa substituir minha casa...

—E não pode. –disse ele amargurado. Então o Doutor suspirou profundamente e encolheu os ombros. Parecia arrependido de algo. –Luisa, sobre isso... Preciso te contar uma coisa...

—Espere! Eu sei exatamente o que você vai dizer.

—Sabe? –ele pareceu aterrorizar-se.

—Sei que vai tentar me convencer de que estarei melhor aqui com você, e que não há outro lugar no mundo melhor do que a TARDIS, para se abrigar do perigo em uma hora dessas... –novamente ele tentou falar, mas ela o atropelou. -E eu quero dizer que respeito isso. E que acredito inteiramente em você... Você é o meu melhor amigo e eu nunca desconfiaria de sua palavra... –o Doutor contorceu-se contrariado, já que ela não parava de por palavras em sua boca. Foi então que Luisa tocou num ponto importante: -Só que acontece que eu preciso vê-los. Uma ultima vez ao menos... Feito uma despedida, sabe? Se você preferir, eu nem conto essa parte de “nunca mais poder vê-los de novo” para eles... Só digo que sairei de viagem por uns tempos... Eu dou qualquer desculpa! Mas me leve para vê-los uma ultima vez... Por favor!

Pronto. Estava aí a sua chance de se redimir. A verdade era que o rapaz mentira para ela. O fato era que ela o bombardeara para conversar diversas vezes em momentos críticos, ainda quando estavam tentando bolar um plano para deter a Teselecta, o que o deixara meio disperso e um tanto irritado. Para não ter que discutir com ela, ele acabara meio que inventando essa coisa “de que ela seria perseguida pelo perigo por onde estivesse e que deveria ficar sempre perto dele, por segurança”. Matou dois coelhos com uma cajadada só e uniu o útil ao agradável: era fato que ele não queria ter que ouvir pela centésima vez a garota se culpando por Ned Bigby ter sido seqüestrado, e também, gostava demais dela para poder aturar a idéia de Luisa, possivelmente, ter começado a sustentar a idéia de ir embora, com medo dos perigos das aventuras, deixando-o novamente sozinho. E ele não queria mais ficar só. Passou a ter medo do que podia lhe acontecer se conservasse muito a solidão em si. Já era um homem velho, e acreditava que a vida não lhe permitiria tantas oportunidades mais, como aquela. E Luisa era única. Era exclusivamente ela. E isso a tornava ainda mais especial à seus olhos sábios e antigos.

No fim das contas, conseguira fazê-la acreditar realmente naquilo, apesar de não ter sido totalmente a sua intenção. A garota levou a conversa a sério até demais e, agora que o perigo passara, não havia mais porque esconder a verdade dela: ela era livre para desistir das viagens e voltar para casa quando bem desejasse. Isso não era nenhuma novidade, ele só precisava deixá-la novamente ciente disso. Só havia um problema nisso tudo: Como dizer à Luisa que tudo não passara de uma mentira momentânea, e mesmo assim, não permitir que ela perdesse a confiança nele, e também, conseguir não magoar a si próprio? (já que ela podia considerar de agora em diante a idéia de deixá-lo para trás). Ele estava em uma enrascada, mas a garota também não facilitava. Será que o tom irônico que ele usara quando falou tudo aquilo da primeira vez, não ficara claro o bastante? Teria que começar a trabalhar seriamente nisso...

—Está bem. Se for do seu agrado: Te levo para casa. –disse ele sério. Poderia falar que havia mentido para ela agora, no meio do espaço, e ela poderia surtar de verdade ou então, poderia esperar até que chegassem em sua casa para dizer tudo... Certo, estava decidido: Esclareceria tudo aquilo à ela quando chegassem na Terra. Esse era um plano ainda melhor.

A garota sorriu e abraçou-o ainda mais intensamente, o que o deixou mais aliviado. Estava aí a sua solução: Deixaria para por tudo a limpo quando voltassem para a Terra. Quem sabe lá, ao lado da família e amigos ela se sentisse melhor e, quem sabe, pudesse até ignorar a sua imensa burrada... Ao menos, ele tinha fé nisso.

—Tudo bem então pessoal... –ele fechou as portas da cabine e passou correndo pela sala de controles, acompanhado da garota, acertando o casaco marrom comprido no corpo e passando velozmente por Melissa, que retocava o batom, sentada em uma das poltronas com Nik logo ao seu lado, no chão (o Doutor invertera a polaridade da chave sônica, deixando Nik novamente branco com pintinhas pretas, tornando-o um dálmata comum –a não ser pelo fato de ainda poder falar. Todos chegaram à brilhante conclusão de que sua equipe já era estranha o bastante sem um cachorro todo colorido, e de fato, não precisavam disso para chamar ainda mais atenção por onde passavam. Ao passar por eles, o Doutor prosseguiu: -Terra, Rua Bannerman, casa 18, quintal dos fundos... Aí vamos nós!

—Vamos pra casa? –emendou Melissa, juntando-se a amiga.

—Sim. Ele me prometeu isso.

A cabine sacolejou bastante, dando várias guinadas sem aviso prévio, o que deixou Melissa bastante impaciente e irritadiça (como era de costume). Mas tudo, inclusive a expressão animada do Doutor, mudou de forma quando ele vislumbrou alguma coisa que parecia estar bastante fora dos padrões de vôo normais (até para uma caixa azul).

—Oou... Problemas!—cantarolou ele, com os olhos vidrados na televisãozinha do painel de controles colorido e todo aceso. –Segurem-se, podemos ter turbulência...

—Problemas? Dê que tipo?

—Em uma escala de um a dez... –estipulou ele, agitado. –Acho que Onze seria um bom número.  

—Então a coisa tá feia mesmo! –concluiu Melissa. –Como nós vamos...

—SE SEGURA! –ele puxou uma alavanca e todos foram atirados para trás, perdendo totalmente o equilíbrio. –Estamos viajando sem controle... Nós vamos bater!!!

Não diga!—retrucou Melissa, revirando os olhos. –Eu certamente nunca chegaria à uma conclusão como esta, ainda mais pelas nossas circunstancias atuais...

—Melissa... –chamou o Doutor.

—Quê que é?

Cale a boca!

Ai! Não precisa ser tão rude...—ela lhe mostrou a língua. –Depois reclama que eu sou muito... Ai!

—NOVA GUINADA... Estamos adentrando em território desconhecido –avisou ele. –Segurem-se!

—Espere aí! Você me prometeu que voltaríamos pra casa! Me prometeu isso... –acusou Luisa, revoltada. Ela o olhou irritada, como nunca fizera antes, em seguida travou uma luta corporal com ele, tentando impedi-lo de manusear os controles. –ME LEVE PRA CASA! ME LEVE DE VOLTA! VOCÊ PROMETEU!

—Sei o que eu disse, mas não tenho escolha, Luisa! Entenda. Isso não é pessoal! Simplesmente não posso levá-la para casa... Perdi o controle! A TARDIS não está respondendo aos meus comandos...–disse ele exasperado, com total sinceridade.

—Então trate de recuperá-los! –reagia ela, parada na frente do painel, tentando imobilizá-lo, mas o Doutor foi mais rápido, segurou-a e a fez dar um giro na direção dele, de modo que a garota ficou presa entre seus braços. –Não vai conseguir nada com isso! –gritou ela em protesto. 

—Vou conseguir proteger você. –disse sem fôlego. -SEGUREM-SE! Essa vai ser forte...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!—todos gritaram juntos em geral, enquanto a cabine rodopiava feito louca, sem direção. Por um momento, foi como se a gravidade não existisse. Tudo virou de cabeça para baixo, sendo lançado para tudo quanto era direção. Então, de repente, as coisas voltaram ao seu perfeito estado normal. Um baque surdo avisou que a parte turbulenta da viagem havia acabado. Haviam pousado em alguma coisa.

Luisa abriu os olhos e viu seu estado atual: tudo no lugar. Pelo menos, assim parecia. Tentou se mexer, mas alguma coisa a mantinha presa no lugar como um cinto de segurança: as mãos do amigo ao redor de sua cintura.

—Ai meu Deus... Me desculpa Doutor! –ela disse aturdida, levantando-se de cima dele. –Está tudo bem?

—Está sim –ele ergueu-se de um só salto, mas massageou a cabeça fazendo uma careta. –Acho que distendi algum neurônio do meu cérebro... Mas tudo bem.

—Melissa! –Luisa correu para a outra direção e o amigo foi atrás. Ajoelharam-se no chão, ao lado de Nik que latia feito louco próximo á uma poltrona com pernas compridas.

E tiem da q... !

—O que ela disse?

—Para nós a tirarmos daqui, acho. –traduziu Luisa, e imediatamente os dois, além de Nik, tiraram a poltrona de cima dela.

—Será que ela está bem?  -perguntou Luisa preocupada.

—Não sei. Mas não é a toa que me chamam de “Doutor”... –ele se inclinou para ver como a garota estava.

Encosta em mim que eu te dou uma voadora! —gritou a outra irritada. Os outros dois se entreolharam, cúmplices, lançando olhares divertidos um para o outro, que na real exclamavam “a Melissa de sempre”.

—Então nós caímos... –analisou Luisa. –A TARDIS caiu?

—Não acredito que tenhamos caído... –supôs o rapaz, esfregando um dos olhos. –Imagino mais que tenhamos escorregado em uma falha no espaço...

—Hã! Isso já era de se esperar! –grunhiu Melissa. -Tratando-se dessa sua nave, que mais parece um ferro velho imprestável, nunca pode se viajar em paz...

Chamou minha nave de quê?

—Não adianta se doer Doutor. A verdade é só uma, e é essa! –rebateu ela, adotando uma postura muito mais indiferente, enquanto falava. –E você não pode negar que não seria a primeira vez que essa caixa maluca nos colocou em apuros...

—Espera aí! Não fala da minha nave desse jeito... Ela é uma boa garota! –retorquiu ele usando um tom magoado, acariciando de leve alguns controles da TARDIS, enquanto a defendia. A cabine zuniu, como que desaprovando a iniciativa de Melissa, e as luzes piscaram por alguns instantes, até novamente se estabilizarem. O Doutor olhou curioso de um lado para o outro, deixado suas sobrancelhas em V. Alguma coisa ali estava muito errada. –Prontinho querida... Está tudo bem agora. Shh, Shhh, Shhhhh... Está tudo bem. Pronto. Já acabou...

Está falando de novo com a cabine?—ponderou Melissa incrédula. –Como pode estar falando e alisando a cabine? Está acariciando e flertando com ela também, não está? Eu não acredito que você realmente esteja...

Parem vocês dois!—interceptou-os Luisa, com o dedo indicador nos lábios, pedindo silêncio. –Esqueçam a caixa azul por um instante... Estão ouvindo isso?

Todos silenciaram, procurando ouvir o mesmo som que a menina ouvia.

—Estou ouvindo...

—Eu também!

—O que é?

—Não sei... –de repente, o Doutor pareceu ficar super atento. –Parecem ser... Tambores!

Ele atravessou a sala de controles na velocidade de um raio, deixando as meninas para trás, que logo o alcançaram com sucesso. O rapaz ergueu as sobrancelhas para as duas antes de abrir a porta, então o fez.

E a cena a seguir quase fez seus queixos caírem no mesmo instante, de tão improvável que era.

—Não se mexam! Fiquem onde estão! –ordenou um dos vários centuriões, de elmo com plumagem avermelhada no alto da cabeça, capas também na cor rubro e túnicas revestidas de prata e bronze, que apontavam-lhes espadas bem afiadas, próximas aos seus rostos.

—O que nós fizemos agora? –indagou Melissa aflita. –Não estou gostando nada das nossas últimas recepções...

—Então vá reclamar de seu tratamento ao deus Júpiter!  -ameaçou um outro, com um sorriso sarcástico e malicioso nos lábios. –Duvido que volte de sua missão ainda em vida...

—Nossa senhora! Mas vocês sabem mesmo como acabar com a confiança de alguém... –observou Luisa, chocada.

—E o que você queria? Somos romanos, pombas!

—Romanos? Com esse palavreado? –interveio o Doutor dando uma gargalhada bem sarcástica. –Nem em um bilhão de anos...

—Pare com essa insolência, ou terá que se ver com a nossa rainha...

—E quem seria? –perguntou o Doutor e todos fizeram a maior cara de estranheza. Alguns dos soldados até baixaram as armas, dando de ombros. –Ah, não me olhem assim só porque eu não sei o nome da sua rainha... Olha, será que não podem encarar perguntas comuns como essa como se eu apenas houvesse acabado de perguntar as horas?

—Não se faça de tolo perante ao próspero império de Nefertiti! –rugiu outro soldado, desta vez com um elmo emplumado em penas azuis.

—Nefertiti? A Rainha Nefertiti? Como pode me dizer uma coisa dessas? Se fosse Cleópatra eu até podia aceitar, apesar dela também ser uma rainha egípcia. Mas Nefertiti? Sério mesmo? –disse o Doutor incrédulo.

—Qual o problema com essa tal de Neferiti? –perguntou Melissa, sem entender nada.

—O problema é que está tudo errado! –falou ele. –Veja, estamos em Roma, aparentemente, onde deveriam estar no comando de Júlio César, mas na verdade, estão sendo comandados por uma rainha Egípcia... E espera um pouco: Isso aí na armadura desse solado azul é um emblema grego? 

—Você é um homem bem esquisito... –falou um dos romanos. –De onde foi que eles vieram?

—Eu vi eles caindo dos céus! –contou um segundo soldado, com o mesmo emblema diferente gravado na armadura.

—Espere aí! –cortou o Doutor. –Dá licença, eu odeio ter que cortar a linha de raciocínio de um compadre romano, mas é por uma boa causa: O que um soldado romano e um soldado grego fazem aqui, juntos, lutando lado á lado sob o comando de uma rainha Egípcia?

—Que confusão! Você deu um nó nos meus miolos... Será que dá pra começar de novo? –disse Melissa, massageando a cabeça.

—O Doutor disse que temos três civilizações diferentes no mesmo espaço. –explicou Luisa. –Gregos, romanos e egípcios. O que é muito estranho, já que cada um dos povos tinha suas próprias histórias, culturas, crenças, além de serem comandados por líderes diferentes...

—Certo –falou Melissa erguendo uma das sobrancelhas. –Então que diabos todos eles estão fazendo aqui? 

—É exatamente aonde eu quero chegar! –exaltou-se o Doutor. –“Há algo de podre no reino da Dinamarca”...

—Mas não estamos na Dinamarca... Estamos na... –Melissa parou no ato de corrigi-lo e voltou-se para os romanos ao seu lado. –Onde é que estamos mesmo?

—Este é o Império Gregipciomano—informou um dos soldados mistos, de grande porte, forte e de aparência destemida. -Do planeta Júpiter.

Júpiter?—Luisa pareceu ter levado um choque. –Quer dizer que não estamos mais na Terra...

—A Terra fica um pouco mais pra frente –disse um dos soldados azuis, de nariz adunco. –Se está procurando a Inglaterra-Afro-Oriental-Alemã, então erraram o caminho...

Inglaterra-Afro-Oriental-Alemã? –repetiu Luisa, absorta de suas palavras, olhando para o Doutor como se sua vida inteira estivesse virado de cabeça para baixo. –O que está acontecendo por aqui...? –sussurrou ela em seu ouvido. –Estão todos pirados! E, é impressão minha ou os países estão divididos em territórios mistos, separados não apenas por fronteiras, mas sim por planetas?

—É o que parece. –concordou o Doutor.

—Então onde estamos? Que lugar é esse? –insistiu ela profundamente perturbada. O rapaz a encarou por alguns segundos e tomou uma decisão: Costumava se dar muito bem com rainhas, ainda mais tratando-se de Nefertiti, com quem já tivera um caso uma vez, mas julgando pelas condições atuais, precisavam mesmo era dar o fora dali bem rapidinho.

—Amigos Gregipciomanos Conterrâneos! –começou, erguendo os dois braços, chamando total atenção para si. –Eu lhes agradeço pela total cortesia em nos fornecer valiosas informações. Agora, com sua licença, nós: Seres místicos que caímos das entranhas do universo, gostaríamos de agradecer por sua total hospitalidade, que com certeza não deixou absolutamente nada a desejar... –Melissa estapeou a própria testa. –Contudo, precisamos partir em nossa imensamente perigosa Caixa de Pandora Azul, onde estão guardados todos os males do mundo e blá, blá, blá... Bem, vocês conhecem a história, imagino eu? –adiantou-se o rapaz, desestimulado em continuar falando, por conta da “cara de nada” feita pelos soldados.

E, aproveitando-se de um segundo de descuido dos centuriões Gregipciomanos, o Doutor puxou as garotas, e juntos retornaram para dentro da cabine, sumindo logo em seguida de vista. Deixando para trás um agrupamento de Gregipciomanos, deveras intrigados.

O Doutor pôs-se a correr em volta do painel de controles da TARDIS, acionando várias alavancas ao mesmo tempo. No entanto, com algumas dificuldades em vista, o rapaz inventou um modo tipicamente seu de fazer o serviço: as alavancas que não conseguia alcançar com as mãos, esticava-se ao máximo por cima do painel e, com os cotovelos ou, até mesmo com os pés, acionava os botões retorcidos que criavam uma nova rota de destino para a nave. As garotas só olhavam embasbacadas com a cena, isso quando não estavam caindo com os solavancos da cabine azul. O Doutor parou a nave e ficou parado por um momento, observando atentamente uma fumacinha que se formava por detrás do motor. Voltou a olhar as meninas momentos depois, mas já não havia mais como ignorar a incompreensão expressa por elas:

—Arrr... Tá legal! –resmungou ele revirando os olhos. –Que pontos de interrogações gigantes são esses pairando acima de suas cabeças?

—Doutor –Luisa se manifestou. –Por que viemos parar nesse lugar? Onde estamos?

O Doutor fitou-a demoradamente, então sorriu e disse:

—Ainda não sei ao certo, mas, se as senhoritas não se importarem de me acompanhar por um instante, poderemos descobrir tudo em um minutinho... –ele passou por elas, caminhando apressado rumo à porta. Elas só tiveram tempo de se entreolharem e, no fim das contas, não puderam fazer outra coisa, a não ser acompanhá-lo.

O Doutor abriu as portas azuis e apoiou-se nas maçanetas das duas, enquanto as meninas aproximavam-se por trás de si, observando uma imagem belíssima do seu sistema solar, a longa distância. Os olhos de Luisa brilharam e ela sorriu, ao mesmo tempo que Melissa estremeceu de um jeito bom, com as mãos unidas na altura do peito.

—Isso é lindo... –suspirou Luisa.

—É o nosso sistema solar? –sorriu Melissa, mal cabendo em si.

—É. –o Doutor mordeu o lábio inferior. Alguma coisa o estava incomodando. –Mas se olharem mais atentamente... Poderão notar algumas diferenças bem aparentes.

Luisa estreitou os olhos na direção dos planetas alinhados na direção do sol, então hesitou.

—Ih! Quem foi que deixou os anéis de Saturno laranja?

—E olha só: as luas de Júpiter são amarelas! Desde quando isso está desse jeito?

O Doutor inclinou-se um pouco para fora, dando uma olhada melhor. 

—Ai caramba!

—Que foi? É ruim? –sondou Luisa.

—Estamos... Na franqueza da palavra... Ferrados. –bufou ele, passando as mãos agitadas pelos cabelos, escorregando-as até o pescoço, de modo que sua cachoeira de cabelos desgrenhados foram arremessados para trás. –Literalmente dizendo: Ferrados. –ele inclinou a cabeça fazendo uma careta.

—Mas estamos tipo assim, ferrados “quanto”? –especulou Melissa.

—Imagine um balão de festa infantil –começou o rapaz. -Então comece a enchê-lo até que adquira um tamanho significativamente grande. É claro que uma hora ele vai acabar estourando... Entendeu?

Melissa parou para pensar.

Vamos explodir feito um balão?

É claro que não!—resmungou ele revirando os olhos. –Você viu como a TARDIS decolou... Nós saímos do Vórtice do Tempo! Desde o principio eu desconfiei que havia algo errado nisso tudo. A TARDIS ficou agitada e parcialmente descontrolada. Quero dizer, mais do que o normal... –ele cerrou os dentes, sem fixar os olhos em um ponto específico.

—E o que o balão tem a ver com tudo isso? –insistiu Melissa.

—Eu só quis exemplificar o que nos aconteceu em um esquema mais fácil. É uma metáfora. O balão representa a nossa situação perante ao Vórtice, que vai se tornando cada vez mais preocupante. Enquanto o balão ainda estava murcho, nós ainda estávamos em segurança, mas conforme caímos para fora do Vórtice, a situação ficou crítica...

—E o balão encheu até onde pôde –completou Luisa procurando uma confirmação vinda da parte dele. –Está no seu máximo...

—Sim. Entendeu agora, Melissa?

Melissa fitou-o com total incredulidade.

Não teve muitas festas de aniversário quando criança, teve?—acusou.

—E o que isso importa? –retrucou ele, nervosinho.

—Você é problemático!—ralhou ela, como se fosse totalmente óbvio. Ele fitou-a mal-humorado, cruzando os braços, com pose de superior, tentando não parecer ofendido, apesar de ter ficado mais do que na cara.

Luisa bufou.

Vai começar tudo de novo...

—Cuide da sua vida! –gritou ele para Melissa, mostrando-lhe a língua.

Infelizmente, você faz parte dela! E estamos amarrados nessa confusão juntos graças ás suas atitudes imbecis...–atacou Melissa, com as mãos na cintura. –Então, ao menos aprenda de uma vez por todas a conviver comigo!

—Você é irritante! Não gosto de pessoas irritantes na equipe...

—Gente... –Luisa tentava de tudo para conter a situação da melhor forma possível. –Vamos sentar e conversar. Quem sabe a gente até resolve as nossas diferenças de um modo mais calmo e maduro...

—Não somos uma “equipe”! –retrucou Melissa, ignorando o comentário amistoso da amiga. –“Estamos mais para uma banda de rock muito ruim, no dia da estréia do primeiro show, que marca também o fim da carreira...”

—Suas exemplificações são tão ruins quanto as minhas...

Os olhos de Melissa brilharam.

—Então você admite que elas são ruins! –ela o pegou no flagra.

O Doutor limpou a garganta, visivelmente irritado. Luisa sabia que não iria acabar bem.

—Pessoal... Por favor... –alertou ela mais uma vez, mas novamente foi ignorada.

—Não admiti!

—Admitiu!

—Não admiti!

—Admitiu!

—Vocês só podem estar de brincadeira... –Luisa tombou a cabeça de leve para o lado, observando os dois amigos discutindo feito crianças. –Eu não sou paga pra ter que agüentar esse tipo de coisa... –reclamou com seus botões.

Enquanto Luisa refletia, a discussão continuava...

—Você é um irresponsável! Como deixou que caíssemos fora do Vórtice?

—Isso não devia ter acontecido... As chances de uma coisa dessas ocorrer são mínimas...

—E nós tínhamos que ser os “privilegiados”, como sempre! Não é? –reagiu ela.

—Eu não tive culpa! Não fiz acontecer... Tentei ao máximo concertar as coisas!

—Bom, julgando pelo fato de nós termos sido expurgados do Vórtice até esse fim de mundo, acho que seu plano não deu muito certo, não é gênio?—disse ela com sarcasmo.

—Isso não devia acontecer... Nada disso devia acontecer! –ele insistiu um pouquinho alterado. –O Vórtice é um túnel quântico de alta potência... Exclusivo para viagens no tempo. É o nosso caminho através do tempo e espaço, a melhor forma de locomoção nesse tipo de atividade. É como uma rua para os carros. Não deveríamos nunca poder sair da “auto-estrada”.

—“Só que os carros as vezes cortam caminho por outras ruas alternativas!” –rugiu Melissa, estressada.

O Doutor arregalou os olhos como nunca. Pareceu ter se dado conta de algo muito importante.

Ará! —gritou, assustando-as. –Eu sou burro! Mais eu sou muito burro mesmo... O senhor dos burros!

—Concordo plenamente! –sorriu Melissa.

—Calada, estou no meu momento de reflexão, não interrompa, ao menos que seja por algo muito importante, tipo para me avisar que os biscoitos queimaram ou que recebemos uma ligação do presidente... Dos Estados Unidos. –ele foi desacelerando a fala. O dedo indicador contra os lábios de Melissa, que o fitava com um ódio mortal. –Onde eu estava? –ele voltou-se para Luisa.

—Você estava no meio de uma auto-avaliação muito extremista... –falou a garota desaprovando.

—Ah! Certo. Então: Não caímos do Vórtice! Melissa tem razão, pegamos o “caminho alternativo”, como os carros fazem nas auto-estradas... –ele sorriu paranóicamente. –Não estamos perdidos, apenas entramos na “rua errada”. Precisamos achar o melhor retorno e voltar novamente para o ponto de partida para só então, seguirmos viagem!

Silêncio e muitas trocas de olhares.

—E como faremos isso? –indagou Luisa, finalmente.

—É essa a parte difícil –explicou ele. –Pense dessa forma: precisamos encontrar o ponto de partida, ou seja, o lugar exato onde surgimos nesta versão do universo...

—Mas então quer dizer que não estamos mais no nosso universo? –intensificou Luisa. O Doutor olhou-a demoradamente.

—Acho que não. –disse, temeroso. –Eu lamento, mas não sei exatamente onde estamos, só sei que, com certeza, não é nossa casa...

—E como pode ter tanta certeza?

—Olha só –o Doutor apontou para além das portas da TARDIS e o trio passou a fitar novamente o sistema solar colorido á distancia. –Veja bem, não é apenas a civilização que está estranha, o sistema solar inteiro também está! Tudo ao nosso redor parece ter trocado de forma. Nos pequenos e até grandes, detalhes. Tudo faz uma grande diferença no funcionamento do universo. Se observarem bem, poderão ver como os movimentos de rotação e translação dos planetas estão alternados. Se puderem observar ainda mais atentamente, notarão que alguns planetas estão girando em sentido contrário do normal, inclusive a própria Terra... E tem mais: o Sol não os está mantendo parados no mesmo lugar com a força de sua órbita, como devia ser. Na real, é até possível ver os planetas inclinarem-se ligeiramente, como se a qualquer milésimo de segundo fossem, de repente, se desprender do lugar em que estão, para flutuarem sem rumo pelo universo á fora. Se isso acontecesse, os efeitos seriam catastróficos! Imagine todos os nove planetas pendendo desgovernados pelo universo... Poderiam ser facilmente acertados por um meteoro; ser atingidos por asteróides; vaporizados pelo sol; poderiam entrar em um buraco negro por engano; ou acabar em um buraco de minhoca... Ou até mesmo entrar em colapso com outro planeta... Imagine só: a grande e esplendorosamente brilhante civilização Humana reduzida a pó. Isso com certeza seria muito decepcionante. Ainda mais se fosse partidos ao meio por um...

—Tá legal Doutor! Acho que já chega do seu discurso super estimulante... –ironizou Melissa, fazendo-o se calar. –Já entendemos o quanto seria ruim se a Terra saísse vagando pelo espaço á fora! –ela negou alguma coisa com a cabeça. -E eu vou até ignorar o fato do sol estar cor de rosa...

—Mas... –recomeçou Luisa em um murmúrio. –Então você quer dizer que esse não é o nosso sistema solar?

Ele a olhou com a maior animação. Seus olhos brilharam ao fazê-lo.

—Possivelmente. Não é empolgante? –ele passou o braço ao redor do pescoço dela. -Se meus cálculos estiverem corretos...

—O dia que seus cálculos estiverem corretos, o universo terá razão em estar de pernas pro ar... –comentou Melissa, provocadora.

Ele a olhou feio, mas prosseguiu.

—Se meus cálculos estiverem corretos, então estaremos em outro sistema solar muito parecido com o seu, mas ainda sim, diferente em alguns aspectos...  –disse ele com seu olhar paranóico.  

—O que está sugerindo? –interceptou-o Luisa. –Que viemos parar em uma cópia do universo não tão leal quanto a original?

—Se é que há uma cópia original... –rebateu ele, sonhador.  Então pareceu ter tido uma revelação ainda maior. –É isso! Eu sabia! Eu sabia esse tempo todo, mas tentei esconder a verdade de mim! Caramba, eu sou bom nisso hein? –falou consigo mesmo, dando um tapa na própria testa.

—Vai começar... –Melissa revirou os olhos.

—Isso é sério! Eu devia ter desconfiado que se tratava de um desvio quântico derivado da baixa estabilidade da nave, somado com a quantidade de energia submetida á desaceleração das partículas de radiação residual espalhadas por todo o contêiner da TARDIS. Mais é claro que o desvio quântico fora derivado de algum aceleramento imprevisto. Ah! É isso! Estivemos em tantos lugares no mesmo dia que a TARDIS sobrecarregou o sistema, perdendo a noção da nossa própria linha do tempo, saltando desta para uma outra qualquer, talvez paralela á nossa. Não. Paralela não seria o nome mais apropriado... Ah! É claro! O desvio quântico resultou em uma rota alternativa através de um buraco de minhoca! Sim! O buraco é a coisa! Caímos em uma Realidade Suspensa No Tempo E No Espaço!—ele terminou empolgado, deixando-as ainda mais confusas.

—Espera aí, “rebobina” um pouco essa fita: Buraco de minhoca?—indagou Luisa.

—Ah! Alguém estava prestando atenção nas coisas que eu disse... –ele se animou, sorrindo amplamente para ela, então lançou um olhar reprovador á outra.

—Não olhe pra mim desse jeito. Luisa é a “atenta” do grupo. O meu trabalho aqui é só tirar você do sério. –disse Melissa.

—E você faz isso muito bem, mas olha só –ele pediu um minuto de atenção para as duas, então prosseguiu: -Eu tenho uma teoria que envolve buracos de minhoca. Buracos de minhoca são conhecidos por serem um tipo de “ponte”, ligando dois lugares. Em teoria, se você atravessar um buraco de minhoca, poderá surgir com vida em qualquer outro lugar. Bem diferente de um buraco negro, portanto, não façam confusão. –ele fez uma pausa. –Um buraco de minhoca é composto por matéria exótica, que possui densidade de energia negativa. Essa energia nos permite adentrar na chamada “boca” ou “garganta” do “verme” e conferir o fenômeno. Quando caímos nele através deu uma das bocas, atravessamos toda sua extensão e, automaticamente, saímos na outra extremidade, que estava ligada justamente em uma realidade suspensa no tempo e no espaço. Parecida com a nossa, em alguns aspectos, mas completamente distinta em outros. Acho que a melhor definição seria a de que adentramos em “um tipo de espelho distorcido do nosso próprio Sistema Solar...”. Perguntas?

—Sim. Por que exatamente copiar o nosso sistema solar? Por que não qualquer outro lugar, já que você disse que um buraco de minhoca leva á qualquer lugar? –lembrou Luisa.

—Poderíamos ter caído em qualquer lugar, mas a TARDIS tem um protocolo de emergência instalado. Quando se vê inerte no tempo e no espaço, e em perigo, ela está programada para, automaticamente, retornar ao planeta Terra. Ah sim... –ele analisou. –Ela tentou, mas nós já estávamos suspensos do nosso universo... Então ela fez o que estava programada para fazer: Localizou a Terra e nos trouxe para o sistema solar em que ela fica, mas não no sistema solar correto. A TARDIS nos trouxe até aqui, acreditando que havia conseguido nos levar para casa, quando na verdade, cometeu um grande erro...

—Então ela nos trouxe para a Terra, mas ao mesmo tempo, uma Terra diferente da nossa, imaginando que havia nos levado para casa? –Luisa constatou. –Ela... Tentou nos salvar...

—Ela tentou sim –o Doutor concordou, acariciando o batente da porta azul. –Ela se esforçou ao máximo... Obrigado querida, por tentar. –sorriu para a cabine.

—Não é por nada não, mais como iremos... Voltar?—perguntou Luisa, tocando seu ombro.

—É aí que está o problema... –admitiu ele, com o olhar distante. –Não sei exatamente o ponto do espaço em que surgimos aqui. É como uma porta invisível, e só poderemos voltar ao nosso universo se a encontrarmos.

—Quer dizer que estamos presos aqui definitivamente? —Melissa levou as mãos à cabeça, em um ato de desespero; Luisa correu até a amiga para consolá-la. Nik correu para perto da dona. Ele estivera deitado sob a poltrona que caíra em cima da garota mais cedo, esse tempo todo, mas ao pressentir que sua tão amada dona adolescente, estava á beira de um ataque de nervos, correu para junto dela na mesma intenção de Luisa: acalmar-lhe os ânimos.

—Doutor! –chamou Luisa, em uma súplica leve, enquanto ajudava a amiga a se sentar na poltrona. –Diga que irá conseguir nos levar de volta... Diga.

—Sim, sim. É claro. –prometeu distante. Ele tinha uma das mãos na lateral do rosto, sobre a orelha, e mexia nesta distraidamente. Parecia perdido em pensamentos. Encontrou as meninas fitando-o de um jeito inquietante. –É claro que eu vou conseguir levá-las para casa. Só precisaremos de um pouco de...

—Ajuda? –sugeriu Luisa. A garota já estava mais perto dele do que anteriormente. Sua aproximação repentina o surpreendeu um pouco.

—Talvez. Mas pedir a quem? Ninguém lá em baixo vai saber nos ajudar –ele apontou para os planetas e Luisa se deixou perder o olhar nas grandes esferas coloridas pendendo no vácuo do espaço. –Ao menos que... –ele sorriu intensamente. –Está pensando no mesmo que eu?

Ela fitou-o por um instante.

—Que os seus olhos brilham como fogos de artifício quando você fica empolgado? –chutou ela.

—Não, nem passou perto. –disse ele devagar, como se seu raciocínio desacelerasse, sem conseguir desviar os olhos dela por um segundo sequer. Ele quase nem piscava ao contemplá-la. Então eles viram-se sorrindo abertamente um para o outro e o Doutor ponderou: -As pessoas lá em baixo são diferentes das que conhecemos. Delas podemos esperar qualquer coisa, talvez até mesmo possam nos dar uma solução para o nosso problema... –ele disse, já fechando as duas portas da cabine e correndo de encontro ao painel de controles, seguido de perto por Luisa, Melissa e Nik, que não saiam de seus calcanhares. –Não olhem agora, mas poderemos estar mais perto da solução do que imaginamos... –ele sorriu, trazendo um alívio moderado à todos os presentes na sala de controles. Então, por fim, antes de finalmente decolarem rumo à algum dos planetas, ele voltou-se para Luisa. -E só pra constar: sim, meus olhos brilham, e não, eu não tenho controle sobre isso.

A garota sorriu e ele deu partida na nave, materializando-se aleatoriamente no lugar mais próximo de onde estavam. Por que não escolher o planeta antes de pousar? Simplesmente porque tira toda a emoção da surpresa, e também, esse não é o estilo do Doutor. Foram arremessados contra a fila de planetas desgrenhados: O que encontrariam pela frente? Só Deus sabe...


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Notas finais do capítulo

Como eu disse, esse capítulo servirá de introdução.

Sim, eu criei essa mistureba maluca de etnias e impérios divididos em planetas e não continentes. Yep, eu sou doida.

Os termos científicos como "buraco de minhoca", entre outros, dependeram de uma pesquisa detalhada para serem explicados, então nem tudo que está na fic é inventado. Há coisas com fundamentos. :D

Sim, apesar de eu ser uma pessoa gentil -e me identificar deveras com a Luisa -curto MUITO também fazer a Melissa pegando no pé do Doc. kkkkkkkkkkk Fazer o quê? Eu sou "dois em um". Fofa e Ousada.

E aí? Empolgados com a aventura que vem chegando? Onde será que eles vão parar...? Será que as pessoas daquele universo alternativo ajudarão eles a encontrarem o caminho de volta para casa?

Semana que vem descobriremos!



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