Mesa para dois escrita por Yokichan


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

AHHH, eu amei escrever esse capítulo. ♥
Espero que gostem de lê-lo.



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Os dois sempre haviam se equilibrado sobre aquela linha muito tênue que separava o campo da amizade e da brincadeira do campo que envolvia as coisas sérias. Divertindo-se, eles vestiam máscaras e representavam. Experimentam situações de mentira e sentimentos inventados, mas que tampouco eram falsos. No fundo, Suigetsu sabia que havia sempre um pouco de verdade em tudo o que fingiam.

E gostava de testar-se naquele jogo.

Gostava de testá-la, de vislumbrar até onde ela poderia ir.

Seus amigos achavam que eles tinham um caso e, às vezes, ao sair com outras garotas, ele mesmo era confundido pela sensação de que estava fazendo algo errado, de que devia alguma satisfação à Karin. Além disso, não havia aquela história de que, quando uma mentira é contada muitas vezes, ela acaba se tornando verdade? De algum modo, a ideia de que poderia ter algo a mais com Karin insinuou-se lentamente para dentro dele e, em certo ponto, começou a fazer sentido.

Eles entendiam-se, davam-se bem, até mesmo melhor do que muitos casais de verdade. Depois de tanto tempo de convivência, antes de Konoha e mesmo agora, Suigetsu conhecia cada um de seus hábitos, assim como ela tinha consciência de todas as suas manias e esquisitices. Além do mais, Karin era linda – de uma beleza exótica e intensa que, em sonhos, deixava-o louco – e uma mulher incrível em todos os demais quesitos. Suigetsu não era do tipo vaidoso e não costumava enaltecer as próprias qualidades, mas considerava-se um cara interessante e não desprezível.

Então, por que não?

Se eles já enchiam os olhos das velhas alcoviteiras como um casal de mentira, que espetáculo não proporcionariam como um casal legítimo?

***

Aos poucos, a ideia foi ganhando força dentro de Suigetsu. E naquela tarde, quando Karin falou-lhe a respeito do jantar e da promoção de Dia dos Namorados, ele compreendeu que, se deixasse a oportunidade passar, se arrependeria pelo resto de seus dias. Não sabia o quanto ela já havia considerado aquela possibilidade, se tinha imaginado tanto quanto ele, mas tinha certeza de que Karin não era absolutamente indiferente. A questão era arriscada, mas era justamente isso que o instigava.

Olhando-se diante do espelho do quarto miserável que dividia com Juugo, vestindo apenas as calças do terno, ele observou os músculos discretos dos braços e do abdômen e pensou que podia ser considerado um cara acima da média. Além disso, tinha os ombros largos e as costas firmes, e sabia que uma boa parte das mulheres era louca justamente por ombros e costas.

— Ei, Juugo. Se você fosse uma garota, você se sentiria atraída por mim?

Juugo, que estava atirado sobre uma cama de solteiro, desviou os olhos do manual de botânica e encarou o colega de quarto como se ele tivesse acabado de dizer algo muito absurdo. De fato, a ideia era realmente absurda.

— O quê?!

— Apenas responda.

— Eu não sou uma garota. – Juugo semicerrou os olhos. – Como vou saber?

— Apenas imagine.

— Apenas vou acertar um soco no meio da sua cara se não calar a boca.

— Nem pense nisso. Vou sair com a Karin hoje e preciso estar apresentável.

— Karin. – Juugo bufou. – Que novidade.

Suigetsu vestiu a camisa, fechando cuidadosamente cada um dos botões, ajeitou a gola, e então experimentou o paletó. Tudo serviu perfeitamente, dando-lhe um aspecto refinado. Por fim, calçou os sapatos de couro preto e borrifou-se de perfume, provocando a alergia de Juugo, que deixou o quarto entre espirros e palavrões. Dando uma última olhada no conjunto inteiro, Suigetsu decidiu que sim, que podia ser considerado um cara atraente.

***

Na hora marcada, ele foi buscá-la. E quase ficou sem reação ao vê-la tão linda e pronta a partir seu coração. Os longos cabelos ruivos caíam em uma mecha sobre o rosto enquanto ela se curvava a fim de ajeitar as sandálias e aquelas pernas longas e maravilhosas davam-lhe água na boca. Um pingente delicado pairava pendurado sobre as curvas dos seios e Suigetsu pensou que daria tudo para estar assim tão próximo do corpo dela.

Obviamente, não era a primeira vez que a via produzida para uma festa ou para qualquer outra ocasião especial. Karin sempre tinha exercido uma atração incomum aos seus olhos. Porém, agora era diferente. Agora ele compreendia o que queria e por que queria, e esse fato transformava todas as coisas ao seu redor.

Suigetsu só não entendia como não tinha se dado conta disso antes.

***

Pelo caminho até o restaurante, eles haviam caminhado de braços dados. Karin equilibrava-se com uma naturalidade felina sobre os saltos altos e finos e, a cada passo, seu quadril movimentava-se e roçava de leve pela lateral do corpo de Suigetsu. Ele aspirava seu perfume suave, mas inebriante, e sorria em silêncio. Sentia-se tomado por um orgulho tolo, como só o orgulho dos apaixonados pode ser, por andar pelas ruas de Konoha na companhia de uma mulher como Karin.

Com aquela postura superior, mas benevolente, cumprimentava com um aceno de cabeça ou com um gesto de mão os conhecidos que passavam por eles, sorria indulgente para aqueles que se atravessavam em seu caminho e, eventualmente, espiava o rosto tranquilo de Karin. A sensação que o dominava era a de que ambos flutuavam em um patamar bem acima de todo o movimento rasteiro da cidade.

Então, quando entraram no restaurante e seguiram para a mesa que o garçom lhes havia designado, Suigetsu fez questão de segurar a mão de Karin e de conduzi-la como um perfeito cavalheiro faria. Ele não era feito apenas de sarcasmos e de ironias, mas sabia ser gentil com uma garota – especialmente com aquela garota. Queria mostrar a Karin que ela poderia levá-lo a sério, não enquanto um parceiro para aquelas bobagens, mas como um homem.

E, talvez, o olhar de Karin sobre ele estivesse mesmo mudando porque, toda vez que ele a fitava diretamente, ela desviava os olhos para qualquer outra coisa.

***

Em dado momento, ela pareceu cansada de especular mentalmente sobre os possíveis motivos do clima que se abatera sobre eles e resolveu adotar uma postura direta, quase combativa. Tendo o camarão empanado a meio caminho entre o prato e a boca, ela devolveu-o ao prato e suspirou profundamente.

— Por que está me olhando assim?

— É errado olhar com amor para a própria namorada? – ele ergueu uma sobrancelha.

Amor?— ela grunhiu num sussurro. – Você enlouqueceu?

— Por que eu teria enlouquecido?

— Pare de me responder com perguntas.

— Desculpe. – ele sorriu e bebeu um gole de saquê.

Karin cruzou os dedos diante do rosto e observou-o com o cenho franzido. Ela sabia que aquele estava sendo o prenúncio de uma das tais cenas, a preparação para o “grande espetáculo”, e sabia que não existiam meios de demovê-lo daquilo. Suigetsu era assim – quando colocava uma coisa na cabeça, não havia quem pudesse fazê-lo mudar de ideia. Agora, a única carta na manga que Karin poderia ter consistia em tentar adivinhar seus movimentos e escapar ilesa daquele teatro.

— Que cara é essa? – ele riu. – Parece até que está tramando a minha morte.

— Impressão sua.

— Você sabe ser uma mulher assustadora quando quer.

— É bom que você saiba disso.

— Querida. – ele deixou os ombros caírem num suspiro. – Por que está tão tensa?

— Não estou tensa. E não me chame de querida.

— Como então vou chamar a mulher que amo?

— Suigetsu. – ela murmurou seu nome como uma ameaça.

— De meu amor, talvez?

Karin quase não resistiu ao impulso de jogar o saquê de seu copo no rosto de Suigetsu, mas acabou segurando-o com uma força desnecessária e sorvendo nervosamente a bebida. O homem à sua frente, por sua vez, esboçava um daqueles sorrisos que Karin considerava sensualmente indecentes. Maldito Suigetsu. O que ele queria, afinal?

— Eu amo você, Karin.

Aquilo pegou-a de surpresa, tal qual uma bofetada. Ela sentiu o rosto arder – de vergonha, de constrangimento, de revolta, de comoção – e o encarou de olhos bem abertos. A sensação que a perpassou foi a de que todas as pessoas daquele restaurante tinham escutado a declaração de amor de Suigetsu.

— Chega. – ela sussurrou, quase sem voz. – Nós não combinamos isso.

— É verdade. Nós não combinamos.

— Então você pode parar agora.

— Eu sinto muito, mas eu não posso.

— Como não pode? Você...

Mas então ele levantou-se e Karin sentiu que as palavras perdiam-se num escuro sem retorno. O que diabos aquele maluco faria? Talvez, se Suigetsu não tivesse rodeado a mesa e ido ajoelhar-se ao lado dela, Karin tivesse corrido para bem longe dali. Talvez, se sua vida não estivesse tão entrelaçada à dele, de modo que já não conseguia distinguir onde terminava uma e em que ponto começava outra, ela tivesse simplesmente acertado um murro bem no meio de seu nariz e acabado com aquela bagunça. Talvez, se não o amasse, ela não tivesse sentido como se o coração parasse de bater. Contudo, o fato era que já não estavam mais fingindo.

Karin não podia mais esconder-se sob uma máscara.

— Escute, mulher. – ele tirou do bolso das calças uma caixinha e, ao abri-la, expos uma aliança prateada, simples, mas encantadora. – Você quer namorar comigo?


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Notas finais do capítulo

Posto o próximo e último capítulo em breve.