Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 111
Além da vida real, além do vórtice temporal


Notas iniciais do capítulo

Oie!

^-^



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Pensou que fosse morrer. Afinal de contas, foi o que o Doutor dera a entender que aconteceria, se algum ser vivo caísse no vórtice temporal... Porém, ao invés disso, teve uma esplendida surpresa: Luisa abriu os olhos; Miraculosamente, descobriu-se viva, deitada com o corpo de lado em uma calçada fria e nada confortável, numa rua desconhecida... Ah, e era de noite.

Sim. O que a fria e dura calçada não tinha de agradável, o clima tinha de sobra. Era uma noite quente de verão, com céu aberto e bem estrelado.

De imediato, a garota deu um salto e sentou-se depressa, olhando para as estrelas...

—DOUTOR!!! –gritou, acenando em vão. Sua voz cortou o silêncio e espalhou-se por todas as direções, arrastada por uma brisa, que brincou com seus cabelos, por um momento, depois seguiu com seu curso, deixando-a completamente sozinha de novo.

Inquieta, a menina observou a paisagem de prédios geminados, irritantemente quadrados, procurando reconhecer algum deles. Onde estava, não fazia idéia... Só sabia que era no planeta Terra, pois a rua curva, à sua frente, e as construções que a compunham eram tipicamente humanas. Curiosamente, isso fez com que ela se sentisse um pouco melhor...

Ainda com os olhos cravados em uma das direções da rua deserta, deu um salto, colocando-se de pé, mas acabou por sentir uma forte dor na perna, percebendo assim, que havia ralado parte dela. Sua cabeça também latejava, como se um martelo de tamanho médio acertasse, de tempos em tempos, um espaço acima de sua sobrancelha direita. Mancando, conseqüentemente esgotada pela queda, ela apertou os olhos, para enxergar a placa com o nome da rua.

—Rua Magnólia. –leu, em meio ao sereno. Só havia uma luz iluminando aquele pedaço da rua, e era uma luz tão pálida que não ajudava em nada. –Rua Magnólia? –pousou o olhar distraidamente sob uma cerca, atrás de si, refletindo. Não se lembrava de conhecer uma rua com aquele nome... –Ótimo! –bufou. -Estou perdida. Tudo que uma garota de dezessete mais almeja na vida!—ironizou. Ajeitou a bolsinha rosa e começou a caminhar, seguindo adiante. Então, percebeu que não sabia onde o “adiante” a levaria e acabou por refazer os passos.

—Calma Luisa. Vamos ter calma... –disse a si mesma. É claro que poderia estar fazendo tempestade em copo d’água; Quer dizer, seria extremamente constrangedor se ela caminhasse até o fim da rua, dobrasse a esquina e de repente descobrisse que estava à apenas duas quadras de casa. Por outro lado, poderia virar a esquina e se perder ainda mais, o que não parecia um plano muito astucioso. A essa altura, lembrou-se do celular. Ligou-o rapidamente, esperançosa, mas logo frustrou-se ao descobri-lo fora de área. Exausta, suspirou, atirando-se sentada à sarjeta. O pior era que nem podia confiar no relógio digital do aparelho, levando em consideração que ele marcava onze e meia, sendo que, atualmente, parecia ser muito mais tarde, tipo duas ou três da manhã.

Começando do nada, uma neblina muito suspeita tomou conta dos extremos da rua, de modo que ficou praticamente impossível enxergar qualquer um dos caminhos. Luisa ficou completamente absorta a isso, já que não pretendia mesmo ir a lugar algum. Contudo, era mesmo bizarro ver um fenômeno daqueles tomar forma numa noite quente como aquela...

Luisa não tinha nada para fazer. Pensou em ver uma por uma das mensagens que Ned mandara para ela, em áudio e por escrito. Afinal, todas ainda estavam lá, habitando sua caixa de mensagens, e ela tinha a singela impressão de que o Doutor não apareceria tão cedo, para vir buscá-la.

Começou como quem não queria nada e, quando deu por si, já estava na mensagem nº 40; Simplesmente, ficou fissurada nos comentários do namorado... Ela podia chamá-lo assim, certo? Eles eram namorados, não eram? Bem, só podiam ser... Ainda mais depois de tudo que o rapaz fizera por ela, e daquele beijo roubado, nos fundos da delegacia... Puxa, ela ficava flutuando só de lembrar.

Estava tão mergulhada nos comentários fofos do rapaz que nem notou quando o ar ficou gélido, sem mais nem menos, ou mesmo a proximidade de estranhas criaturas encapuzadas, altas, cobertas por capas negras em farrapos, e mãos cinzentas, de aparência viçosa, cobertas de feridas como uma coisa morta que se decompusera na água...

—Hã! Quem está ai!? –perguntou, ao sentir um arrepio inesperado na nuca. Não sabia ao certo se também ouvira algum som suspeito (apesar de qualquer coisa poder ser dada como “suspeita” naquela rua vazia e escura) contudo, sentiu-se incomodamente acompanhada, e vigiada, de uma hora para a outra. –Quem está aí? –insistiu, levantando-se. -Doutor, é você?

Não houve resposta. Só agora ela reparara na névoa que tomara grande parte da rua e, por algum estranho motivo, teve um péssimo pressentimento sobre isso. Felizmente, não chegou a ver as criaturas, pois, assim que espremeu os olhos para tentar enxergar melhor através da neblina, duas luzes muito pálidas, parecendo faróis, começaram a brilhar ao longe, repentinamente, afugentando os encapuzados e tomando cada vez mais presença, conforme ficavam mais próximas. Em um dado momento, as duas bolinhas brilhantes acenderam-se tanto que ofuscaram completamente a visão de Luisa, e a garota foi obrigada a cobrir os olhos... Com isso acabou recuando, tropeçando e caindo para trás com um grito, ao ouvir uma buzina estonteantemente ensurdecedora praticamente obrigá-la a sair do meio fio.

Quando abriu os olhos de novo, estava no chão, diante de um imenso ônibus roxo berrante, de três andares, e faróis incrivelmente castigantes.

Letras douradas no pára-brisa informavam: O Nôitibus Andante.

Luisa piscou por um momento, perplexa com a freqüência de coisas absurdas que aquela noite reservara para ela.

Como que para fechar com chaves de ouro, um homem ruivo, vestindo roupas de condutor, saiu do ônibus e dirigiu-se a ela, em tom de “fala decorada”. 

—Bem vindo ao ônibus Nôitibus Andante, o transporte de emergência para bruxos e bruxas perdidos. Basta esticar a mão da varinha, subir a bordo e poderemos levá-lo a onde quiser. Meu nome é Stanislau Shunpike, Lalau, e serei seu condutor por essa noi... –e franziu o cenho para ela, na sarjeta. –Mas o que você faz caída aí?

Luisa engoliu em seco. Era maluquice demais para uma noite.

—Estou caída. –ela respondeu, no automático.

—Ora! Mas será possível? Você é o segundo passageiro que eu pego nesta mesma rua que me vem com essa mesma ladainha... –ele disse, com ar de aborrecimento. –E você? Por que é que você caiu?

Luisa respondeu a primeira coisa que lhe veio em mente.

—Eu estava olhando as estrelas. Achei que assim conseguiria um ângulo melhor... –mentiu descaradamente. –Você já viu as estrelas hoje?

—Ora! Essa é a coisa mais idiota que eu já ouvi! –riu de deboche. Luisa fez cara feia. Lalau prosseguiu. –Qual é, garota? E eu lá tenho cara de quem tem tempo livre para ficar olhando o céu? Sabe, essa belezinha roda a cidade de Londres inteira... E mais além! Muito mais! –comentou, apontando para o ônibus, orgulhoso. Luisa produziu um ruído fraco.

Londres, você disse? Não... Eu só posso mesmo estar maluca... Deus! Eu vim parar no Reino Unido!?—exclamou em voz alta, mais para si mesma do que para ele. –Mas assim, tão de repente? Eu nem sei falar fluentemente em inglês... Como o vórtice espera que eu me vire? Ah!—abafou um gritinho, olhando para o rapaz ruivo. –Nossa! Você está falando inglês, não está? Caramba... Deve ser o tradutor telepático da TARDIS! Puxa, isso que é “conexão sem fronteiras... E é realmente espantoso: mesmo comigo estando longe dela, nós ainda continuamos interligadas... –tagarelou com seus botões. De repente, teve uma revelação bombástica e agarrou Lalau pela gola do casaco. –Puxa vida! O Doutor! Ele pode me localizar! Claro que não estou muito alcançável agora, mas talvez, eu encontre algum meio de me comunicar com ele através dessa “ligação empática” de viajante do tempo...

Luisa soltou o casaco do rapaz e parou de falar. Lalau fitava-a com estranheza.

—Já te falaram que você é “só um pouquinho” esquisita? –disse a ela, com a testa franzida.

—Ah, ufa! Ainda bem que você disse “só um pouquinho”. Se você dissesse “muito”, aí eu ficaria realmente preocupada... –ironizou a garota, sem muito tom de ironia. Estava mais em choque do que outra coisa. Lalau balançou a cabeça.

—Espere um instante... Você disse “viajante do tempo”?

É.É.É uma longa história! –disse, sem muita paciência, tratando de conferir o celular mais uma vez. Infelizmente, nada mudara: ele ainda continuava fora de área. Porém, os olhos da menina mantinham-se com o mesmo brilho intuitivo. –E se eu arrumasse uma forma de conectar meus pensamentos ao celular?—murmurou para si mesma, pensativa. Logo sentiu um cutucão no ombro. Voltou-se novamente para Lalau. –O que foi?

—Ah... Senhorita, dona... Hã, moça—gaguejou, mexendo no quepe de condutor. –Sei que deve estar muito entretida em seus hã... Afazeres, mas gostaria de recomendar que embarcasse logo no ônibus, para que possamos levar você e o restante dos passageiros aos seus destinos.

—Aos seus... Destinos?—ela disse, meio distante. –E onde seria isso? Digo, para onde esse ônibus vai?

—Ué? Você não sabe? –novamente, ele parecia intrigado com ela.

—Ora, não me olhe como se eu fosse uma maluca qualquer! –rebateu Luisa. –Se o senhor pudesse melhorar essa cara de espanto e me explicar como funcionam as coisas por aqui, eu agradeceria e muito!

—Opa! Já vi que você é uma das “impacientes” –ele riu. –Bom, neste caso, serei breve... –disse, apoiando uma perna no degrau do ônibus. -Na verdade, é muito simples: Você está... Bem... Em algum lugar do País de Gales, eu acho. Londres, Inglaterra, creio eu. Ao menos, imagino que não tenhamos atravessado as fronteiras ainda... Enfim, esse ônibus passa por todos os lugares, contanto que fique no mundo bruxo. Entende? É só você escolher um deles, obviamente onde pretende chegar, embarcar no Nôitibus e descer onde deseja.

Do mundo bruxo? –Luisa arregalou os olhos. –Meus Deus! Estamos falando a mesma língua?

—E eu é que sei? –ele achou graça na forma com que ela fez a pergunta. –Ora, sei que ambos estamos falando inglês, agora, quanto ao conteúdo da conversa... Bem, há controversas.

Luisa acabou rindo daquilo. 

—Bem, até que você tem bom humor.

—Ora, isso foi um elogio? –ele segurou as dobras do casaco, satisfeito. –Bem, sendo assim, não vou chamá-la de “senhorita rabugenta” pelo resto da viagem –brincou, estendendo a mão para ela embarcar. –Sabe, você não me aprece ser tão maluca agora... Especialmente quando fica assim, de doca fechada.

Luisa pôs as mãos nos quadris, boquiaberta. 

—Ora, você é bastante atrevido para um condutor de ônibus!

—E você não me parece uma passageira nada-nada comum. –ele revidou, com razão.

Luisa ergueu as sobrancelhas, curiosa.

—Defina “comum”. –anunciou. Lalau encarou-a por um momento. –Você disse “mundo bruxo”... O que isso significa? É algum tipo de código para alguma coisa?

E aí Lalau? A mocinha vai ou não vai embarcar?—perguntou uma voz debochada, vinda do interior do ônibus. –Ernesto precisa seguir viagem!

—Quem é Ernesto? –perguntou Luisa, de imediato.

—Ah. É o nosso motorista. –esclareceu Lalau. –E é sério, nós temos mesmo que ir... –conferiu o relógio de pulso e, com isso, subiu com a outra perna no degrau do ônibus. –Então, é hora da pergunta que não quer calar: você vai embarcar ou não vai?

Luisa pensou por um momento. Poderia não aceitar o convite e ficar sentada no meio fio por tempo indeterminado, ou então se aventurar e tentar fazer alguma coisa de útil naquela cidade.

Bem, a resposta era indiscutível.

—Eu vou embarcar! –e, sem saber o que a esperava pela frente, Luisa segurou na mão do rapaz ruivo e, com a ajuda dele, embarcou no ônibus. –Mas é sério, senhor Lalau... Que papo é esse de “Mundo Bruxo”?

—Só respondo se você parar de me chamar de “senhor” –disse, ao fechar as portas do ônibus roxo. –Ora, bolas... Eu só tenho 18 anos!

—Ahm... Tudo bem, “Lalau”. –ela pronunciou seu nome pela primeira vez. O condutor soltou um sorrisinho contentado. Parou ao lado da cadeira do motorista e disse:

—Bom, Ernesto, conseguimos convencê-la. Ela estava indecisa porque é nova em Londres. Bem, parece que teremos mais uma passageira estrangeira hoje, além do senhor Manchester –e apontou para um homem muito magro e barbudo. -Esta aqui é a... –e voltou-se para ela. –Qual seu nome mesmo?

—Luisa. Luisa Parkinson.

—Você ouviu, né, Ernesto? –ele deu tapinhas no ombro de um homem idoso, com óculos de grossas lentes, que lançou um aceno meio ansioso à menina. –Talvez queira se sentar, Luisa.

—Não, não. Estou bem de pé. –disse a menina. Lalau deu de ombros.

—Está bem. Você quem sabe... –então voltou-se para o velho na direção. –Pode mandar ver, Ernesto!

É! Manda ver, Ernesto!—gargalhou a mesma voz escachada de antes. Logo Luisa estava de olhos arregalados, observando uma pequena cabeça com rosto feio e descabelado, pendurada junto ao pára-brisa, como um daqueles enfeites para os espelhos dos carros. Só que de muito... Muito mau gosto mesmo. Felizmente, não houve muito tempo para ficar encarando-o, pois Ernesto puxou o cambio e, após um novo estampido assustador de tirar o fôlego, o Nôitibus disparou, desequilibrando Luisa para trás, e fazendo-a cair sentada sob uma cama vazia. Só então notou, meio atônita, que os assentos, onde vários outros passageiros (bem peculiares) ocupavam, eram na verdade camas. O ônibus tinha três andares inteiros de camas chacoalhando (completamente soltas do chão), e pessoas dormindo nelas, absortas a todas aquelas guinadas descontroladas. Inesperadamente, o Nôitibus freou bruscamente, bem em tempo de parar ao sinal vermelho. Luisa massageou a cabeça, checando se estava tudo no lugar, e procurando muito mesmo não ficar enjoada.  

—Bem –Lalau prosseguiu, como se nada tivesse acontecido. –Se você não é daqui, então há três coisas que precisa saber sobre nós: Os bruxos britânicos chamam os “não bruxos” de trouxas. Todos os bruxos não podem sair vestidos como tal nas ruas, pois os trouxas não podem saber sobre nossa existência. Seria terrível se isso acontecesse. Definitivamente—ele fez uma careta e estremeceu, com aquela idéia. –E a última coisa importante: nunca aceite doces de trasgos escoceses. Eles podem engolir você quando não estiver olhando...

Luisa esfregou a testa, meio confusa.

—Você disse “nós”. Quer dizer que você faz parte dessa parcela de “bruxos”, seja lá o que isso signifique.

Lalau fitou-a ainda mais intrigado.

—Eu não entendo o que você quer dizer. Você fala como se não soubesse sobre o mundo bruxo, aparentemente negando sua própria essência. Mas isso é ridículo, porque, se você não fosse como nós, não estaria aqui agora. O que facilmente sugere que você é tão bruxa quanto qualquer um de nós neste Ônibus.

Luisa tentou não aparentar ansiedade, apesar de suas mãos estarem incrivelmente geladas e molhadas ao mesmo tempo.

—Bom... Se você diz. –disse, dando um sorrisinho forçado.

—E tem mais! –ele prosseguiu, entusiasmado. –Esse Nôitibus aqui tem história... É! Sabe quem já andou nele uma vez, se fazendo passar por desconhecido?

—Nem posso imaginar –Luisa disse, sincera.

—Ninguém menos que Harry Potter! A maior celebridade de todos os tempos! Dizem que ele sobreviveu a pior maldição imperdoável da varinha do Você Sabe Quem...

—Não. Não sei quem. –Luisa negou, inocentemente. Lalau quase deu a luz, se fosse possível para ele fazer isso.

Mas como você não conhece Harry Potter? Como não sabe quem é o Você Sabe Quem? Todos do nosso mundo já ouviram falar deles! Não há uma só criança que não conheça ambos os nomes hoje em dia...

Luisa mordeu o lábio. Então era isso que estava acontecendo... Oh, não! Ela se metera em uma grande enrascada agora. Era obvio que eles a haviam confundido com outra pessoa. Sim, só podia ser isso! Eles haviam parado para ela por engano e, sem querer, expuseram um monte de coisas que nem deveriam ser de seu conhecimento... O problema agora era: o que eles fariam quando descobrissem que ela não era o que pensavam que fosse? Só na suposição, a garota já sentiu o estômago embrulhar. Teria que fingir ser uma “bruxa”. Não podia deixá-los desconfiar do contrário, pois, se por acaso isso acontecesse, eles estavam em muitos ao seu redor... E ela era só uma.

Por isso mesmo, Luisa foi logo emendando, assim que teve chance:

—Ah, claro! Sim, é mesmo! Desculpe minha confusão... É que eu caí hoje cedo, e acho que bati a cabeça um pouco forte demais –inventou, apesar de tudo ter realmente um fundo de verdade. Por mais incrível que pareça, Lalau acreditou nela.

—Oh, entendo. E posso imaginar que deve ter sido uma queda bem feia... O sangue ainda não está seco. Dá pra ver que os hematomas ainda são bem recentes –e, pela primeira vez naquela noite, Luisa ficou realmente feliz por ter se ralado toda ao cair do vórtice.

—Sim. Ah, e obrigada por estarem me levando para algum lugar povoado por sua gente... Digo, por nós. –corrigiu rapidamente. –Nem imaginam os apuros que tenho passado hoje... Eu só queria mesmo algum lugar para poder dormir um pouco e quem sabe, comer alguma coisa.

—Ah! Conhecemos o lugar perfeito para isso, não é Ernesto?—disse Lalau empolgado, cutucando o motorista. O homem deu um salto na cadeira, como se estivesse cochilando ao volante e fosse pego de surpresa. Imediatamente puxou o cambio e disse:

O Caldeirão Furado! Caldeirão Furado! É. É.—e nisso, o ônibus de outra guinada, disparando muito mais rápido que antes, e fazendo Luisa quase se achatar contra a própria cama.

—Já estamos quase chegando –comentou Lalau, depois de algum tempo em silêncio, só observando o trajeto de guinadas e trancos inesperados. –O que me faz lembrar que você precisa me pagar a passagem...

Luisa sentiu alguma coisa dentro de si congelar.

A-a passagem?—gaguejou, mas ele nem a ouviu direito. 

—Onze sicles. –anunciou ele, por conveniência. -Lembrando que por catorze você ganha chocolate quente, ou frio, se preferir para o dia de hoje; por quinze, um saco de água quente e uma escova de dentes da cor que você quiser... E hoje estamos com uma promoção especial para “bruxos perdidos demais da conta”: Neste caso, por apenas doze sicles, você ganharia um mapa exclusivo de toda a comunidade Bruxa, em Londres. Poderia localizar facilmente cada lugar desejado, isso sem esquentar a cabeça com feitiços complicados ou vassouras velhas azaradas...

Luisa respirou fundo, forçando um pouco o ar para entrar e sair adequadamente, certamente sentindo que seus pulmões precisariam de um empurrãozinho para darem conta do recado.

Sicles... –refletiu. –Que diabo deve ser isso?—perguntou a si mesma, inaudívelmente. Já estava cogitando perguntar a Lalau se eles aceitariam dinheiro, quando o ônibus deu uma freada francamente mal calculada que fez Luisa bater a cabeça com tudo na parece, e perder a consciência pouco depois.

Na pouca percepção que lhe restou, só teve certeza de que o ônibus parou para mais alguém embarcar. Por fim, ela viu de relance uma figura alta e magra, de vestes longas e cinzas, adentrando ao Nôitibus. Lalau se prontificou para dizer seu costumeiro “discurso de boas vindas”, mas mudou imediatamente a postura ao perceber de quem se tratava. Ernesto, o motorista, também ficou realmente surpreso em encontrar o tal homem por ali e, em certa parte, honrado, pois não parava de repetir: “Não acredito! O senhor por aqui? Já faz tanto tempo... Tanto tempo desde Hogwarts!”.

Luisa ouviu uma risadinha vinda do outro, e então, o recém chegado olhou para ela. Instantaneamente, a garota sentiu as pálpebras pesarem e aderiu ao desmaio, ficando fora de si.

 

*     *      *

LUUUUIIIIISAAAAA!

Na TARDIS, o Doutor desgrenhava os próprios cabelos, perturbado, ao olhar para o vórtice. Não conseguia assimilar o que acontecera; Não queria aceitar a perda da amiga... Naquele momento de desespero, alguma coisa cresceu dentro dele. Um sentimento de consternação e ira...

A essa altura, não resta dúvidas que Luisa caíra por causa das portas mal fechadas; O Doutor sabia quem ficara encarregado de fechar as portas...

—Doutor! Por que raios a TARDIS... Oh, meu Deus, o que aconteceu aqui? –exclamou Melissa, ao se deparar com o estado deplorável da sala de controles. Olhou para o painel e viu os esquilos escondendo-se dentro da tampa da máquina de escrever, para escapar da ventania. –Está tudo uma bagunça, veja só que lástima! As poltronas estão todas empilhadas... Há correntes e cabos quebrados; Sem contar o estrago lá de dentro –e apontou para os corredores internos da TARDIS. –, está tudo fora de controle! Tem salas que estão de cabeça para baixo, literalmente! Ei, Doutor? Doutor... Está me ouvindo? Será que dá pra fazer a TARDIS parar de brincar de “montanha russa” de uma vez por todas? Tem gente com o estômago sensível à bordo, sabia? Olha, se não quiser ver seu tapete sujo de vômito, eu aconselho se apressar e...

—Luisa caiu. –o rapaz disse, de repente.

—Ah. É óbvio que ela caiu! Todo mundo caiu na “pegadinha” da TARDIS... Uma pegadinha DE MUITO MAU GOSTO, se quiser saber minha opinião –disse, olhando feio para a cabine ao seu redor.

—Não, não. Você não entendeu... Eu disse que a Luisa caiu...

—Sim, sim. Todo mundo levou um tombasso com essas guinadas INCONSEQUENTES! –ela deu um chute leve no corrimão da nave. O Doutor começou a balançar a cabeça histericamente.

—Não! Não! Não! Por que você nunca escuta o que eu tenho pra dizer?—reclamou.

—É porque você quase nunca fala sério, então, tipo, eu me distraio na maioria das vezes que você abre a boca e aproveito até para tirar um cochilo de vez em quando...

O Doutor fez um bico, inconformado.

—Você vai deixar eu explicar ou pretende ficar de brincadeira o resto do dia?

—Tá, tá, fala logo –ela cruzou os braços, revirando os olhos.

—Eu estou tentando lhe dizer que a Luisa caiu NO VÓRTICE e você fica aí de palhaçada! –rugiu, rabugento.

—Nossa, mas como você é exagerado! Sempre vem com essas “expressões malucas” pra cima de nós... Já se perguntou porque ninguém te atura por muito tempo? Bem, em grande parte é por essas suas esquisitices particulares... –disse, dando-lhe as costas. –Luisa? Ô Luisa! Amiga? Cadê você? –disse, procurando-a pela sala. O Doutor estapeou a própria testa. Era obvio que Melissa não havia captado a essência do problema. -Onde você se enfiou? Está dentro do armário de casacos? Já pode sair agora... É seguro!

O Doutor deu uma corridinha até ela e puxou-a para olhar para ele.

—Melissa! Luisa não está aqui, ela... –então parou de chofre, ao ver o olhar confuso da menina. De repente, as palavras certas se perderam em sua boca. -Droga! –ele esfregou os cabelos com força. -Como é que eu vou te dizer isso?

—Me dizer o quê? –ela ficou séria, copiando a expressão dele.

O Doutor respirou fundo, baixando os ombros. Depois fitou-a com sensibilidade. 

—Sabe, eu não estava inventando gírias quando disse que a Luisa caiu no vórtice.

Melissa levou um tempo para assimilar aquilo. Porém, quando o fez, ficou muito claro, pois ela arregalou os olhos e espichou o pescoço acima dos ombros dele, mirando as portas azuis abertas. Quando voltou a encará-lo, estava completamente perplexa.

Quer... Quer dizer que ela... As portas... O quê... O que aconteceu aqui, Doutor? Você, você precisa me contar, e rápido!—disse, por entre soluços. O rapaz a fez sentar, com calma, e depois, ajoelhou de frente para ela, segurando-a pelos ombros.

—Você precisa ser forte...

—Não... Odeio quando começam com essa frase. Sempre antecipa uma má notícia. –ela limpou uma lágrima antecipada, do canto do olho.

—Eu sei, eu sei... –ele disse, cabisbaixo. -Vem cá... –e deu-lhe um abraço reconfortante, que foi o bastante para Melissa compreender que alguma coisa realmente grave havia acontecido em sua ausência. Os esquilos aproximaram-se dos dois, abatidos. Os mais novos enterravam as cabeças nos ombros dos outros.

 Conforme a ficha caiu, Melissa começou a chorar.

—O que está acontecendo? –Harry chegou logo depois. Os amigos se separaram do abraço. O olhar do Senhor do Tempo recaiu sobre Harry do modo mais penetrante possível. Sem cerimônia, ele se levantou e caminhou na direção do popstar, carregado de raiva.

—Você não fez o que mandei. –anunciou, com o maxilar trincado. A voz levemente trêmula.

—Está falando de quê? –Harry ergueu uma sobrancelha.

Você não fechou direito as portas quando eu disse que era primordial para a segurança de todos nós!—gritou, irado.

—Não fechei mesmo –admitiu Harry, dando de ombros. –E daí? Você não manda em mim. O que o fez pensar que eu o obedeceria?

De repente, a coisa toda saiu do controle. Melissa piscou por um segundo, e, quando tornou a abrir os olhos, deparou-se com o Doutor e Harry partindo para a ignorância. De um segundo para o outro, ambos atracaram-se, começando uma briga feia (O Doutor puxando Harry pelo colarinho da camisa e Harry tentando dar um murro no Doutor), de modo que Melissa teve que correr para apartar a situação, antes que o pior acontecesse.

Parem! Parem! PAREM! Já chega vocês dois!—berrou, ainda não recuperada do baque. –Lamento Doutor, mas isso não vai trazer Luisa de volta... –fungou, sentida, segurando os ombros do amigo.

—Luisa? Aconteceu alguma coisa com ela? –Harry indagou, meio confuso, meio surpreso.

O que você acha?—o Doutor disse, exaltado. Seu peito começou a inflar aceleradamente de novo. –Luisa caiu no vórtice e é tudo culpa sua!

Ela o QUÊ?—Harry ficou chocado. Chocado e extasiado. Olhou para as portas azuis algumas vezes, perturbado com a idéia da menina ter caído por sua falta de zelo. –Não... Espera... Isso... Isso é uma brincadeira, certo? Está só querendo me assustar para mostrar o perigo que é “não trancar direito às portas da cabine”. É isso, não é? –confirmou com o Doutor.

O Senhor do Tempo fitava-o com frieza.

Você acha que eu teria coragem de brincar com uma coisa dessas?—retrucou, afastando-se deles ao sentir a calma recomeçar a escapar-lhe novamente.

—Não! Espera! Você não pode me deixar carregar esse fardo... Isso é... Isso é... Deus, não consigo suportar!—Harry desesperou-se, recuando para a parede, extremamente perturbado, com as mãos cravadas dentre os cabelos.

—Calma Harry –Melissa dirigiu-se a ele, soluçando. –Não escute tudo o que o ele diz. O Doutor está muito alterado. A verdade é que tudo isso mexeu muito conosco... Ainda é muito recente para nós, entende? –ela explicou, com a voz embargada. -Por isso, não fique com raiva dele se ele ficar irritado e descontar as injustiças da vida em você... –concluiu, passando e repassando os dedos com unhas esmaltadas pelos mesmos botões de sua camisa.

—Mas foi minha culpa, Lissa. Minha culpa. –arfou Harry, exasperado.

Calma Harry, calma... Shhh... –ela reclinou a cabeça do rapaz contra seu peito e começou a acarinhá-lo, dando-lhe o apoio que ele precisava, com uma força que ela nem sabia de onde vinha. –Shhhh... Está tudo bem...—contraindo o lábio, ela veio a contemplar o Senhor do Tempo no painel de controles. O rapaz correspondeu seu olhar de imediato, com o humor do avesso. Melissa suspirou, desiludida, concentrando-se novamente em acalmar Harry. –Você vai ver... Vai ficar tudo bem... Tudo bem.

Quem dera ela tivesse certeza disso.

Enquanto Melissa se ocupava com Harry, o Doutor varreu o painel de controles com o olhar distante. Porém, um estalo de esperança acendeu-se dentro de si quando deu de cara com o envelope, ainda lacrado, do Hospital de Nova Nova Iorque, portando os resultados dos exames de Luisa.

 

*      *      *

Luisa abriu os olhos. De início, enxergou tudo escuro, então esperou pacientemente até que a visão se estabilizasse. Mas, quando concluiu que a escuridão não iria embora, começou a ficar realmente preocupada.

Ainda por cima, ouviu uma conversa esquisita, aparentemente ocorrendo ao seu redor.

—O que você acha, profª McGonagall?

—Francamente Dumbledore, não sei. Em todo o tempo em que estive ensinando em Hogwarts, nunca vi nada neste nível... Chega a ser espantoso!

—Sim. Concordo. Porém, não posso fingir que nada aconteceu e simplesmente despejá-la em qualquer uma das casas. Isso seria contra as regras. Afinal, a função de um diretor é criar regras para melhor dirigir uma instituição de ensino. E não posso desobedecer minhas próprias regras. Isso seria ridículo.

—Então o que faremos, Alvo? Não podemos mandá-la de volta para casa... Nos tempos de hoje, não seria seguro. Mesmo com a recomendação da senhora Jackson, não devemos correr o risco de enviá-la de volta.

—Não. O lugar dela agora é aqui. Hogwarts irá protegê-la. Mantê-la em segurança, até que as coisas se acalmem lá fora. Acredite Minerva, isso é o melhor que podemos fazer, por enquanto. 

Luisa começara a se perguntar se estaria ficando maluca, quando inesperadamente uma vozinha falou ao seu ouvido, ou talvez dentro de sua cabeça...  Em todo caso, para seu horror, não era a voz do Doutor.

Ah. Vejo que a senhorita Jackson finalmente se juntou a nós.—a voz deu-lhe as boas vindas. Mesmo assim, tinha um tom cínico. –Puxa... Está cheia de caraminholas na cabeça. Oh, sim!

Luisa gelou por completo.

—Socorro! Socorro! Fiquei cega! Alguém me ajude a sair daqui? SOCORRO!!! –gritou, agitando-se no lugar e desmontando no chão logo em seguida. Bem, ela não sabia que estivera sentada em um banquinho tão estreito.

—Santo Deus! -quando caiu, o homem e a mulher que conversavam inclinaram-se para observá-la. –Ela parece ter recuperado a vivacidade, Alvo. Devemos nos preocupar com isso?

—Não, profª Minerva, garanto que ficará tudo bem.

Bem?—Luisa ergueu-se sentada no chão. Continuava enxergando tudo escuro. –Eu tenho cara de quem está se sentindo bem? EU NÃO ENXERGO!!! –arfou, começado a tatear as coisas, abobada. Por fim, sua mão conseguiu segurar firme em alguma coisa.

—Epa! Parece que ela encontrou minha canela! –disse Dumbledore.

—Alguém me ajude, por favor! Eu não consigo ver n-a-d-a... –suplicou Luisa, aproveitando que já estava segurando a canela do homem, para implorar de vez.

Luisa não conseguiu ver, mas Alvo Dumbledore lançou um sorrisinho amistoso para ela.

—Mas é claro, você está com o Chapéu Seletor cobrindo os olhos! Permita-me ajudá-la a removê-lo –e, antes mesmo que Luisa esperasse, uma luz começou a surgir de uma das laterais de seu rosto, conforme uma espécie de barreira escura foi retirado da frente de seus olhos. No segundo seguinte, ela recuperara a visão completamente e descobriu-se de frente para um homem alto, magro e muito velho, com barba e cabelos prateados, além de muito compridos (suficientemente longos para prender no cinto), vestes longas, uma capa púrpura, que arrastava no chão, e óculos em meia lua, destacados na face, por cima do nariz adunco. Ao seu lado, uma mulher de aspecto severo, que usava óculos de lentes quadradas (e espiava por cima destes, avaliando a menina da cabeça aos pés), também usava vestes peculiares como uma capa verde-esmeralda, e tinha os cabelos negros (um pouco esbranquiçados em alguns pontos) presos em um coque incrivelmente apertado. O homem segurava um chapéu pontudo preto, nas mãos. Um chapéu surrado, remendado, esfiapado, muito encardido e desbotado em alguns pontos, que aparentemente, estivera em sua cabeça.

“Que nojo!” –Luisa pensou. Aquele chapéu devia ter um dono bem descuidado para estar naquelas condições... Agora, o que eles pretendiam ao colocá-lo na cabeça dela? Afinal, quem eram aquelas pessoas? A última coisa que se lembrava era de ter estado em um ônibus roxo berrante de três andares... Ao menos que aquilo tivesse sido um sonho, e ela estivesse despertando agora, finalmente para a realidade. Apesar de que, do jeito que aquelas pessoas estavam vestidas, era difícil de acreditar que poderia estar em algum tipo de lugar normal...

—Ah, olá –Luisa disse, um pouco sem jeito.

—Alô –disse Dumbledore, sorridente. -Seja bem vinda a Hogwarts!  

—Hogwarts?

A profª McGonagall limpou a garganta.

—O Diretor Dumbledore foi buscar a senhorita no Nôitibus Andante, na madrugada de hoje, para trazê-la em segurança até nossa escola, onde você deve permanecer pelos próximos semestres.

—O QUÊ? –Luisa quase teve um troço. –Semestres? Escola? Mas... Como assim? Eu acabei de me formar!

—Sim. –concordou Dumbledore. -Formou-se nas matérias convencionais dos não mágicos. Matemática, geografia e tantas outras... Porém, creio que a senhorita nunca tenha freqüentado uma escola para realmente lapidar suas habilidades mágicas.

Habilidades mágicas?—Luisa teve uma súbita parada respiratória. Primeiro Lalau, e agora isso!? Não era a toa que estava sentindo-se enlouquecendo a cada minuto mais... Aquele povo só podia mesmo estar curtindo uma com a cara dela, ou realmente todos a haviam confundido com outra pessoa. –Isso só pode ser um sonho... E daqueles bem malucos.

—Não é um sonho, minha cara. Somos tão reais quanto você. –interpôs a profª Minerva. –Então, vamos às formalidades: Eu sou a professora Minerva McGonagall, chefe da casa Grifinória. E este é o Diretor Dumbledore. Alvo, Dumbledore; da escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

—Que é onde você está neste instante. –completou o diretor. Luisa ficou completamente extasiada.

Após não detectar qualquer confirmação vinda da menina, a profª Minerva voltou-se para o diretor, resolvendo trocar uma idéia ali mesmo, na frente da garota, falando em alto e bom som, quase como se pensasse que Luisa não poderia entendê-los.

—É pior do que eu pensei, Alvo, ela não está fazendo conexão com nenhuma das informações fornecidas por nós. Pensei que, mesmo não estando freqüentando nosso mundo, como deveria, ao menos sua mãe teria lhe dado o mínimo das explicações necessárias para compreender, pelo menos, quem ela de fato é, de verdade. –comentou a profª, com olhos bem arregalados na direção de Luisa. -Isso está virando um hábito hoje em dia. Como se não bastasse aquela família deplorável dos Dursley mentindo para Harry Potter sobre sua verdadeira história...

Luisa sentiu aquela informação estalar em sua cabeça.

—Sim! Eu reconheço esse nome! Harry Potter e... “Você-Sabe-Quem”. Não é? Ouvi falar deles no Nôitibus. Eles são famosos, não são?

Hum! Muito mais que famosos. Praticamente, lendas ambulantes. –confirmou a profª McGonagall. Luisa assentiu. Pelo menos estava por dentro de alguma coisa por ali. –Contudo, apenas saber seus nomes não significa muito agora... Você sabe da história da qual esses dois ícones pertencem?

Meleca! Como aquela mulher fora capaz de desfazer tão rápido as expectativas de Luisa?

—Hã... Não. Desculpe. Não sei mais nada a respeito deles. –admitiu, desviando os olhos.

A professora trocou um olhar preocupado com o diretor. Dumbledore ajeitou a capa e caminhou tranqüilamente até sua mesa. 

—Bom, professora, se puder nos dar licença agora, eu gostaria de tratar do assunto das casas com nossa nova aluna.

Casas?—Luisa prontificou-se na direção dele, ao mesmo tempo que a professora se retirava. –Mas... Como assim? Eu pensei que estavam me convidando para estudar aqui, não para comprar uma casa!?

Alvo Dumbledore riu com a confusão dela.

—Bem, parece que a senhorita não está apenas um pouco por fora dos nossos métodos de ensino –achou graça. –Mas não se preocupe, eu irei esclarecer todas as sua dúvidas... Bem, ao menos que não puderem ser esclarecidas. Neste caso, sigilo completo é meu nome do meio. –disse o diretor, com ar divertido. –Pois bem, comecemos do principio: Hogwarts é uma grande escola. E foi fundada por quatro brilhantes bruxos diferentes, sendo estes Godric Gryffindor, Salazar Slytherin, Rowena Ravenclaw e Helga Hufflepuff. Cada um deles fundou sua própria casa, dentro da escola, cuja os alunos representariam e teriam suas cores como símbolos próprios. As casas são Grifinória, Sonserina, Corvinal e Lufa-Lufa. Todo ano, alunos novos chegam para estudar aqui e, passam por uma seleção do Chapéu Seletor, que já é comum na cerimônia de boas vindas. –Dumbledore ergueu o chapéu velho e roto, que estivera na cabeça da garota, e agora se encontrava em cima da mesa, para ilustrar a informação. –O Chapéu Seletor nada mais é do que um chapéu com um encantamento próprio, destinado a entrar nas mentes dos alunos e, a partir de suas qualidades particulares, determinar a qual casa eles devem pertencer.

Com isso, ele fez uma pausa, apoiando a cabeça nas duas mãos entrelaçadas e fitando-a demoradamente. Luisa ergueu as sobrancelhas.

—E aí? Ele estava na minha cabeça, certo? O que foi que ele previu sobre mim? –“muito provavelmente que eu não sou uma bruxa, para começo de conversa”, pensou Luisa. Mas, para sua surpresa, Dumbledore não disse nada parecido.

—É curioso, porque nunca houve um aluno iniciante da qual ele não conseguisse ler a mente. Talvez, algum aluno já experiente o bastante para bloquear os pensamentos com encantamentos complexos e avançados, mas nunca alguém que jamais tenha freqüentado uma única aula de magia na vida. –ele disse, fitando-a como se sua própria existência fosse uma incógnita. –Contudo, isso aconteceu bem na minha frente, hoje. Nesta mesma sala... Com a garota com quem estou falando neste exato minuto. —e lançou-lhe um olhar significativo.

Luisa fitou-o demoradamente. Pensou em morder o lábio, mas resistiu; Um arrepio breve percorreu seu corpo quando a idéia do bloqueador telepático do Doutor lhe passou pela cabeça. Da ultima vez que conversaram sobre isso, o amigo acabara admitindo que o “recurso” não se estenderia para os segredos dela... Contudo, haveria alguma probabilidade disso ter acontecido agora? Pois, em geral, até onde sabia, o bloqueio só se estendia às lembranças dele, presentes na mente dela... Ao menos que alguma outra coisa houvesse se ativado depois, e espalhado o tal “ocultamento” por toda e qualquer informação muito particular ou importante sobre a garota. Talvez, fosse por isso que o Chapéu Seletor não havia tido sorte com ela. Talvez seu nível de telepatia fosse inferior ao bloqueador psíquico de Luisa, ou ele poderia existir em uma freqüência tão pequena, que seria quase in-detectável por qualquer outro ser. De uma forma ou de outra, era uma incógnita. Uma pena o Senhor do Tempo não estar presente para ser consultado e dar as devidas explicações. Afinal, como ela, uma mera humana, poderia explicar o funcionamento de uma coisa tão complexa e alienígena, ao diretor de uma escola de magia e bruxaria?

Os segundos foram passando e Luisa não encontrou as palavras certas. Por fim, Dumbledore indicou-lhe a cadeira mais próxima.

—Sente-se, por favor.

Luisa obedeceu, por mais que quisesse muito ouvir que estaria liberada para poder voltar para casa e curtir suas férias de fim de ano em paz, ou quase isso.

Voltou a prestar atenção em Dumbledore. Ele se levantava da cadeira.

—Espere só um momento –e, num piscar de olhos, desapareceu por detrás de uma cortina âmbar, nos fundos da sala. Neste meio tempo, Luisa aproveitou para observar melhor o lugar que a rodeava. Tratava-se de uma sala bonita e circular, cheia de ruídos engraçados, cacarecos e geringonças prateadas que soltavam baforadas de fumaça, espalhadas por todos os lados. Parecia um tipo de oficina, decorada com muita mobília antiga. Algumas eram homogêneas, outras tinham cores e formatos diferentes, como os pés da própria mesa do diretor, que pareciam garras de animais.

As paredes estavam cobertas de quadros, de o que pareciam ser antigos diretores e diretoras. O mais curioso, (incluindo umas quatro ou cinco obras que, apesar de terem nomes de pessoas nas bases das molduras, não tinham imagem alguma retratada) é que, a maior parte deles fora pintado a óleo, e seus bustos estavam encostados nas molduras, apoiando as cabeças, e de olhos fechados, como se tirassem cochilos. Apurando bem os ouvidos, era quase possível ouvi-los roncar... Mas, ao pensar nisso, Luisa balançou a cabeça, convencendo-se de que deveria ser o barulho de alguma das geringonças, confundindo sua percepção. Era obvio que os quadros não podiam estar dormindo, isso seria muita loucura!

O som de alguma coisa caindo dispersou os pensamentos de Luisa e ela tornou a olhar para o canto onde o diretor Dumbledore se enfiara. Ouviu outro ruído estranho e rapidamente ergueu a cabeça, surpreendendo-se ao encontrar um grande pássaro vermelho, pousado em um escudo de aspecto medieval, próximo ao teto, em forma de cúpula. –Tratava-se de uma Fênix genuína; Luisa ficou surpresa ao constatar sua existência, porém, tendo conhecimento em mitologia e absoluta certeza de que não estava sonhando, era praticamente impossível negar os fatos diante de seus olhos. Em seqüência, a fabulosa ave mística fitou-a também, com curiosidade. Durante algum tempo, ambas ficaram entretidas, observando uma a outra, até que Dumbledore finalmente retornou, trazendo um livro consigo. Para a empolgação de Luisa, o bonito pássaro alçou voou até a mesa e parou sob um poleiro de madeira, instalado ao lado da cadeira do diretor, ao mesmo tempo que ele tornava a se sentar.

—Muito bem, aqui estão as provas de que precisa para acreditar em mim, sobre essa coisa toda de “escola de magia e bruxaria” –e empurrou-lhe o livro, em tom brincalhão. Depois de alguns instantes só observando o material, Luisa abriu-o devagar, e surpreendeu-se ao ver que não tratava-se de um livro, mas de uma caixa em formato de livro. Com a permissão do diretor, a garota rapidamente começou a revirar o conteúdo da caixa. Lá encontrou um registro com seu nome, que aparentemente constava em uma lista de matricula, desde 2010, onde ela teria 11 anos. Luisa depositou-o devagar sobre a mesa, e passou para o próximo item: uma carta amarelada, endereçada com tinta verde, com os dizeres: 

Senhorita L. Jackson

O penúltimo quarto do corredor, sem tranca;

Rua Girassol Carmim;

A primeira casa que o sol bate pela manhã;

São Valley.

 

—Epa! Mas esse era o endereço da minha primeira casa! –disse, numa mistura de empolgação e espanto.

—Sim, porque naquele tempo você morava lá, e sua carta de Hogwarts foi enviada para o endereço correspondente; Esse envelope é uma das cópias que lhe foram enviadas na época.

—Uma... Das cópias?—Luisa olhou para a carta em suas mãos, e de repente, sentiu como se ela fosse a porta para uma centena de respostas. –Quer dizer que eu recebi mais de uma?

—Exato. É nosso dever insistir. O correio não é cem por cento eficaz. Cartas podem ser extraviadas se uma coruja for capturada ou tiver dificuldade de chegar ao seu destino.

—Uma... Coruja?

—Correto. Todas as suas cartas chegaram por meio do correio coruja. Contudo, sua mãe parecia ter outros planos para você. –e acertou os óculos no nariz. -Veja o próximo bilhete. Ele esclarece melhor as coisas.

—Minha... Mãe?—Luisa piscou, ainda mais confusa. Sem abrir o envelope, colocou-o de lado e passou para o próximo item, como instruíra o diretor Dumbledore.

Ansiosa pelo que poderia vir a descobrir, Luisa desdobrou a próxima folha amarelada e devorou cada palavra escrita, sem fazer qualquer pausa.

Prezado Profº Dumbledore,

Enviei a carta pelo correio coruja assim que pude, mas o que vou dizer pode não deixá-lo muito satisfeito. Sei que o senhor faz realmente questão que a minha Luisa estude em Hogwarts, assim como eu também faria, sobretudo, se fossem outros tempos... Porém, com todos esses boatos sobre “Você-Sabe-Quem ter supostamente retornado”, e todas as coisas terríveis que ele já fez, não sei se posso entregar minha única menina para aprender magia e bruxaria. E sim, eu sei que o senhor vai dizer que eu estou sendo ainda mais tola que os próprios trouxas, e extremamente precipitada por decidir privar minha filha de conhecer sua verdadeira essência; mas a verdade é que ela tem outras essências também, e eu acho muito perigoso misturar tantos conhecimentos...

Sinto muito decepcioná-lo. O senhor sabe que eu o respeito, acima de tudo, mas não posso arriscar...

De qualquer jeito, é muito bom saber que Hogwarts estaria de portas abertas para ela.

Com votos de que os boatos não passem de comentários maldosos de algum bruxo desocupado,

Sally Jackson.

 

Luisa não podia acreditar. Aquela era a letra de sua mãe! Então ela sabia? Acharia normal ouvir sobre tudo o que estava se passando com ela agora? Toda essa história da Magia e Bruxaria então era mesmo real! Não, mais do que isso... Era algo sério de verdade!

—Surpresa? –sondou o diretor, lendo a resposta estampada no rosto da menina. –Sua mãe não lhe contou nada, não foi? Já era de se esperar... Nunca entendemos exatamente o porque ela quis esconder tudo isso de você, já que também teve uma educação mágica, e, ainda por cima, usando aquela velha desculpa sobre o Lord Voldemort. Esse é o verdadeiro nome do Você-Sabe-Quem. –esclareceu, ao vê-la franzir a testa. –A maioria das pessoas tem medo de pronunciá-lo, mas eu acho tudo isso uma grande bobagem sem fundamento. Enfim, –e olhou-a significativamente, por cima dos óculos de meia lua. –O que você pensa sobre isso? Acha que ela agiu certo?

—Não sei. Não imagino como seria ter estudado aqui. –admitiu Luisa, sincera.

—Bem... Talvez agora possa ter uma idéia, pois querendo ou não, você acabou vindo parar sob nossa proteção, aqui em Hogwarts. E, independente do que sua mãe decidiu por você, há seis anos atrás, está absolutamente anulado de agora em diante.

—Então, isso significa...? –instigou Luisa.

—Que aceitaremos você aqui, mesmo tendo perdido vários anos letivos. –completou o diretor, simpaticamente. –Claro que não será fácil recuperar o tempo perdido. Você com certeza faltou a muitas aulas... O certo seria deixá-la começar o curso desde o princípio, mas, justamente pelo fato de você acabar sendo a mais velha da turma, e desta forma, acabar criando especulações, eu presumo que seria melhor você ter aulas particulares. Desta forma, não seria difícil deixá-la circular pela escola, para fazer amigos da idade a que lhe convir. –ele depositou a mão de dedos finos e compridos, sobre o ombro dela. –Sei que é difícil assimilar tanta coisa, especialmente da forma com que as notícias chegaram aos seus ouvidos. Mas, gostaria que soubesse que Hogwarts estará sempre de braços abertos para qualquer um que deseja estudar magia, independente de sua idade ou nacionalidade. –e deu-lhe tapinhas consoladores nos nós dos dedos, dedicados a segurar o papel. -Lembrando que talvez você não deva dar muitos detalhes sobre sua história particular, aos outros alunos. É sempre bom manter alguns segredos. Acaba sempre sendo útil para alguma coisa, no final. –aconselhou Dumbledore, dando-lhe uma piscadela.

—Oh, sim. Claro. –Luisa concordou. –Não era mesmo minha intenção sair por aí falando mais do que a boca. Sabe, eu não sou muito do tipo “falante”; especialmente em lugares novos, que ainda não estou habituada. –tagarelou. O diretor fitou-a com ar divertido -Ah, a propósito: como farei para ir para casa no fim de cada dia? Até onde sei, minha mãe mora no Brasil já faz um bocado de tempo, e não há uma condução direta para lá, ou há? Eu terei de pegar o Nôitibus todas as noites e pedir que me levem para casa?

Dumbledore sorriu.

—Não, não minha cara. Acho que você ainda não compreendeu a política das “Casas de Hogwarts”. Elas não são apenas “times com cores diferentes”; Claro que são essenciais para a época do Quadribol, mas isso não é o intuito principal da coisa. A nossa escola fornece dormitórios secretos, chamados de Salões Comunais, correspondentes a cada uma das quatro casas. Você precisará de uma senha para entrar, da qual apenas os alunos da mesma casa terão conhecimento. Por isso é que é importante nós determinarmos qual será a sua casa, entende? Qualquer um dos quatro salões poderá se tornar sua estalagem por um longo período e precisa refletir suas maiores qualidades, pois elas poderão, e devem, trazer pontos para sua equipe.

Um silêncio se seguiu. A garota se pôs a refletir; a ave vermelha piou ao lado do diretor, mas nem assim conseguiu desconcentrar Luisa, agora que havia uma idéia intrigante habitando sua mente.

—Mas, se as coisas funcionam assim, então, o que o senhor acha que aconteceria se o tal chapéu não determinasse qual casa eu devo representar...?

Dumbledore coçou a cabeça. Ficou bastante claro que eles não deviam ter uma regra, em Hogwarts, para resolver uma hipótese alternativa, como no caso dela.

—Bem, isso caberá somente a você. Não costumamos abrir exceções, mas, se o Chapéu Seletor não conseguir designá-la para uma das casas, então, acho que nada mais justo do que deixá-la escolher uma.

—Quer dizer que eu vou poder decidir para qual casa eu quero ir? –Luisa arregalou os olhos. –Mas, e se eu fizer uma má escolha? E se a minha casa não tiver nada a ver com minhas habilidades?

—Bem... Dadas as circunstâncias, creio que a boa e velha “tentativa e erro” seja a única forma agora de você descobrir a qual casa pertence. –avaliou ele.

—Mas... Será que o senhor não poderia me fornecer, tipo, uma ficha com os perfis de cada uma das casas? Talvez isso ajude a me encaixar em algum dos padrões, e também, seja um pouco mais fácil de escolher...

—Bem, está certo. Vejamos, Lufa-Lufa costuma ser... –e antes que o bruxo conseguisse concluir sua frase, ouviu-se uma batida na porta. –Sim? Pode entrar. –permitiu Dumbledore, em um tom meio vago, por conta do raciocínio interrompido.

—Desculpe atrapalhá-lo diretor Dumbledore, mas estão precisando de mais duas bolas de cristal na torre de Adivinhação, da professora Trelawney; Parece que dois alunos da Sonserina ficaram sem material ao explodirem acidentalmente suas bolas de cristal contra um rapaz da Lufa-lufa. Estão precisando repor material. Disseram para eu vir pegar com o senhor. –disse uma garota loira, com vestimentas cinzas e adereços estranhos como um par de brincos de arame em formato de rabanete e um colar com pingente de rolha de garrafa. Demorou-se um pouco para notar Luisa também no ambiente, porém, quando o fez, seu sorriso foi instantâneo. –Ah, olá!

—Olá. –disse Luisa, rapidamente. Dumbledore olhou de uma para a outra seguidamente, refletindo.  

—Hum –pigarreou, levantando-se, e ganhando a atenção das duas novamente. –Bem, sim. Sem problemas, Luna, vou buscar duas bolas de cristal. Vejamos, devo tê-las guardado por aqui... em algum lugar... –então andou na direção de um baú e abriu sua tampa pesada e barulhenta. –Hã, a propósito, esta é Luisa Jackson. Ela é uma aluna de intercâmbio. –inventou. –Passará a freqüentar Hogwarts a partir de hoje.

—Oh! Que maravilha! –Luna antecipou-se na direção de Luisa, rapidamente. –De qual país você veio?

—Hã... Do Brasil. –Luisa respondeu, após se entreolhar rapidamente com o diretor. Luna se empolgou.

—É mesmo? É legal lá? Sabe, eu nunca estive fora do país... Me chamo Luna Lovegood.

—Ah, muito prazer. E, sim. Lá é bem legal. –afirmou Luisa. –Mas eu pretendo terminar o curso em Hogwarts, a partir de agora. –confirmou.

—Ah, sério!? Que supimpa! Essa é uma ótima notícia... –então fitou Luisa com olhos sonhadores e cheios de expectativas. –A qual casa você pertence?

Luisa pensou para responder.

—De qual casa você é?

—Eu sou da Corvinal. –sorriu Luna, amigavelmente.

—Caramba! Acredita que eu também sou?—emendou Luisa. De onde estava, Dumbledore sorriu, balançando a cabeça, achando graça.

—Jura? Que massa! Então, nós podemos dividir o quarto... Tem uma cama vaga no meu dormitório.

—Sério? Que ótimo!

—Tome, Luna Lovegood. Aqui está o material para repor –disse Dumbledore. Entregou à menina loira, duas esferas de cristal, com bases de madeira talhada, que expeliam fumaça turquesa do lado de dentro; voltou-se para Luisa e, sem dizer nada, entregou-lhe a caixa em formato de livro, com toda a papelada referente a ela. –Escute, Luna, por que você não leva a aluna nova para conhecer o salão comunal da Corvinal? Diga à professora Trawlaney que eu pedi para que a liberasse da aula mais cedo...

—Claro, diretor Dumbledore! –concordou Luna, animada. –Vem, é por aqui! –e fez sinal para Luisa seguí-la. A garota o fez, mas antes de desaparecer totalmente pela porta, lançou uma última olhada ao feiticeiro, que retribuiu com uma piscadela cúmplice, e bastante satisfeita, em retorno.


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Notas finais do capítulo

YES! Sejam bem vindos a HOGWARTS!!

KKKKKKK

Por essa vocês não esperavam, hein!? ;D



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