Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 18
A Formatura


Notas iniciais do capítulo

Olá gente linda e maravilhosa!

"Luisa e sua turma finalmente vão se formar. Ela está super animada com isso, mas antes da festa começar, a menina encontra uma estranha manchete de jornal, que praticamente predestina como tudo aquilo irá acabar. Intrigada, ela tenta ficar alerta durante a Grande Noite, certificando-se de que nada sairá fora do planejado... Será que há alguma chance disso dar certo?"



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Era uma manhã clara e úmida de março. Chovera a semana toda, e a cidade inteira esperava ansiosa pelo final de semana, que prometia ser de muito sol e com possibilidade mínima de tempo fechado. O sol do meio dia mal começara a dominar o céu e já havia várias pessoas nas ruas fazendo compras ou somente passeando com suas famílias e amigos. No meio destes, uma menina de seis anos acompanhada pelos pais corria por entre as árvores da Praça Aquiles que ficava bem de frente para uma seqüência de casas que seguiam reto até o fim da rua, evidentemente, uma daquelas moradias era a sua. A mãe da menina carregava uma cesta com uma toalha e o pai, um guarda sol azul –eles pretendiam fazer um piquenique. A menina estava em êxtase: só não escalava as árvores porque os pais a advertiam de que poderia cair lá de cima, senão ela com certeza o faria. Estava decidida a fazer aquele sábado valer a pena e não desistiria enquanto não sentisse ter aproveitado o mais intensamente possível aquele fim de semana. Ela seguiu por entre uma porção de outras pessoas –na maioria desconhecidos –que assim como seus pais, também pretendiam aproveitar o dia ensolarado. A garotinha conhecia muito bem aquele lugar, por assim dizer, era quase impossível que se perdesse ali, pois ela conhecia aquela praça como a própria palma da mão. Ela correu alegremente ao avistar ao longe um grupo de garotos uns anos mais velhos que ela, empinando pipas coloridas que voavam a todo vapor pelo céu azul.

—Você gosta delas?

A menina virou-se imediatamente e deu de cara com um adulto ao seu lado. Ele era esquisito e um tanto curioso. Suas roupas eram contraditórias com o clima daquela manhã: usava trajes pesados como um colete marrom por baixo de um sobretudo preto, calças escuras e compridas, além de um cachecol tricotado, chapéu estilo caubói e um par de botas. Conservava uma expressão divertida no rosto ao fitar também, as pipas planando no firmamento.

—Sim. E você? –perguntou a menina, sem receio nem nada.

—Eu gosto. –respondeu distante, com os olhos anuviados e a cabeça cheia de idéias. –Elas são tão tranquilas! Veja só... Até parece que nunca tiveram uma preocupação na vida. Estão voando sempre tão despreocupadas! Eu as admiro. Queria ser mais como as pipas. Do contrário delas, eu não consigo sossegar parado um só instante... Claro, ao menos que algo muito inusitado prenda a minha atenção, o que raramente acontece.

—Você é engraçado. Fala das pipas como se fosse vivas, mas elas não são, não é?

—Confie em mim, é isso que elas querem que você pense. –disse ele voltando-se para ela, lançando-lhe uma piscadela.

Por um momento apenas, a menina pareceu super intrigada com aquela afirmação. Encarou o homem por alguns instantes, depois deu de ombros e voltou a contemplar as pipas no céu. Então algo estranho se sucedeu. De repente, o céu escureceu-se em um misto de cinza e preto, rajadas de vento forte cortaram o ar, fazendo com que as linhas das pipas arrebentassem e levassem-nas para muito longe. Todos começaram a correr desesperadamente pela praça, a ventania não cessava, parecia que o mundo ia acabar. A menina hesitou por um momento, pensara em sair correndo assim como os demais... Ela precisava achar os pais, precisava saber onde eles estavam, mas antes que pudesse obedecer seu impulso, uma mão segurou-lhe o braço e puxou-a consigo para longe dali.

Vem comigo garotinha!—gritou o homem, arrastando-a consigo e segurando o chapéu que parecia não querer parar na cabeça. –Será mais seguro se cairmos fora daqui o mais rápido possível... Você viu aquelas pipas? Viu como as linhas se partiram? Acredite, eu já conheço essa história de “carga elétrica na pipa” e não estou muito a fim de conferir esse experimento de novo. Foi mal, Benjamim Franklin...!

—Espere! Está escuro. Eu não gosto do escuro. Eu quero a minha mãe! –gemeu ela empacando no meio do caminho, algumas lágrimas se formando ao redor dos olhos.

—Tenha calma –pediu ele gentilmente, agachando-se para poder ficar da altura dela. –Você estará bem comigo, por enquanto. Eu prometo que, quando a poeira baixar, vamos achar a mamãe, certo?

Ela balançou a cabeça positivamente, limpando uma lágrima dos olhos.

—Ótimo. Adoro crianças corajosas, e você me parece uma perita nesse departamento. –sorriu ele, encorajador. –Agora venha. Temos trabalho a fazer.

Ele atravessou a praça segurando-a pela mão, apertando o passo cada vez mais, com medo de que algo pior que a ventania pudesse se suceder. Foi aí que um raio monstruoso caiu a poucos metros dali, e a chuva começou a cair ameaçadoramente sobre as cabeças dos desesperados que corriam desembestados pela praça, sem onde, nem como se esconder da aguaceira. A menina gritou de susto e o rapaz pegou-a no colo, protegendo-a.

—Vai ficar tudo bem –acalmou-a ele. –Me desculpe. Eu fui descuidado.

—Do que você está falando? –sussurrou ela assustada, o rosto próximo ao dele.

—Não é, bem, é difícil de explicar... Parte disso é culpa minha. –admitiu ele. –Eu deixei aquele relâmpago escapar. Ele, a Tempestade toda, estava trancada, aprisionada em um tipo de prisão eletromagnética. Essa é a tempestade mais perigosa do universo, por que sua chuva é acida, seus ventos são compostos por gases tóxicos poluentes e seus raios, contem a carga elétrica mais devastadora de todos os mundos. A tempestade fora presa por ferir inocentes em um planeta nativo seu. Antigamente, as grades da sua prisão impediam que os seus relâmpagos descarregassem sua energia nos inocentes, mas mesmo assim, ela já fugira uma vez. Depois disso, eu a capturei e a mantive presa por um longo período, em um compartimento quase tão isolante quanto sua antiga cela. Mas um dia desses eu me descuidei, e aqui está o resultado. Mais eu juro: não vim aqui a propósito. Só estava dando uma volta pelas bandas, quando me deparei com essa minha velha colega. Finalmente livre, a Tempestade está mais carregada do que nunca, e não é pra menos: ficou séculos sem poder descarregar seus raios, mas agora que escapou, quer tirar o atraso descontando sua raiva em um planeta qualquer. Pena que sempre tem que se tratar da Terra... Por que eles nunca escolhem lugares como o deserto de Kalynos? Não há vida inocente por lá... Bem, de qualquer maneira, ela escapou e, pelo jeito, está mais raivosa do que nunca...

—Como? –guinchou a menina confusa.

—Eu falei. Muito difícil de explicar! –disparou ele, arrastando-a novamente para longe.

De repente, pararam e abrigaram-se em baixo de um barracão abandonado, num cantinho da praça, onde havia logo ao lado uma caçamba de lixo. O homem largou a mão da menina e pôs-se a revirar o lixo, inesperadamente.

—O que você está fazendo? Por que está chovendo assim no meio do dia ensolarado? Quem deixou a Tempestade fugir? Como nós vamos parar isso? –tagarelou ela.

—Ah, vocês crianças... Fazem tantas perguntas! –disse embolando-se com um circuito de fios que fora descartado. –Será que eu já fui assim quando criança? Já faz tanto tempo que eu nem me lembro mais.

—O que estamos fazendo? –insistiu ela.

—Como eu havia dito, eu fiz uma besteira enorme e estou tentando concertar o meu, ahn,  probleminha técnico... –murmurou ele, distante. –Caramba, onde você está?

Bem aqui!—respondeu a menina. –Não está me vendo?

—Não é você! É a minha ferramenta... –explicou, agora um pouco ansioso. –Eu preciso encontrá-la. É o único jeito de deter a Tempestade!

—E o que seria essa sua ferramenta? –perguntou ela.

—Um tubo comprido e circular, com uma lusinha na ponta. –disse debruçando-se de tal modo na lixeira, que quase perdeu o equilíbrio. –Eu tinha certeza que caiu por aqui...

—Você quer dizer isso? –a menina estendeu-lhe o objeto.

No mesmo momento, os olhos do rapaz se iluminaram. Ele agarrou o objeto e, não contendo-se em perguntar, falou:

—É ela mesma! Onde foi que você encontrou? –disse todo animado.

—Caiu do seu bolso –retorquiu a menina, tirando-lhe o sorriso do rosto.

—Bom, de um jeito ou de outro... É agora ou nunca! —ele apontou a ferramenta para o alto e esta fez um zumbido ensurdecedor que, entrou em contato com o magnetismo da Tempestade, causando uma pane interna nesta, que dispensou-se toda pelo ar, como se nunca houvesse existido. O sol retomara o seu lugar no céu e assim, as pessoas começaram a voltar à praça. A menina fechara os olhos no momento da explosão da Tempestade... Quando finalmente abriu-os de novo, estava deitada sob uma toalha, ao lado de uma cesta de piquenique.

—Mas como você fez isso...? –indagou ela, vendo-se novamente sozinha. O tal rapaz que tanto a ajudara, de fato, sumira.

Ao erguer os olhos, deparou-se com a mãe e o pai, a pouco menos de um metro de distancia dela, pareciam atordoados. A mãe parecia exausta por algum motivo, seu rosto estava sujo de terra e a manga de sua blusa tinha as marcas da chuva ácida em furos irreparáveis, mas em geral, parecia estar bem. Já o pai, por outro lado, não aparentava furos, nem qualquer tipo de arranhão ou mancha de terra nas vestes, estas pareciam intactas. A menina abriu um enorme sorriso ao vê-los e eles fizeram o mesmo.

—Mamãe! Papai! –guinchou ela correndo para abraçá-los.

—Minha querida! –sorriu a mãe abraçando-a –Graças a Deus você está bem! Como foi que nos encontrou?

—Com a ajuda daquele homem.

—Que homem, minha pequena? –quis saber o pai, acariciando-lhe os cabelos.

—Tinha um moço comigo, bem ali... –ela apontou para o barracão. O lugar parecia maltratado pela tempestade, mas a lixeira, por outro lado, parecia intacta, como se ninguém nunca houvesse revirado aquele lixo. –Eu... Juro! Ele estava bem ali...

—Nós acreditamos em você. –disse o pai, compreensivo.

—Pois é, como disse o jovem Príncipe Hamlet, uma vez, na trágica peça de Shakespeare: “Há mais mistérios entre o céu e a Terra do que sonha a nossa vã filosofia”. –disse a mãe da menina, com um olhar vago, abraçando o marido e a filha o mais forte que conseguiu. –Bem, o que importa é que estamos todos bem.

“Todos bem... Todos bem... Todos bem... Todos...”

 

*   *   *

Luisa abriu os olhos. Estava deitada em sua cama, onde estivera dormindo profundamente desde a noite anterior. Ela tivera um sonho muito estranho naquela noite. Por fim, gemeu e forçou-se a se levantar.

—Que droga! São seis e meia –reclamou olhando para o relógio, sonolenta. De imediato nem ligou, afinal era sexta feira e não haveria aula, mas pouco depois, teve um choque. –Caramba! É seis e meia! A FORMATURA! A formatura é hoje! Os preparativos... Eu disse que estaria na escola às... SETE HORAS!—surtou ela, levantando tão rapidamente da cama, quanto se é possível.

Luisa correu de encontro ao seu guarda roupa: precisava se arrumar o mais rápido possível. Tomaria café no caminho. Aquele dia era demasiado o mais importante do ano para os terceiros, já que a chegada dele significava o fim do ensino médio e o início de uma nova fase em suas vidas, uma fase de independência, experiência e expectativa. Durante grande parte do ano, a Formatura teve os “holofotes” virados para si, como assunto de grande interesse no colégio, e agora que ela estava para ocorrer em questão de horas, não seria diferente.

Luisa experimentou colocar uma saia azul rodada e uma blusa listrada, solta no corpo, calçou o All Star rosa, prendeu o cabelo em um rabo de cavalo, maquiou-se de leve, só pra constar, e disparou rumo ao parapeito da escada. Tinha que sair agora ou não chegaria a tempo de ajudar nos preparativos da festa noturna tão esperada, naquele dia. Cruzou correndo a sala de estar, sua mãe não estava em casa, ela saíra para apanhar com a costureira, o vestido que Luisa usaria na Formatura (estava um pouquinho largo), mais do que tudo, isso significava que ela teria que ir a pé para a escola, sem se atrasar, coisa que se tornaria um desafio, já que acordara atrasada.

Atravessou o corredor e apanhou uma maçã, poderia comê-la no caminho. Voltou-se para a sala, onde estariam as chaves da casa? Não poderia sair sem ela. Avistou-a ao longe, em cima da estante de livros e fotografias no canto da sala. No momento em que segurou-a nas mãos, ouviu o toque distante de seu celular, ao som de *Call Me Maby -Carly Rae Jepsen, vindo do andar de cima. Aparentemente ela o esquecera no quarto, por causa da correria para se arrumar. Subiu a escada “num pulo”, atravessou o corredor que levava aos quartos, o banheiro pequeno e o canto das bagunças –um quarto onde só se guardava tranqueiras e coisas, há muito tempo, encostadas. Conseguira chegar no cômodo antes do telefone parar de tocar, mas no momento exato que apanhou o objeto nas mãos, este parou de tocar. Intrigada, ela apertou um botão na tela que anunciou uma mensagem: CHAMADA PERDIDA.

—Que droga! –resmungou para o celular. –E eu me matando para chegar a tempo até você! De que adianta? Olha, isso não vai dar certo se a gente não entrar num acordo: Não desligue quando eu estiver prestes a te atender!

Estava no meio de um sermão para com o celular, quando algo chamou-lhe a atenção. Sem recém aviso, umas pedrinhas pequenas bateram de encontro com o vidro da sua janela. Mais uma vez intrigada, caminhou até esta e afastou a cortina, com cautela. Não havia nada do outro lado, e o quê poderia haver? Sua casa era um sobrado e seu quarto ficava no primeiro andar. Ela demorou-se a observar o jardim logo abaixo, na frente da casa, mas fora somente quando ergueu os olhos que deparou-se com uma figura interessante.

Parado do outro lado da rua, de braços cruzados e jornal nas mãos, estava um homem alto e grisalho, de olhar imponente e vestes distintas. Usava um colete escuro por cima de uma camisa branca, com um leve babado ao redor dos botões, ainda por cima destes vestia um casaco preto com os avessos escarlate, de um tecido que brilhava aos reflexos dos primeiros raios de sol da manhã. Ele tinha um rosto sério e focado, não desgrudava os olhos da menina um só instante. Uma das mãos agora massageava o queixo, distraidamente, como se analisasse seu rosto com total cuidado, captando todos os detalhes possíveis.

Por um momento, Luisa pareceu insegura... Um estranho contemplava-a da rua, sem pudor algum, nem dissimulações, nem ao menos disfarçava o ato, parecia querer que ela o visse ali, contemplando-a, na cara dura. Ela deu um passo para trás, sem desgrudar os olhos daquele homem. Por mais que tentasse, aquela figura estranha a atraia, como se de certa maneira, conhecesse-o de algum lugar específico, mas não conseguia se lembrar de onde.

Ele dobrou o jornal e enfiou-o no bolso interno do casaco, sem desgrudar seus olhos do sobrado amarelo. De algum modo inexplicável (talvez se tratasse da Visualização, talvez não), Luisa sentia que ele era uma pessoa boa, com intenções puras e amigáveis, o que seu rosto propriamente, parecia desmentir. Na real, parecia estar encabulado e ao mesmo tempo, mantinha um olhar severo, como se sentisse raiva de algo. Suas sobrancelhas que o digam! Seriam elas, as culpadas pela sua invocação, fazendo seu rosto parecer tão severo e pretensioso, como se falassem por ele, ou realmente estava incomodado com algo?

Luisa não sabia explicar, mas o olhar que sustentava o seu, não era um olhar comum. Ela não conseguia desviá-lo por um só instante. Era como se ela e tudo ao seu redor tivesse parado. Como se o próprio tempo tivesse parado. A garota piscou por um momento, quebrando o transe e, surpresa: O tal homem desaparecera. Não havia mais rastro algum de ele ter estado lá, nem ao menos por um minuto. Já não havia ninguém na rua, tudo se seguiu como de costume... O homem simplesmente havia sumido.

A garota imediatamente tornou a correr para o andar de baixo, como se não houvesse acontecido essa pausa, e afinal, parecia mesmo que ela não havia ocorrido. Quando virou-se para o relógio, para ver o quanto mais se atrasara, espantou-se ao constatar que ainda restava tempo para chegar à escola.

Correu, fechou a porta, trancando-a bem e seguiu pelo jardim, olhando para todas as direções, à procura do homem misterioso. Não encontrou nada, nem sinal dele, mas o que viu, foi ainda mais avassalador: Havia um recorte de jornal caído no chão –provavelmente estivera junto ao que o homem guardara no bolso. Estando lá propositalmente ou não, a notícia que ele exibia era totalmente impossível. Luisa não pôde deixar de arregalar os olhos ao ver a manchete:

“Colégio Michael Richard Kyle é pego de surpresa por seres Extraterrenos ás 23 e 45 da noite”

"Festa de Formatura é cancelada antes do início da madrugada".

*   *   *

Luisa irrompeu na escola com um recorte de jornal nas mãos e um pensamento paranóico em mente. Percorreu os corredores com uma determinação fixa no olhar: ela sabia que algo muito ruim aconteceria naquela noite, e de maneira alguma, poderia deixar que aquela manchete se concretizasse!

Seus sentidos estavam mais aguçados que nunca e ainda mais atentos a toda e qualquer movimentação local, como se procurassem por pistas invisíveis nos rostos de cada um que passava no corredor ou cruzava seu caminho. De repente, ninguém mais pareceu digno de confiança. Ela só sabia que ali, entre eles, haveria um culpado, que ainda por cima nem humano era! Constatar isso, fácil. Saber de quem se tratava, difícil. Sua cabeça estava a mil, seu cérebro estava sendo bombardeado por tantas idéias e possibilidades diversas que sua cabeça chegava a doer. Foi no meio do seu questionamento silencioso, confuso e enlouquecedor, que deparou-se com Carly no corredor.

—Luisa! Onde você se meteu? –perguntou, enérgica. –Você por acaso sabe como me deixou preocupada? O pessoal da decoração já estava ficando impaciente... Eles estavam querendo me comer viva, sabia?

Luisa estava distraída. Seus olhos estavam distantes e ela deixou-se levar por seus pensamentos enquanto Carly dava-lhe um sermão. Comê-la viva, foi a ultima coisa que escutou antes de se perder por completo em suas próprias preocupações... Por algum motivo estranho, aquela descrição deixou-a desconfortável, como se já tivesse ouvido coisa parecida em algum lugar. De repente um enjôo inesperado revirou seu estômago e um mau pressentimento invadiu seu corpo, de tal maneira que até os fios de cabelo de sua nuca se eriçaram. Ela tentou disfarçar, mas já era tarde demais... Carly já a contemplava com certa inquietude presente no olhar. Provavelmente, Luisa ficara mais branca do que de costume ou coisa parecida, e isso evidentemente, pegou a outra de surpresa.

—Luisa? –chamou a garota, preocupada.

—Sim? –Luisa piscou com força, voltando a si. –Você disse que o pessoal da decoração já chegou? –disfarçou ela.

—É, mas se você não estiver se sentindo bem... –advertiu Carly.

—Eu? Estou ótima. Vamos logo com isso! –e saiu, rumo ao salão de festa da escola, arrastando consigo Carly, que novamente surpreendeu-se com a reação inesperada de Luisa. Ela definitivamente estava muito estranha naquele dia.

Chegaram a um salão extenso, com uma pista de dança quadriculada no centro, (que ficava linda quando iluminada pelas luzes dos holofotes, que eram refletidos pelo globo da discoteca, no teto do salão), que estava sendo coberta por um comprido tapete vermelho, que era estendido desde as portas de entrada do grande salão de festas até o palco, que surgia a vários metros à frente, na outra extremidade do local, onde seriam apresentados a banda, o entretenimento em geral e onde, por fim, os formandos subiriam para apanhar os tão desejados, certificados do curso completo do ensino médio. Havia várias mesas redondas dispersas por todos os lados, em posições cuidadosamente calculadas, para que não atrapalhassem a pista de dança e ao mesmo tempo, garantissem uma boa visão do salão inteiro. Havia também, paralelo ás portas do salão e ao lado esquerdo do palco, uma comprida mesa, que se tornaria até o fim do dia, a mesa dos comes e bebes. Luisa sorriu ao ver toda aquela produção. O salão estava cheio de alunos que organizavam o lugar para aquela grande noite. Ela mal podia acreditar que tudo aquilo estava mesmo prestes a acontecer! Era como um sonho virando realidade... Por alguns instantes, chegou a deixar as preocupações de lado, pois naquele momento os preparativos para a sua grande noite pareciam chamar sua atenção como nada fizera igual nos últimos minutos. Luisa sentiu que precisava ajudar urgentemente seus amigos com aquela tarefa. Sabia que ia se sentir melhor fazendo-o; quanto àquela notícia do jornal, ela só podia cruzar os dedos e torcer para que tudo desse certo. Não poderia modificar o futuro, pelo menos não sem um plano, e de que adiantaria um plano em uma hora destas? Ela precisava agir, mas não sabia como. Não tinha tempo, nem um plano, nem ao menos sabia se aquela noticia era verdadeira, quem sabe fazia parte de alguma crônica escrita por algum engraçadinho de plantão? Talvez nada passasse se uma piada, afinal aquilo não era uma celebração imperdível voltada para todo e qualquer público, era apenas uma formatura da turma do terceiro ano de um colégio qualquer. Seria uma noite inesquecível para eles, com certeza, mas não a ponto do evento servir como assunto de completo interesse para o jornal da região e deste fazer uma cobertura total da comemoração. Luisa ignorou as causas e as circunstâncias gerais... Precisava ajudá-los, prometera fazê-lo aquele dia. Por fim, sorriu ao ver Ned se atrapalhar ao tentava sozinho, erguer uma caixa de som para cima do palco.

—Você está bem? –quis saber Carly. –Está tudo sobre controle aqui. Se não estiver se sentindo bem, nós podemos seguir sozinhos...

—Eu acredito –sorriu ela de volta para a outra, sinalizando na direção do menino errante com a caixa de som. –Estou bem. É sério! Deixe a decoração comigo... Eu sei que posso ajudar no que for preciso.

—Está certo... –sorriu Carly de volta. –Mas tome muito cuidado: os garotos estão meio “enlouquecidos” por causa do fim do ano. De algum modo, tornaram-se “liberais de mais” pro meu gosto. Acham que podem fazer o que lhes der na telha apenas porque estão para acabar a escola! Estão se achando “mais maduros” ou coisa do tipo, sabe? Esse tipo de esquisitices dos garotos...

—Fica fria! Eu sei como lidar com esse tipo de situação –garantiu Luisa lançando-lhe uma piscadela. –Entendeu?

—Está bem então, vamos ver como se sai sozinha. –disse Carly despedindo-se dela, e voltando sua total atenção para uma prancheta de anotações onde parecia consultar os itens da lista, que garantiriam a impecável organização da festa.

Luisa seguiu para o centro do salão, para ter uma visão geral do lugar. Ao fazê-lo, deparou-se com alguém chamando seu nome. Era Raven, usando um grande e estiloso boné lilás bordado com lantejoulas rosas que brilhavam sob os raios de sol que banhavam a sala com mais intensidade agora. Acompanhavam-lhe de perto também, Chelsea, Moze, Claire, Summer, Sam, D. J. Tanner, Julie e Violetta. Todas trajavam vestimentas fechadas até o pescoço, escondendo os modelitos por baixo.

—O que acha dos meus modelos? –perguntou Raven, cheia de expectativas, à Luisa. –Bam! É isso aí meninas! –disse, em um movimento ensaiado em que todas abriram suas jaquetas e fizeram poses diversificadas, esboçando uma linha inteira de modelos chamativos e muito bem desenhados.

—Estão lindos! Foi você mesma que fez? –entusiasmou-se Luisa ao ver aquelas obras primas.

—Eu não quero me gabar, mas fui eu sim! –disse Raven, com a felicidade quase não cabendo dentro de si. –Eu finalmente pude desenhar os meus modelos para uma apresentação de verdade! Não é a coisa mais emocionante de todas? –disse apoiando-se na melhor amiga, Chelsea.

Não sei não Ray, eu acho o ato de irrigar a minha horta, ainda mais emocionante que isso—retorquiu Chelsea, ao mesmo tempo que todas, inclusive Raven, voltaram-se confusas para ela. –Bom, em geral eu penso assim, mas se querem a verdade, ficou mesmo uma beleza! –terminou Chelsea concertando as coisas, tateando a manga brilhante da vestimenta com admiração. Todas sorriram em resposta ao seu ato.

—Aqui está a sua –Raven entregou a Luisa, um vestido azul com mangas compridas brilhantes e um bolero para acompanhar, além de um chapéu com uma pluma extravagante. Ela ia perguntar sobre ser obrigatório ou não a utilização da pluma, mas ao erguer a cabeça, deparou-se com cada uma das outras já com um chapéu contendo uma pluma colorida, de acordo com a coloração do traje específico.

—Ah... Certo. Acho que posso me acostumar com isso –disse alegremente, colocando também o chapéu.

—Raven! As roupas ficaram um arraso! –afirmou Carly, surgindo de trás de uma cortina, trajando também seu look específico. Ela usava uma blusa preta brilhante sem mangas, com as únicas alças caídas sobre os ombros, uma calça jeans de tonalidade vinho com um “R” de Raven bordado no bolso traseiro, como o símbolo de uma marca famosa.

—Ah! Mas você ficou uma graça... –admirou Raven sua própria criação, modelando-se e “criando vida” no corpo da garota, para quem ele propriamente fora feito.

—Desculpe a intromissão, meninas –disse Eddie, aproximando-se seguido de perto por Fred. –Mas o que vocês pretendem com essas roupas?

—O que pretendemos? –riu D.J. Tanner.

—Por que não pergunta o que não pretendemos com essas roupas? –sugeriu Moze. –Essa seria mais fácil de responder...

—Está bem –retorquiu Ned, surgindo do nada no meio da conversa. –E o que vocês não pretendem?

As meninas riram, causando uma pausa bastante sugestiva entre a pergunta e a resposta.

—Deixá-los... Entediados. –respondeu Raven, finalmente, com uma expressão sedutora no rosto. –Dj, solta o som!

De dentro da sala do Dj, Chris Rock e Daniel San sorriram e puseram um disco para tocar. A música era *Boom Clap – Charli XCX. As meninas deram as costas aos garotos, que em geral se amontoaram para vê-las dançar. Elas tinham preparado uma coreografia sincronizada com movimentos fáceis e dançantes ao mesmo tempo. Foi Raven que puxou a dança, e o restante das meninas seguiram-na, cheias de energia. Até mesmo Luisa entrou na dança –ela que anteriormente estivera tão preocupada, agora divertia-se ao lado das companheiras. Fazia tempo que ela não se sentia tão livre, leve e solta daquela forma, às vezes ela simplesmente se esquecia de como passar algum tempo com as amigas fazia-a se sentir bem. Com a cabeça livre de pensamentos incômodos, elas deram um show no salão de festas.

—Uau! –brandiu Ned, ao vê-las terminarem a coreografia ao fim da música, cada uma com uma pose diferente, como se fossem estátuas cheias de glítter e purpurina. –Vocês vão dançar isso na formatura de hoje à noite?

—Não! Só estávamos amaciando as roupas –explicou Raven, risonha. –E está oficialmente aprovado: elas ficaram um arraso, não é pessoal? –disse, orgulhosa de seu trabalho. Todas responderam com vivas e aplausos.

—É! Se gostaram dessas belezinhas aqui, esperem até ver nosso figurino verdadeiro! –comentou Claire.

—Mas se essas não são as roupas que vão usar a noite, então o que vocês vão usar? –quis saber Eddie.

—O nosso “figurino noturno” será uma surpresa, portanto não haverá revelações até a hora exata da festa! –sorriu Raven, deixando os rapazes decepcionados. –Vocês homens são muito apreçados, assim estraga toda a surpresa, se já estivermos usando roupas previsíveis!

—Pelo contrário –disse Ziggy, aproximando-se com um esfregão e o carrinho de limpeza do zelador Gordy. –Pelo menos assim, nós já saberíamos o elogio certo para dizer sobre as suas roupas até a hora da festa. Alguma coisa que não as ofendesse ou magoasse profundamente seus super egos, Ai! 

Dillon bateu o esfregão molhado contra o rosto de Ziggy, para impedir que ele continuasse falando besteira.

—Calma aí Romeu –brincou Dillon, para o amigo, agora ensopado. –Elas são garotas. Se você pretendia não ofendê-las com esse discurso, então começou muito mal, cara! –falou apoiando o corpo contra a parede mais próxima, no seu maior estilo bad boy.

—Cara! Eu acho que nunca vou entender as mulheres... –resmungou Ziggy, secando o rosto, ao mesmo tempo que as meninas retiravam-se desfilando de cara amarrada para os garotos, até sumirem de vista. Summer, foi a única que pareceu não se zangar, lançou um aceno de mão para Dillon, que retribuiu o gesto.

—Como você consegue? –choramingou Ziggy, indignado com a sorte do amigo.

—Eu sei lá, acho que tem haver com algo entre auto-confiança e estilo. –disse Dillon pensativo. –Ou, a explicação mais viável: As meninas são loucas.

E assim retirou-se com estilo, seguido por Ziggy, que tentava aprender mais algum truque com o rapaz que parecia arrasar corações, mesmo não dando à mínima para o sexo feminino em geral. Mas é claro que ele gostava de Summer –ela fora à única a conseguir fazê-lo amolecer um pouco, coisa que ainda estava tentando se acostumar.

Quando todos já se dispensavam pelo salão, Ferris chegou com uma porção de papeis, reunindo todos os meninos novamente.

—O que é tudo isso? –perguntou Daniel San. –Diga que não são mais pedidos de músicas para a festa... Eu e o Chris já temos discos suficientes para fazer balançar nove formaturas iguais a nossa!

—Não são pedidos de música –afirmou Ferris. –São planos de funcionamento do baile. Estimativas de convidados, todos os eventos que ocorrerão no palco para entreter os convidados, anotados em ordem de apresentação, a hora em que os canudos deverão ser entregues, regras a serem seguidas...

Regras? Desde quando você segue as regras? –espantou-se Tony, o namorado de Claire, que estava logo atrás do grupo dos meninos.

—Desde que isso envolva entretenimento completo e diversão!—disse Ferris, com a maior calma do mundo. Em seguida deixou o corpo ereto, podendo ter uma visão geral do salão e dos seus ajudantes, amontoados, em volta das papeladas. Ele arqueou as sobrancelhas, de modo divertido, pretensioso e zombeiro. –Preparem-se rapazes! A festa de hoje vai ficar para a história...

*    *    *

Logo o fim de tarde chegou. O sol foi sumindo aos poucos no horizonte, ao mesmo tempo em que uma garota batia na porta da casa nº 18, no centro da rua Bannerman.

—Está aberta! –gritou em retorno a voz amigável de Luisa.

A porta da casa se abriu e Melissa adentrou na sala de estar da amiga.

—Saca só o estilo! –falou, desfilando pela sala com seu vestido vermelho-sangue comprido, com alças feitas de cetim, entrelaçado nas costas e com brilho.

—Você está fabulosa! –encantou-se Luisa, observando a amiga que piscou os olhos muito pintados, com certa intensidade. –Incrível...

—Essa velharia? –retorquiu Melissa indiferente. –Comprei hoje de manhã...

—Puxa! Que velharia... –murmurou Luisa revirando os olhos, bem humorada.

—O seu vestido também é muito bonito! –elogiou Melissa, à amiga. Luisa também usava um vestido vermelho (na verdade aquela era a cor padrão para as damas no baile), mas a tonalidade era um pouco mais escuro, todo feito de renda, e brilho. Continha um adorno em formato de rosa na altura da cintura. Então, Melissa continuou: –Hoje a noite promete com certeza!

—E como –murmurou Luisa, distraidamente.

—O que foi? Parece estar preocupada com alguma coisa... –sugeriu Melissa, que conhecia a amiga bem o bastante para deixar aquele pequeno suspiro passar despercebido. –Quê que há?

—Nada. –afirmou sem hesitar.

—Ah, ta bom! Finjo que acredito—retrucou a amiga impaciente, com as mãos na cintura. –Desembucha!

Luisa ergueu os olhos, vencida. Não poderia esconder aquilo de Melissa por muito mais tempo. Talvez fosse melhor abrir logo o jogo e acabar logo com aquela tensão, afinal, se as suas suspeitas se comprovassem, aquilo seria sim, do interesse da amiga.

—Vamos subir. –Luisa apontou para a escada. –Tenho uma coisa pra te mostrar.

Elas subiram a escada e, ao chegarem no quarto de Luisa, esta entregou-lhe o recorte de jornal com a manchete estonteante sobre a formatura e o desastre que seria aquela noite. Melissa tomou o recorte nas mãos e examinou-o atentamente. Enquanto os olhos da loira percorriam a folha, o coração de Luisa ficava cada segundo mais ansioso. Ela assumiu uma posição tensa e focada, esperando a amiga dar, a qualquer momento, um veredicto. Esperava pacientemente por qualquer reação possível vinda de Melissa, mas a única coisa que esta comentou, ainda por cima meio indiferente, foi:

—Gente! Os casacos de inverno estão mais caros esse ano...

Não é essa manchete!—bufou Luisa indignada. –É essa a manchete.

Colégio Michael Richard Kyle é pego de surpresa por seres Extraterrenos ás 23 e 45 da noite. Festa de Formatura é cancelada antes do início da madrugada?—indagou ela, inconformada. –Só pode ser brincadeira!

—É exatamente o que pensei –começou Luisa, andando em círculos no quarto. –Mas depois, cheguei a considerar a hipótese disso ser um tipo de alerta previamente estipulado para nos orientar de algum mau que poderá vir a nos acontecer essa noite...

—Como assim? –interrompeu Melissa, confusa, sentando-se na cama. –Onde foi que você achou isso?

—Foi hoje de manhã –ela sentou-se ao lado da amiga na cama, para poder explicar como tudo aconteceu, em detalhes. –Hoje cedo, antes mesmo de ir até o salão da formatura para ajudar nos preparativos, eu encontrei esse recorte no meu jardim. Quero dizer, ele não apareceu assim do nada, se é o que pensa. Eu vi um homem. Ele era meio estranho, sabe? Por um longo intervalo de tempo ficou me encarando da rua, mas logo depois, sumiu sem deixar vestígio algum. Quando dei por mim, percebi que estava atrasada e precisava sair. Foi nesse momento, quando cruzei o jardim rumo ao portão, que me deparei com esse recorte de jornal. O fato é que tenho quase certeza de ter visto aquele homem lendo um jornal e depois guardando-o no bolso. Acho que ele deve ter deixado esse recorte cair quando guardou algumas páginas no bolso. –ela fez uma pausa sugestiva. –ou talvez... Eu não sei quanto a você, mas até chego a pensar que ele possa tê-lo deixado-o cair, de propósito.

—Quer dizer... Como um tipo de aviso?—sugeriu Melissa, tentando levar a idéia em consideração, por mais que seus instintos negassem profundamente essa possibilidade. –Mas se for mesmo um aviso, então porque o homem não veio dá-lo pessoalmente?

—Não tinha pensado nisso –admitiu Luisa, voltando a andar pelo quarto. –Talvez não pudesse dá-lo pessoalmente. Talvez essa fosse a única maneira de fazê-lo, garantindo também a sua segurança...

—De um jeito ou de outro, isso está aqui agora. –disse Melissa contornando a situação. -Você acha que isso chegou até as suas mãos por algum motivo específico?

—E por que não? –abordo-a Luisa. –Afinal, não fomos nós duas que viajamos para o passado há quase três anos atrás? E se isso tiver alguma ligação com...

Ah, não!—reclamou Melissa levantando-se de um sobressalto, entregando à Luisa a notícia do jornal. –Aquele desmiolado não! Nem ouse falar nele...

—Mais que besteira... Que é que tem de mais em falar nisso?

Ele é um doido! Um inconsequente! —brandiu ela. -Qualquer gracejo à toa e ele pode acabar voltando!

Luisa sorriu incrédula. Tinha se esquecido de como era divertido ver a reação de Melissa sobre aquele assunto. Sem terminar de demonstrar a alegria em vê-la novamente abordar o tema, continuou o raciocínio, agora mais focada que nunca:

—Não podemos ficar paradas! Temos que agir de alguma forma –disse Luisa, admirando-se com a sua própria atitude. -Você sabe que, do mesmo modo que isso pode não passar de um simples engano, também pode ser real e, se por acaso for verdade, muitas pessoas podem acabar saindo machucadas! Precisamos de um plano... Um bom plano.

—Você quer dizer... –disse ela receosa. –Bancar as vigias a noite toda e tudo mais?

—Ótima idéia! Desse modo, ninguém poderia se infiltrar na festa... –disse ela animada. –Qualquer um que desejasse entrar, teria que passar pela segurança primeiro... Ou seja: Nós duas!

Não Lu!—interrompeu Melissa, cortando o raciocínio da amiga. –Eu sinto muito, mas não posso fazer parte disso. Você não pode fazer parte disso! Hoje é a nossa formatura. É a nossa grande noite e você está colocando uma coisa, da qual você nem tem certeza, na frente das nossas prioridades...

Luisa ficou pensativa. De repente todo o seu entusiasmo fora embora. Afinal, o que estivera pensando? Como pudera colocar aquilo acima da sua grande noite? Estaria ela ficando paranóica com aquilo tudo? Por fim, sem mais interrogações ou criticas internas pessoais, Luisa apanhou a bolsinha rosa e seu casaco e vestiu-o por cima do vestido, ao mesmo tempo que Melissa perguntou:

—O que você vai fazer?

—Eu e você vamos ter que ficar atentas essa noite. –afirmou. –Vamos nos divertir a beça, mas na hora predestinada, aconteça o que acontecer, estaremos preparadas.

*    *    *

As ruas estavam quase desertas, Luisa e Melissa já iam começar a seguir a pé pelo trajeto quando um carro vermelho parou ao lado de sua casa. Era uma Ferrari originalmente fabricada, pertencente a ninguém menos que o pai de Cameron. O que aquele carro fazia nas ruas? Duas palavras: Ferris Bueller.

Ferris sempre tentava convencer Cameron a tirar um dos carros da coleção do pai, de dentro da garagem. Sempre vinha com argumentos do tipo “Ele não é legal o bastante para ser dono dessas belezinhas todas” e “Se eu fosse seu pai, compraria um Carro desses para você Cameron, mas já que não sou, nem possuo a seu dinheiro, então acho que teremos que nos contentar em pegá-los emprestados”.

“Mais nem pensar!”, Cameron sempre dizia, mas ninguém podia com os poderes de persuasão do amigo. Ele sempre conseguia o que queria. Era sem dúvida inteligente e também um rapaz de muita sorte.

—Olá garotas, vocês por aqui?

—Cameron, Ferris? –sorriu Luisa. –Não deviam estar na formatura?

—Não. A festa ainda não começou, e já que está mesmo tudo pronto, eu preferi deixar a decoração de lado e curtir um pouco o que me resta da liberdade, antes de recebermos os certificados de formandos e eu ter que começar a pensar em coisas chatas, como por exemplo, no meu futuro. –brincou Ferris. –E vocês?

—Estamos indo para a escola. Quero ver como ficou a decoração final... –disse Melissa.

—Ei! Tem alguma coisa diferente em você? O que você fez, pintou o cabelo? –perguntou Ferris, tentando adivinhar o que era.

—Não. Eu clareei os dentes. Vê? –sorriu Melissa, mostrando o trabalho feito.

—Ah! Olha só. Ficaram mesmo uma beleza... –concordaram os dois, então Ferris prosseguiu. –Ah... Escutem aqui, Cameron e eu já estávamos voltando para a festa, vocês por acaso querem uma carona?

—Seria ótimo! –disseram as duas em uníssono. A mãe de Luisa e a de Melissa estavam acabando de se arrumar e não poderiam levá-las à festa naquele momento, então os meninos estariam fazendo um favor em levá-las de carro.

Chegaram ao baile de formatura antes das sete horas e, aparentemente as voltas que Ferris e Cameron deram com o carro resultou em uma grande diferença, sobre a quantidade de pessoas. Se antes o salão estivera quase vazio, agora estava quase lotado. O volume de pessoas, convidados, formandos e atrações especiais, como bandas contratadas e etc, aumentara muito desde a ultima vez que Luisa pisara na pista de dança mais cedo, com as outras meninas. Se tivesse que se apresentar agora, como fizera anteriormente, seria quase impossível arranjar espaço no centro da pista de dança. Os garotos estavam todos de Smoking preto e as meninas todas estavam usando várias tonalidades de vermelho. Pouco tempo após terem chegado, Luisa e Melissa depararam-se com o restante das amigas e, após abraçá-las todas, viram a um canto, esperando-lhe com buquês nas mãos, as mães das duas garotas, com sorrisos de orelha a orelha. As meninas correram para abraçá-las. O pai de Melissa chamava-se Frederick Alcântara e também estava presente. Ele era alto, com a silhueta só um pouco mais baixa que a da mulher, tinha cabelos loiros, olhos cor de mel, que se sobressaíam atrás dos óculos, usava também uma camisa com figuras de aviões por todos os lados. O pai de Melissa adorava aviões, seu sonho era ser aviador, mas ele abandonara o posto há muito tempo –hoje em dia, era segurança de aeroporto. É, não havia dúvida de que, ele gostava de ter a “cabeça nas nuvens”. Nik, o cãozinho de Melissa também estava lá, preso pela coleira que era segura pelo pai da menina. O cão tinha acabado de voltar do pet-shop e tinha no pescoço um laço azul celeste feito de um tecido brilhante e muito bonito. Basicamente, aquilo significava que a família toda estava reunida e aquela sensação de união era muito boa. Estava tudo perfeito, menos por uma notícia que não tardou a chegar aos ouvidos de Luisa, sobre sua prima, Maria Jackson. Esta não iria poder comparecer na formatura por motivos desconhecidos. Aparentemente, ela e seus amigos mais próximos tiveram que resolver uma coisa quando estavam a caminho da festa e os planos mudaram um pouco. Apesar de tudo, a noite estava sendo ótima.

—Noite agradável, não acha Sally? –saudou o senhor Alcântara, à mãe de Luisa.

—Com certeza. –dizia a mulher animada. Ela parecia estar tão entusiasmada quanto as meninas.

—Vamos dar uma olhada por aí –anunciou Naya, chamando o marido e a mãe de Luisa para acompanhá-la a uma agradável voltinha pelo salão. –Podem ir se juntar com seus amigos por enquanto, porque quando entregarem os diplomas, nós três vamos nos pendurar nos pescoços das duas moças de tanto orgulho, então, curtam a liberdade enquanto podem! –brincou a mãe de Melissa dando as costas ás garotas, juntos dos outros adultos. Luisa e Melissa se entreolharam, divertidas.

—Okay, então. Eu vou me encontrar com o pessoal... –disse Melissa, saindo sem mais nem menos.

—Ei! Pra que tanta presa? –impediu-a Luisa, estranhando a reação da amiga.

—É que eu combinei de encontrar com uma pessoa –então, corando levemente, disse: -Daniel San.

—Você o quê? –empolgou-se Luisa, espantada e ao mesmo tempo feliz pela amiga. –Por que você não disse nada?

—Por que isso me ocorreu hoje mesmo –explicou Melissa. –Quando voltei do dentista, resolvi dar uma passada aqui antes de ir a sua casa no fim da tarde, afinal, eu também fiquei de ajudar na arrumação da festa. –ele tentou esconder um sorriso, baixando os olhos. –Foi tão de repente... Ele me convidou assim do nada, e eu não consegui negar... –Melissa parecia feliz, mas alguma coisa a impedia de seguir com seu plano de encontro.

—Vá logo! –insistiu Luisa. –Não precisa ficar mal por mim. Eu ficarei sozinha aqui, mas não quer dizer que não conseguirei me divertir... Agora vá!

Melissa sorriu para a amiga, como num agradecimento por esta não ter ficado chateada nem nada, e caminhou na direção reversa à dela. Mas antes de realmente tomar distancia, virou-se novamente para Luisa e murmurou um “A gente se esbarra por aí”, da qual a outra assentiu positivamente com a cabeça.

*    *    *

“Festa estranha com gente esquisita...” —cantarolava Luisa calmamente, depois de algum tempo. Já havia tido shows variados, a banda de Julie, Violetta, entre outras já haviam se apresentado, agora estavam todos curtindo a festa. Começavam agora as atrações pagas, ou seja, aquele tipo de atração que não é patrocinado pela escola ou feito pelos alunos.  Começavam as brincadeiras, os comes e bebes não paravam de chegar e a pista de dança estava sendo evacuada pelos passantes e utilizadas pelos casais apaixonados ou pares dançarinos. Luisa havia feito muitas coisas até então, curtira, cantara com as amigas, comera, bebera, brincara, comemorara, mas agora, na hora da dança, só os casais apaixonados ou os “pés de valsas” que tomariam conta da pista. Essa seria a única coisa do programa que ela não faria aquela noite. Afinal, não tinha um par, nem ao menos sabia dançar aquelas músicas lentas. Não poderia negar que ficou morrendo de vontade, mas as circunstâncias não a ajudavam. Se ao menos seu pai estivesse ali, ela poderia dançar com ele... Afinal, não era feio ver um pai dançando com sua filha; Luisa achava mais desconcertante ir a uma festa e ficar num canto sem dançar, o que parecia ser sua única opção momentânea. Lembrou-se de ter visto Melissa cruzar a pista de dança com Daniel San uma ou duas vezes, e de contemplar Ned conversando com Moze a um canto próximo dali, pouco depois os dois estavam dançando, logo estavam se beijando... Luisa levantou-se para ir apanhar um copo d’água. Todos aqueles rodopios e arrasta pés estavam deixando-a enjoada. Mas foi com espanto que deslumbrou algumas pessoas passando com picolés nas mãos, por dentro do salão. Luisa piscou inconformada: Quem encomendaria picolés para uma formatura? Nem era verão para estarem com tanto calor assim! Depois de hesitar incontáveis vezes, tentou procurar com os olhos algum rosto conhecido naquela fila de picolés. Viu Raven e Chelsea e correu para interrogá-las.

—Meninas, o que é esse sorvete todo?

—Ah, isso? Presente do Conselho de Pais e Mestres, não é legal? –comemorou Raven, quase nem tirando os olhos do sorvete ao falar. Ao terminar de dizê-lo, ela e a amiga, que pareciam incrivelmente hipnotizadas pelo cheiro e sabor do sorvete, seguiram em frente, deixando Luisa para trás. Luisa achou aquela reação muito estranha, até mesmo para as duas, e especialmente para Chelsea que era vegetariana. Ela não costumava agir dessa maneira quando não se tratava de comida saudável. O que estaria acontecendo ali? Luisa adentrou num corredor lateral, saindo do salão principal da festa, seguindo para uma mesa com água e refrigerantes –a única mesa que não estava sendo rodeada por centenas de pessoas. Luisa apanhou sua água e tomou-a. Enquanto o fazia, deixou-se distrair por um relógio na parede oposta, pendurado bem no alto: marcava onze e meia...

Onze e meia! —guinchou era, engasgando-se sozinha com a água. –São onze e meia. Isso quer dizer que faltam menos de meia hora para que o “sei lá o quê” aconteça! O problema que comprometerá o fechamento da festa... Ah! E eles ainda nem entregaram os canudos... Mas que droga!—Luisa atirou o copinho plástico no lixo e correu desembestada para dentro do salão, tentando localizar algo suspeito. De início, não viu nada, tudo parecia normal. E então o tempo passou, passou e passou. Ela só conseguia ver os segundos passarem no relógio da parede e nada, nem ninguém aparecer. Talvez aquilo fosse uma coisa boa, talvez significasse que o problema nunca existira ou que ela estava ficando louca e paranóica, o que naturalmente não seria nada bom, mas de qualquer jeito, impedir uma catástrofe de acontecer, já parecia ser um bom começo. Luisa sentiu o corpo estremecer quando o relógio anunciou faltar apenas um minuto para as vinte e três e quarenta e cinco da noite. Alguma coisa estava para acontecer, ela podia sentir, alguém estava para chegar... Mas quem ou pior, o quê seria? Olhou acima do horizonte: próximo dali estavam Melissa e Daniel San. Será que ela devia interromper a conversa dos dois e avisá-la sobre seus estranhos pressentimentos? Bem, é claro que aquilo parecia uma péssima idéia, então ela passou para uma nova investida: Luisa fechou os olhos, tentando ignorar o passar do tempo. Após abri-los de novo, percebeu que a pista de dança estava novamente lotada. A valsa já havia terminado há bastante tempo e agora o pessoal já se posicionava no centro do salão de festas, dançando ao som de *Blecaute –Jota Quest / Anitta. Enquanto isso, Luisa piscava confusa perto do amontoado de gente. Algo definitivamente estava errado.

—Calma Luisa. Cabeça fria, hein? Cabeça fria! -disse a si mesma. De repente, ouviu uma voz bastante próxima dela:

—Com licença, você gostaria de dançar?

—O quê? –Luisa não fazia idéia de onde vinha à voz. Também nem poderia procurá-la, já que as pessoas “brotavam”de todos os lados. Era difícil de se locomover, e isso porque ela não estava na pista de dança.

—Eu perguntei se você quer dançar...

—Eu? Ah... Não, acho que não. Não estou numa boa hora e, ei! Quem é você?

—Alguém que quer muito presenteá-la com essa dança.

—Eu... Ah, tá legal. –cedeu.

Fantástico!

—Espere aí... –começou Luisa, desconfiada. –Eu conheço esse “Fantástico”...

—Ah. Que pena, estragou a surpresa –disse o Doutor, segurando a mão da menina por trás, de modo que a girou, fazendo-a dar de cara com ele.

—Ah! –gaguejou ela, espalmando a mão livre contra os lábios. –Por Deus, é você!

—Sim, sou eu. Esperava quem, Papai Noel? –retorquiu ele, irônico. –Vai ficar parada aí o dia todo? Se me recordo bem, eu te chamei pra uma dança...

—É... Você!—guinchou ela estupefata.

—Sim. –sorriu ele, mostrando as roupas. –Sou eu mesmo, vê? Nenhuma palha fora do lugar! Ainda o mesmo homem... Agora vê se não vai desmaiar! Eu sei que eu sou irresistível, mas também não é pra tanto...

—Doutor! –sorriu ela, inconformada, agarrando seus braços com força para ter certeza de que ele estava mesmo ali. –Onde você...? Como você...?

Foi nesse exato instante que ouviu-se um estrondo interno na escola, que certamente ninguém mais ouviu por conta da música alta.

—Ah! Agora estão tocando a minha música...—sorriu ele, mal podendo se conter.

—É encrenca? –indagou ela, animada.

—É sim. E das grandes! –anunciou ele, os olhos brilhando de excitação. –Vamos conferir de perto!

E seguiu arrastando a menina por entre as pessoas, no mesmo instante em que ela hesitou e freio os pés, o que pouco lhe adiantou.

—Você não disse que íamos dançar?

—Eu disse. E é o que nós vamos fazer. –anunciou. –Mais é uma dança um tanto diferente, tem ritmo, muitas vezes paços improvisados e você ainda exercitam as pernas: Chama-se correr. Corra!

Então, agora ao som de *Gangnam Stily –Psy, na pista de dança, saíram mesmo correndo dentre as pessoas, quase atropelando-as, de modo que Luisa não pôde deixar de gritar uma ou duas vezes. No caminho, pouco distante dali, a garota avistou Melissa e, no exato momento em que passaram por ela, Luisa arrastou-a consigo, de modo que ela acompanhasse os dois naquela confusão de braços, pernas e corpos dançando. A confusão definitivamente estava formada. Luisa arriscou olhar para trás, vislumbrou Melissa às suas costas, aos protestos e tropeços, tentando se desvencilhar do braço da amiga que a puxava por entre a multidão. Ela particularmente não estava gostando de ser arrastada danceteria à dentro. Luisa partilhava do mesmo sentimento... Ia procurar dizer alguma coisa à amiga, mas sua voz foi calada por uma visão que aterrorizou deveras seu intimo. Naquele exato instante, manifestava-se na outra extremidade do salão de festas, uma criatura, não apenas alta, mas também corpulenta: medindo aproximadamente dois metros de altura, pesando muito mais de sento e vinte quilos, portando três garras compridas e brancas nas grandes mãozorras verdes, era possível ver sua barriga enorme e seu corpo verde todo nu destacar-se facilmente acima das pessoas, além de um pescoço comprido e uma cabeça grade, com bochechas estufadas e olhos negros e redondos que piscavam verticalmente, de um modo ameaçador, em direção aos convidados. Luisa não hesitou em apertar o passo, sabia que tinham que sair dali o mais rápido possível...


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Notas finais do capítulo

Eeeeeeeeeeh! O desejo dela se REALIZOU!

Quem aí pirou quando o Doutor apareceu? Eu pirei! kkkkkkk Sim. É inevitável!

Mas tava meio na cara que isso ia acontecer cedo ou tarde, ou então o tema central da história não poderia ser "Doctor Who".

Formatura animadíssima essa, né? Eu queria que a minha tivesse sido assim... -contando até com a participação dos alienígenas invasores kkkkk :D -do Doutor nem se fala.

Sim. A Turma da Luisa se formou com 2 anos de ensino médio, e não três. Pois é, isso foi uma mudança que eu estipulei, afinal esse é um colégio diferente (que tem muitas atividades para os alunos experimentarem) e com isso, achei que seria muito mais fácil para eles descobrirem suas aptidões, então tirei um ano da grade escolar. Não se assustem não, gente, foi proposital.

E aí? Algum palpite ou teoria sobre o homem misterioso do Jornal? Quem será ele? E o homem misterioso do sonho da Luisa? Sim, sim... Muitos mistérios se formando...

Espero que tenham gostado!

Beijos e até semana que vem!

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