FS

Amy estudava em uma ótima escola, aos dez anos conseguiu uma bolsa integral no colégio mais caro de Star City. Não gosto de me gabar, mas inteligência parece estar no sangue.

Cheguei em frente à escola, uma bela fachada estampava o brasão do que imagino ser algum símbolo de um dos fundadores. Como era longe de onde moramos, Amy sempre vinha de ônibus, mas por ser um colégio particular, não haviam transportes da instituição, já que 90% dos internos era filho de algum magnata da cidade.

Haviam muitos carros caros ali, Limusines deviam ter pelo menos cinco. Eu sabia que Amy não tinha muitos amigos ali, não era fácil ser pobre em uma escola de milionários, mas ali era um lugar onde ela teria um futuro, um bem melhor que o meu, a educação era de primeira. Com sorte ela terminaria o ensino médio ali e logo entraria em uma boa faculdade, suas notas eram excelentes e como desde pequena sempre foi tímida, não teria coragem de fazer as loucuras que eu comecei a fazer já na idade dela. Era o que eu esperava que acontecesse, do fundo do meu coração.

Escutei o sinal e logo alguns alunos começaram a sair, vários grupos de jovens bem uniformizados, conversando entre si em seus respectivos grupos. Esperei alguns minutos até ver Amy sair acompanhada de uma menina, as duas estavam rindo enquanto apontava para uma revista que a morena carregava, sorri com a imagem, fiquei um pouco aliviada de ver minha filha com alguma amiga. Logo a menina despediu-se e vi que entrou em uma das Limusines que estavam estacionadas.

Esperei que Amy me visse, sorri assim que vi sua expressão surpresa e logo o sorriso largo tomar conta daquele rosto que me lembra a mim mesma com essa idade. Amy correu em minha direção e me deu um abraço de urso que me fez dar uns dois passos para trás.

— O que está fazendo aqui mãe?

— Resolvi dar uma volta depois do almoço e vim buscar você – Passei a mão em seu cabelo, ajeitando alguns fios que escapavam pela colinha – Não gostou?

— É claro que gostei! Você dificilmente vem me ver na escola – Concordei com um aceno e a puxei para andarmos.

— Acho que arranjei um emprego.

— Verdade? Onde?

— Não é nada certo, Dig foi lá em casa hoje e disse que o chefe precisava de um tutor para o filho, o salário é bom, o cara é um bilionário.

— Vai ser professora particular?

— Em palavras simples, sim, vou ser professora particular – Sorri para ela – Gente rica gosta de colocar nomes chiques nas coisas.

Amy riu alto – É verdade, hoje estávamos na aula de culinária a professora começou a falar uns nomes super estranhos, mas na verdade eram coisas simples, já ouviu falar de ovos pochê?

— Já Amy, ovos cozidos abertos dentro d’água certo? – Ela me olhou espantada – Você sabe que preparar ovos eu sei.

Ela riu – Sim – Continuamos conversando até o próximo ponto de ônibus, eu iria esperar John me procurar novamente para então ver como será esse emprego como “tutora” de um Queen.

OQ

A maldita reunião havia acabado, eu estava exausto, vi pela janela que já era noite, olhei no relógio e os ponteiros marcando quase nove horas me fizeram soltar um suspiro alto. Joguei a cabeça para trás e fechei os olhos, ainda tinha que revisar alguns papéis antes de ir para casa.

— Oliver? – Me virei para John que estava parado na porta, alguém estava atrás dele, mas não pude ver quem era com clareza, perto de Diggle, a moça era minúscula.

— Pode entrar – Fiz um sinal com a mão e me ajeitei na cadeira.

— Quero apresentar uma pessoa – Sorriu e deu espaço para a mulher atrás dele, a loirinha sorriu tímida e deu um passo à frente – Essa é Felicity Smoak, a tutora que achei para William.

Ela não me parecia uma senhorinha de 60 e poucos anos, aposentada e que iria ensinar meu filho sobre matemática e respeito. Encarei... Felicity por alguns segundos.

Magra, baixa, usa óculos, corpo normal, jeans velhos, uma blusa larga, acredito que uns dois números maiores que ela, tênis que já viram dias melhores. Não me parecia a roupa ideal para uma entrevista de emprego.

— Srta. Smoak – Falei sério e fui em sua direção – Sou Oliver Queen – Estendi minha mão a frente, ela ficou alguns segundos me encarando, parecia em choque, demorou a responder meu cumprimento.

— É um prazer Sr. Queen.

— O que a faz pensar que pode ajudar meu filho?

Ela encarou John assustada, esse apenas ergueu as sobrancelhas e meneou a cabeça, Felicity voltou a me encarar, respirou fundo e contou baixinho até três.

— Me desculpe Sr. Queen, realmente não acho que tenho as qualificações para ser uma tutora, apesar de sempre ter ido bem na escola e depois na faculdade, acredito que o senhor teria condições de encontrar alguém bem mais capaz para a tarefa, mas... – Ela parou de falar um pouco e umedeceu os lábios, respirando fundo novamente – Dig me indicou para o emprego porque eu realmente estou precisando, não quero que sinta pena de mim, muito menos espero que me contrate por piedade, mas gostaria que soubesse pelo menos um pouco do motivo de estar aqui na sua frente pedindo para ensinar seu filho – Novamente silêncio, Felicity ficou parada me encarando, parecia em transe.

— Vá em frente Srta. Smoak, me conte porque está aqui – Ela piscou algumas vezes, talvez saindo do repentino transe.

— Sim, claro... Eu, como estava dizendo, tenho uma filha de doze anos, que espero, no futuro, tenha algo melhor do que eu tenho agora, a dois meses estou atrás de um emprego, então quero que saiba que mesmo que eu não seja a mais qualificada para o trabalho, tenha certeza de darei o melhor que posso para ajudar o seu filho Sr. Queen.

Tive a impressão de ver seus olhos marejarem por um momento, suspirei e avaliei as opções. Diggle nunca me deu motivos para queixa, além de trabalhar para mim, era um bom amigo, seus conselhos até hoje, foram de benefício, essa moça me parece uma boa pessoa, apesar de ser um tanto sem sal, tem um ar confiável. Ela fala bastante e é carismática, William precisa de alguém que o ensine, mas sem intimidá-lo.

— No que é formada Srta. Smoak?

— Classe de 2012 do MIT, TI – Confesso que fiquei um pouco surpreso, ela era uma garota do TI, tive duas demissões esse mês na área do TI e nenhum dos que trabalhavam para mim, haviam se formado no MIT.

— É formada no MIT e mesmo assim está desempregada?

— Não tenho experiência na área e grandes empresas procuram quem tenha, fora que demorei mais do que o comum para concluir a faculdade.

— E isso se deve?

— Engravidei de Amy aos dezessete anos, precisei de ajuda para iniciar e concluir a faculdade – Ela sorriu doce e encarou John que piscou, também sorrindo.

— Entendo – Ponderei por alguns segundos. Na verdade, eu já havia aceitado que ela teria o emprego assim que Dig a apresentou, mas me pareceu divertido vê-la falar – Está contratada Srta. Smoak.

Para minha surpresa ela abriu um largo sorriso e deu um pulinho – Muito obrigada Sr. Queen! Eu prometo que não irá se arrepender! – Pegou em minha mão e a apertou com energia.

— Certo – Sorri sem jeito e me afastei alguns passos – Passe aqui amanhã cedo para assinar um contrato, pedirei a minha secretária para redigi-lo.

— Ok, sem problemas – Eu ainda estava surpreso com o sorriso que ela me dirigia, parecia tão inocente – Quando deseja que eu comece com seu filho?

Pensei um pouco, William estava indo mal em várias matérias e o semestre estava acabando – Que tal amanhã à tarde, depois do horário escolar, está bom para senhorita?

— Sim, claro, excelente – Segurei uma risada ao ver a animação com que ela acenava com a cabeça ao concordar.

— Ótimo – Encarei Diggle – Antes de buscar William na escola, encontre a Srta. Smoak, então, busque meu filho e os leve para casa para que possam começar.

— É claro – Ele acenou e encarou Felicity – Está tudo certo?

— Acredito que sim – Ela me encarou – Muito obrigada novamente Sr. Queen, prometo não o decepcionar – Voltou a estender a mão, dessa vez eram agradecimentos mais polidos, sorri.

— Espero que não Srta. Smoak, tenha uma boa noite – Ela acenou e seguiu John. Acompanhei os dois com os olhos até que pegassem o elevador.

Apesar do jeito tímido, Felicity Smoak era alguém notável.