Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 14
A política do Uniforme


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Hoje continuamos a história com uma nova leva de personagens e situações. Espero que gostem!

“Faz uma semana desde a aventura na Itália, e Luisa não teve mais noticias do Doutor. Porém, a vida continua e ela tem deveres a cumprir: suas aulas no colégio novo estão prestes a começar”.



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Diário de Luisa Parkinson

“Ontem à noite eu tive um sonho. Um aviso, para ser exata: Este tratava-se de um livro; Isso mesmo! No sonho eu estava em meu quarto e andava até minha estante de livros; sei que não parece haver nada de mais nisso, mas eu o fazia como se soubesse que haveria algo importante lá. Caminhei decidida e puxei um determinado livro da prateleira... Um de capa dura, azul e com seu título em dourado:

“As crônicas de um Senhor do Tempo”

Sei que a cada minuto essa história parece estar se tornando cada vez mais estranha... Mas é sério: Tinha que ser justo esse livro? Com tantos outros títulos famosos...  Por que tinha que ser justo esse? Justo o que me deu mais dor de cabeça, o que me trouxe mais desapontamento em todos esses anos! Bem, você deve estar se perguntando porque me sinto assim sobre esse livro... Bem, pode-se dizer que todo sentimento tem um bom motivo para se manifestar. Às vezes você não sabe qual é, mas que ele existe, existe! Bem, a minha chateação tem dois motivos: O primeiro se chama Doutor—aquele meu amigo que partiu sem nem se despedir e que conseguiu me magoar de verdade –sobretudo naquela noite. O segundo motivo é, obviamente, o próprio livro. Vamos nos recordar: Eu ganhei-o quando nasci. Minha mãe não disse quem foi que me deu. Ela disse apenas que eu deveria guardá-lo muito bem. Desde que cresci e desenvolvi um certo interesse pela leitura, tento lê-lo, mas não posso... Por que? Simplesmente porque não há nada escrito nele. Exatamente! Me deram um livro vazio. No começo, eu pensei que fosse algum tipo de diário, apesar do título da capa. Tentei escrever nele de todas as maneiras possíveis: usei canetas, lápis, giz de cera; tentei fazer desenhos nele, rabiscá-lo, pintá-lo, mas nada o penetrava! Quero dizer, nada conseguia escrever nele, então foi que pensei: “E se o escritor tivesse usado tinta invisível? Está na moda fazer esse tipo de coisa mesmo...” Tentei passar uma vela por baixo das folhas, fazendo um pequeno teste: Só consegui quase queimar a mim mesma. Eu era pequena, tinha seis anos, mais se você quer mesmo saber, caro diário, apesar de todo o meu esforço, não funcionou. O fogo que deveria ter consumido aquelas páginas por puro acidente, nem ao menos tocou sua superfície. Não atravessava as páginas, mas também não as queimava, ficava por baixo dessas, como se estivesse se protegendo. No fim, eu acabei desistindo. Eu até cheguei a comentar com o Doutor sobre esse livro. Era estranho, pois parecia que o “Senhor do Tempo” –título do meu misterioso livro –também era o nome da espécie Alienígena do meu melhor amigo. Meu e de Melissa –minha melhor amiga humana. Tudo pareceu muito confuso quando eu me vi no sonho segurando o livro, abrindo-o e virando as páginas repletas de... Palavras!? Sim, sim! Eram palavras verdadeiras...

Acordei já faz um tempo... Estou fazendo hora enquanto escrevo. Sei que não poderei ficar evitando o que vi em meu sonho por muito tempo –uma hora eu terei de ir até a estante de livros e conferir aquele livro bizarro com meus próprios olhos. Mas não acho... Ou melhor, não estou muito certa disso; Talvez tenha sido mesmo somente um sonho bobo. Tenho a nítida sensação de se só irei descobrir quando finalmente resolver verificar... Bem, acho que a hora chegou.

*   *   *

Luisa pôs-se de pé. Fechou o diário e guardou-o embaixo de algumas almofadas na cama. Já se completava uma semana inteira desde a partida do Doutor. Restava-lhe apenas as lembranças daquele maravilho dia na Itália, e os minutos daquela tarde de domingo, que encerraria de vez as férias das meninas. Daqui algumas horas, Luisa iria junto de Melissa para uma escola. Elas iriam estudar no “Colégio Michael Richard Kyle”, onde apenas ensinavam a garotada do Ensino Médio. Lá haveria Atividades Extracurriculares, na qual você poderia testar vários campos de assuntos de seu interesse. Isso seria, de acordo com os informantes da escola, “um empurrãozinho” para os alunos irem se interessando por alguma área em especial, que escolheriam estudar futuramente. As atividades –muitas focadas nas artes, teatro, danças e etc –eram estimulantemente interessantes. Parecia o lugar certo para uma garota como Luisa, porém, algo ainda a preocupava, e não era o seu primeiro dia. Isso deixou de ser um problema quando ela descobriu que Melissa iria estudar na mesma escola que ela. Seus problemas pareceram se ausentar quando esse problema se reduziu a nada, mas a partida do amigo, pode-se admitir que a desmotivou um pouquinho, afinal, ele era muito importante para ela. Luisa vinha tentando acostumar-se com essa idéia a semana toda, pois aquele dia na Itália –na mesma noite em que ela e Melissa conheceram o amigo –tornava-se cada vez mais distante. Agora lá estava ela, tocando a vida, como se nada daquilo houvesse acontecido... Bem, mais ou menos. Ela ainda ia todas as noites na janela do quarto e ficava olhando para as estrelas, imaginando o amigo viajando pelo tempo e espaço. Algumas vezes ela chegou a alegar ter ouvido o barulho da TARDIS no calar da noite, mas é claro que Melissa não acreditou naquilo, afinal, a garota estivera tão paranóica com essa história de rever o amigo, que poderia facilmente estar ouvindo coisas. Entretanto, é claro que esse esquema todo de “ficar acordada olhando para o céu até altas horas da madrugada” teria seu fim muito antes de virar um costume: Seu período de estudo era matutino, e em breve não seria mais possível para ela continuar a ficar na janela. 

Esse seria oficialmente seu ultimo dia na janela, sua ultima chance de localizar o gemido rouco que era o da TARDIS, a máquina do tempo/ nave espacial do Doutor. Seu ultimo apelo desesperado por encontrar o rapaz das estrelas... Bem, ainda era cedo de mais para pensar na noite.

Ela andou um pouco pelo quarto... Parou na janela. Afastou a cortina e contemplou a rua: Tudo muito calmo; É, sem dúvida havia retomado sua vida monótona.

Luisa olhou para baixo. Viu do primeiro andar o seu jardim na entrada da casa, banhado pelo sol. Quando ela voltou-se novamente para o quarto, viu do outro lado deste a tal estante de livros.  Respirou fundo. Deu passos firmes e seguros ao encontro do móvel –como no sonho. Passou os dedos pelas lombadas dos livros até encontrar o livro azul sem conteúdo. E lá estava ele, limpo e intacto como sempre... Ou será que não?

Ela o fitou por uma questão de segundos: tateou-o, girou-o nas mãos com cuidado, examinou o título: nenhuma micro poeira, nenhum amassado, nenhum desgaste na tinta... Estava simplesmente impecável!

Por fim, ela abriu a primeira página... Caramba! E não é que tinha mesmo palavras escritas nele? Luisa apertou os olhos, a caligrafia não era estranha... Ela não sabia quem escrevera, só sabia que definitivamente não fora ela.

—Impossível! –exclamou, sozinha no quarto.

Não, podia ser mesmo verdade! Ela chegou a se beliscar para poder conferir; Eram certamente palavras... Eram parágrafos, um texto inteiro... Não! Eram páginas inteiras escritas! A quantidade de páginas ainda era pouca, mas já eram alguma coisa. Mas como assim alguém conseguiu penetrar aquelas páginas? Luisa já tentara de tudo, mas nunca obtivera sucesso algum!

Ela tentou –mais motivada que nunca –escrever naquele livro, contudo, não conseguiu resultados. Novamente frustrada, apelou para apenas ler o que se encontrava escrito nas folhas: Não... Não era possível! Era nada mais nada menos que a única, a própria, a inconfundível Aventura de Luisa, Melissa e o amigo, Doutor, que ocorrera na semana passada!!!

Estava lá, tudo descrito tão claramente quanto o próprio dia. Mas como assim tudo aquilo veio parar lá? Agora Luisa se sentia mais confusa do que nunca... Lera algo sobre uma moça de cabelos loiros que era fissurada na Torre de Pisa –tratava-se, sem dúvida alguma, de Agustina, a recepcionista da pousada. Os nomes dos dois amigos estavam lá também, e o de Luisa. Ela fora descrita como uma menina meiga, curiosa, divertida e um tando determinada. É, não havia nenhuma discordância. Luisa era assim mesmo, mas como alguém poderia conhecê-la tão bem? Ela franziu a testa confusa; Como ela poderia estar ali? Quer dizer que ela era um mero personagem de uma história de um livro? Então a sua existência poderia ser considerada... Inválida?

Ao terminar a leitura inteira, seguiram-se varias páginas em branco. Pareciam esperar para serem preenchidas a qualquer momento... Certamente não seriam preenchidas por ela. Luisa leu o nome daquele capítulo em voz alta: “Os Reptilianos e a Torre de Pisa”.

Ela crispou os lábios. Quem mais poderia saber sobre os Reptilianos?

Curiosamente, não deu muita importância para isso. Ao invés disso, acabou por sorrir, lembrando-se daquela noite mágica em que viajara pelo tempo e espaço, entre amigos. De uma coisa ela tinha certeza: Tudo que ela vira e fizera, todas as confusões, todos os sorrisos e preocupações, tudo o que se lembrava... Era real. E principalmente, tudo aquilo que sentia pelo amigo; toda aquela guerra interna de sentimentos confusos... Toda dor que sentira na hora da partida, era sem dúvida, real.

Então foi aí que Luisa reparou que no rodapé da ultima página preenchida, havia alguns dizeres, escritos provavelmente pelo autor:

“As vezes queremos nos isolar do mundo,

queremos nos ver livres até mesmo dos entes queridos.

Mas há outras ocasiões que, para variar, é muito bom estar

acompanhado.”

*  *  *

O Dia seguinte chegou rápido. Eram 5:15 da manhã quando Melissa irrompeu no quarto da amiga, acordando-a para ir se arrumar.

Luisa sentou-se na cama... Ainda estava meio sonolenta, mas acabou acordando mais depressa do que esperava, ao ver uma coisa espantosa.

—Não fale nada! –avisou a outra. Melissa já estava vestida, mas parecia bastante contrariada com isso; Tinha os cabelos loiros trançados nas costas, estava maquiada de forma comportada, sua franjinha cobria a testa, quase caindo sobre os olhos. Não parecia nem um pouco satisfeita usando o uniforme do Michael R. Kyle. A blusa do uniforme era branca, com o nome da escola estampado. Era obrigatório usar uma gravata feminina de laço (os meninos tinham que usar uma também, só que a deles eram as gravatas formais). Ela usava uma saia de pregas que lhe chegava nos joelhos, meias colegial e um sapato preto tão lustrado que era possível ver seu reflexo refletido nele. –Ninguém merece esse uniforme ridículo...

—Nossa! O que aconteceu com você? –perguntou Luisa, entre aturdida e risonha.

—Minha mãe aconteceu –disse ela, desgostosa. –Ela pensa que eu tenho sete anos de idade! Já acordei mau-humorada, sabendo que teria de usar um uniforme padrão, ainda por cima tive que agüentar ela me enchendo o saco, querendo fazer uma trança no meu cabelo! –reclamou, apontando para o cabelo. –O pior é que ela conseguiu.

Luisa observou aquela cena.

—Você está fofa –disse, tentando fazê-la se sentir melhor.

Fofa? Eu estou ri-di-cu-la! Olhe só essa blusa! Meu pescoço está pinicando com essa gola em V! E veja essa gravata horrorosa!

—Veja pelo lado bom: Você faria o Doutor ter orgulho –brincou Luisa, referindo-se a gravata que lembrava uma gravata-borboleta. Brincadeira que acabou chateando ainda mais a amiga.

Eu estou pouco ligando para aquele desmiolado! Quero minhas roupas normais de volta! E quer saber: Também não vou com esse maldito uniforme para a escola!

—O quê? Mas não usar o uniforme é contra as regras... E só vai haver você lá sem as vestes corretas!

—Quer apostar que não? –arriscou Melissa, confiante. –E quem foi que te disse que eu respeito às regras?

—Todo mundo acha isso, inclusive minha mãe. –disse Luisa. –Ela acha você uma “boa menina”. Ela não vai gostar nada de saber desse seu lado rebelde... Afinal, não vai ser ela a nos levar para a escola? Tem certeza que quer mesmo arrumar encrenca com nossa motorista?

—Prefiro correr o risco –falou Melissa sem medo na voz, colocando um casaco de lã por cima da blusa escolar. –Por que? Ela por acaso vai me impedir?

—Sei lá. Minha mãe seria capaz de qualquer coisa. Eu já te contei sobre o chafariz no porta-malas do carro? Ela é bem capaz de fazer você enfiar essa roupa à força...

—Eu duvido muito –descordou Melissa. –Eu conheço a sua mãe... Ela não tem esse perfil psicótico autoritário.  

—E é aí que você se engana: quando eu tinha uns nove anos de idade, ela me obrigou a ir a um casamento usando uma sandália com salto. Para mim, que sempre estive acostumada com calçados rasteiros, aquilo foi um pesadelo! Sem dúvida, um dos piores dias da minha vida, ao começar pelo fato de eu não saber ficar em cima de um salto sem tropeçar ou cair. Você mesma sabe que não uso salto-alto por nada no mundo, e é por causa disso! Eu tenho trauma até hoje...

—Então é por isso que você só usa tênis?

—É sim.

—Você está mentindo –sorriu Melissa, desarrumando a franja. –Sua mãe é um amor de pessoa, nunca seria capaz de fazer uma coisa dessas.

—Você me pegou. –admitiu Luisa. –Imaginei que você não fosse acreditar mesmo... Mas não custava tentar –sorriu pelo canto dos lábios, amigavelmente. –Mas e então, você vai usar o uniforme?

—Está bem –cedeu Melissa com relutância.

—É assim que se fala! –disse Luisa satisfeita.

—Mas na primeira oportunidade eu visto minha calça jeans e uma regata bem larga... Depois transformo essa porcaria de uniforme em trapo para o Nik brincar. –seus olhos cintilaram de repente, com aquela hipótese. –Hum... Posso fazê-lo roer todo o uniforme até não sobrar nadinha! É uma idéia tentadora...

—Não Méli! –Luisa levantou-se da cama de um salto. –Você não pode fazer isso, pelo menos não no primeiro dia de aula!

—E que tal só a gravata? O Nik dá umas três ou quatro mordidas e dilacera o tecido todo... Anda, só a gravata... Por favor! –pediu Melissa suplicante.

—Melissa Rivera Alcântara! –bronqueou uma Luisa, determinada. –Nem pense nisso...

—Certo –desistiu Melissa cabisbaixa. –Você venceu... –ela andou até a porta do quarto e se retirou, mas no momento seguinte reapareceu com o rosto mais peralta do que nunca:

—E que tal lama no sapato? Sem roer, nem destroçar, apenas lama, hein? Que tal? –propôs ela esperançosa.

—Ah... Tudo bem. Acho que um pouco de lama não fará mal a ninguém. –admitiu Luisa, sem melhores argumentos. –Mas é lama nos sapatos, entendeu mocinha?

—Show! –comemorou Melissa triunfante. –Lama só nos sapatos... Até claro, que eu consiga sujar a saia durante o dia, ou a camiseta...

—Méli! –riu Luisa, sem poder se conter. –Você é impossível!

—Não, não querida. Eu sou improvável—corrigiu ela. –Bem, acho que é isso que o Doutor diria, não é?

—Pode crer –então ela se tocou que Melissa havia feito uma referencia ao Senhor do Tempo. Aquela seria a primeira, desde a noite da aventura na Itália. –Minha nossa, você se lembrou dele!

—E como esquecer daquele maluco? Ele surge por uma só noite e transforma tudo ao nosso redor! Aquele maldito...

—Não entendo porque toda essa raiva.

—Nós não nos dávamos muito bem, e você sabe disso –dialogou Melissa, enquanto desfazia a trança e soltava o cabelo. –Mas viver sem aquele Alien abilolado é difícil...

—Ele mudou nossas vidas, não foi? Tornou tudo mais intenso e diferente. Deu cor e rumo às nossas vidas... Agora ele se foi, e tudo de repente parece tão, sem graça –Luisa sentou-se na cama, um pouco deprimida.

—Não se preocupe Lu, tudo vai dar certo –afirmou Melissa, pondo a mão no ombro da amiga.

—Sei disso. –sorriu Luisa, já se sentindo melhor.

—E então? Já tomou café? Oh meu Deus! Nós vamos nos atrasar! –grunhiu Melissa correndo pelos corredores, os cabelos esvoaçando como os de uma ninfa. –Você não vem?

Luisa sorriu distraidamente. A simples menção do amigo pareceu reanimá-la um bocado. Ela sustentou a idéia de que, depois daquela noite na Itália, elas teriam um ótimo ano, cheio de coisas inusitadas, um tanto diferente e empolgantes. Então, com esse ultimo pensamento positivo em mente, a menina correu ao encontro da amiga, deixando o quarto para trás, junto de suas mágoas e incertezas.

Estava prontíssima para todo um ano de infinitas possibilidades!

*    *    *

Entraram no carro, colocaram os cintos de segurança, sintonizaram o rádio (na qual começou a tocar *Vou Deixar –Skank), a mãe de Luisa deu partida no carro e pronto: já estavam a caminho da escola nova.

Elas passaram o percurso todo cantando e balançando a cabeça no ritmo da música. Nem parecia que estavam indo para uma escola –no máximo estariam prestes a chegar em um shopping ou uma sorveteria.  

Sim, era mesmo para uma escola que elas estavam indo. A animação sempre fez parte da vida dessas garotas e, nem indo para a escola elas deixariam de curtir à beça. Logo, o carro da senhora Jackson parou em frente à calçada da escola. O nome Colégio Michael Richard Kyle destacava-se na fachada e, em letras suficientemente grandes, no topo do prédio de cinco andares.

—Bem, aqui estamos –anunciou a mulher.

—Certo. Obrigado Sally, pela carona. –agradeceu Melissa à mãe da amiga. “Sally” era o apelido pelo qual todos, inclusive o marido da senhora Jackson, passaram a chamá-la. Ela fazia questão de não ser chamada de “Danielly”. Ela simplesmente achava o nome muito formal e longo para se pronunciar, então preferiu mudar para um apelido simples e cativante, e bem, Sally pareceu adequar-se perfeitamente para ela.

—Não tem de quê. Eu venho buscar vocês na saída, okay?

—Obrigado de novo –Agradeceu Melissa animada (os sapatos estavam sujos de lama).

—Obrigada mãe, até mais tarde então! –falou Luisa. Sally fez-lhe um aceno de cabeça, desejou-lhes boa sorte e partiu, deixando-as sozinhas.

—Então é isso. Agora é só entrar e... Deixar rolar. –comentou Melissa, pondo a mochila nas costas.

Elas andaram na direção do portão de entrada, lembrando-se de tudo o que ouviram falar sobre aquela escola: E não era à toa que tinha cinco andares inteiros com salas de aula e salas para atividades extras. Na verdade, a escola tinha a política de uma sala para cada disciplina na qual os alunos é que teriam que migrar de uma espaço para a outro, de acordo com seu horário de aulas –e não os professores. Dispunham também de armários individuais para os alunos, salas de aula com lousas digitais, laboratório de informática, laboratório de Biologia/ Física/ Química, biblioteca, cantina espaçosa, piscina para aula de natação –opcional é claro, assim como as aulas de teatro, dança, música, pintura, coreografias e etc. Também havia outros cursos que dispunham apenas da aptidão do aluno para aquela área, por exemplo os grupos de estudo das matérias exatas que se reuniam e discutiam o que aprenderam após as aulas, e assim como esses grupos, também haviam os grêmios escolares, que propunham atividades bem legais para serem realizadas durante o ano na escola ou fora dela. Ser do grêmio estudantil era legal, pois você poderia propor passeios diversos que eram realizados uma vez por mês. E ainda havia os grupos de treinamento da Educação Física, com os atletas que representariam a escola no fim do ano nos campeonatos. Durante o ano, líderes de torcida eram selecionadas para agitar a platéia com suas coreografias e carisma. A quadra dispunha da mais nova tecnologia avançada em escolas: tinha um inovador sistema no teto coberto que, dependendo do clima, ensolarado ou nublado, poderia ser controlado. Por exemplo: Se estivesse muito quente e os professores achassem que os alunos viriam a se cansar demais fazendo aos exercícios embaixo do sol escaldante, então o teto era fechado com um só comando, unindo-se por ambas as duas extremidades até o meio, por um lacre que se formava. O mesmo seguia-se em dias de chuva; Agora, em dias suportáveis, em que o tempo estava perfeito, nem muito frio nem muito quente, o teto tinha o lacre rompido e descia até sumir em ambas as laterais da quadra.

E isso era só parte da estrutura que eles tinham. Havia também salas de teatro, cinema, estúdios profissionais de musica e dança, pista de dança no refeitório e um incrível salão para festas que era utilizado em formaturas, eventos e comemorações em geral. Eles ainda tinham uma gigante cama-elástica no pátio e uma super sala de jogos, todinha equipada com entretenimentos para dias de descontração. Era com certeza a escola dos sonhos de todo mundo, e as duas meninas iam poder freqüentá-la.

—Isso aqui é de mais! –sorriu Luisa radiante.

—Seria, se não fosse pelo fato de se tratar de uma escola... –interpôs Melissa.

E com toda essa motivação entraram pela primeira vez pelas portas do colégio Kyle, onde logo na entrada estava uma placa de:

Sejam bem vindos ao Colégio Michael R. Kyle,

MEUS AMORES!

                                                                  Votos da Diretoria Escolar

                                          Feitos pela própria Nova Diretora.

 

—Nossa. Isso é mesmo muito... –começou Melissa fazendo uma cara monótona.

—Deixe-me adivinhar... Tedioso?—chutou Luisa que, conhecendo a amiga como de fato conhecia, pensou que esta acharia aquela situação tediosa, ou algo do tipo.

—Eu ia dizer meigo. Odeio meiguice. Mas acho que “tedioso” é uma definição ainda melhor. Você está ficando boa nisso...

—E você está se tornando cada vez mais imprevisível! –queixou-se Luisa, sem entender como conseguira errar o palpite.

—O que é isso? –Melissa apontou para um bilhetinho colado logo em baixo do bilhete da diretoria. Era pequeno, estava um pouco amassado e seus dizeres estavam escritos em uma caligrafia quase ilegível:

Reunião de Pessoal.

Objetivo: protestar para Acabar com a política do uniforme.

Interessados, por favor, se dirijam à sala 12.

                                                                      P.S: Para o INFERNO,

                                                                       com essa nova regra!

 

—Fala sério! E não é que tem mesmo gente querendo acabar com os uniformes! –espantou-se Luisa.

—Pois é. –sorriu Melissa. –Alguém está recrutando gente para fazer um protesto –ela puxou o papel pela fita-adesiva e segurou-o nas mãos como se absorvesse um certo poder vindo daquelas palavras. Seus olhos faiscaram e, como se sentisse um impulso irresistível de se provar, Melissa voltou-se para a amiga e assegurou:

Eles já têm mais uma voluntária.

—O quê?

—Serão duas, se você concordar... –disse Melissa tentando convencê-la.

—Você acha mesmo que eu vou deixar você ir sozinha? Eu vou com você para evitar que a “senhorita” se anime demais... –afirmou ela decidida.

—É assim que se fala.

As duas seguiram até a dita cuja sala 12, com os dizeres “Sala do Zelador”, escritos no topo da porta. Fizeram um pouco de hora em frente à sala, mas como ninguém apareceu, resolveram ir embora. Quase que no mesmo instante em que decidiram partir, alguém saiu da sala. Era um homem –o zelador, melhor dizendo. Ele era alto, tinha cabelos castanhos, parecia ser jovem, usava um macacão azul, e nos pés, botas de borracha para facilitar na hora da faxina. Trazia consigo um carrinho com objetos de limpeza. O homem parou e contemplou-as por um segundo, como se soubesse o motivo delas estarem ali, então logo após murmurou: “Lindo dia não?” e se afastou falando consigo mesmo, “... De fato, um lindo dia para se caçar fuinhas encrenqueiras! Ah, mas hoje eu a pego! Hoje é o dia...”.

As duas meninas deram de ombro. Quase que seguido, inesperadamente saíram três adolescentes de dentro da mesma sala do zelador. Eram dois garotos e uma garota. A garota era alta, tinha os cabelos castanhos lisos, nos ombros, os olhos eram de uma moça determinada em conquistar o que quer, tinha uma aparência muito amigável, mas também um sorriso diferenciado, um tanto desafiante. Os garotos eram muito diferentes;  Um era negro e mais alto que a garota, tinha cara e jeito de intelectual, usava óculos de armação quadrada, e um suéter listrado por cima do uniforme. O outro era branco, tinha os olhos azuis intensos e era um tantinho mais baixo que a menina. Este segundo usava uma camisa xadrez por cima do uniforme, sua gravata estava desfeita e tinha nas mãos um caderno com capa com estampa de camuflagem, cheio de anotações, lembretes e bilhetes saindo pra fora das páginas; no centro da capa deste havia uma etiqueta que informava o título: Manual de Sobrevivência Escolar.

—Com licença, é aqui o lugar da reunião do protesto? –perguntou-lhes Luisa.

Os três se entreolharam, um sorrisinho no canto dos lábios se manifestando.

—É sim. –informou o garoto de camisa xadrez. –Estão interessadas?

—É óbvio! –confirmou Melissa. –Estamos loucas para nos livrar dessa porcaria! –apontou para o próprio uniforme.

—Vocês também? –arfou o mesmo garoto. –Vocês não são as únicas, tão pouco o oposto. Mas acho que com esse protesto acharemos um jeito de mostrar nossa opinião desgostosa sobre essa lei idiota. A propósito, eu sou Ned, Ned Bigby. Esta é Jennifer Mosely, cujo apelido é Moze, e este é Simon Nelson Cookie ou Cook, se preferirem...

—Ah, muito prazer! Eu sou Luisa e essa é minha amiga Melissa. –disse a menina. -Vocês três também querem protestar? –perguntou, interessada.

—Mais é claro! Nós e mais um monte de gente –assegurou Cook, o garoto dos óculos quadrados. –E quando digo “mais um monte de gente”, quero dizer várias pessoas distintas. Calouros, veteranos do segundo ano, com quem temos contato... Ao todo, é bastante gente, menos os terceiros anos. Acredite ou não, eles não são muito amigáveis. Acho que é tudo por causa daquele infeliz preconceito com os calouros. A maioria dos segundos e terceiros anos não se pronunciaram, mas sabemos que estão profundamente descontentes.

—Certo, e qual é o plano? –indagou Melissa animada com toda aquela situação. –Anda gente... Vamos logo bagunçar esse coreto!

—Não é tão simples –interveio Moze, desgostosa. –Primeiro vocês tem que falar com nosso líder.

—Vocês tem um líder?

—Sim. É ele que pensou em tudo. O passo a passo de todo o esquema foi idéia dele...

—E onde ele está?

—Isso é fácil. –Ned apontou para a sala do zelador. –É só entrar.

—Ele está aí dentro?

—Bem, não. Mas esse é o melhor atalho para chegar à sala de reunião escolhida.

E então as meninas entraram seguidas por Ned, Cook e Moze que ficou por ultimo para fechar a porta, olhando de um lado para o outro com um sorriso vitorioso no rosto:

Engula essa, diretoria!

Eles pararam, Luisa e Melissa quase tiveram os rostos transformados em grandes pontos de interrogação (se isso fosse possível, teria acontecido). Olharam ao redor, havia esfregões e vassouras, coisas bem comuns para se ter em uma sala de zelador, mas o que as realmente intrigou foi a presença de alguns outros objetos um tanto curiosos, como uma prancha de surf, uma gaiola de passarinho com as grades rompidas em um buraco, um pedaço de queijo fedorento em cima de um prato, papéis por todos os lados com rabiscos e esboços de idéias insinuando a captura de algum animal, um par de luvas de boxe, duas bonecas Barbie descabeladas, com roupas bem fajutas, um par de botas lunares e uma rede estendida com um travesseiro e um cobertor em cima desta, como uma cama. Ao fim da observada inspeção crítica das meninas, os outros três chamaram-lhe a atenção para o verdadeiro motivo de estarem ali –aparentemente ignorando aquele monte de tranqueiras, como se vissem aquele tipo de coisa todo dia. Ned passou-lhes à frente e tateou a parede oposta da sala como se procurasse algo. Suas mãos descansaram sob a tampa de uma passagem de ar, do tamanho exato para caber uma pessoa se essa engatinhasse no seu interior, então voltou-se para os demais:

—Aqui está, totalmente seguro e eficaz –anunciou ele alegremente.

—Um túnel de ar? –estranhou Melissa. –Por que não podemos atravessar uma porta como todo mundo?

Porque todo mundo está fazendo esse caminho. Acredite, é o único jeito de não ser visto pelas câmeras nos corredores. –explicou Ned.

—Nossa, meu primeiro dia e já estou infligindo um monte de regras, desrespeitando um monte de leis, escondendo-me das câmeras como uma fugitiva profissional, e agora entrarei em um túnel de ar... Mas que emocionante! –falou Luisa.

Eles atravessaram o túnel engatinhando. No meio do trajeto liderado por Ned, Cook, logo no fim da fila, abaixou uma pequena alavanca (quase imperceptível) ao lado da armação de seus óculos, que fez com que suas lentes se enchessem de números zero e um, como a tela de um computador. Ele digitou a frase “Protestantes à Caminho” na tela e enviou a mensagem para outro alguém. Tudo isso foi feito tão discretamente que ninguém percebeu que ele o fizera. Pouco depois, ao chegarem ao seu destino, ao final de uma das passagem do túnel de ar, a tampa deste foi retirada por alguém do outro lado. Por um momento, uma luz muito forte ofuscou-lhes os olhos, então eles saíram do túnel e deram de encontro com um outro rapaz que segurava uma lanterna, este murmurou:

—Qual é a senha?

—Hã... Protesto Honesto. –respondeu Ned.

—Protesto Honesto? Mas que tipo de senha é essa? –falou Melissa.

—Não é apenas uma senha, é o nome do nosso protesto –disse o rapaz da lanterna. Ele era negro e alto, tinha os cabelos um pouco trançados e parecia um tipo muito descolado. –Foi escolhido especialmente pelo líder. –explicou.

—E quem é esse líder afinal? –insistiu Luisa em saber.

—Trata-se de Michael Richard Kyle Junior, o próprio...

—Filho da diretora? –espantaram-se Luisa e Melissa, incrédulas. –Ele tramou tudo isso?

—Pois é, desde que ele chegou aqui e descobriu que a mãe seria a diretora e faria essas mudanças ridículas, resolveu bagunçar um pouco as coisas...

—E você quem é?

—Eu sou Eddie Thomas. Sou eu o encarregado de vigiar o duto de ar, e informar da chegada dos protestantes. Falando nisso, Ned, você trouxe aquele cachorro quente que eu pedi?

—Ah... O cachorro quente! Foi por isso que nós estávamos subindo pela passagem, agora me lembro. Nós estávamos indo comprar o seu lanche quando encontramos Luisa e Melissa.

—Ah cara! Assim eu vou acabar morrendo de fome... Eu não ganho rosquinhas o bastante para ficar de guarda o dia inteiro!

—Hã... Foi mal cara. –disse Ned, sem jeito.

—Ah, tudo bem... –bufou Eddie. –Vocês podem passar. Agora é só esperar o próximo que vier até aqui para me comprar o lanche! Espero que isso seja ainda hoje. –lamentou-se ele, ficando para trás naquela sala escura.

—Ned –chamou Luisa. –Onde exatamente nós estamos?

—De acordo com nossos informantes, esse era o antigo laboratório de biologia. Agora é apenas uma sala velha utilizada para guardar trabalhos escolares, provas antigas, projetos encostados, materiais em desuso e etc. Em outras palavras: tudo que vem pra cá, não serve mais para nada, por isso achamos que ninguém viria até aqui nos procurar e que seria o lugar mais seguro para uma reunião ultra-secreta.

—E o zelador? Sabia que vocês estavam na sala dele?

—Quem, o Gordy? Ele é nosso amigo. Foi transferido para cá como por destino. Em nossa antiga escola, eu, Moze e Cook sempre contávamos com a ajuda dele para resolver os problemas e promover diversão. O Gordy é gente boa...

—Fico feliz em saber. Finalmente alguém de maior com quem podemos contar... –suspirou Luisa.

—Se ao menos pudéssemos fazer com que ele criasse juízo e parasse de perseguir aquela maldita fuinha por um só instante... –constatou Moze.

—Fuinha?

—Essa é uma longa história –cortou-lhes Cook. –É melhor deixarmos esta para depois. Agora vamos tratar dos negócios...

—Ora, ora, ora. Olha só quem temos aqui –brandiu uma voz masculina, surgida do canto oposto da sala escura. –Ned, Moze, Cook... Recebi a mensagem de que vocês viriam. O que vocês tem pra mim? -uma luz bem fraca acendeu-se no teto e um rapaz de cabelos e olhos castanhos escuro aproximou-se. Ele usava um chapéu azul que lhe caia muito bem. Luisa espremeu os olhos, parecia conhecer aquele rostinho peralta, malandro, a cabeça cheia de idéias mirabolantes perfeita para causar confusões, aquele olhar ardiloso inesquecível...

—Ferris? –disse Luisa, analisando esperançosa a reação do garoto. –Ferris Bueller?

—Luisa? –sorriu ele. Sua fisionomia mudou no mesmo instante. Ao invés de toda aquela astúcia de sempre, agora se via uma alegria inconfundível. Esta foi tanta que eles até se abraçaram. –Luisa Parkinson! Sua pirralha... Eu não te vejo desde a quinta série!

Ferris e Luisa haviam se conhecido na terceira série. A partir dali ficaram amigos, mas foram se afastando aos poucos com a mudança de escola, da garota, na quinta série. Eles não se viam há muito tempo.

—Minha nossa, eu não acredito nisso! Que engraçada é a vida, hein? Você por aqui... O que aconteceu? Você andou sumida...

—Eu posso dizer o mesmo de você –ela riu, recordando-se. -“O terror da turma”. Ainda me lembro daquele tempo...

—Ele sempre foi eterno pra mim –admitiu Ferris.

—Você está incrível! Ainda continua curtindo a vida?

—Com certeza. O importante é curtir adoidado! —sorriu ele. –Caramba! Menina, Você está ótima... Etá uma coisa de loco! Dá uma voltinha pra eu ver.

—Hum-Hum... –tossiu uma voz no fundo da sala. –Ah... Será que dá para continuar a reunião, ou é pedir muito? –lá estava um rapaz, um ano mais velho que todos, cabelos curtos levemente enrolados nas pontas, olhar estreito, expressões vazias, parecia entediado com todo aquele “momento família”, seus olhos se reviraram ao encontrar os de Ferris. Ele tinha os pés em cima da mesa, suas vestes eram todas pretas, incluindo sua jaqueta Jeans que o deixava no estilo Bad Boy.

—Segura a sua onda, Dillon. Ou nem precisa continuar conosco... –ameaçou Ferris.

Sim senhor—disse Dillon, batendo continência ainda com os pés em cima da mesa, como quem faz pouco caso.

—Cala essa boca. –disse Ferris sem se chatear. –Vai fazer alguma coisa de útil! Por que não inferniza a vida de seu amigo Ziggy?

—Porque, como todos podemos ver, ele não está aqui, não é? –retrucou Dillon sarcástico. –Agora, ao menos que você me dê um ótimo motivo para eu me calar...

—Arrrr! Está bem. –cedeu Ferris, então seguiu passando o braço em volta do pescoço de Luisa, informando aos murmúrios para a garota: -Ele é inteligente, mas quando cisma com um de nós, ou fica de mau humor, suas piadinhas sarcásticas me dão nos nervos...

—Com licença senhor Bueller... Mas o pássaro verde entrou em ação –avisou um rapaz que parecia estar monitorando um aparelho.

—Onde ele está Daniel San?

—Na sala da Diretora. –Daniel era moreno, tinha os cabelos um tanto enrolados e era muito bom em “defesa própria”: Ele lutava Karatê.

—Pássaro verde? –indagou Luisa.

—É um código para o nosso “homem em ação”. Cada um tem um código para quando são convocados para as missões...

—Missões? –falou Melissa. –Que tipo de missões?

—Bem, nesse instante, temos um de nossos colegas se arriscando para encontrar a chave da vitória.

—E a chave da vitória seria...?

—A chave da sala de teatro. –Luisa ergueu uma das sobrancelhas, sem entender, mesmo assim ele continuou. -Nós sabemos que o protesto é sobre uniforme, agora pense comigo: Se quisermos mostrar o verdadeiro motivo pelo qual estamos lutando, precisamos estar caracterizados de acordo. Ninguém trouxe peças de roupa que chamarão tanta atenção quanto às da sala de teatro.

—Então –começou Moze. –Vocês pretendem arrombar a sala de teatro e protestar com as fantasias?

—Não exatamente com as fantasias. Os portadores delas serão só alguns poucos. A maioria votou pelas roupas do Achados e Perdidos; os que sobrarem pegarão o que restou. Só não vale ficar seminu! –brincou Ferris. –Isso garantiria uma bela detenção no primeiro dia e, combinemos que ninguém quer isso...

—Ah... Mas que droga! Eu tava agorinha mesmo pensando em ficar seminu na frente do colégio inteiro. Muito obrigado Bueller, você estragou meu dia! –disse Dillon sarcástico.

Ferris fuzilou Dillon com o olhar.

—Como eu dizia...

—Ferris! Ferris! As defesas estão desativadas, não consigo monitorar o passaro verde! Ele simplesmente desapareceu do visor do rastreador! –arfou Daniel San angustiado.

—Eu disse à vocês que não mandassem o Ziggy! –reclamou Dillon. –Ele não sabe diferenciar o freio do carro, do acelerador! Eu deveria ter ido...

—Mas você se esqueceu que o Líder me deixou no comando e eu decidi que o Ziggy devesse ir... –irritou-se Ferris.

—Péssima escolha –retrucou Dillon.

—Ah, é? Vai querer brigar agora, hã? –explodiu Ferris.

—Se você não tiver um compromisso melhor, é, eu gostaria de levar um papo com você, sim... –revidou Dillon com seu sarcasmo.

—Gente! Gente! –gritou Melissa. –Parem com isso! Brigar não vai resolver o problema...

—Ela tem razão –Afirmou Cook. –Temos que nos concentrar em como ajudar o pássaro ver... Hã, o Ziggy!

—E como nós vamos...

—Aqui! –gritou Daniel San. –Encontrei! Ele está indo para o terceiro andar... Sala de jogos.

—Certo. Temos quanto tempo até a primeira aula? –perguntou Ned. –O protesto ocorrerá no intervalo. Por tanto precisamos estar com todas as roupas preparadas até lá...

—É pra já! –Dillon levantou-se de um salto e correu na direção dos demais. –Vamos ao encontro do Ziggy... Se ele não conseguir vir até nós, nós iremos ir até ele.

—Boa idéia cara. –aprovou Ferris. –Essa foi à coisa mais inteligente que você disse hoje...

—Vê se não provoca... –disse Dillon amistosamente, disparando para a o duto de ar.

—Espere! Não seria bom ele ter alguma companhia? –interveio Daniel San.

—E quem você sugere?

—Eu! –prontificou-se Melissa, e com ela foram Luisa, Ned e Moze. Cook decidiu ficar ajudando Daniel San; ele eram muito bom com computadores e tecnologias em geral.

—Tudo bem, mas sejam rápidos... –aceitou Ferris.

Luisa, Melissa, Ned e Moze atravessaram a passagem do túnel. Dillon foi o ultimo a entrar.

—É melhor você não dar mancada! –aconselhou Ferris. –Seja ágil e centrado em seu principal objetivo.

—Eu serei... –prometeu Dillon, um brilho novo e revigorado percorreu sua face. –Nós voltaremos antes mesmo que perceba que saímos e traremos Ziggy conosco.

Ferris assentiu positivamente para o rapaz que entrou rapidamente no duto e, este fora fechado no mesmo instante por Eddie.

Durante um tempo eles só fizeram correr pelos corredores; Correram entre os alunos, trombaram com alguns quando cruzaram as esquinas à todo vapor. Eles eram só pernas e cérebro. Só pensavam em se esquivar rapidamente de tudo e todos e pensavam apenas em como localizar um garoto comum no meio de tantos outros estudantes. Dillon resolveu logo o problema: ele e Ziggy tinham um tipo de grito de guerra que havia inventado (tudo idéia do Ziggy, claro, não era natural de Dillon ter inspiração para esse tipo de coisa. Ele não dispunha de uma mente muito criativa e também não se fazia precisar de uma. Ele era ágil e inteligente, tudo o que eles precisavam naquele momento). Dillon fez o sinal. Parecia um tipo de águia feita com as mãos, como um bichinho de sombra, depois ele gritou:

E a cor do pássaro verde é...?

Ninguém respondeu. Na verdade, Dillon só fez chamar a atenção para seu grupo que não sabia onde enfiar a cara de tanta vergonha. Por fim, ele bufou e revirou os olhos para os demais.

—Eu sabia que essa idiotice de “Pássaro Verde” não ia funcionar, mas quem disse que aquele bobão me escuta? Vamos!

Todos continuaram a correr... Dillon se pôs na frente do grupo, mostrando o caminho. Ned ficou na retaguarda, dando cobertura. As garotas esquivavam-se com rapidez e leveza –os cabelos agitando-se ao vento, proporcionado por movimentos rápidos. Luisa consultou o relógio: tinham exatamente oito minutos para encontrar Ziggy antes que o sinal tocasse e todos partissem para suas devidas salas e sumissem dos corredores, deixando a presença do grupo muito mais visível que antes.  Moze olhava com freqüência para trás; não se sabia se ela observava o movimento ao redor ou se ao amigo Ned correndo. Talvez quisesse conferir se ele continuava a acompanhá-las ou coisa do gênero. O fato é que estavam todos muito agitados com todo aquele peso sob os ombros. A única a levar tudo na esportiva parecia ser Melissa, que se divertia com a idéia de infligir as regras e perturbar a paz da escola logo no primeiro dia. Eles correram até um corredor desocupado no terceiro andar, onde estariam o laboratório de ciências, a biblioteca, a sala de informática, a sala de vídeo com seu cinema particular e por fim, a Sala de Jogos —que estavam procurando. Dillon parou ali tão bruscamente que os outros vieram de encontro com suas costas sem nem conseguir ao menos se esquivar. Depois de algumas reclamações, todos se reorganizaram.

—Aqui –disse Dillon, como se pressentisse o perigo. –Ele deveria vir até aqui. Este é o segundo melhor ponto de escape. Um “plano B” para um herói inexperiente...

—Inexperiente? Cara! E pensar que eu te respeitava... –arfou uma voz cansada de um rapaz de cabelos enrolados, baixo, muito pálido e magricela, vestindo uma camisa preta e um casaco verde por cima. Ele suava muito, parecia ter percorrido uma maratona disputadíssima.

—Oi pra você também, Ziggy. –sorriu Dillon, dando um tapinha no ombro do rapaz, inesperadamente. Do jeito que ele se referira para os demais companheiros sobre Ziggy, parecia até que este não era muito inteligente ou que nunca fazia nada da maneira certa, mas mesmo que algumas dessas afirmações fossem reais, Dillon parecia apreciar a companhia de seu atrapalhado companheiro. –Ziggy, onde você se meteu?

Ah, Dillon, por favor... Onde você acha que eu estava? –disse ele como se zombasse do amigo, mas seu rosto logo tornou a encher-se de preocupação e ele passou a olhar a todo o momento por cima do ombro, como se temesse que o seguissem até ali. –Eu... Bem, o de sempre.

—Metido em confusão? Ah, eu já imaginava... –constatou Dillon sorrindo.

—Não! Por que é que eu me meteria em confusão? Por que não pode acreditar que pelo menos desta vez eu me saí bem? E tem mais, você nem sabe o que eu passei...

—Tudo bem “brilhante herói”, então vejamos como eu acho que você se saiu: Pelo meu conhecimento em todas as vezes que te passaram alguma responsabilidade, eu diria que você chegou até a sala da diretora. Pegou a chave e se escondeu em baixo da mesa. Então você fez alguma coisa estúpida que chamou sua atenção, como por exemplo ter espirrado. Você levantou em desespero, ela te viu e colocou toda a segurança da escola atrás de você. Estou certo?—supôs ele indiferente.

—Às vezes você me dá medo, sabia? –afirmou Ziggy sombrio. –Mas tem um lado positivo em tudo isso!

—Ah, tem? Então vamos ouvi-lo –disse Dillon irônico, como se não pudesse imaginar algo de bom em toda essa confusão.

—Até agora, eu não disparei nenhum alarme de segurança! –ele abriu os braços de tanta empolgação. Estes esbarraram em um carrinho da limpeza que deslizou avançando em direção à parede e bateu fortemente contra um botão vermelho: Um alarme de segurança. Dillon revirou os olhos.

—Ótimo Ziggy. Agora o plano danou-se. Corram! Todos vocês, de volta para o duto de ar!


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?

Eu sei que ainda é muito cedo para formar conclusões, afinal, esse capítulo marca o retorno para a vida normal de Luisa e Melissa (mas combinemos que os novos amiguinhos delas também não assim tão normais kkkkk).

Tenho certeza que vocês reconheceram algumas figuras que eu citei, ao mesmo tempo que outras os deixaram em dúvida ou mesmo no ar.
Para ajudar na compreensão, semana que vem eu vou postar uma lista com o nome das séries e filmes de onde esse pessoal foi tirado.
Só não vou postar essa semana porque ainda tem muita gente que não apareceu (mas vai dar as caras muito em breve), e há alguns casos que, se eu acabar me antecipando e colocando o nome, meio que vai ser um Spoiler.

Então relaxem. Levem tudo na exportiva que logo logo as coisas começam a fazer sentido.

Até semana que vem! :)



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