Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 112
Harry Styles e Harry Potter


Notas iniciais do capítulo

Oiii!!

:)



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Lá estava o envelope. Mais do que uma lembrança da amiga, era algo que poderia ser relevante de alguma forma... pensou o Doutor, com seus botões. Por um segundo, um lampejo de esperança se acendeu nos olhos do Senhor do Tempo... Porém, tudo de repente se dissipou, após seu raciocínio ser brutalmente interrompido por um furacão Melissa.

De fato, Melissa estava mais agitada do que o normal, e logo o rapaz veio a descobrir –após ser praticamente arrastado por ela até um canto afastado da TARDIS –que a causa de sua inquietude se dava ao estado em que Harry Styles se encontrava e em como o Doutor não estava ajudando em nada sendo duro com ele.

A menção do nome daquele garoto fez os nervos do Senhor do Tempo ferverem. Bom, que o Doutor estava uma pilha de nervos, todos sabiam. Que ele tornaria a explodir em breve com alguém, era fato. As chances do escolhido ser Harry Styles: não havia dúvida alguma. 

Certamente, aceitar o ponto de vista de Melissa não seria uma tarefa fácil... Após muita disculsão e discordância, Melissa fez o Doutor prometer que não culparia Harry por mais nada (ele já estava muito abalado), e, ainda mais relevante do que a primeira exigência: ela o fez prometer que apagaria aquela lembrança culposa da mente do Harry, para livrá-lo de uma vez por todas daquele sentimento horrível.

O quê? Mais nem pensar... Eu não vou fazer isso! –teimou o Senhor do Tempo, conversando em off com Melissa. Mas, para conhecimento geral, o seu “OFF” estava mais para um “ON”, de tão alto que sua voz propagava-se pelo ambiente. Estava tão irado que nem percebia o que estava fazendo. –A imbecilidade desse rapaz foi tamanha a ponto de causar a morte da sua melhor amiga e você fica aí, defendendo ele!

—Doutor, por favor, não distorça as coisas! –replicou Melissa. -É obvio que estou triste por Luisa. Triste não... Arrasada talvez seja uma definição melhor. Porém, isso não significa que podemos sair por aí incriminando as pessoas e deixando-as traumatizadas, talvez para o resto da vida! –falou de uma vez só. O Doutor respirou com dificuldade, por causa de um tremor interno, causado pela irritação.

—E ainda seria muito pouco para ele! –rebateu. –O seu namoradinho pop star teve uma atitude extremamente infantil, tosca e inconseqüente! Se está sentindo o peso da culpa sobe seus ombros, é porque ele merece!

Aaaah... Então AGORA é assim? Será que Precisarei lembrá-lo de todas as milhares de vezes em que você bancou o “inconseqüente tosco e infantil, durante as viagens, e nós duas, Luisa e eu, tivemos que aturá-lo de boa? –anunciou, fitando-o com severidade. -Quer saber de uma coisa? Luisa não iria gostar disso. Essa sua postura estúpida está implorando por uma critica bem lascada. –alfinetou. –Talvez umas boas palmadas consertem isso. –sugeriu, pensativa, semi-cerrando os olhos ao analisá-lo.

O Doutor não se intimidou. Pelo contrário, cresceu para cima dela, pondo as mãos nos quadris e inflando o peito ao máximo, de modo que pareceu ficar ainda mais alto, sombrio e emburrado.

—Ah, é? Então você vai me obrigar a livrar seu amiguinho dessa memória atormentadora? Se não queria se sentir assim, então porque ele não tomou as devidas providencias quando eu avisei para trancar as portas!?—ele fitou o teto, por um momento, indignado. –Francamente, não sei porque você sempre age como se eu fosse uma criancinha mimada, da qual um bom castigo fosse o bastante para por de volta na linha –debochou o Doutor.

Melissa cravou os olhos nele de um jeito voraz.

Que foi? Acha que eu não consigo te fazer mudar de idéia? –desafiou.

O Doutor deu de ombros, indiferente.

Pouco me importa, porque eu não vou ser convencido de forma alguma por você. –pontuou. -Aquele era o velho Doutor. O Doutor de hoje é mais esperto. Eu te conheço, dona Melissa... Sei quais serão todos os seus próximos passos.

—Ora... Mais que interessante –riu Melissa, cruzando os braços. -Surpreenda-me então.

—Ao contrário: não há surpresas aqui. Você passou os últimos dias mudando a postura, procurando ser  uma garota menos estourada;  Sei que você quer ser melhor, por isso, está muito claro que não será impulsiva e tentará estabelecer um controle para não perder a cabeça, como nos velhos tempos. –ele fez uma pausa, sentindo-se em vantagem. –E, acima de tudo, sei que o seu latido é pior do que a mordida. Pronto. Esse é o seu “cheque mate”. Viu? Eu já sou velho de guerra... Não tem como você me surpreender.

Ah, é? Isso é o que Veremos. –desdenhou, geniosa. Então, antes mesmo que ele pudesse perceber a besteira que fizera ao revelar seu ingênuo ponto de vista sobre ela, a loira o pegou de jeito, (com um golpe de caratê que vira uma vez em um filme) arrastou-o até o sofá, onde empurrou-o, pulou em cima dele (para imobilizá-lo) e começou a distribuir tabefes.

Os esquilos esconderam-se, assustados com aquela cena; Até Harry Styles, (que estivera todo o tempo choramingando, com as pernas abraçadas, e balançando o corpo como um perturbado profissional), levantou-se e caminhou até os dois no sofá, fitando-os pasmo.

NÃO MELISSA!—gritava o Doutor, debatendo-se. –Me solta! Ai! Ai! Pare com isso!

—Pare Melissa! Deixe ele em paz –disse Harry, levando as mãos à cabeça, aflito pelo Doutor.

Não! Só depois dele prometer fazer o que pedi!—ela lascou-lhe uma palmada doída na coxa que ardeu instantaneamente.

AAAI!!! Chega Melissa!—o Doutor berrou, esperneando. Melissa tinha uma mão pesada que era o CÃO.

Prometa!  -ela tentou imobilizar seus pulsos.

Arrr!—ele resmungou, com o maxilar trincado. Não queria dar o braço a torcer.

Não estou ouvindo...—cantarolou ela. –Preciso lembrá-lo de que já fui sua babá no Shopping no Fim do Universo? Graças aquele dia, aprendi umas coisinhas sobre como lidar com você... E, como sempre, a melhor forma é apelando para um bom e velho corretivo!—com uma facilidade inacreditável, ela conseguiu virá-lo e imobilizá-lo de bruços. Seu foco agora estava em seu traseiro. –Não vai falar, né? Certo, vamos para o intensivo —anunciou.

—INTENSIVO? –o Doutor arregalou os olhos, mas já era tarde demais. –Espera! ESPERA!!! NÃO!!! —como Melissa podia ter uma mão tão firme? Três ou quatro tapas depois, seu traseiro já parecia estar em brasa. -AAAAi!!! Ai-ai-ai! Pára! Tá bom, tá bom, já chega! Ai!—choramingou o rapaz, contorcendo-se feito uma cobra.  

—Então... Isso é um “sim” ao meu pedido? –ela sondou, com a voz doce e melodiosa de quem já vencera.

Sim, sim! É um sim, com certeza... Aaai...—gemeu ele, sentindo todos os lugares atingidos latejarem.

—Assim é melhor. –ela ergueu-se de cima dele, e se afastou, esfregando as mãos, deixando-o esparramado no sofá. -Bem, agora estamos entendidos. –comunicou e voltou-se para Harry, satisfeita. -Viu? É assim que se trata um bobão feito ele.

Não demorou muito, o Senhor do Tempo pôs-se de pé também. Porém, depois disso, sua dignidade decidira tirar umas férias prolongadas; Tinha a roupa toda amarrotada, os cabelos despenteados, e massageava as nádegas com freqüência. Seu semblante dispunha de um franzimento geral onde várias rugas e marcas de expressão manifestavam-se, além dos habituais dentes cerrados por causa da dor.

—Ai... Eu tô todo dolorido!—reclamou.

Nhó... Coitadinho dele... –provocou Melissa. –E aí, “traseiro dormente”, estamos combinados?

O Doutor fez um bico magoado para ela.

Sim senhora. –respondeu, de má vontade, “baixando a própria bola”.

—Ótimo. –e Melissa voltou-se para Harry ao seu lado, mas tudo o que encontrou foi um espaço vazio. Surpresa, ela varreu a sala à procura dele e foi localizá-lo atrás do painel de controles, observando-os com receio. –Harry? O que foi? Por que está escondido aí?

—Eu? Escondido? I-imagine... –ele gaguejou. Tava na cara que estava mentindo. Ele fitava-a com certa apreensão e, de pouco em pouco, estremecia de corpo inteiro, sem poder se conter. –E-eu só vim m-me sentar por aqui...

—Ah. Então porque não se senta naquele sofá grande e macio? –ela convidou, mostrando o sofá onde minutos antes, o Doutor apanhara. Harry engoliu em seco.

—Hã... Não. Não. Obrigado. Eu prefiro ficar aqui mesmo. –e espremeu-se mais atrás dos motores da TARDIS.

—Ué? –Melissa exclamou, após o Doutor parar ao lado dela. -O que foi que deu nele?

O Doutor fez um ruído debochado.

Como se você não soubesse! Senhorita “santa paciência” e “mão leve! Porque é obvio que é desse jeito que se faz um acordo com as pessoas: “forçando-as a aceitarem sua proposta e dando-lhes uma surra, caso elas não concordem com sua opinião”.

Hã!—Melissa tapou a própria boca, chocada. –Oh, não! O que eu fiz? Agora o Harry pensa que eu sou sempre assim... “Uma desequilibrada”! Droga! Não era essa a impressão que eu queria passar...

Que pena, porque você deixou isso bem claro. –avaliou o Doutor. Melissa voltou-se para ele e fuzilou-o com o olhar. O rapaz até se encolheu; Sentia que ela ia recomeçar a espancá-lo a qualquer momento, quando, inesperadamente, seus ombros caíram e ela suspirou, frustrada.

—Saco! –praguejou, chateada, andando para longe dali. O Doutor observou-a tomar distância, então respirou fundo e foi atrás dela.

—Pára de me seguir! –ela disse, pegando-o de surpresa. Ambos já estavam bastante afastados da localização de Harry na sala de controles. –Por que ainda está aqui? Eu... te humilhei ainda a pouco no sofá... –disse, mas sua voz soou mais sentida do que irritada. O Doutor fitou-a com um olhar intenso. Melissa suspirou. Devagarzinho, sua mão esticou-se tímida, tocando de leve o braço do Senhor do Tempo. –Eu... Eu não pretendia te bater tão forte assim... Eu machuquei muito você?

—Não machucou. Só tirou meu couro. –disse o Doutor, sem qualquer tom de ironia ou raiva na voz. Melissa fitou-o dentro dos olhos.

—Me desculpa. Eu não queria ter perdido a cabeça... Eu só... Eu só não queria ver o Harry continuar se sentindo mal.

—Sim. –o Doutor articulou, colocando as mãos nos bolsos da calça amarrotada. -Em compensação, agora ele tem medo de você. Parabéns. Você sozinha conseguiu triplicar o trauma do garoto...

Melissa bufou, decepcionada consigo mesma. O rapaz olhou para ela com significância, como se dissesse “vai em frente: desabafe! Eu sou todo ouvidos”, mas Melissa apenas suspirou e ficou em silêncio. Ansioso, o Doutor esfregou a nuca, pensando no que deveria fazer a seguir. Já não estava mais bravo com ela. Na verdade, havia aprendido a perdoá-la com facilidade, já que ela costumava sempre discutir com ele no passado, e na maior parte das vezes, era só mesmo por diversão. Contudo, desta vez, estava bem claro que ela estava arrependida por ter sido tão impulsiva, e agora, estava embaraçada demais para conseguir se dirigir a ele de novo. Literalmente. Seu rosto estava vermelho, e ela procurava manter o olhar distante do dele. Por outro lado, o rapaz sabia que ela devia estar passando por um grande conflito interno, e sabia de cor e salteado, que deixá-la sozinha com caraminholas na cabeça não era a melhor saída.

—Ei... –ele deu-lhe um cutucãozinho desinibido que a fez suavizar um pouco a expressão. –Está tudo bem. Eu não estou bravo com você... Por mais que minhas nádegas dormentes sinalizem que devesse estar—brincou, para descontrair. Melissa acabou soltando um sorrisinho tímido.Voltou-se para ele, mas sua expressão tornou-se pesada instantaneamente, como se, ao fitá-lo, ela visse o próprio rosto da amiga. A garota abriu a boca, ameaçando dizer alguma coisa, mas deteve-se no ato. O Doutor então, pousou as mãos em seus ombros, compreensivo, olhando fundo dentro de seus olhos. –Calma. Está tudo bem agora. Eu estou aqui com você, e estou do seu lado. Desculpe por ter sido tão rude com você mais cedo. É obvio que o Harry não merecia sentir essa culpa. Ninguém merece. E você sabe... No fundo, eu não pretendia desejar mal algum a ele. 

—Eu sei. Eu sei. Mas isso não importa mais, não é? Luisa se foi. –ela fungou, finalmente sentindo o verdadeiro peso que aquelas palavras significavam. O Doutor piscou, sentindo os olhos começarem a umedecer, e, antes que qualquer um dos dois desabasse em prantos, o Senhor do Tempo puxou-a para um abraço forte. No momento em que Melissa enterrou a cabeça em seu ombro, as lágrimas lhe vieram aos montes e ela começou a tagarelar, com a voz embargada: -Sinto muito ter batido em você. Não é culpa sua... A verdade é que estou uma pilha por causa do que aconteceu. Não ter a Luisa por aqui me desestabilizou... Porque é horrível demais, Doutor! Não consigo imaginar que minha melhor amiga possa estar... Possa estar... Droga! Nem consigo dizer! —arfou, assombrada agora por uma nova perspectiva. –E depois? O que eu vou dizer à mãe dela? Como eu vou conseguir viver sem aquela menina? Nós éramos inseparáveis... Ela foi à única que já me entendeu nesta vida... Até mais do que minha própria mãe! —soluçou. -... Luisa não me julgava... Mesmo quando eu brincava dizendo que ia ser mendiga ou vendedora de cachorro quente na praia—Melissa fungou. Fazendo uma acrobacia delicada, o Doutor puxou um lencinho do bolso interno do casaco e estendeu-lhe. –Obrigada. -ela aceitou e assou o nariz, numa sinfonia triste e quase sem notas.

Durante vários minutos, ambos ficaram abraçados, em silêncio. Enquanto Melissa chorava desconsoladamente, o rapaz ficou matutando uma idéia um tanto ousada, e talvez, um pouquinho intrusa. Na real, não pretendia mesmo usá-la... Afinal, fora por causa de uma insinuação muito próxima que toda aquela confusão se sucedera. Contudo, depois de algum tempo de reflexão, percebeu que aquela era a melhor decisão que ele poderia tomar por Melissa e Harry.

E –aproveitando sua proximidade com ela, e que seus corpos estavam em contato –ele entrou na mente da garota, sem dar alarde, e apagou todas as lembranças referentes à morte de Luisa, ao desequilíbrio que a fez brigar com o Doutor e ao vexame que passou perante a Harry, mostrando um lado intenso e impulsivo seu, que, já fazia algum tempo, vinha conseguindo controlar com êxito.

Quando terminou, sentiu as mãos de Melissa afrouxarem às suas costas e preparou-se para segurá-la. Ela desmaiou em seus braços. Com cuidado, ele pegou-a no colo e depositou-a deitada no sofá, com a cabeça sobre uma almofada, deixando-a com o ar sugestivo de estar apenas tirando um cochilo. Queria que ela tivesse essa impressão quando acordasse.

Finalizando com Melissa, seguiu para a parte dois do plano: Apagar todas as lembranças que Harry NÃO devia ter.

—Certo –o Doutor se concentrou. –Ô Harry? Será que dá pra vir aqui só um minutinho? Melissa levou um escorregão e bateu com a cabeça, será que você pode me ajudar a reanimá-la? –mentiu, apenas para atraí-lo.

Apesar de tudo o que disse a seu respeito, o Doutor sabia que Harry não era bobo. Mesmo após ter testemunhado um dos chiliques mais escandalosos de Melissa, ele sabia que o rapaz ainda sentia alguma coisa por ela, e, era óbvio que não deixaria de ajudá-la, se ela precisasse.

Como esperado, ele levantou-se de prontidão, detrás do painel de controles e correu para junto do Doutor, preocupado.

—Cadê ela? O que aconteceu?

—Nada. Está tudo bem. Ela está só dormindo agora. Vai acordar em breve –contou, sereno.

—Ah. –Harry concordou com a cabeça, observando-a dormir. –Então... Por que me disse que precisava de mim para reanimá-la?

—Quando?

—Agora pouco.

—Sério? Eu não me recordo –o Doutor franziu a testa. –Tem certeza que foi isso mesmo?

—Tenho.

Tem certeza absoluta? Porque eu não disse isso...

—Disse sim.

—Não disse.

—Disse.

—Não. Não disse. 

—Você disse!

—Sério mesmo? –o Doutor considerou por um instante. Harry confirmou, finalmente sentindo que iam chegar a algum lugar... Quando, é claro, o Doutor balançou a cabeça negativamente e tornou a dizer com ar divertido: –Ah, bobagem... É claro que não disse!

SIM! VOCÊ DISSE!—berrou Harry, atraindo a atenção dos esquilos.

Shhhhhhhhh! Fale baixo, senão você vai acordá-la! –repreendeu o Doutor, gesticulando histericamente.

Harry boquiabriu-se.

—Mas... Mas... Você me chamou para isso!

—Não. Não chamei.

—Chamou sim! Os esquilos estão de prova!—e voltaram-se para as pequenas estrelas do rock com caudas peludas.

Nã-nã. Não nos ponha no enrosco! Essa discussão aí é de vocês...—disse Simon, respondendo muito diretamente, por todos no grupo.

—Ora! –Harry voltou-se para o Doutor, com o semblante derrotista. O Senhor do Tempo sorriu, paciente.

—Já tirou sua dúvida? E então: eu disse ou não disse?—indagou novamente o Doutor.

—Eu... Eu não sei! Estou confuso...

—Oh, sim, claro, claro... É completamente compreensível –o Doutor passou o braço ao redor de seu pescoço e saiu tagarelando, até que Harry estivesse de pé, precisamente posicionado de costas para uma poltrona vermelha e macia. Então, afastou-se e anunciou: –... Bem, já que está mesmo tão confuso, então acho que não se importaria em me dizer uma coisa –e mostrou-lhe a mão com apenas quatro dedos erguidos. –Quantos dedos tem aqui? Não vale chutar.

Harry achou a pergunta realmente boba, mas acabou por responder.

—Hã... Quatro.

—Ahã! Muito bem! Muito bem! E agora? –e tirou mais um dedo. –Vá falando progressivamente, por favor.

—Ah, tá legal. –Harry concordou, meio intrigado. -Três... Dois... Um...

—E... DURMA! –o Doutor abriu a mão de dedos fechados na direção de Harry, como se jogasse algum tipo de “pó do sonhos”, invisível, contra ele. No segundo seguinte, os olhos do rapaz de cabelo enrolado giraram nas órbitas e ele caiu para trás, repousando contra o estofado fofo da poltrona macia. Ao alcançar êxito, o Senhor do Tempo sorriu, soprando dentro do punho fechado. –Rá-rá... Adoro esse velho truque. Ele nunca falha. –e debruçou-se contra Harry, aproveitando a oportunidade para apagar as memórias ruins bem rapidinho. –Sim, sim... Será mais fácil de selecionar as lembranças com você dormindo. Uh! Se bem que tem umas outras situações aqui que é melhor nem comentar... Puxa vida!—e olhou para Harry com ar surpreso. Depois revirou os olhos e olhou para Melissa, ainda adormecida. –Por que será que você sempre me arruma pra cabeça?

E sorriu, divertindo-se sozinho.

—Ah... Prontinho. Terminei com você, senhor “Trauma Styles” –brincou o Doutor. Pôs-se de pé. Já ia se ocupar com alguma outra coisa, quando lembrou-se dos seis esquilos. Eles também haviam presenciado muita coisa (estavam na sala de controles desde antes da queda de Luisa), e imediatamente, o Doutor decidiu que todos mereciam ser absolvidos daquela posição de álibis de uma confusão incalculável.

—Pessoal, venham cá! Tenho algo pra mostrar... –o Doutor esperou até que todos ficassem agrupados, sob o painel de controles. –Bom! Muito bom... Querem me dizer quantos dedos eu tenho aqui, por favor?

 

*      *       *

Aquela escola era maior do que Luisa imaginava. Não vazia nem meio minuto que haviam deixado a sala do diretor para trás, e Luna já havia zigue-zagueado tanto pelos corredores, que a morena nem sabia mais onde estava.

A aluna da Corvinal passou cumprimentando algumas pessoas (provavelmente conhecidos seus ou colegas de casa), todavia, todos olhavam curiosos para Luisa, em segundo plano, em todas às vezes. Quando a mesma sentença repetiu-se pela terceira vez seguida, Luisa sentiu-se impulsionada a perguntar:

—Por que todos ficam olhando pra mim desse jeito?

—De qual jeito? –Luna devolveu a pergunta, distraída.

—Oi Luna! –outro cumprimentou-a. Era um rapaz de óculos redondos e cicatriz na testa. Ele passava apressado pelo corredor; algumas folhas escorregavam, amassadas, para fora dos livros que carregava. Deveria estar atrasado para alguma aula.

—Bom dia Harry! –ela acenou rapidamente, ainda em tempo dele ver. Mas Harry deteve-se no corredor, inesperadamente, e parou, observando Luisa.

Desse jeito—Luisa enfatizou, referindo-se a mesma cara de espanto que todos lançavam à ela.

—Ah, desse jeito. –Luna assentiu, apontando para ele sem disfarçar.

Harry fitou-as com surpresa.

—D-desculpe. Do que vocês estão falando?

—Não é nada Harry. Você viu? Essa é Luisa Jackson. Ela é aluna de intercâmbio. E é da Corvinal!

—Ah, seja bem vinda! –Harry estendeu a mão para apertar a dela. Luisa estendeu o braço rapidamente.

—Muito prazer.

—Igualmente. –Harry sorriu. Naquele mesmo instante, uma garota intelectual (carregando uma pilha de livros, quase tão alta quanto o próprio comprimento de sua cintura até a cabeça) de cabelos cheios e ar desconcertado, passou pisando firme, arrastando consigo, um rapaz de cabelos de fogo e expressões inconformadas.

—Não,  Mione! –resmungou ele. –Pode deixar, eu sei andar sozinho, muito obrigado.

—O problema, Rony, é que você é muito lento! Até uma lesma ganha de você quando se trata de chegar cedo na aula do profº Snape –ela disse, impaciente.

—Esse cara me dá arrepios! E as últimas aulas foram terríveis. Você viu aquela poção para fazer aranhas dobrarem de tamanho? Por que alguém tinha que inventar algo assim? Se eu tivesse uma máquina do tempo, teria uma conversa séria com o inventor desta coisa...

A garota brecou no meio do corredor e fitou-o com ar crítico.

—Francamente, Rony! Será que tem que ser tão medroso vinte e quatro horas por dia?

—Eu poderia melhorar, se eles começassem a me ouvir e substituir as aranhas por borboletas –replicou o ruivinho. Suas orelhas começaram a ficar vermelhas.

A garota de repente olhou para o lado, e seus olhos pousaram e Harry.

—Harry! –ela disse, toda esbaforida, começando a puxá-lo também. –Onde você esteve? Nós estávamos te procurando... Não pretende se atrasar de novo para a aula do professor Snape, não é? Isso não é bom, Harry! Ele pode pensar que você e o Rony estão começando a testar a paciência dele... Vocês dois sabem que não precisa muito para deixá-lo com vontade de castigá-los, agora, imagine só dando motivos para isso? Só Deus sabe o que fará com vocês...

—Puxa, esse Snape parece apavorante –disse Luisa com um ar divertido, arregalando os olhos, dando uma espécie de ênfase na palavra “apavorante”. Todos os olhares voltaram-se para ela.

—Apavorante? Hã! Você ainda não viu nada!—gemeu o ruivinho, branco feito papel, esfregando o nariz e ajeitando as vestes quase esgarçadas pelos dedos firmes da menina de cachos.

Quem é essa?—perguntou, geniosa, focalizando em Luisa. –Nunca a vi por aqui; e olha que eu tenho uma memória fotográfica excelente!

Harry e o ruivinho de expressão espantada, entreolharam-se.

—Essa é Luisa Jackson. –adiantou-se Luna. –Ela é nova em Hogwarts.

—Ah. Nova, é? –a garota da pilha de livros estudou-a da cabeça aos pés, com ar avaliativo. –Sei... E a qual casa você pertence? Não é da Sonserina, espero. Eles são uns encrenqueiros!—e lançou uma olhada reprovadora para os dois meninos às suas costas. –Se bem que tem gente da Grifinória quase batendo o recorde...

—Não, não... –dessa vez, Luisa apressou-se em responder, antes que Luna fizesse de novo por ela. –Sou do “time” da Luna. Ela está me levando para conhecer os dormitórios da Corvinal nesse exato instante.

A expressão da garota de cabelos cheios suavizou-se imediatamente.

—Ah, bom; Sendo assim, então: muito prazer. Sou Hermione Granger. –disse com ar de importância, já apertando a mão dela. –E esses são meus amigos: Harry Potter e Rony Weasley.

Rony acenou para ela, meio sem jeito. Harry apenas fez um aceno de cabeça. Eles já haviam sido apresentados. Para a não surpresa de Harry, a menção de seu nome completo fez Luisa mudar de postura.

—V-você disse Harry Potter? Quer dizer: O Harry Potter?—ela fitou-o boquiaberta, sem pudor, como se ele fosse um animal de zoológico; mais especificamente: um pinguim no meio do deserto.

Sinceramente, Luisa não sabia muitas coisas sobre o mundo bruxo, mas de duas coisas tinha certeza: os títulos Harry Potter e “Você-Sabe-Quem” eram muitíssimo conhecidos entre a comunidade bruxa e, mesmo sem saber exatamente a importância que cada um carregava, ela, ao menos, tentou soar autentica, ou seja: soltando uma exclamação bem convincente; Afinal, se ele era mesmo famoso, como Dumbleodor mencionara, então, muita gente devia fazer aquela mesma cena boba várias vezes ao dia, quando esbarravam com ele pelos corredores, certo? Todavia, sua encenação não foi cem por cento encenação, já que ela não imaginava que o tal Potter fosse mais novo do que ela e, acima de tudo, que fosse encontrá-lo tão facilmente na mesma escola que ela começaria a freqüentar.

De uma forma ou de outra, sua expressão soou autentica. E entusiástica. E curiosa. Deveras curiosa...

Hã, não—Hermione gemeu. –Não...Você não é uma daquelas fãs malucas do fã clube do Harry, não é? Harry já está cansado de assédio. Como sua amiga, é meu dever deixar bem claro que ele é um garoto normal e que merece privacidade, como qualquer pessoa no planeta! –anunciou, em tom de “chamada de atenção”. Harry fez uma careta às costas dela.

E lançou um olhar contrário a Luisa, como se dissesse “Hermione se precipita. Não estou me sentindo assediado”. Foi então que a garota da bolsinha rosa notou que ele a observava com o mesmo olhar intrigado de antes. Sim! Era esse o tipo de olhar que todos lançavam a ela, anteriormente... De repente, ela percebeu que o rapaz parecia estar tão curioso sobre ela, quanto ela julgava estar sobre ele.

—Desculpe... Não sou nenhuma fã. Eu só fiquei impressionada. Ouvi falar no nome dele... Mas não imaginava que Harry Potter estudasse aqui. –esclareceu ela, em tom meio impressionado.

—Eu estudo em Hogwarts –ele disse, confirmando, e apontou para os dois companheiros grifinórios. –Nós estamos no quinto ano.

—E você? Em que ano está? –perguntou Rony, de curiosidade.

Qualquer pessoa teria se sentido encurralada nesse momento. Luisa sorriu, cruzando os braços:

—Adivinhe: Em qual ano acha que eu estou? –jogou verde. Estava ficando boa nisso...

—Bem... Você parece ser da turma avançada. Tem quantos anos: dezesseis?

—Dezessete. -ela disse. –Mas não estou em nenhuma turma e, provavelmente, nem estarei. Cheguei aqui em Londres há pouco tempo, em intercambio, e vou terminar o curso tendo aulas particulares.

—Ah. Entendi. –Rony assentiu, compreendendo; Ou fingindo que havia compreendido. Todavia, Hermione exclamou:

Ah! Olha só à hora! –e fitou Luisa com urgência. -Foi mesmo muito bom te conhecer, mas nós precisamos ir agora mesmo para a aula de poções, ou estaremos fritos! —tratou de assentar a pilha de livros que carregava no colo e retomar o trajeto. –Vamos Harry! Rony! Senão a gente vai se atrasar! –apressou-os, estressada. Hermione remeteu à Luisa, vagamente, a figura impaciente de Melissa, só que numa versão muito mais séria e estudiosa.

—Certo –Harry lançou uma última olhada para Luna e Luisa, antes de seguir Hermione. –Desculpe, precisamos ir ou vamos chegar em cima da hora na aula do professor Snape.

—Opa! Acho melhor se apressarem então... –agitou Luna, aparentemente incomodada com a idéia.

Harry acenou para Luisa.

—Nos vemos por aí então.

—Tudo bem. Tenho certeza de que tornaremos a nos esbarrar pelos corredores... –Luisa sorriu, amistosa. Rony então dirigiu-se a ela, antes de juntar-se aos outros dois.

—Quem sabe a gente se encontra no Grande Salão, para o almoço... Você já foi até lá? A comida é simplesmente incrível!

Hermione voltou para puxar sua orelha. E, com ar intrometido, ainda acrescentou:

—A propósito, Luisa, melhor você vestir seu uniforme da escola, ou o pessoal não vai parar de olhar torto pra você. –deu-lhe um toque, em seguida se retirou, rapidamente, arrastando um Rony resmungão consigo.

Depois que eles se afastaram, Luna retomou a caminhada e Luisa apreçou-se para não se perder dela nos corredores posteriores, cheios de alunos. Estava uma bagunça por causa da troca de aulas—aparentemente, lá os alunos iam até as salas dos professores, e não o contrário.

—Luna, você ouviu o que ela disse sobre minhas roupas? Será que é esse o motivo de todos estarem me olhando estranho? –sondou Luisa.

—Talvez. –a garota loira disse, taciturna. –Todo mundo menos o Harry. Ele pareceu gostar de você. Pareceu enxergá-la do jeito certo... Assim como eu fiz, quando nos conhecemos.

Jeito certo? Deixando Luisa ainda mais intrigada (porque todo mundo lá parecia adorar fazer isso—deveria ser até um tipo de esporte para eles), Luna esgueirou-se por mais uma seqüência de corredores vazios, para o alivio de Luisa, e levou-a até um determinado local, onde pararam, ao encontrarem uma coisa branco-perolada –e ligeiramente transparente –flutuando no ar, e deram-lhe bom dia.

A “coisa” era um fantasma.  

—Bom dia –cumprimentou Luna, naturalmente. O fantasma era uma mulher, e fez um cortês aceno de cabeça. Depois se afastou, seguindo seu caminho.

Enquanto aquilo fora extremamente comum para Luna, Luisa, por outro lado, parecia novamente explodindo de excitação. Sim, de fato não era o primeiro fantasma que ela via, mas era o primeiro fantasma prateado flutuante e com ar realmente... Fantasmagórico.

—Aquilo foi um fantasma? –perguntou, bestamente, tocando o braço de Luna.

—Sim –ela sorriu. –Eles vivem passeando pelos corredores. Há um monte deles por aqui –e observou a reação de Luisa. Ela não parecia nem um pouco preocupada ou assustada.

—Puxa vida! Macacos me mordam!—Luisa exclamou, empolgada, após o fantasma se afastar.

—Legal. Você é uma das que levam na esportiva...

—Oi? –Luisa franziu a testa.

—É que a maioria das pessoas fica receosa nos primeiros dias. Sobretudo os novatos. Mas você parece perfeitamente habituada com a presença deles... –comentou, espontânea. -Você é que nem eu. Também não tenho medo deles.

—E por que eu deveria sentir medo? -sorriu Luisa, espirituosa. –Uma vez conheci três fantasmas que tocavam em uma banda de rock!

Luna sorriu.

—É mesmo?

—Sim. Eles tocavam no barracão dos fundos da casa da minha vizinha. Todo o fim de tarde, era possível ouvi-los mandando ver nos acordes... Eles treinavam a valer por lá.

—E a sua vizinha não se importava? –quis saber Luna.

—Ora, claro que não! –Luisa riu, dispersando aquela idéia com um abano leviano. –Ela era a vocalista da banda.

Luna achou muita graça na afirmação da nova amiga.

—Que massa! E sua amiga também era bruxa? –sondou.

—Julie? Não. Nem de longe...—negou. –Porém, em todo caso, se um dos conceitos principais para ser bruxo convém em ser “meio maluco”, então, bem que todos os meus amigos poderiam arranjar uma vaga em Hogwarts!—brincou.

Luna levou a piadinha na esportiva.

—Você é engraçada e gentil. –observou. –Gosto de pessoas engraçadas e gentis. –comentou, muito satisfeita. -Vamos. A entrada para o Salão Comunal da Corvinal é por aqui... –e guiou-a a diante, no corredor. Curiosamente, pararam de fronte para uma porta, e esperaram.

Sem qualquer idéia do que poderia vir a seguir, Luisa olhou ao redor, estudando as janelas e a extensão do corredor, e por fim, deteve-se novamente na porta, observando seus inúmeros detalhes em azul e bronze... O mais espantoso era que não havia maçaneta ou tranca compondo-a, apenas uma interessante aldrava em forma de águia.

Hum-hum—ouviu-se o som de alguém limpando a garganta para falar. Luisa virou a cabeça em busca do dono da voz, mas não encontrou ninguém no corredor. Luna logo percebeu sua confusão e cutucou-a no ombro. A garota encarou-a, ao que a loira lhe indicou a aldrava, que agora chacoalhava as penas prateadas e observava-as com olhos opacos. –Ora, ora, ora... Temos mais um Corvinal?

Luna prontificou-se.

—Esta é Luisa. Ela chegou hoje a Hogwarts.

—Oh, bem vinda menina! Seja realmente bem vinda... –falou a águia com entusiasmo. –Bem, vejamos, imagino que você já saiba a política da casa para qual foi selecionada: ninguém pode entrar na sala comunal da Corvinal sem antes responder uma de minhas famosas charadas!

Luna observou Luisa, disfarçadamente, e logo detectou um tom de surpresa em seu semblante, porém, fingiu que não viu. Voltando-se para a águia, emendou:

—Sim, é obvio que ela conhece as normas. Então, qual é a charada de hoje?

A Águia bateu o bico metálico fazendo um barulhinho engraçado.

Sim, como não, eu já ia me esquecendo: nunca é um machucado quando não está ardendo; Hoje temos hortas, hortaliças e hortelã, mais nada é tão fresco quando a brisa da manhã... Sim, sim! Vocês querem charadas? Então aí vai uma para deixá-las intrigadas: “O que tem asas, mas não é animal. Nasce na terra, e tem um fedor colossal?

Luna parou para pensar; Luisa nem se deu o trabalho: não fazia a menor idéia do que podia ser.

—É um repolho alado?—sugeriu a loira, improvavelmente. Logo, a Águia piou e bateu as assas, agitada. Luisa ergueu as sobrancelhas quando a porta escancarou-se bem na sua frente. –Modesta à parte, sou boa com charadas... –disse Luna, então, ao ver os olhos encantados de Luisa, convidou-a a adentrar no espaço: -Seja bem vinda ao lar.

Luisa entrou e ficou realmente surpresa ao contemplar o tamanho daquele lugar. A sala era espaçosa e circular. A mobília antiga era composta por mesas, cadeiras, poltronas e estantes cobertas de livros; tinha um tapete azul meia-noite, bandeiras com o brasão e as cores da casa; janelas altas, um teto em forma de cúpula com desenhos de estrelas pintadas; lareira crepitante e escadarias em caracol (com a estátua de Rowena Ravenclow –a fundadora da casa Corvinal –em mármore branco, na parede entre as escadas) que levavam aos dormitórios feminino e masculino; Era enorme. Bem, tinha mesmo que ser grande, afinal, aquele espaço abrigaria sabe-se lá quantos bruxos de várias idades e séries diferentes... O mínimo que Luisa podia esperar era que fosse maior do lado de dentro.

 

*      *       *

Surgindo com sua entrada sempre espontânea, fazendo seu tão conhecido ruído rouco e arrastado, a TARDIS estacionou bem no meio da rua Bannerman; o Doutor não pretendia se demorar lá –estacionar no meio da rua ajudava a apreçar as coisas. Segundos depois da materialização completa, os esquilos, Melissa e a 1D saíram da cabine, encarando de volta o planeta Terra, da qual todos pertenciam.

A banda e os esquilos cantores caminharam rumo à calçada, conversando entre si, enquanto Melissa ficou para trás, com o Doutor.

—É isso, então? Agora estamos por conta própria? –sondou Melissa, semi-cerrando os olhos para conseguir enxergá-lo em contraste ao sol escaldante do meio-dia, que banhava seu rosto. 

—Sim. Ao menos por enquanto. –disse o Doutor. Melissa ficou parada, observando-o. O Doutor se empertigou: -Vamos! O que está esperando? Não fique parada aqui o dia todo... Eu a trouxe de volta. Vá fazer alguma coisa de útil enquanto eu estiver fora, o.k?

Melissa observou a rua. A calçada. Sua casa e, ao lado dela, a casa de Luisa –sua melhor amiga.

—Acho que vou dar um pulinho na casa da Luisa...

Não! Hum—o Doutor limpou a garganta. –Quero dizer: Melhor não. Ela não está em casa. –então fitou-a com preocupação. –Você... Se lembra do que eu te disse, certo?

—Claro que lembro! –ela sorriu. –Acho que você já me disse umas dez vezes que a Luisa teve que voltar enquanto eu estava dormindo. “Foi um chamado urgente da mãe dela, então não houve tempo para despedidas...” –repetiu Melissa, despreocupada. –Ela teve que viajar. O que teria de mal nisso?

De mal? Nada. Por que essa pergunta agora? –sondou ele, receoso que seu plano estivesse próximo de ir para o buraco.

—Ora! –ela riu. –Você ficou todo nervoso de repente... E rígido também. Dá só uma olhada na sua postura: parece que você levou um balde de água fria na cabeça. –achou graça. –Sinceramente... Você é tão esquisito às vezes... Acho que nunca vou me acostumar cem por cento com isso!

O Doutor permitiu-se sorrir um pouco, aliviado. O segredo ainda estava seguro.

—Certo. Vou me lembrar de me policiar mais sobre minhas esquisitices... –prometeu. -E você: trate de se divertir! Luisa foi para o sítio dos avós; Isso não a impede de se divertir um pouco por conta própria. –recomendou. -Lembre-se: Suas férias estão apenas começando, então vá fazer alguma coisa legal enquanto nós dois estamos fora. –e deu-lhe as costas, retornando para dentro da TARDIS. –Não me espere acordada! —brincou.

Melissa cruzou os braços e, antes que ele sumisse de vez atrás das portas...

Doutor—chamou-o. Ele pôs a cabeça para fora.

—O que foi?

—Nada. É que... Eu só queria saber uma coisa.

—Diga. O que é?

Melissa disparou:

—Vocês dois terminaram, certo? Quero dizer: sei que é uma pergunta pessoal, mas... O relacionamento de vocês... Seu e da Luisa... Acabou mesmo? Não há mais nada entre vocês? –certificou-se.

O Doutor sorriu, dando de ombros.

—As palavras “completamente arruinado” dizem alguma coisa para você?

Melissa riu divertida.

Hãn... Garotão”!—ela tirou onda. –Então é por isso que está saindo de fininho, não é? Saquei...

—O que? –perguntou casualmente. 

Ora, vamos, fale a verdade: Você deu um jeito de ocupar Luisa com alguma coisa e está me tirando do caminho também. Isso só pode significar uma coisa... –ela disse, pretensiosa. O rapaz ergueu a sobrancelha, ingênuo. –Que você está indo se engraçar com alguma bonitona do espaço, acertei? –presumiu Melissa. E, sem dar tempo algum para ele se explicar, ela emendou: -Nhó... Que romântico! O nosso menino finalmente encontrou sua verdadeira cara metade!—disse, teatralmente, fazendo caras e bocas. Depois mordeu o lábio, atrevida, intensificando a idéia. O Doutor corou deveras.

O quê? Não! Mais que idéia... Por que será que os humanos sempre interpretam as coisas por esse lado!?—resmungou, fechando as portas. Melissa riu sozinha, do lado de fora, com a suposição. O rapaz suspirou, do lado de dentro, com a cabeça pendida contra as portas azuis. Escapara por pouco. Se tivesse que explicar que aquilo não era o que parecia ser, teria que deixar bem claro sua verdadeira intenção ao viajar um tempo sozinho, e isso colocaria em jogo toda a verdade sobre Luisa, que ele vinha tentando ocultar de Melissa e dos outros. Não. Completamente fora de questão.

Seguro dentro de sua nave, ele correu até o painel de controles, onde apertou alguns botões. A cabine decolou devagar, enquanto o Doutor ateve-se sem demora ao envelope lacrado e meio amassada, sob o painel. O envelope com os resultados dos exames de Luisa.   

 

*      *      *


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Notas finais do capítulo

E aíiii? Tão gostando da Lulu em Hogwarts? Ainda surpresos? kkk

E essa história do apagão de memória que o Doutor fez na turma? Será que vai prestar? Será que a Méli não vai desconfiar de nada mesmo?

Fiquem ligadinhos aqui que logo tem mais surpresas e revelações pela frente!

Beijos!!



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