Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 101
A Filha das Águas vai até New New York


Notas iniciais do capítulo

Oii! :D

Aqui estoy, com o desejo de postar duas vezes por semana! Isso mesmo, eu pensei um pouco e decidi voltar ao esquema Quinta & Domingo, a partir da semana que vem, porque nessa eu vou de terça feira mais uma vez, já que não postei nada nos últimos dias kkk (confusões de Gigi)

A partir de hoje então, será sempre de Quinta e Domingo!

OBS sobre o capítulo pra migs: Ina, se você estiver lendo isso, então fique sabendo que finalmente chegou aquela situação que eu comentei com você, na época da Joanne Watson, em que a Luisa também vai parar num certo hospital alienígena kkk Demorou mas chegou!



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As portas automáticas do maior e mais desenvolvido hospital de Nova Nova Iorque, foram escancaradas sem cerimônia naquela manhã, como não acontecia há tempos. Imediatamente, a irmandade ficou agitada ao receberem a visita de um antigo conhecido. O Doutor cruzou o hall de entrada, praticamente espumando; depositou uma Luisa inconsciente no sofá e dirigiu-se, acompanhado por Melissa, ao balcão de acesso ao público, exigindo assistência imediata para sua amiga desacordada.

—Sinto muito, mas o senhor terá que se acalmar primeiro –barrou a recepcionista (que era uma freira com rosto de gato). –Esse é um local que exige silêncio, respeito e colaboração. Há centenas de pessoas doentes aqui, e o mínimo que o senhor poderia fazer, seria manter o nível diante dos outros pacientes... –repreendeu discretamente, indicando as demais pessoas sentadas na sala de espera, que os observavam com atenção, surpresa e até mesmo, estranheza.

O Doutor pretendia retrucar, mais ficou meio sem jeito, diante dos olhares curiosos dos outros.

—Ah... Certo. Queira me desculpar... –ele riu de nervoso, passando a mão na nuca. –É que não estamos tendo um dia muito bom... A nossa amiga desmaiou e nós dois estamos, bem, realmente preocupados –ele abriu o jogo, indicando Luisa no sofá, depois Melissa e ele mesmo.

—Sim. Compreendo perfeitamente sua aflição. Mas devo reforçar minhas instruções iniciais: mantenha a calma e espere na fila. Assim que possível, nós atenderemos sua amiga.

O Doutor foi obrigado a concordar e a assentir pacificamente. Deu meia volta e caminhou com as mãos nos bolsos, contrariado, na direção do sofá onde Luisa estava. Melissa alcançou-o, intrigada.

—Doutor... Por que tem mulheres gato em toda parte?

—São as Irmãs da Plenitude. Enfermeiras, para quem eu infelizmente, tive mais uma vez que apelar.

—Ué? Quer dizer que já esteve aqui antes?

O Doutor deu uma olhada rápida no ambiente antes de prosseguir, em voz baixa. Avistou duas freiras observando-o de longe, com cara fechada.

—Longa história. –resumiu. -Digamos que não sou muito bem vindo aqui.

—O que aconteceu?

—No passado, descobri que esse era o melhor hospital das redondezas, e tudo porque ele cultivava um método completamente “novo e eficaz” de cura. Os rumores eram de que, mal as doenças chegavam a afetar uma pequena parcela da população, a irmandade já surgia com novos remédios e vacinas, para combaterem as infecções. Sim. A principio, posso até admitir que sua medicina sem igual realmente me surpreendera... Mas depois, acabei descobrindo que por trás da fachada “limpa e desinfetada”, eles mantinham um laboratório ilegal, para o cultivo de todas as doenças existentes. Mas isso não era o mais chocante: o fato era que eles usavam pessoas; Propriamente seres humanos, como “ratos de laboratório”. Imagine só: centenas de milhares de pessoas sendo literalmente usadas, para o bem estar de outros, como se não tivessem vida própria, ou sentimentos. Essa, era a realidade de Nova Nova Iorque há algum tempo atrás.

Melissa fitou-o, desconcertada.

E você traz minha amiga para se curar em um lugar desses?

O Doutor fez sinal para ela manter o tom de voz baixo.

—Não fique nervosa. Acredite: eu tenho meus motivos para tê-la trazido aqui. Acontece que, apesar de eu detestar a política desse lugar, esse é o único hospital que eu conheço que pode ajudar Luisa com o que ela precisa.

Melissa refletiu por um momento.

—Mas... Se esse lugar foi mesmo ilegal um dia, não deveria estar com as portas fechadas hoje?

—Sim. É obvio que a polícia foi acionada da última vez em que eu estive aqui. Aquelas pobres pessoas tratadas como “carne experimental” foram curadas e libertadas, e todos os envolvidos foram presos; Inclusive, várias das enfermeiras. É por isso que há tantos olhares tortos direcionados a mim. A verdade é que, apesar de terem usando pessoas geneticamente criadas para salvar a vida de outras, com maior poder aquisitivo, grande parte das Irmãs da Plenitude realmente mantiveram-se convictas de que aquela era uma boa forma de assimilação de moléstia. Então, depois que a policia interceptou o projeto todo, aquelas formas inadequadas de experimento foram banidas de vez, e o hospital ficou fechado por uns tempos. Contudo, você sabe como são as coisas... As doenças tornaram a aparecer, a irmandade ainda tinha grande influencia sobre o nome do hospital, que por sinal era, e ainda é, o melhor de toda Nova Nova Iorque e, bem... Você sabe: Deu no que deu.

—Então eles reabriram, sobre velha administração. –concluiu Melissa. –Mas é curioso: As pessoas não deviam ficar meio “desconfiadas” com os métodos já divulgados, das freiras?

—Pois é, mas eles “pesaram na balança. Afinal, o que você preferiria: morrer com uma doença terminal, mas sem ter o orgulho ferido, ou deixar o passado para trás e permitir que a Irmandade tentassem encontrar uma cura para você? É praticamente indiscutível... Aposto como vários deles devem ter implorado para que elas retornassem.

Melissa fez um bico, concordando.

—Tem razão. Não há como discutir quanto a isso. Eu acho que também daria o braço a torcer, se fosse um parente, ou um filho meu que estivesse precisando de cuidados...

O Doutor assentiu.

—Nova Nova Iorque não teve opção. E nem nós, infelizmente.

Melissa então franziu o cenho, por um momento.

—Na boa, por que você chama esse lugar de “Nova Nova Iorque”?

—É porque é a cidade de Nova Nova Iorque. –ele explicou. –Bem, na verdade ela é a décima quinta cidade de Nova Iorque, desde a original... Mas isso não vem exatamente ao caso.

—Quer dizer... Que esse planeta aqui também não é a verdadeira Terra?

O Doutor fez uma careta de assombro para ela.

—Nossa! Você pega mesmo as coisas rápido, hein? Tem certeza que ainda é a mesma Melissa de sempre aí dentro e não uma cópia mal feita se passando por ela? –ele deu uma cutucada na cabeça dela, ao que a garota revidou com um peteleco em sua orelha, seguido por um sorriso divertido.

Ambos pegaram-se olhando para a figura desacordada de Luisa, ao seu lado, e prenderam a respiração, tensos.

—Será que ainda vão demorar muito? –indagou Melissa, impaciente. –Não é por nada não, mas... E se cada segundo perdido for realmente relevante? E se Luisa estiver mesmo entre a vida e a morte? –exasperou-se ela.

—Não pense mais nisso –aconselhou o Doutor, tentando aparentar controle. –Luisa está bem. Ela só precisa ser reanimada e, bem, talvez... Fazer alguns exames de rotina. Sabe? Só para tranqüilizar... 

—Então é por isso que você a trouxe aqui? Está desconfiando que ela tenha algum tipo de “coisa anormal”, que os hospitais comuns da Terra original não sejam capacitados para diagnosticar?

O Doutor esfregou a testa.

—Não sei. Realmente não sei... –arfou, incomodado com sua própria falta de entendimento em tudo aquilo. –Eu só quis ajudar. Garanto que essa foi minha maior intenção ao trazê-la neste lugar...

—Doutor? –uma voz conhecida o chamou. O Doutor imediatamente endireitou o corpo, ao vislumbrar a figura amistosa de Noviça Wame (a única das gatas com roupas de freiras que ganhou sua confiança através dos tempos). Feliz em revê-la, ele caminhou de encontro a ela.

—Wame! –sorriu largo. –Que prazer em revê-la!

—O prazer é todo meu, Doutor. –a mulher gata fez uma mesura de cabeça. –Estive cuidando de seu amigo, o Rosto de Boe. Acho que vai gostar de saber que ele aparentou melhoras essa semana...

—Oh, sim! Claro! –o Doutor havia se esquecido de que voltara um pouco a mais no tempo, e que seu velho amigo, o Rosto de Boe, ainda encontrava-se vivo naquela época; assim como a cidade de Nova Nova Iorque, junto do resto do planeta, ainda não haviam entrado em quarentena, e as estradas subterrâneas não tinham nem sinal de engarrafamentos, ou das terríveis bestas Macras, tentando almoçar os veículos da via expressa. Tomado por uma nostalgia alucinante, ele sorriu largo, muito feliz por ouvir falar novamente do amigo. –Como vão as coisas por aqui? Pensei que a essa altura, você teria abandonado esse emprego e saído à procura do “perdão divino”, isolada, cuidando do Rosto de Boe... Ou alguma coisa do tipo.

—Sim. Essa ainda é minha meta principal. E de fato, eu estou quase conseguindo me afastar da Nova Irmandade. O único problema é que, por hora, elas dependem dos meus serviços. –anunciou ela. –A verdade é que: Desde que você foi embora, mais da metade de nós fomos presas. As irmãs que sobraram foram designadas para fazerem trabalhos voluntários, e coisas do tipo. Eu já estava cuidando do Rosto de Boe, então permitiram que eu continuasse com meu trabalho. A polícia sabia que eu não fazia, diretamente, parte do projeto ilegal; Que era uma enfermeira dedicada, que só recebia ordens das Madres Superiores, e justamente por isso fui poupada da prisão, assim como as irmãs restantes, que você pode conferir vagando pelo hospital. Mesmo assim, nós ainda éramos vistas como suspeitas, pelo detetive. –ela fez uma pausa, suspirando significativamente. –Entretanto, as pessoas dependem de nós e as outras freiras precisam de mim na equipe. Desde que reabriram o hospital: “Pelo compromisso com a população, e também, com a promessa de descobrir as curas para as doenças, da maneira certa desta vez”; A nova direção precisava reunir uma boa equipe de enfermeiras e eu acabei sendo designada para essa função. Não pude recusar, afinal, eu ainda estou em observação... Assim como todas nós. –ela inclinou a cara peluda e deu de ombros. –Afinal, não foi tão ruim no final das contas: Continuamos ajudando as pessoas, tudo indica que logo seremos liberadas dos interrogatórios e o Rosto de Boe apresentou uma melhora no quadro ao voltar a ter um leito só para ele. Acredito que as coisas estejam finalmente entrando nos eixos...

—Bem... -o Doutor coçou um dos olhos, fazendo uma careta meio duvidosa. Afinal, ele era o único em toda Nova Nova Iorque que sabia o que ainda viria pela frente... Porém, achou melhor não comentar nada. Ele sabia como podia ser prejudicial distribuir informações futuras, adiantadamente. –Se você diz...

 -Oh, sim! E vejo que você está novamente acompanhado, assim como da última vez –observou Wame, ao ver Melissa se aproximar. A loira, por si só, limpou a garganta, chamando a atenção dele.

—Ah, desculpe minha distração: Wame, essa é Melissa. Ela viaja comigo agora. E Melissa, essa é Noviça Wame –ele baixou o volume da voz só para as duas ouvirem. –A melhor entre todas as irmãs da Plenitude, em minha opinião.

—Ah, bobagem—Wame interpôs, corando os bigodes. –As outras também são ótimas enfermeiras. Você devia conhecê-las melhor... Tenho certeza que se surpreenderia com elas.

—É, só que agora estou com o tempo meio apertado. Tenho coisas inadiáveis para resolver primeiro –e apontou para Luisa, deitada no sofá. Imediatamente, Wame se adiantou na direção dela.

—Quem é ela?

—É minha outra companheira. Seu nome é Luisa.

Wame examinou-a ali mesmo, superficialmente.

—O que aconteceu com ela?

—Não sabemos –Melissa respondeu em nome dos dois.

—Sim. Luisa passou mal de repente... Fiquei imaginando se vocês não conseguiriam fazer algo por ela.

Wame respondeu o que ele já havia suposto.

—Bem, não há muito a se constatar à primeira vista. Estou meio ocupada agora, mas vou chamar outra enfermeira para conduzi-los até a unidade de exames. Ela terá de fazer uma seqüência de exames de rotina. Só depois, com a papelada em mãos, analisaremos os resultados e será possível chegar a um diagnóstico. 

—Certo. Faça o que tiver que fazer. –o Doutor liberou. –Estamos realmente preocupados... Precisamos mesmo saber se ela ficará bem.

Wame fez sinal para uma outra gata de roupa de freira, que estava passando por ali naquela hora.

—Aqui. A Noviça Kalyw vai acompanhá-los de agora em diante. –sorriu, simpática. –Agora, me dêem licença. Preciso voltar aos meus afazeres... Mas desejo melhoras à sua amiga!

—Certo. –o Doutor respondeu pelo grupo. –E obrigado mais uma vez por sua ajuda. –lembrou de dizer. Wame acenou uma última vez, antes de se afastar e voltar a se concentrar em seus afazeres. Então, o Doutor e Melissa se entreolharam, rijos: Agora eram só eles e a enfermeira desconhecida.

—Bom, estou vendo que sua amiga não conseguirá chegar até a ala dos exames usando as próprias pernas –ela observou Luisa, desmaiada no sofá. –Precisaríamos usar macas de flutuação para transportá-la, mas infelizmente, todas estão indisponíveis no momento... –comunicou. -Lamento informar, mas teremos de transportar a paciente pelas escadas.

—Escadas? –o Doutor fez uma careta, observando a caminhada infindável que os esperava. –O que aconteceu aos elevadores com desinfetantes?  

—Você não soube? Tivemos que cortar gastos depois do último escândalo—informou ela.

—Que horror! Vocês fazem todos os pacientes debilitados subirem os andares a pé?

—Absolutamente! Foi por isso que eu mencionei as macas de flutuação. –ela relembrou. –Geralmente elas nos auxiliam no transporte dos pacientes, mas como eu já disse, estão em falta no momento. –então olhou para o Doutor. -Espero que o senhor tenha sido agraciado com bastante massa muscular. Não é fácil ter de carregar alguém no colo por dez andares consecutivos... –disse a noviça, cínica. Esperou para poder curtir um pouco a expressão aflita estampada em seus rostos, só então, prosseguiu: -Está certo. Vamos começar! É uma longa caminhada até lá em cima...

Contrariado pela segunda vez naquele dia, o Doutor foi apanhar Luisa nos braços. Enquanto ele o fazia, meio desengonçado, Melissa dirigiu-se à enfermeira:

—Por que tem tantas filas de espera nesse hospital? Pensei que vocês tivessem um atendimento diferenciado... Sabe: Futurista, evoluído e bem mais tecnológico...

A Noviça Kalyw sorriu, sádica.

—Bem, depois da intervenção da polícia, tudo voltou a ficar bem mais devagar por aqui –e lançou um olhar penetrante ao Doutor, antes de dar-lhes as costas e começar a andar na direção das escadarias. Melissa trocou olhares arregalados e sobrancelhas erguidas com ele.  

—Você tem razão: Esse pessoal te odeia mesmo.

O Doutor bufou.  

—Pois é. E pensar que eram elas que estavam cultivando vida inteligente como se fossem meros experimentos... Hum! Tamanha inversão de valores!—praguejou, baixinho.

Seguiram a Noviça Kalyw até o décimo andar, onde, de acordo com ela, ficava a ala para exames de rotina, mas na visão de Melissa, aquilo foi só um jeito que ela arrumou para fazê-los sofrer um pouquinho.

Sem reclamar, seguiram até um quarto desocupado, onde o Doutor foi instruído a deitar Luisa em uma maca fixa ao chão, e depois, foi convidado a se retirar junto de Melissa. Então, noviça Kalyw chamou outra enfermeira, e juntas, reanimaram a garota.  

—Onde estou? –Luisa perguntou, depois de finalmente conseguir distinguir uma freira de um cabideiro. –Oh, meu Deus! V-você é um gato!?—exclamou, perplexa, ao contemplá-la.

A enfermeira mexeu os bigodes.

—Você está em Nova Nova Iorque, querida.

—Nova Nova... O quê?

Ouviu o ruído de uma porta abrindo.

—Certo, noviça Kalyw, deixe comigo agora –Luisa reconheceu a voz de seu amigo Doutor, e logo em seguida, ele entrou em seu campo de visão com um grande sorriso amigável. –Olá, dona dorminhoca!

Luisa sorriu, serena.

—Olá... –tentou se movimentar, mas sentiu-se meio fraca a principio. Então franziu meramente o cenho ao perceber-se fiscalizada pelas mulheres de branco. –Doutor, quem são elas?

O sorriso do rapaz vacilou um pouco: Ele sabia que não fora convidado a entrar no quarto.

—Bem, elas são enfermeiras –explicou, então sussurrou para ela: –Sei que é difícil ignorar os bigodes, mas tente fazer um esforço. Não queremos deixá-las aborrecidas.

Luisa assentiu, ainda confusa.

—E quanto a esse lugar? O que estamos fazendo aqui?

—Bem... Outra longa história. Estamos em Nova Nova Iorque. Na verdade, a décima quinta cidade futurista de Nova Iorque, desde a original. E aqui é um hospital, onde você está em... Hã... Observação.

Observação?—Luisa sentou-se na maca, inquieta. –O que quer dizer com “observação”? Eu estou doente? Porque eu não me sinto doente...! —disparou ela, agitada. As duas noviças trocaram olhares severos, em silêncio.  

—Ei, segure as pontas... -o Doutor inclinou-se sob a maca e lançou um sorrisinho tranqüilizador à menina, ao mesmo tempo que acariciava seus cabelos, tentando acalmá-la. -Não há com o que se preocupar...Você está em boas mãos agora.

Em boas mãos?—Luisa engoliu em seco, encarando as enfermeiras novamente: pra começo de conversa, elas tinham patas. Então, na tentativa de mudar o pensamento, passou a observar o restante do ambiente; Porém, só conseguiu mesmo ampliar a taxa de inquietude: Era tudo muito branco, e havia alguns aparelhos apitando ao seu redor. Ah! E ela estava de camisola. –Doutor, o que está havendo? Por que estou deitada numa maca?

O rapaz endireitou o corpo.

—As enfermeiras acabaram de reanimar você. E em breve, elas pretendem prepará-la para fazer alguns exames.

Exames?—por algum motivo, aquilo não deixou Luisa mais relaxada. –Que tipo de exames?

A mulher gato mais próxima deu um passo à frente.

—São apenas alguns simples exames de rotina: Primeiro nós iremos examiná-la; depois mediremos sua pressão arterial-neural; tiraremos seu sangue para uma análise de DNA mais detalhada; então você passará por um Iper-Raio-X completo, Tomografia Shipadronizada, Ressonância Eletro-Magnética; e também, um exame de vista com luz ultra-Violeta.

Ao terminar de ouvir aquilo, Luisa ficou mais pálida do que jamais ficara em toda sua vida. O Doutor percebeu o ar receoso crescendo nos olhos dela e tentou suavizar um pouco as coisas:

—Viu? Vai ser “Mamão com açúcar!” –brincou, mas aquilo não sortiu o efeito desejado. Luisa voltou-se para ele, sentindo-se ainda pior do que antes: A cada minuto mais, sua testa intensificava uma incômoda dor da cabeça.  

—Doutor... Eu não quero fazer nada disso... Não me obrigue a ficar aqui! –ela gemeu. Estava muito frágilizada para poder passar por um novo tranco logo em seguida... Será que o rapaz não compreendia seu lado?   

Se apresse, por favor. O horário de visitas nos dormitórios é restrito. Nós precisamos que você saia para que possamos iniciar os procedimentos. –anunciou a outra noviça.

Já vou. Já vou. Pode deixar... –o Doutor deu uma olhadinha por cima do ombro e lançou um sorriso amarelo para as enfermeiras, paradas lado a lado, observando-os com intolerância. Então voltou-se para a amiga, sussurrando de canto de lábios: -Ops, a barra está pesando pro meu lado... Será que não dá nem pra fingir estar se sentindo um pouco mais confiante, para que eu possa ficar tranqüilo te deixando aqui com elas?

Acho que é demais pedir isso pra mim a essa altura...—ela retorquiu, trêmula.

—É. Acho que sim. –ele acabou concordando. –De qualquer forma, não custava tentar.

Ela fitou-o, tímida. Ele ameaçou se levantar, mas Luisa segurou a manga de seu casaco, impedindo-o de continuar.

—Doutor... O que exatamente aconteceu comigo?

Ele estudou-a por um momento, antes de começar a falar.

—Você não se lembra?

Ela piscou, intrigada.

—De quê?

—Dos eventos que ocorreram na TARDIS, hoje cedo. –ele anunciou, surpreso por ela não se lembrar.

Luisa esfregou a testa, sentindo a dor de cabeça intensificar, agora como se estivesse em chamas.

—Eu não... Me lembro direito... –gemeu.

No segundo seguinte, uma terceira noviça adentrou no aposento, trazendo um copo consigo.

—Aqui, beba um pouco. Você precisa se hidratar –ofereceu-lhe. Entretanto, bastou Luisa olhar para o copo com água tremeluzente, para ter um lampejo imediato. A partir dele, as memórias da garota foram recobradas e ela conseguiu relembrar de tudo, recebendo cada detalhe de modo incrivelmente vívido e acessível. Reviveu cada momento numa fração de segundos: viu-se entrando na biblioteca; depois vislumbrou a piscina; então encontrou Melissa; a TARDIS deu uma guinada violenta; de repente, Luisa estava envolta por água de todas as direções e seu pânico voltou a assombrá-la em um nível traumático e preocupante; Ela tentava nadar para a borda, mas não conseguia; Engoliu muita água ao se debater; Coisas começaram a despencar e a aterrissar como bombas ao seu redor, na piscina; então, braços acolhedores a envolveram... Eram do Doutor. Num movimento rápido e calculado, ele a puxou para fora e a manteve sã e salva, abraçada junto de si. Enquanto ele se ocupava em acalmá-la, Melissa juntou-se a eles. Então, nova surpresa: o Oráculo da Delfos apareceu, para azucriná-los um pouco. Tentou passar-lhes uma nova profecia; depois repetiu a antiga; Luisa gravou palavra por palavra... Então, o Oráculo disse alguma coisa que a fez se sentir mal... E, logo em seguida, tudo escureceu por completo.

Quando terminou de ter seu flashback particular, Luisa encarou o Doutor, chocada.

Eu me lembro! Doutor, eu me lembro de tudo que aconteceu!—ela disse, e seus olhos rapidamente encheram-se de lágrimas. –Mas... É impossível! O Oráculo adivinhou um monte de coisas sobre mim, mesmo depois de você ter dito que ninguém jamais poderia ler minha mente de novo... –ela balançou a cabeça, confusa. -Não entendo... Será que o bloqueio telepático falhou?

—Muito pouco provável –ele interveio, meio sem graça. –Na verdade, a culpa foi minha. Parece que exagerei um pouco na definição da coisa toda...

—Como assim “exagerou”? –ela perguntou, em êxtase.

—Bem, pra começo de conversa, um bloqueio telepático é só uma proteção básica para padrões comuns de inteligência. É usado principalmente para ocultar unidades de informações restritas. Basicamente, você pensa numa única coisa que deseja muito manter em segredo e trava uma progressão telepática inversa, que cresce como uma proteção invisível, ao redor do pensamento selecionado, selando-o unicamente. Em resumo: o bloqueio não pode ser aplicado em grande escala, como eu disse que podia.

Luisa encarou-o, sem reação.

—Quer dizer que você concentrou-se somente no seu segredo para poder selá-lo na minha cabeça, e, por causa disso, só o seu segredo é que foi bloqueado. –concluiu Luisa. Apesar de ter acompanhado o raciocínio, sua expressão era de pura incompreensão: Não conseguia entender qual a vantagem em tê-la enganado. –Então porque inventou o resto? Por que me disse que todos os meus pensamentos estariam selados?

O Doutor baixou os ombros, sem jeito.

—Acredito... Que tenha sido porque achei que seria muito egoísmo de minha parte colocar uma coisa na sua cabeça, só para defender os meus interesses. –explicou, desarmando-a.

Ah.—ela desviou o olhar, pega de surpresa. Foi a sua vez de ficar sem jeito. E pensar que já estava começando a interpretá-lo mal... Sentiu-se envergonhada por ter pensado coisas ruins do melhor amigo. –Puxa... –arfou, impressionada com a atual descoberta.

—Pois é. Foi maluquice minha... E eu peço desculpas! –ele tagarelou, visivelmente embaraçado.

Luisa avaliou a situação por um momento.

—Bom, neste caso não tem outro jeito: Eu terei de perdoá-lo. –anunciou cínica, para depois abrir um imenso sorriso.

O Doutor ergueu a cabeça, surpreso.

Como? Quer dizer que não está brava comigo?

Não. Quero dizer, Sim. Hã... Um pouquinho—ela achou melhor manter o bom senso, e também, a expressão séria, só de começo, e por precaução (para que ele não ficasse animado demais). Distraidamente, começou a brincar com os dedos. –É que eu estava contando com a possibilidade de ninguém mais conseguir ficar bisbilhotando meus sentimentos, medos, anseios e segredos... Entende?

—Ah. –as bochechas dele se acenderam. Era obvio que aquilo também o incluía. Às vezes, ele simplesmente acabava tendo que se intrometer nas particularidades dela, sem pedir sua permissão. Arrependido, suspirou: –Sinto muito por causar falsas esperanças...

Luisa não pretendia sorrir de novo, mas acabou fazendo-o só pra demonstrar que não estava verdadeiramente brava com ele, e desta forma, fazendo-o se sentir um pouco melhor.

—Tudo bem. Eu acho que vou sobreviver a isso... –ela brincou. –Afinal, tive meus pensamentos “desbloqueados” a vida inteira... Não deveria ser diferente agora.

O Doutor pôs-se de pé, mexendo nos cabelos.

—Puxa, que bom ouvir isso... –riu, aliviado. Luisa sorriu de canto de lábios, correspondendo-o. Mas o momento de descontração entre os dois partiu-se em pedaços quando a noviça Kalyw surtou e intrometeu-se entre eles, enxotando o Doutor para fora do quarto, enquanto as outras duas enfermeiras imobilizavam Luisa na maca. Foi uma gritaria que só vendo...

—LUISA! -O Doutor protestou, tentando desvencilhar-se das garras de Kalyw. –NÃO... LUISA! Noviça Kalyw, deixe-me ficar com ela!

Você já nos atrasou demais, Doutor!—acusou a gata, empurrando-o, já sem paciência.

—DOUTOR!!! –ela gemeu. -NÃO! PAREM! ME DEIXEM EM PAZ!—Luisa gritou e esperneou, quando um sedativo vermelho como sangue, lhe foi aplicado à força. –NÃO!

NÃO FAÇAM MAL A ELA! EU ESTOU AVISANDO... NÃO OUSEM!!!—berrou ele, pouco antes de ter a porta batida em sua cara.

Nenhum dos dois tornou a se ver depois daquilo.


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Notas finais do capítulo

~cheiro de confusão ~cheiro de confusão ~cheiro de confusão~

;)

Até Domingoooo!!



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