Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 35
MAGNUS - E que isso não se repita


Notas iniciais do capítulo

e mais um capítulo para vocês! como prometido, os nórdicos ♥
espero que gostem
não tão importante mas, acrescentei "Persa" nas línguas que o Anúbis fala pq fazia sentido de acordo com a longa história do Egito



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MAGNUS

Foi mal se estou achando complicado começar. Mas vamos lá né?

Não foi tão difícil usar o bananão para sair de Nova Iorque e chegar até Boston. Foi um trajeto rápido e deprimente no qual nós não conversamos muito. Por mim, fiquei encostado na amurada do navio vendo a paisagem passar. Eu sentia um peso no meu coração que eu sabia que era bem mais do que só por causa que TJ tinha morrido. Eu estava completamente distraído quando Alex se aproximou de mim e encostou-se também na amurada de braços cruzados e fitando o horizonte. Olhei com o canto do olho rapidamente para ela e logo voltei a olhar para a linha do horizonte.

— Maggie - disse Alex soltando um suspiro pesado - você está mais silencioso que o normal.

— Acho que por bons motivos… - eu disse suspirando também.

Quando o silêncio voltou mais uma vez, deixei minha mente vagar pelos meus próprios pensamentos e memórias. Infelizmente, minha mente gostava de ficar revendo os momentos da batalha lá em Israel antes de eu desmaiar. Será que talvez teria acontecido o mesmo se eu fosse melhor em batalhas? Quer dizer… Alex, Mallory, Mestiço… TJ… todos eram claramente melhores de briga do que eu, que era basicamente o curandeiro que deixava Jacques fazer boa parte do trabalho complicado. De repente, entendi o que era que pesava no meu peito além da morte de TJ, era culpa.

— Estou só pensando algumas coisas… talvez não muito legais. - eu disse.

— Tipo? - perguntou Alex.

— Coisas. Tipo… o que poderia ter acontecido se eu não tivesse desmaiado ou se eu fosse melhor em combate.

Vi Alex abrindo a boca e fechar provavelmente tentando escolher as melhores palavras para me consolar ou tentar não botar a culpa em mim quando eu só sentia ela sobre mim. Talvez a culpa fosse minha mesmo. Se não fosse, talvez Alex não acharia tão difícil achar uma resposta. Meus olhos desceram para a água do mar até que me sobressaltei quando uma mão tocou meu ombro do lado oposto em que Alex estava. Me virei e topei de cara com Mallory que me olhava com olhos sérios mas também preocupados.

— Não fique se culpando, Magnus. - disse Mallory - Não foi culpa sua.

— M-Mas…

— Não foi culpa sua. - disse Mallory me culpando - É normal quem fica ficar se culpando por esse tipo de coisa. Mas não foi culpa sua. É triste, mas esse tipo de coisa acontece em batalhas e sempre tentamos dar o nosso melhor para proteger a nós mesmos e aqueles que são queridos. Não se culpe, ele não iria gostar.

Pensei sobre essas palavras por alguns segundos e então afirmei brevemente com a cabeça. Talvez ela tivesse razão. Ela ficou me olhando por mais alguns segundos, provavelmente para ter certeza se eu estava melhor, e depois me deu mais dois tapinhas no ombro.

— Cuide dele - disse Mallory olhando para Alex.

— Pode deixar! - disse Alex levando a mão direita até a testa como se batesse continência.

Quando chegamos em Valhalla, o cenário que encontramos foi muito parecido com quando Gunilla e outras Valquírias tinham morrido. Os olhares que recebemos mostravam que alguns provavelmente estavam nos culpando pelo ocorrido ou não queriam falar disso, pelo menos não ainda. Várias pessoas saíam provavelmente indo para o lugar onde seria realizado o funeral. Tínhamos chegado algumas poucas horas antes do funeral marcado. Sorte?

— Levaram mais tempo do que achei que fossem levar… - disse Hunding nos recepcionando quando entramos pelo saguão de entrada.

— Muita coisa aconteceu - respondeu Mallory.

— Isso é bem claro de se ver - disse Helgi soltando um pesado suspiro e olhando para o chão.

— Espero que tenham se vingado de quem quer que fez isso - disse Helgi.

— Nos livramos de quem causou a morte dele diretamente, mas não daqueles que começaram tudo isso. Ainda não. - disse Mestiço.

— O quão complicada foi essa situação em que se colocaram? - perguntou Helgi.

— Algo que pode provavelmente levar a algo pior do que o Ragnarok se não fizermos algo - reclamou Alex.

— Ao menos não estamos sozinhos nessa, conseguimos outras pessoas, semi deuses em maioria, que também estão sendo afetados. - disse Mallory - Dito isso… sabem dizer se tem alguma passagem por aqui que vá para a costa oeste? Valhala não tem vários pontos de entrada e saída através dos nove mundos?

— Sim, não que eles sejam tão fáceis assim de achar - disse Helgi - Planejam sair de novo então? Sem nem participar da cerimônia para TJ? E sem preencher a papelada?!

— Só quero adiantar as coisas. Não vejo a hora de nos vingarmos de quem nos fez perder um bom amigo - disse Mallory e eu praticamente pude ouvir o ranger dos dentes dela.

Desculpe se estou meio calado durante a conversa. Não estou muito no humor para isso no momento. Talvez notando meu estado de humor e lembrando-se da breve conversa no bananão, Alex olhou para mim com os olhos preocupados mas não falou nada.

— Vou tentar investigar - disse Hunding.

— E espero explicações depois - completou Helgi.

Tivemos tempo o suficiente para irmos rapidamente até os nossos quartos apenas para completar qualquer coisa que faltasse para irmos para o funeral. Funerais vikings geralmente envolvem pessoas deixando coisas nas piras funerárias. Então, considerando a importância de TJ, achei que ele merecia isso. Tentei não olhar para a porta do quarto dele quando entrei no meu atrás de alguma coisa para deixar em sua pira. Só a imagem da porta cujo interior estava desocupado já fazia o peito doer mais ainda.

Em meu quarto, tentei encontrar alguma coisa que fosse digna do funeral do meu amigo. Não sabia o que levar. Todos iriam levar armas, ouro, armaduras e coisas do tipo. Mas eu queria que fosse mais pessoal. Que fosse mais parecido com o TJ como pessoa e não como guerreiro. Me aproximei então de uma pequena pilha de livros e quadrinhos. Ok, na maioria quadrinhos. Dentre histórias como Mighty Thor (adquiridas para fins de pesquisa… ou não…)  Batman, Scott Pilgrim e Watchmen, tinha um livro que TJ havia me emprestado. Notei, com vergonha, que não tinha nem chegado na metade do livro que, embora claramente velho, parecia interessante. Seu nome era West with the Night e aparentemente contava a história e as memórias de Beryl Markham, uma aviadora Inglesa-Queniana, a primeira a voar o Atlântico de leste a oeste em um vôo sem qualquer parada. Decidi então que esse seria o livro escolhido para queimar na pira, por mais triste que seja um livro ser queimado. Não queria pensar em como agora era tarde demais para ler o livro e conversar com ele sobre o livro. Um dia, com certeza, eu iria arrumar uma outra cópia do livro e de fato ler, mas agora, ele parecia a melhor coisa para lembrar-se de TJ, sua paixão por aviação e sua amizade.

Quando saí do quarto, encontrei Mestiço encostado na porta de TJ olhando para seu interior com um olhar difícil de decifrar. Era uma mistura de dor com algo mais. Ele deve ter notado que eu olhava, pois logo se afastou da porta e passou a mão no meu cabelo bagunçando ele todinho.

— Ei! -  reclamei.

— Que coisa, não? - disse Mestiço suspirando - Mesmo quando passamos décadas como rivais, nunca imaginei que esse dia chegaria.

— Foi mal… - resmunguei e Mestiço olhou para mim surpreso.

— Do que está se desculpando? - ele perguntou.

— Se eu fosse melhor na arte da porrada…

— Bah! Tenho certeza que TJ não se arrependeu de defender um amigo. Eu também não me arrependi, nem agora e nem quando morri a primeira vez. Cabeça pra cima, Magnus. Se acha que suas habilidades de luta não estão boas o suficiente, você é quem pode mudar isso. - ele disse cutucando-me no ombro.

Eu já estava me perguntando quantas vezes mais eu teria que ouvir alguém dizer que a culpa não era minha para realmente acreditar que a culpa não era minha. Mas guardei as palavras de Mestiço bem fundo. Eu iria me empenhar mais para melhorar no combate. Isso era certeza. Não deixaria que ninguém mais de nosso pequeno grupo nórdico ou até mesmo de nosso novo grande grupo de outras mitologias misturadas, perdesse a vida. Quando seguimos o caminho para sair do andar 19, logo topamos com Mallory e com Alex, cada uma, assim como Mestiço e eu, segurando o objeto que iriam colocar na pira de TJ. Mestiço trocou um olhar com Mallory enquanto eu troquei com Alex que logo se aproximou de mim e me abraçou por uns segundos.

Eu, obviamente, correspondi o abraço. Depois de alguns segundos, ela se separou e ficou ao meu lado passando o braço pelo meus ombros.

— Vamos, temos um último adeus à dar - disse ela.

Seguimos com os outros do hotel e, novamente, me lembrei de quando Gunilla e as valquírias morreram, pois o grupo seguiu para o Public Garden, o mesmo lugar onde fizemos o funeral delas. Estava frio e era inverno tal como daquela vez. Quando chegamos lá, logo meu estômago se revirou ao ver, envolto em branco e deitado em uma base de madeira que flutuava no leito do lago, o corpo de TJ. A situação era tão assustadoramente deprimente que demorei para processar que Blitzen e Hearthstone estavam lá também.

Hearthstone se aproximou de mim e cruzamos o olhar. Os olhos dele pareciam dizer dezenas de palavras que eu queria ouvir mesmo sem ele saber toda a história ainda. Ele logo mostrou como ações podem dizer centenas de palavras quando me abraçou fortemente. Rapidamente aquilo virou um abraço em grupo quando Blitzen se juntou ao abraço. Senti os meus olhos lacrimejarem talvez extravasando as coisas que estavam dentro de mim. Eu senti que ia vomitar ou tomar no chão com minhas pernas bambas. Podem dizer que não foi nada viking de minha parte, mas eu chorava com um bebê. Sem dizer qualquer palavra em voz alta, me separei deles e limpei meu rosto com as mangas de minha roupa. Minha garganta parecia pesada então, com as mãos, sinalizei um “obrigado” ao qual Hearthstone respondeu com um breve aceno de cabeça e Blitzen com dois tapinhas no meu ombro.

Com o início da cerimônia fúnebre, olhei para o corpo de TJ. Ao lado do corpo dele, estavam suas armas, armaduras e também ouro. O mais ordenadamente que um bando de vikings brutamontes conseguiam, as pessoas se aproximavam para deixar alguma coisa junto à TJ. Quando Mallory, que também chorava, se aproximou para fazer o mesmo, resolvi que era uma boa hora de ir. Até que ela parou e resolveu fazer um discurso sobre TJ.

— TJ era mais que um bom amigo. - disse Mallory - Com certeza era mais educado do que a média que temos em Valhalla, leal, um pouco tagarela às vezes, otimista… e às vezes também certinho demais.

Um sorriso triste como se lembrasse de algum momento engraçado com TJ cruzou a face de Mallory brevemente e, no momento seguinte, vi que Mestiço tinha se aproximado e passado o braço ao redor do ombro dela visto que ela parecia ter ficado momentaneamente sem forças para falar.

— Ele não merecia morrer tão cedo. - disse Mallory - Seus pouco mais de 150 anos em Valhalla foram tão dignos e heróicos quanto sua vida foi. Assim como seus momentos finais foram. Tanto o que levou-o a Valhalla, quanto o último. Ele… Ele…

A voz de Mallory se perdeu e então Mestiço continuou.

— Ele era alguém digno de se ter uma longa rivalidade e uma longa amizade. Talvez ainda tivéssemos muito o que aprender com ele. Afinal, muitas vezes, só ele pode botar ordem no caos que pode ser o andar 19.

— Queria que tivesse tido mais tempo para conhecê-lo. - disse Alex.

— Também - eu disse não sendo tão bom com palavras como os outros.

— De parceiro de luta a rival na escolha de uma estação de rádio que preste, ele sempre se mostrou uma pessoa justa e divertida. - completou Alex.

Sentindo olhos em cima  de mim, afinal, eu também dividia o andar com TJ e não tinha falado mais do que uma palavra, eu descobri que era hora de encontrar algo para dizer.

— Parece bobo mas… uma coisa que lembrei foi que quando cheguei em Valhalla, completamente perdido, ele foi o que mais se preocupou comigo, quem realmente se apresentou, me chamou para tomar meu primeiro café da manhã em Valhalla e explicou trocentas coisas. - eu disse enquanto passava a memória em minha cabeça - O buraco que ele vai deixar no andar 19 nunca será preenchido novamente.

Vi Mestiço, Mallory e Alex concordarem com minha afirmação e então, quando mais palavras não pareceram surgir de nenhum de nós, nos viramos e deixamos os nossos objetos sobre a pira de TJ. Tomei alguns segundos para olhá-lo e então, sentindo mais uma vez as lágrimas encherem meus olhos, virei de costas e voltei para a multidão. Depois de todos irem até a pira, o fogo foi aceso e então ela foi empurrada para o lago onde flutuou calmamente. As chamas devoravam tudo enquanto a escuridão da noite engolia o mundo e meus olhos subiam da pira em chamas seguindo a trilha de fumaça que era emanada dela indo em direção ao céu. Olhei para as estrelas me perguntando o que acontecia quando alguém já morto morria uma segunda vez e jurando para mim mesmo que não deixaria mais nenhum funeral acontecer tão cedo.

 


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Notas finais do capítulo

tenho uma dúvida. vocês preferem atualizações semanais ou assim mais aleatórias (e que dão mais tempo de ler já que não são nunca semanais)?
já sei quem vai narrar o próximo capítulo XD e tbm tive ideias novas de coisas para fazer! yey! obrigada a todos que seguem lendo ♥ divulguem a fic, deem up se verem eu divulgando nos grupos do face (pq quando várias pessoas comentam, mais pessoas conseguem ver) e obrigada por serem esses leitores linds ♥ logo logo tem mais. hoje ou amanhã vou tentar atualizar a do Egito Antigo mas a da Sadie e Anúbis que se passa uns 10 anos depois dessa fic vai ficar em hiatus por um tempinho. e é isso... até prox cap ♥



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