Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 102
Um outro lado da Garota Fantástica


Notas iniciais do capítulo

Hello!

Esse capítulo promete! ;)

Não vou dizer nadinha kkk



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Luisa já estava internada na ala hospitalar a bastante tempo, e o Doutor resolveu checar se estava realmente tudo bem. Encontrou uma enfermeira gata pelo corredor e perguntou-lhe quanto tempo mais a garota ficaria sob observação.

—Não podemos liberá-la hoje. Ela está dopada no momento. Nós demos um sedativo a ela para conseguir fazer todos os exames necessários. Ela se comportou bem, mas garanto que a seqüência de exames deixou-a cansada e ela não estará em condições de receber visitas. –acrescentou a mulher gato, ao perceber os olhos inquietos do Senhor do Tempo estudando as portas dos quartos fechadas, por cima de seus ombros.

—Ah... Certo. Nada de receber alta. Nada de visitas. Entendi. –ele mostrou os polegares para ela e tornou a caminhar pela extensão do saguão central, que tinha oito corredores derivados nas extremidades, onde ficavam as portas para os quartos dos pacientes internados em observação. 

Como as possibilidades de caminho eram muitas, a enfermeira gata apenas tomou seu rumo, sem olhar para trás, imaginando que o Doutor faria o mesmo. Mas ele escondeu-se atrás de um pilar e, assim que ela sumiu de vista e o ambiente ficou totalmente vazio, ele apanhou a chave sônica e saiu andando, rumo ao corredor 35.

—Nada de bisbilhotar, Doutor –disse consigo mesmo, enquanto a chave sônica causava uma explosão contida na fechadura do quarto 902. –Entendi. –e girou a maçaneta, devagar.

Adentrou em um ambiente escuro, da qual havia uma cama com os lençóis amarrotados... Sem qualquer vestígio de pacientes. Era estranho, porque ele conseguira ver, pelo canto do olho, a ficha que a enfermeira carregava constando a descrição do número do quarto em que Luisa estava. Mas, contraditoriamente, a menina não estava lá.

Deu dois passos para frente e sentiu uma correnteza de ar muito forte, que ignorou segundos depois. Caminhou até a cama e observou a forma como os lençóis haviam sido amarrotados. Com seu aguçado instinto de dedução, pôde perceber que a fronha estava manchada de alguma coisa vermelha; poderia ser sangue, ou remédio, talvez. Os lençóis foram amassados por alguém que já estava deitado na cama, pois o padrão em que fora jogado sugeria que o paciente levantou-se ás pressas... E, acima de tudo, a quentura, sobretudo no centro do colchão, provava que definitivamente alguém estivera ali ainda á pouco.

—Estranho –ele averiguou, ao que sentiu mais uma forte rajada de vento nas costas, e de repente, a porta bateu, fazendo-o se sobressaltar.

Subitamente, as luzes se acenderam e ele se deparou com Luisa, de braços cruzados, ao lado do batente.

—Luisa?

—Shhhhhhhhhhhhhhh! –ela se antecipou para cima dele, com o dedo nos lábios. –Fale baixo! Quer alertar a gataiada toda?

—Não, eu só... –ele gaguejou.

—Muito bem. Bom garoto... –ela disse, estalando os suspensórios dele, ousada.

O Doutor endireitou a coluna, enquanto ela se afastava. 

—O que está acontecendo aqui?

—Nada. Eu só resolvi agitar as coisas um pouquinho –ela se esgueirou, com as mãos deslizando na porta. –Eu fiquei tão sozinha aqui que cheguei a me sentir carente. –e fez um beicinho. Depois correu na direção do Doutor. –Você está tão bonito hoje... –e brincou com sua gravata borboleta.

—Hã... –ele recuou alguns passos em falso, até esbarrar em uma mesinha com rodinhas, que batia na altura de sua cintura, e derrubar todo o conteúdo que jazia em cima.

—Cuidado! –Luisa o puxou para si, exasperada.

Ouviu-se um barulho de cacos de vidro e, automaticamente, o Doutor supôs que alguma coisa muito delicada havia se quebrado. Sem perder a calma, ele, junto da amiga, voltaram-se para baixo e observaram a situação do desastre: no chão, próximo ao All Star dele, havia uma seringa de injeção espatifada. Com a quebra do material, um líquido vermelho vazou pelo piso. Talvez o mesmo líquido no travesseiro? Essa o Doutor nem precisou deduzir, pois Luisa foi logo dizendo:

—Uma gota disso e você vai começar a delirar –disse, em tom sombrio.

—Ufa! –ele enxugou a testa. –Ainda bem que você me puxou...

Só então perceberam que ainda estavam abraçados e logo trataram de se separar.

—Fique longe disso –Luisa advertiu mais uma vez, falando próximo à orelha dele. –Tentaram me aplicar uma dessas para dormir, mas eu resisti.

—É. Eu percebi. –ele observou novamente o travesseiro todo manchado, por cima dos ombros dela.

Distraiu-se por um momento, e quando olhou de novo, Luisa havia desaparecido. Virou-se às pressas e deparou-se com a amiga agora atrás de si, de braços cruzados, com as costas apoiadas na parede, observando fixamente alguma coisa nele que parecia lhe atrair a atenção.  

—O que foi? –ele virou a cabeça para conferir sua retaguarda. –Caiu sedativo em mim?

—Nop. –ela riu, desviando os olhos de seu traseiro. –Besteira minha... –acrescentou, e tratou de mudar de estratégia.

Ele a observou caminhar, encabulado:

—Mas... Eu não compreendo. Como você pode estar de pé?

—Não estou. Ainda estou deitada.—ela disse, com ar de pouco caso, acertando a gola do casaco do Doutor, quando passou por ele. –Seu bobinho...

—Estou estranhando... Imaginei que entraria no seu quarto e a encontraria deitada. Uma enfermeira me disse que você estava grog...

—Ah, enfermeiras...—ela debochou, apoiando-se em uma bancada lateral, de modo que seus pés suspenderam-se acima do chão. –Não se pode confiar nelas... –disse indiferente, examinando o próprio esmalte das unhas. -Já olhou pra elas? São GATOS!

O Doutor cruzou os braços.

—Mas parece que disseram a verdade, no fim das contas.

—Como é? –ela ergueu a cabeça.

—Elas estão certas sobre não te liberarem. –ele disse, com um sorriso cético no rosto. –Realmente acho melhor você se deitar... –o rapaz tentou colocá-la na cama, mas a garota se desvencilhou.

—Não! Para quê? –resistiu, descendo de cima do balcão. –Nada feito! Eu não vou voltar pra lá! Não quero ser dopada de novo!

Ele sentiu o temor em sua voz.

—Ninguém vai dopar você. –o Doutor prometeu, estendendo a mão para ela com cuidado, como se estivesse tentando se aproximar de um animal arisco.

—As enfermeiras vão –Luisa retorquiu, desconfiada. –Você não vai chamá-las, vai?

—Não. –ele disse. –Pra começo de conversa, nem deveria estar aqui com você. Se as chamar, estarei igualmente encrencado. Não! Essa com certeza não é a solução.

—Também tem medo das enfermeiras? –Luisa perguntou, curiosa.

O Doutor ergueu as sobrancelhas.

—Elas te assustam? –retribuiu a questão. Luisa desviou os olhos. –Entendi. Eu também fiquei meio deslocado quando vim aqui pela primeira vez, mas acredite... Não há com o que se preocupar. –ele pediu que ela tivesse calma, com o auxilio das mãos. –A melhor parte em tudo isso é que estão cuidando de você, e amanhã bem cedo, vamos saber se está realmente tudo bem com sua saúde... –afirmou. -E, independente de tudo isso, sou eu que estou aqui agora. E eu não pretendo sedá-la... Pode confiar em mim. –ele enfatizou a mão estendida. Luisa observou a mão do amigo aberta, por um momento, esperando para ser segurada. -Venha... Descanse um pouco. Eu vou colocá-la na cama.

Segurar aquela mão era mesmo tentador... As chances de Luisa aceitar a proposta eram grandes; O Doutor colaborava bastante para isso acontecer: Mantinha um sorriso amigável no rosto durante todo o tempo, e dessa forma, era difícil dizer não.

Eu não quero. –ela recuou no último segundo, detendo o próprio punho, como se esse estivesse fissurado na idéia de segurar a mão o Doutor. –Eu agradeço, mas não quero dormir...

—Luisa... –ele começou, em tom de sermão.

—Mas... –ela recomeçou, silenciando-o. -Quero ficar junto de você.

O Doutor ergueu a cabeça, surpreso.

—Você quer?

—Quero. –ela disse com certeza, ainda segurando o punho. –Mas não na cama. –desviou os olhos para o móvel branco. –Ela me deixa... nervosa.

—Tudo bem então... –ele coçou a nuca, depois atou as mãos. –Eu vou até ai.

A menina voltou a se sentar sob o balcão. O Doutor juntou-se a ela e a expressão desconfiada sumiu do rosto da amiga.

—Ei... –também sentado sob o balcão, o rapaz ergueu o rosto dela, segurando a pontinha de seu queixo, fazendo-a sorrir. –Para quê tanta resistência, mocinha? Você não parece nada bem... –ele observou, preocupado.

—Verdade? Eu me sinto ótima. –ela deu de ombros.

—É, mas não está... –ele sorriu, compreensivo, segurando sua mão. –Tem alguma coisa diferente em você... Parece mais... Atrevida.

Puxa, obrigada!—ela riu, com ar delirante. –Devo admitir que não foi nada fácil corromper o sistema de câmeras de vigilância... –ponderou. -Modesta parte, um trabalho de gênio.

O Doutor ficou boquiaberto.

Mas... O quê?—gaguejou, incrédulo. -Você corrompeu o sistema de câmeras? Por que fez isso?

—Porque eu sabia que você viria. –ela disse simplesmente, balançando os pés no ar. –Eu sabia que viria me ver, mesmo sabendo que é proibido –o Doutor não contestou aquela afirmação. Afinal, ele estava ali, não estava? Luisa prosseguiu: –Então forjei uma trapaça na imagem de vídeo para que eles pensassem que a câmera ainda estava me monitorando, quando na verdade, o que estão vendo em tempo real é uma seqüência de imagens repetidas de pelo menos uma meia hora atrás.

—Puxa! Isso foi... Foi mesmo muito inteligente –ele se espantou.

—É. Eu sei! –ela pulou de cima da bancada, empolgada, e sucessivamente o puxou junto. –Eu tinha que me certificar de que ninguém nos veria dar uma escapada juntos durante a noite...

Espera aí! O quê? Dar uma escapada?—ele arregalou os olhos, ao que ela o puxou forte pelo braço. 

Vem!—e disparou pelo corredor do lado de fora, arrastando o Doutor junto de si. Ambos desceram as escadas (abaixando-se de vez em quando para não serem vistos) até o hall de entrada do hospital, onde havia um espaço pouco freqüentado, a um canto.

Ah! A gente conseguiu!—ela o abraçou. –Não fomos vistos por ninguém! É o novo recorde! Uhu!

—É. Nós somos bons de parceria –ele sorriu. –Ninguém vence a velha dupla!

Daquele momento em diante, ela começou a olhá-lo de um jeito diferente.

—Você é o melhor, sabia!? –Luisa suspirou.

—Eu? –ele riu.

—É! –ela saltitou, segurando as mãos dele e balançando-as de um lado para o outro. –Você é o cara mais legal que eu já conheci!

—Sério? –ele achou graça.

—É! –ela sorriu muitíssimo. –Você é muito legal. –começou a falar igual a uma bêbada. –Sabe? Não do tipo “só legal”... Você é do tipo muuuuuuuito legal! —e riu a toa. –Você viu o tamanho do meu “muito”? Não é um simples “muito”. É um “muuuuuuuuuuuuito!” –ela disse, abrindo os braços para ilustrar o tamanho do que dizia. Depois começou a mexer no cabelo dele e a desabotoar sua camisa, num ato completamente distraído. –Você é muito legal –por fim, ainda sorrindo, ela lhe cutucou as covinhas. –e fofo também.

—Ora! Quantos elogios! –ele agradeceu, abotoando de volta os botões desabotoados por ela, sem desconfiar de suas intenções. –Mas por que isso tudo agora?

—Ah... Por que você é meu melhor amigo –ela riu, rodiando-o. –E... –aproximou-se dele, com ar de quem vai fazer uma confissão. –Eu gosto demais de você.

—Eu sei. –ele afirmou em tom casual, mas ela o repreendeu.

Fala baixo! Não quero que eles descubram o que vamos fazer!—avisou emburrada. Depois olhou de um lado para o outro, meio paranóica. –Nós temos que ser rápidos para fazer aquilo...

Fazer aquilo? Pensei que já estivéssemos fazendo o que viemos fazer! –ele interpôs, confuso. –Nós já fugimos escondidos; Chegamos aqui sem ser descobertos; E você provou lá em cima que é boa de trapaça... O que ainda nos falta fazer hoje?

Luisa espremeu o dedo indicador contra os lábios dele.

—Shhhhh! –sibilou. -É um segredo!

Segredo?—ele franziu a testa. –Não estou entendendo... E, afinal de contas, porque precisamos sussurrar? Não estamos fazendo nada de errado...

—Tem razão. Ainda não fizemos nada. –então Luisa puxou o rosto dele contra o seu e o beijou numa tacada só.

Durante o beijo, o rapaz se remexeu todo, protestante. Mas a garota só o soltou quando começaram a perder o fôlego.

Afastaram-se a plenos pulmões, com os corações acelerados. Fitaram um ao outro por um momento.

Você me beijou à força!?—ele exclamou, circulando a região da boca com a mão. –Não estou entendendo você hoje...

—Shhh! –Luisa puxou-o pela gravata borboleta. –Não deixe ninguém ver...

—Ver o quê? –ele perguntou, tímido, quando as mãos dela começaram a roçar em suas calças. –O que está fazendo?

—Uma coisinha que eu deveria ter feito há muito tempo... –ela ponderou, então voltou a beijá-lo.

Com muito custo, o Doutor conseguiu se desvencilhar dela, mas isso não deteve a garota. 

—Luisa... Calma. Fica calma –ele recuou, erguendo as mãos em sinal de rendição. –Eu entendo o que está acontecendo. Você está dopada. Está grogue. Não está raciocinando direito... Eu não vou culpá-la por se exaltar, mas...

—Você não entende –ela o agarrou contra a parede. –Eu sempre quis fazer isso! Na verdade, é o que toda garota deseja poder fazer na vida... Amar alguém e ser amada.—enquanto falava, ela desfez o laço da gravata borboleta dele, com urgência. -O anestésico só me deu a coragem que eu precisava para poder dizer isso a você. –e tornou a beijá-lo com fervor.

O Doutor resolveu devolver aquele beijo, mas não ocorreu da forma que pretendia. Estava tão surpreso que seus lábios precipitaram-se e encerraram o gesto cedo demais. Luisa abriu os olhos e fitou-o, insatisfeita.

—O que foi? –perguntou, decepcionada. –Por que paramos?

—Porque... Eu não sei se isso é certo. –ele explicou-se, inseguro. –Eu e você...

—O que há de errado com a gente? –ela indagou, chateada. Então fez cara de compreensão de repente. –Ah... Já entendi. Você está embaraçado por fazer esse tipo de coisa em um lugar público como este, não é?

—Bem... –ele ia negar, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, ela puxou-o pelo laço desfeito da gravata borboleta, até um cantinho ainda mais escuro e reservado.

—Pronto. Aqui teremos privacidade! –ela sorriu.

—Luisa! Eles vão perceber que você saiu do quarto! –o Doutor rebateu, tentando colocar um pouco de juízo na cabeça dela. –E se nos pegarem?

—Será que você se esqueceu do meu truque de câmera? –ela disse, impaciente. –Eles não vão desconfiar de nada...

—Como você sabe? Eles podem fazer uma ronda com os enfermeiros de madrugada, só para checar se você está mesmo dormindo... E se você não estiver lá quando a enfermeira aparecer? O que vai fazer? Usar um holograma interativo?

—É. Pode ser. –ela deu de ombros, tentando beijá-lo novamente, mas o Doutor escapuliu de seus braços.

—Você está completamente descontrolada... Não devia resolver nada com a cabeça fora do lugar!

—Você é um doce, sabia? Admiro sua preocupação comigo, mas eu tive muito tempo para pensar sobre isso... –disse, dissimulada, então tornou a agarrá-lo e alisou seu peito por cima da camisa.   

Mas eles vão nos pegar!—o Doutor protestou, afastando as mãos dela. –Luisa! Pelo amor de Deus... Seja um pouco sensata!

—Doutor! Pare de se preocupar, está bem? Vai ser rapidinho... –prometeu deliberadamente. –Veja só: Eu programei as imagens da câmera para enrolarem uma meia hora... Mas nós vamos precisar de menos de três minutos para fazer sexo. 

O Doutor arregalou os olhos.

—SEXO!? –exclamou, assustado, escapulindo de novo. –Luisa... Não. Isso não!

—Na boa, do que você tem tanto medo? –ela perguntou. –Não vá dizer que é de mim, porque isso só realçaria minha fantasia... –e mordeu o lábio ao encurralá-lo contra uma nova parede, sombreada, num ponto isolado do Hospital.

—Luisa, pare já com isso! –ele repreendeu, quando sentiu as mãos bobas dela escorregarem por seu abdome, em direção aos quadris. O Doutor não imaginava, mas quanto mais se fazia de difícil, mais a deixava excitada. -Luisa... Se você não se afastar eu vou gritar! –ameaçou. –Eu prometo que vou!

—Grite! Vai se encrencar tanto quanto eu... –ela chantageou.

O Doutor trincou o maxilar e virou-se de costas para ela. Esticou-se para abrir uma janela que estava acima de sua cabeça, depois apoiou metade do corpo para fora, respirando o ar gélido da noite e recuperando o fôlego para conseguir gritar:

Tem um paciente fora da cama!—brandiu. Sua voz ecoou alto por entre as localidades do hospital e o eco repetiu o “Fora da cama” algumas vezes. O rapaz esperou a primeira mensagem se dissipar completamente para começar de novo. –Um paciente está... AI!—gemeu, voltando-se novamente para dentro do edifício.

Ele massageou a nádega direita, indignado, e deparou-se com um sorriso torto no rosto de Luisa.

Você me deu uma palmada!?—descascou, irritado.

—Você tem uma bundinha gostosa de bater. –ela sorriu, maliciosa.

—Mas você me deu uma palmada! Uma palmada! —ele ralhou, incrédulo.

—Preferia um beliscão? –ela propôs, esfregando as mãos, com cara de danada.

Ele hesitou.

—Hã... Não. De repente fiquei satisfeito com a palmada. –concluiu.

—Ótimo. –ela ajeitou a gola dele. –Só fiz isso pra chamar sua atenção... Essa noite você é só meu.

—Não, Luisa... Espere... –ele tentou falar, mas ela entrelaçou as mãos ao redor de seu pescoço e recomeçou a beijá-lo. O Doutor não sabia o que fazer com seu próprio par de mãos. Tentou evitar tocar a amiga. Imaginou que isso só a iludiria mais, então concentrou-se em não incentivá-la. Manteve as mãos o mais longe possível dela; algumas vezes erguidas, outras vezes entrelaçadas atrás do corpo, mas não funcionava. A garota simplesmente não se importava, assim como não percebia a resistência dele. Tudo porque estava fora de si e não queria admitir aquilo. Quando finalmente conseguiu uma brecha para respirar, ele desatou a recomeçar: –Luisa...

—Shhh... Fica quietinho. Nós nos comunicamos melhor quando estamos nos beijando... –e tornou a beijá-lo, mas desta vez, na testa.

Ele teve que admitir: aquilo o arrepiou.

—Eu normalmente não concordaria, mas... –de novo foi cortado pelos lábios insaciáveis dela. Pensou em ir recuando até conseguir se afastar o bastante dela, mas quando foi tentar dar meio passo, sentiu a parede novamente atrás de seu corpo e instintivamente, teve vontade de chorar.

Não queria aquilo. Não queria iludi-la. Mas, aparentemente, era o que viera fazendo durante todo esse tempo. Ele simplesmente estava colhendo o que plantou: uma paixão intensa, que era completamente impossível. Especialmente pelo fato dele ser um Senhor do Tempo. Mas como dizer isso a ela, agora, sem arrasar seu coração? Sem magoá-la? Como lembrá-la disso nesse exato momento, sabendo que ela estava completamente fora de si? Após averiguar todas as variáveis, chagou a conclusão de que, definitivamente, não tinha escolha.

Tudo bem, afinal, que mal alguns beijinhos poderiam causar?” –pensou consigo mesmo. Mas, quando se deu por si novamente, ela já estava só de sutiã e aquilo o fez prender a respiração. Só então reparou que metade de suas próprias vestes estavam estiradas pelo chão: só enquanto estivera refletindo, ela tinha tirado seu casaco e desabotoado toda a sua camisa. Os suspensórios caiam-lhe ao lado de cada perna e ela logo partiria para os botões de sua calça...

—Não! –ele resistiu, segurando forte os pulsos dela. –Já chega! Você não quer isso...

—Eu quero. Quero muito... –ela gemeu.

Gemeu” –pensou o Doutor, entrando em pânico.

—Luisa, por favor... Acorde!—ele suplicou, chacoalhando-a pelos braços. –Por favor! Isso não está certo... Não podemos fazer nada por impulso... E se você se arrepender amanhã?

—Meu Doutor... –ela sorriu, brincando com a definição de seu peito, completamente fora de sintonia. Então alguma coisa aconteceu: –O que é isso agora? São dois de você? Puxa! Quê tentador...—aos poucos, começou a vê-lo duplicar e, gradativamente, oscilar também. O pouco de luz que restava no espaço em que estavam começou a tremeluzir e se extinguir por completo. A pressão dela baixara; Ela o via falar, mas não escutava o que estava dizendo. Começou a sentir o coração acelerar descompassado e o corpo todo formigar sob a tenção gerada com todos aqueles gestos, carícias, beijos e... Falta de ar.  Muita falta de ar! Não havia dúvida que ela não estava preparada para ‘se tornar mulher’. Seu próprio corpo começou a reagir contra isso, impossibilitando-a. Ou talvez fosse a batelada de remédios que tomara, finalmente fazendo efeito. Talvez fosse por isso que a enfermeira gata instruiu-a de que deveria permanecer deitada a noite toda... Ela deveria ter obedecido. Sentia agora as conseqüências de seus atos inconseqüentemente mal calculados. –Espera. Eu não... Está tudo girando...

—Luisa!? –ele exclamou, segurando-a, quando viu os olhos da amiga girando nas órbitas. Por fim, ela desmaiou em seus braços. Abraçando-a junto ao corpo, o Doutor suspirou, aliviado. –Obrigado universo. Eu devo essa a você.

E ficou a observar a amiga, que dormia feito um anjo.

 

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Notas finais do capítulo

Bom, eu avisei KKKKK



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