Mesa para dois escrita por Yokichan
Notas iniciais do capítulo
Último capítulo.
Então era aquela a cena que ele tinha em mente.
Por um momento, o restaurante inteiro parou e todos os olhos se voltaram para eles. As mulheres sorriam, comovidas, e os homens esboçavam caretas de desdém, não compreendendo a utilidade daquele exagero. Suigetsu continuava ajoelhado, muito sério e determinado, enquanto tudo o que Karin conseguia fazer era encará-lo em completo silêncio, atônita, embora todo o seu interior gritasse em fúria e desespero. Sensações de frio e calor atordoavam-na simultaneamente como se seu mundo tivesse entrado em curto-circuito.
Sobretudo, ela simplesmente não conseguia pensar.
Ao seu redor, as pessoas sussurravam-lhe coisas que, naquele momento, não faziam sentido. Uns suspiravam palavras de comoção, outros encorajavam-na a aceitar o pedido, e ainda havia aqueles que reclamavam sobre a inconveniência da situação. Karin só queria que todos eles calassem a boca e que a deixassem em paz, só queria que Suigetsu não tivesse feito algo tão estúpido, mas, ao mesmo tempo, sentia-se estranhamente feliz. Aquele conflito interno provocou-lhe vertigens e ela fechou os olhos, que só agora percebia estarem úmidos, apertando a ponte sobre o nariz.
As coisas turbilhonavam em sua cabeça de um modo irritante.
Suigetsu.
Por que para ele tudo precisava ser um espetáculo?
Então, quando ele começou a dizer alguma coisa, Karin agiu da maneira mais óbvia a uma pessoa na sua situação. Levantou-se num rompante e, depois de gritar um sonoro “não”, saiu correndo, por muito pouco não passando por cima de Suigetsu. Ele gritou o seu nome, mas ela sequer voltou-se para olhá-lo. Então murmúrios de espanto e risadas entrecortadas preencheram o salão, cujo ar já era denso, e Suigetsu cuspiu um palavrão na direção daquela “corja”, como ele chamou a todos que o encaravam. Quis sair correndo atrás de Karin, de sua garota, mas então um garçom agarrado a uma bandeja interceptou-o e lembrou-o de que era preciso pagar a conta – já que, na verdade, os dois não eram namorados. Ao invés de dar-lhe o dinheiro, Suigetsu presenteou-o com um cruzado de direita, fazendo-o esparramar-se sobre uma mesa.
Quando finalmente saiu para a rua, ele viu que Karin dobrava uma esquina e correu atrás dela. Pelo caminho, deu-se conta de que havia esquecido o paletó do terno no restaurante e de que era um completo idiota. Era claro que ela não abriria um sorriso e diria “sim”. Karin não era aquele tipo de mulher, Suigetsu sabia. Ele havia sido leviano ao imaginar que as coisas pudessem acabar no mesmo tom de brincadeira com o qual tinham entrado naquele restaurante. Certas coisas não faziam parte do jogo.
— Karin! – ele gritou enquanto corria atrás dela. – Espere!
— Vá embora!
— Não até você me escutar!
— Eu não quero saber!
— Karin!
— Eu odeio você, idiota!
Mas Suigetsu sabia que aquilo não era verdade.
Ao atravessar uma rua, saltou sobre o capô de um carro que quase o atropelou e, ao invés de continuar correndo atrás de Karin feito o idiota que ela dizia que ele era, resolveu cortar caminho através de uma viela entre dois prédios. Pelo caminho, derrubou latas de lixo e gatos pularam das sombras, miando ameaças. Suigetsu deixou todos para trás e continuou correndo até o outro lado da quadra, onde esperava encontrar sua garota e esclarecer as coisas. O suor já começava a brotar da pele e os músculos das pernas doíam, mas tudo aquilo se tornava muito pequeno e insignificante em comparação à vontade que ele tinha de estar com ela.
Karin.
“Deus, se você existe, faça com que ela me perdoe.”
Os dois chocaram-se quando Suigetsu saiu outra vez para a rua principal. Teriam caído, estendidos sobre a calçada, se ele não a tivesse agarrado com força e batido as próprias costas contra a lateral do carro estacionado na beira da rua, protegendo-a. Karin gritou, assustada, e escondeu o rosto contra o peito de Suigetsu. Ela agarrava-se à sua camisa e ele percebia como suas mãos tremiam, como todo o seu corpo ofegava, como aquilo tudo havia mexido com ela. Então aconchegou-a melhor junto de si e sentiu-a suspirar profundamente.
— Shhh... – ele sussurrou. – Está tudo bem.
— Você é um cretino... – apenas um murmúrio baixinho.
— Eu sei. – e afagou suas costas com uma mão. – Me desculpe.
— Mas eu não odeio você.
Karin enfim ergueu o rosto para fitá-lo e Suigetsu sorriu.
— Eu não tinha mesmo acreditado.
Ele acariciou a lateral de seu rosto com uma mão e ela fechou os olhos sob o toque. Naquele momento, vendo-a corada, suada e um tanto descabelada, mas totalmente entregue, os lábios entreabertos e o peito subindo e descendo ao ritmo da respiração que se tornara mais profunda, mais nervosa, Suigetsu a achou tão linda como nunca antes. E teve consciência de que estava perdidamente apaixonado por aquela mulher.
Quando Karin voltou a abrir os olhos, o rosto dele estava perigosamente perto.
— Aquilo... – ela sussurrou. – Foi verdade?
— Sobre a parte de eu amar você?
— Sim.
— É claro que foi.
— E por que só agora? – ela estremeceu ao sentir o hálito dele sobre o rosto.
— Você mesmo disse que eu sou um idiota. – ele sorriu.
— De fato...
— Karin...
— Hum? – ela enfim soltou a camisa dele e envolveu seu pescoço com os braços.
— Posso beijar você? – e agora ele já se inclinava sobre ela.
— Por que está perguntando?
Ele pensou em dizer que não sabia, que não estava em seu estado normal, que ela o deixava fora de si, mas então se deu conta de que o que Karin queria não eram palavras, e apenas beijou-a. Suigetsu estreitou de leve o abraço que a envolvia e ela gemeu baixinho, ou suspirou alto demais, ou talvez tenham sido as duas coisas ao mesmo tempo. Enquanto a beijava, ele só sentia que a queria, que a queria para todo o sempre, que era louco por aquela mulher e que, a partir daquele momento, sua vida jamais seria a mesma. Karin, que não era tão dada àqueles arrebatamentos e que não possuía uma natureza tão dramática quanto a dele, era mais simples no sentir – desejava apenas que o beijo não terminasse porque, bem, sentia-se como manteiga nos braços daquele cara.
Suigetsu inclinava-se ávido sobre ela e Karin, a fim de equilibrar-se, deu um passo para trás. Contudo, justamente o salto daquela sandália tinha se partido e ela agarrou-se com mais força a ele, sentindo que, agora sim, os dois se esparramariam sobre aquela calçada. Mas então Suigetsu apoiou um braço contra a parede do lado oposto da calçada, salvando-os no último momento, e Karin riu baixinho.
Ela mordiscou seu lábio inferior e afastou o rosto para poder olhá-lo.
— Você ainda tem...
— O quê?
— A aliança. – ela disse em tom hesitante.
— Tenho. – e tirou do bolso das calças a mesma caixinha de veludo. – Por quê?
— Porque eu aceito.
— Depois de ter me rejeitado na frente de toda aquela gente.
— Não importa. – ela sorriu. – Agora eu aceito.
E gritou algumas outras vezes que aceitava, que aceitava ser a namorada de Hozuki Suigetsu. Exultante, ele a abraçou e a ergueu do chão, rodopiando com ela sobre a calçada enquanto Karin ria e gritava sob a ideia de despencar dali. Os passantes apenas sorriam, achando graça do casal que, dessa vez, era de verdade, e desviavam para a outra calçada. Afinal, era Dia dos Namorados e ninguém seria capaz de recriminar um gesto de amor.
Porque o amor sempre contagia, mais do que todos os outros sentimentos.
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Obrigada a todos que leram e comentaram.
Beijo! ♥