Superstition 2 escrita por PW, Jamie PineTree, MV


Capítulo 10
Capítulo 08: Danse Macabre


Notas iniciais do capítulo

Então, pessoal, este capítulo estreia a segunda fase da Superstition 2. Ele abre os acontecimentos do passado (que vimos através de pequenos flashbacks durante a trama), sem a presença de informações ou cenas do presente, as quais estivemos acompanhando durante os capítulos anteriores.

Escrito por MV



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/746906/chapter/10

Tema do capítulo: https://youtu.be/KqXpKibOaxA



Vous, qu'une destinée commune 
Fait vivre dans des conditions si diverses, 
Vous danserez tous cette danse 
Un jour, les bons comme les méchants. 
Vos corps seront mangés par les vers. 
Hélas! Regardez-nous: 
Morts, pourris, puants, squelettiques; 
Comme nous sommes, tels vous serez.

 

(Você, que um destino comum
Viveu em tantas condições diferentes
Você dançará toda essa dança
Um dia, os bons como os bandidos.
Seus corpos serão comidos por vermes.
Ai de mim! Olhe para nós:
Morto, podre, fedido, esquelético;
Como estamos, então você será.)

(Escritos de um mural já destruído, do gênero Danse Macabre, no antigo Cemitério dos Inocentes em Paris, datado de 1424)

 

A vila localizada em torno do grande castelo de Hightower não falava de outro assunto naquele início de noite. Embora não fosse tranquila, a vila nunca tinha testemunhado um fluxo tão grande de monarcas e importantes representantes de casas e reinos ao redor como naquele dia. Não só eles, mas também comitivas de monges, religiosos e figuras de importância atravessavam as ruas de pedra e terra para chegarem ao imponente castelo de pedra branca, famoso pela sua alta torre que também servia de farol.

 

O porto, localizado a cerca de um quilômetro da vila e do  castelo central, também estava em extremo movimento, e foi lá que um navio atracou. Alguns marinheiros desviaram o olhar para o mesmo, e perceberam que era um navio composto apenas de mulheres.

 

Vestida com a sua cota de malha, como uma verdadeira guerreira, Soo-Hee desceu a passos lentos do convés para a região do porto, seguida de suas garotas. Todas elas com as lâminas afiadas de suas espadas presas na cintura, preparadas para a dança da vingança, que traria a morte para os que as fizeram mal.

 

Meses antes, Soo-Hee havia descoberto que haveria uma coroação muito em breve na casa em que servira por muito tempo e na qual também sofreu as maiores perdas de sua vida. O filho do rei, Pete Hightower se casaria com uma princesa, tornando-se o rei de uma grande extensão de terras. Embora o senhor Hightower ainda estivesse vivo, a idade já não o permitia governar o reino como deveria, e portanto, Pete assumiria o poder. Justamente ele, o rapaz que a seduzira e gerara nela uma criança. Seu filho, que foi morto pela rainha da mesma maneira que seus pais.

 

Soo-Hee ainda buscava entender o motivo de tanto ódio por sua família, mas agora ela convertia essa curiosidade em um puro desejo de vingança. Não sabia se sairia viva da noite de hoje, mas tinha uma certeza: a família Hightower não.

 

Enquanto andava decidida pelo cais, sentiu um vento gelado vindo do mar a atingir.

XXX

Algumas horas antes da coroação do senhor Hightower.

— Dean… Mas que belo!

 

Evie passou a mão pelo seu vestido para a coroação. De coloração vermelha, tinha detalhes amarelos nas mangas dos dois braços. Nessas mesmas mangas amarelas, pequenos topázios incrustados.

 

Uma faixa amarela cortava o vestido na vertical, culminando na gola de formato quadricular, também repleta de detalhes dourados e ainda mais pedrarias, como os já citados topázios e belos rubis. Evie se olhou no espelho de seu aposento, e soltou o seu cabelo ruivo, sorrindo mais uma vez.

 

— Você está deslumbrante, alteza. — Dean Noble, o alfaiate da família de Evie concordou. — Seu esposo, vossa alteza, irá adorar.

 

— Dean, eu não tenho nem como agradecer. Bem, está dispensado. Vejo você na cerimônia.

 

Dean deixou os aposentos reais e rapidamente se deslocou para o seu ateliê. Precisava agora ele mesmo arrumar uma roupa decente para o cerimonial, e após isso… Dean já havia se decidido. Deixaria a corte e buscaria um lugar em que ele realmente poderia ser quem era, por baixo de todos os panos que cobriam sua vida pessoal.

 

Andava tão imerso que acabou nem vendo quando chocou-se contra Jerry, o irmão mais novo de Evie, que era um dos guerreiros principais do reino.

 

— Cuidado onde anda, Dean! — Jerry falou, abrindo um leve sorriso. — O rapaz era conhecido exatamente pela simpatia para com os outros, mas isso também era o oposto do antigo senhor Lothair, rígido e que sempre pregava os bons costumes, tratando o reino com uma mão de ferro. Assim como o próprio herdeiro dos Hightower. Dean não pode evitar um pensamento passar pela sua cabeça:

 

Jerry é quem deveria ser o reiUm rei não é só composto de rigidez e dureza, mas também de simpatia para manter o seu reino… E ter o apoio da população.

 

E Pete Hightower com certeza não tinha nem um e muito menos o outro.

 

XXX

 

Alguns minutos antes da coroação do senhor Pete Hightower.

 

O grande salão de pedra central do castelo, que também servia como uma catedral, estava completamente decorado para a festividade. Diversos bancos de madeira serviriam para acomodar os diversos nobres que chegariam, enquanto lindos tecidos das cores do reino estavam pendurados nas paredes, artes e costuras feitos com carinho e esmero para a cerimônia luxuosa. Detalhes de ouro e de prata, com outros metais preciosos, como safiras, topázios, esmeraldas e rubis ajudavam a criar um ambiente de imponência, o que a cerimônia exigia.

 

O acesso ao castelo era feito através de uma ponte sobre o fosso, repleto de água. Ao atravessar o primeiro portão, logo se chegava ao átrio interno, com acesso aos estábulos, às cozinhas e a capela. Seguindo pelas muralhas, finalmente chegava se ao pátio central, localizado logo a frente do salão real. Era ali onde as carruagens desembarcavam os nobres para a cerimônia.

 

Hawley Lachlan desceu as escadas da carruagem com a ajuda de seu servo, observando a suntuosidade do local chamou sua atenção, principalmente porque Hawley não vestia roupas tão vibrantes ou luxuosas como o resto. Havia feito um voto de abnegação pelo Deus Sem Face, e estava disposto a segui-lo, mesmo diante de tantas provações e tropeços pelo caminho. Inevitavelmente lembrou-se do templo onde vivia e do povo com o qual convivia, adeptos da religião do Deus Sem Face, e de como estava triste e ao mesmo tempo, preocupado com o destino deles. Algo realmente sério estava acontecendo naquele lugar mas só Hawley parecia perceber isso.

 

No átrio anterior, outro homem que tinha vestes parecidas com as de Hawley, caminhava a passos rápidos na direção do entrada lateral do Salão Real, ainda com as portas trancadas. A roupa simples de Michael Hazel era resultado de seu voto de abnegação, mas em honra ao Deus cristão. Pela sua cabeça, diversos fatos passavam sem parar, todos eles relacionados aos irmãos que Khan, seu pupilo, pedira por auxílio.

 

Michael ainda buscava descobrir mais sobre eles, já que ainda eram quase uma completa incógnita, mas mesmo assim já marcara uma audiência privada com Pete assim que possível. Buscaria reunir o maior número de informações a respeito para poder ter uma conversa franca e inteligente com o rei, e pedir clemência pelos irmãos.

 

Continuava a andar apressado até sentir algo esquisito. Parecia… Que alguém estava o observando. Olhou para trás, apenas para não ver absolutamente nada, somente as carruagens continuando o seu caminho para o pátio. Também desviou o olhar para os estábulos, mas nada havia ali.

 

Michael fez rapidamente o sinal da cruz, e prosseguiu sua caminhada. Mal sabia ele que sua intuição estava correta.

 

Escondida no meio dos animais, uma mulher com algumas vestes simples mas com diversos colares e braceletes, junto de alguns homens também vestidos com roupas envelhecidas, o olhava atentamente.

 

XXX

 

Dalia observava tudo com espanto, tamanha a diferença para a vida cigana que levavam. Escondida entre os estábulos, via as carruagens dos nobres chegarem apressadas ao castelo.

 

Os quatro conseguiram adentrar o interior do castelo de certa forma até fácil, escondidos entre as carroças que levavam alimentos para a grande ceia real que aconteceria, além de feno e outros itens para os animais.  Furtivos e sagazes, os quatro irmãos conseguiram se esconder nos estábulos, já que parte da carga fora armazenada ali e agora esperavam o momento certo para a invasão.

 

De certa forma, Dalia achou tudo muito fácil. Parecia que por receberem diversos nobres, as defesas do castelo se dispersaram para vários pontos, deixando lugares completamente sem defesa. Terrível erro do Rei Endric, embora a cigana não se surpreendesse, já que a fama dele nunca foi das melhores e secretamente, era a rainha que realmente governava.

 

Percebendo que o fluxo tinha diminuído, os quatro ciganos começaram a se deslocar por entre os corredores da muralha, em direção ao pátio central.

 

XXX

 

Aos olhares atentos dos seletos convidados, o chanceler do reino, mão-direita dos reis da casa Hightower, dava início a cerimônia.

 

Hawley observava tudo atentamente e se dirigiu para a direção do trono real, juntando-se a outros duques, vassalos e nobres selecionados na direção do trono real, chamados pelo chanceler que conduzia a cerimônia. Porém o jovem ia de certa forma, contrariado. Hawley não queria estar naquela coroação, mas fora praticamente obrigado, já que seu pai, o Duque de Lachlan e os irmãos não poderiam comparecer. Perdido levemente em seus devaneios, quase levou um susto quando o órgão começou a ser tocado, anunciando a chegada do arcebispo que caminhava em direção ao altar.

 

Alya também estava na cerimônia, juntamente de seus seguranças, em um ponto próximo da porta feita de madeira maciça, com um aparente semblante de interesse, e por dentro estava ainda mais curiosa. Não por conta da cerimônia, já que Alya tinha visto esse procedimento milhares de vezes e achava entediante, mas sim, para estudar a família que seria saqueada muito em breve.

 

Evie assistia tudo a direita de Pete, também no altar. Estava radiante com a cerimônia e como tudo vinha correndo bem… Até perceber uma estranha movimentação indo na direção das portas laterais, inclusive com Jerry sendo chamado.

 

— Alguma coisa aconteceu? — Ela perguntou para sua mãe, a senhora de Lothair.

 

— Presumo que não. Vamos prosseguir com a cerimônia.

 

XXX

 

A vila pensava já estar acostumada com o trânsito de nobres para o castelo, mas nada se comparava com o que viam agora.

 

Seguindo como em uma marcha imperial, as dançarinas de Soo-Hee caminhavam pelo meio da vila. A presença das guerreiras orientais assustavam e fascinavam os transeuntes, por ser algo tão distinto do que estavam acostumados a ver.

 

Surpreendentemente, Soo-Hee percebeu que o caminho para o castelo não seria tão difícil. Era um dia de festividade, e ela sabia que o povo se deslocaria mais tarde para o castelo em ocasião da saudação real. Ela planejou aquilo por meses, e sabia que daria certo.

 

Ao observar o grande portão do castelo, suspirou por um instante enquanto sentia sua mão passando pelo aço frio da espada, como se fosse uma extensão do seu corpo.

 

Olhou para as suas meninas que a seguiam, com certa ternura no olhar.

 

— É por isso que vocês aprenderam a dançar com as espadas, minhas garotas. Tenho muito orgulho de vocês. Mas está na hora de colocar tudo em prática. Chegou a vez da vingança. Hoje a família Hightower dançará com a morte.

 

Um grito gelado vindo de Soo-Hee decretou que o começo do fim havia começado.

 

XXX

 

Os quatro ciganos já se encontravam quase ao lado de uma das portas do salão real, porém prosseguiram escondidos no meio das sombras. Foi quando dois guardas reais saíram correndo do salão, surpreendendo os irmãos. Stefford quase soltou um grito de susto antes de ser puxado junto de Devill para dentro de uma escada na lateral, que levava para o interior do castelo.

 

— Ouviu algo, Jerry? — Um dos guardas parecia se referir ao outro.

 

— Não, não. Foi só sua impressão. Vamos logo, porque parece que estão tentando atacar o castelo! — Ele exclamou.

 

O homem ainda olhou na direção das escadas laterais, mas logo saiu correndo atrás de Jerry, tirando a espada da bainha.

 

Dalia suspirou de alívio e depois lançou um olhar de reprimenda a Stefford e Devill. Se não fosse o rápido ato dela e de Johann, eles poderiam ter sido achados.

 

— Estamos tendo muita sorte. — Johann disse enquanto olhava Dalia mexer em sua faca de dois gumes que carregava junto dela. — Isso é estranho.

 

— Parece que todos os guardas estão se deslocando para outro serviço… — Stefford concluiu.

 

— Mas é isso que o guarda falou! — Johann concluiu. — Estão atacando o castelo? Como assim? Será que nos descobriram?

 

— Quem está atacando o castelo? — Uma figura, que revelou ser um homem jovem que descia as escadas apressado, falou. — Quem são vocês?

 

Quase como um instinto de defesa, os quatro se levantaram apontando as armas caseiras que tinham para ele, que levantou as mãos em rendição.

 

— Calma, eu só fiz uma pergunta. — Angus falou, esboçando um sorriso.

 

— Cuidem dele meninos e não deixem que ele fuja, eu já volto. — Dalia falou, incisiva. — Eu vou descobrir o que está acontecendo aqui.

 

XXX

 

Naquele instante finalmente Dalia conseguiu adentrar o salão real, desviando de alguns guardas. No caminho ouvira alguns sons estranhos mas nada que despertasse seu medo.

 

Agora estava decerto aterrorizada. Estava diante de uma coroação, uma coroação real! Algo tão diferente de seu mundo…

 

Ao som do órgão, o arcebispo então finalmente chegou no altar, e assim que o toque foi dado, Pete ajoelhou diante da autoridade religiosa e recebeu de suas mãos a bela e pesada coroa, colocada em sua cabeça com o maior cuidado.

 

Logo, os nobres tocavam a coroa com a mão, seguindo o ritual, simbolizando assistência, fidelidade e obediência. Dean não pode evitar o pensamento de que o Duque de Winters era para estar ali… E isso trouxe a sua tristeza voltar como um baque. Ele suspirou profundamente e continuou a prestar atenção na cerimônia, mesmo que a movimentação estranha começasse a incomodá-lo.


Após o evento, Pete recebeu o grande manto azul forrado de arminho e com o brasão da casa dos Hightower e dos Lothair, e então foi conduzido até o trono, onde finalmente se assentou.

 

Vivat Rex in aeternum!

 

O grande salão falou em coro, dando vivas ao rei. Como a fala em latim dizia: Viva pra sempre!

 

No trono menor ao lado direito, foi a vez de Evie se assentar, assim como a mãe de Evie, a senhora Lothair, e os senhores Hightower, do lado esquerdo de Pete.

 

Vivat Rex in aeternum!

 

Dalia não percebeu porém a movimentação atrás dela, quando sentiu um dos soldados a pegar e imobilizar a mesma com as mãos. Ela soltou um grito forte, chamando a atenção de um pequeno grupo próximo da entrada, inclusive do homem que Dalia vinha seguindo. Michael Hazel.

 

Vivat Rex in aeternum!

 

Depois da última frase, um grande som do órgão pode ser ouvido, e ela ainda conseguiu notar a cara de espanto na maioria das pessoas naquele lugar, inclusive do soldado. Dalia logo percebeu a oportunidade e se desvencilhou dos braços dele, até ouvir um outro som ressoar pelo interior da catedral do castelo.

 

O toque dos clarins anunciava que o novo rei havia sido coroado e que agora a multidão poderia aclamar ao seu senhor.

 

Ela ainda pode perceber uma correria advinda do púlpito em que os tronos estavam, um duque parecia ter ido falar com o velho rei Endric, gesticulando e movimentando os braços na direção da porta do salão.

 

Foi aí que Dalia e os outros presentes ouviram um grito que os assustou completamente. Tinha certeza que tal grito não era parte da celebração.

 

Era um grito de guerra.

 

Pouco depois, as portas do salão abriram repentinamente e foi aí que começou o início do fim.

 

XXX

 

As grandes portas de madeira foram arrombadas com força, enquanto hordas de belas moças entravam pelas laterais. Mas em vez de trazer cumprimentos para o rei, traziam a dança da morte.

 

Os convidados corriam rapidamente na direção da saída, enquanto a cerimônia se mostrava arruinada. Dalia só conseguia pensar em duas coisas: seus irmãos e onde estavam. Repentinamente, desviou de um golpe de espada que veio em sua direção, atingindo o soldado atrás dela, percebendo que não era exatamente um alvo.

 

— Saia da frente! — Uma negra bem vestida, disse, correndo com dois seguranças ao seu lado, e um deles empurrou Dalia para trás, fazendo a se chocar contra a parede de pedra.

 

A cigana ainda estava meio desorientada, mas pode ver no meio do caos uma bela mulher oriental caminhar, como se estivesse dançando sobre o sangue derramado, na direção de Pete Hightower, que tentava escapar pelos fundos. Vou também a princesa Evie ser imobilizada, junto de sua mãe, a rainha, por outras moças.

 

Mas foi aí que Dalia viu o que iria acontecer.

 

Um dos soldados reais percebeu a movimentação e foi mais rápido, descendo um grande golpe de espada contra a oriental, que somente conseguiu olhar para o seu algoz antes de ter o seu crânio esmagado pela espada, quase partindo sua cabeça ao meio.

 

Dalia gritou de horror, junto com outras mulheres. De repente, uma das mulheres no meio da batalha gritou:

 

— MATARAM NOSSA MESTRE! ATAQUEM MAIS FORTE, GAROTAS!

 

— DALIA? — Ouviu uma voz familiar gritar próximo dela. Era Devill, que vinha correndo em sua direção. — RÁPIDO, VAMOS SAIR DAQUI!

 

Os dois se levantaram e iniciaram uma corrida para fora do salão real, escapando por uma das portas laterais. Do lado de fora, a situação estava pior. Uma coluna de fumaça poderia ser vista advinda do interior do castelo, enquanto os arqueiros da muralha tentavam atingir as guerreiras de Soo-Hee a qualquer custo. Os cavaleiros, sobre os cavalos, combatiam o ataque das dançarinas da morte embora elas também contra-atacassem com maestria.

 

— VEM DALIA! O STEFFORD E O JOHANN ESTÃO MAIS A FRENTE!

 

Continuando a correr pelo pátio central, ela percebeu a mulher negra correndo com seus seguranças em meio a confusão, e um pouco a frente o homem que havia se identificado como Angus, como se estivesse perdido no meio do caos.

 

Segundos depois, só viu uma flecha atingindo a face da negra em cheio, prendendo-se em seu crânio. A mulher simplesmente não conseguiu dar o seu último suspiro antes de cair no chão, enquanto outras flechas a atravessavam em vários pontos, quase como se ela fosse um boneco de vodu. Pouco depois, foi a vez dos dois seguranças desabarem sobre o piso, também atingidos por flechas que caíam como raios afiados, em todas as direções. Um deles atingiu um cavalo em cheio, que relinchou antes de cair junto com o seu cavaleiro, em cima de um homem que tentava escapar o castelo.

 

Dalia viu o exato momento que Angus teve as pernas esmagadas por estar no caminho da perna do cavalo. Desesperado, gritou:

 

— SOCORRO!

 

Dalia sentiu um impulso de ajudar o jovem, mas foi puxada por Devill.

 

— Não dá tempo, Dalia!

 

Nesse momento ela viu uma dançarina se aproximando do homem e desferindo um golpe, quase como se tivesse piedade dele e não querendo vê-lo sofrer. A cabeça de Angus se desprendeu do seu corpo e rolou um pouco pelo chão de pedra antes de parar.

 

Escapando do pátio central, eles finalmente atingiram o átrio de onde os cavalos eram liberados, mas os outros animais continuavam presos nos estábulos. Além disso, eles podiam ver de onde saía o fogo: parte da cozinha estava em chamas enquanto outra batalha acontecia naquele interior. O cheiro de carne queimada estava muito forte, e Dalia não sabia dizer se era de carne morta. Ou viva.

 

— DALIA! — Ouviu o grito de Johann, que corria em sua direção junto de Stefford.

 

— Que bom que está aqui! — Stefford falou.

 

— Vamos, não temos tempo! — Ela falou, antes de perceber o que iria acontecer. — CUIDADO!

 

Uma grande explosão atravessou as paredes da cozinha, levando fogo e destruição para todos os lados. Os quatro ciganos caíram sobre o chão tentando evitar a chuva de poeira que caía sobre eles. Ao levantar a cabeça, Dalia viu o que tinha acontecido, enquanto sentia os seus ouvidos zunirem fortemente.

 

Um mar de poeira, de sangue e fogo se espalhava por uma grande extensão diante dela. Ela ainda pode ver um menino de cabelos compridos e olhos claros que pareciam vívidos, se ele não estivesse morto. Um filete de sangue descia de seu couro cabeludo, tingindo de vermelho a face repleta de fuligem e ainda expressando a surpresa do momento e encarando a morte de perto, sem escapatória.

 

Ao seu lado, uma grande pedra repousava.

 

Foi aí que percebeu uma estranha movimentação próximo dela, enquanto levantava-se com seus irmãos. Os animais restantes do estábulo tinham quebrado as portas, e corriam, quase que malucos pelo átrio, fazendo de tudo para escapar daquele inferno, e atropelavam quem estavam em seu caminho, como o homem de belas vestes que teve parte de seu manto preso contra o pé de um dos bois e caiu no chão.

 

Dalia não conseguiu assistir a cena completa mas viu o suficiente para a enojar e ao mesmo encher a cigana de pena. O homem foi pisoteado por todo tipo de gado bovino que saía correndo desesperado dos estábulos, além de alguns cavalos. Os pés desses animais quebravam as costelas de Dean, afundando-se em sua carne e espalhando sangue para todos os lados. Ele tentava se levantar, mas não conseguia, até finalmente desistir e expirar em meio a dor excruciante que sentia ao ter todos os seus ossos esmagados.

 

Eles finalmente atingiram a ponte de madeira maciça que ligava o castelo a terra firme, passando por um lago. Esse lago que agora estava coberto de sangue e corpos. Na correria para escaparem, pessoas eram empurrados na direção da água pelo fato da ponte ser extremamente estreita. Os quatro irmãos simplesmente correram juntos pela extensão da mesma, mas no meio da correria, Dalia sentiu sua mão se desgrudar dos outros três e o seu mundo girar diante dela, enquanto caía no lago de sangue.

 

Ela submergiu e batia as mãos desesperada, tentando nadar na direção da saída, o morro de grama que ficava a alguns metros a frente. Então ela viu o homem que ela estava seguindo, batendo as mãos desesperado e tentando se manter acima do nível da água.

 

Dalia começou a tentar nadar na direção do homem, mas não teve tempo. Ela só viu ele submergindo e a água parando de se mexer, com poucas bolhas aparecendo sobre a água. E para selar o seu destino, a ponte de madeira desabou com as pessoas que estavam sobre ela. Nobres, cavaleiros, dançarinas, animais, pobres pessoas que estavam perdidas na multidão. Todos desabaram sobre a água sangrenta e acima de onde Michael havia se afogado, fazendo o castelo ficar sitiado.

 

A cigana continuou seu martírio até finalmente conseguir escapar do fosso. Ela ainda estava abaixada sobre o chão, molhada até os ossos quando viu diversas luzes vindo de cima.

 

Eram as dançarinas da morte, e traziam várias pessoas juntas dela. Dalia só viu o momento que elas começaram a empurrar os cativos do alto da torre de Hightower, despencando sobre o abismo e chocando se contra a água do fosso, ao até mesmo as muralhas de pedra.

 

Dalia só pode assistir atônita o fim do reino dos Hightower sobre o castelo sitiado, enquanto via vários nobres despencarem para um voo sem volta. Dentre eles, a jovem princesa que caiu como uma flecha na direção do fosso. Porém não o atingiu e sim, chocou-se contra a muralha, esmagando a parte inferior do corpo em uma chuva sangrenta. O resto de seu corpo caiu sobre o fosso de água, com um poderoso impacto.

 

A cigana simplesmente se levantou e começou a correr do castelo sitiado, até ver os seus irmãos á distância no meio do caos.

 

— JOHANN! DEVILL! STEFFORD! — Ela gritou, conseguindo chamar a atenção dos três que se viraram. Porém a face deles parecia assustada, e gritavam, mas Dalia não escutava.

 

A explosão. — Ela conseguiu se lembrar. No caos não tinha percebido, mas ela não ouvia mais nada desde a explosão da cozinha. Havia ficado surda…

 

Os gritos continuavam e Dalia se virou instintivamente na direção de onde gritavam apenas para ver uma grande bola de fogo vindo em sua direção, atirada de uma das catapultas internas do castelo.

 

A bola de fogo se aproximava cada vez mais, brilhante e mortal, e Dalia sem reação somente se lembrou do dia em que seus amigos e familiares morreram pelas mãos dos Hightower, em um incêndio descontrolado.

 

Agora, tudo estava acabado.

 

Dalia somente sentiu um calor infernal lamber sua pele e de repente, o nada chegou.

 

— Ouviu algo, Jerry?

 

— Não, não. Foi só sua impressão. Vamos logo, porque parece que estão tentando atacar o castelo!

 

Dalia piscou os olhos de forma repentina, confusa. Tinha visto ela mesmo morrer, sentido a morte diante dela… Mas como assim? Estava de volta?

 

— Estamos tendo muita sorte. — Johann disse. — Isso é estranho.

 

— Meu Deus… — Dalia falou lentamente, tentando raciocinar. Ela já tinha visto aquela cena acontecer, e não poderia ter sido um sonho… Foi tudo tão real.

 

— Parece que todos os guardas estão se deslocando para outro serviço… — Stefford concluiu, e Dalia lembrou-se de que já tinha ouvido isso antes.

 

Devill, que estava mais atento aos estranhos sinais de espanto que Dalia exibia em seu rosto, perguntou:

 

— Dalia, está tudo bem?

 

— Mas é isso que o guarda falou! — Johann falou, acompanhado de outra voz. Era Dalia.

 

— Eu sabia que você ia falar isso, Johann… Meu Deus, o que… Não pode ser real…

 

A cigana olhou instintivamente para a escada ao lado de onde estavam, e falou lentamente:

 

— Um homem, um homem… Vai descer por ali. — E enquanto apontava, Angus apareceu descendo os degraus da mesma, assim como a cigana dissera.

 

— Quem são vocês?

 

— Dalia, o que está acontecendo? — Devill, que estava a frente, perguntou.

 

— Vão atacar o castelo! Eu sei que pode parecer maluco, mas eu vi… Eu vi, não sei como, era tudo tão vívido, tão real… Precisamos sair daqui! — A cigana se levantou, com desespero nos olhos.

 

— Dalia, você ficou louca? Não podemos sair… — Johann começou a falar até ser cortado por Dalia novamente.

 

— NÓS PRECISAMOS SAIR DAQUI! SE FICARMOS TODOS VAMOS MORRER! — Então Dalia olhou na direção do Salão Real ao lado, e em um instante, já sabia o que deveria fazer. Poderia ter os seus custos, inclusive poderia pagar com sua própria vida, mas não deixaria vários inocentes morrerem em vão.

 

— Irmãos, fujam. Por favor, eu imploro a vocês. Vão na frente, irei logo depois. Mas não desperdicem essa chance.

 

— Dalia…

 

— Por favor. Façam isso por mim.

 

Pouco depois, Dalia saiu correndo na direção do Salão Real enquanto os outros três se entreolharam, confusos e assustados. Angus, que estava um pouco atrás da confusão, olhou desconfiado.

 

XXX

 

Quando Dalia adentrou o Salão Real, o órgão terminava de ressoar pelo ambiente, enquanto o arcebispo se aproximava de Pete. No momento em que Pete ajoelhou para receber a coroa, Dalia gritou:

 

— SAIAM TODOS DAQUI! VAI ACONTECER UM ACIDENTE, ESSE LOCAL VAI SER DESTRUÍDO! VAI OCORRER UM ATAQUE!

 

Ela então sentiu o peso do mundo sobre seus ombros quando o salão inteiro desviou a atenção para ela.

 

— NÃO É MENTIRA, EU VI! EU VI NO MEU SONHO, ALGO HORRÍVEL VAI ACONTECER!

 

— Guardas, prendam essa bruxa! — Endric Hightower gritou com voz de comando para a guarda real, que se deslocou na direção de Dalia.

 

— NÃO POR FAVOR… NÃO É BRUXARIA! EU SÓ VI, EU PRECISO QUE ACREDITEM! — Dalia se desesperou, enquanto via todos os olhares censurando e amaldiçoando-a, alguns até falavam coisas horríveis para ela e outros oravam de medo. Sentiu os dois braços sendo apertados pelas mãos pesadas dos guardas. Esse seria o fim?

 

— PAREM! — Uma voz ressoou pelo ambiente. Era a princesa Evie Lothair.

 

— Filha, o que está fazendo? — A rainha perguntou.

 

— Alguém perguntou alguma coisa para a plebeia? Como podem ter tanta certeza de que é uma bruxa? — Evie falou, expressando leve indignação.

 

— Filha, eu exijo que…

 

— Vamos escutar o que a plebeia tem a dizer. Guardas, soltem-a. — Evie disse, com voz de ordem. Como ambos serviam a casa de Lothair, seguiram as ordens da princesa, que já tinha fama de ser quase uma defensora dos pobres do reino. Evie caminhou pelo espaço, até se aproximar o suficiente da Dalia. Movido pelo medo, Dean Noble saiu de seu posto, e foi atrás da princesa quase como um guarda-costas.

 

— Princesa, por favor… Eu vi todos vocês morrendo, esse local vai sofrer um ataque forte! Não é bruxaria, eu sei do que…

 

— Vamos resolver isso do lado externo a coroação. — Evie disse resoluta, enquanto saía do espaço, acompanhada os guardas, que ainda escoltavam Dalia, com Dean vindo logo atrás, tentando chegar na princesa. Enquanto isso, no altar, todos se entreolharam. A cerimônia deveria continuar?

 

Hawley aproveitou esse momento de confusão e simplesmente saiu de seu posto, correndo atrás de Dalia. Só conseguia pensar no que o Deus Sem Face dissera há dias atrás, e esse era o tal sinal que ele enviaria. Hawley tinha certeza: o Deus era mais importante do que qualquer reles coroação. E ele tinha certeza que tudo isso era parte de um plano maior.

 

No meio do caminho porém, Hawley acabou tropeçando em uma das pedras do salão, atraindo olhares para ele, enquanto a cerimônia era completamente dispersada.

 

— Minhas mercadorias! — Alya esbravejou. O rapaz tinha tropeçado sobre uma bolsa que a negra tinha trazido para fazer trocas no momento da festa, e agora, todas as joias estavam espalhadas e quebradas sobre o chão. A única reação de Hawley foi sair correndo, com mais rapidez e agora, medo.

 

Os seguranças de Alya tentaram esboçar uma reação até que a negra mesmo disse:

 

— Não preciso de vocês agora. Eu mesmo resolvo esse problema.

 

Alya então simplesmente saiu marchando do salão, com puro ódio nos olhos. Ninguém estragaria sua mercadoria, sua fonte de renda daquele modo e escaparia logo depois. Ou não se chamava Alya.

 

No meio da confusão, Michael olhava tudo atentamente. As roupas maltrapilhas, o cabelo negro, a pele morena… Parecia a descrição de uma das ciganas que Khan dissera para Michael, e supostamente seria a pessoa para quem o clérigo iria interceder. Mas o que mais chamou a atenção dele foi os belos anéis e colares que a mulher trajava, criando a certeza nele de que sim, era a mulher de que Khan falava. Mas onde estavam os homens? Movido pela curiosidade e também por querer saber o que estava acontecendo, principalmente por conta daquele misterioso surto, Michael se viu obrigado a sair da coroação.

 

XXX

 

— Princesa, por favor. Vamos voltar. — Dean Noble falava tentando convencer Evie a retornar para a coroação. O protocolo tinha sido completamente quebrado e Evie sabia que iria ter consequências por isso, mas estava disposta a correr os riscos.

 

— Não, Dean. Quero ouvir o que a plebeia tem a dizer. Simplesmente não se pode falar que o castelo será atacado! Tem que haver alguma explicação. — Evie comentou. — Guardas, podem liberar a moça.

 

Agora o trio estava quase saindo do pátio central, já no acesso para o átrio de entrada do castelo. Dalia se viu liberta dos guardas, e olhou para os dois diante dela, e só conseguia pensar em sair dali.

 

— O que você viu, exatamente? E por qual motivo estava na coroação?

 

— Eu vi… Vi o castelo sendo atacado, tudo em chamas, todos morriam… Não era só um sonho, era real…

 

— Com licença, Minha Princesa. Escute isso.

 

Os três entraram em silêncio profundo, e então ouviram diversos sons de espadas se chocando e gritos do lado externo.

 

— Será que…? — Dean falou, mas foi interrompido por alguns homens correndo na direção de Dalia, que a cigana identificou como seus irmãos e Angus.

 

— Dalia, vamos sair daqui! — Devill falou. — Você estava certa, estão atacando o castelo!

 

— Como assim, atacando o castelo? — Evie perguntou intrigada.

 

— VAMOS SAIR LOGO, OU VAMOS MORRER! — Ela gritou, implorando por clemência. Mas diante dos olhares ainda confusos ela não teve dúvidas. — Vamos meninos.

 

O grupo dos ciganos começou a se afastar correndo, seguido por Angus, que observava tudo atentamente. Então Hawley subitamente disse:

 

— Foi isso que o Deus Sem Face disse. Eu acredito nela. — Logo depois, saiu correndo atrás deles.

 

— VOLTE AQUI, SEU ESPERTINHO! — Alya gritou, correndo atrás de Hawley na direção da saída.

 

— Princesa, o que fará? — Dean perguntou.

 

— Eu preciso… Preciso avisar os outros.

 

Os guardas saíram correndo na direção da saída, e ao perceberem o movimento aumentando, também no alto das muralhas, Evie, Dean e Michael ficaram praticamente sem reação.

 

— Princesa, se permite dizer… Não haverá tempo. — Dean falou.

 

— A moça estava certa. Vamos atrás dela.

 

— Mas Pete… Os Hightower… — Evie implorou, desesperada. — Não posso deixá-los para trás.

 

Dean então pegou na mão de Evie, e olhou diretamente em seus olhos, sério.

 

— Não há tempo. Eu vou te tirar daqui.

 

XXX

 

Quando Dalia e seus irmãos atingiram a ponte, notaram que tinha pouquíssimo tempo para escapar. As dançarinas da morte lutavam bravamente contra os guerreiros reais, e já atingiram a ponte de madeira quase por completo. A barreira feita por eles estava praticamente se diluindo, e seria questão de um minuto até a invasão completa.

 

Ela sentiu um cutucão e percebeu que era Angus apontando na direção do fosso. Os cinco não tiveram dúvidas. Pularam no mesmo, sabendo que essa poderia ser a única chance.

 

Pouco depois, foi a vez de Hawley chegar na ponte, e finalmente Alya conseguiu alcançar o jovem. Mas não houve tempo para discussões. Os dois perceberam o que acontecia e seguiram o caminho de Dalia.

 

Michael chegou logo depois e exibiu a mesma face de terror, enquanto Hawley gritou:

 

— Pula!

 

Mas Dalia sentiu um estranho dejavu na hora. É isso! Michael não sabia nadar.

 

— Pula! Nós te ajudamos! — Ela gritou, enquanto mandava seus irmãos ajudarem o monge. Enquanto isso acontecia, Dean finalmente apareceu, quase carregando a princesa. O que atraiu a atenção de uma moça em especial, que já percebia claramente a movimentação no lago.

 

Dean rapidamente percebeu o que acontecia, e pulou no fosso de água, seguindo os outros. Evie porém, parecia em estado de choque ao ver o que acontecia e como deixara os outros para trás, e só saiu desse estado quando sentiu o contato de seu pescoço com algo gelado.

 

— Então vossa majestade é a princesa, a escolhida de Pete Hightower?

 

Evie olhou pelo canto dos olhos, até perceber que era uma mulher oriental. Atrás dela, a barreira caía, enquanto o castelo era invadido.

 

— Me solte, por favor…

 

— Temo que não, querida. Sei de sua inocência, o jovem Hightower ainda não tinha conhecido uma mulher tão exuberante na época que ele destruiu minha vida.

 

Soo-Hee percebia que Evie estava completamente em suas mãos, e apenas um golpe e acabaria com a vida da princesa. Mas no fundo, a oriental sabia que Evie era inocente e nada tinha a ver com o acontecido.

 

Estava apenas no lugar errado, na hora errada.

 

— Eu sei que não fez nada de errado, majestade. E sou justa. — Soo-Hee falou. — Com você não farei nada. Com sua família, não terei a mesma clemência.

 

Ainda no fosso, Dalia tentava escapar, enquanto nadava em meio aos corpos, assim como alguns outros sobreviventes, assistindo aflitos ao destino de Evie. Foi aí que sentiu um estranho arrepio pelo corpo, imerso na água gelada.

 

— Todos eles… Vão dançar comigo. Com a morte.

 

Repentinamente, Evie sentiu Soo-Hee estremecer atrás dela e a espada cair sobre o fosso, além de sentir diversas gotículas quentes em seu rosto alvo. A princesa arriscou olhar para trás e então percebeu o que tinha acontecido.

 

No meio do caos, viu as flechas sendo atiradas na direção das inimigas, e uma tinha atingido Soo-Hee.

 

A flecha com a ponta de aço cortante tinha penetrado na cabeça da oriental, e atravessado a mesma de cima a baixo, enquanto a ponta estava agora imersa no líquido rubro e alguns pedaços de massa encefálica, saindo pela boca da mulher. O rosto da oriental ainda registrava a face de ódio, mas que apesar de tudo, parecia sereno.

 

O rosto de alguém que fora destruída completamente por pessoas que viam prazer no sofrimento alheio e que agora experimentavam essa mesma dor.

 

O corpo de Soo-Hee despencou sobre a ponte, antes de cair no fosso, já falecido. Evie também caiu sobre o mesmo, porém sofrendo um desmaio, enquanto Dean e Stefford nadavam na direção da princesa para ajudá-la.

 

— MATARAM NOSSA MESTRE! ATAQUEM MAIS FORTE, GAROTAS! — Uma voz foi ouvida enquanto a invasão continuava.

Dalia finalmente saíra da água, a uma certa distância da batalha e via tudo o que acontecia, lembrando da morte da mesma oriental no castelo.

 

Eu alterei o destino dela também… Quando a princesa se salvou, ela acabou não entrando no Salão… Mas mesmo assim, morreu.

 

Então a mulher olhou para o alto, enquanto Devill pousava a mão sobre o ombro da irmã, amparando-a, enquanto lágrimas desciam pelo rosto da cigana.

 

A sua frente, no castelo, o horror que ela previra acontecia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Não esqueçam de comentar, as reviews são muito importantes para a continuidade do projeto.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Superstition 2" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.