— Vão me dizer ou não o que é esse tal pacote que vocês mencionaram ontem? — Perguntou Hermione arrastando os dois meninos para um corredor vazio.

Harry e Rony lançaram um olhar nervoso um para o outro e a garota franziu o cenho com a desconfiança.

—  Falem logo! —  Comandou.

— Quando Hagrid foi me buscar na casa onde eu estava com meus tios para me trazer para Hogwarts ele me levou para o Beco Diagonal e nós fomos ao Gringotes recuperar parte do dinheiro que meus pais deixaram para mim, mas não foi só isso que fizemos lá. Hagrid abriu outro cofre, a pedido de Dumbledore, e tirou de lá um pacote minúsculo —  Harry começou — Nós fomos visitá-lo esses dias e vimos no Profeta Diário que um cofre do Gringotes foi invadido, mas que o objeto guardado lá tinha sido retirado mais cedo no mesmo dia. O dia em que eu e Hagrid estivemos lá!

“Hagrid disse que o Gringotes e Hogwarts eram os lugares mais seguros existentes, faz sentido que o pacote tenha vindo parar aqui para ser protegido, deve ser algo extremamente valioso.”

—  Mas o que pode ser tão valioso a ponto de precisar ser protegido tanto assim? E para outras pessoas o quererem?

—  Nós não sabemos, Hagrid se recusa a dizer algo sobre isso — Rony se pronunciou.

— Isso não quer dizer que ele não pode soltar a resposta sem querer, é só o Harry conversar com ele.

— Por que eu?

— Porque você é Harry Potter e conheceu o Hagrid primeiro, ele tem certa amizade com você.

— Por que você está insistindo tanto nisso? — quis saber Rony olhando Hermione de forma desconfiada.

— Ora, porque desde o momento em que nós entramos no Salão Principal no dia da seleção eu soube que Dumbledore estava escondendo algo, quer dizer, porque proibir os alunos de percorrer uma ala do castelo? E manter aquele monstro em cima de um alçapão? Algo muito importante está lá e é esse pacote, nós precisamos descobrir o que é. Se invadiram o Gringotes atrás disso deve ser muito importante e nada impede que eles entrem em Hogwarts também.

— Ninguém se arriscaria a tanto, Hogwarts tem muitas proteções, foi o que me disseram — Harry exclamou.

— Hermione tem razão, Harry. O Gringotes também era super seguro, mas o ladrão conseguiu entrar no cofre em que você esteve, ele facilmente entraria aqui.

Harry suspirou, não sabia como rapidamente tinha entrado em uma trama para arrancar a verdade de Hagrid.

— Potter! Granger! Weasley! — A vice diretora Minerva McGonagall surgiu na esquina do corredor, as vestes agitadas enquanto andava rapidamente até eles — Posso saber a razão para que os três não estão em suas respectivas aulas?

Os meninos se encolheram, olhando nervosamente para a professora, mas não responderam nada.

— Menos dez pontos para a Sonserina, de cada um — Disse a professora — Agora voltem para a aula ou os levarei direto para o professor Dumbledore.

O trio partiu sem dizer absolutamente nenhuma palavra, eram sábios o suficiente que não era bom discutir a McGonagall, mas Hermione lançou um olhar para trás antes de virar no corredor e observou a mulher lhes lançar um olhar pensativo.

Será que ela sabia o que eles andaram discutindo? Não, teria cortado seus pensamentos pelas raízes se soubesse.

Contudo, ainda teriam que se manter espertos, McGonagall não era tola e em breve acabaria descobrindo que eles estavam bisbilhotando.

***

Alguns dias se passaram depois que os meninos salvaram Hermione do Trasgo Montanhês e que resolveram compartilhar sobre o pacote que Hagrid trouxera ao castelo a pedido de Dumbledore, a partir daí a amizade dos três correu livremente de uma forma que nenhum deles imaginara.

Hermione ainda era muito amiga de Pansy Parkinson e adorava fazer dupla com ela nas aulas, mas eram nos momentos vagos entre uma aula e outra, quando os alunos se sentavam no jardim do castelo para aproveitar o Sol e observar a Lula Gigante nadar alegremente no lago, que a garota adorava se sentar com Harry e Rony para discutir suas suspeitas.

Harry ainda não falara com Hagrid na tentativa de descobrir o que o guarda-caças escondia, entretanto ele não fugiria de sua missão, já que naquele mesmo dia o homem chamara os três para tomar um chá com biscoitos após a última aula e Hermione fora fervorosa em afirmar que estariam lá logo depois que saíssem de História da Magia.

E era por isso que, naquele momento, o pequeno trio da Sonserina caminhava pelos jardins de Hogwarts, sombreados pelo pôr do sol, em direção à cabana na orla da Floresta Proibida.

Latidos animados os recebeu quando bateram na porta e um Hagrid muito afoito apareceu segurando Canino pela coleira.

— Vocês vieram! Para trás Canino, para trás! Venham, acabei de retirar alguns biscoitos, o chá está quase pronto.

Rony, que era conhecido por sua fome enorme, estremeceu quando um enorme prato cheio de biscoitos quentes foi colocado diante deles.

Não era segredo para ninguém, a não ser para Hagrid, que nem mesmo  o jovem Weasley era capaz de comer e gostar de sua culinária.

Hermione, que ainda não fora apresentada aos biscoitos, deu uma dentada feliz em um deles só para fazer um careta e olhar feio para os meninos com uma expressão que dizia “vamos logo com isso”.

Harry se remexeu inquieto. Hagrid fora a primeira pessoa do mundo bruxo a se apresentar a ele, e fez seu primeiro dia com a nova descoberta ser inesquecível, além disso o meio gigante era claramente solitário, fazia-o se sentir mal ao usar a amizade dos dois em troca de informações.

— Então Hagrid, nós queríamos conversar com você — Disse Harry fazendo carinho no cachorro que descansara sua grande cabeça em seu colo.

— Ora diga.

— É sobre aquele pacote que você pegou no Gringotes quando estivemos no Beco Diagonal…

— De novo essa história Harry? — Exclamou Rúbeo interrompendo o garoto.

— Nós entramos no terceiro andar e encontramos o cão de três cabeças, sei que aquela encomenda era importante.

— Vocês viram o Fofo e sobreviveram para contar a história?

— Fofo? — Perguntou Hermione.

— Que tipo de nome é esse? — Indagou Rony.

Por trás da grande barba o rosto de Hagrid se avermelhou.

— Vocês sabem, hum… o cão é meu — Confessou encolhendo os ombros — Dumbledore pediu emprestado para ajudar a guardar a pedra, não pude dizer não.

— Pedra? — Foi Harry quem disse.

Agora, ao menos, eles podiam nomear o objeto misterioso.

— Falei demais — Repreendeu Hagrid balançando a cabeça — Parem vocês três, isso não tem nada a ver com vocês, é coisa do professor Dumbledore e do Nicolau Flamel, não vou dizer mais nada — E se pôs a comer os biscoitos.

Mas não importava mais que decidisse manter silêncio, ele já revelara o suficiente, o trio já tinha uma pista. E pelo olhar no rosto de Hermione aquela pista seria muito bem aproveitada.