A Chantagem escrita por Kaline Bogard


Capítulo 15
Parte 15


Notas iniciais do capítulo

Estamos indo pro final da história ç.ç



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Kiba esperou por Aburame Shino sentado no ponto de ônibus perto da escola. O combinado era o rapaz passar por ali por volta de três e meia da tarde. Como Kiba recebeu dispensa das atividades extra, acabou indo um pouco mais cedo.

Quando o carro popular estacionou, sabia que Naruto estava por perto espiando. A curiosidade falava mais alto do que tudo o mais.

— Yo... hum... Aburame san...? — soou incerto enquanto se sentava no banco do carona.

— Pode me chamar de Shino — o outro respondeu, ajudando Kiba a prender o cinto de segurança.

— Tudo bem, Shino — o nome saiu com mais naturalidade do que seria esperado. Ou talvez não, tendo em vista toda a aventura que passaram juntos — Você tem esse estilo esquisito mesmo? Pensei que fizesse parte do “personagem”.

Se referiu às roupas que Aburame usava, aquela blusa de gola alta e o par de óculos, uma forma indiscreta de esconder parte significativa do rosto.

— Não.

— Você não é de falar muito, não é? Isso é seu jeito mesmo, entendi. Não é personagem. Sabe que eu ainda to meio besta com tudo o que aconteceu? Eu tava recontando pros meus amigos e... wow! Parece coisa de filme.

— Parece.

— Pensei que ia cuidar de um problema, mas só virou outro problema e... olha isso. Mudou minha vida, mas fico feliz por ter terminado assim. Eu nunca mais vou tentar lidar sozinho com as coisas.

— A questão não é resolver sozinho, mas mentir para fazer isso. Quando é preciso mentir para as pessoas algo está errado.

— Sei que mentir é errado. Mas você também me mentiu um monte, fui muito trouxa.

A acusação acertou em cheio. Aburame preferiu não rebater. Vendo naquilo uma chance de virar o jogo, Kiba continuou de um jeito eloquente:

— Você ainda não me pediu desculpas por tudo o que fez — voltou a tagarelar enquanto o rapaz avançava pelo trânsito — Eu acho que você devia pedir desculpas por me enganar e me fazer passar medo.

— E você não se desculpou por invadir minha casa e mexer nas minhas coisas.

A esse ponto foi a vez de Kiba ficar constrangido. Por algum motivo bizarro se lembrou de fuçar nas cuecas daquele cara. Sentiu o rosto esquentar.

— Pensei que você era um depravado...

— Mas não sou.

O garoto ficou em silêncio, sem querer prolongar a argumentação. No fundo, ainda que o alvo da investida fosse verdadeiramente um depravado, não deveria jamais ter entrado à gatuna na casa.

Fizeram o resto do percurso nesse clima meio estranho.

O consultório da psicóloga ficava numa área nobre da cidade. Era um prédio moderno e novinho, que fez os olhos de Kiba brilharem. Não costumava ir muito para aquele lado.

Esperaram por cerca de dez minutos até que fosse o horário marcado para Kiba. O garoto foi chamado, e Shino ficou na sala de esperas, foleando uma revista de atualidades.

A psicóloga se chamava Tsunade e era uma mulher impressionante, de presença inegável e sorriso gentil. Fez um gesto amplo indicando a sala.

— Fique a vontade, Inuzuka kun.

Kiba observou o lugar de bom gosto encantador. Havia uma grande escrivaninha de madeira, com cadeiras confortáveis no estilo consultório médico. Atrás, uma estante de bom tamanho cheia de vários volumes de enciclopédias. Também tinha, mais ao canto, um jogo de duas grandes cadeiras de madeira, com almofadas chamativas. E no lado oposto, próximo à janela, um divã em tom azul que parecia muito confortável.

— Posso sentar em qualquer lugar?

— Onde você achar melhor — a psicóloga anuiu.

E o garoto sequer pensou duas vezes antes de ir deitar-se no divã. Tinha assistido um milhão de filmes em que os pacientes da terapia se deitavam em divãs e ficavam contado sonhos e outras coisas. Mal podia acreditar que também faria algo assim.

Até conversou com o professor conselheiro no passado, talvez duas ou três vezes. Sempre a respeito das notas ruins e em como sua vida seria afetada pelo mau desempenho na escola.

O que vivenciava naquele instante era algo fora da sua realidade.

Tsunade assistiu com um sorriso discreto. Seguia uma linha em que o primordial era deixar o paciente confortável e seguro. Mesmo durante o período da anamnese. Inuzuka Kiba não era o primeiro a se render ao aconchego do divã. E tampouco seria o último.

— Muito bem — ela foi falando enquanto fechava a porta — Vamos conversar. Me deixe conhecer um pouco mais de você.

O jeito dela foi tão acolhedor, que Kiba mal viu os cinquenta minutos da sessão se esgotarem.

 –--

Quando o garoto saiu da sala, faltando dez minutos para as cinco, Shino largou a revista e ficou em pé esperando que ele se aproximasse. De longe notou os olhos inchados de leve e o nariz avermelhado. A visão foi um baque, assim como em todas as vezes anteriores, nas quais ele próprio era culpado pelas lágrimas.

— Esse negócio de terapia é meio insano — Kiba suspirou, evitando encarar o outro.

— É — foi tudo o que Shino disse, antes de acenar com a cabeça para a recepcionista e seguir para fora do prédio, com Kiba ao seu lado, até que chegassem ao carro estacionado em uma vaga próxima.

Silêncio foi companheiro pesado, enquanto Shino dirigia pelas ruas que começavam a ficar lotadas num indicativo da hora do Rush.

Kiba, que olhava distraído pela janela, surpreendeu-se quando, poucos minutos depois, estacionaram perto de uma sorveteria. Virou-se para Aburame, que já se inclinava para destravar o cinto de segurança.

— Aceita um sorvete?

— Claro! — a resposta veio ligeira. Ele não era do tipo que recusava comida, oras!

O lugar estava meio vazio. Foi fácil escolher uma boa mesa e mais fácil ainda serem atendidos por uma garçonete fofinha vestida de Maid.

— Um especial da casa sabor morango e um chá de gengibre gelado.

— Sim, senhor cliente! Logo, logo trago!! — a funcionária respondeu cheia de energia.

Kiba assistiu interessado naquele “especial”. Nem teve dúvidas de que era pra ele.

— Minha mãe te disse que eu gosto de morango?

— Hn.

— Ah... por isso você pediu aquela bebida esquisita com sabor de morangos.

— Hn.

— Pensei que tinha hackeado minhas contas. Caralho, estava te achando um gênio do mal nesse lance de informática. Sou muito trouxa mesmo...

— Hackear é contra a lei — Shino ajeito o par de óculos de sol na ponta do nariz.

— É... você está me convencendo que é o senhor certinho. Acho que foi por isso que no começo eu nem fiquei lá com muito medo. Meu instinto é bom e você é um péssimo ator — o menino debandou a falar e terminou rindo a ver uma sobrancelha se erguer por trás dos óculos. Aquele cara era tão controlado em suas reações! — Você jura que não tinha nem uma gotinha de álcool na bebida?

— Nem uma gota.

— Mas eu fiquei bêbado! — o garoto soou inconformado.

— E eu fiquei impressionado. O poder da autoindução parece sem limites. Sua mente foi levada a acreditar em algo e agiu como tal.

Kiba sentiu o rosto esquentar violentamente, como se todo o sangue do corpo se concentrasse em suas bochechas. Que papelão!!

Pararam a conversa, pois a funcionária se aproximou com uma bandeja. Havia uma grande taça, cheia de sorvete de vários sabores, cobertos com chantilly calda cor-de-rosa e suculentos morangos. E um copo com chá transparente, gelo e rodelas de limão, além de um canudinho comprido com a ponta dobrada.

Assim que a jovem se afastou, Shino empurrou a taça na direção de Kiba.

— Sinto muito pelo que passou. Eu disse antes, um erro não justifica outro. O experimento foi interessante e produtivo, mas custou bem alto. Nunca quis fazê-lo chorar ou se machucar desse jeito.

O tom solene e sério impressionou Kiba. Pode ver a sinceridade naquelas palavras e o quanto o outro estava incomodado até agora por fingir ser um chantagista manipulador. Sentiu o rosto corar por ser encarado de um jeito tão profundo.

— T-tudo bem — ele pegou a colher e recolheu uma generosa porção do sorvete — Eu também errei desde o começo.

— Nós dois aprendemos lições valiosas. Espero que deixe de me ver como um criminoso virtual e entenda que sou uma pessoa comum.

Kiba balançou a cabeça. “Comum” não se encaixava no perfil daquele cara, mas entendeu o que ele quis dizer.

E entendeu que aquele era um novo começo para a relação que dividiam. Talvez, quem sabe, aquilo não virasse uma amizade?


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Notas finais do capítulo

Tive uma paciente que deitou no divã desde a primeira sessão!!!

—--

Até quinta :D



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