Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 36
THALIA - À voar


Notas iniciais do capítulo

demorou mais saiu cap novo! desculpa a demora! eu fiquei meio viciada no jogo do Homem Aranha e não conseguia fazer mais nada hehe. eis a prova q n consigo postar semanalmente.
esse cap vem com uma nota relacionada à um trecho com asterisco ( *)
enfim, divirtam-se



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THALIA

Eu alternava meu olhar entre a senhora Ártemis e Váli esperando que alguém explicasse mais ou ao menos me desse uma opção que não envolvesse eu andar de avião. Acho que eventualmente a senhora Ártemis sentiu meu olhar de curiosidade e, com um suspiro, decidiu que eu merecia uma explicação mais detalhada.

— Acho que não preciso dizer que muitos povos possuem muitos deuses diferentes… - disse ela.

— Sim. Isso é bem claro de se ver. - eu disse confirmando com a cabeça.

— Se for parar para pensar um pouco, é fácil notar que muitos desses deuses perderam grande parte de sua importância com o passar das décadas e dos séculos. Nós mesmo perdemos muito também. - explicou ela - Os egípcios também, os astecas, os celtas… enfim… alguns ainda conseguem ser reconhecidos pelos mortais por causa de alguma fama antiga, mas dificilmente são levados à sério.

— Rebaixados à mera “mitologia” - disse Váli.

— Sim. - concordou Ártemis - Muitos se tornaram esquecidos, outros permaneceram com certa fama mas rebaixados a mitologia. Outros ainda conseguem se manter com mais reconhecimento do que isso, como é o caso dos japoneses.

— Acho que eu deveria imaginar que os japoneses também existem… todas as religiões que existem ou existiram são de fato reais? - perguntei.

— Não repita tal pergunta… - disse Ártemis lançando um olhar sério até mim que fez com que eu imediatamente desistisse de insistir.

— Mas voltando a explicação… - disse Váli tomando a palavra para si. Me pergunto se ele também não gostava muito da pergunta que eu tinha feito - Se for parar para pensar, tem muito deus por aí que não gosta de toda essa perca de fama pela qual passou.

Pensei essas palavras antes de falar alguma coisa. Acho que estava entendendo qual era o objetivo desses deuses que estavam se reunindo e causando confusão. Não era tão diferente de muitos outros problemas que já tinha enfrentado no passado. Afinal, tudo parecia se resumir a uma palavra: Poder. E pelo o que Váli tinha explicado, ía bem mais além de recuperar poder perdido. “Onde os agora ignorados ou que nunca tiveram importância possam ser os verdadeiros líderes”. Essas tinham sido as palavras dele. Então não só deuses que tiveram importância no passado estavam nessa empreitada maluca, alguns não tão poderosos estavam nessa também.

— Então… Aqueronte…? - perguntei olhando para Ártemis.

— Acho que teremos que nos preocupar com vários outros rios míticos, incluindo ele. - disse Ártemis - Ele disse querer o futuro prometido por Naunet. Deve ficar facilmente atrativo sendo ela a deusa das águas primordiais, mesmo que egípcia.

— E em que parte disso está a necessidade de eu pegar um avião? - perguntei.

Em resposta a minha pergunta, Ártemis cruzou facilmente a distância que nos separava de Váli e Sigyn cruzando o rio, que não era tão fundo, a pé mesmo. Não querendo arriscar qualquer ataque surpresa, eu e Kowalski apontamos nossas flechas para os dois prestando atenção em qualquer mínimo movimento. Ártemis estendeu então a mão para Váli e pegou o ticket do avião e leu-o com calma.

— Atenas, Frankfurt. Frankfurt, Boston? - perguntou ela.

— Porque esses destinos especificamente? - perguntou Kowalski.

— E como sabem que é bom eu pegar esse avião? - perguntei.

Váli soltou um suspiro enquanto a senhora Ártemis voltava até nós com o bilhete do avião ainda em mãos. Meus olhos seguiam cada movimento dele procurando qualquer sinal de ataque, mas tudo que ele fez foi colocar as mãos dentro dos bolsos de sua calça.

— Naunet e Quetzalcoatl foram tentar nos recrutar com Cipactli. - disse Váli.

— Naunet egípcia, os outros astecas? - disse Kowalski interrompendo-o.

— Sim. - disse Váli - Eles não notaram que ouvíamos, mas ouvimos eles dizerem que precisam enviar alguém para interceptar o avião antes que ele chegue nos Estados Unidos. Parecem estar interessados em algo que está nele.

— O que? - perguntei.

— Não sei. - disse Váli dando de ombros - Quetzalcoatl sugeriu que Tlaloc fosse interceptar o avião apesar de, pelas palavras de Cipactli, ficarem receosos que Tupã perceba que estão envolvidos nesse plano de Naunet.

— Pera… muitos nomes… explicações melhores, por favor - disse Kowalski e eu compartilhava do sentimento.

Eu não era nenhuma especialista em mitologia e aqueles nomes complicados já estavam me confundindo. Já era muito difícil decorar qual deus grego e romano eram equivalentes entre si. Além de toda essa bagunça de nomes que se formava na minha cabeça, também me questionava se Sigyn se quer podia falar. Ela não tinha dito uma só palavra todo esse tempo. Quanto a situação do avião, claro que eu ficaria preocupada que algo importante caísse em mãos erradas. Mas ainda não via o motivo porque tinha que ser especificamente eu e o que era essa coisa que estava no avião.

— Quetzalcoatl, Cipactli, Tlaloc. - disse senhora Ártemis - Os três são deuses astecas. Assim como os gregos e romanos, eles tem uma outra forma, como deuses maias. Quetzalcoatl é a serpente emplumada. Cipactli seria perfeitamente descrito como um crocodilo demoníaco. Tlaloc é o deus das chuvas, trovões e etc.

— Oh… - eu disse.

A explicação fez com que eu notasse porque tinham imediatamente ligado a situação até mim. Tlaloc era aparentemente o Zeus asteca. Imagino que a safra de filhos de Zeus estivesse muito baixa por causa dos acordos e também por… Jason… Pergunto-me como meu nada querido pai está lidando com esse acordo de não ter filhos sendo que a fama dele na mitologia… bem… digamos que não quero tentar montar minha árvore genealógica.

— E esse outro que eles falaram? Tupã? Porque ficariam preocupados com ele? - perguntei.

— Tupã já mora mais ao sul do que os três guatemaltecas-belizenhos-mexicanos, apesar de também morar no sol. - disse Váli

— No sol…? Mas Apolo não….? - eu disse tentando entender o nó que estava se formando na minha cabeça.

Se Tupã morava no sol, como Apolo podia dirigir a carruagem do sol? O sol é um trailer ou uma carroça de caminhão mágica? Depois de alguns segundos, decidi que era melhor não pensar nisso. Com certeza eu só iria ficar cada vez mais confusa. Principalmente se for parar para ver mais a fundo as outras mitologias.

— Quão ao sul? - perguntou Kowalski enquanto eu ainda tentava organizar minha cabeça.

— Brasil. - respondeu Váli - O deus trovão da mitologia tupi-guaraní.

— Então… basicamente me escolheu pra ajudar porque está cheio de deus de trovão no meio? - perguntei - Não tinha nenhuma opção melhor ou… ou melhor… se não gostam do que está acontecendo, não poderiam simplesmente resolver vocês mesmos?

Minha expressão era dura enquanto cruzava os braços olhando-o com olhar acusador. Deuses e sua mania de deixar o trabalho sujo para os outros. Pela expressão de leve surpresa de Váli, presumi que ele não estava nada acostumado a ter outras pessoas falando com ele naquele tom. Apesar disso, eu não parei de encarar o deus de forma firme e acusadora.

— Você realmente sabe escolher suas caçadoras, Ártemis - disse Váli.

A leve risada que Ártemis deu atraiu minha atenção até ela e pude ver o olhar de aprovação e orgulho que ela brevemente me deu antes de olhar para Váli novamente.

— Escolhi você pois estava mais perto. Não vou resolver porque não estou afim - respondeu Váli.

Eu bufei não me surpreendendo com a resposta. Será que existiam seres mais preguiçosos (e irresponsáveis talvez) do que os deuses? Não pude deixar de ficar ao menos um pouco frustrada. Claro, não vou generalizar. Acredito que alguns deuses além da senhora Ártemis aceitem fazer um pouco mais do que mexer uns palitos ou terceirizar a salvação do mundo, mas, mesmo assim, não era nada legal ser usado como uma mera peça de um jogo de xadrez.

— Bem, está avisado. - disse Váli - Os tickets estão aí com vocês, dá para duas pessoas então pode até levar uma amiguinha. Boa sorte para vocês nessa nova tentativa de fim do mundo.

Deixando a gente para tomar as decisões difíceis, Váli e Sigyn se viraram de costas e foram embora. Eu bufei de raiva e me aproximei da senhora Ártemis que me estendeu os tickets do avião para que eu os visse provavelmente já imaginando que eu iria pedir de qualquer jeito. Olhei para a folha quadriculada que mostrava as cidades do trecho. O vôo que saía de Atenas iria sair na manhã do dia seguinte, não me surpreenderia se fosse o primeiro vôo ou um dos primeiros. Eu tentava pensar com clareza quanto a situação como um todo, mas meu coração já se apertava só de pensar em entrar num avião. Era como se um peso estivesse me esmagando bem no peito.

— Você pode decidir o que fazer - disse a senhora Ártemis.

— Imagino que tenha seu posicionamento já.. - eu disse.

— Sim. - disse Ártemis - Embora não goste da ideia de deixa-la ir nessa missão que pode muito bem ser uma mera armadilha, também não pode ser algo que deva passar sem ser verificado.

— Exatamente o que eu pensei… - eu disse soltando um pesado suspiro e me sentando em uma das pedras cinzentas e com um pouco de musgo que havia ali perto.

— Posso ir com ela para ter certeza de que tudo vai dar certo - disse Kowalski e não pude evitar abrir um pequeno sorriso para ela, especialmente considerando que meu estômago já estava se embrulhando só de pensar na altura que o avião estaria.

Enquanto eu respirava fundo brevemente mandando meu estômago se acalmar, eu olhei para as duas ao notar que estavam com os olhos atentos em mim provavelmente esperando a minha decisão. Claro que eu iria preferir que a senhora Ártemis fosse junto, não que eu não goste de Kowalski, muito pelo contrário. A preferência é apenas porque é claramente mais confiável e seguro ter um deus ao seu lado. Um que não seja folgado de preferência, ou então ele só vai dar mais trabalho. Mas eu sabia que isso não era possível, ela tinha que guiar as outras caçadoras pelos rios que se rebelavam para se juntar à causa de Naunet.

— Bem, acho que temos algumas horas para chegar até Atenas, Kowalski. - eu disse.

O sorriso apareceu no rosto dela e baixei os olhos para o ticket do avião que segurava em minhas mãos. Não me impressionei quando meu nome apareceu magicamente escrito no campo que estava vazio esperando essa informação.

Infelizmente, o transporte entre cidades na Grécia não é tão simples como em outras partes da Europa que são tranquilamente ligadas por trens extremamente velozes. Fizemos o que podíamos, pegamos caronas, carros emprestados… E claro que a Grécia estava cheia de monstros mitológicos prontos para fazer a gente de café da manhã ou lanchinho noturno que a lua ainda brilhava forte no céu. Porquê o Aqueronte tinha que ser tão longe de Atenas? Viajamos a noite toda até chegarmos na capital grega com alguns arranhões por causa de lutas apressadas.

Conseguimos chegar no aeroporto com algum tempo de antecedência e, por mais que olhássemos, tudo parecia bem normal.

— Você está com uma cara horrível - disse Kowalski.

— Eu sei - eu disse com a mão no estômago.

Tinha certeza de que meu estômago estava quase botando para fora o pão que compramos numa padaria do aeroporto cujo nome, por algum motivo, era Leonidas. Não pude deixar de lembrar de outro Leonidas, não o que ficou famoso pelo nome e o filme 300, mas o único Leonidas que conheço, Leo Valdez. Bem, não posso dizer que o conheço muito bem, mas quantos Leonidas você conhece? Por mais que alguns semi deuses atuais tenham nomes de heróis antigos, como Jason(*) ou Percy, Leonidas não era um nome que se via todo dia, ainda mais fora da Grécia.

Notei logo que minha mente estava vagando por assuntos mais simples querendo desviar minha atenção de meu estômago.

— Se acontecer algo estranho você me avisa né? - perguntei.

— Claro. Porquê? - perguntou Kowalski.

— Preciso de uns minutos ou vou ficar completamente inútil em qualquer batalha que aconteça - respondi.

Kowalski não perguntou o que eu quis dizer com aquilo, mas seus olhos acompanharam minhas mãos quando eu peguei de dentro da mochila em minhas costas um iPod preto meio surrado, botei os fones de ouvido e comecei a escutar Green Day. Sim, eu sabia que escutar Boulevard of Broken Dreams não era a melhor coisa para se fazer quando um deus pode começar um ataque a qualquer momento, mas música às vezes ajudava a relaxar e eu precisava relaxar ou iria derrotar Tlaloc vomitando na cara dele.

Até a hora do embarque meu estômago conseguiu se tranquilizar o suficiente para que eu guardasse o iPod na mochila e seguisse com Kowalski para dentro do avião. Apesar de ela ter tido que me dar um leve empurrão para que de fato entrasse na aeronave.

Enquanto entrávamos no avião, eu tentava me lembrar de que ele ainda estava no chão enquanto íamos até o lugar que estava marcado para nós. Avaliamos cada rosto que estava ali. Seja de passageiro ou tripulação. Mas todos pareciam bem normais. Os mais extravagantes não pareciam passar de turistas que estavam voltando para casa depois de um passeio pela história de Atenas. Me sentei na cadeira e eu tentei, eu realmente tentei, ficar pronta para qualquer batalha ou coisa do tipo, mas a verdade era que fiquei travada como uma estátua criada por Medusa segurando-me talvez forte demais no meu querido assento-flutuante enquanto desejava que ele também tivesse um paraquedas ou algo do tipo.

Apesar dos alertas de Váli, o vôo até Frankfurt foi tranquilo apesar de meu melhor amigo da viagem ter se mostrado como o saco de vômitos embora Kowalski fosse uma boa adversária para ele tentando me dar água e tudo mais. Pousamos em solo alemão com a certeza de que todo o pão que comi na Padaria Leonidas tinha ficado para trás. Isso, e de que qualquer coisa que acontecesse de extraordinário nessa viagem iria acontecer no segundo trecho.

De volta à terra firme e já tendo passado pelo primeiro susto do avião, consegui ajudar Kowalski mais na tarefa de analisar todos os passageiros que estavam no saguão de espera para o mesmo avião que nós ou outro que tinha o portão ali perto. Assim como em Atenas, todos pareciam bem normais, exceto uma família em particular. Uma garota com aqueles panos que muçulmanos usam na cabeça, um senhor, uma senhora com o mesmo pano na cabeça, e um rapaz. Não me entenda mal, não foi pelo fato de serem muçulmanos que fiquei os encarando com mais intensidade (não posso dizer o mesmo dos outros passageiros do avião), mas sim porque a garota segurava um machado.


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Notas finais do capítulo

Jason(*) - O que a Thália diz faz mais sentido em inglês pq não traduziram o nome do Jason pra português. Jason é Jasão em inglês. Na mitologia grega, foi um herói da Tessália, filho de Esão.


ps: alguém mais além de mim não lembrava que o nome do Leo era Leonidas e não Leonardo? kkk
ps2: sim, tem uma padaria com esse nome no aeroporto kk eu abri o mapa pra procurar algo pra elas comerem, como um Burger King ou algo do tipo, e ganhei essa padaria kkk
sim, eu precisava que fosse a Thália narrando de novo pq o núcleo dela tá meio sem gente pra narrar (gente q tenha a imagem da Viria pq eu sou perfeccionista)
E por hj é isso! espero que tenham gostado! XD