Na terça-feira Kiba foi a sensação do colégio ao chegar com o braço quebrado. Ele era uma figurinha conhecida por quase todos os alunos, graças ao jeito extremamente Inuzuka de ser.

A curiosidade foi geral, mas ele não se comprometeu em responder ao interrogatório dos amigos.

Exceto Naruto e Hinata.

Desses dois não conseguia escapar.

Depois do período da manhã, momento em que foi complicado pra Kiba acompanhar a matéria no quadro, já que não podia copiá-la (e foi salvo pelas anotações duplas de Hinata), eles foram almoçar no telhado da escola, aproveitando certa privacidade em um dos cantos. Kiba puxou um sanduíche bem recheado que sua mãe preparou para o almoço, já que não conseguia usar o hashi com a mão esquerda.  Hinata e Naruto sentaram-se perto dele, numa espécie de semicírculo, ouvindo tudo com atenção.

Kiba não fez segredo.

Revelou cada detalhe da aventura, desde o encontro com Aburame Shino, a invasão de domicílio e como caiu na armadilha dos adultos. Também contou sobre a chantagem, o motivo de ter estudado tanto na semana passada e a exigência de atender um “cliente”, fato que valeu grande susto e resultou no braço quebrado.

Os amigos escutaram tudo com atenção, sem poupar exclamações de surpresa e indignação.

— Por que não falou nada pra mim?! — Naruto não se conformou — Eu podia ter ajudado. Somos amigos!

— Não falei nem pra minha mãe — Kiba rebateu ao engolir o último pedaço do sanduíche. Aquilo estava ótimo.

— Sinto muito que tenha passado por tudo isso, Kiba kun — Hinata falou baixinho — Foi minha culpa, eu não quis falar com adultos e...

— Não, não foi sua culpa. A culpa foi minha por invadir a casa daquele cara. Se não fosse isso, a história ia acabar bem diferente.

Ele assumiu um risco e tanto acreditando que lidaria bem com qualquer coisa que acontecesse. Arrogância, ego inflado, falta de noção... havia dúzias de justificativas para seus atos temerários e todas derivavam de escolhas que fez.

— Insano — Naruto gracejou de boca cheia — Nem to acreditando que aconteceu tudo isso semana passada, cara.

— Aprendi bem a lição. E até que foi uma coisa meio boa. Ontem a gente teve uma reunião com o presidente Sarutobi. Ele é um velhinho legal, mas me deu um sermão de derrubar a orelha. Depois me ofereceu um emprego de meio período.

— Emprego?! Nas empresas Konoha?! — Naruto cuspiu arroz de tão espantado ficou.

— Mais ou menos — Kiba respondeu com uma careta — Eles querem que eu participe das palestras nas escolas respondendo perguntas. E nas filiais também, pros funcionários verem como tem muita responsabilidade com toda a tecnologia, porque foi um empregado que chantageou a Hinata. Daí eu vou ganhar por isso.

— Caralho, Kiba! Tá virando adulto, hein? Que bom que saiu algo positivo do monte de merda que você fez.

— Monte de merda nada! Foi só... o que eu chamo de “erros justificáveis por desvio de cálculo” — o garoto falou cheio de si — Me da um pedaço de omelete! Ainda to com fome.

— Mas eu também to com fome — Naruto fez um bico.

— Aqui, Kiba kun — Hinata se prontificou a dividir o almoço com o colega, ajudando-o a comer, já que ele não podia manipular o par de hashi — Você aceitou a proposta?

— Aceitei — a resposta veio durante a mastigação — Já vou juntar o dinheiro e conseguir créditos extras pra faculdade! Mas vou ter que fazer umas sessões com a psicóloga também. Foi o presidente Sarutobi que colocou como condição.

— Se você pensar bem, foi muita burrice da sua parte. Eu desconfiaria de cara de tudo — Naruto terminou de comer e caiu pra trás, deitando-se no chão de cimento.

Kiba ficou ofendido.

— Teu rabo! Não tinha como desconfiar, eles armaram muito direitinho!

— E o “chantagista” parecia bandido mesmo? — Naruto soou bem curioso.

A pergunta fez Kiba refletir por alguns segundos.

— Bandido não... mas que o cara é esquisito, isso lá é. Ele tá sempre de óculos escuros e com umas blusas de gola alta até aqui — nivelou o nariz com a mão esquerda pra mostrar — Não sei se é estilo dele ou só se vestiu assim pra me assustar e... hum... tava mais pra nerd esquisitão do que pra bandido perigoso. E estava tudo bem tranquilo, nem quando a gente foi no pub... eu não senti nem um pingo de medo.

— Podia ser estratégia — Hinata falou.

— Pra baixar a guarda? — Kiba olhou na direção da menina — Eu pensei isso quando ele veio com a história do hotel, que ele exigiu coisa fácil pra eu ir caindo cada vez mais na chantagem. Agora, com calma, eu acho que podia ter partido a cara dele, mas entrei em pânico e meu cérebro meio que derreteu. Por isso tentei fugir pela janela.

— Enfrentar um adulto sozinho nunca é uma boa ideia — a voz de Hinata veio baixinha, embora perfeitamente audível.

— Vocês podem vê-lo! — Kiba revelou como se não fosse grande coisa — Ele vem me pegar aqui na escola hoje.

— EE?! — Naruto sentou-se ao ouvir a revelação. Hinata também mostrou surpresa no rosto delicado — O quê?!

Kiba deu de ombros.

— Não vou poder participar das atividades dos clubes com o braço assim. Então minha mãe e o presidente Sarutobi decidiram que quanto antes eu conversar com a psicóloga, melhor. O Aburame vai me levar uma vez por semana, toda terça-feira.

— Falando nisso, quero ser o primeiro a assinar o gesso! — Naruto mostrou um sorrisão.

O outro garoto apenas girou os olhos. Ouviu tal pedido a manhã toda, de repente o gesso em seu braço era a grande estrela da escola. Até entendia, alunos machucados não era algo comum por ali. Principalmente Kiba, conhecido por ser traquinas e agitado, já acostumado a todo tipo de atividade física. Ninguém imaginou que seria descuidado a ponto de quebrar um osso.

— Você não vai assinar nada — decretou — Vou fazer palestras por aí e quero parecer profissional.

A declaração fez Naruto gargalhar. Nem em mil anos Kiba pareceria profissional em algo.

— Tem é que nascer de novo pra isso — provocou com a voz entrecortada pelo riso.

— Boa decisão, Kiba kun — Hinata apoiou ainda que, lá no fundinho, também quisesse deixar uma assinatura no gesso branquinho.

Alguns adolescentes que estavam sentados na outra ponta do telhado gargalharam entre eles e se levantaram para sair dali. Então os três se deram conta de que o horário do almoço estava acabando, logo teriam que voltar para o segundo período de aulas. Era melhor terminar a refeição antes que ficassem sem tempo.