Mesa para dois escrita por Yokichan


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Me inspirei nessa imagem: https://pics.me.me/camilla-guido-6-min-casal-de-amigos-finge-que-vai-18226648.png

HAHAHAH ♥
Vocês vão se divertir muito com essa história.



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Mais do que companheiros de equipe e amigos, eles sempre tinham sido parceiros em tirar vantagem das oportunidades que a vida proporcionava. Algo como cúmplices. Compartilhavam não apenas o ponto de vista, mas sobretudo a vontade de extrair o máximo de cada situação, a habilidade de perceber as coisas além do que elas possuíam de óbvio e de usá-las a seu favor. Podiam ser chamados de oportunistas, aproveitadores e falsários. Entretanto, o cerne da questão era outro – eles apenas não gostavam de desperdiçar o potencial das coisas. Afinal, se o cavalo passava encilhado diante dos olhos, por que não montá-lo?

Os dois entendiam-se naquela lógica velada.

E, às vezes, nem mesmo precisavam repassar a estratégia. Eles sabiam o que precisava ser feito, sabiam que história devia ser contada, sabiam exatamente como esgueirar-se através de uma brecha. A conexão entre eles era forte. E assim, dependendo do que a situação exigia, os dois transformavam-se – em um casal de amigos ou de namorados, em pessoas mais novas ou mais velhas, em aniversariantes do dia ou em qualquer outra coisa. As promoções eram variadas e as possibilidades incalculáveis.

Suigetsu costumava dizer que haveria sempre um lugar ao sol para aqueles que soubessem aproveitar as oportunidades e Karin acabava concordando, embora preferisse o frescor de uma boa sombra ao calor irritante do sol. De qualquer modo, sua sintonia permanecia a mesma e os dois continuavam entrando em festas, comendo em restaurantes e levando para casa brindes e cortesias – tudo de graça. Sem que precisassem desembolsar um único centavo, eles regalavam-se com aqueles fenômenos de expansão e de modernização que perpassavam Konoha. O pensamento dominante parecia ser o de que cupons de desconto e promoções constituíam uma técnica infalível para conseguir novos clientes e encher os bolsos.

E Suigetsu e Karin possuíam um faro especial para tais comodidades.

As demais pessoas, porém, não compreendiam sua cumplicidade, a verdadeira natureza daquele acordo silencioso, e distorciam o tipo de relação que havia entre ambos. Enquanto uns desconfiavam de que eles estivessem metidos em algum negócio perigoso – afinal, seu passado dava margens suficientes para isso –, outros espalhavam os boatos mais indecentes sobre um romance tórrido. Tanto os primeiros quanto os segundos estavam errados, demonstrando apenas que o povo entretém-se inventando histórias. O fato, porém, era que Suigetsu e Karin estavam sempre juntos – por motivos tão rasteiros que as bocas mais fofoqueiras e as mentes mais imaginativas jamais desconfiariam.

Contudo, não era como se eles se importassem com a opinião alheia.

Havia coisas melhores sobre as quais pensar.

***

A ideia iluminou-se subitamente para Karin, como um clarão quase ofuscante, quando ela passou diante do restaurante e leu o cartaz da promoção fixado na parede. “Hoje à noite, casais não pagam.” Era Dia dos Namorados e, por toda a cidade, lojas, bares e restaurantes anunciavam suas promoções. Porém, aquela era de longe a melhor de todas – a mais vantajosa. Mesmo que o menu da promoção fosse restrito e que a comida, eventualmente, não fosse das melhores, quando haveria outra oportunidade para comer e beber totalmente de graça?

Aquilo era simplesmente imperdível.

E antes de dobrar a esquina, Karin já estava ligando para Suigetsu. Estava no meio de uma tarde quente de verão, os pés resvalando sobre os sapatos de salto e o suor umedecendo a pele sob as roupas, e ela abrigou-se do sol ao entrar em uma sorveteria. Talvez comprasse um sorvete, embora ali não houvesse promoções, mas agora ela só queria que Suigetsu atendesse o maldito celular. Como a atendente a encarava com um olhar inquisitivo, ela virou-se para o bufê de sorvetes e fingiu analisar a variedade de sabores.

Quase ao último toque da chamada, Suigetsu atendeu.

— Até que enfim!

— O que foi? – ele quis saber. – Estou trabalhando e o Sai não está de bom humor hoje.

— Mande-o catar coquinhos.

— Ele é meu chefe.

— E daí?

— E daí que preciso desse emprego se não quiser ser mandado de volta para a Névoa.

Karin sabia disso, assim como sabia que ele fugia daquela possibilidade do mesmo modo que um gato foge da chuva. Embora a guerra tivesse acabado e agora todos convivessem pacificamente, ainda havia certos ressentimentos naquele lugar anteriormente conhecido como Névoa Sangrenta. Ao deixar seu país, Suigetsu não tinha deixado apenas o passado, mas uma porção de inimigos com os quais ele não queria se encontrar novamente.

— Que chatice. – ela suspirou.

— O que você quer?

— Vamos jantar fora hoje?

— Está me convidando para um encontro romântico? – ele brincou.

— É de graça.

— E o que temos que fingir dessa vez? – ele perguntou após uma risada.

— Não é óbvio? – ela rolou os olhos. – É Dia dos Namorados.

— Podemos fazer uma cena?

— Não! Você sempre estraga tudo com essas bobagens.

— Ah, Karin... É tão divertido.

Ela passou a mão pelos cabelos, irritada e impaciente, lembrando-se da última vez em que Suigetsu fizera uma de suas cenas – eles tinham ido banquetear-se no coquetel do velório de um sujeito importante, quando Suigetsu atirou-se em prantos sobre o caixão e ambos acabaram sendo expulsos dali. Apesar da comicidade absurda da situação, ser enxotada por parentes furiosos não tinha sido nada divertido.

Então Karin ameaçou-o baixinho, porque a atendente já a observava com uma curiosidade fora do comum, e desligou. Precisava voltar ao trabalho antes que o coordenador do Centro de Pesquisas desse por sua falta, mas, antes disso, serviu-se generosamente de sorvete e de calda de caramelo.

O calor estava de matar.

***

A campainha do apartamento tocou um pouco antes das oito horas.

Karin, que recém tinha acabado de secar e escovar os cabelos, pendurou a bolsa num ombro, apanhou as sandálias e correu para abrir a porta para Suigetsu. Olhando-o de alto a baixo, ela considerou que ele estava vestido à altura para acompanhá-la em um suposto jantar romântico. De terno escuro e sapatos sociais, sua figura equilibrava-se bem ao lado da mulher elegante que ela representava. Karin havia escolhido um vestido verde escuro, simples e de bom gosto, sandálias finas e bijuterias delicadas. Ao invés dos óculos, ela tinha optado pelas lentes de contato.

Enquanto ele a observava, ela apoiava-se no batente da porta e tentava calçar as sandálias.

— Mulher... – ele assoviou e sorriu, sarcástico. – Acho que vou pedi-la em casamento hoje.

— Nada de cenas. Eu já disse.

— Mas hoje estamos comemorando três anos de namoro!

— Pare de ser idiota. – ela acabou rindo também.

— Está pronta?

— Sim. – ela ajeitou o cabelo e suspirou. – Vamos.

Como o restaurante ficava a apenas três quadras dali, os dois foram caminhando até lá. Durante todo o trajeto, Suigetsu insistiu para que Karin se apoiasse em seu braço. De início, ela apenas ignorou-o, pensando que não precisavam exagerar no disfarce, mas então acabou sendo vencida por aquela persistência irritante e enganchou seu braço no dele. Os saltos de Karin emitiam um som cadenciado e sensual sobre o concreto das calçadas e Suigetsu enfiou uma mão num dos bolsos das calças, parecendo muito satisfeito com o papel que representavam – o de um jovem casal apaixonado.

Ao chegarem ao restaurante, um garçom recebeu-os com um sorriso e Suigetsu pediu uma mesa para dois. Enquanto eram conduzidos por entre as mesas, ele afrouxou o enlace de seus braços e, quando a mão de Karin deslizou para baixo, ele a segurou com a sua. Karin pareceu não se importar, afinal, já tinham fingido aquela situação mais de uma vez, divertindo-se com a ideia de incutir na cabeça das pessoas o que bem entendessem.

Eles acomodaram-se a uma mesa e o garçom afastou-se após informá-los de que seriam servidos em alguns momentos. Karin então observou como o lugar estava movimentado, embora ainda fosse cedo. Em suas mesas, alguns casais conversavam, outros bebericavam o vinho de suas taças e outros ainda permaneciam em silêncio, apenas trocando olhares tímidos e ansiosos. A iluminação era aconchegante e, ao fundo, uma música suave preenchia o salão.

Suigetsu tirou o paletó do terno e pendurou-o sobre o encosto da cadeira.

— Desde quando você tem um terno? – Karin quis saber.

— Desde quando precisei ir a um velório.

— Que horrível. – ela franziu o cenho.

— Qual é o problema? – ele deu de ombros. – Ternos são todos iguais.

— Realmente. Homens têm pouco senso de moda.

— Por falar em moda... – Suigetsu sorriu. – Verde combina bem com você.

— Cale a boca.

— Isso não é algo que uma garota apaixonada diria.

— O que você sabe sobre garotas apaixonadas? – ela riu.

— O suficiente, querida.

— Pare de me chamar assim.

— Por que seu namorado não pode ser carinhoso em um dia como este?

— Porque você não é meu namorado. – ela cochichou entredentes.

Suigetsu sorriu, um misto de delicadeza e ironia, e segurou-lhe a mão sobre a mesa. Karin preparou-se para puxá-la de volta, mas então outro garçom apareceu com o jantar e ela precisou conter o ímpeto de bater em Suigetsu. Porém, enquanto a mesa era servida, ela teve de confessar para si mesma que usar aquela máscara não era assim tão ruim. Porque o homem à sua frente, além de bonito e atraente, tinha mãos fortes e quentes que despertavam certos pensamentos vigorosos— Karin preferiu chamá-los assim ao invés de simplesmente denominá-los como indecentes.

Ao terminar de dispor o jantar e a bebida sobre a mesa, o garçom sorriu e transmitiu ao casal as felicitações em nome do restaurante.

— Obrigada. – Karin também sorriu em agradecimento.

— De fato, somos um casal muito feliz. – disse Suigetsu. – Não é mesmo, querida?

— Sim...

— E teremos uma longa e maravilhosa noite.

— Fiquem à vontade. – disse o garçom.

O rapaz afastou-se para servir outras mesas e Karin jogou um guardanapo de papel amassado sobre o rosto de Suigetsu. “Longa e maravilhosa noite”? O que ele estava querendo dizer com aquilo? Ela repreendeu-o baixinho por tê-la constrangido diante de um estranho e ele apenas sorriu em resposta. Contudo, Suigetsu a olhava de um modo estranho e aquele olhar despertou um leve tremor dentro dela – um tremor desconcertante que começou no peito e que foi dissipar-se abaixo do umbigo. Então Karin cruzou as pernas mais uma vez e tentou concentrar-se no único objetivo daquele jantar.

Comer.

Mas Suigetsu percebeu como os hashis em seus dedos tremeram quando ela molhou a fatia de peixe no shoyu e considerou que talvez a ocasião exigisse mesmo uma cena.


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Notas finais do capítulo

Assim que vocês deixarem reviews, posto o segundo capítulo. ♥