Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 35
O Lugar Mais Seguro do Universo


Notas iniciais do capítulo

Oi! :3

Tô feliz e muito meiga hoje :3 :3 :3

Motivos? Doctors and babys :)

kkkkkk Okay... Acredito que continue não fazendo sentido (para algumas pessoas), mas tudo bem.

Ah! Pessoal, esse aqui é o desfecho do arco Teselecta, só pra deixar claro.

"O Senhor do Tempo estava cansado de correr em círculos, através da história da humanidade. Cansado de ser acusado, culpado e humilhado. O joguinho da Teselecta precisava acabar... Alguém precisava pará-la".



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O Doutor estava sentado na escadinha que levada ao painel de controles da TARDIS. Olhava fixamente para suas mãos, o pensamento muito distante dali. Luisa fitou-o de longe, com pena. Sabia que o amigo estava fazendo de tudo para que conseguissem deter o inimigo e parar essas confusões por todo o tempo e espaço, mas estava se tornando difícil até para ele –a Teselecta certamente estava lhe dando uma baita canseira. A garota foi descendo de mansinho a escadinha, com uma das mãos deslizando pelo corrimão, até parar emparelhada ao amigo, e sentar-se ao seu lado. Sem muita dificuldade, ela tirou-o de seu transe sem fim, fazendo-o voltar a si. O Senhor do Tempo fitou-a e sorriu, mas ela sabia que aquele sorriso era só mais uma de suas mascaras. O amigo tinha muito disso: sempre fazia caras e bocas para que todos pensassem que estava tudo bem, quando na verdade ele mesmo não se sentia nada bem. A diferença, é que desta vez a menina conseguiu destingir um quê de desanimo em seus olhos. Não havia como negar... Eles estavam derrotados. Mais do que isso: foram humilhados. Foram-lhes passada a perna diversas vezes, e em todos os lugares a Teselecta conseguira pisar em cima do orgulho do rapaz –roubara-lhe até a chave sônica. Agora só havia Nik com quem poderiam contar para rastrear o humanóide, mas mesmo que o fizessem, era mais que certo que ele escaparia novamente, deixando-os mais uma vez frustrados com os resultados da busca. Como era possível que alguém estivesse conseguindo dar uma canseira tão grande neles? Quem estava controlando tudo? Como ele, quem fosse, poderia saber tão bem cada passo que o Doutor daria pela frente? Parecia até já conhecê-lo! Como poderia prever com tanta precisão as investidas do Senhor do Tempo? Luisa descruzou os braços dele, puxando um dos membros para si, então brincou distraidamente com sua mão, em função de ganhar tempo. Não sabia direito como começar uma nova conversa com ele, assim do nada. O rapaz não parecia estar muito a fim de conversar também, mas ela precisava fazer alguma coisa! Não podia deixá-lo se afundar em suas próprias desilusões... Precisava reanimá-lo de algum jeito... Foi então que uma idéia lhe veio à cabeça. Contudo, mesmo com um plano todo em mente, ela achou melhor começar pelo começo:

—Doutor?

—Hum?

—Sei que está chateado e tudo mais, mas não quero que você deixe uma coisa dessas te abater... –falou ela, ainda brincando com sua mão. Ele passou a observar, com mais atenção, os movimentos carinhosos que ela lhe fazia... Mesmo assim não abriu um sorriso, como faria de costume. Ela continuou: -Poxa, você é um rapaz incrível! Não sei como pode ser tão brilhante, mas você é, e eu admiro muito isso em você! –Luisa agora olhava-o nos olhos enquanto falava, esquecendo-se dos movimentos que suas mãos faziam na dele. Ele custou para retribuir-lhe o olhar, mas quando o fez, não desviou-o mais, como se apesar de tudo, ainda quisesse ouvir o que ela tinha a dizer sobre seu temperamento. Luisa sorriu ao perceber que havia conseguido atrair-lhe a atenção: metade do plano já fora concluída. Ela prosseguiu: -Você é meu melhor amigo... Sei que estamos nos desgastando bastante e que, até para seus padrões, isso está se tornando um tanto cansativo e impossível... Mas não se deixe abater por isso, Doutor. Eu te conheço há tanto tempo e em nenhuma das vezes em que estivemos em apuros ou em situações perigosas eu ouvi você dizendo que ia desistir. –o Doutor olhava-a impassível, isso deixou-a um pouco ansiosa: -Ora essa Doutor, você não pode estar desistindo de verdade! Que é isso? Onde está toda a sua coragem e determinação? Isso não é um mero blefe seu, isso é real! Está dentro do seu ser... –ela o chacoalhou de leve, mas ele apenas desviou o olhar. Então ela passou a coisa para um nível intensivo: –Cara! Você é impulsivo, hiper-ativo, inquieto, tem o finiquito dentro do corpo, então porquê raios você está parado sem fazer nada enquanto o universo está prestes á entrar em colapso?Acorda Doutor, acorda! Eu preciso de você! A Terra precisa de você, então vê se reage!!! —gritou Luisa, pondo-se em pé, terminando o chilique dando-lhe um tapa na cara.

—Ai! –gemeu ele, reagindo finalmente á alguma coisa que ela lhe fizesse. O rapaz ergueu-se também do chão, massageando o rosto e Luisa se deu conta, com horror, do que havia feito.

—Ai meu Deus! Me desculpa Doutor... Coitadinho! –ela abraçou-o fortemente, e sentiu-o retribuir o abraço. Quando se separaram, ele já parecia bem melhor. Sorriu como nunca para ela, mas agora era a garota que parecia meio perturbada: lhe falara coisas que o deixariam cheio de vida e ele nem deu bola, agora, lhe dera um tapa na cara e ele reagiu como se tivesse ganhado um sorvete. Ela realmente não conseguia entender o amigo por completo, às vezes tinha a singela impressão de que sua cabeça enlouqueceria se tentasse fazê-lo. Ele segurou-a pelos ombros e brandiu:

—Você me trouxe de volta! Que amor! Estou te devendo uma... –ele sorriu.

—Finalmente é você que está me devendo alguma coisa... –ela riu. –Olha que eu vou cobrar o favor depois... –brincou.

—Pode cobrar! Às vezes um tapa na cara é só o que precisamos para acordar e seguir em frente...

—Pena que não fazia parte do meu plano... –ela murmurou sem graça. –Essa saiu meio que de improviso... Me desculpe.

—Mas eu não estou te bronqueando! Estou te agradecendo! Você Luisa, sempre você. Você e o seu jeito doce. Sempre usa as palavras certas na hora certa... Você é Fantástica!—disse ele abraçando-a mais uma vez, tirando os pés da garota do chão. Ela riu com vontade e ele fez o mesmo. Quando ele a pôs de volta no chão, ficaram em silencio, sorrindo sem parar um para o outro. Ninguém sabia direito o que dizer.

—Então... –ela recomeçou colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha, corando um bocado. –Você disse mais cedo que tinha uma teoria sobre a Teselecta... Do que se trata?

—Andei percebendo algumas coisas bastante curiosas enquanto estivemos viajando, por exemplo: na passagem do assassinato do presidente Kennedy, notei que ao tentar me incriminar, a Teselecta alfa devia estar sendo controlada por alguém com a cabeça fora do lugar, pois só um louco de verdade seria verdadeiramente capaz de se arriscar para garantir a morte de seu inimigo, o que eu pareço ser, levando em conta todas as vezes que tentou me matar. Depois, notei que ele sempre está onde quer que nós estivermos, mas não exatamente nesta ordem...

—Como assim? –perguntou Luisa confusa.

—Já reparou como nós chegamos primeiro em algum lugar e só nos deparamos com a Teselecta um tempo depois de termos chegado lá? –a garota assentiu e ele estalou um dos dedos. –Ela sempre aparece depois de nós, o que sugere que nós não estamos perseguindo-a, e sim ela a nós.

—Quer dizer que durante esse tempo todo era ela quem estava nos perseguindo? –indagou Luisa incrédula. –Então ela estivera nos caçando e não o contrario?

—Entendeu? Isso explica porque ela não estava na idade média quando fomos parar lá, ou como chegou atrasada na assinatura da lei Áurea... Ela é quem está nos caçando. Por todos os lugares, em todo o tempo e espaço, ela só fez nos caçar. Está tentando acabar comigo... O problema é que não sei com quem estou lidando. Sei que é louco e que me detesta, mas não faço idéia de quem possa ser, e isso dificulta bastante o processo de bolar um plano para detê-lo, já que não sei suas fraquezas, principais investidas ou qualquer estratégia que possa ter... A única coisa que tenho certeza, é que foi essa pessoa quem bagunçou o sistema da Teselecta e usou-a para tentar me destruir. É ela que está no controle de tudo. Detendo-a, libertamos a Teselecta e acabamos com o problema...

—Então –Luisa olhou-o preocupada. –Isso nos leva somente á um lugar: Temos que tomar uma iniciativa.

—Temos sim. –concordou ele. –Temos que reverter esse jogo. Ela acha que está nos seguindo. Podemos usar isso ao nosso favor... Temos que levá-la até algum lugar estratégico e prendê-la ali. Só assim poderemos tirar dela toda a verdade...

E salvar Ned—lembrou Luisa. –Coitado, não merecia estar passando por nada disso... Eu não acredito que a culpa disso tudo é minha! –ela sentou-se no chão, enxugando as lágrimas.

—Olha... –o rapaz agachou ao lado dela. –Eu vou ser bem sincero com você: Eu menti pra você. –imediatamente ela olhou-o sem entender. -Disse que ficaria tudo bem com você se depois de viajar comigo você voltasse para a sua vida normal... Mas a verdade é que as viagens pelo tempo deixam seqüelas. É como radiação. É impossível estar perto de uma bomba e não receber a radiação dela quando finalmente detonar. Eu sinto muito... Mas você carregará isso com você para sempre.

—O que quer dizer com isso? –ela parecia em choque.

—Quero dizer que, existe uma porcentagem muito pequena de chance de ter sido por sua culpa que isso tudo aconteceu... –começou ele, devagar. –Então... Existindo uma mínima porcentagem sequer... E, como não existem coincidências, realmente é possível que você tenha atraído isso tudo.

—Quer dizer que fui mesmo eu? Eu causei tudo isso?—o coração de Luisa disparou. –O Ned está passando por isso tudo por culpa minha?

—Não especificamente por culpa sua, mas você é minha companheira agora, isso significa que esse tipo de coisa vai sempre acontecer onde quer que você esteja.

—Quer dizer que só porque eu viajei no tempo, agora eu estou meio que “condenada” a atrair encrenca, assim como você? –ela não acreditava no que ouvia. –Quer dizer que eu estarei pondo em perigo minha mãe e todo mundo que estiver ao meu redor? Meu Deus! Eu própria me condenei a isso...—disse ela desgostosa. –Onde eu vou ficar agora? Para onde vou? Não quero deixar todos os que amo em perigo...

—Escute... –o Doutor segurou-a pelos ombros. –Eu peço desculpas. Peço desculpas mesmo... A culpa foi toda minha... Chamando-a para uma viagem, há dois anos atrás, eu acabei te comprometendo para o resto da vida...

—Você não tem culpa –ela negou. –Se me lembro bem, fui eu que insisti para vir com você... E acabei arrastando Melissa comigo. Caramba! Eu a comprometi também... Agora ela só causará problemas por onde passar. Não podemos deixar que nossos amigos e parentes sofram mais perigo! –então ela distanciou-se dele, mas ainda continuou a contemplá-lo. –Doutor, o que devemos fazer para impedir isso? Não posso continuar vivendo imaginando que por minha causa as pessoas que amo estarão passando maus bocados... Pelo amor de Deus, Doutor! Me diga o que fazer!

—Eu... Bem... Há uma coisa—ele pareceu receoso no começo, então refletiu bem e terminou: -Só há um lugar seguro para você agora... Você pode ficar aqui, comigo, na TARDIS. A minha cabine é a nave mais segura de todo o universo. É o melhor lugar para se ficar em situações como essa... Esse é o único jeito de você não causar mais nenhum problema ás pessoas que ama.

—Então está decidido –ela suspirou. –Ficarei aqui com você. Se esse é o único jeito...

—Eu lamento –ele disse, mas não parecia lamentar. Na verdade, nem a estava olhando no rosto. Estivera arrumando alguma coisa embaixo do painel de controles enquanto falava. Quando apresentou novamente sua face, ela estava carregada de alguma coisa que Luisa não soube decifrar, o olhar estava pesado e um tanto sombrio, era como se algo naquilo tudo o tivesse aborrecido. Luisa aquietou-se, pois tinha a singela impressão de que o problema era ela, e que a plena insinuação de sua presença na TARDIS por tempo indeterminado o incomodava um pouco. A garota acanhou-se. Não continuou a falar. Ao invés disso, caminhou devagar até a poltrona velha que ficava ao lado do painel de controles e se afundou lá mesmo, observando o rapaz de longe, com uma mistura de incompreensão e tristeza. Ele nem lhe deu bola, apenas uma ou outra vez, ela o pegou olhando-a de esguelha, como se a estivesse avaliando discretamente. Luisa não gostou nem um pouco disso. Ela teria protestado em algum momento se não tivessem recebido naquela hora uma mensagem super importante da Teselecta do bem, aquela que anteriormente eles haviam estado dentro. O piloto loiro, de macacão vermelho apareceu na tela da televisãozinha velha no alto do painel de controles da TARDIS e o Doutor imediatamente voltou-se para ela, ao que Luisa fez o mesmo.

Teselecta chamando TARDIS. Teselecta chamando TARDIS. Responda TARDIS!

—Aqui é o Doutor á bordo da nave TARDIS. Vocês estão bem? Qual é a situação recente da sua Teselecta?

—Conseguimos trazer alguns controles de volta ao funcionamento normal. Parece que alguma coisa deixou, o que é que seja que nos está controlando, um pouco mais enfraquecido. Imagino que você seja responsável por isso, Doutor.

—Sim. É claro! –ele deu um tapa na própria testa. –Como eu sou distraído! Aquela que nos esteve perseguindo é a Teselecta Alfa, portanto tudo que a deixa frágil é repercutido em vocês. Desculpem, eu havia me esquecido disso. Então quer dizer que o curto que eu dei no braço dela causou efeito?

—Evidentemente. Conseguimos controlar um pouco melhor a nossa unidade, novamente graças a você, Doutor. –disse o piloto, grato. –Será que pode afetá-la mais um pouco? Seria de grande ajuda se você conseguisse atingir uma perna, na próxima vez...

—Farei o possível –riu o Doutor e Luisa pôde ver a expressão jovial de sempre lhe voltar ao rosto. –Mas nós a perdemos... Bem, ou ela nos perdeu. O fato é que na ultima vez em que nos vimos, ela roubou minha chave sônica, acredito que para tentar se reconstruir... Mas ela terá muita dor de cabeça em fazê-lo, já que não será nada fácil encontrar a freqüência certa da chave que eu usei na hora para dar o curto...

—Assim esperamos –concluiu o piloto. –Quanto mais ela demorar, melhor. Estamos no meio do processo de reiniciar o programa... Tentando garantir total controle da unidade. Se ela não intervir, poderemos conseguir o Download que nos devolverá o controle completo de nossa Teselecta, e assim, alertar as outras unidades sobre a cura para o vírus de computador.

—Já que alguns de seus controles estão novamente funcionando, será que poderiam tentar nos arranjar as coordenadas atuais da Teselecta alfa? –pediu o Doutor. –Nós a perdemos...

—Mas você não disse que ela viria atrás de nós? Ela está nos perseguindo, lembra? –falou Luisa.

—Eu sei disso –falou o Doutor. –É por isso que temos que surpreendê-la! Aparentemente ela não pode nos alcançar enquanto estivermos no Vórtice Temporal, assim como dentro do túnel do tempo do Lápis Impossível... Ela só pode vir até nós quando estivermos em terra firme. Portanto, creio que teremos apenas o tempo da viagem para refletir, até que ela intervenha novamente. –fez uma pausa. -Precisamos de um plano eficaz agora...

—E aí gente? –Melissa irrompeu na sala junto de Nik. –Eu estava na cozinha da TARDIS. Trouxe uns biscoitos pra vocês...

—Ah! Obrigado... –Luisa e o Doutor agradeceram. –Mas porque está tão mole... –perguntou o rapaz retorcendo o biscoito nas mãos, Luisa fez o mesmo, antes de mordê-lo.

—Acho que o Nik babou em alguns deles... –falou Melissa, ao que os outros dois soltaram os biscoitos instantaneamente, fazendo cara de nojo um para o outro. –É brincadeira gente! Eu mergulhei eles num pouco no leite... Eu hein! Vocês acharam mesmo que eu ia dar pra vocês biscoitos babados? –exclamou ela, rindo da cara deles. Os dois ficaram muito sérios. –Quer dizer, pro Doutor era bem capaz que eu fizesse isso mesmo...

Ah, mas que lindo. Muito obrigado mesmo, Melissa, pela consideração—disse ele ranzinza. –Não se preocupe que eu não me esquecerei de te mandar um pote de biscoitos babados no Natal...

—Os mesmos biscoitos que eu colocarei disfarçadamente no seu pote de biscoitos, todas as vezes que você estiver distraído... –ela provocou. –Vai encarar?

O Doutor fez uma careta para ela e voltou-se para a tv da TARDIS. O piloto já havia voltado com um papel nas mãos: provavelmente as coordenadas que o Doutor pedira.  

—Desculpe Doutor... Tentamos de tudo –ele falou e o Doutor já desviou os olhos, matutando como viria a fazer a seguir, sem as coordenadas. Quando uma ultima coisa que o piloto da Teselecta proferiu lhe chamou a atenção: -Encontramos apenas duas palavras, mas imagino que não farão sentido algum...

—Quais palavras? Quais? –o rapaz e as garotas criaram novos ânimos.

Livro e Destino. Isso faz algum sentido para vocês?

—Livro e destino. Livro e destino... Isso tem que fazer algum sentido!!! –o Doutor arregalou os olhos, estava dando alguns tapinhas na própria cabeça, forçando-se a entender aquele enigma, quando Luisa começou a recuar de volta para a poltrona, onde se deixou cair, vacilante. Agora tudo fazia sentido! Ela ouvira aquelas mesmas palavras desde o começo, vindas da própria Teselecta no shopping perto de sua casa, mas não havia percebido a importância delas. Agora sabia o que aquilo significava. Aos poucos, foi mergulhando a mão dentro da Bolsa Que Tudo Tem, e foi descendo o braço por esta, até que seus dedos tocassem a coisa que procurava. Nesse ínterim de tempo, Melissa chegava á mesma constatação, ao lado do Doutor:

—O Livro do Destino? Eu e Luisa ouvimos a Teselecta falar desse negócio lá no shopping...

—E o que exatamente ela disse? –sondou o Doutor.

—Disse que a Luisa era a portadora do livro. –revelou Melissa, ficando pasma ao ouvir as próprias palavras. Imediatamente ambos voltaram-se para Luisa, paralisada na poltrona. Eles correram até ela, abaixando-se um de cada lado da poltrona. Luisa parecia em choque.

—Luisa... O que você tem ai? –insinuou o Doutor, com calma.

—Ele estava comigo. Estava comigo o tempo todo e eu nunca percebi que era dele que todos falavam... –ela disse com os olhos fixos no painel de controle, uma lagrima escorreu de seus olhos.

—Luisa, fique calma... –disse o Doutor. –Olhe pra mim... Por favor, olhe pra mim...

A garota o fez, com os olhos lacrimejando.

—Eu nunca pensei em usá-lo antes! Eu poderia ter evitado tudo isso... Poderia ter evitado que todos sofressem perigo...

—Não. Não é assim que as coisas funcionam... –interveio ele, acariciando-lhe o rosto. –Seja o que for que você tenha aí, não poderia usá-lo a seu favor. Com certeza, mudar o futuro seria prejudicial...

Como, se o futuro ainda está acontecendo? –gemeu ela. O rapaz olhou-a com cuidado. –Seria perigoso se o futuro já tivesse acontecido, se tornasse passado, e eu estivesse querendo mexer no funcionamento dele, mas essas coisas ainda estão acontecendo! Eu simplesmente poderia ter me dado conta mais cedo do poder que tinha em mãos, então poderia ter evitado tudo isso...

—Não poderia! –rebateu ele, a respiração ficando alterada. –Ouça... Você tem que me ouvir... Eu sei o que estou dizendo... –a garota voltou a olhar fixamente para o mesmo ponto de antes, sem mais lhe dar ouvidos. Estava entrando em conflito consigo mesma. Então inesperadamente, uma coisa lhe trouxe de volta. Ela escutou o Doutor suspirar profundamente ao seu lado, e isso a fez voltar a contemplá-lo: lá estava ele agora, esbanjando os olhos doces, sonhadores e bondosos de sempre. Ela não pôde mais ignorá-lo, agora ele estava sendo realmente sincero. -Confie em mim, Luisa. Confie em mim assim como você confiou na noite em que nos conhecemos...

A garota não teve escolha. Sentia no fundo da alma do amigo que ele estava falando a verdade. Sem mais delongas, tirou da bolsinha um livro azul bastante grosso: As Crônicas de Um Senhor do Tempo estava sempre com ela, embora ela não soubesse qual sua verdadeira atração por um livro que continha nenhuma informação dentro. Nenhuma, a não ser a sua viagem à Itália, completa, contada em detalhes, desde sua chegada até sua volta pra casa. Ela nunca mais conferira o livro desde então, com medo do que iria encontrar nele, mas, se mais alguém sabia da existência daquele livro, então significava que ele era com certeza importante, e que, caindo em mãos erradas... Bem, ela nem queria ter de imaginar o que aconteceria. O Doutor analisou a capa do livro bem lentamente, como se procurasse por alguma pista escondida, algo além do próprio nome do livro. Quando ele finalmente o abriu, eis que deparou-se com algo interessante: estava a acabar de ler as ultimas coisas que dissera á alguns segundos atrás, escritas em uma letra desconhecida. Era quase como se o livro estivesse datilografando sozinho a história do trio. Voltou muitas paginas atrás e deparou-se com as antigas aventuras que tivera com Luisa e Melissa, a viagem à 1860, com a Princesa Isabel; a confusão que tiveram no Egito com Indiana Jones, Jack, Martha, Sarah Jane, Luke e seus amigos, além dos Bane; depois passou rápido pela confusão com os Slitten, na formatura das garotas; então chegou nas paginas  da comprida aventura com Agustina e a Torre de Pisa, na Itália ainda não formada; Ele leu as ultimas linhas e franziu a testa:

“As vezes queremos nos isolar do mundo,

queremos nos ver livres até mesmo dos entes queridos.

Mas há outras ocasiões que, para variar, é muito bom estar

acompanhado.”

 

—Como foi que ele descobriu isso? –falou confuso. –Eu pensei isso quando estávamos indo embora. Esse foi um pensamento meu, como é que esse livro descobriu isso? –ele deu uma risadinha de nervoso e se ergueu do chão. –Quero dizer, já é bastante curioso o fato deste livro conseguir escrever sozinho o que está se passando conosco em tempo real; mas ele também consegue escrever algumas coisas que pensamos também...

—Mas isso é impossível! –disse Melissa. O Doutor apanhou o livro e adiantou umas paginas enquanto ela falava. –Isso é totalmente insano! É invasão de privacidade! É totalmente...

Improvável—continuou o Doutor, lendo as ultimas linhas do livro, a partir do ponto em que estavam. Melissa calou-se instantaneamente. –“É totalmente improvável”. Era isso que você ia dizer...

—Pare com isso! –grunhiu Melissa assustada.

—Curioso... Apenas segundos de atraso. “Pare com isso” acabou de aparecer escrito aqui –repetiu o Doutor, apanhando o óculos de armação quadrada e colocando-o para conseguir enxergar melhor aquela letra tão diferente. –Está escrevendo em tempo real! Ah, isso sim é interessante...

—E não só as falas... –Melissa se aproximou. –Olhe: “O Doutor apanhou seu óculos de armação quadrada” –leu, então olho-o com receio. –Qual é? Está narrando também...? –ela gritou, afastando-se do livro num sobressalto. –Isso aí é...

—“Bruxaria” –ele completou sua frase com o que ela ia dizer, antes mesmo de conseguir dizer.  

—Tá legal! Acho que já deu, né? –ela arrancou o livro da mão dele e fechou-o num baque. –Pare de tirar as palavras da minha boca! Literalmente!

—Eu não compreendo... –disse o Doutor, confuso. –Como um livro que escreve em tempo real vai nos ajudar a... –ele parou de chofre arregalando os olhos e Melissa fez o mesmo, igualmente pasma. –É isso! Ará! Eu sabia que havia um modo de descobrirmos os passos do meu adversário...

—E o que você pretende? –perguntou a loira, aturdida. –Vai simplesmente ler cada passo da Teselecta alfa e vencê-la na trapaça?

—E porque não? Vai ver é pra isso que esse livro está aqui... Tudo na vida tem uma finalidade, e a deste livro é nos ajudar hoje.

—Não! –Luisa arrancou o livro da mão da amiga, antes que o rapaz pudesse induzir Melissa á ajudá-lo. Eles a fitaram com surpresa. –Você não vê que isso é loucura? Não podemos ficar andando por aí sabotando o futuro! Você mesmo disse que...

—Luisa –o Doutor voltou-se somente para ela, ficando frente a frente com a garota. Então, quando ela achou que ele ia começar uma explicação maluca para tentar convencê-la, eis que ele apenas suspirou, passando uma das mãos sobre os olhos, então sorriu abertamente para ela, de um modo inesperado (tudo ocorreu ao som de *It’s Time –Imagine Dragons). –Você tem razão. Tem toda razão. Eu estava errado. Afinal, mudar a história... É isso que nós fazemos todo o tempo. Olhe só: fizemos isso hoje a tarde toda, não é mesmo? –ele riu, colocando a mão no ombro dela e olhando-a profundamente nos olhos. –Precisamos bagunçar um pouco mais o tempo para podermos finalmente acertá-lo na ordem correta. A TARDIS mesma fará isso. Se conseguirmos prender a Teselecta alfa, a TARDIS poderá realinhar todo o tempo histórico dos acontecimentos, apagando toda e qualquer mudança ou intromissão atualmente causada por nós e a Teselecta, mas, para causar a paz total no universo, primeiro teremos que desrespeitar mais algumas leis...

—É por isso que eu gosto desse cara! –Melissa deu-lhe um peteleco na cabeça. –Desrespeitar leis universais? To dentro! Vamos detonar a Teselecta!

—Eu nunca pensei que diria algo parecido, mas: É isso aí Melissa! Esse é o espírito!—disse ele animado.

—Vamos nessa! –falou Nik animado, lambendo a dona e o Doutor. O rapaz acariciou o cão, ao mesmo tempo que Melissa ria, então olhou com um olhar de carência para Luisa.

—Você vem com a gente?

Ela olhou bem para os três: O Doutor quase fazendo beicinho para ela aceitar, Melissa pedindo “por favor” com as mãos, e Nik babando feito louco, ficando apenas em duas patas, em pé contra as pernas de Luisa; suas patinhas peludas tocando de leve as mãos da garota que não conseguia nem ao menos pensar em dizer não aos amigos. Já não se agüentando mais na pose séria, ela sorriu incondicionalmente para os três e eles fizeram um abraço de equipe ao redor de Luisa.

—Bom pessoal, agora que o nosso grupo está novamente reunido, mãos a obra! –disse Melissa, lendo as ultimas linhas do livro com ênfase.

Ei! Eu ia dizer isso! —protestou o Doutor.

—Desculpe, eu não resisti... –riu Melissa, fazendo Luisa cair na gargalhada e depois todos mais.

Voltaram à perseguição, agora mais preparados que nunca (ao som de *Glad You Came –The Wanted), seguindo o livro foram parar em plena Revolução Francesa, em 14 de Julho de 1789, no dia da Queda da Bastilha. O Rei Luís XVI (francês) e a Rainha Maria Antonieta (Austríaca) se casaram para promover uma aliança entre França e Áustria. Mas o pobre do Luís XVI não se considerava pronto para assumir o trono quando se casou, também era extremamente indeciso, e acabou fazendo o povo passar por maus bocados enquanto esteve governando o país. Acabou que, com o passar do tempo, a nobreza ligava cada vez menos para os interesses do povo, o que produziu muita indignação da maior parte da população (os pobres) que pagavam 97% dos impostos. Um dia foi estipulado que o povo também devesse tomar parte nas decisões que lhes seriam impostas, então criou-se as três ordens: O Primeiro Estado: Clero; o Segundo Estado: Nobreza; e o Terceiro Estado: Burguesia, trabalhadores, camponeses (a grande maioria). Com isso, foi composta uma grande assembléia para qual cada estado contaria um voto na decisão final, mas, como o Clero sempre ficaria do lado da Nobreza e vice-versa, a população nunca haveria de ter uma chance, pois as votações sempre acabariam em 2 a 1. Indignados por terem sido feitos de bobos pela corte francesa, o Terceiro Estado fundou a Assembléia Nacional Constituinte, da qual se dedicaram à elaboração de novas constituições para a França.

Tomaram sua primeira iniciativa, mas não ficou só nisso não. A verdade é que, com a fome aumentando e, a nobreza literalmente ignorando-os, o povo começou a se tornar violento, sendo capaz de brigar ou até matar por um pedaço de pão. Amigos roubavam de amigos e assim a violência ia se propagando por todos os lados na França. Isso até que, com as idéias de Montesquieu, de “liberdade, igualdade e fraternidade”, o povo se rebelou, partindo para cima da maior prisão que tinham, o símbolo do poder Monárquico. As pessoas invadiram-na e derrubaram a torre, tijolo por tijolo. O Doutor e as meninas surgiram bem no meio dessa confusão, na chuva de tijolos, despejados lá do alto, até o chão. Havia presos correndo soltos pelas ruas, e pessoas comuns subindo as escadas, rumo ao topo para desmontarem-na. Em meio a essa confusão, o Doutor, Nik e as meninas avistaram a Teselecta, vestida como um moribundo qualquer, roubando pães de uma loja que havia sido invadida por uma centena de pessoas, em meio á multidão desesperada. O Doutor pôs a mão no queixo, pensativo: realmente havia algo de estranho naquilo. Isso poderia significar que seu oponente era de carne e osso, já que estava roubando alimentos sólidos para comer (um robô não teria que se alimentar de comida, de óleo talvez). Dessa vez não houve nenhum atentado contra suas vidas, porque eram eles quem estavam seguindo a Teselecta e não o contrário, por isso estiveram o tempo todo á paisana, só observando-o.

—Sério que nós só vamos segui-lo? Eu pensei que isso era só um pretexto para aproveitarmos sua distração e darmos uns tapas na cara dele... –falou Melissa decepcionada.

—Paciência Melissa –induziu o Doutor, com um binóculo em punhos. –Primeira regra de estratégia avançada: Conheça seu inimigo como a si próprio.

Continuaram seguindo com a TARDIS até o livro informar-lhes o próximo destino: Segunda Guerra Mundial. Adolf Hitler estava em seu Gabinete Oficial Impenetrável, onde ninguém jamais entrava sem sua permissão. Um gabinete isolado de tudo, onde uma maleta fora deixada ao pé da mesa, bem onde o defensor do arianismo, nazista e preconceituoso, que odiava os judeus e todos que não pertencesse á sua “raça perfeita”, mais do que tudo. Aquela maleta continha uma bomba: um presentinho de alguém que sonhava em ver um mundo sem preconceito e, com certeza, sem a liderança de Hitler. Ele sentou-se na ponta da mesa, justamente onde a maleta estava, posta á seus pés, e abriu um jornal na frente do rosto, ignorando o resto da sala vazia: ainda não chegara a hora da sua reuniãozinha secreta com alguns caracteres importantes. Foi quando ouviu-se um “Bum” e a porta do gabinete impenetrável veio a baixo e um soldado irrompeu no local. Hitler imediatamente pôs-se em pé e olhou-o confuso:

—O que faz aqui? Não disse que não deveria ser interrompido?

—Você não disse nada... –sorriu a Teselecta, maliciosa. –Vim aqui por conta própria para ver se eu conseguiria uma audiência com sua genialidade... –ele fez uma reverencia para Hitler. –Meu senhor, eu o venero! Vim de tão longe para pedir-lhe apenas um humilde favor.

—Bem... –Hitler pareceu desconfiar, mas deixou-o falar. –Prossiga então. O que deseja de mim, rapaz?

—Sei que o senhor deseja mais do que tudo o poder absoluto acima de tudo e todos, certo? –atiçou a Teselecta e os olhos do homem brilharam. Hitler voltou a sentar-se na poltrona, interessado. –Bem, então está no seu dia de sorte. Eu posso ajudá-lo nessa tarefa. É só se unir a mim!

Como? —riu Hitler. –E pensa que sou tão tolo a ponto de cair num golpe forjado como esse? –ele ergueu as sobrancelhas, pois a Teselecta continuava impassível. -Como pode me convencer de que não é um golpe?

—Será simples –sorriu o robô. –Embaixo da sua mesa, á uma bomba programada para explodir daqui a alguns minutos –Hitler abaixou-se aturdido, para conferir se o que ele dizia era verdade. Ao comprovar que era, pareceu meio inquieto, tentou induzir o outro a saírem de lá, mas a Teselecta pôs a porta de volta no batente com uma braçada só, sem esforço algum aparente, o que fez o homem engolir em seco. –Como eu dizia, há uma bomba logo aí embaixo. Se você fizer a escolha certa e se unir a mim, eu juro que desarmo a bomba e ensino-o hoje mesmo, o segredo para a conquista de tudo. Será poderoso! Chegará até onde jamais sonhou em chegar, pode ter certeza... –o robô ficou sério de repente. -Mas isso, se concordar em me deixar receber parte do prestigio, já que a fórmula para o seu sucesso é minha...

Hitler riu abertamente e andou na direção do outro, emparelhando-se com ele.

—Meu caro rapaz, eu não sei quem você é, nem de onde veio, mas é de uma boa lábia invejável... Você tem futuro, meu jovem! É bom em persuadir as pessoas...

—Obrigado senhor –agradeceu o humanóide. –Então, estamos de acordo?

Por um momento Hitler ficou em silencio, apenas contemplando-o.

—Você disse a conquista de tudo? Mas a que “tudo” está se referindo?

A Teselecta riu de leve, como se dissesse “esse já está no papo”. Aproximou-se mais do homem e inclinou-se para chegar perto de seu ouvido:

—A conquista de todo o universo. –falou simplista. Quando a Teselecta recuou o passo, os olhos de Hitler mal cabiam em si. Ele aceitaria com certeza. Começou a estender a mão para dizer que o acordo estava de pé, mas parou no meio do trajeto, parando o mesmo impulso do outro que pretendia também aperta-lhe a mão.

—Antes de qualquer coisa meu jovem... A bomba. –lembrou Hitler. –Desarme a bomba.

—Como queira, senhor! –a Teselecta, satisfeita, deu um comando com a chave sônica do Doutor e parou a contagem da bomba quando já estava nos quinze segundos finais. –Agora una-se a mim e ninguém poderá entrar em seu caminho...

Bam! Com um novo baque e o sobressalto dos dois homens, o Doutor, Nik e as duas meninas adentraram na sala, derrubando a porta do gabinete impenetrável, aos seus pés –de novo.

—Me desculpa –o Doutor pôs-se a colocar a porta no lugar. –Eu apenas bati, mas acho que as dobradiças estavam fora do lugar. Bem, o que eu perdi? Ah! O meu amigo aqui fugiu de novo do hospício... Ah, cara! Eu já falei que não pode ficar entrando nos gabinetes das pessoas e inventando bobagens como essa ultima sobre controlar o universo...

—Espere aí? Ele é um louco? Como você sabe o que ele disse? Eu exijo saber! –indignou-se Hitler.

—Eu posso, possivelmente, ter ficado ouvindo atrás da sua porta sem dobradiças, mas isso são apenas detalhes bobos. O importante, é que você não lhe dê ouvidos... –induziu o Doutor.

—Não o escute! –gritou a Teselecta. –Ele mente! Está completamente louco...

Eu menti? É você quem fugiu do hospício hoje cedo e eu que estou louco? Ah! Faça me o favor...—o Doutor agarrou-o pelo braço, a Teselecta tentou escapar, mas dessa vez ele estava preparado: amarraram-lhe uma corda anti-tecnologia, desabilitando momentaneamente todo o seu armamento, deixando-a imponente e sem forças, já que a energia utilizada pelo sujeito que for amarrado é toda drenada pelo aparelho.

—Bom, é só isso –falou o Doutor escoltando o prisioneiro inteiramente desarmado, de cabeça baixa, para fora do gabinete. –Bom falar com você, Hitler. Ou nem tanto. Sabe como é, não dá pra agradar todo mundo... –falou o rapaz dando de ombros.

—Mas o que está fazendo com ele? Para onde vai levá-lo? –perguntou Hitler ainda iludido com a idéia de que poderia conquistar o universo inteiro.

—Ô Hitler! Vê se dá um tempo, tá? Nós tivemos um dia bem cansativo... –falou Melissa, esbaforida. –Corremos atrás desse cara a manhã toda, então vê se sossega a sede de poder por ao menos um minuto!

—Calminha Melissa –pediu o Doutor, tomando cuidado com as palavras: aquele ainda era Hitler. Brincadeiras á parte, ele ainda podia mandá-los para um campo de concentração ou algo do tipo. Era bom ficar de boca fechada em sua presença. Mas, em vez de dar um sermão em Melissa, ele apenas tirou o papel psíquico do bolso e mostrou-lhe suas credenciais: -Está vendo só? Me formei em primeiro lugar em medicina na minha faculdade. Sou muito conhecido por lá... Era sempre o melhor da turma. Depois resolvi focar somente nos causadores da loucura. Delírio é um deles e é disso que esse homem sofre...

—Talvez seja por isso que o compreendeu tão bem, senhor. Ele também não tinha a cabeça no lugar... –disse Luisa, sem medir as palavras. Hitler se alvoroçou um pouco, pigarreando bem alto e o Doutor achou que já era hora de ir embora. Devagar, foi puxando as meninas consigo para longe dali, afinal, nem o Doutor nem Luisa eram loiros ou tinham olhos azuis, o que já era meio caminho para Hitler jogá-los em um caminhão de gás tóxico e deixá-los morrer, sem piedade, nem direito à clemência.

—Bom, nós já vamos indo... Bonito gabinete, viu? –saiu-se ele, correndo para longe dali o mais rápido possível. Hitler parou confuso á porta de seu gabinete. Mais tarde, durante a reunião, a contagem da bomba recomeçou do ponto que havia se congelado e o lugar explodiu, mas Hitler sobreviveu, ficando com apenas alguns estilhaços na região da perna.

Quando já estavam novamente á bordo da TARDIS, a equipe comemorou junta a captura do humanóide e a recuperação do Doutor, tendo a chave sônica novamente em sua posse.

—Eu não acredito que conseguimos! –saltitou Luisa.

—Eu não acredito que o papel psíquico transcreveu o que eu realmente havia pensado! Não acredito que funcionou como planejado! Isso acontece uma vez á cada dez anos...—comemorou o Doutor.

—Eu não acredito que invadimos o gabinete impenetrável do Hitler e que chamamos ele de louco bem na sua frente! –aplaudiu Melissa, rindo á beça.

—Acho que loucos somos nós! –latiu Nik alegremente.

—Pode crer Nik! Essa é a pura verdade... –concordou o Doutor festejando, abraçando as duas amigas.

Infelizmente, o que não sabiam era que o inimigo usara a chave sônica, anteriormente, para cortar as cordas e que agora só se fazia de vitima para que no momento certo, pudesse escapar. E foi tão de repente, sem aviso nem alarde, que ele escapou e deixou-os aturdidos:

—Atrás dele!

—Aonde ele foi?

—Deve ter se tele-transportado para outra época... Vamos pegá-lo, garotas!

—Ué? Por que você está tão tranqüilo? Doutor, você ouviu o que nós dissemos? O prisioneiro acabou de fugir!

—Eu ouvi muito bem, Luisa. –ele garantiu. –E não se preocupem, eu já esperava por isso... Imaginei que ele fosse dar um jeito de escapar. Só queria mesmo, por hora, resgatar minha chave sônica e também comprovar quanto tempo ele levaria para fugir... Julgando pelo fato dele ter desamarrado as cordas desde lá no gabinete do Hitler, então sugiro que além de muito rápido, ele também é muito habilidoso...

E deixou-o escapar só para ter o prazer de comprovar isso? Por que não trocou logo as cordas dele? Ou prendeu ele no porão; essa nave tem porão, não é? Ou talvez podia ter jogado ele no Vórtice quando teve chance...

—Melissa, você está muito violenta hoje, acho que vou deixá-la com Hitler no gabinete impenetrável...

—Credo! Nunca mais repita uma coisa dessas... –disse a garota, dando-lhe um tapa no braço.

—O que estamos esperando pessoal? -animou-os Luisa. -Nós já o capturamos uma vez. Sabemos que é possível fazê-lo. Então desta vez só o faremos com mais precisão. Desta vez dará certo, pode ter certeza!

O grupo sorriu mais que nunca e se preparou para uma ultima investida: e essa teria que ser a melhor, a mais formidável, sem erros, nem segundas chances. Essa captura com certeza ficaria para a história! Foi ao som de *Chasing The Sun –The Wanted que eles começaram a executar seu plano final. Porém, para conseguir colocar o plano em prática, precisariam de alguns utensílios essenciais para conseguirem capturar a Teselecta, portanto algumas viagens a mais foram necessárias; A TARDIS se materializou em um lugar bem longínquo e, quando deram-se por si, já estavam percorrendo os corredores do imenso palácio egípcio da rainha Cleópatra. O Doutor corria desembestado pela construção, como se fosse um fugitivo ameaçado de morte, à procura de um dos mais importantes artefatos da rainha: um colar de ouro com pingentes egípcios em formatos diferentes, um em forma de Lira, outro que era um vaso, e um terceiro, que ficava bem no centro do colar, que era um olho egípcio. Correram, ao som de *Dark Horse –Katy Perry, entraram em um mausoléu e descobriram a câmara onde ficavam escondidos os tesouros de Cleópatra. Entraram como um furacão e procuraram pelo colar. Nik logo o encontrou, mas quando o grupo já o tinha em mãos e preparava-se para escapar, eis que uma mulher alta, imponente, morena de cabelos acima dos ombros, enfeitados por adornos de ouro em toda a lateral, olhos muito bem delineados, lábios carnudos, bem vermelhos, coroa chamativa e túnica branca bem provocativa, com detalhes em azul e dourado, ressurgiu das sombras: A Própria Cleópatra. Ela olhou-os com olhos estreitos e proferiu seduzentemente: “Venha aqui homem do Tempo, e me mostre as estrelas!” ela correu e jogou-se sobre o colo do rapaz, enchendo-o de beijos. “Meu amor! Venha reinar o Egito ao meu lado... Faça isso que eu garanto que você não irá se arrepender!” –ela puxou-o pela gravata. O Doutor engoliu em seco, afrouxou a gola da camisa com o dedo, estava se sentindo meio desconfortável sob aquelas circunstancias; deu a ela a desculpa de estar atrasado para um compromisso muito importante e deu no pé, junto das garotas, deixando a rainha de baços cruzados e decepcionada, para trás.

Correram e chegaram, com ajuda da TARDIS, na época da Guerra Fria (1949-1991). Atravessaram um laboratório científico americano, onde estaria sendo preparada a primeira bomba atômica (que futuramente estaria sendo usada para acabar com a guerra, que ainda era insistida pelo Japão, mesmo depois de seu término oficial, miradas para explodir em Hiroshima e Nagazaki). Acabou que Melissa trombou com um cientista e o fez derrubar mais gotas da solução dispersa no frasco do que o pretendido, o que ocasionou na solução perfeita para a criação da bomba (infelizmente para os japoneses). “Que horrível! Um tropeço pode mesmo influenciar na história!” –concluiu Melissa, horrorizada.

—Dá licença, vocês podem me emprestar isso aqui um pouquinho? Obrigado hein! Eu devolvo depois... –disse o Doutor, apanhando um míssil da mesa de testes dos cientistas. Os homens não disseram nada, ficaram boquiabertos com a invasão inesperada em seu laboratório. –Bom, tecnicamente não. Se o plano funcionar, só sobrará pó desse negócio, mas tudo bem, não é pessoal? A intenção é que vale! Afinal, é um míssil, não é? Qual é a graça em vê-lo inteiro? –ele atravessou a sala passando por uma tv ligada, então se deteve nela, passando a mãos sobre os cabelos, empolgado: -Eu quase me esqueci! Guerra Fria: Época mundialmente conhecida pela corrida espacial! Devemos estar em 20 de Julho de 1969... Bem no auge da... Ai Caramba! Aquele ali é o Nell Armstrong pisando na lua? Esse ano vai ser dos bons... Ah se vai! Espere só até a Apollo 11 voltar á Terra... Vão fazer até bonequinhos desses caras! Fantástico!—ele sorriu amplamente para os homens no laboratório, que se entreolharam abismados.

—Doutor? –Luisa reapareceu por entre as portas da cabine. Segurava uma peça pesada com fios espalhados em todas as direções. –Você não vem?

—Ah se eu vou! –sorriu e voltou-se para os caras no laboratório. –Foi mesmo um prazer, mas o dever me chama! –olhou na direção da cabine e, com o sorriso mais resplandecente de todos, gritou: -Segure bem essas alavancas auxiliares Luisa, que eu já tô chegando! Allons-y! —e voltou para dentro da TARDIS para conduzir sua equipe; ainda tinham mais uma etapa pela frente: montar a isca para a Teselecta e chamar sua atenção até atraí-la ao ponto desejado.

Correram como nunca, até finalmente chegarem onde seu plano começaria a entrar em ação: Renascimento, (século XIV). Estavam só a espreita, observando tudo á paisana; o Doutor usava seus binóculos especiais novamente, para tentar ver algum sinal da Teselecta. Em quanto ela não se manifestava, (ele sabia que ela logo o faria, já que continuava pensando que era ela quem os estava caçando e não o contrário), ele se ocupava em vislumbrar a paisagem ao cair da noite.

—Olha só o que temos ali!

—O quê? –Luisa aproximou-se do Doutor e ele lhe passou o binóculo, para que ela também pudesse ver o que ele contemplava. –Quem é aquele parado na frente da igreja?

—Aquele é Martinho Lutero, pregando suas doutrinas Luteranas contra os dogmas religiosos, que mais estavam para “enganosos”, na porta da Igreja Católica. Ele acreditava que comprar dogmas, o que considerava particularmente uma besteira, não traria o perdão de Deus e não garantiria um lugar para as pessoas no paraíso, diferente da igreja, que pregava exatamente o contrário.

—Sempre querendo arrancar dinheiro dos fieis! “Quanto você é capaz de dar, em dinheiro, pela sua liberdade espiritual?” A religião em geral está repleta de corrupção; Até que ponto chegamos!—lamentou Melissa. 

—Pois é. Isso me faz recordar da história da igreja Anglicana, fundada na Inglaterra pelo rei Henrique VIII, que literalmente pediu “divorcio” da igreja Católica, já que o papa não lhe concedeu a permissão do divórcio de sua esposa, só porque ela não conseguiu lhe dar um filho homem! Hã! Grande coisa!—bufou Luisa.

—Parece loucura, mas dizem as más línguas que o rei Henrique VIII matou duas ou três das suas antigas esposas, pelo mesmo motivo delas não terem lhe concebido um filho homem... –falou o Doutor, voltando á olhar Lutero de longe, pelo binóculo.

—Que homem horrível! –indignou-se Melissa. –Se fosse meu marido eu lhe daria uma boa lição...

—Não duvido nem um pouco disso, mas pela surpresa em sua voz, julgo afirmar que você nunca havia ouvido falar nisso antes –concluiu o rapaz, olhando-a de esguelha.

—Ah, é. Eu, por acaso, devo ter perdido essa aula de história... –supôs Melissa, analisando a própria unha.

—Quer dizer, “mais uma aula de história”. Onde foi que viveu durante toda a sua adolescência, na “Fantasilândia”? Por que você nunca sabe nada sobre história... –acusou ele.

Nem vem que não tem, garoto alien! Eu tinha mais com o que me preocupar na época...

—Deixa eu adivinhar: ver TV, fazer compras, comer batatinhas fritas, fazer as unhas, e dormir na aula de história, estou certo?

Ela lhe deu um tapa na cabeça.

—Cala a boca e faça seu trabalho! Você é o nosso vigia, não é? Pois então... Continue vigiando, ora bolas!—ralhou ela.

—Se Melissa já não fosse Melissa, poderia se tornar um Ditador... –murmurou ele para Luisa, trazendo um ar cômico à situação. Rapidamente o rosto de Luisa se encheu de um ar bem humorado e ela sorriu, com a briguinha dos amigos. Fazia tempo que não se divertiam tanto juntos: Como nos velhos tempos.

—Se que saber, Elisabeth I também não ajudou muito com seu reinado. –continuou Luisa, falando baixinho, só para o amigo ouvir, já que aquele não era um dos temas favoritos de Melissa. –Depois da morte, com 17 anos, do único filho homem que Henrique VIII teve, ele passou os deveres do trono para sua segunda filha mais velha: a rainha Elisabeth I, que além de retornar com a Igreja Católica, ignorando todas as mudanças impostas pelo pai, sobre a divisão de poder com o clero, também mandou punir todos os que eram a favor de qualquer outra religião existente. Qualquer pobre cristão que cruzasse seu caminho era sujeito á ir para a guilhotina...

O Doutor fez uma careta, disfarçadamente.

—Sobre Elisabeth I, bem... Não tenho muito que dizer sobre isso. Só sei de uma coisa: lembra da história da rainha que morreu virgem? –disse ele, olhando-a nos olhos.

Luisa assentiu com a cabeça.

—Pura lorota. –sorriu enigmático, então olhou-a inquieto. –Culpa minha, eu presumo... –ele fez uma pausa. –Eu desvirginei seus lábios...

Luisa deixou seu queixo cair e já ia colocar as mãos na cintura, reprovadora, quando ouviram uma movimentação estranha ao longe e resolveram ir investigar do que se tratava, ignorando os últimos ocorridos. Correram até toparem com uma mulher bastante surrados, com um pano na cabeça e avental, que lhes informou que um tal de Galileu Galilei seria condenado á morte se não voltasse atrás com sua teoria de que a Terra não era o centro de todas as coisas, mas sim o Sol. O sol era quem atraia os planetas e os fazia girar em sua órbita. O homem estaria naquele instante sendo levado a julgamento; o Doutor e as garotas ficaram parados por alguns instantes, então se entreolharam, abriram um amplo sorriso uns para os outros e, como se tivessem combinado, os três brandiram ao mesmo tempo: “Galileu? Fale mais sobre isso, moça...!”. A mulher pareceu estranhar suas reações, murmurou um “Cruzes!” e tratou de sair logo dali, bem rapidinho. O quarteto (Nik estava com eles), voltou-se para a direção por onde a mulher tinha vindo (caminho que provavelmente levaria ao lugar da audiência que Galileu estaria para ter) e trataram de bancar os enxeridos, no tribunal.

Encontraram Galileu já desmentindo suas teorias, para o bem de sua existência (se não o fizesse, seria morto por “mentir” sobre os princípios religiosos, o que era considerado um pecado terrível), mas não intervieram no andar da carruagem, concordando que já haviam mexido muito na ordem das coisas, por um dia só. E, além do mais, sabiam que Galileu sairia vivo dessa, e que, muitos anos depois, sua teoria seria finalmente reconhecida e comprovada pela ciência. Quase distraíram-se tentando imaginar a reação de Galileu, se ele descobrisse que teve que pedir perdão á toa, acobertando uma mentira dita pela igreja, quando na verdade, era ele quem estivera certo durante todo aquele tempo. Mas o Doutor voltou-se a si ainda em tempo de ver um sujeito muito suspeito percorrer o jure, disfarçadamente e sair pelos fundos com uma sacola na mão. O rapaz fez sinal para que os demais o seguissem para fora do lugar, até onde aquela figura estranha fosse parar. Parou em um beco escuro, mas o Doutor, Nik e as garotas ainda conseguiram enxergar o brilho dourado de vários objetos roubados da igreja, por aquela figura encapuzada: reencontraram a Teselecta.

—E o plano começa –sussurrou o Doutor para o resto da turma que se dispensou, deixando-o só. Ele ergueu a cabeça na direção do outro e dirigiu-lhe a palavra em alto e bom som: -Ei, amigo! Você gosta de peças valiosas? Que tal garantir uma relíquia, hum? O que é que o seu ego me diz?

A Teselecta ergueu a face automaticamente e seus olhos vermelhos brilharam ao contemplar o colar de Cleópatra que tilintava nas mãos do Senhor do Tempo.

—Você o quer? –atiçou o Doutor, voltando a guardá-lo dentro do bolso. Os olhos do outro faiscaram. –Venha pegar!

O rapaz desatou a correr, desta vez com o outro em seu encalço. Deu algumas voltas pelas ruas para despistá-lo, então dirigiu-se para longe da cidade, adentrando em uma área verde, distante de tudo, um isolamento natural repleto de beleza e vida silvestre, e rumou para onde estariam seus amigos: na TARDIS, estacionada dentro de uma caverna rochosa. Encontrou parado ao lado da cabine, feito um bocó, um estranho rapaz de pouca idade, que contemplava a caixa azul com olhos grandes e esbugalhados. As portas da nave estavam meio entreabertas e ele não parava de olhá-la, em um misto de maravilhado e assustado.

É incrível e assustador... –murmurou sem notar a aproximação do Doutor. –Me trás esperança e, ao mesmo tempo pavor... Por Deus! É maior do lado de dentro!

—Pois é garotão! Agora vê se não sai espalhando isso por aí, tudo bem? –o Doutor deu um tapinha em seu ombro, despertando-o do transe. –Podem achar que você está louco... E sabemos o que costumam fazer com os loucos por aqui, não é? –O rapaz franziu o cenho. O Doutor entrou em sua cabine e depois reapareceu para o lado de fora. –A propósito, qual seu nome?

—Leonardo. –falou o rapaz. –Leonardo di ser Piero da Vinci.

O Leonardo da Vinci? O próprio da Vinci? O mesmo da Vinci que assinava suas obras como “Io Leonardo”porque não gostava do sobrenome? –disse o Doutor, deslumbrado. –Eu não acredito! Cara, eu sou seu fã! Adorei todos os seus inventos... Os quadros sempre foram formidáveis! Sempre fui fascinado por ser trabalho, especialmente quando você começou a estudar anatomia! Espertinho você, estudando os corpos, abrindo cadáveres ás escondidas, por baixo do nariz da igreja... Você é brilhante, cara! Brilhante! Lembre-se disso... –ele próprio se interrompeu, ao ver o rosto indagador do rapaz. -Ou melhor, você não deve se lembrar. Não irá se lembrar de nada disso. É o que diz nos registros históricos, não é? A história diz que você só terá duas lembranças da sua infância, uma sobre um passarinho verde, cuja eu nada tive a ver, e a outra sobre o dia em que a sua vida mudou para sempre... Em que você viu uma coisa estupenda, e assustadora de verdade. E foi a partir daí que você começou a ter aquelas idéias geniais...–tagarelou ele mais para si mesmo que para o rapaz. –Você não se lembrará de nada disso, apenas terá um vislumbre de ter visto algo que realmente mudou sua vida... –o Doutor parou de chofre, desconcertado. –Espere só um momento! Quer dizer que passei todos esses anos criando teorias malucas, cada uma mais improvável que a outra, para tentar descobrir o que você vira de tão inspirador dentro daquela caverna, quando na verdade, era eu e a minha TARDIS o tempo todo? Que droga. Eu tinha até feito umas apostas com Mozart, o menino prodígio, em uma convenção de gênios uma vez, para vermos quem criava a melhor teoria para essa incógnita... Óbvio que nenhum dos dois teriam acertado! Mais que coisa... Que maluquice... O tempo todo era eu! Estou ficando com dor de cabeça, você não está? –ele perguntou e o menino desmaiou bem na sua frente. O Doutor passou a língua pelos cantos da boca, pensativo, ignorando o fato de Leonardo da Vinci estar desmaiado bem diante de seus pés. –Pois é Doutor, parabéns! Outro grande gênio que você afugenta com sua tagarelice incontrolável... Pois é, fazer o quê? Esse é o meu jeito propriamente único e genial, de bancar o gênio...—ele apanhou o rapaz no colo e encostou-o, ainda adormecido, em uma árvore próxima da caverna. –Boa noite, “Io Leonardo”, sonhe com a Mona Lisa...

O Doutor entrou em sua cabine e a fez decolar. A Teselecta mordera a isca e agora eles apenas precisavam seguir com o plano como fora planejado. Já haviam atraído a atenção do inimigo, só precisavam atraí-lo para o desfecho final, porém, de acordo com o Livro do Destino, o Doutor deveria criar a ilusão de estarem novamente sendo perseguidos pelo robô, apenas para que este pensasse que ainda estava á frente dos pensamentos do quarteto. Por conta disso, tiveram que mudar brevemente os planos. A TARDIS mudou um pouco a rota, indo parar na Grécia Antiga, onde surgiram bem no altar de um templo grego, feito em homenagem á deusa Afrodite, e atrapalharam seu culto sagrado, correndo ruidosamente e fazendo estardalhaço ao serem perseguidos por uma Teselecta, já ficando sem paciência, que apontava-lhes um laiser na altura da cabeça, a longa distância, disparando contra eles diversas vezes, destruindo tudo o que acertava, e assustando as pobres pessoas lá presentes. A confusão se intensificou quando todos retornaram à cabine e a TARDIS voltou a disparar pelo Vórtice do Tempo e o Doutor, ao pilotá-la, notou algo bem intrigante:

—Macacos me mordam! –disse ele, acertando o guarda pó marrom no corpo.

—Que foi que houve? –Luisa aproximou-se, acompanhada por Melissa e Nik.

—Ela está nos seguindo! –o Doutor mostrou-lhes as imagens captadas pela câmera externa da TARDIS, repercutidas em tempo real na televisãozinha da maquina do tempo que mostravam a Teselecta, agora agarrada nas portas ao lado de fora da cabine azul, enquanto viajavam pelo Vórtice. –Era isso que o Livro do Destino quis dizer com “atrasar um pouco os planos”. O único modo da Teselecta cair na nossa armadilha da forma que queremos, seria estando literalmente na nossa cola! Isso é brilhante...

—Brilhante e perigoso. Vê se não deixa essa caixa azul bater em alguma coisa...! –alertou-lhe Melissa. –Faça alguma besteira, que o plano todo irá pelos ares...

—Não se preocupe “oficial co-piloto Rivera!—brincou ele. –Tenho tudo sobre controle... Continue me pondo a par de toda e qualquer mudança no Livro do Destino: não podemos deixar nenhuma informação valiosa escapar...

Aterrissaram, ainda adiantados, na divisória prevista: estavam agora, parados bem em frente ao Muro de Berlim, o famoso muro que dividia a nação Capitalista da Socialista. A cabine materializou-se bem do lado Socialista, que dava uma visão aberta para o lado oposto do muro (o lado capitalista), cuja era possível contemplar a placa gigante do M de McDonnald’s há muitos metros dali, como se fosse uma miniatura, mas mesmo assim, chamativa como sempre. O Doutor não perdeu tempo, abriu as portas da cabine sem nem ao menos se incomodar em ver como ficara a Teselecta, após uma viagem desgastante pelo Vórtice. O rapaz apenas seguiu com o cronograma: subiu no muro e sentou-se sobre ele com o colar de Cleópatra na mão, só então viu o estrago que o Vórtice causara no rival: a Teselecta estava toda chamuscada, na região das roupas holográficas principalmente, estragos apareciam por todos os lados e o rosto estava bastante prejudicado. Estava só o pó, e o Doutor sabia que ela não resistiria á um impacto muito forte.

—Como é que está o tempo aí em baixo? –disse o Doutor, descontraído.

—Você zomba de mim como um tolo cutuca a onça com a vara curta... –falou o outro, trincando os dentes; nem o desgaste do Vórtice parecia tê-lo deixado apreensivo. –Mas adivinhe Doutor, essa onça aqui já está começando a se irritar e você sabe o que acontece depois...   

—Ah! Vamos pular a parte da brutalidade: tem criança na sala!—ponderou o Doutor. –Ao invés de brigarmos, poderíamos tentar nos acertar...

—Rá! Isso é tão você, não é Doutor? –falou o outro enojado. —“O senhor politicamente correto está de volta”! “Todos saúdam o grande mestre das regras puritanas...”—provocou o outro, banalizando os métodos do rapaz. O Doutor assumiu uma postura mais séria. A Teselecta sorriu, triunfante.

—Pode me chamar do que quiser, só não pode me chamar de assassino –deu-lhe o Doutor, uma rasteira. O sorriso no rosto do outro não fraquejou nem um milímetro, isso incomodou inúmeramente, o Senhor do Tempo. –Cada um sabe muito bem os erros que cometeu, só que alguns erros são mais desumanos que outros...

—Olha só “o senhor filosofia em pessoa”! –ridicularizou-o novamente, o humanóide.

—Deixe disso! Não se faça de desentendido, porque nós temos muitas contas a acertas hoje... –começou o Doutor, segurando as pontas. –Facilite as coisas pra você mesmo: me diga quem você é.

—Ainda não descobriu, Doutor? –zombou o outro. –O Doutor na TARDIS ainda não adivinhou? O que houve com você? É a velhice chegando? Certamente já viveu tanto que nem consegue mais assimilar as coisas! Parece-me que os anos não lhe fizeram bem... Você ficou tão lento...

—Na verdade me fizeram muito bem: Me tornaram experiente, e isso faz toda a diferença nos momentos certos –disse ele sério. -Mas, julgo que a experiência não importa nada para você. Eu posso ter ficado velho, e até mesmo lento, mas pelo menos eu chego sempre á algum lugar: diferente de você que só pensa no poder. Na ganância. Brinca com as vidas das pessoas como se fossem poeira cósmica... –á essa altura, ele já começava a perder as estribeiras. Pulou do alto do muro e aproximou-se do robô, carregado de raiva. –Você não precisava tê-los matado. Sei que não há nenhum tripulante vivo dentro de você, diferente das demais Teselectas. Sua sede de poder era tão grande que você os torrou assim que entrou dentro do sistema...

—Eles seriam lixo cósmico comparados ao que eu pretendia fazer com todo o universo...

—É só o que você quer: poder supremo. Manipular o universo á seu jeito, começando pelo planeta Terra e depois seguindo á diante. Sempre reescrevendo tudo á seu modo. –o Doutor ficou cara á cara com ele, ameaçadoramente. –Eu não sei quem você é, mas sei o que quer fazer com o universo e isso basta pra mim. –disse impiedoso. –Tome! Vá pegar! –ele atirou o colar contra o muro e o humanóide correu para apanhá-lo. Porém, quando o fez, vislumbrou ao longe, no céu, um projétil de metal se aproximando do muro com uma velocidade impressionante. Mal teve tempo de fazer qualquer coisa, viu o Doutor na porta de sua cabine, já decolando. -Você sentenciou a si próprio, agora pagará caro por sua ganância...

O míssil que apanharam na passagem á Guerra Fria funcionou. Ele caiu, atingindo o muro, derrubando-o instantaneamente. Não haveria mais sociedades contrárias uma aos métodos da outra. Agora o capitalismo reinaria por um longo período de tempo indeterminado na Terra, sobrevivendo até os dias atuais e com previsão de seguir em frente. O Doutor movimentava-se inquieto na base do painel de controles, Luisa só o observava, um pouco aturdida. O corpo desfalecido da Teselecta estava deitado no chão da TARDIS com o colar de Cleópatra ainda em mãos, aparentemente estava tudo resolvido, mas ainda havia algo que intrigava a menina:

—Doutor... –chamou a garota, meio insegura. –Por que não... O deixou morrer?

—Não é assim que eu resolvo as coisas –disse ele acionando uma alavanca. –Não desse jeito. Eu não mato pessoas. Eu seria incapaz de fazê-lo. Eu tento abrir-lhes os olhos. Apenas isso. Seria incapaz de “ensinar uma lição á alguém” executando-a de um modo tão brutal. Ferindo sua carne... Esse não é o meu jeito de agir. Esse não sou eu. –ele olhou-a bem nos olhos. –Eu fiz certo, não fiz?

—Fez! Claro que fez. Eu mesma não teria feito melhor... –ela se apreçou a dizer.

—Então por que pareceu ter ficado tão espantada com a minha decisão? –indagou ele.

—Eu... Não sei. Só achei que... Sabe? Quando você apanhou aquele míssil... –ela riu de nervoso, desviando os olhos para as próprias mãos. -Pensei que a Teselecta estivesse com os dias contados...

—Eu também pensei. –admitiu ele. –Por um momento pensei que poderia terminar uma coisa da maneira que parecia ser a correta. Mas nem sempre fazer justiça com as próprias mãos é a forma correta de se solucionar um problema. Na real, nunca senti que isso fosse a coisa certa a se fazer. Acho que só quis botar medo no controlador da Teselecta e testar seus limites, vendo até onde ele iria chegar sabendo que sua vida estaria em minhas mãos. Acho que acabei testando meus limites também, no fim das contas... E comprovei o já esperado.

A garota franziu a testa.

—Quando se trata de fazer justiça com as próprias mãos, eu sou um zero á esquerda—ele riu abertamente e ela suspirou sossegada. Os dois correram um para o outro e se abraçaram, aliviados. –Missão cumprida Luisa... Missão cumprida.

A garota respirava agora mais leve que nunca.

—Admita, você já sabia que isso tudo ia acontecer...

—O seu livro médium me ajudou muito... –reconheceu ele. –Eu andei alterando a munição do míssil, antes mesmo de começarmos a atrair a atenção da Teselecta. –explicou ele. -Sabe? Quando ainda estávamos em dúvida se a cercaríamos no muro de Berlim, na Torre de Babel ou nas Muralhas da China... Bem, eu pensei muito em dar-lhe apenas um susto. Quero dizer, ela não está morta agora, sabemos que está apenas inconsciente...

—Então –Luisa afastou-se um pouquinho dele. –O que faremos com ela agora? Já que não haverá acordos de paz entre vocês dois... Para onde iremos levá-la? Não podemos deixar um maníaco por poder á solta no universo, podemos?  -disse ela apreensiva.

—Tem razão. Não podemos... –disse ele pensativo. –Acho que teremos que ficar com ele... O HD deve estar muito frágil, mas de quebra ainda poderei usá-lo para detectar alguma informação importante sobre o vírus de computador. Quem sabe até não descubro quem está por trás disso? É claro que isso exigirá bastante dedicação de minha parte e também uma baita de uma paciência, que eu ainda não sei direito onde vou arranjar...

Luisa riu com o comentário. Era quase imperceptível, mas o punho do humanóide caído ao chão moveu-se minimamente após o Doutor ter dito que pretendia usá-lo futuramente como objeto de estudo. Melissa e Nik vieram correndo na direção dos dois amigos logo a seguir, todos ignorando de vez o corpo desacordado no chão. Ignoraram-no tanto que nem notaram quando ele estendeu um dedo e alterou as coordenadas da cabine. O Doutor percebeu uma leve variação no rumo, mas quando foi consultar as coordenadas, percebeu que havia aterrissado. Intrigados, seguiram até a porta da caixa azul e descobriram-se novamente na idade média: o Doutor reconheceu o lugar como o mesmo em que Joana D’Ark fora queimada da primeira vez, mas julgando pela calmaria e, pela fogueira ainda apagada, concluiu que haviam chegado alguns momentos antes de tudo acontecer, antes mesmo de terem chego naquele lugar pela primeira vez.

—Gente! A Teselecta sumiu! –anunciou Melissa de dentro da cabine, aturdida. –Ela deve ter escapado enquanto estivemos distraídos...

—Mas como? –pronunciou o Doutor incrédulo. –Ela não saiu pela porta...

—Espera! Você disse que não a danificou, certo? –relembrou Luisa, segurando-o pelo braço. –Você disse que o míssil só servil para lhe dar um susto. Então isso obviamente significa que as funções dela ainda estariam em funcionamento? O Tele-transporte, por exemplo, não teria sido afetado, imagino?

—É isso! –confirmou ele. –Você tem toda razão. Ai, caramba! Eu devia ao menos ter destruído o tele-transporte dela quando ainda estava imobilizada no chão da TARDIS... Agora será quase impossível conseguirmos recapturá-la...

—Doutor... –Luisa parecia em choque, puxou a manga de seu casaco de um jeito tão fraquinho que nem parecia ela mesma. O Doutor olhou para a mesma direção para onde ela estava olhando. Onde anteriormente estivera tudo calmo, agora tinha o brilho ofuscante de uma fogueira queimando...

—Não... Não pode ser! –o Doutor correu até a Teselecta que, antes de morrer, assumira automaticamente uma ultima forma que, por acaso, o rapaz já conhecia bem de vista: Joana D’Ark. O Doutor estremeceu ao ver o corpo da mulher de metal virar cinzas em meio à fogueira impiedosa, iluminando o local no crepitar do fogo, ao cair da noite. Seus planos morreram de repente, ele não mais poderia investigar com os restos do robô, a inteligência que tomara conta de si. Esse seria um mistério que nunca chegaria a solucionar: Quem estivera por trás de tudo aquilo? Com certeza fora ele mesmo quem manipulara o humanóide para se suicidar, com medo de ser descoberto. Um covarde, era o que ele era no fim. E acabou bagunçando toda a história por causa de sua inconseqüência. Queimando a unidade alfa na fogueira, ele conseguiria apagar todas as possíveis pistas que ainda restariam sobre seu paradeiro. Enquanto a Teselecta era consumida pelo fogo, o quarteto se sentiu meio estranho, como se tudo aquilo que tivessem feito até agora não passasse de um blefe, no fim das contas. Uma pura ilusão. Eles perderam o chão. O choque do suicídio do robô fora tão grande que eles ficaram sem conseguir falar por um longo período de tempo. Simplesmente não acreditavam que a história levara um desfecho tão trágico. Não conseguiam engolir isso. O Doutor, mais que todos, não queria que terminasse dessa forma. Nunca quis uma coisa dessas. Já estavam todos de olhos baixos, quando o rapaz (que estivera de costas para as garotas e Nik, durante todo o tempo em que o corpo de metal queimou) finalmente voltou-se para o resto do grupo, com os olhos marejados, buscando algum conforto. Até Nik estava tristonho, parara de abanar o rabo e abaixara as orelhas, esbanjando seus olhos tristes. As garotas tentaram lhe dirigir um sorriso amigável, mas era difícil, quando as lágrimas pareciam querer escorrer a todo momento por seus rostos. Os quatro se abraçaram intensamente e ficaram juntos, por alguns instantes, em silencio.

Uma movimentação nova cortou o silencio da noite e eles trataram de se esconder. Viram á alguns bons metros de distancia da fogueira da Teselecta, um carcereiro conduzir uma garota com sigo até um poste, onde seria amarrada: A verdadeira Joana D’Ark, presumiu o Doutor. O rapaz se inquietou atrás dos arbustos. Sentiu um breve impulso de sair de trás do esconderijo improvisado e ir ajudá-la. Foi então que o Doutor percebeu: ele tinha que agir. Tinha que fazer alguma coisa, afinal, a Teselecta continuava a queimar perto de daquele mesmo local, mas ninguém se dera conta de que o rosto da garota da fogueira já incendiada era o mesmo á da garota que logo teria o corpo em chamas. E se uma pequena troca pudesse salvar a vida de uma boa garota inocente que não merecesse um fim trágico como este? Os olhos do Doutor se acenderam e, como se Luisa tivesse lido seus pensamentos, recitou em seguida:

—“Uma troca é só o que precisam, para poder ajudar um inocente no fim do dia. Tragam uma alegria á seus corações, jovens guerreiros: salvem-lhe a vida!” –ela leu pausadamente, as ultimas linhas do Livro do Destino. O quarteto se entreolhou, ainda meio paralisados pela adrenalina, então deram-se as mãos, como faria uma verdadeira equipe, e puseram-se a estipular um simples plano para salvar Joana D’Ark.

O carcereiro fora embora, logo voltaria com mais alguns companheiros seus para que acendessem a fogueira da garota. O Doutor caminhou tranqüilamente pelo espaço. Sabia que, em algum beco por aí, estaria o seu “eu passado” agora, observando a cena de longe, bastante desiludido. Lembrava-se que anteriormente, durante a primeira vez que desembarcaram na idade média, houvera um pequeno intervalo de tempo em que não observara mais Joana, pois estivera conversando com a equipe traçando seu plano para capturarem o robô; Algo entre a hora em que Joana D’ark foi amarrada ao poste e o momento que seu corpo começou a pegar fogo, gritando que “não era quem eles pensavam que ela fosse, e que haviam pego a garota errada”. Talvez essa fosse a deixa premeditada afinal, pois se eles a salvassem agora, quem teria visto á fogueira da primeira vez haveria de ser a própria Teselecta, ao invés da verdadeira Joana D’ark. Se seus cálculos estivessem corretos, a pequena troca nunca seria notada...

—Dá licença... –começou o Doutor, aproximando-se da verdadeira Joana D’ark, presa no poste. –Caramba, como está quente por aqui... Não sei como você agüenta!

—Não seja tolo! Eu irei queimar... Serei a próxima. –disse a jovem muito séria. –Em breve não sentirei mais o calor de meu corpo, nem a palpitação de meu coração. Mas eu não me arrependo de nada! Se pudesse retornar ao passado, faria tudo de novo! –disse ela com orgulho.

—Sei como é –disse ele.

—Não, não sabe. –retrucou ela. –Não será você que será queimada viva daqui a alguns minutos...

—E nem você –ele deixou escapar e ela olhou-o como se ele fosse louco. –Quero dizer, se você não quiser, é claro. Faremos tudo respeitando a sua liberdade de escolha... E, sendo você a própria Joana D’ark, eu acho que entende bem disso, não é?

—Fala coisas tão absurdas... –ela estranhou. –Está querendo transformar meu sofrimento em uma piada?

—Não! Você entendeu tudo errado –ele disse amigavelmente. –Estou tentando transformar seu sofrimento em não sofrimento. –ele sorriu.

—O quê?

—Venha comigo –o Doutor estendeu-lhe a mão. –Sei que parece estranho agora, mas eu posso ajudá-la e certamente o farei se você permitir...

—Está louco? Eu estou prometida para a morte! –rebateu ela, indignada.

—Está bem então! –ele fez um movimento leviano com as mãos. –Quer ajuda no processo? Eu tenho uma caixa de fósforos aqui comigo...

—Não seja tolo! –ela reagiu, mas sua voz pareceu fraquejar. –Acha que quero ficar aqui e morrer? Mas eu não tenho escolha. Estou sendo punida por uma bobagem, mas que aos olhos dos outros, é algo muito, mais muito ruim...

—Bem, você mesma disse que se pudesse voltar no tempo, faria tudo de novo. –ele disse e ela ficou bem atenta ás suas palavras. –Bem, eu já vi essa cena antes e particularmente não gosto nem um pouco do final... Vamos admitir que nós dois sabemos como isso termina, agora cabe a você se dar uma chance. –ele tirou a chave de fenda do bolso, alguns paços a longa distancia foram ecoando: o carcereiro estava voltando. Joana D’ark se inquietou no poste, tentando se soltar. –Joana, eu sou a sua única chance de escapar ilesa dessa enrascada... E então, o que vai ser?

A garota o olhou profundamente nos olhos, então depois de pensar bem rápido (os paços se aproximavam cada vez mais agora), ela aderiu á sua ajuda (ao som de *Eu não matei Joana D’Ark –Camisa de Vênus). Com rapidez eles fugiram de lá, as meninas a guiaram até dentro da TARDIS, enquanto o Doutor caminhou mais atrás lentamente, passando próximo ao robô Teselecta, já bem queimado. Porém, quando o fez, o humanóide (já há muito abandonado pela entidade que o estivera controlando) pronunciou suas ultimas palavras, pela surpresa do Doutor, que já não esperava ouvir mais nada da casca oca de metal que queimava ao fogo:

Protocolo de Emergência numero 4139. Banco de dados da memória atualizado. Ultimo registro encontrado: “Não! Vocês não entendem! Pegaram a pessoa errada! Eu não sou Joana D’Ark! Eu juro! NÃO SOU JOANA D’ARK!”–então a voz robótica silenciou e o HD pifou de vez. Era o fim da Teselecta alfa.

O Doutor observou-a com pena, por apenas mais um breve momento. Não acreditava que ela realmente merecesse isso, então, sabendo que já não haveria nada mais á se fazer por ela, deu-lhe as costas e seguiu seu curso, caminhando lentamente até sua TARDIS. Porém, quando já estava quase no meio do trajeto, sentiu algo brilhar no bolso, um brilho amarelo e quente. Sem pensar duas vezes, enfiou a mão dentro deste e apanhou rapidamente o papel psíquico, para conferir o que era: Uma mensagem brilhava em letras douradas:

“Em breve, as estrelas se apagarão e o tempo será consumido...

Não acabou. O relógio ainda á de marcar o tempo. O FIM DO SEU TEMPO”.

Lembre-se disso: “O console no fim do universo será sua perdição”.

 

Imediatamente, o Doutor guardou o papel psíquico no bolso, a expressão séria ainda impregnada: piscou algumas vezes, desconfiado, tentando captar o sentido daquela mensagem. Ergueu o olhar: a caixa azul á meio metro de distância parecia piscar injuriada, chamando-o para dentro. Sem hesitar, ele disparou rumo à sua cabine, dessa vez sem olhar para trás.


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Notas finais do capítulo

Hum...

Pois é, gente. No fim eles não descobriram quem era o vilão ou vilã.

Mas calma lá: Temos uma mensagem no papel psíquico para esquentarmos a cabeça!
kkkkkkk Mas não por enquanto... A próxima aventura é finalmente a história que prometi à Karina, minha amigona do core, desde que comecei a postar a história da Lu, ano passado.

Yep: lá vem músicas indianas pela frente (cantarolando aqui)

Até próxima semana! ;D



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